Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM PROF.A ANGÉLICA CAROLINE DOS SANTOS RATTI MENEZES Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica: Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Aliana de Araujo Camolez © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................4 1. CARACTERÍSTICAS DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ........................................................................5 1.1 DEFINIÇÕES DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM .....................................................................................5 1.2 FRACASSO ESCOLAR ..........................................................................................................................................9 1.2.1 O FRACASSO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...................................................................................9 1.3 PROBLEMATIZAÇÃO DO PATOLÓGICO X NORMAL ........................................................................................ 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 17 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E A RELAÇÃO COM O “FRACASSO” ESCOLAR PROF.A ANGÉLICA CAROLINE DOS SANTOS RATTI MENEZES ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM 4WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Esta disciplina tem como objetivo geral proporcionar ao aluno cursista re� exões sobre o cotidiano escolar e as relações sociais, inserindo debates sobre as diferenças de ensino- aprendizagem, processos psicopedagógicos e políticas educacionais, como instrumento de atuação transformadores de realidades nem sempre favoráveis ao desenvolvimento clássico e potencial do indivíduo. Atualmente, no Brasil, presenciam-se muitos problemas na educação, especialmente da rede pública de ensino, como o abandono escolar, as crianças que passam pela escola sem mesmo conseguirem se alfabetizar, as queixas dos professores em relação à falta de concentração dos alunos, a violência e a indisciplina com a cronicidade dos problemas de aprendizagem. Concomitantemente a esse quadro da Educação no Brasil, Mazer, Bello e Bazzon (2009) apresentam dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), que apontam que 27.063.256 crianças de 7 a 14 anos estiveram matriculadas no Ensino Fundamental no país, em 2005. Apesar de o dado sugerir aumento no número de crianças que frequentam a escola, o que se observa é que a ampliação do acesso ao Ensino Fundamental foi acompanhada de con� itos, como a repetência, o abandono escolar e a degradação da qualidade, evidenciando que o principal problema atualmente diz respeito à qualidade do ensino oferecido. Essas re� exões são uma introdução ao tema a que se propõe esta unidade, abordando o cenário em que estão inseridas as escolas e, nelas, as crianças com di� culdades de aprendizagem. Pesquisas têm relacionado problemas psicossociais na adolescência à presença de di� culdades de aprendizagem na infância, sendo, por isso, um tema que merece ser considerado e sobre o qual discorreremos a seguir. 5WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. CARACTERÍSTICAS DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM A di� culdade de aprendizagem pode ser apresentada ou percebida no momento do ingresso formal da criança na escola, uma vez que é um período importante para o desenvolvimento, em que o indivíduo começa a cumprir tarefas que atuam diretamente em sua progressão maturacional, como adquirir competências nas relações interpessoais, aprender a ler e a escrever e se adequar às normas e regras sociais, típicas de sua cultura. No ambiente escolar, Mazer, Bello e Bazzon (2009) relatam que a criança recebe as avaliações de seus professores, colegas e pais sobre suas habilidades e sucessos acadêmicos e, com base nelas, constrói uma visão de si. Para esses autores, a vivência de situações de baixo rendimento escolar gera não apenas sentimentos como baixa autoestima, mas também in� uencia na capacidade produtiva do indivíduo. Em sentido oposto, podemos concluir que o sucesso escolar favorece o desenvolvimento socioafetivo adequado. Nesse sentido, � ca claro que esse período se torna de grande importância por concentrar grandes desa� os para o desenvolvimento, e a ocorrência de di� culdades de aprendizagem pode trazer consequências negativas no futuro. No entanto, embora as pesquisas na área da educação apontem a necessidade de atenção para os problemas de aprendizagem, a literatura referente a esse tema, na maioria das vezes, aborda as di� culdades de aprendizagem sem discriminá-las como causa ou consequência; isto é, quando a di� culdade de aprendizagem é um fator de risco para problemas psicossociais ou quando existem fatores de risco que predispõem a criança a desenvolver problemas de aprendizagem no futuro. É possível a� rmar que a di� culdade de aprendizagem está inserida em uma cadeia de causas e consequências de problemas psicossociais na infância, que precisam receber a atenção necessária, pois ora funcionam como causa, ora como consequência de problemas comuns na idade escolar. 1.1 Definições de Dificuldades de Aprendizagem Mazer, Bello e Bazzon (2009) propõem que não há consenso na literatura em relação à de� nição para as di� culdades de aprendizagem. Em uma perspectiva orgânica, as di� culdades de aprendizagem são consideradas como desordens neurológicas que interferem na recepção, integração ou expressão de informação e são manifestadas por di� culdades signi� cativas na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio, habilidades matemáticas ou habilidades sociais. O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais: DSM IV (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2003), por sua vez, de� ne como transtornos da aprendizagem quando os resultados do indivíduo em testes padronizados de leitura, matemática ou expressão escrita estão substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização e nível de inteligência. Já a Classi� cação de transtornos mentais e de comportamento - CID 10 (1993) denomina di� culdadede aprendizagem como transtornos nos quais as modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras etapas do desenvolvimento. Em uma perspectiva educacional, talvez a que mais nos interesse nesse momento, as di� culdades de aprendizagem re� etem uma incapacidade ou impedimento para a aprendizagem da leitura, escrita ou cálculo ou para a aquisição de aptidões sociais (CORREIA; MARTINS, 2005). 6WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A visão que será proposta por este trabalho é a de que as di� culdades de aprendizagem não devem ser tratadas como se fossem problemas insolúveis, mas como desa� os que fazem parte do próprio processo da aprendizagem. Assim, considera-se necessário identi� cá-las e preveni- las mais precocemente, de preferência ainda na pré-escola, como uma forma de aumentar as possibilidades de intervenção adequada e sucessivos resultados. A abordagem teórica escolhida para pensar os problemas de aprendizagem neste trabalho diz respeito aos fatores de risco e proteção que estão presentes na vida de um indivíduo. Segundo essa abordagem, é a interação entre os fatores que vão determinar se um indivíduo vai ou não desenvolver um problema psicossocial ou uma patologia no futuro. Sendo assim, é importante que se conheçam esses fatores para que se possam adotar medidas preventivas para os problemas que atingem a infância e a adolescência. Por de� nição, Mazer, Bello e Bazzon (2009) apresentaram os fatores de risco como eventos negativos que ocorrem na vida de um indivíduo e que aumentam a probabilidade de que ele venha a apresentar problemas de ordem física, social ou emocional, podendo prejudicar sua adaptação e gerar uma organização patológica de seus sistemas. Contudo, a presença de fatores de risco na vida de um indivíduo não signi� ca, necessariamente, que ele vá apresentar algum problema no seu desenvolvimento, uma vez que a vulnerabilidade varia de um indivíduo para outro. Análises de ciências biológicas sugerem que o risco é um processo, e que o número total de fatores de risco a que uma pessoa foi exposta, o período de tempo, o momento da exposição ao risco e o contexto são mais importantes do que uma única exposição grave. Ainda, aqui deve ser considerado não apenas o número de eventos de adversidades, mas também como o evento afetou o indivíduo. Em contraposição ao risco, reconheçamos que existem os fatores de proteção que são in� uências ambientais e das características do indivíduo que provocam uma modi� cação da resposta aos processos de risco. Dentre as funções dos fatores de proteção, Mazer, Bello e Bazzon (2009) propõem a redução do impacto dos riscos, a redução das reações negativas em cadeia, estabelecer e manter a autoestima e autoe� cácia, por meio do estabelecimento de relações seguras e o cumprimento de tarefas com sucesso, e criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse, entre outros. Vários trabalhos relacionam a di� culdade de aprendizagem com o risco para o desenvolvimento de problemas psicossociais, citando a criança com di� culdade na aprendizagem como capaz de desenvolver sentimentos de baixa autoestima e inferioridade, frequentemente acompanhados de dé� cits em habilidades sociais e problemas emocionais ou de comportamento. Nesse contexto, as di� culdades de aprendizagem, quando persistentes e associadas a fatores de risco presentes no ambiente familiar e social mais amplo, podem afetar negativamente o desenvolvimento do indivíduo e seu ajustamento em etapas subsequentes. De acordo com Sapienzal e Pedromônico (2005), os próprios problemas de aprendizagem são considerados como fator de risco, pois desencadeiam uma série de consequências negativas na vida das crianças. Os problemas escolares são frequentemente associados aos problemas de comportamento de crianças e adolescentes. Ferreira e Marturano (2002) pesquisaram associações entre contextos de risco e problemas de comportamento em crianças com baixo desempenho escolar. Concluíram que as di� culdades acadêmicas tendem a aumentar a vulnerabilidade para a inadaptação psicossocial, quando o ambiente familiar está repleto de adversidades, como problemas nos relacionamentos interpessoais, falhas parentais quanto ao suporte, menor investimento dos pais no desenvolvimento da criança, práticas punitivas e modelos adultos agressivos. 7WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Elias (2003) aponta que o baixo desempenho escolar aparece frequentemente associado a problemas socioemocionais, o que constitui um fator de risco para distúrbios psicossociais na adolescência e que indivíduos com problemas dessa natureza apresentam dé� cits em habilidades de solução de problemas interpessoais e problemas de comportamento. Fica evidente que a manifestação simultânea de di� culdades comportamentais e escolares amplia a possibilidade de problemas no contexto social, com prejuízo nos relacionamentos interpessoais e interferência no ajustamento social, favorecendo a tendência ao isolamento social. Carneiro, Martinelli e Sisto (2003) buscaram veri� car diferenças signi� cativas entre os níveis de di� culdade de aprendizagem na escrita e o autoconceito geral, escolar, social, familiar e pessoal de crianças no Ensino Fundamental. Os resultados evidenciaram que a di� culdade de aprendizagem na escrita está signi� cativamente relacionada com o autoconceito geral e com o escolar, veri� cando-se que, conforme aumenta o nível de di� culdade de aprendizagem na escrita, diminui o autoconceito. Uma outra visão que vem somar com a teoria dos fatores de risco é a de que o ambiente escolar é um contexto em que o senso de e� cácia é constantemente testado e construído, principalmente na relação do aluno com o professor, funcionários e colegas. Assim, a autoe� cácia, crença do indivíduo em sua capacidade de desempenho em atividades listadas por Mazer, Bello e Bazzon (2009), interfere no nível de desempenho da criança, em fatores como a escolha de atividades, motivação e quantidade de esforço a ser investido nas demandas próprias do contexto escolar. Crianças com senso de autoe� cácia são capazes de perceber a si mesmas com habilidades e apresentam estratégias cognitivas para lidar com problemas potenciais e essa expectativa de autoe� cácia pode in� uenciar também o comportamento. Outros estudos salientam a relação professor e aluno como de grande valia para o desenvolvimento de muitas habilidades, e que, em muitos momentos, mesmo diante de um ambiente hostil psicossocial, a explicação para bons resultados está na sutil interação de qualidade e afetividade entre o professor e seus alunos: o tom de voz, a postura, a expressão facial seriam os meios mediante os quais, involuntariamente, o professor comunica suas expectativas aos seus alunos e essa comunicação contribui para o aluno construir a concepção de si. A ideia contrária também se torna válida; assim, é possível que o aluno vá mal porque é isso que se espera dele, ou seja, a expectativa negativa do professor pode constituir um fator de risco para o desempenho acadêmico dos alunos. No contexto escolar, é comum encontrar, em crianças que têm di� culdades em aprender, a sobreposição de diversos fatores de risco, como pobreza, con� itos familiares, violência, maus tratos familiares, dentre outros. Pesquisas bibliográ� cas para a construção dessa disciplina mostraram que crianças com di� culdades acadêmicas manifestam paralelamente prejuízos de ordem emocional e comportamental. São frequentes di� culdades intra e interpessoais, como solidão, depressão, suicídio e delinquência, que coexistem com as di� culdades de aprendizagem, potencializando os seus efeitos e conduzindo a resultados negativos na vida adulta. Mazer, Bello e Bazzon (2009) a� rmam que o prejuízo no autoconceito se torna maior diante da sobreposição de di� culdades de aprendizageme de comportamento; isso porque a criança que apresenta essa combinação de fatores tem mais di� culdade em construir con� ança em si mesma. Outro fator de que devemos ter consciência é a in� uência do ambiente familiar sobre problemas de comportamento e sobre di� culdades no aprendizado acadêmico. As crianças que não vão bem na escola sofrem uma pressão criada por uma rede de pessoas signi� cativas em suas vidas e da sociedade em geral. 8WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Em nível de intervenções preventivas que visam a diminuir a incidência do problema nos primeiros anos escolares, são muito relevantes os estudos que identi� cam os fatores de risco para o desenvolvimento das di� culdades de aprendizagem, para que se possa atuar diretamente sobre esses fatores, prevenindo seu aparecimento e, consequentemente, os problemas psicossociais que dela decorrem ou estão a ela associados. Neste primeiro momento, a intenção foi mostrar que a maioria dos estudos nessa área aborda a di� culdade de aprendizagem como fator de risco para problemas psicossociais (baixa autoestima, dé� cit de habilidades sociais, problemas de comportamento, comportamentos antissociais ou inadaptação social). Observa-se também que nem sempre a di� culdade de aprendizagem aparece como fator de risco isolado; ela aparece associada com problemas socioemocionais e comportamentais e a associação entre esses fatores de riscos traz prejuízos para a criança. É possível identi� car claramente alguns fatores de risco para o desenvolvimento das di� culdades de aprendizagem: dé� cit de habilidades sociais, baixa autoe� cácia, ausência do desenvolvimento de consciência fonológica, que será tratado na Unidade 2, e expectativas negativas dos professores. Porém, para Mazer, Bello e Bazzon (2009), não é simples a� rmar que uma determinada condição psicossocial age como causa ou consequência na vida de um indivíduo. Uma criança que apresenta di� culdade de aprendizagem, provavelmente, já passou por diversas cadeias de circunstâncias desfavoráveis para o seu desenvolvimento, e essa di� culdade, se persistir, também acarretará novos prejuízos psicossociais, que, por sua vez, também contribuirão para a manutenção ou intensi� cação dos problemas de aprendizagem. As pesquisas abordam a di� culdade de aprendizagem com o problema já presente na vida da criança, um erro claramente visível a partir de agora, uma vez que, com isso, não é possível ter acesso aos processos pelos quais essa di� culdade se instalou. Nesse sentido, é importante o desenvolvimento de estudos longitudinais para a melhor identi� cação dos fatores de risco. Também consiste em um desa� o à frente investigar sob quais mecanismos operam esses fatores, prevenindo ou causando as di� culdades de aprendizagem. Não podemos deixar de considerar os problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar ou comunicar informações. Uma visão sobre o tema é apresentada por Barbosa (2015), que a� rma que as di� culdades de aprendizagem abrangem vários fatores, uma vez que envolvem a complexidade do ser humano. Acredita-se que elas podem ser decorrentes de um problema � siológico, um estresse grande vivido pela criança, como, por exemplo, problemas familiares envolvendo a perda de algum parente, problemas com alcoolismo ou drogas, separação dos pais, doenças, falta de alimentação, falta de material e estímulos, tédio na sala de aula, baixa autoestima, problemas patológicos como TDH (transtorno de dé� cit de atenção/ hiperatividade), dislexias, psicopatias, alterações no desenvolvimento cerebral, desequilíbrios químicos, hereditariedade, problemas no ambiente doméstico e/ou escolar. Percebemos então que essas di� culdades podem ser geradas tanto por fatores intrínsecos como fatores extrínsecos ao ser humano, uma vez que um cérebro com estrutura normal, com condições funcionais e neuroquímicas corretas e com um elenco genético adequado, não signi� ca 100% de garantia de aprendizado normal. Isso porque a aprendizagem não depende apenas desses fatores; outros aspectos como os estímulos que serão oferecidos à criança e o ambiente em que ela vive também são determinantes para seu desenvolvimento e aprendizagem. Segundo Smith e Strick (2012), dentre os fatores orgânicos que contribuem para a di� culdade de aprendizagem, estão: patologias como encefalite e meningite, desnutrição, falhas ou alterações no desenvolvimento cerebral, hereditariedade, desequilíbrios químicos e, em alguns casos, as lesões cerebrais também podem ser responsáveis pela di� culdade. 9WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Barbosa (2015) cita que especialistas acreditam que alguns indivíduos desenvolvem di� culdades de aprendizagem porque partes de seu cérebro simplesmente amadurecem mais devagar que o habitual. Esse aspecto é bastante relevante para ser considerado, uma vez que cada ser humano é único e, por mais que sejam estabelecidos determinados padrões para o desenvolvimento que são semelhantes para a maioria, não serão todos que conseguirão se encaixar dentro deles, pois cada ser humano é diferente do outro, ou seja, amadurecemos e respondemos aos estímulos de maneiras diferentes. A autora segue relatando também que algumas disfunções e alterações do sistema nervoso central podem se originar durante a gravidez, por meio de doenças virais, falta de nutrientes, alcoolismo, tabagismo, drogas, entre outros; durante o parto com a falta de oxigenação, baixo peso, desnutrição, infecções neonatais e prematuridade e, após o parto, por meio de acidentes e traumas neurológicos, infecções, intoxicações e desnutrição. Nesse ponto, é necessário destacar a diferença entre distúrbio de aprendizagem e di� culdade de aprendizagem. Barbosa (2015) explica que a diferença entre esses dois termos é bem sutil, e destaca que o distúrbio se refere a um problema mais intensi� cado com um comprometimento neurológico e orgânico maior, enquanto a di� culdade de aprendizagem deriva de problemas como falta de motivação e estimulação, inadaptação, sendo que esses problemas não se encontram somente no aluno e, por isso mesmo, a di� culdade pode ser trabalhada na sala de aula, porém, quando não tratada, pode vir a se tornar um distúrbio. Barbosa (2015) também reforça que o diagnóstico da di� culdade deve ser feito de maneira diferenciada em relação aos outros transtornos próximos, pois uma pessoa pode possuir, além da di� culdade, outro transtorno e, por isso, é necessário classi� car ambos, sabendo que se trata de dois transtornos superpostos. Alguns exemplos dados pela autora são o transtorno por dé� cit de atenção e hiperatividade; os transtornos da fala, como a gagueira e a linguagem confusa; outros transtornos da infância, meninice ou adolescência, como o mutismo seletivo ou o transtorno por dé� cit de atenção indiferenciado; a de� ciência mental ou os transtornos generalizados do desenvolvimento. Ambos terão seu destaque neste trabalho nas unidades a seguir. 1.2 Fracasso Escolar Quando nos dedicamos a estudar o fenômeno do fracasso escolar, o conhecimento da questão social envolvida é de importância fundamental para os pro� ssionais de Educação. Sempre presente na educação brasileira – não como um fenômeno isolado, mas como uma realidade incômoda e muito conhecida – o fracasso não pode escapar aos interesses de nós, educadores. Partindo de trabalhos de revisão sobre o tema, como o de Paula e Tfouni (2009), procuramos identi� car algumas condições históricas e sociais que possibilitaram o surgimento das diversas interpretações sobre o fracasso e, consequentemente, sua in� uência na constituição de um sujeito que carregará esse sobrenome para o mercado de trabalho, para sua família, para sua estima. 1.2.1 O fracasso escolar na educação brasileira A história da Educação brasileira é marcada pelarecorrência de evasões, repetências e uma série de outros fatores negativos que são geralmente classi� cados como fracasso escolar, apresentando-se este, dessa forma, como uma realidade indissociável da história da Educação e do processo de escolarização das classes populares no Brasil. Só para se ter uma ideia, dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) (2000) apontam que, até o início da década de 1950, menos da metade da população brasileira era alfabetizada. 10WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Dessa forma, apesar de todo o progresso urbano e tecnológico pelo qual passou a sociedade brasileira nas últimas décadas, e de todos os projetos e iniciativas dos governos no sentido de erradicar o analfabetismo, aumentar a escolarização da população e diminuir a repetência e a evasão escolar, a realidade de fracasso persiste. Isso também é atestado por jornais e revistas, que cotidianamente retratam a precariedade das escolas públicas e a insatisfação da população pobre com o ensino. Inicialmente, chamamos a atenção para o fato de que a noção-conceito de fracasso escolar é empregada quase que de forma natural por aqueles que tratam do tema. É o que nos diz Charlot (2000), autor que a� rma não existir o objeto de pesquisa fracasso escolar. O que há, segundo ele, são alguns fenômenos sob essa denominação. Na leitura empreendida por esse autor, o fracasso escolar é entendido como uma categoria genérica, ou seja, uma forma de interpretação que comporta vários fatores, tais como repetência e evasão escolar, di� culdade de aprendizagem ou mesmo um desempenho insatisfatório em uma única disciplina escolar. Partilhando da abordagem apresentada por Charlot (2000), destacamos ainda que os fatores que estariam situados dentro da categoria genérica fracasso escolar também se constituem em interpretações daquilo que ocorre no espaço da escola. Para que um aluno seja reprovado em uma disciplina escolar qualquer, por exemplo, ele precisa ser avaliado segundo critérios criados pelo Estado, por uma escola em particular, e às vezes até por um professor especí� co. Assim, a classi� cação “fracasso escolar” não pode ser tomada como um evento natural como uma síndrome que compromete o aluno. Iniciamos nossa discussão apresentando o levantamento teórico empreendido por Paula e Tfouni (2009), autoras que trazem à tona a ideia de que as primeiras formulações sobre o fracasso, datadas do � nal do século XIX, foram de cunho racista e médico. Essas explicações baseavam-se em procedimentos que buscavam produzir provas empíricas sobre a inferioridade de pobres e não brancos, procurando justi� car as diferenças sociais entre estes e a classe dominante. Nessa perspectiva, procurava-se mostrar que, dentro de uma sociedade que oferece oportunidades iguais para todos, vencem os mais aptos, os mais competitivos ou os mais adaptados à estrutura socioeconômica; reconhece-se a in� uência darwinista que essa teoria propunha. Da década de trinta até meados da década de sessenta do século XX, Paula e Tfouni (2009) destacaram a in� uência da Psicologia Diferencial que, baseada na análise das diferenças de desempenho existentes entre os indivíduos na sociedade, explicava o fracasso escolar a partir das diferenças individuais entre as crianças. Tais diferenças, no caso, podiam ser problemas físicos e sensoriais, intelectuais e neurológicos, emocionais e de ajustamento. A partir do início da década de setenta, as autoras reconhecem que as explicações que até então se centravam sobre as características individuais dos alunos deslocaram-se para a família e para o ambiente. Dentro dessa perspectiva, encontramos as teorias da carência cultural e da diferença cultural. A teoria da carência cultural postula que o fracasso escolar ocorre devido à de� ciência ou privação cultural do aluno em decorrência das suas precárias condições de vida. Já para a teoria da diferença cultural, as razões do fracasso escolar estariam nas disparidades; nas diferenças entre os padrões culturais da classe média, nos quais se baseiam os programas educacionais e escolares, e aqueles apresentados por crianças de famílias pobres. Carraher, Carraher e Schliemann (1982) dispõem sobre essa teoria, a� rmando que o fracasso escolar aparece como um fracasso da escola, fracasso este localizado na impossibilidade de aferir a real capacidade da criança; no desconhecimento dos processos naturais que levam a criança a adquirir o conhecimento; e na incapacidade de estabelecer uma ponte entre o conhecimento prático – do qual a criança, pelo menos em parte, já dispõe – e os conhecimentos formalizados do currículo escolar. 11WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA É importante ressaltar que o peso atribuído à cultura escolar por autores que adotam a teoria da diferença cultural não implica uma revisão do modelo de Educação vigente em nossa sociedade. O que ocorre é um deslocamento da responsabilidade para cada escola, de uma forma independente, colocando, sobre a capacidade do professor de saber lidar com as diferenças trazidas de casa por cada aluno, a determinação do sucesso ou fracasso do aluno. Somando-se às correntes teóricas descritas acima, podemos incluir ainda trabalhos que se destacam, principalmente, pela crítica que fazem às teorias que apontam as características do indivíduo ou de sua família como causadoras do fracasso escolar. Eles denunciam a presença de uma ideologia de classe dominante por trás dessas explicações centradas no individual e responsabilizam o Estado e suas instituições democráticas pelo fracasso escolar, visto que ele atinge, principalmente, as classes populares, também chamadas de classes dominadas. De acordo com essa visão, o Estado é regido pelos interesses da classe dominante que impõe seus valores por meio da Educação, além de utilizar-se da instituição escolar para excluir as camadas populares e garantir a reprodução das condições de produção. Para Medeiros (2003), não podem deixar de ser inclusas, nesta revisão, as ideias que atribuem as causas do fracasso escolar a desajustamentos neurológicos ou psicológicos do indivíduo que norteiam, ainda hoje, a prática pedagógica de pro� ssionais da área da educação, mesmo que isso não seja reconhecido explicitamente. Para além do fato de que algumas práticas pedagógicas se dispõem a repensar permanentemente seu próprio fazer, Paula e Tfouni (2009) indicam que nos arriscamos a a� rmar que é na criança, numa indagação esmiuçada do seu grau de maturidade psicológica, que se espera encontrar a resposta tanto para os problemas de aprendizagem quanto para os de indisciplina escolar que, não raro, são apontados como causa e consequência um do outro. “A criança não aprende porque é indisciplinada, é indisciplinada porque não é su� cientemente madura” (MEDEIROS, 2003, p. 93). As habilidades sociais, como o próprio nome indica, são um conjunto de habilidades que o indivíduo deve possuir para poder adaptar-se aos diferentes ambientes sociais, como a escola. De acordo com essa teoria, as habilidades sociais são adquiridas por meio do processo de aprendizagem, ou seja, envolvem a educação fornecida pela família e o ambiente no qual a criança realiza suas experiências. A grande questão com relação à teoria das habilidades sociais é que essas habilidades são medidas nos alunos, havendo aí a suposição de que estes já devem possuí-las. Dessa forma, � ca subentendida a ideia de que a escola deve receber crianças que já estejam preparadas, crianças que possuam habilidades sociais necessárias à aprendizagem e à adaptação, garantindo, assim, o bom funcionamento da instituição. Assim, sem colocar em questionamento o funcionamento da escola e os valores que perpassam essas supostas “capacidades” que os alunos devem possuir, a teoria das habilidadessociais, por um lado, aproxima novamente a psicologia do assistencialismo e dos projetos de educação compensatória – já que, se as crianças chegam até a escola sem as habilidades necessárias, é porque não as obtiveram em seu ambiente familiar ou físico – e, por outro, justi� ca o fracasso e a exclusão pela lógica da adaptação – os alunos mais habilidosos, mais inteligentes e mais espertos –, o que nos faz pensar outra vez na psicologia diferencial e no darwinismo social. Dessa forma, uma apreciação dos trabalhos mais recentes produzidos por pesquisadores da área da psicologia escolar, da pedagogia e da educação pode revelar uma aparente articulação de diferentes e até antagônicos discursos sobre o fracasso escolar. Vejamos, então, como se con� gura atualmente esse campo especí� co de investigação, a saber, a produção de diferentes efeitos de sentido dentro da mesma formação discursiva. 12WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Angelucci et al. (2004) investigaram quais são as concepções de fracasso escolar de acordo com os resultados encontrados por essa pesquisa, e o fracasso escolar vem sendo abordado atualmente das seguintes formas: 1. O fracasso escolar como problema psíquico, o que leva à culpabilização das crianças e de seus pais. O fracasso escolar é visto como o resultado de prejuízos da capacidade intelectual dos alunos, decorrentes de problemas emocionais gerados em ambientes familiares supostamente patológicos. Para essa categoria de explicação, a escola é vista como um lugar harmônico, no qual cada criança encontra as condições necessárias ao seu desenvolvimento, desde que elas consigam desenvolver suas capacidades egoicas para lidar com a realidade. 2. O fracasso escolar como um problema técnico (culpabilização do professor): para essa posição, o fracasso é fruto do efeito de técnicas de ensino inadequadas ou de sua má utilização pelos professores. As causas do fracasso escolar são desvinculadas das questões que afetam a sociedade como um todo e focalizadas somente em um determinado professor, método ou estabelecimento de ensino. Reproduz-se, também, nessa visão, uma ideologia que apresenta o professor como o salvador; como aquele que compreende e resolve as di� culdades pessoais e/ou emocionais dos alunos. 3. O fracasso escolar como questão institucional, ou a lógica excludente da educação escolar. Essas pesquisas tomam a escola como instituição social que, contraditoriamente, reproduz e transforma a estrutura social. Para essas leituras, a escola está inserida em uma sociedade de classes que é regida pelos interesses do capital. Desse modo, a escola também está a serviço da produção de desigualdades e da exclusão social. A nossa leitura é a de que se trata de um trabalho ininterrupto de interpretação no qual as posições ideológicas se confrontam e se combinam na tentativa de explicar-tamponar aquilo mesmo que impulsiona todo esse movimento de interpretação da luta de classes. O fracasso escolar tem relação com esse real – com essa contradição fundamental que organiza nossa sociedade em diferentes e até antagônicas classes sociais – na medida em que a educação ou o grau de escolaridade é utilizado como um critério de classi� cação social, pois é justamente ela que garante e autentica a divisão social do trabalho da forma como encontramos em nossa sociedade contemporânea. Todas essas tentativas de eleger uma variável única e genérica como causa do fracasso escolar falham, pois elas buscam fornecer uma justi� cativa para a existência da exploração e da dominação entre os homens, ou seja, para uma contradição fundamental. Por outro lado, é por estar ligado a questões tão contraditórias que o fracasso escolar não deixa de ser pesquisado. Explicá-lo seria uma forma de tentar justi� car-dissimular a exploração; de tentar justi� car a existência da riqueza e da pobreza. No entanto, não há explicação que dê conta dessa contradição fundamental e traumática que move a sociedade. Um pai precisa entender que existem motivos que explicam o fato de seu � lho ter abandonado a escola. As pessoas necessitam de explicações, de justi� cativas. Assim, podemos dizer que os discursos sobre o fracasso ajudam a “equilibrar” o sistema, porém mantendo as desigualdades. Eles compõem a ideologia que fornece a cada sujeito as evidências necessárias para que ele ocupe o lugar que lhe é determinado dentro da sociedade. 13WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Nessa regularidade discursiva, em que diferentes abordagens dão um tratamento genérico ao fracasso escolar, reconhecemos a intenção implícita ou explícita de oferecer-se uma explicação geral para a questão, ou seja, uma explicação que possa ser generalizada para todos os casos de fracasso. Isso reforça nossa hipótese sobre a necessidade de os sujeitos, em função da contradição constitutiva da luta de classes, produzirem explicações cada vez mais so� sticadas sobre o fracasso escolar. Em um estudo no qual foram analisados diferentes con� gurações familiares e fatores que poderiam estar relacionados à questão, Lahire (1997) apresentou evidências contrárias à possibilidade de generalização das causas do fracasso escolar. O autor descreveu casos de sucesso de crianças que conviviam em ambientes pobres e considerados inadequados para o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, assim como casos de fracasso de crianças que aparentemente viviam em ambientes considerados favoráveis. Com base nos diferentes resultados encontrados em sua pesquisa, o autor articula uma argumentação contrária às posições que atribuem uma causa única ao fracasso escolar. Uma autora trazida por Paula e Tfouni (2009) que vai aprofundar a discussão sobre a generalização das causas do fracasso escolar é Cohen (2004, 2006). A argumentação dessa autora é a de que cada caso de fracasso escolar só pode ser compreendido se consideradas as contingências do processo educativo no qual ele se deu. Cohen discute que a Educação é sempre um processo singular no qual o sujeito se encontra com o Outro da Educação, encarnado na � gura da família, da Escola ou do Estado. Nesse sentido, o fracasso, como um dos resultados possíveis da educação, só pode ser compreendido analisando-se esse encontro entre o sujeito e o Outro da cultura. De acordo com Cohen (2004), temos ainda que, assim como não existe uma verdade toda, ou uma verdade completa, também não existe uma educação toda ou uma educação sem falhas. Isso quer dizer que, por mais so� sticados que sejam os métodos de ensino e por mais empenhado e competente que seja o mestre, é impossível deslocar toda a energia pulsional do sujeito para a educação, pois, como já havia a� rmado Freud, o inconsciente segue a lógica do princípio do prazer. A autora ainda a� rma que indicamos na educação a impossibilidade de cumprir sua missão de forma completa, pois não há como alcançar uma perfeita harmonia entre o pulsional e as exigências do convívio na sociedade humana. Cohen (2006) analisa o fracasso escolar na sociedade contemporânea a partir do lugar que é dado a esse real na educação (o ineducável). Como vivemos em uma sociedade que não oferece espaço para a falha ou para a falta e que exige que os alunos, colocados no lugar de objetos de consumo, aprendam tudo sobre tudo para atenderem à lógica de mercado da competição, a autora interpreta o fracasso escolar como um sintoma das demandas irrespondíveis da sociedade. Para Paula e Tfouni (2009), o crescente fracasso escolar, na condição de sintoma contemporâneo, denuncia a existência de uma educação que tem como base a suposta igualdade entre homens e mulheres, e entre adultos e crianças regidos pela ética do consumismo. Como consequência dessa suposta igualdade, difunde-se na cultura uma promessa de gozo, segundo a qual quase tudo é permitido. É importante dizer que estamos tratando deuma realidade educacional historicamente constituída, possível de ser transformada ou revista. E agora, vamos nos voltar para uma visão mais pedagógica, analisando o discurso cientí� co sobre o fracasso escolar a partir do Discurso Pedagógico Escolar tradicional. De acordo com Paula e Tfouni (2009), o DPE propõe um modelo de educação que desconsidera a singularidade, a contingência, em um processo no qual as diferenças são apagadas, a diversidade é negada, e a homogeneização é impingida aos alunos, tornando seus discursos e produções semelhantes e passíveis de controle, o que é atingido, principalmente, por meio da cópia, reprodução literal ou paráfrase. 14WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Nesse modelo de ciência, quando se encontra um obstáculo que di� culte a generalização, são criadas regras especiais para explicar a exceção. São os chamados casos especí� cos. Quando nem isso é possível, a singularidade é tratada simplesmente como uma irregularidade. A construção de um discurso cientí� co sobre o fracasso escolar, neste sentido, seria uma forma de tentar explicar-ocultar as falhas de um modelo de educação que não oferece lugar para a diferença, para a singularidade; um modelo de educação que se pretende completo e universal, assim como o paradigma cientí� co sobre o qual se sustenta. Como é impossível uma educação perfeita, absoluta, o fracasso escolar apresenta-se como um sintoma que se repete no cotidiano escolar de nossa sociedade contemporânea; um sintoma-acontecimento que, por não cessar de produzir seus efeitos, também não deixa de pedir sempre novas interpretações. Mas esse modelo de educação sustentado por um discurso autoritário, que não prevê lugar para a singularidade, tem sua utilidade social. Em uma sociedade de classes, fundamentada não mais na ordem do nascimento como na Idade Média, mas na ordem econômica da propriedade privada e da acumulação de riquezas, um discurso (DPE) que atribui ao indivíduo a responsabilidade pelo seu destino, seu sucesso ou seu fracasso, é indispensável para a manutenção do equilíbrio social. Daí expressões muito conhecidas como “tem que estudar para ser alguém na vida, quem não estuda não é ninguém, ou ainda você não estudou porque não quis”. Esse discurso, como já foi discutido aqui, ao mesmo tempo em que cria algumas condições para que haja uma divisão social do trabalho e� caz – pois propõe um modelo de educação que não respeita a singularidade, e assim produz inevitavelmente o fracasso escolar – responsabiliza o sujeito pelo próprio fracasso e, assim, também, pela própria condição de excluído e de explorado. 1.3 Problematização do Patológico X Normal Para Cortez e Faria (2011), a aprendizagem é um processo, uma atividade interior que tem um início, um desenvolvimento e um � m. Ela é algo muito pessoal, mas que pode ser in� uenciada, com êxito, por pessoas habilitadas e mediante estímulos e técnicas adequadas. A aprendizagem é a modi� cação que ocorre na conduta por meio da experiência ou da prática. É um processo dinâmico, vivo, global, contínuo e individual. Exige como condição básica o amadurecimento do ser para a referida modi� cação. É um processo pessoal: depende do envolvimento de cada um, de seu esforço e de sua capacidade. Aprende-se aos poucos, e cada um dentro de seu ritmo próprio. A di� culdade de aprendizagem pode ter origem em problemas físicos, psíquicos e emocionais. O clima familiar, a falta de estímulo ou a inadaptação do aluno à escola também in� uenciam no desempenho das crianças, podendo provocar desinteresse passageiro pelos estudos, trazendo prejuízos no rendimento escolar. O meio ambiente da criança deve ser adequado; isso signi� ca não somente espaço físico bem arejado, organizado, limpo e iluminado, mas também harmonia e serenidade dentro da escola e do lar. O ambiente escolar também exerce muita in� uência na aprendizagem. O tipo de sala de aula, a disposição das carteiras e a posição dos alunos são aspectos importantes. O material de trabalho colocado à disposição dos alunos também é importante. O professor/educador vai precisar do apoio dos demais pro� ssionais envolvidos, para diagnóstico das di� culdades de aprendizagem, pois somente conhecendo o ser humano em sua natureza própria, nas relações entre seus membros constitutivos e o mundo, é que se pode conseguir uma aproximação com a criança. O estudo das di� culdades de aprendizagem constitui-se num campo amplo e complexo, envolvendo determinantes sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos e médicos. Assim, torna-se necessário ter uma visão global do problema de aprendizagem para melhor avaliar e compreender os vários fatores envolvidos. 15WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Há crianças que apresentam inteligência normal e até superior, mas as atitudes emocionais con� itivas ou as tensões emocionais vindas das mais variadas circunstâncias da vida são su� cientes para acarretar as di� culdades na aprendizagem. É fato que algumas crianças matriculadas na escola não apresentam os pré-requisitos básicos para a sua alfabetização, isto é, possuem problemas de alguma ordem, entre os já citados anteriormente, que as impede de acompanhar o ritmo da classe. Os alunos são realmente diferentes em suas características e potencialidades. Dessa forma, a escola deve então se ajustar a eles para lhes propiciar maior desempenho. Uma escola é funcional quando conta com forte aliança entre a comunidade, o corpo docente e o administrativo, os quais trabalham os seus con� itos por meio da colaboração e do diálogo. Esses elementos são � exíveis em sua maneira de lidar com os con� itos, utilizando-se do conhecimento de várias técnicas e métodos adequados. As decisões são tomadas em conjunto e a participação dos alunos é solicitada, mas sem ser igualitária. Cada membro do sistema escolar tem seu papel determinado, a � m de criar condições favoráveis para a resolução dos problemas que surgem, fazendo com que o ensinar e o aprender se tornem comprometidos. Segundo Cortez e Faria (2011), a maior di� culdade no relacionamento entre professores e alunos com di� culdade de aprendizagem é a falta de visão global desse aluno, pois a tendência é analisá-lo parte por parte, sintomatizando em suas limitações psíquicas e/ou orgânicas. A di� culdade de aprendizagem se trata de uma condição do aluno muito abrangente, e o principal foco de manifestação dessa condição, certamente, é por meio do fracasso escolar, pois possibilidades temos várias, inúmeras, mas para buscá-las, não bastam “boas intenções”, porque o nosso olhar está voltado para os indícios das impossibilidades. É preciso considerar a realização sociopsicológica dos pontos fortes da criança, e não o defeito em si, pois esse diagnóstico irá decidir o destino de sua personalidade. Exatamente isso, não é a patologia que a criança possui que determina seu destino, mas a realização social e psicológica de seus pontos fortes – o que ela pode, do que ela é capaz. Se o rendimento escolar do aluno for sofrível, ele talvez seja visto como um fracasso pelos professores ou colegas. As di� culdades de aprendizagem fazem parte do cotidiano das escolas acarretando, na grande maioria das vezes, reprovação. Essa constatação reforça a importância do apoio dos demais pro� ssionais envolvidos, no sentido de criar condições juntamente com os professores, para que a aprendizagem ocorra de maneira e� caz, prazerosa e signi� cativa. Busca-se uma escola e� ciente e responsável, que coloque a obrigação de levar as novas gerações a se apropriarem dos conhecimentos socialmente construídos, a raciocinar com lucidez e a construírem projetos de vida. Centrar o problema das di� culdades de aprendizagem na má formação dos professores parece também ser uma opção de puro reducionismo. É preciso reconhecer que essas di� culdades são umfenômeno complexo e multifacetado. Devemos encontrar um caminho sólido para enfrentá-lo. Deve-se garantir aos professores o domínio daquilo que ensinam, sem descuidar de habilitá-los para o manejo adequado da classe, para a seleção de métodos e procedimentos de ensino. Os problemas físicos e neurológicos também devem ser tratados e são percebidos nos primeiros anos de ensino fundamental. Os professores devem estar trabalhando nisso também, pois, não havendo causa orgânica, a di� culdade pode ter origem psíquica. 16WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O trabalho de educação dos alunos assume um caráter da mais alta importância neste milênio; portanto, faz-se necessário conhecer suas características e potencialidades, seus valores e desejos para uma interação com o meio de forma harmoniosa. Trabalhar a criança em suas necessidades íntimas, para Cortez e Faria (2011), é auxiliar a sua integração com o meio social em que vive, visando à sua integração com os outros meios sociais, para que se torne um cidadão. Acredita-se que as crianças com problemas de aprendizagem constituam um desa� o em matéria de diagnóstico e educação. No entanto, não é raro encontrar educadores que consideram, a priori, alguns alunos preguiçosos e desinteressados. Essa atitude não só rotula o aluno, como também esconde a prática docente do professor, que atribui ao aluno certos adjetivos por falta de conhecimento sobre o assunto em questão. Muitos desses professores desconhecem, por completo, que essas mesmas crianças podem apresentar algum problema de aprendizagem, de ordem orgânica, psicológica, social ou outra. En� m, são tantas as variáveis, que é imprescindível ao professor, antes de rotular os seus alunos, conhecer os problemas mais comuns no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, conseguirá ampliar o seu horizonte de re� exão e, consequentemente, também as suas percepções e a visão do todo, do que é patológico ou não. • CID-10 signifi ca “Classifi cação Internacional de Doenças”, e o número 10 indica a versão, ou seja, já foram realizadas 10 atualizações e revisões desse código. • DSM-5 é uma sigla inglesa, Diagnostic and Statistical Manual, que signifi ca Ma- nual de Diagnóstico e Estatística, e o número 5 da sigla é usado para indicar que já foram feitas cinco revisões. Esses dois critérios diagnósticos servem para ajudar o profi ssional de saúde a classifi car os problemas relacionados ao uso de substâncias em questão. A CID-10 é o critério adotado no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ele abrange todas as doenças, incluindo os transtornos mentais, e foi elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O DSM-5 abrange apenas os transtornos mentais e tem sido mais utilizado em ambientes de pesquisa, porque possui itens mais detalhados, em forma de tópi- cos. Foi elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria. Tomar ciência de um diagnóstico no que diz respeito a um défi cit de ensino-apren- dizagem é somente a primeira fase de um processo complexo. Por isso, não é vá- lido que o educador tome como seu papel efetuar avaliações e diagnósticos como forma de ser útil, na vida escolar da criança. Qualquer diagnóstico deve ser feito por um profi ssional da saúde e/ou alguém especializado, utilizando instrumentos próprios para esse fi m. Cabe ao professor dar sequência ao trabalho de atuação dentro da sala de aula, no cotidiano escolar. 17WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta primeira unidade nos propôs a re� etir que as questões sobre as di� culdades de aprendizagem não são inatas ao indivíduo apenas em sua particularidade como sujeito, mas sim envolvem conceitos orgânicos, psicossociais e estruturais da escola. Tomar ciência desse todo deve ser condição para atuações em nível de sistema, e não apenas no âmbito do aluno. Sua família, a escola, a relação com seu professor devem entrar na avaliação quando se fala em di� culdades de aprendizagem, por mais que sejam elas de origem orgânica. Quando estruturamos um ambiente em um espaço facilitador do aprender, permitimos que as di� culdades particulares dessa criança se tornem menores que o mundo desa� ador que a rodeia. Com isso, tomemos nota da importância de uma visão completa sobre o indivíduo que é nosso “objeto de estudo” para que possamos ajudá-lo a atingir o que a sua potencialidade permite, mesmo que, para isso, adaptações em diversos níveis sejam efetuadas. 1818WWW.UNINGA.BR UNIDADE 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 19 1. POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA ...............................................................................................................20 1.1 A INFLUÊNCIA INTERNACIONAL NA INCLUSÃO EDUCACIONAL E NA FORMAÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ............................................................................................................................................................. 21 1.2 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA INCLUSIVA ..............................23 1.3 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES .............25 1.4 ADAPTAÇÕES CURRICULARES: MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DA ESCOLA ....................26 1.4.1 AS ADAPTAÇÕES CURRICULARES INDIVIDUAIS ........................................................................................26 1.4.2 CARACTERÍSTICAS DAS ADAPTAÇÕES CURRICULARES ............................................................................28 1.4.3 FASES DO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO CURRICULAR ................................................................................ 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................35 EDUCAÇÃO INCLUSIVA PROF.A ANGÉLICA CAROLINE DOS SANTOS RATTI MENEZES ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM 19WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nesta segunda unidade, teremos como objetivo geral discutir o processo de inclusão educacional em uma visão jurídica e pedagógica, para podermos re� etir sobre as sucessões políticas que percorrem a história da inclusão sob a perspectiva dos documentos, pioneiros das possibilidades de implementação das ações, nacionais e internacionais, que, � nalmente, originaram as políticas públicas atuais. Ao descrevê-los, perceberemos que os movimentos sociais re� etiram em transformações para os direitos das pessoas com necessidades especiais, sendo destacado que as alterações mais relevantes ocorreram no âmbito da instituição escolar e, principalmente, na prática pedagógica. Cerezuela, Silva e Mori (2014) a� rmam que, para esta análise, deveríamos nos fundamentar na Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração de Salamanca, Sunderberg, Jomtien e Santiago, e também na Convenção da Guatemala, observando suas contribuições para a organização jurídica, trazidas nos textos da Constituição Federal, da Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, do Decreto 7611/11 – que reforça a instituição da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, e da Lei 12762/12, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. A análise pedagógica que será apresentada traz o atendimento educacional especializado oferecido na esfera nacional, enfatizando o Professor de Apoio Educacional Especializado e concluindo que o movimento de transição a que a educação tem sido submetida historicamente institui o paradigma da inclusão com o dever de proporcionar o direito deigualdade às pessoas com de� ciências. Contudo, destaca-se a importância singular do atendimento especializado na consolidação da inclusão, visto que o direito à igualdade somente será respeitado se cada aluno for percebido como único e atendido justamente naquilo que o categoriza como diferente. 20WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA Os últimos anos foram marcados por transformações no que tange aos direitos das pessoas com necessidades especiais. As mudanças, amparadas em movimentos sociais e estudos internacionais e nacionais, criaram e reformaram legislações brasileiras. Esse processo tende a ter continuidade, objetivando ampliar, ao maior número de pessoas possível, a fruição dos direitos advindos desse novo momento jurídico. Tais direitos estão articulados no Princípio da Isonomia, que é previsto no caput do artigo 5º da Constituição Federal do Brasil de 1988, que dispõe: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988, p. 5, grifo nosso). Cerezuela, Silva e Mori (2014) a� rmam que o Direito à igualdade é um dos pilares que sustentam o Estado Democrático de Direito, ideal construído por diversos pensadores por toda a construção do homem moderno. Porém, o sistema jurídico brasileiro requer regulamentações especí� cas para promover as políticas públicas e, também, realizar a imposição legal à sociedade civil. Somente por meio disso, é possível proporcionar às pessoas com necessidades especiais o direito de usufruir, na prática, de tal igualdade. Dessa forma, a igualdade deve ser analisada observando a diferença entre o aspecto formal e o aspecto material dentro de seu próprio conceito. No Brasil, foi previsto, no art. 5º da Constituição de 1988, atualmente em vigor, que: “[...] aspecto formal vem a ser a positivação do direito à igualdade, ou seja, prescreve o tratamento normativo igualitário, enquanto que o aspecto material é aquele observado na realidade prática e destina-se a assegurar a igualdade real e efetiva [...]”. Isto é, tratar de forma igual quem está em condições iguais e de forma desigual quem se encontra em desigualdade. Para discutir esses aspectos do conceito de igualdade, Cerezuela, Silva e Mori (2014) identi� cam como os movimentos internacionais em defesa da inclusão foram recepcionados pela legislação brasileira, apresentando a inclusão educacional do aluno com TGD no contexto nacional. Figura 1 - Trinta anos da Constituição da Cidadania. Fonte: Ururahy (2018). 21WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.1 A Influência Internacional na Inclusão Educacional e na Formação da Legislação Brasileira O direito à igualdade, historicamente conquistado pela sociedade, é tema de diversos documentos internacionais, construídos em Convenções e Tratados. Estes objetivam transformar a igualdade formal, estabelecida legislativamente, em igualdade material, por meio de ações civis e políticas públicas efetivas. Sendo a constituição brasileira signatária, a transformação mais contundente ocorreu na instituição escolar. Paralelamente aos movimentos sociais e impulsionando-os, a educação escolar passa, em praticamente todo o mundo, pelo inevitável e complexo processo de transição, procurando instituir o paradigma da inclusão no ambiente institucional. Para Cerezuela, Silva e Mori (2014), o impacto dos movimentos globais de inclusão na vida escolar promove a necessidade de um novo olhar para as práticas pedagógicas, onde a adaptação e � exibilização da dinâmica escolar tem como objetivo romper as barreiras e visar à efetividade no processo de inclusão do aluno na vida em sociedade. Essas alterações proporcionam a garantia dos direitos aos educandos com necessidades especiais. Mas, de imediato, promovem a discussão da importância que a vida em sociedade tem para o desenvolvimento do potencial humano e de sua dignidade. Neste contexto, consideremos relatar alguns documentos nacionais e internacionais que fundamentam e impulsionam as políticas públicas de educação inclusiva. Em 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na qual reconhece que: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos [...] sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, p. 1). Para a ONU, “[...] toda pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, p. 12). Isso nos permite entender que tal ensino também é garantido às pessoas com necessidades especiais. No Brasil, essa declaração foi reforçada pela Constituição Brasileira, que rati� ca em seu Art. 208 que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: “I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; [...] III - atendimento educacional especializado aos portadores de de� ciência, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1988, p. 138). Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9394/1996, é contemplada a gratuidade do ensino na educação básica: Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio; II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade; III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com de� ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que não os concluíram na idade própria; Toda redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013 (BRASIL, 1996, p. 2). 22WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA É óbvia a questão da gratuidade para a efetivação da universalização da educação, visto que não é possível ao Estado impor a obrigatoriedade da etapa básica sem proporcionar vagas para todos os cidadãos. Ao ampliarmos nossa re� exão para in� uência internacional, parece válido citar as Declarações de Sunderberg, Jomtien e Santiago, três documentos, respectivamente datados de 1981, 1990 e 1993, e que se dispuseram a discutir políticas voltadas à criação de estratégias para educação inclusiva, erradicação do analfabetismo e universalização do ensino. Cerezuela, Silva e Mori (2014) descrevem que, na Declaração de Sunderberg, em seu artigo 1º, a� rma-se que: “Toda pessoa com de� ciência deverá exercer seu direito fundamental de ter acesso à educação, ao treinamento, à cultura e à informação”, demonstrando, diante disso, que os governos e as organizações nacionais e internacionais necessitam tomar medidas para garantir a participação possível das pessoas com necessidades especiais na sociedade. Para essas autoras, esse documento foi importante em vários aspectos, entre eles, a instituição pela Organização das Nações Unidas (ONU) do Ano Internacional das Pessoas De� cientes – 1981 e futuramente a Década das Nações Unidas para Pessoas Portadoras de De� ciência – 1983-1992. Como formatambém de fazer valer essas propostas, o Brasil tem criado instrumentos de sistemas educacionais inclusivos, nas diferentes esferas públicas: municipal, estadual e federal. A Declaração de Jomtien e a Declaração de Santiago objetivam, por sua vez, a universalização da educação e a erradicação do analfabetismo. Discutem a situação da mulher em muitos países, além da miséria, do trabalho infantil e de outros fatores que afastam o ser humano do ambiente escolar, sendo todos esses fatores cíclicos, quando considerada a in� uência que exercem entre si. Como exemplo, vamos considerar os altos índices de violência urbana em países subdesenvolvidos com baixíssimos graus de escolaridade. Nesses documentos, o ponto crucial é o de que a educação é de fundamental importância para o desenvolvimento das pessoas e das sociedades e deve ser de qualidade para todos, o que independe das diferenças individuais. Os avanços na questão da universalização da educação brasileira se materializaram em diversas inovações legislativas, inseridas na LDB e na Constituição Federal, no início do século XXI. As novas disposições, cronologicamente, ampliam o ensino fundamental para 09 (nove anos), iniciando na faixa etária de 06 (seis) anos de idade, promovem o acesso ao ensino médio a todos que o demandarem e, � nalmente, proclamam toda a educação básica como ensino obrigatório, dos 04 (quatro) aos 17 (dezessete anos). Não poderíamos deixar de citar a Declaração de Salamanca, que é especi� camente voltada à discussão das necessidades especiais, e o serviço educacional especializado em estabelecimentos de ensino regular. Na Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, em Salamanca, na Espanha, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em junho de 1994, foi escrita a Declaração de Salamanca, um dos documentos de maior importância no processo histórico da inclusão. Esse documento, de acordo com Cerezuela, Silva e Mori (2014), defende que as escolas regulares que realizam a inclusão são as mais e� cazes para diminuir a discriminação. Assim, todos os alunos que apresentam de� ciências ou necessidades educacionais especiais devem ter acesso e condições de permanência e desenvolvimento em toda rede regular de ensino. É notória a in� uência das ideias discutidas em Salamanca no capítulo exclusivo dedicado à Educação Especial da LDB, que apresenta que o avanço para a educação especial é muito signi� cativo, pois o conteúdo possibilita um novo olhar sobre as diferenças individuais de cada aluno, e suas formas de atendimento educacional especializado são mais especí� cas para seu desenvolvimento e sua autonomia. 23WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A partir dessas considerações, podemos perceber que as disposições legais trazem à tona a possibilidade de formação de cidadão para aqueles que, até então, eram segregados na escola e, por decorrência, na sociedade. A formação da autonomia e independência é certamente ampliada se o indivíduo estiver inserido no sistema educacional regular desde a educação infantil. A menção da LDB de que a Educação Especial é uma modalidade de ensino corrobora com a ideia de que o processo de inclusão permeia e se articula com todos os níveis educacionais, e não se desassocia deles. 1.2 Princípios e Fundamentos para a Construção de uma Escola Inclusiva Amparados nos documentos internacionais e nos nacionais citados, consideremos a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que permitiu que um documento fosse elaborado por um grupo de trabalho em 2008, entregue ao Ministro da Educação. Um grupo de trabalho composto por pro� ssionais da educação e do Ministério Público teve como objetivo apresentar uma política nacional que acompanhasse os avanços dos documentos internacionais e que promovesse educação de qualidade para todos. O grande destaque que fazemos ao documento é que ele caracteriza os alunos que são o público-alvo de atendimento da educação especial em três grupos: alunos com de� ciência; alunos com TGD; alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD). A partir dessa conceituação, considera-se: [...] alunos com de� ciência aqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse (BRASIL, 2008, p. 15). Com essa de� nição, � cam excluídos do atendimento especializado os alunos que apresentam di� culdades de aprendizagem acentuadas, distúrbios de aprendizagem e outros transtornos. De acordo com o referido documento, tal aluno deverá ser atendido pelo ensino comum, recebendo de forma articulada orientação dos professores da educação especial para o atendimento de suas necessidades. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva evidencia seus objetivos de assegurar a inclusão e a permanência escolar, com qualidade de aprendizagem, aos alunos com de� ciência, TGD e AH/SD. Aos sistemas de ensino, o documento apresenta sete orientações para viabilizar o atendimento às necessidades educacionais dos alunos, a saber: 24WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; Atendimento educacional especializado; Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados de ensino; Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais pro� ssionais da educação para a inclusão escolar; Participação da família e da comunidade; Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p. 20). Cerezuela, Silva e Mori (2014) chamam a atenção para dois itens da política: o primeiro sobre a transversalidade, e o segundo sobre a corresponsabilidade do ensino comum para o funcionamento da inclusão. O atendimento especializado é um serviço da educação especial, ofertado em Salas de Recursos Multifuncionais no contexto escolar ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, e tem como função: [...] identi� car, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades especí� cas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela (BRASIL, 2008, p. 10). Esse atendimento caberá aos professores especí� cos, mas todos os demais pro� ssionais devem ser capacitados para atuarem na educação inclusiva. Para Mantoan (2010, p. 14), essa política “[...] traçou seus objetivos tendo em vista rea� rmar o novo lugar da Educação Especial nos sistemas de ensino”. A consolidação desse documento representa um marco essencialdas políticas públicas educacionais, no âmbito nacional, pois, além de de� nir os AEEs, orientando os sistemas de educação a organizar os serviços e recursos da Educação Especial de modo a complementar o ensino comum, a atual política caracterizou as especi� cidades dos alunos público-alvo desse atendimento. Entretanto, nem as Classes Especiais, já extinguidas em quase todo o território, nem atualmente, as SRM oferecem possibilidades de incluir, com qualidade, o aluno com TGD no contexto educacional. Por essa justi� cativa, autodenominada “inclusão responsável”, no estado do Paraná, por exemplo, defende-se que, no contexto comum, há a necessidade de uma maior atuação do professor especialista, mediando em tempo real o processo de ensino e de aprendizagem do aluno no contexto da educação básica, em seu turno de aula. Para os alunos com altas especi� cidades, o atendimento ainda pode ser realizado nas Escolas de Educação Básica na modalidade de Educação Especial. Como um processo clássico de evolução, em 2008, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), implementou um AEE inédito no estado, com atuação de professor especialista no contexto do ensino comum, voltado ao aluno com TGD, denominado pela primeira instrução de Professor de Apoio em Sala de Aula (PAS) e atualmente recebe o nome de Professor de Apoio Educacional Especializado (PAEE), que está em vigor até hoje. Atualmente, são ofertadas as seguintes formas de atendimento: classe comum com apoio em contraturno na SRM, o PAEE e a escola de educação básica na modalidade da educação especial. 25WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O que não podemos deixar de considerar são os sujeitos que fazem parte dessa escola, que tem uma demanda inclusiva, e não só exigem uma proposta de atendimento especí� co para viabilizar a escolarização como também representam condições que di� cultam a inter-relação com seus pares. Esse processo de mediação pedagógica do professor especialista pressupõe atitudes e ações colaborativas com o professor do ensino comum não só no contexto da sala de aula, mas envolvendo todo o projeto político-pedagógico da instituição de ensino. 1.3 Formação de Professores para a Escola Inclusiva: Possibilidades e Lim- itações Para Cerezuela, Silva e Mori (2014), é válido conhecer o conceito de que professor de Apoio Educacional Especializado é um pro� ssional especialista na educação especial que atua no contexto escolar, nos estabelecimentos da Educação Básica e Educação de Jovens e Adultos, para atendimento a alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento. Tem como atribuições implementar e assessorar ações conjuntas com o professor da classe comum, a direção, equipe técnico-pedagógica e demais funcionários responsáveis pela dinâmica cotidiana das escolas, e ainda atuar como agente de mediação aluno-conhecimento, aluno-aluno, professor-aluno, escola-família, aluno-família, aluno-saúde, entre outros, e no que tange ao processo de inclusão como agente de mudanças e transformação. O trabalho pode ser desenvolvido dentro da própria escola ou em outras escolas. Esse fazer pedagógico é imprescindível para o aluno ter condições de relacionamento, pois a inclusão, de fato, ainda está em processo de consolidação e os obstáculos ainda são persistentes, não existe uma linearidade. A inclusão se dá por saltos e recuos e, por vezes, atitudes que caracterizam a proposta integradora de educação, que não promovem o desenvolvimento do aluno. A atuação do PAEE tem como desa� o viabilizar a participação efetiva do aluno com demanda atípica nas diferentes situações e promover sua acessibilidade ao currículo. As ações conjuntas com o professor da classe comum viabilizam, segundo Cerezuela, Silva e Mori (2014), a realização de adaptações curriculares para a apropriação dos conhecimentos cientí� cos de todas as áreas. Assim, a participação e autonomia do aluno nas diversas situações de aprendizagem podem ser mais efetivas. Outra função importante a ser desempenhada pelo PAEE é a de estabelecer contínuo contato com pro� ssionais da saúde que prestem atendimento ao aluno e sua família, fortalecendo a ideia do trabalho em rede. O trabalho em rede, por sua vez, propõe ações articuladas, com o objetivo de garantir o melhor atendimento às pessoas com transtornos mentais. Além dos pro� ssionais que realizam os atendimentos, nas mais diversas áreas da saúde, o trabalho em rede propõe apoio aos familiares, orientando-os no que se refere à construção de relações de afeto e melhor compreensão das características da doença e comportamentos apresentados em momentos de crise. Assim como a participação da família é necessária, a escola tem papel importante na construção das relações sociais e na aprendizagem ( SANDER; CAMPOS, 2014, p. 51). A escola como articuladora do trabalho em rede necessita de um pro� ssional como o PAEE. Cerezuela, Silva e Mori (2014) propõem que “[...] a atuação do professor não se limita à mediação da apropriação do saber cientí� co, e sim, na mediação da inter-relação com o conjunto de elementos educacionais para que ocorra a promoção de desenvolvimento individual”. 26WWW.UNINGA.BR DI FI CU LD AD E DE A PR EN DI ZA GE M | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para a realização desse trabalho inclusivo, a Instrução nº 004/2012 (PARANÁ, 2012) determina que seja garantido, no cronograma do professor, horário para realizar essa função, chamado de tempo diferencial. A efetivação dessa atuação ocorre em um horário extraclasse, pois o PAEE precisa interagir com os professores das diferentes disciplinas, bem como realizar contatos com a família e os pro� ssionais que fazem atendimento ao aluno nas diferentes áreas do trabalho em rede – saúde, ação social, entre outras. Consideramos o PAEE um grande avanço no processo de inclusão do aluno, visto que esse pro� ssional especializado atua tanto na mediação da apropriação do saber quanto nos demais elementos que compõem o ambiente escolar. Pode ser percebido que seu desa� o consiste em articular o trabalho em rede, aliando os serviços de saúde e assistenciais que atendem o aluno, bem como a família e a comunidade escolar no processo de inclusão. A mediação pontual do professor nessas relações promove a interação social e propulsiona seu desenvolvimento. 1.4 Adaptações Curriculares: Mudanças na Organização Pedagógica da Escola 1.4.1 As adaptações curriculares individuais Ainda que se leve em conta a diversidade nos processos de planejamento da escola e da turma, para Coll, Palácios e Marchesi (1995), pode ocorrer que certas necessidades dos alunos não sejam contempladas, sendo necessário adaptar o currículo de forma individual, o que seria o último nível de ajuste da oferta educativa comum, constituído pelas adaptações curriculares individualizadas. Estas são uma outra via de resposta à diversidade e, por isso, será preciso realizá-las quando a programação diversi� cada da turma não for su� ciente para responder a determinadas necessidades de um aluno. Em um sentido amplo, qualquer aluno ou aluna pode requerer, em um determinado momento, uma série de ajustes individuais do currículo comum, já que isso faz parte da lógica de ajuste da ajuda pedagógica ao processo de construção de cada aluno. Convém, todavia, reservar o conceito de adaptações curriculares individualizadas para os casos em que as necessidades educativas dos alunos requerem ações, recursos ou medidas de caráter especial ou extraordinário durante toda sua escolarização ou em algum momento dela. Em sentido restrito, Coll, Palácios e Marchesi (1995) a� rmam que as adaptações curriculares individualizadas podem ser entendidas como um processo compartilhado de tomada de decisões, cujo objetivo é ajustar e complementar o currículo comum, de modo a responder às necessidades educativas especiais dos alunos e conseguir seu máximo desenvolvimento pessoal e social.
Compartilhar