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Apg 1 – Doença do Refluxo Gastroesofágico Objetivos: 1. Revisar a anatomia e fisiologia do esôfago; 2. Compreender o refluxo gastroesofagico (Epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, exames de diagnóstico e complicações); 3. Entender a farmacodinâmica do tratamento da síndrome dispéptica. Revisão Esôfago -Contrição faringoesofágica -> Esfíncter superior do esôfago; -Constrição broncoaórtica -Constrição diafragmática -> Esfíncter inferior do esôfago. Os dois esfíncteres permanecem normalmente contraídos, mantendo o esôfago com suas extremidades ocluídas, e só relaxam quando sob estímulo neurogênico, como ocorre no ato da deglutição. A contração ordenada dos músculos da faringe se transmite ao segmento proximal do esôfago, composto de fibras estriadas, e tem início a onda peristáltica primária, que continua ao longo do esôfago.O tempo de trânsito esofágico do bolo alimentar varia de 5 a 9 segundos. Quando a onda peristáltica primária é insuficiente para promover o completo esvaziamento do esôfago, uma nova onda peristáltica, chamada secundária, tem início em qualquer ponto do esôfago, impelindo o remanescente de seu conteúdo em direção ao estômago. Doença do refluxo gastroesofágico A DRGE foi definida objetivamente, como “condição na qual o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas que afetam o bem-estar do paciente e/ou complicações”. No Brasil, foi realizado um estudo populacional que avaliou a frequência de pirose, entrevistando quase 14.000 pessoas em 22 cidades, que conclui que 12% da população urbana tem a DRGE. A DRGE afeta todos os grupos etários, mas os idosos procuram tratamento mais frequentemente. Fisiopatologia A etiologia da DRGE é multifatorial. Tanto os sintomas quanto as lesões teciduais resultam do contato da mucosa com o conteúdo gástrico refluxado, decorrentes de falha em uma ou mais das seguintes defesas do esôfago: barreira antirrefluxo, mecanismos de depuração intraluminal e resistência intrínseca do epitélio. BARREIRA ANTIRREFLUXO A barreira antirrefluxo, principal proteção contra o RGE, é composta por: esfíncter interno (ou esfíncter inferior do esôfago – EIE – propriamente dito) e esfíncter externo (formado pela porção crural do diafragma). O EIE mantém-se fechado em repouso e relaxa com a deglutição e com a distensão gástrica. O relaxamento não relacionado com a deglutição é chamado relaxamento transitório do EIE (RTEIE), sendo considerado o principal mecanismo fisiopatológico associado à DRGE, responsável por 63 a 74% dos episódios de RGE. Em pacientes com formas graves de DRGE, a pressão de repouso do EIE está diminuída. Muitas substâncias afetam a pressão do EIE: a colecistocinina (CCK) é responsável pela diminuição da pressão de EIE observada após a ingestão de gorduras; outros neurotransmissores estão envolvidos, entre os quais se destacam o óxido nítrico (ON) e o peptídio intestinal vasoativo (VIP). O comprimento total e o comprimento abdominal do EIE são outros parâmetros usados para avaliar a função do EIE, e que são valorizados quando estão diminuídos. A presença de hérniluxo através da dissociação entre o esfíncter externo e o interno e do refluxo sobreposto (fluxo retrógrado do conteúdo refluxado preso no saco herniário para a porção tubular do esôfago). A distensão gástrica, principalmente após as refeições, contribui para o refluxo gastresofágico. O retardo do esvaziamento gástrico, o aumento da pressão intragástrica (ambos presentes quando há obstrução ou semiobstrução antropilórica) e a alteração da secreção gástrica são fatores que podem estar presentes, mas são pouco frequentes. ** Bebês, 9-24 meses regressão dos sintomas. 50% recém nascidos até 3m, 1x por dia. MECANISMOS DE DEPURAÇÃO INTRALUMINAL A depuração (ou “clareamento”) do material refluxado presente na luz do esôfago decorre de uma combinação de mecanismos mecânicos (retirando a maior quantidade do volume refluído, através do peristaltismo e da gravidade) e químicos (neutralização do conteúdo residual pela saliva ou pela mucosa). A alteração do peristaltismo pode ser primária (no caso dos distúrbios motores do esôfago, como na motilidade esofágica ineficaz) ou secundária (nas doenças do tecido conjuntivo, como esclerodermia, síndrome CREST ou doença mista do tecido conjuntivo). A diminuição do fluxo salivar pode ser secundária à síndrome de Sjögren ou ao uso de diversos medicamentos. A depuração do ácido pela saliva não é instantânea e, sob ótimas circunstâncias, requer 3 a 5 min para restaurar o pH após um único episódio de refluxo. Cada 7 ml de saliva é capaz de neutralizar 1 ml de HCl 0,1 N. Episódios de refluxo ocorridos durante a noite, na posição supina, são duradouros e têm grande chance de causar lesão mucosa devido à diminuição do fluxo de saliva, que ocorre normalmente à noite, associada à falta de ação da gravidade. RESISTÊNCIA INTRÍNSECA DO EPITÉLIO A resistência intrínseca da mucosa é constituída pelos seguintes mecanismos de defesa, normalmente presentes no epitélio esofágico: •defesa pré-epitelial (composta por muco, bicarbonato e água no lúmen do esôfago, formando uma barreira físico- química, que é pouco desenvolvida no esôfago, quando comparada à mucosa gástrica e duodenal); •defesa epitelial (junções intercelulares firmes, características do epitélio estratificado pavimentoso, o que dificulta a retrodifusão de íons, e substâncias tamponadoras intersticiais, como proteínas, fosfato e bicarbonato); •defesa pós-epitelial (suprimento sanguíneo, responsável tanto pelo aporte de oxigênio e nutrientes quanto pela remoção de metabólitos). O defeito mais comum da resistência epitelial é o aumento da permeabilidade paracelular. A esofagite ocorre quando os fatores de defesa são sobrepujados pelos fatores agressivos. Outro constituinte do material refluxado, que tem sido correlacionado com maior agressividade para a mucosa do esôfago, é o conteúdo duodenal (bile e secreções pancreáticas), que atinge o estômago, através do piloro e, subsequentemente, chega ao esôfago. O refluxo duodeno-gastresofágico é um fenômeno fisiológico, de composição variada, que lesa a mucosa esofágica pela ação das enzimas proteolíticas, potencializando a lesão provocada pelo ácido. O mecanismo responsável pelas manifestações extraesofágicas da DRGE, como tosse e broncospasmo, nem sempre é a aspiração com lesão da mucosa de vias respiratórias por contato direto. Pode ser via reflexo vagal por acidificação da mucosa esofágica distal. No caso de granulomas de cordas vocais e estenose subglótica, é necessário, provavelmente, o contato direto com a mucosa das vias respiratórias. Manifestações clínicas: Sintomas típicos Os sintomas clássicos da DRGE são pirose (sensação de queimação retroesternal, ascendente em direção ao pescoço) e regurgitação (retorno de conteúdo gástrico, ácido ou amargo, até a faringe), de fácil reconhecimento. Os pacientes podem relatar alívio dos sintomas com uso de medicamentos antiácidos. Estes sintomas são mais frequentes após as refeições ou quando o paciente está em decúbito supino ou em decúbito lateral direito. Sintomas atípicos A causa mais comum da dor torácica de origem esofágica é a DRGE, que pode ser indistinguível da dor de origem cardíaca. O estímulo de quimiorreceptores da mucosa esofágica pelo refluxato desencadeia essa dor, visto que a inervação do esôfago e do miocárdio é a mesma. Sintomas extraesofágicos Manifestações extraesofágicaspulmonares (tosse crônica, asma, bronquite, fibrose pulmonar, aspiração recorrente, dentre outras), otorrinolaringológicas (rouquidão, globus, roncos, pigarro, alterações das cordas vocais, laringite crônica, sinusite e erosões dentárias) estão associadas à DRGE, mas não são específicas. A maioria dos pacientes com sinais e/ou sintomas extraesofágicos não apresenta sintomas típicos concomitantes. Na realidade, a DRGE pode ser apenas uma das diversas causas destes sintomas. Portanto, nos pacientes com sintomas extraesofágicos, é necessária a confirmação da existência de DRGE, através de exames complementares ou de resposta ao tratamento com antissecretores potentes, para concluir que a causa é a DRGE. Sintomas de alarme: odinofagia (dor ao engolir), disfagia (dificuldade ao engolir), sangramento, anemia e emagrecimento. Sintomas típicos com endoscopia digestiva alta (EDA) normal (60% dos pacientes) A maior parte dos pacientes com sintomas de refluxo não apresenta evidências de esofagite ou de suas complicações à endoscopia, mas manifestam sintomas com a mesma intensidade e o mesmo impacto na qualidade de vida do que os que têm esofagite. De acordo com o resultado da pHmetria, os portadores de DRGE com endoscopia normal podem ser subdivididos em dois grupos: 1. Doença do refluxo não erosiva Trata-se de condição na qual o paciente apresenta sintomas típicos da DRGE e o exame endoscópico não evidencia alterações da mucosa esofágica. Baseados na resposta terapêutica com IBP e pHmetria esofágica prolongada, esses pacientes podem ser classificados em: •pacientes com exposição ácida anormal (que têm resposta terapêutica semelhante à dos pacientes com esofagite endoscópica); •pacientes com exposição ácida normal e com correlação positiva entre sintomas e episódios de refluxo (estimado pelo índice de sintomas, que é positivo) e resposta ao uso de inibidores da bomba de prótons (IBP). 2. Pirose funcional: Segundo os critérios conhecidos como Roma III, é a pirose com todos os parâmetros pHmétricos normais e ausência de resposta ao uso de inibidores da bomba de prótons. Segundo Martinez et al., corresponde a menos de 10% dos portadores de pirose avaliados por gastrenterologistas. A sobreposição entre os distúrbios gastrintestinais funcionais é amplamente aceita como uma realidade clínica. Existe sobreposição entre a pirose funcional e a dispepsia funcional, que poderia ser explicada pela íntima relação fisiológica e fisiopatológica entre o EIE e a porção superior do estômago. A distensão do fundo gástrico é o mecanismo primário de indução dos RTEIE. Alterações semelhantes da motilidade, como, por exemplo, esvaziamento gástrico retardado, têm sido descritas na DRGE e na dispepsia funcional. A alteração da acomodação do fundo gástrico é reconhecida como uma importante característica da dispepsia funcional. Alterações na EDA (Endoscopia digestiva alta)/Complicações Esofagite erosiva O grupo mais facilmente identificável e com alterações fisiopatológicas mais claras é o dos portadores de esofagite erosiva. A visualização endoscópica de erosões esofágicas sela o diagnóstico de DRGE. Estenose peptica A DRGE é responsável por 70% das estenoses esofágicas. Outras causas incluem ingestão de cáusticos, sequela de raditerapia ou esclerose de varizes, epidermólise bolhosa, doença de Crohn, tumores, sífilis, tuberculose e citomegalovírus, dentre outras. O sintoma mais frequente de apresentação da estenose péptica é a disfagia esofágica. Cerca de 30% dos pacientes não referem sintomas prévios de pirose e regurgitação ácida. Esôfago de Barrett O esôfago de Barrett é uma condição em que um epitélio colunar (glandular, rico em células caliciformes) associado à metaplasia intestinal substitui o epitélio escamoso normal que recobre o esôfago distal. Trata-se, na grande maioria das vezes, de uma sequela da DRGE de longa evolução. O exame histopatológico do epitélio de Barrett geralmente evidencia uma forma incompleta de metaplasia intestinal. A grande preocupação causada pelo esôfago de Barrett é a predisposição de suas células sofrerem alterações genéticas associadas ao adenocarcinoma. Fatores de risco são obesidade, idade >40 anos, tabagismo, raça branca e sintomas crônicos > 5 anos. Propedêutica Exame clínico A identificação dos sintomas cardinais da DRGE (pirose e regurgitação) permite um diagnóstico presuntivo da DRGE sem a necessidade da realização de outros exames complementares. Em um paciente com queixas de pirose e/ou regurgitação ácida, é segura a instituição de tratamento clínico empírico. (+ de 4 semanas (2x na semana)), < 40 anos e sem sinal de alarme. Indicação de investigação complementar: Idade acima de 40 anos; Sinais de alarme; Baixa resposta ao IBP. Metodos complementares 1. Endoscopia digestiva alta (Diagnóstico diferencial e investigar complicações) 2.Impedância/pHmetria -> Padrão-ouro (dúvida e confirmação diagnóstica) 3. Manometria esofágica Pré-operatório de cirurgia antirrefluxo pHmetria esofágica prolongada O advento de monitoramento prolongado do pH intraesofágico contribuiu muito para a compreensão da DRGE. O exame é realizado ambulatorialmente, utilizando equipamentos portáteis, sensores miniaturizados de pH e análise de dados computadorizados. A pHmetria prolongada permite o diagnóstico da DRGE por demonstrar a presença de refluxo ácido gastresofágico anormal. A pHmetria não é considerada o padrão-ouro no diagnóstico da DRGE, pois é um método que apresenta várias limitações. Cerca de 25% dos pacientes sabidamente portadores de esofagite apresentam um estudo de pHmétrico normal. Além do mais, os sintomas da DRGE podem variar de um momento para o outro, o que torna uma única avaliação de exposição ácida passível de subestimar o refluxo ácido gastresofágico. Impedância/pHmetria -> Padrão-ouro Trata-se de técnica que permite a identificação do refluxo gastresofágico independente de seu pH e de seu estado. Sendo assim, possibilita a avaliação qualitativa do tipo de refluxo (ácido ou fracamente ácido), seu alcance proximal, sua composição (líquido, gasoso ou misto), bem como do tempo de depuração (ou clareamento) esofágico. A principal indicação da impedância/pHmetria é na avaliação de pacientes com sintomas típicos ou extraesofágicos atribuídos à DRGE, que não responderam de forma completa ao tratamento com inibidores de bomba protônica. Nesses casos, é possível identificar a associação dos sintomas com refluxo fracamente ácido ou ácido residual. Como a impedância/pHmetria fornece todas as informações obtidas pela pHmetria, a tendência é que esse método substitua o exame convencional. Endoscopia digestiva alta A endoscopia digestiva alta é o exame de escolha para avaliação das alterações da mucosa esofágica secundárias à DRGE, permitindo, além de sua visualização direta, a coleta de fragmentos esofágicos através de biopsias. As principais indicações de realização de endoscopia digestiva em pacientes com suspeita de DRGE são: •Excluir outras doenças ou complicações da DRGE, principalmente em pacientes com sintomas de alarme, como disfagia, emagrecimento, hemorragia digestiva. •Pesquisar a presença do esôfago de Barrett em pacientes com sintomas de longa duração. •Avaliar a gravidade da esofagite. •Orientar o tratamento e fornecer informações sobre atendência de cronicidade do processo. De um modo geral, as classificações endoscópicas das esofagites não contemplam as alteraçõesmínimas da mucosa esofágica, quais sejam friabilidade, edema e hiperemia. Essa abordagem, apesar de aumentar a sensibilidade do exame no diagnóstico da esofagite, apresenta baixa especificidade. A resposta histológica da mucosa esofágica ao refluxo gastresofágico crônico mostra principalmente mudanças reacionais (alongamento das papilas na lâmina própria e hiperplasia da camada de células basais) e alterações inflamatórias (presença de neutrófilos e eosinófilos intraepiteliais). Podem existir também células com abundante citoplasma pálido, chamadas células “em balão”, provavelmente devido ao aumento da permeabilidade. A realização de biopsias esofágicas é importante para o diagnóstico diferencial com a esofagite eosinofílica. Estudos radiológicos A cintigrafia e o esofagograma com bário são métodos radiológicos habitualmente utilizados na avaliação da DRGE e suas complicações. Os estudos baritados são úteis em pacientes com disfagia, visto que apresentam boa sensibilidade na detecção de hérnias hiatais, estenoses e anéis esofágicos. O diagnóstico de esofagite, de um modo geral, só é evidente radiologicamente em casos mais graves. A cintigrafia para estudo da DRGE utiliza alimento marcado com tecnécio. Trata-se de método de baixa sensibilidade quando comparado com a pHmetria prolongada. Entretanto, como permite avaliar o refluxo gastresofágico do material isotopicamente marcado, independente de sua acidez, pode ser útil em estudo de pacientes gastrectomizados, portadores de anemia perniciosa, ou em vigência de tratamento com drogas inibidoras da secreção ácida gástrica. Testes provocativos O teste de Bernstein-Baker objetiva comprovar que o sintoma do paciente decorre do refluxo ácido gastresofágico. Esse teste utiliza a infusão de ácido clorídrico a 0,1 N na luz esofágica, na tentativa de reproduzir o sintoma típico do paciente, e a infusão de solução salina como placebo. Considera-se o teste positivo naquele paciente que apresentou sintomas típicos apenas durante a infusão de ácido clorídrico. Esse teste é considerado de alta especificidade ao atribuir a origem do sintoma ao refluxo ácido. Deve ser reservado para situações em que não se dispõe de pHmetria prolongada, ou para pacientes que apresentam sintomas infrequentes, e que não ocorreram durante o monitoramento esofágico do pH. Outros: Manometria esofágica e Bilitec. Tratamento não medicamentoso: A importância das modificações no estilo de vida e dos fatores dietéticos foi muito enfatizada no passado. Atualmente, considera-se que é recomendável educar os pacientes a respeito dos fatores que podem precipitar episódios de refluxo, mas o emprego isolado destas recomendações não é suficiente para controlar de modo eficaz seus sintomas. Refeições pouco volumosas, com alto conteúdo de proteínas e baixo conteúdo de gorduras, podem evitar a distensão gástrica e contribuir para manter a pressão do EIE. A ingestão de alimentos nas três horas precedentes ao horário de deitar contribuiria para reduzir a frequência dos episódios pós-prandiais de refluxo, especialmente na posição de decúbito. Evitar a ingestão de alimentos como café, chá preto, chá mate, chocolate, molho de tomate, comidas ácidas, bebidas alcoólicas e gasosas. Além de hábitos como tabagismo, obesidade e má alimentação. Existem evidências de que o decúbito lateral esquerdo deve ser recomendado para pacientes com DRGE pela observação de redução do ácido no esôfago, uma vez que o volume alcançado pelo suco gástrico não chega a atingir a JEG. Tratamento medicamentoso: Inibidores da bomba de prótons (IBP) A terapia com antissecretores potentes é capaz de aliviar os sintomas mais rapidamente e cicatrizar as lesões na maior parte dos pacientes. Doses padronizadas dos inibidores da bomba de prótons (IBP) (omeprazol, 20 mg; lansoprazol, 30 mg; pantoprazol, 40 mg; rabeprazol, 20 mg; e esomepra- zol, 40 mg) são capazes de tratar a esofagite e aliviar sintomas em 80 a 90% dos casos em 8 semanas. A resposta inicial ao uso dos IBP é fator preditivo do sucesso do tratamento a longo prazo. Estes medicamentos devem ser sempre tomados antes das refeições. Os IBP são eficazes e seguros quando usados na terapia de manutenção, que deve ser individualizada de acordo com a gravidade e resposta ao tratamento. Se o paciente apresenta sintomas pouco frequentes, o uso do medicamento pode ser feito de acordo com demanda própria. Porém, nos pacientes com esofagite grave (classificação de Los Angeles C e D), deve-se iniciar com a dose-padrão e mantê-la. Caso os sintomas ou as lesões endoscópicas persistam, acrescenta-se uma segunda dose à noite. Estes pacientes frequentemente desenvolvem complicações da doença. O controle dos sintomas atípicos é mais difícil do que o controle da pirose, necessitando frequentemente do uso de dose dupla de IBP. São considerados pacientes refratários aqueles que necessitam usar IBP mais que 2 vezes/dia, sem controle dos sintomas associados ao refluxo e/ou com alterações mucosas significativas após 12 semanas ou mais de tratamento. A recorrência dos sintomas após interrupção do IBP não é considerada refratariedade, pois a DRGE é condição crônica ou recidivante. Os IBPs se ligam à enzima H+/K+-ATPase (bomba de prótons) e suprimem a secreção de íons hidrogênio para o lúmen gástrico. A bomba de prótons ligada à membrana é a etapa final da secreção de ácido gástrico: Ações: São pró-fármacos com um revestimento entérico ácido-resistente para protegêlos da degradação prematura pelo ácido gástrico. O revestimento é removido no meio alcalino do duodeno, e o pró- fármaco, uma base fraca, é absorvido e transportado à célula parietal. Ali, ele é convertido no fármaco ativo e forma uma ligação estável covalente com a enzima H+/K+-ATPase. São necessárias cerca de 18 horas para ressintetizar a enzima, e a secreção ácida é interrompida durante esse período. Em dosagem padrão, os IBPs inibem a secreção gástrica basal e a estimulada em mais de 90%. Existem produtos disponíveis de uso oral, de venda livre e sujeitos à prescrição, contendo omeprazol associado com bicarbonato de sódio para absorção mais rápida. Efeitos adversos: diarréria, náuseas, cefaleias, distúrbios gastrintestinais, fraturas ósseas. Antagonistas H2 Os antagonistas dos receptores H2 (AH2) – cimetidina, ranitidina, famotidina, nizatidina – são drogas seguras e bem toleradas, mas têm curta duração de ação (entre 4 e 8 h, conforme o regime empregado) e resultam em inibição incompleta da secreção ácida. Consequentemente, para o tratamento da DRGE, são necessárias doses múltiplas. Além disso, observa-se declínio da inibição da secreção ácida quando usada por mais que duas semanas, fenômeno conhecido como taquifilaxia ou tolerância, que limita a eficácia terapêutica. 0 A secreção gástrica é estimulada por acetilcolina (ACh), histamina e gastrina. As ligações de ACh, histamina ou gastrina com seus receptores resulta na ativação de proteinocinases, que, por sua vez, estimulam a bomba de prótons H+/K+-adenosina trifosfatase (ATPase) a secretar íons hidrogênio em troca de K+ para o lúmen do estômago. Bloqueando competitivamente a ligação da histamina aos receptores H2, esses fármacos reduzem a secreção do ácido gástrico. Os quatro fármacos usados nos EUA – cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina – inibem de modo potente (mais de 90%) a secreção gástrica ácida noturna, a estimulada por alimento e a basal. A cimetidina foi o primeiro antagonista do receptorH2 da histamina. Todavia, sua utilidade é limitada por seus efeitos adversos e suas interações medicamentosas. 1. Ações: Os antagonistas de receptor H da histamina atuam seletivamente nos receptores H2 do estômago, mas não têm efeito nos receptores H1. Eles são antagonistas competitivos da histamina e totalmente reversíveis. 2.Usos terapêuticos: O uso desses fármacos diminuiu com o advento dos IBPs. Procinéticos As alterações fisiopatológicas responsáveis pela DRGE poderiam ser corrigidas por drogas que aumentassem a pressão do EIE, melhorassem o peristaltismo do esôfago e o esvaziamento gástrico. Os medicamentos procinéticos atualmente disponíveis no mercado não corrigem estas alterações, e são eficientes apenas quando usados em pacientes com sintomas dispépticos associados. A metoclopramida não é considerada boa escolha no tratamento da DRGE, pois atua no sistema nervoso central, causando efeitos colaterais como sonolência, irritabilidade, tremores e discinesia. A domperidona, antagonista da dopamina apenas em nível periférico, é útil, mas observa-se hiperprolactinemia em 10 a 15% dos seus usuários crônicos. Outro eficaz procinético, a cisaprida, foi retirado do comércio por induzir arritmias cardíacas principalmente quando associada a outras drogas Referências: Whalen, Karen, et al. Farmacologia Ilustrada. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Grupo A, 2016. Dani, Renato, e Maria do Carmo Friche Passos. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2011.
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