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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Matriz de atividade individual Disciplina: Mediação e Arbitragem Aluno: BEATRIZ VELLLOZO LUCARELLI Introdução Inicialmente, ressalta-se um breve parecer sobre um contrato de concessão para a exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural celebrado entre a Agência Nacional de Petróleo e a Petrobras, a qual foi a vencedora da licitação em comento. Entretanto, houve uma discussão sobre a cláusula que prevê a forma de resolução de conflito por meio da arbitragem. Tal cláusula é a Trigésima Quarta do contrato de concessão, o qual prevê: Conciliação: 34.2. As Partes se comprometem a envidar todos os esforços no sentido de resolver entre si, amigavelmente, toda e qualquer disputa ou controvérsia decorrente deste Contrato ou com ele relacionada. 34.2.1. Tais esforços devem incluir, no mínimo, a solicitação de uma reunião específica de conciliação pela parte insatisfeita, acompanhada de seu pedido e de suas razões de fato e de direito. 34.2.2. A solicitação deverá ser atendida, com o agendamento da reunião pela outra parte em até 30 (trinta) dias do pedido, nos escritórios da ANP. Os representantes das partes deverão ter poderes para transigir sobre a questão. 34.2.3. Após a realização da reunião, caso não se tenha chegado a um acordo de imediato, as partes terão no mínimo mais 30 (trinta) dias para negociarem uma solução amigável. 34.3. As Partes poderão, mediante acordo por escrito, recorrer a perito independente para dele obter parecer fundamentado que possa levar ao encerramento da disputa ou controvérsia. 34.3.1. Caso firmado tal acordo, o recurso à arbitragem somente poderá ser exercido após a emissão do parecer pelo perito. Arbitragem: 34.5. Após o procedimento previsto no parágrafo 34.2, caso uma das Partes considere que inexistem condições para uma solução amigável de disputa ou controvérsia a que se refere tal parágrafo, poderá submeter tal questão a arbitragem ad hoc, utilizando como parâmetro as regras estabelecidas no Regulamento de Arbitragem (Arbitration Rules) da United Nations Comission on International Trade Law – UNCITRAL e em consonância com os seguintes preceitos: a) a escolha dos árbitros seguirá o rito estabelecido no Regulamento de Arbitragem da UNCITRAL; b) deverão ser escolhidos três árbitros. Cada Parte escolherá um árbitro. Os dois árbitros assim escolhidos designarão o terceiro árbitro, que funcionará como presidente; c) mediante acordo das Partes poderá ser determinado um único árbitro nas hipóteses em que os valores envolvidos não sejam de grande vulto; d) a cidade do Rio de Janeiro, Brasil, será a sede da arbitragem e o lugar da prolação da sentença arbitral; e) o idioma a ser utilizado no processo de arbitragem será a língua portuguesa. As Partes poderão, todavia, instruir o processo com depoimentos ou documentos em qualquer outro idioma, nos termos do que decidido pelos árbitros, sem necessidade de tradução oficial; f) toda e qualquer despesa necessária à instalação e desenvolvimento da arbitragem, tais como custas e adiantamento de honorários arbitrais e periciais, serão suportados exclusivamente pelo Concessionário. A ANP somente ressarcirá tais valores em caso de condenação final, na forma como decidido pelos árbitros; g) no mérito, os árbitros decidirão com base nas leis substantivas brasileiras; h) a sentença arbitral será definitiva e seu conteúdo obrigará as Partes. Quaisquer valores porventura devidos pela ANP serão quitados através de precatório judicial, salvo em caso de reconhecimento administrativo do pedido; e i) havendo necessidade de medidas cautelar ou de urgência antes de instituída a arbitragem, a Parte interessada poderá requerê-las diretamente ao Poder Judiciário, com fundamento na Legislação Aplicável, cessando sua eficácia se a arbitragem não for requerida no prazo de 30 (trinta) dias da data de efetivação da decisão. 34.6. As Partes, em comum acordo, poderão optar por institucionalizar a arbitragem na Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional ou perante outra câmara de arbitragem notoriamente reconhecida e de reputação ilibada, em consonância com as regras da câmara escolhida, desde que observados os preceitos estatuídos nas alíneas 2 “b” ao “i” do parágrafo 34.5. 34.6.1. As partes terão 30 (trinta) dias para selecionar a câmara de arbitragem. Não havendo acordo, a câmara de arbitragem será definida pela ANP. 34.6.2. Caso a disputa ou controvérsia envolva exclusivamente entes integrantes da Administração Pública Federal, a questão poderá ser submetida à Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal – CCAF, da AdvocaciaGeral da União. 34.7. As Partes desde já declaram estar cientes de que a arbitragem de que trata esta Cláusula refere-se exclusivamente a controvérsias decorrentes do Contrato ou com ele relacionadas, e apenas é possível para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, nos termos da Lei nº 9.307/1996. 34.7.1. Consideram-se controvérsias sobre direitos patrimoniais disponíveis, para fins desta cláusula: a) incidência de penalidades contratuais e seu cálculo, e controvérsias decorrentes da execução de garantias; b) o cálculo de indenizações decorrentes de extinção ou de transferência do contrato de concessão; e c) o inadimplemento de obrigações contratuais por qualquer das partes Em vista que houve uma divergência entre as partes, essa questão foi judicializada, por meio do julgamento (STJ - CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 139.519 - RJ (2015/0076635-2) RELATOR: MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. Publ. 10.11.2017), tendo sido determinado que a competência para exame do mérito no presente conflito, é dos árbitros. Desta forma, abaixo, estará estabelecido entre os aspectos relevantes entre a mediação e a arbitragem para resolução do conflito em comento. Parte I 1. A espécie de convenção de arbitragem presente no contrato e as suas características Passa-se a analisar a Cláusula Trigésima do ponto de vista de arbitragem e sua vinculação. Neste caso, podemos verificar que o contrato em comento, se refere a uma cláusula compromissória, a qual possui resguardo/previsão no artigo 4º da Lei nº 9.307/96, nos seguintes termos: “Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.”1 Que resumidamente, pontua que as partes se comprometem a submeter o procedimento de arbitragem para resolução dos conflitos que possam surgir em decorrência do contrato. No mais, com relação a vinculação, é possível verificar que a cláusula pontua que para que seja uma faculdade entre as partes que se submetem ao procedimento da arbitragem. Nestes termos Cláusula 34.5 : Após o procedimento previsto no parágrafo 34.2, caso uma das Partes considere que inexistem condições para uma solução amigável de disputa ou controvérsia a que se refere tal parágrafo, poderá submeter tal questão a arbitragem ad hoc, utilizando como parâmetro as regras estabelecidas no Regulamento de Arbitragem (Arbitration Rules) da United Nations Comission on International Trade Law – UNCITRAL e em consonância com os seguintes preceitos (...) 1 artigo 4º da Lei nº 9.307/96 Diante do exposto, nota-se que em casos similares, as jurisprudências têm afastado o artigo 7º da Lei nº 9.307/96, entendendo pela ausência de interesse de agir: “Apelação. Ação de instituição de arbitragem. Falta de interesse de agir reconhecida. Inexistência de cláusula compromissória vazia ou incompleta. Mera previsão contratual de possibilidade de adoção da arbitragem como forma de solução de conflitos. Medida que dependia da expressa anuência das partes e que nunca ocorreu. Hipótese que impõe a extinção do processo, sem resolução do mérito. Recurso provido.”22. Outros meios de solução de controvérsias que poderiam ter sido adotados no caso, previamente à arbitragem, indicando uma sugestão de redação de cláusula de resolução de conflitos que englobe esses meios Para a resolução de conflitos decorrente do contrato, entendo que o mesmo deverá ser seguido a priori pela mediação, que, caso não seja resolvido, deve ser submetido automaticamente pela arbitragem ad hoc, conforme Lei nº 9307/96, utilizando-se as regras no Regulamento de Arbitragem da United Nations Comission on International Trade Law (UNCITRAL). O tribunal de arbitragem deve ser composto por árbitros que foram indicados na UNICETRAL, tendo como sede o ao foro da Justiça Federal – Seção Judiciária do Rio de Janeiro, Brasil. O procedimento será conduzido em língua portuguesa, e será regido pelas leis brasileiras. 3. As vantagens que a empresa teria em resolver a questão pela arbitragem e também as desvantagens Quanto aos prós e contras temos: Prós: Liberdade de escolha de julgadores, bem como as regras processuais e procedimentais a serem aplicadas; forma de estabelecimento de prazos próprios pro procedimento, e até mesmo a criação de regras específicas para o procedimento arbitral que será instaurado para as partes; celeridade (prazo de 6 meses e criação de cronograma próprio) e confidencialidade. Contras: Limitação de assuntos que podem ser submetidos à arbitragem, custos e irrecorribilidade da decisão proferida (tal ponto também pode ser considerado como favorável a depender do ponto de vista). 4. Uma análise crítica sobre os elementos da Cláusula Trigésima Quarta do contrato, justificando a sua opinião e apresentando sugestões de melhoria na redação da cláusula, caso considere adequado 2 (TJSP; Apelação Cível 1011986-32.2017.8.26.0100; Relator (a): Hamid Bdine; Órgão Julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais; Data do Julgamento: 01/08/2018; Data de Registro: 14/08/2018) 4 Quanto as sugestões para melhoria da redação da cláusula, entendo por alguns ajustes a fim de garantir maior segurança jurídica entre as partes. De início, verifica-se a necessidade de vinculação das Partes à cláusula compromissória, e a necessidade se observar os requisitos na fase de conciliação. No mais, ressalto a necessidade de alteração quanto a ordem de preferência entre os tipos de arbitragem, no intuito de verificar que a arbitragem institucional seja a primeira opção, o qual se demonstra a medida mais célere do que a arbitragem em si, na qual as partes tratam de todo o procedimento. Por fim, mas não menos importante, pontua-se a necessidade de divisão bilateral dos custos do procedimento arbitral, para que a empresa não arque de forma integral com o pagamento, em vista que é interesse de ambos a celebração de qualquer acordo. 5. Uma descrição do procedimento necessário para a execução da sentença Caso a conciliação não seja frutífera, o mesmo será encaminhado ao juízo arbitral para que o mesmo profira a sentença. Vale ressaltar que a sentença proferida pelo juízo arbitral se torna um título executivo judicial, nos termos do artigo 515, inciso VII e 516, inciso III, do Código de Processo Civil. No mais, o local de execução da sentença tem como competência a justiça federal do Rio de Janeiro, conforme previsão contratual (cláusula de eleição de foro): 34.8: Para o disposto no item “i” do parágrafo 34.5 e para as questões que não versem sobre direitos patrimoniais disponíveis, nos termos da Lei n.º 9.307/96, as Partes elegem o foro da Justiça Federal – Seção Judiciária do Rio de Janeiro, Brasil, como único competente, com renúncia expressa a qualquer outro, por mais privilegiado que seja. 6. Uma análise crítica e fundamentada sobre a decisão final do Poder Judiciário nesse processo Entendo que tal decisão vai de encontro com o entendimento doutrinário e jurisprudencial, em vista que o artigo 1º da Lei nº 9.307/96, o qual permite que o Estado se submeta ao procedimento da arbitragem e que, no caso em questão a arbitragem vem para solucionar questões patrimoniais de cunho contratual. No mais, toda solução de conflito pode ser iniciada com um acordo entre as partes envolvidas, sendo o início de uma trajetória que possa levar as partes a resolver os conflitos sem ter que recorrer sempre ao Poder Judiciário, a fim de restabelecer o diálogo entre as partes e possibilitar a resolução de conflitos de forma mais autônoma e célere. Parte II Quanto a uma experiencia vivenciada, ressalto um caso familiar, em que após a separação um tanto quanto conturbada dos meus tios, minha prima já recebia um valor mensal a título de pensão, teve o sonho que fazer uma segunda faculdade, sendo esta de medicina. Meu tio, por diversas vezes, nem quis ouvir falar do assunto, pois entendia que sua obrigação como pai já estava sendo cumprida, pois judicialmente foi acordado o pagamento mensal de um valor a título de pensão, não havendo a necessidade de arcar com qualquer valor para pagamento da faculdade. Minha prima, por sua vez, apesar de ter passado no vestibular em uma universidade particular, alegava que não teria condições, inicialmente, de trabalhar devido a carga horária da faculdade, encontrava-se receosa. Apesar do pagamento mensal, o valor não chegava nem perto do valor da mensalidade da faculdade. Neste momento, ao conversar com minha prima, a mesma demostrou interesse em ajuizar uma ação para que seu pai fosse “obrigado” a arcar com os custos da faculdade. Neste momento, aconselhei-a a recorrermos a uma conciliação a fim de verificar a possibilidade de resolução do problema. Fiz uma reunião com ambos, e conversamos. Dei espaço e momento para que cada um falasse um pouco. Ressaltei a importância da mediação entre as partes, sem a necessidade do ajuizamento de uma ação, além da demora para resolução da lide, sem considerar os custos. Após diversas tratativas e conversas, as vezes exaltadas ora calmas, meu tio concordou em pagar a faculdade até o momento que minha prima tivesse condições de arcar com a mesma sozinha. Requereu a diminuição de uma parte paga a título de alimentos para auxiliar de forma mais correta com a mensalidade da faculdade. Já se passaram 3 anos, e ambos estão horando com seus compromissos e deveres firmados anteriormente na conciliação. Considerações finais Sem pensar duas vezes, a alteração da mediação/conciliação é sempre a melhor alternativa para resolução de conflitos sem a necessidade de acionar o Poder Judiciário que até o presente momento, como é de conhecimento, está totalmente sobrecarregada. Como pontuado, há questões positivas e negativas para resolução do conflito, mas a forma consensual deve ser sempre levada em consideração, sendo uma forma mais célere e rápida, momento que possibilidade as partes conversarem e resolverem sem a necessidade do juiz, entretanto, as partes precisar estar disponíveis para entrar em acordo. Referências bibliográficas 1. Lei nº 9.307/96 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm. 2. Brasil, Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; Apelação Cível 1011986-32.2017.8.26.0100; Relator (a): Hamid Bdine; Órgão Julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais; Data do Julgamento: 01/08/2018; Data de Registro: 14/08/2018. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm 6 3. Lei 13.105/15 - https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm