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AULA 1 EMOÇÃO, MEMÓRIA E APRENDIZADO Prof. Reginaldo Daniel da Silveira 2 INTRODUÇÃO Parece haver consenso entre estudiosos e especialistas de que a emoção é um conceito complexo, sendo necessário compreender os elementos que a caracterizam e as teorias que a explicam para estudar que conexões têm nossas sensações com esta ou aquela região do cérebro. O avanço da neurociência em favor de um entendimento sobre a neurobiologia das emoções ainda apresenta muitas dúvidas, mas pesquisadores e teóricos têm fornecido subsídios importantes para que se tenha, mesmo que ainda incipiente, um modelo para entender as emoções. TEMA 1 – EMOÇÃO HUMANA Ao acordar pela manhã, a jovem mãe vê o sorriso fofo do seu bebê e sente acelerar as batidas do coração, ao mesmo tempo que as mãos parecem suar. Na calçada, o senhor idoso dá um pulo para ao lado e percebe o esvaziar de sangue em seu rosto, ele está pálido, o carro que deu uma freada bem em sua frente arranca em disparada. O vendedor sai da reunião com o seu chefe sentindo dor de estômago e uma sensação de azia. Essas pessoas não param a fim de avaliar se o que sentiram de manhã, na calçada ou na reunião foi amor, medo ou vergonha. Na verdade, nós não nos detemos para verificar quais ou quantas sensações expressamos durante um dia inteiro, mas por certo elas são tantas quem sequer sabemos nominá-las. Se você tivesse um sensor cerebral de suas emoções, no momento em que estivesse sentindo tristeza, ele detectaria movimentos na amígdala e no córtex pré-frontal esquerdo, áreas do “cérebro emocional”. Talvez essa tristeza pudesse ter surgido quando você percebeu a pessoa ao lado no ônibus, ou porque você ficou esperando o seu parceiro no restaurante para aquele jantar previamente combinado e ele não apareceu. Como seria viver sem as “sensações” aqui referidas?, Imagine alguém como Cyberdyne Systems Model 101 Series 800, ou simplesmente “o exterminador”, como as pessoas chamam T-800, o androide matador do filme “O Exterminador do Futuro”. Mesmo que a máquina interpretada por Arnold Schwarzenegger tenha trocado de lado na sequência da série para proteger John Connor, na guerra contra as máquinas, ele não passava de um robô e, como tal, 3 sem emoções, embora trabalhasse com capacidades como razão, percepção, pensamento, memória e tomada de decisão. As sensações da jovem mãe, do idoso na calçada ou do vendedor após a reunião com seu chefe são reações a estímulos que ativaram áreas do cérebro de cada um deles. Essa área, chamada de córtex, está presente nos humanos e mamíferos e ausente na maioria dos animais. A essa altura, você já percebeu que estamos nos referindo às respostas do organismo diante de um determinado estímulo, ou, melhor dizendo, as emoções. Se um cão balança o rabo ou um humano sorri, isso que entendemos por emoção vem dos mesmos circuitos de sobrevivência do cérebro, que é similar em todos os mamíferos. Todavia, animais e humanos sentem as emoções de forma diferente, especialmente porque as emoções humanas, na visão da neurociência, são mais complexas. Nós, seres humanos, nos orgulhamos de nos diferenciarmos das outras espécies pela inteligência e pela razão, mas, diante de uma autoanálise sobre o que acontece apenas durante um dia de vida de um de nós, quantas vezes o que decidimos pretensamente pela razão foi influenciado pela emoção? É costume ouvirmos referência de que a capacidade de gerenciar nossas emoções é a chave para o sucesso em muitos campos. A toda hora ouvimos dizer que determinadas pessoas são hábeis e talentosas, mas não progridem porque lhes falta inteligência emocional. A Psicologia Cognitiva nos faz entender que a maioria dos nossos problemas emocionais não são sempre causados por eventos ou circunstâncias, mas também por nossas crenças, atitudes e reações. Os comportamentos humanos responsivos às emoções têm efeitos profundos em nossas vidas, quer em decisões pessoais, quer em escalas mais amplas, como as políticas públicas e os assuntos internacionais geradores de decisões conflitantes e críticas. Se você estiver caminhando no parque e, de repente, vê uma cobra rastejando em sua direção, a amígdala organiza sua resposta e outra região do cérebro, o hipocampo, armazena aquela sensação. Estudiosos e especialistas se interessam em saber como sensações de medo e outros sentimentos avisam o nosso organismo de que algo está errado e de que é preciso se preparar para lutar ou fugir. Isso implica saber como o corpo responde às emoções e se elas surgem do cérebro. Por meio da neurociência, nos detemos ao cérebro, que usa o oxigênio da atmosfera terrestre, nos possibilita existir por intermédio de redes neuronais 4 complexas e nos ajuda a entender melhor nossas emoções e nossos comportamentos. Armory e Vuilleumier (2013, p. 1) entendem que o avanço no entendimento biológico da emoção “é bastante recente, especialmente em comparação com outros processos mentais, como visão, linguagem, atenção ou memória”. Isso é atribuído em grande parte ao surgimento de técnicas de neuroimagem funcional não invasivas (tomografia, eletroencefalografia, magnetoencefalografia e ressonância magnética.). Afinal, o que é emoção? TEMA 2 – DEFININDO A EMOÇÃO Saiba mais Emoção são sentimentos que envolvem avaliação subjetiva, processos psicológicos e crenças cognitivas. É certo que cada um de nós tem uma noção individual sobre a emoção, mesmo que seja por meio de um processo intuitivo. Definir, porém, o seu significado, é algo mais complexo. Assim pensa Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 315) ao dizerem que, “para cientistas psicológicos, a emoção (ou o afeto) se refere a sentimentos que envolvem avaliação subjetiva, processos fisiológicos e crenças cognitivas”. O entendimento de uma subjetividade na emoção mostra que não há ainda um consenso sobre o que é a emoção, qual o seu lugar em uma teoria da mente e do comportamento, e as controvérsias existentes incluem quantas emoções existem e quais delas são mais básicas que outras (Ledoux, 1995). A convicção de que a emoção envolve componentes cognitivos, fisiológicos e comportamentais aparecem na definição de Weiten (2010, p. 286): “emoção envolve (1) experiência subjetiva consciente (o componente cognitivo), (2) acompanhada de uma estimulação corporal (o componente fisiológico) e (3) de claras manifestações características (o componente comportamental)”. Ao conhecer os componentes fisiológicos, psicológicos e sociais da emoção, é possível aproximá-la de uma visão neurobiológica como a que propõe Marinho (2005, p. 44, citado por Silva, 2019, p. 81, no prelo): emoção é uma reação aguda que envolve pronunciadas alterações somáticas, experimentada como uma situação mais ou menos agitada. A sensação e o comportamento que expressam, bem como a resposta fisiológica interna à situação-estímulo, constituem um todo intimamente relacionado, que é a emoção propriamente dita. 5 O corpo, o cérebro e a mente parecem estar conectados durante todo o tempo de nossas vidas, e para usar a expressão textual de Damásio (2011): “corpo e cérebro executam uma dança interativa contínua. Pensamentos implementados no cérebro podem induzir estados emocionais que são implementados no corpo, enquanto este pode mudar a paisagem cerebral e, assim, a base para os pensamentos”. Sobre este autor, tendo como referência a ansiedade, é oportuno destacar a presença de elementos como avaliação, sensação, intencionalidade, sentimento, comportamento motor e componente interpessoal. Vamos imaginar uma situação de alguém que precisa entregar um relatório de trabalho em um determinado prazo e avalia que não conseguirá concluí-lo no tempo certo (avaliação). Ele sente o coração bater mais rapidamente (sensação), foca opensamento sobre o quanto pode ser competente com a tarefa (intencionalidade), passa a vida de forma negativa (sentimento), seu corpo se agita (comportamento motor) e expressa aos outros que está tendo um dia ruim (interpessoal). Dois pontos merecem esclarecimento: (1) o entendimento do cérebro quanto às emoções e (2) saber quais emoções se vinculam às regiões cerebrais. Qual parte de nós faz com que tenhamos sentimentos de felicidade, paixão, medo ou aversão? De onde vem o estado emocional que procuramos para compensar uma explosão de raiva? TEMA 3 – COMPONENTES DA EMOÇÃO Saiba mais Comportamental Manifestações e expressões Fisiológico Estimulação corporal Cognitivo Experiência subjetiva consciente Os momentos mais significativos da existência humana são caracterizados pela emoção. Lembre-se da jovem mãe encantada com o sorriso do seu bebê, o susto do idoso ante a manobra arriscada do carro, a irritação e vergonha do vendedor ao ter uma reunião humilhante com o seu chefe. Pense em você mesmo na hora de encontrar uma pessoa amada que não vê há muito tempo, no pesar por perder alguém também amado, na irritação quando alguém lhe trata de maneira rude, na consternação pela doença do seu cãozinho. Com certeza, pela importância que tem para os seres humanos, justifica-se o impulso crescente das pesquisas sobre a emoção nos dias de hoje. 6 Por ser uma experiência singular, considerando-se as contribuições de Gazzaniga, Weiten, Marinho e Damásio, é essencial discutir a emoção com base em seus elementos de caráter subjetivo, fisiológico e cognitivo. Sabe-se que há uma série de emoções que se apresenta como universal e básica pela espécie humana. Em um estudo, foram mostradas fotos a pessoas de cinco países, Chile, Argentina, Brasil, Japão e Estados, e depois solicitado às pessoas que julgassem a emoção exposta em cada expressão facial. A maioria chegou a uma mesma conclusão, indicando a existência de emoções universais. Esse foi um dos experimentos relatados por Ekman (2011, p. 21) em um amplo estudo subvencionado pela Advanced Researcg Projects Agency, a Arpa, dos Estados Unidos. O trabalho de Ekman de avaliar expressões faciais de milhares de indivíduos em culturas diferentes durante os 40 anos em que foi professor da Universidade da Califórnia possivelmente tenha influenciado sua defesa de cinco emoções humanas básicas: raiva, nojo, alegria, medo e tristeza. Se, aparentemente, Darwin tinha razão quanto ao caráter universal das emoções, os estudos continuados mostram que também existe singularidade em emoções expressadas por cada indivíduo. Nessa lógica, diante de um evento qualquer, uma pessoa que manifeste sentimentos de raiva e tem tendência de insultar, quebrar, está tendo uma emoção de viés comportamental que não é exatamente igual ao de outras pessoas. Diante de um determinado evento, ela pode sentir o coração bater mais, o calor tomar conta do rosto, expondo o caráter fisiológico da emoção que é sua, ou ainda, deixar-se emocionar por crenças pessoais sobre os outros e sobre o mundo em um processo emocional cognitivo. 3.1 Componente comportamental Você está prestes a chegar à casa de um vizinho com quem você se desentendeu recentemente por barulhos que este fazia na madrugada, a ponto de fazê-lo chamar a polícia. Nada aconteceu, a polícia não veio e ficou por isso mesmo. A situação se repetiu outras vezes e você mandou uma carta ameaçando procurar as autoridades se ele não parasse com a “barulheira”. Ao chegar em casa à tarde, havia um bilhete embaixo da porta. “Venha em minha casa, estou lhe esperando hoje quando você chegar do trabalho”. Sua reação ao ler o bilhete foi de medo a irritação. Você pensou e ir lá e dizer alguns xingamentos, depois imaginou-se em luta corporal, mudanças na postura, expressão facial e vocalizações. Ante o histórico do que se passou na sua mente e a eminência do 7 encontro com a pessoa, você teve mudanças de postura, expressões faciais e vocalizações, comportamento e emoção. Do ponto de vista comportamental, a emoção possivelmente seja facilmente observável, o que não significa que seja facilmente compreendida. Isso ocorre pela tendência das pessoas em descrever o seu comportamento como algo que não está ligado à emoção em si. É relevante na emoção comportamental a presença das expressões faciais que, nos diferentes estudos, como no de Paul Ekman, trazem indicativos de que essas expressões são sim inatas e universais, pois as pessoas apresentam as mesmas expressões faciais para cada emoção, e não parece difícil para qualquer um identificá-las. Acredita-se que esse componente comportamental influencia as relações sociais. Por exemplo, se vemos alguém chorar, pensamos que ela não está bem e que pode precisar de ajuda. O comportamento emocional é um reflexo direto das respostas fisiológicas de uma pessoa sobre o evento, o que nos leva aos outros componentes da emoção. 3.2 Componente fisiológico Imagine que você vai ter que apresentar um relatório sobre o trabalho do seu departamento para um auditório de pessoas que reúne funcionários da sua empresa e clientes em geral; logo, você que detesta falar em público. Na sua mente, vem sua última experiência em uma sala pequena com apenas sete pessoas. Você lembra os olhares de troça, os risos pela sua má performance e sente medo, taquicardia, sudorese. As reações físicas refletidas no seu corpo dizem respeito ao componente fisiológico da emoção. Para Collin et al. (2012, p. 43), a vinculação das emoções às condições fisiológicas aparece na Teoria das Emoções de James Lange. Diante de uma situação de medo, de um animal selvagem, por exemplo, a pessoa sai correndo e, em situações como esta, para Willian James, é a “percepção da mente acerca dos efeitos físicos de correr – respiração ofegante, batimento cardíaco acelerado e transpiração intensa” que corresponde à emoção de medo. No exemplo de alguém que, ante um evento de falar em público, manifesta no corpo aceleração cardíaca, tremor, tensão muscular, a sensação de vergonha pode levar a pessoa a corar e essas respostas fisiológicas podem causar mudanças comportamentais ante o ímpeto de escondê-las. 8 O componente fisiológico usa a energia da emoção para alertar para a defesa, é uma espécie de recurso para nos salvar do perigo e também nos levar a ser mais efetivos ao responder e provocar mudanças nos neurotransmissores, como, nesse caso, a adrenalina. Kleinman (2015, p. 155) entende que a Teoria Cannon-Bard, criada por Walter Cannon e Philip Bard, explica as reações fisiológicas como um processo simultâneo com as emoções: “a parte do cérebro responsável pelo controle motor, pelos estados de sono e vigília e pelos sinais sensoriais envia uma mensagem ao cérebro como resposta a determinado estímulo.” O resultado dessa mensagem sendo transmitida é uma reação fisiológica e suas mudanças são verificadas no sistema nervoso simpático. Parece não haver dúvida de que, em qualquer evento emocional, é visível a sensação física do tipo “o que estou sentindo em meu corpo”, embora isso não signifique uma leitura correta aos olhos de outros. A animação pode fazer o indivíduo andar para lá e para cá da mesma forma que faria se estivesse ansioso, entretanto, podemos olhar a pessoa ansiosa como alguém que está tendo medo. Para quem sente a emoção, contudo, é uma sensação fisiológica e pode, por exemplo, ser sentida como ansiedade ou raiva. Se o comportamento emocional é um reflexo direto das respostas fisiológicas das pessoas, é também o reflexo direto de seus pensamentos acerca do evento. 3.3 Componente cognitivo Após assistir “Os Vingadores”, você e dois amigos comentam sobre o que aconteceu no filme, especialmente o visual de Thor, o Deus Trovão, que, após o avanço do tempo, se tornou gordo, cabeludo e barbudo, bemdiferente de sua aparência habitual. Um de seus amigos olha para você e diz: “Nossa! Você é gordo que nem o Thor”. A sua reação à fala do amigo é subjetiva. Você pode pensar nas críticas que têm recebido ultimamente por não ter levado adiante uma dieta, ter pensamentos do tipo “ninguém me leva a sério, por não diminuir o peso”, “engordo facilmente”, ser gordo significa ser desprezado”. Nesse caso, você poderá discutir com o amigo, sentir-se rejeitado e envergonhado, entre outros. No entanto, se você não vê a sua gordura como algo ruim, se você habituou-se com seu corpo a ponto de não se preocupar com isso, ao ouvir a fala do amigo, você também ri e até concorda com ele. 9 O que se destaca em uma emoção é como eu interpreto a situação. Um evento surge e eu penso a respeito baseado em eventos anteriores similares. Isso ocorre pelo grande número de pensamentos que passa pelas nossas cabeças. Na visão de Wright, Basco e Thase (2008, p. 19), [...] estes pensamentos fazem parte de um fluxo de processamento cognitivo que se encontra logo abaixo da superfície da mente totalmente consciente. Estes pensamentos automáticos normalmente são privativos ou não-declarados, e ocorrem de forma rápida à medida que avaliamos o significado de acontecimentos em nossas vidas. Pensamentos automáticos são como pequenos programas de computador em nossa mente. Eles surgem de modo instantâneo como uma resposta a estímulos externos. O sinal de que uma pessoa está respondendo a um pensamento automático é a presença de emoções fortes. Stanley Schachter é lembrado quando falamos que a emoção reúne interação com excitação fisiológica e avaliação cognitiva. Psicoterapeutas como Wright, Basco e Thase (2008), ao tratarem do modelo cognitivo-comportamental, explicam que frequentemente as reações emocionais estão associadas a processos cognitivos. No caso de ansiedade, por exemplo, as respostas produzidas são estimuladas por cognições desadaptativas. TEMA 4 – TEORIAS DA EMOÇÃO Diferentes teorias explicam as emoções, o que indica que elas podem ser consideradas sob distintos pontos de vista. Como vimos anteriormente, as emoções humanas se assemelham às emoções animais, embora deles também se diferenciem pela complexidade. A emoção de uma pessoa reflete de certo modo o seu ambiente social, mas também mostra o entendimento de que é provável terem sido moldadas pela seleção natural das espécies. Tais características aparentemente antagônicas dificultam a elaboração de um escopo teórico que as explique. O que temos são teorias construídas ante o contexto em que são explicadas e desenvolvidas. 4.1 Teoria James-Lange Saiba mais A experiência da emoção é eliciada por uma resposta fisiológica a um determinado estímulo. 10 Cherry (2019) explica a teoria proposta por William James e Carl Lange (década de 1920) como resultado de reações fisiológicas a eventos. A resposta emocional depende de como a pessoa reage às reações físicas. Por exemplo, diante de um evento que provoque ciúmes, você responde com choro, aumento da pulsação, sudorese e tremor, que podem estar associados à tristeza e à raiva. “De acordo com esta visão, padrões diferentes de ativação autônoma conduzem à experiência de emoções distintas (Weiten, 2010, p. 291). 4.2 Teoria Cannon-Bard Saiba mais Os estímulos ambientais produtores da emoção eliciam tanto uma reação emocional como uma reação física. Por essa teoria, criada por Walter Cannon e Philip Bard (década de 1930), “as emoções ocorrem quando o tálamo – a parte do cérebro responsável pelo controle motor, pelos estados de sono e vigília e pelos sinais sensoriais – envia uma mensagem ao cérebro como resposta a determinado estímulo” (Kleinman, 2015, p. 155). O que se percebe nessa teoria é que o resultado do que a pessoa recebe é uma resposta fisiológica. De uma forma simples, o autor explica que um determinado estímulo levado ao córtex para definir como a resposta será encaminhada acaba por estimular o tálamo, o que gera uma interpretação. Se você estiver a noite em um lugar escuro e ver dois homens se aproximando rapidamente, você sente o tremor e o coração bate forte e, ao mesmo tempo, a emoção do medo. 4.3 Teoria Schachter-Singer Saiba mais A emoção é baseada em dois fatores: excitação fisiológica e rótulo cognitivo. A teoria criada por Stanley Schachter e Jerome Singer (1962) resgata Willian James, criticado por Walter Cannon, sobre a concepção de que a resposta somática prece a experiência emocional. Também chamada de teoria de dois fatores (excitação fisiológica e interpretação da emoção), as ideias de Schachter correspondem a um exemplo de teoria cognitiva. Na visão de Weiten (2010, p. 292), essa teoria apresenta um ponto crítico; “as situações não podem moldar as 11 emoções de determinado modo a qualquer tempo. E na busca para explicar a estimulação, os sujeitos não se limitam à situação”. Segundo Moors (2009), a teoria dos dois fatores mostra que o grau de excitação (elemento somático) determina a intensidade da emoção, enquanto a atribuição (elemento cognitivo dá a qualidade da emoção. 4.4 Teoria de Lazarus Saiba mais A sequência de eventos envolve primeiro um estímulo, seguido de um pensamento que leva à experiência simultânea de uma resposta fisiológica e da emoção Criada por Richard Lazarus (década de 1990), essa teoria postula que, antes de uma emoção ou excitação fisiológica, ocorre um pensamento. A pessoa pensa antes de sentir qualquer emoção. No exemplo dado de caminhar no escuro, o pensamento de que os dois homens que se aproximam são ladrões tem como resultado alteração cardíaca, tremor, e daí o medo. 4.5 Teoria de feedback facial Saiba mais As expressões faciais estão ligadas à experimentação de emoções. Desenvolvida por Silvan Tomkins (1962), essa teoria afirma que a emoção é a experiência de alterações musculares faciais que acontecem. Quando o indivíduo sorri, está feliz, quando franze a testa, está triste, e assim por diante. Para Kleinman (2015, p. 157). “Essas alterações em nossos músculos faciais são o que leva o cérebro à especificação de uma base para a emoção, em vez do contrário”. TEMA 5 – NEUROANATOMIA DA EMOÇÃO A neuroanatomia da emoção avançou nos últimos anos com os estudos da neuroimagem e, mesmo que as conclusões ainda sejam limitadas, como defende Murphy, Smith e Lawrence (2003), já temos dados importantes para compreender o funcionamento emocional por intermédio do cérebro. Estímulos visuais, auditivos, entre outros, ao provocar respostas emocionais, colocam em destaque 12 áreas como o córtex pré-frontal e o sistema límbico. A integração da neuroimagem com a neuropsicologia e neurofisiologia destacam essas estruturas e outras como o córtex orbitofrontal, relevante no processamento emocional na visão de Kringelbach (2005). 5.1 Principais áreas cerebrais da emoção Saiba mais Córtex pré-frontal, na região dos lobos frontais, é importante para atenção, memória funcional, tomada de decisão, comportamento social e personalidade. Sistema límbico, localizado na superfície medial do cérebro, controla as emoções e as funções de aprendizado e da memória. Duas áreas cerebrais têm posição de destaque sobre as emoções, o córtex pré-frontal e o sistema límbico. Na parte da frente da nossa cabeça, o córtex pré- frontal funciona como uma central de dados que se faz o processamento emocional e monitoram-se outras áreas cerebrais. Sua parte medial integra informações do sistema límbico, que abrange outras estruturas cerebrais e faz o processamento das emoções em nível bioquímico. Além disso, o córtex pré-frontal está vinculado à tomada de decisão por meio de respostas emocionais. Para Santos e Hakme (2011), o córtex pré-frontal atua em momentos em que a pessoa se assusta ou fica zangada e controla o sentimento para resolvera situação: “Essa região neocortical do cérebro traz uma resposta mais analítica ou adequada aos nossos impulsos emocionais, modulando a amígdala e outras áreas límbicas. O sistema límbico, que também atua no funcionamento social da pessoa (Seruca, 2013), é composto por várias estruturas cerebrais interconectadas entre si. O hipotálamo, que representa 1% do tamanho do cérebro, está localizado na direção do centro e na parte interna do cérebro. É uma estrutura cerebral pequena, formada por núcleos e fibras, que controla funções vegetativas e endócrinas do corpo e também aspectos do comportamento emocional. Saiba mais Hipotálamo é uma pequena estrutura cerebral que é vital para a regulação da temperatura, a emoção, o comportamento sexual e a motivação. Amígdala é uma estrutura cerebral com papel vital no aprender a associar as coisas no mundo com respostas emocionais para processar informações emocionais. 13 A amígdala tem aparência de uma amêndoa e está vinculada a várias respostas emocionais como amor, medo e raiva. Estudos apontam que a retirada dessa área cerebral de animais provocou comportamento agressivo. Podemos nos referir à amígdala como uma espécie de “guardiã das emoções”, capaz de nos fazer fugir de situações perigosas, mas também nos fazer lembrar de traumas da infância e de sofrimentos registrados na memória. Quando uma sensação de raiva, por exemplo, coincide com um comportamento agressivo ou hostil, a amígdala está ativada, como acontece também com o medo e a ansiedade (Dougherty, 2019). As expressões faciais podem se estender além das emoções básicas, com exibição de padrões cognitivos e sociais mais complexos, sugerindo que danos à amígdala podem prejudicar essas áreas (Shaw et al., 2005). O hipocampo é quem leva as informações para a amígdala e pode ser a origem de emoções extremas localizadas no registro de lembranças pessoais. Uma lesão no hipocampo provoca danos à memória do indivíduo. De acordo com Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 328), nos dias de hoje, sabe-se que “o hipocampo é extremamente importante para a memória e o hipotálamo, para motivação”. O giro cingulado serve de caminho entre o tálamo (pequena estrutura acima do hipotálamo) e o hipocampo, e está relacionado á lembrança de situações emocionais intensas. Depressão, ansiedade e agressividade, segundo Vanderson et al. (2008, p. 58), estão intimamente relacionados ao giro cingulado, “observando-se, em humanos, lentidão mental em casos de lesão dessa estrutura. Auxilia na determinação dos conteúdos da memória, observando-se significativo aumento de sua atividade quando as pessoas recorrem à mentira”. Uma estrutura que está relacionada à integração entre emoção e razão é a ínsula, cujo conhecimento pelos pesquisadores ainda é pequeno, mas que permite localizá-la no campo da empatia. A explicação de Vanderson et al. (2008) é de que ela “é ativada durante a indução de recordações de momentos vividos por um indivíduo, as quais provoquem uma sensação específica, seja de felicidade, tristeza, prazer, raiva ou qualquer outra”. Passando para outras áreas cerebrais, a área tegmentar ventral é um agrupamento de neurônios na parte superior do tronco encefálico envolvido com emoções e amor. Nela, estão localizadas as vias da dopamina (neurotransmissor do humor). 14 O córtex orbitofrontal, localizado na parte frontal do cérebro, pouco acima das orbitas oculares, está relacionado à personalidade e às emoções, especialmente nas relações sociais. No tronco encefálico, núcleos de nervos cranianos, viscerais ou somáticos, quando ativados por impulsos nervosos, provocam emoções que são representadas pelo choro, pela expressão facial, por respostas fisiológicas como sudorese, salivação e aumento do ritmo cardíaco, entre outros. 15 REFERÊNCIAS ARMORY, J.; VUILLEUMIER, P. (Eds.). The Cambridge handbook of human affective neuroscience. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. CHERRY, K. Overview of the 6 Major Theories of Emotion. Verywell Mind, 18 jul. 2019. Disponível em <https://www.verywellmind.com/theories-of-emotion- 2795717>. Acesso em: 25 jul. 2019. COLLIN, C. et al. O Livro da Psicologia: as grandes ideias de todos os tempos. 6. ed. São Paulo: Globo, 2012. 352 p. DAMÁSIO, A. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. DOUGHERTY, E. Anger Management. Harvard Medicine, 2019. Disponível em: <https://hms.harvard.edu/magazine/science-emotion/anger-management>. Acesso em: 25 jul. 2019. EKMAN, P. 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