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Carolina Martins - XXVII 1. Identificar os sinais e sintomas da doença articular inflamatória (diferenciar das dores traumáticas). O processo de doença está realmente localizado primariamente no sistema musculoesquelético? O relato de dor na topografia de estruturas do sistema musculoesquelético não é garantia de que o processo de doença nele se localize. Doenças sistêmicas frequentemente apresentam sintomatologia musculoesquelética. Processos infecciosos (p. ex.: endocardite infecciosa e infecção crônica pelo vírus da hepatite C), malignidades (p. ex.: leucemias e linfomas) e desordens endócrinas (p. ex.: hipotireoidismo e hiperparatireoidismo) são exemplos de condições sistêmicas que podem cursar com síndromes reumáticas difusas. Além disso, queixas reumáticas localizadas podem ter origem fora do sistema musculoesquelético, como a dor no ombro causada por um tumor de Pancoast, um abscesso subfrênico ou uma pneumonia basal ou ainda uma lombalgia originada de uma cólica nefrética ou de um aneurisma da aorta abdominal. Sintomas Degenerativa Inflamatória Psicogênica (funcional) Rigidez articular Alguns minutos Horas Pouca ou nenhuma variação Dor Piora com atividade e melhora com repouso Mesmo em repouso Pouca ou nenhuma variação Fraqueza Incomum Frequentemente acentuada Frequente Fadiga Incomum Frequente (inicio da tarde) Frequente (acordar) Labilidade emocional e depressão Incomum Comum Frequente Sinais Dor localizada Comum Presente Dor difusa Edema Efusão é comum, pouca reação sinovial Efusão é comum, espessamento sinovial é frequente Ausente Calor e eritema na pele Incomum Comum Ausente Crepitações Grosseiras e médias Médias e finas Ausência Esporões ósseos Comuns Associação com osteoartrite Ausência EXEMPLOS AO, trauma, anormalidades mecânicas AR, LES, FR, Gota, Artrite crônica juvenil, Fibromialgia, síndrome miofascial (menisco, ligamentos), distrofia simpático- reflexa, Osteonecrose asséptica, tendinites, artropatia metabólica espondiloartropatias, artrites virais, artrites infecciosas, artrites por imunocomplexos Manifestações Cutâneas Embora as manifestações cutâneas sejam frequentes nos pacientes com doenças autoimunes soropositivas, especialmente LES, estas são manifestações importantes em todas as doenças autoimunes. Um rash com vermelhidão que não desaparece à digitopressão pode indicar vasculite, e rash nas regiões extensoras específicas é comum na dermatomiosite. Nos casos de LES ou dermatomiosite, os rashes são desencadeados ou agravados pela exposição à luz ultravioleta e distribuem-se de acordo com a exposição à luz. Os rashes da vasculite podem indicar a presença de uma doença autoimune, como LES, ou doença vascular inflamatória, como os anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) associados à vasculite. Estes tendem a apresentar-se durante dias e são, com frequência, palpáveis; uma biópsia das lesões pode ser muito útil para o diagnóstico. Os rashes podem ser temporários. O rash facial que não atinge as dobras nasolabiais é indicativo de lúpus. Um rash que atinja as dobras nasolabiais é sugestivo de rosácea. A psoríase está quase sempre presente na artrite psoriática (uma variante de espondiloartropatia). Embora a psoríase se apresente frequentemente disseminada, envolvendo superfícies extensoras, pode não ser detectada se existirem poucas lesões ou se estiver localizada em áreas que não são facilmente visíveis (regiões intertriginosas, tais como ouvidos, umbigo, dobras da região das nádegas ou couro cabeludo) ou se apenas atingir as unhas. O rash da psoríase pode estar presente em muitas variantes das espondiloartrites. Ocasionalmente, a AR poderá se manifestar através de nódulos ao longo das regiões extensoras ou rash nas mesmas regiões, mas isso é cada vez mais raro. No entanto, a presença de nódulos nas regiões extensoras também pode indicar tufos gotosos. Na ES ainda podem surgir endurecimento distal da pele, telangiectasias e úlceras digitais. Estas também devem ser avaliadas no contexto da síndrome de Raynaud, caracterizada por espasmos vasculares nas mãos. Dor e Rigidez A avaliação da dor deve incluir a descrição do seu aparecimento, constância/cronicidade, gravidade, qualidade, fatores causadores ou que melhoram a dor, e localização e irradiação da dor. Rigidez, frequentemente descrita como “aperto” ou ligada a dificuldades no movimento ou função, deve ser determinada em função da localização (p. ex., se se localiza numa articulação em particular ou se é mais difusa) e da periodicidade e duração (p. ex., ocorre depois de um período de descanso). A rigidez que termina 10 a 15 minutos depois é mais característica de OA. Na doença inflamatória, a Carolina Martins - XXVII rigidez normalmente tem maior duração, muitas vezes durando no mínimo 1 hora até o dia todo. Quais os dados epidemiológicos do paciente? Assim, a febre reumática ocorre mais comumente em pacientes com idade entre 5 e 15 anos, sendo excepcional surto primário no adulto. Ao contrário, idade avançada é um dos mais fortes fatores de risco para a osteoartrite, osteoporose e a doença por deposição de pirofostato de cálcio (condrocalcinose). Gota e espondilite anquilosante são enfermidades com nítida predominância no sexo masculino, enquanto lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica e osteoporose exibem predominância no sexo feminino. Raça branca é um fator de risco para osteoporose, enquanto a anemia falciforme, que pode cursar com manifestações reumatológicas, é claramente mais prevalente na população negra. Dados da anamnese Diagnósticos Paciente jovem Febre reumática Leucose Idoso Osteoartrose Gota Sexo Masculino Gota Artrite recorrente Microcristalinas Hidroartrose intermitente Reumatismo Palindrômico Sinovite eosinofílica Artrite episódica Trauma Artrite séptica Sintomas gerais Artrite séptica Microcristalinas Artrite inflamatória Neoplasia Usuário de corticóide Osteonecrose asséptica Artrite séptica Coagulopatia Hermartrose A expressão clínica do processo de doença é predominantemente inflamatória ou não inflamatória? Uma distinção inicial importante é determinar se a apresentação clínica do processo de doença é predominantemente inflamatória ou não inflamatória (mecânica). Alguns dados de anamnese podem ser valiosos nessa diferenciação. Processos predominantemente inflamatórios costumam se exteriorizar clinicamente por rigidez matinal prolongada (maior que 1 hora), dor e rigidez que aliviam ao longo do dia, fadiga significante e presença objetiva de edema de partes moles ao exame clínico. Por outro lado, processos predominantemente não inflamatórios se caracterizam clinicamente por rigidez matinal e pós- inatividade de curta duração (menor que 30 minutos), fadiga mínima ou ausente e dor que aumenta com a atividade. Mecânica Relacionada ao movimento Pode ocorrer no início do movimento Mais frequente após longos períodos de permanência na mesma posição Principalmente nas articulações de carga (joelho, quadris, coluna) Queixa-se de dor e rigidez ao levantar- se Inflamatória Mais continua Pode acontecer no repouso noturno Ocorre nas artropatias inflamatórias crônicas Aumento de volume Sinovite Edema periarticular Eritema e calor Casos mais graves Derrame articular Consistência cística a palpação Joelho ‘‘sinal de tecla’’ – sensível para derrame articular Estão presentes fatos clínicos de doença sistêmica? Algumas formas de artrites são acompanhadas de fatos clínicos de doença sistêmica, elementos que podem orientar para o diagnóstico etiológico. Assim, artrite no contexto de doença febril aguda multissistêmica com rápida evolução sugere afastar as possibilidades diagnósticas de lúpus eritematoso sistêmico, vasculites eprocessos infecciosos. A ocorrência de fraqueza muscular faz lembrar as miopatias inflamatórias ou doenças reumáticas que cursam com neuropatia periférica. A presença de pus estéril na câmara anterior do olho sugere fortemente as possibilidades de doença de Behçet e espondiloartrites. Artrite associada à púrpura petequial palpável de membros inferiores faz lembrar vasculites. A ocorrência de artrite associada à fibrose pulmonar intersticial difusa lembra esclerose sistêmica; a fibrose bibasal sugere a artrite reumatoide, e a fibrose apical, a espondilite anquilosante. Artrite/artralgia associada a queda de cabelo, fotossensibilidade, xerostomia/xeroftalmia e fenômeno de Raynaud orientam para a possibilidade diagnóstica de doença difusa do tecido conjuntivo. Existem antecedentes patológicos ou comorbidades relevantes? A presença de antecedentes patológicos ou comorbidades pode ser de grande valor no esclarecimento etiológico de um processo reumático. O antecedente de diarreia infecciosa Carolina Martins - XXVII precedendo um quadro de oligoartrite por 4-6 semanas pode ser capital para o diagnóstico de artrite reativa. O diagnóstico de psoríase ou de doença inflamatória intestinal pode preceder, suceder ou ser contemporâneo a um quadro de artrite ou espondilite. O antecedente de uma neoplasia pélvica pode ser um dado fundamental na abordagem etiológica de uma lombalgia crônica refratária por metástase vertebral. Há dados de história familiar ou fatores ambientais importantes? A história familiar pode ser fonte de informações diagnósticas importantes. Muitas das doenças reumáticas têm uma predisposição genética. Por exemplo, as espondiloartrites associadas ao HLA-B27 podem apresentar forte agregação familiar. Uma história familiar de lúpus materno pode ser fundamental no diagnóstico de lúpus neonatal. Outras doenças que também têm uma tendência a ser mais prevalentes em membros de uma mesma família são a gota, artrite reumatoide, algumas doenças difusas do tecido conjuntivo, osteoartrite (principalmente a doença nodal de mãos) e doenças hereditárias do tecido conjuntivo, como a síndrome de Marfan. Fatores ambientais importantes, comportamento, inclusive sexual, exposição ocupacional, viagens ou infecções virais ou bacterianas recentes no paciente e em membros da família devem ser investigados. Uma cuidadosa história do desenvolvimento deve ser obtida, principalmente em crianças. 2. Descrever os componentes da articulação e sua participação nas diferentes manifestações clínicas. As articulações do corpo humano, pertencentes ao sistema articular, são responsáveis por muitos movimentos que realizamos. Ela conecta os ossos do esqueleto humano aos outros ossos e cartilagens. Isso acontece nos joelhos, cotovelos, punhos, tornozelos, ombros, dentre outros. Portanto, podemos dizer que a articulação é o ponto de encontro entre os ossos, possibilitando os movimentos do corpo. O movimento do corpo é produzido a partir da comunicação entre as extremidades do ossos envolvidos, realizadas pelas articulações sinoviais. As bolsas sinoviais atuam como amortecedores em articulações móveis. O líquido sinovial é viscoso, transparente e facilita os deslocamento entre duas partes ósseas. Com o envelhecimento, a produção desse líquido diminui, ocasionando dores nas articulações. Componentes: a cartilagem articular (tecido conjuntivo elástico); os ligamentos (estruturas fibrosas); a cápsula articular (membrana fibrosa); a membrana sinovial (bolsa com líquido sinovial); ossos CLASSIFICAÇÃO ESTRUTURAL 1. ARTICULAÇÕES FIBROSAS •Tecido conjuntivo fibroso •Não há cavidade sinovial Tipos: Suturas: Articulação fibrosa composta por fina camada de tecido conjuntivo denso que une os ossos do crânio. Classificadas Sinartroses. Sindesmoses: Comparada à sutura há maior distância entre os ossos que a compõem. Tecido conjuntivo fibroso aparece como feixe (ligamento) ou lâmina (membrana interóssea). Permitem algum movimento Anfiartroses. Gonfoses: Estrutura coniforme encaixa-se em uma depressão óssea. Encaixe entre as raízes dos dentes e alvéolos do maxilar e mandíbula. Classificadas Sinartroses. 2. ARTICULAÇÕES CARTILAGINOSAS •Tecido cartilaginoso •Não há cavidade sinovial Tipos: Sincondroses: Articulação cartilaginosa, onde o tecido conjuntivo é cartilagem hialina. Classificada Sinartrose. Ex.: Articulação 1 a costela e o manúbrio (esterno) Sínfises: Disco plano de fibrocartilagem que faz a ligação entre os ossos. Exs.: Sínfise púbica/ Junção manúbrio esternal com o corpo do esterno. Classificadas Anfiartroses. 3. ARTICULAÇÕES SINOVIAIS • Há cavidade sinovial • Cápsula articular • São diartroses Organização estrutural: 1. CAVIDADE SINOVIAL OU ARTICULAR: Espaço virtual onde se encontra o líquido sinovial 2. CARTILAGEM ARTICULAR: Recobre a superfície dos ossos tornando-as lisas e escorregadias sem uni-los. 3. CÁPSULA ARTICULAR: Envolve a articulação sinovial, formada por 2 camadas: ▪Cápsula fibrosa externa - Tecido conjuntivo denso - Feixes paralelos ligamentos ▪Membrana sinovial interna - Tecido conjuntivo elástico 4. LÍQUIDO SINOVIAL: Secretado PELA membrana sinovial, Formado por ácido hialurônico (viscosidade) e líquido intersticial filtrado do plasma sanguíneo. https://www.todamateria.com.br/ligamento/ Carolina Martins - XXVII TIPOS: Planas: articulações intercárpicas, intertársicas, esternoclaviculares. ✓ Não axiais permitem movimento de deslizamento. Em gínglimo: Articulação em dobradiça superfície convexa de um osso encaixa-se na superfície côncava de outro Ex.: articulações do joelho, cotovelo, tornozelos. ✓Monoaxiais ou uniaxiais permitem movimento sobre eixo único. Condilares ou elipsoides: Projeção oval de um osso encaixa-se com a depressão do outro. Ex.: articulações do punho, metacarpofalangianas. ✓Biaxial permite movimento em dois eixos. Pivô ou trocoide: Superfície pontiaguda de um osso articula-se com um anel (formado parte por osso e parte ligamento). Ex.: articulação atlanto-axial, radioulnar. ✓Monoaxial permite movimento de rotação. Esferóides: Superfície esférica de um osso se encaixa na depressão côncava de outro Ex.: articulações do ombro e do quadril. ✓Multiaxiais ou poliaxiais. CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL As articulações são classificadas conforme o grau de mobilidade que oferecem. Elas podem ser de três tipos: Sinartrose: São as articulações fibrosas, localizadas entre um osso e outro, caracterizadas por serem inflexíveis. As duas superfícies ósseas são praticamente contínuas, separadas apenas por uma camada de tecido conjuntivo ou cartilaginoso. Exemplos: a articulação do crânio (sutura), dos dentes e do maxilar, da tíbia e a fíbula. Anfiartrose: São articulações semi-móveis, flexíveis e cartilaginosas. Elas possuem cartilagens entre os ossos e permitem movimentos que evitam o desgaste excessivo dos ossos, auxiliando, dessa maneira, no deslizamento de uns sobre os outros a partir dos diferentes movimentos do corpo. Exemplos: ossos do quadril e vértebras. Diartrose: São articulações flexíveis, caracterizadas pela presença de bolsas sinoviais, que contém o líquido sinovial ou sinovia, que evita o desgaste ocasionado pelo atrito. Elas localizam-se entre a pele e os ossos. Exemplos: articulações do ombro, joelhos e cotovelos. O processo reumático é articular, periarticular ou não articular? Dores de origem muscular ou originadas de sítios periarticulares podem frequentemente mimetizar processos genuinamente articulares. Como exemplo, síndrome anserina pode simular desordens da articulação do joelho, tenossinovite de De Quervain pode aparentar enfermidades do punho e doença ligamentar do tornozelo pode fornecer a falsa impressão de doença própria daquela articulação. Manobras propedêuticas específicassão capazes de distinguir desordens articulares de processos periarticulares. Algumas condições apresentam dor musculoesquelética difusa, que não respeitam a topografia articular ou mesmo periarticular. A fibromialgia é o protótipo desse tipo de desordem. DOR ARTICULAR DOR PERIARTICULAR Todos os movimentos são dolorosos Apenas um (ou alguns) movimentos são dolorosos Dor tanto na movimentação ativa quanto passiva Dor piora na movimentação ativa Amplitude de movimento pode estar limitada na movimentação passiva Amplitude de movimento preservada na movimentação passiva Dor semelhante com manobras resistidas Dor piora com manobras resistida Dor/edema/crepitação/calor ao longo da margem articular Dor localizada à palpação da estrutura DOR NA MÃO A OA (ou artrite degenerativa) pode manifestar-se como dor na articulação interfalangeana distal (IFD) e articulação IFP, com hipertrofia óssea suficiente para produzir os nódulos de Heberden e Bouchard, respectivamente. A dor, com ou sem tumefação óssea, que acomete a base do polegar (primeira articulação carpometacárpica) também é altamente sugestiva de OA. Em contrapartida, a AR tende a cometer as articulações IFP, MCF, intercárpicas e carpometacárpicas (punho) com dor, rigidez prolongada e hipertrofia palpável dos tecidos sinoviais. A artrite psoriática pode simular o padrão de acometimento articular observado na OA (articulações IFD e IFP), mas pode ser diferenciada pela presença de sinais inflamatórios (eritema, calor, tumefação sinovial), com ou sem acometimento do carpo, depressões ungueais ou onicólise. DOR NO OMBRO Durante a avaliação dos distúrbios do ombro, o médico deve assinalar com extremo cuidado qualquer história de traumatismo, fibromialgia, infecção, doença inflamatória, perigos ocupacionais ou doença cervical prévia. Além disso, o paciente deve ser interrogado acerca das atividades ou Carolina Martins - XXVII movimento(s) que induzem à dor no ombro. Enquanto a artrite é sugerida pela ocorrência de dor com o movimento em todos os planos, a dor induzida por um movimento ativo específico sugere um processo periarticular (não articular). A dor no ombro pode originar-se nas articulações glenoumeral ou acromioclavicular, bolsa subacromial (subdeltoidea), tecidos moles periarticulares (p. ex., fibromialgia, laceração/tendinite do manguito rotador) ou coluna cervical. A dor no ombro irradia -se com frequência a partir da coluna cervical, mas pode irradiar-se também de lesões intratorácicas (p. ex., um tumor de Pancoast) ou de doenças vesicular, hepática ou diafragmática. A fibromialgia deve ser suspeitada quando a dor glenoumeral é acompanhada por dor periarticular difusa (isto é, subacromial, bicipital) e pontos hipersensíveis (isto é, trapézio ou supraespinal). DOR NO JOELHO A dor no joelho pode resultar de processos intra-articulares (OA, AR) ou periarticulares (bursite anserina, distensão do ligamento colateral) ou pode ser referida de uma patologia do quadril. DOR NO QUADRIL O quadril é mais facilmente avaliado observando a marcha do paciente e determinando a amplitude de movimento. A grande maioria dos pacientes que relatam “dor no quadril” localiza essa dor unilateralmente na musculatura glútea posterior. Essa dor tende a irradiar-se para baixo ou ao longo da superfície póstero-lateral da coxa e pode ou não estar associada a queixas de lombalgia. Essa manifestação resulta com frequência de artrite degenerativa da coluna lombossacra ou dos discos e adota comumente distribuição dermatomal com o acometimento das raízes nervosas entre L4 e S1. A ciática é causada pela compressão do nervo em L4, L5 ou S1 (isto é, de disco herniado) e manifesta-se na forma de dor neuropática unilateral, que se estende a partir da região glútea, seguindo pela parte póstero-lateral da perna até o pé. Diferentemente, alguns indivíduos localizam sua “dor no quadril” lateralmente na área sobre a bolsa trocantérica. Por causa da profundidade dessa bolsa, a tumefação e o calor costumam estar ausentes. O diagnóstico de bursite trocantérica pode ser confirmado ao induzir à hipersensibilidade localizada sobre a bolsa trocantérica. A dor glútea e trocantérica pode indicar também fibromialgia subjacente. Qual a topografia das articulações inflamadas? Do ponto de vista diagnóstico, é muito útil classificar a topografia das articulações inflamadas em comprometimento (1) axial, (2) periférico ou (3) axial e periférico. As espondiloartrites podem se apresentar clinicamente nas formas axial, periférica ou envolvendo as duas topografias. Já a artrite reumatoide, a febre reumática e as artrites microcristalinas são essencialmente artrites de distribuição periférica. Articulações Diagnósticos Axial Intervertebrais Inter-apofisárias Costovertebrais Esterno-clavicular Esterno-costais Sacroilicas Artropatia soronegativa Osteoartrite de coluna Artrite reumatóide com envolv. cervival Periférica Punho Cotovelo Metacarpo- falangianas Falangianas proximais e distais Metatarso- falangianas Tornozelo Joelhos Demais articulações Artrite reumatoide DDTC Gota Osteoartrite Carolina Martins - XXVII Algoritmo para identificação de artrite inflamatória periférica indiferenciada. O processo articular é artrite ou apenas artralgia? Artralgia é a denominação dada à sintomatologia dolorosa em uma ou mais articulações. Está configurada a ocorrência de artrite quando, além de dor, existem outros sinais inflamatórios (calor, rubor, aumento de volume articular e prejuízo funcional). 3. Classificar as doenças que acometem as articulações (número e tipos). Qual o modo de instalação do processo articular? Algumas desordens articulares têm início súbito, abrupto, quase instantâneo. É o caso, por exemplo, das fraturas subcondrais e das rupturas de ligamentos intra-articulares. Outras são igualmente agudas, mas sua instalação envolve horas ou dias, como acontece na artrite infecciosa bacteriana e nas artrites microcristalinas (gota e pseudogota). Existem, porém, os processos articulares de instalação insidiosa, arrastada, envolvendo semanas ou meses. Tipicamente é o caso da artrite reumatoide, das artrites infecciosas crônicas – tuberculosa e fúngica – e da neuroartropatia de Charcot. O processo de doença pode ainda se instalar de forma lenta e gradualmente aumentar ao longo de anos, como geralmente acontece na osteoartrite. Qual a duração da artrite? Do ponto de vista prático, artrites com duração menor que 6 semanas são ditas agudas e, de um modo geral, são autolimitadas. Esse é tipicamente o caso das artrites virais e das artrites microcristalinas. As artrites com duração maior que seis semanas são ditas crônicas, como é o caso da artrite reumatoide e das espondiloartrites (espondilite anquilosante, artrite psoriásica, artrite reativa, artrites associadas à doença de Crohn e à retocolite ulcerativa e as espondiloartrites indiferenciadas e juvenis). Algumas artrites virais, como a febre Chikungunya, além da fase aguda, podem ter curso subagudo ou crônico. Aguda Artrites microcristalinas Artrites infecciosas Febre reumática incial Artropatias relacionadas a traumas Crônica Artrite reumatóide Artrites soronegativas DDTC Artrite infecciosa Quantas articulações estão acometidas? Em relação ao número de articulações inflamadas, o processo pode envolver apenas uma articulação (monoarticular), mais de uma e menos que quatro (oligoarticular ou pauciarticular) e mais de quatro articulações (poliarticular). Algumas doenças têm apresentação tipicamente monoarticular. É o caso das artrites infecciosas bacterianas, tuberculosa e fúngica, como também as artrites microcristalinas. Outras enfermidades exibem artrite defeição oligoarticular, como pode acontecer com as espondiloartrites. A artrite reumatoide e as artrites virais são exemplos de doenças caracteristicamente poliarticulares. Número de articulações Diagnóstico Monoarticular 1 Gota Infecciosas Osteoartrite Oligoarticular 2 a 4 Artropatias soronegativas Osteoartrite Febre reumática Poliarticular >4 Artritr reumatóide DDTC Osteoartrite Artropatias soronegativas Poliarticular com ínicio monoarticular Artrite reumatóide Artrite psoriática Doença de Behçet Artrites reativas Enteroartropatias LES Qual a localização da dor? - Localizada: tendinite, bursite, capsulite e entesite - Difusa: dor difusa acometendo ambos os lados do corpo Carolina Martins - XXVII Difusa Miopatias Fibromialgia Síndromes miofasciais Localizada Artrite Reumatismo de partes moles Vasculites O padrão de distribuição da artrite é simétrico ou assimétrico? Observar a simetria ou assimetria das artrites oligo ou poliarticulares pode fornecer uma pista para a sua etiologia. Dessa forma, a artrite reumatoide, a osteoartrite erosiva e as artrites virais exibem apresentação simétrica, enquanto as espondiloartites e a gota tofácea crônica tendem a se apresentar com distribuição assimétrica. Simétrica Artrite reumatóide DDTC Assimétrica Artropatias soronegativas Artropatias microcristalinas Estão presentes “padrões-guia” que podem sugerir a etiologia? Algumas combinações de achados propedêuticos são muito sugestivas de uma desordem reumática específica. Assim, a “podagra” (artrite aguda da 1ª articulação metatarsofalangeana) aponta fortemente para a possibilidade de gota. A artrite das articulações interfalangeanas distais (IFD) orienta para o diagnóstico de artrite psoriásica, notadamente se acompanhada de onicodistrofia. Edema crônico, simétrico e fusiforme das articulações interfalangeanas proximais (IFP) faz lembrar o diagnóstico de artrite reumatoide e a presença de nódulos de Heberden (IFD) e Bouchard (IFP) orienta para a ocorrência de osteoartrite. Edema difuso das mãos e dedos que não se restringe ao limite articular pode ser observado na síndrome da dor complexa regional (distrofia simpático-reflexa), na hanseníase, na RS3PE, nas fases iniciais da esclerose sistêmica e nas espondiloartrites. Artrite das articulações acromioclavicular, esternoclavicular e sacroilíaca obriga incluir espondiloartrites e infecção no diagnóstico diferencial. Qual a sequência do comprometimento articular? A sequência de envolvimento articular geralmente atende a três formas de comportamento: aditivo, migratório e intermitente. No padrão aditivo, as articulações são comprometidas seguidamente, sem que o comprometimento prévio das outras articulações se resolva. Esse padrão de envolvimento somatório é característico da artrite reumatoide, artrite reativa e osteoartrite. O padrão em que a inflamação cessa em uma articulação e uma nova se inflama é o migratório, típico da febre reumática e das fases iniciais da artrite gonocócica. No padrão intermitente, a doença evolui por crises e há completa remissão das manifestações clínicas no período intercrítico, comportamento observado nas artrites microcristalinas e no reumatismo palindrômico. COMO UTILIZAR A COMBINAÇÃO DE “PADRÕES” NA CONSTRUÇÃO DO DIAGNÓSTICO EM REUMATOLOGIA Após caracterizar o processo reumático respondendo às perguntas anteriores por meio de uma história clínica cuidadosa e um exame físico minucioso, o médico poderá combinar os achados clínicos. Por exemplo, a artrite reumatoide é uma poliartrite crônica simétrica aditiva, essencialmente de articulações periféricas, de instalação insidiosa, predominando classicamente em mãos e pés. Já a artrite infecciosa bacteriana e as artrites microcristalinas se apresentam habitualmente como monoartrites agudas, de instalação em horas ou dias. As espondiloartrites costumam se apresentar clinicamente como oligoartrites assimétricas de grandes articulações, predominando em membros inferiores e comprometendo o esqueleto axial. PADRÕES CLÍNICOS DOS PROCESSOS REUMÁTICOS – ASPECTOS CRÍTICOS Uma doença pode exibir vários padrões, como acontece com a artrite psoriásica e as artrites microcristalinas. Por outro lado, duas doenças podem compartilhar o mesmo padrão clínico, como artrite séptica e artrites microcristalinas que, de regra, se apresentam na forma de monoartrite aguda. Além disso, uma dada doença pode assumir um padrão pouco habitual, extravagante, como pode ser visto na artrite séptica poliarticular. Contudo, o reconhecimento das características clínicas dos processos reumáticos pode, certamente, poupar tempo, esforço e recursos diagnósticos auxiliares na sua abordagem diagnóstica. Carolina Martins - XXVII 4. Citar as doenças articulares e diferenciar clinicamente as doenças articulares (diagnóstico e tratamento). DOENÇAS DIFUSAS DO TECIDO CONJUNTIVO: doenças crônicas, que cursam com comprometimento sistêmico (acometimento do estado geral e de vários órgãos), e estão relacionadas com distúrbios do sistema imunológico (processo inflamatório, com ativação de células e produção de auto-anticorpos). Lúpus Eritematoso Sistêmico; Artrite Reumatóide; Esclerodermia Sistêmica; Miopatias Inflamatórias; Síndrome de Sjögren; Doença Mista do Tecido Conjuntivo; e Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide. VASCULITES SISTÊMICAS: doenças cujo processo inflamatório compromete a parede dos vasos sangüíneos (desde artérias à vênulas). Arterite de Takayassu; Granulomatose de Wegener; Arterite Temporal; e Doença de Behçet. ESPONDILOARTROPATIAS: doenças crônicas com comprometimento inflamatório preferencial da coluna vertebral e articulações sacroilíacas. Em alguns casos pode haver concomitantemente envolvimento das articulações periféricas e de outros sistemas. Espondilite Anquilosante; Espondiloartropatia da Psoríase; Espondiloartropatia das Doenças Inflamatórias Intestinais; Espondiloartropatias Reativas; e outras. DOENÇAS OSTEOMETABÓLICAS: doenças que acometem o metabolismo ósseo. Osteoporose; Osteomalácia; Doença de Paget; e Hiperparatireoidismo. DOENÇAS ARTICULARES DEGENERATIVAS: doenças que afetam as cartilagens das articulações promovendo degeneração estrutural. Osteoartrite primária Osteoartrite secundária (após infecções, fraturas, doenças por cristais etc). ARTROPATIAS MICROCRISTALINAS: doenças que comprometem as articulações e partes moles, tendo como causa depósitos de microcristais. Gota; Condrocalcinose; Artrite por hidroxiapatita; e Artrite por outros microcristais. ARTROPATIAS INFECCIOSAS E REATIVAS: doenças com comprometimento osteoarticular associadas a processos infecciosos no local ou a distância, de diversas causas. Artrites infecciosas; Osteomielite; Artrite Reativa; Febre Reumática; e Doença de Lyme. REUMATISMO EXTRA-ARTICULAR: acometem estruturas nas vizinhanças de uma articulação ou coluna vertebral. Tendinites; Bursites; Esporão de calcâneo; Fasceíte Plantar; Epicondilite lateral e medial; Fibromialgia; Dor miofascial. ARTRITES INTERMITENTES: doenças inflamatórias têm por característica o envolvimento articular episódico. Febre Familiar do Mediterrâneo; Reumatismo Palindrômico; e Hidrartrose intermitente. Carolina Martins - XXVII ARTROPATIAS SECUNDÁRIAS A OUTRAS DOENÇAS REUMÁTICAS: comprometimento osteoarticular relacionado ao contexto. Título clínico e evolutivo de outras doenças. Diabetes Mellitus; Hipotireoidismo; Hipertireoidismo; Tumores malignos; e Doenças hematológicas. Monoartrite aguda (MA) É uma das principais emergências reumatológicas, sendo um quadro potencialmente grave com consequências desastrosas para o paciente, quandonão tratado de maneira adequada. Os três principais diagnósticos a se considerar frente a um quadro de monoartrite aguda são: infecção, doença por deposição de cristais (DDC - principalmente gota e pseudogota) e trauma. Um paciente com artrite monoarticular aguda deve ser considerado portador de artrite séptica até que se prove o contrário, devido à sua grande morbidade. A artrite bacteriana não gonocócica é monoarticular em 80 a 90% dos casos, mas o acometimento poliarticular está relacionado a um coeficiente de mortalidade mais alto. Nos casos típicos, a monoartrite infecciosa acomete joelhos (40-50%), quadris, ombros, punhos, tornozelos, cotovelos e pequenas articulações das mãos ou dos pés. A mobilidade articular é de extrema importância, pois: Limitação passiva e ativa: sinovite articular (inflamação ou infecção) ou alteração estrutural importante. Mobilidade passiva preservada: quadros periarticulares como tendinites e bursites, a mobilidade ativa pode apresentar-se comprometida. Pacientes com histórico de uso de drogas, por via venosa, ou infecção recente devem ser investigados exaustivamente para uma artrite infecciosa e aqueles que têm um histórico prévio de dor aguda e edema (artrite) com remissão espontânea provavelmente são portadores de doença por depósito de cristais. Outros fatores importantes são: sobrecarga articular (trauma), uso prolongado de corticóide (infecção, osteonecrose), presença de diátese hemorrágica ou uso de anticoagulantes orais (hemartrose). Pacientes em pós-operatório imediatos ou internados por intercorrências clínicas, são mais susceptíveis a DDC e a quadros infecciosos. Sintomas extra-articulares e sintomas sistêmicos, quando presentes, podem ajudar no diagnóstico diferencial. Por exemplo, a presença de fadiga, adenopatia, alopecia, ulcerações mucosas, xerostomia e xeroftalmia ou psoríase cutânea, são achados que devem levantar a suspeita de uma doença reumática sistêmica. Embora um quadro de monoartrite aguda envolva uma variedade de diagnósticos diferenciais, sua manifestação inicial pode estar relacionada a uma doença poliarticular. Os sintomas característicos da artrite séptica e DDC são: dor intensa, edema, eritema e restrição de mobilidade na articulação acometida. Os sintomas gerais podem ser febre (frequentemente presente na artrite séptica) e mal estar. A febre pode também estar associada a um ataque agudo de gota ou pseudogota, artrite reumatóide, sarcoidose e artrite reativa. MONOARTRITE INTERMITENTE: GOTA Causada por quantidades excessivas de ácido úrico, o produto final do metabolismo de purinas, dentro dos tecidos e de líquidos corporais. Em geral, isso é evidenciado por hiperuricemia maior que 6,8 mg/dL, porque os líquidos com teores maiores que esse ficam supersaturados, o que favorece a precipitação dos cristais de urato, que induzirão reação inflamatória aguda. • Epidemiologia: afeta cerca de 1% da população. - Pico de incidência: homens na quinta década de vida e mulheres depois dos 65 anos de vida, sendo mais comum nos homens. Rara: antes da vida adulta nos homens ou antes da menopausa nas mulheres. - Quase sempre está relacionado com erro inato do metabolismo ou distúrbio congênito. A gota é caracterizada por episódios recorrentes de artrite aguda, às vezes acompanhada pela formação de grandes agregados cristalinos, chamados de tofos, e pela deformidade articular permanente final. Embora elevado nível de ácido úrico seja um componente essencial da gota, nem todas as pessoas desenvolvem gota, e fatores genéticos e ambientais também contribuem para sua patogenia. Ela pode ser dividida em: → forma primária (90% dos casos): causa básica é desconhecida ou (menos comumente) nos quais a doença é Carolina Martins - XXVII devida a um defeito metabólico congênito que causa a hiperuricemia. → forma secundária (10% dos casos): causa da hiperuricemia é conhecida, mas a gota não é necessariamente a doença clínica principal ou mesmo dominante. → forma assintomática: probabilidade de desenvolver gota assintomática e a idade com que isto ocorre estão relacionadas com a duração e gravidade da hiperuricemia. Todos os pacientes em algum momento da doença irão apresentar hiperuricemia, embora isso possa não ocorrer durante a crise aguda, podendo estar normal ou até mesmo diminuído em 12% a 43% dos pacientes. Entretanto, a maioria dos indivíduos hiperuricêmicos nunca irá desenvolver um quadro de gota, por isso, o seu diagnóstico é baseado fundamentalmente na deposição tecidual de cristais de urato e o processo inflamatório concomitante e as possíveis consequências degenerativas. Algumas causas relacionadas com a crise aguda de gota são: trauma, cirurgia, diabetes, síndrome metabólica, insuficiência renal, o uso de alguns fármacos que afetam as concentrações de urato como o alopurinol, agentes uricosúricos, os tiazídicos e o ácido acetilsalicílico. Além disso, alguns hábitos dietéticos como o consumo de álcool e o de carne vermelha (rica em purina) e peixes. Polimorfismos em genes envolvidos no transporte e homeostase do urato, como URAT1 e GLUT9, também estão associados à hiperuricemia e à gota. • Morfologia: As principais manifestações morfológicas da gota são artrite aguda, artrite tofácea crônica, tofos em vários locais e nefropatia gotosa. - Artrite aguda: denso infiltrado neutrofílico que permeia a sinóvia e o líquido sinovial. Longos e delicados cristais de urato monossódico, em formato de agulha, frequentemente são encontrados no citoplasma dos neutrófilos, além de pequenos agregados na sinóvia. A sinóvia está edematosa e congesta, e contém células inflamatórias mononucleares. Quando o episódio de cristalização diminui e os cristais se solubilizam, o ataque sofre remissão. - Artrite tofácea crônica: se desenvolve a partir da precipitação repetitiva de cristais de urato durante ataques agudos. Os uratos podem se incrustar profundamente nas superfícies articulares e formar depósitos visíveis na sinóvia. A sinóvia se torna hiperplásica, fibrótica e espessada pelas células inflamatórias, formando um pannus que destrói a cartilagem subjacente, levando a erosões ósseas justa- articulares. Em casos severos, uma anquilose fibrosa ou óssea se inicia, resultando em perda da função articular. → Tofos são patognomônicos para a gota, formados por grandes agregados de cristais de urato circundados por intensa reação inflamatória de linfócitos, macrófagos e células gigantes de corpo estranho, tentando englobar as massas de cristais. Eles podem aparecer na cartilagem articular das articulações e nos ligamentos periarticulares, tendões e tecidos moles, incluindo lóbulos das orelhas, cartilagens nasais e a pele das pontas dos dedos das mãos. Os tofos superficiais podem levar a grandes ulcerações da pele sobrejacente. - Nefropatia gotosa: complicações renais associadas à deposição de uratos, formando de forma variável tofoS medulares, precipitações intratubulares ou cristais de ácido úrico livres e cálculos renais. Características Clínicas: Há quatro estágios: hiperuricemia assintomática, artrite gotosa aguda, gota “intercrítica” e gota tofácea crônica. 1. Hiperuricemia assintomática: aparece ao redor da puberdade em homens e após a menopausa em mulheres. 2. Artrite gotosa aguda: seu primeiro episódio geralmente acontece cerca de 10 a 30 anos depois de iniciar a hiperuricemia assintomática e não existem evidências de que ocorra lesão de qualquer outro sistema do organismo durante esse intervalo. Então, ela aparece na forma de início súbito de dor intensa associado ao aumento da temperatura local, ao edema e eritema da articulação afetada. Em um período de 8 a 12 horas, a dor progride de leves pontadas até um nível mais intenso. A intensidade da dor é tal que os pacientes não conseguem sequer sustentar o peso do lençol do leito sobre a parte afetada e a maioria acha impossívelcaminhar. A crise aguda pode vir acompanhada por febre, calafrios e mal-estar. O eritema cutâneo associado à crise aguda pode estender-se além da articulação afetada e causar um quadro semelhante ao da celulite. À medida que a crise regride pode causar descamação da pele. A vasta maioria dos primeiros ataques é monoarticular; 50% ocorrem na primeira articulação metatarsofalângica (do dedão do pé) e 90% no dorso do pé, tornozelo, calcanhar ou punho. Os punhos, os dedos e cotovelos são mais no caso avançada. Os sinais e sintomas regridem rapidamente com tratamento adequado, mas ainda que não seja tratada, a crise aguda cura espontaneamente dentro de 1 semana. 3. Gota intercrítica: com a regressão da crise, os pacientes entram nesse período, ficando absolutamente assintomáticos. No início, os episódios de artrite não são frequentes e os intervalos variam de meses a anos; com o tempo, as crises tornam-se mais frequentes, o início mais gradativo, a duração maior e há tendência de acometer mais articulações. Durante esse período, apesar das articulações acometidas ficarem praticamente assintomáticas, há deposição dos cristais de urato contínua e os tofos aumentam de tamanho. As crises tendem estar associadas aos aumentos rápidos e, mais comumente, às reduções da concentração de urato no líquido sinovial, refletindo as oscilações detectadas no soro. Por essa razão, uma redução súbita do nível sérico de urato e pode desenvolver uma crise aguda, mas com níveis normais de ácido úrico no sangue. Traumatismo, ingestão de álcool e uso de alguns fármacos são fatores que comprovadamente Carolina Martins - XXVII desencadeiam crises. As crises de gota aguda são comuns em indivíduos que se recuperam de uma bebedeira. Os fármacos que desencadeiam crise fazem isso porque elevam ou reduzem os níveis de urato rapidamente (ex: diuréticos salicílatos). É possível que essas alterações nos níveis de urato desestabilizem os tofos da sinovial afetada pela gota. À medida que os microtofos são dissolvidos, os cristais são espalhados pelo líquido sinovial e a crise aguda da gota começa. 4. Artrite gotosa crônica: à medida que a doença progride, o paciente entra nesse estágio, que resulta da resposta inflamatória crônica perpetuada pelos macrófagos que circundam os tofos e, em geral, começam 10 anos ou mais depois da gota intermitente aguda. A transição para gota crônica está concluída quando os períodos intercríticos passam a ser sintomáticos. Nessa situação, as articulações afetadas tornam-se persistentemente dolorosas e podem edemaciar; também pode haver rigidez sensação de gelificação. Durante esse estágio, tofos visíveis podem ser palpados; em geral, eles refletem a duração e a gravidade da hiperuricemia e, em média desenvolvem-se cerca de 12 anos depois do início da primeira crise de gota. Nesse estágio, as radiografias mostram uma característica erosão óssea justa- articular causada pelos depósitos de cristais de urato monossódico nas cartilagens, articulações, tendões e partes moles, e pela perda do espaço articular. A progressão leva a uma severa doença incapacitante. O local clássico dos tofos é a hélice do pavilhão auricular externo. As manifestações renais da gota podem aparecer como cólicas renais associadas à passagem de cascalho e cálculos, e podem evoluir para nefropatia gotosa crônica. Cerca de 20% das pessoas com gota crônica morrem de insuficiência renal. MONOARTRITE AGUDA: 1) Pioartrite (causa mais frequente e mais grave): infecção causada por bactérias que acomete a articulação. 2) Causa mais comum para ortopedista é trauma. 3) Causa mais comum para clínico é gota. 4) Mais raras: outros cristais, artrite reativa, artrite psoriásica, endocardite bacteriana, síndrome dolorosa, complexo regional (distrofia simpático reflexa), leucemia, Hemartrose. MONOARTRITE CRÔNICA: raras 1) Artrite tuberculosa 2) Infecções indolentes (Brucela, Lyme, fungos) Artrite séptica: quadro de grande morbidade quando não diagnosticado e tratado rapidamente, colocando a vida do paciente em risco. Tem uma incidência de 2 a 10 casos por 100.000 habitantes. Apresenta-se geralmente de forma insidiosa, com sinais inflamatórios intensos, sendo que na grande maioria dos casos é monoarticular (> 80%) podendo levar a um quadro avançado de sepse, as articulações mais acometidas são os joelhos (44%), quadril (17%), ombro (10%), tornozelo (8%), cotovelo (7%), punho (6%) e mão (4%). Os fatores de risco mais comuns relacionados são idade maior de 80 anos, doenças crônicas debilitantes como artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, diabetes mellitus, nefropatia, pacientes imunossuprimidos, infecções cutâneas e uso de fármacos, por via venosa. Além disso, qualquer alteração articular estrutural como as provocadas pela artrite reumatóide e pela osteoartrose e procedimentos articulares prévios aumentam a probabilidade de determinada articulação ser acometida. O agente etiológico mais comum é o Staphylococcus (64%), sendo o Staphylococcus aureus o mais comum da espécie, seguido do estreptococo (20%) e pelo pneumococo (12%) e outros agentes nos demais casos. Não esquecer que em pacientes com mais de 60 anos, os agentes Gram-negativos podem ser os responsáveis em até 15% dos casos. A infecção gonocócica disseminada (IGD) é a mais comum causa de monoartrite aguda não traumática em adultos jovens. O paciente apresenta intensa poliartralgia assimétrica, a qual pode ser aditiva ou migratória, com pico dentro de poucos dias e pode resolver espontaneamente na apresentação clínica usual. Febre de moderada intensidade e calafrios são comuns. Lesões cutâneas ocorrem em dois terços ou três quartos dos casos e são não pruriginosas, pápulas, pústulas ou vesículas com base eritematosa, envolvendo o tronco e os membros, poupando face e couro cabeludo. Elas são frequentemente discretas e pouco numerosas o que pode passar despercebido pelo paciente. Tenossinovite ocorre na metade ou dois terços dos casos, com ou sem envolvimento articular, mais comumente sobre o dorso das mãos, dedos, punhos, tornozelos e pés, sugerindo o diagnóstico presuntivo. A artrite é observada em menos de 50% dos casos. A monoartrite é mais frequente do que a poliartrite. Qualquer articulação pode ser afetada. Entretanto, a artrite bacteriana não gonocócica é a mais potencialmente perigosa e destrutiva forma de monoartrite aguda. 3) Cristais (pseudogota): deposição de pirofosfato de cálcio 4) Tumor primário de articulações: sinovite vilonodular 5) Metástases Oligoartrite É um grupo mais heterogêneo. 1) Espondiloartrites Axiais periféricas 2) Infecciosas (Lyme, Gono, fungos, micobactérias) 3) Behçet 4) Cristais Carolina Martins - XXVII 5) Sarcoidose ARTRITE PSORIÁSICA DEFINIÇÃO A artrite psoriásica (APs) é uma artrite inflamatória crônica que afeta até 30% das pessoas com psoríase. HLA-B27 é encontrado em 50-70% daqueles com doença axial, mas em < 20% dos pacientes com envolvimento periférico somente. O início da psoríase em geral precede o surgimento da doença articular; cerca de 15 a 20% dos pacientes desenvolvem artrite antes do início da doença cutânea. Alterações nas unhas ocorrem na maioria dos pacientes com APs; dactilite e entesite são comuns na APs e ajudam a distinguir de outros distúrbios das articulações. PADRÕES DE ACOMETIMENTO ARTICULAR Existem cinco padrões de acometimento articular na APs, que podem se sobrepor: •Oligoartrite assimétrica: acomete frequentemente as articulações interfalângicas proximal (IFP) e distal (IFD) das mãos e dos pés, joelhos, pulsos e tornozelos. •Poliartrite simétrica (40%): assemelha-se à artrite reumatoide, exceto pelo fator reumatoide, que é negativo; ausência de nódulos reumatoides. •Acometimento predominante da articulação IFD (15%): alta frequência de associação com alterações psoriásicas das unhas. •“Artrite mutilante” (3a 5%): agressiva; forma destrutiva da artrite com grave deformidade das articulações e dissolução óssea. •Espondilite e/ou sacroileíte: acometimento axial está presente em 20 a 40% dos pacientes com artrite psoriásica; pode ocorrer na ausência da artrite periférica. AVALIAÇÃO •Testes negativos para o fator reumatoide. •Anemia, VHS elevada. •A infecção pelo HIV deve ser suspeitada na doença fulminante. •Líquido sinovial inflamatório e biópsia sem achados específicos. •As características radiográficas consistem em erosão na margem articular, anquilose óssea, reabsorção das falanges terminais, deformidade em “lápis na xícara” (proliferação óssea na base da falange distal com afunilamento da falange proximal), esqueleto axial com sacroileíte assimétrica e sindesmófitos não marginais assimétricos. DIAGNÓSTICO TRATAMENTO •A terapia coordenada é dirigida à pele e às articulações. •Orientação do paciente, fisioterapia e terapia ocupacional. •Agentes moduladores do TNF (etanercepte, infliximabe, adalimumabe, golimumabe, certolizumabe pegol) podem melhorar a doença articular, assim como retardar a progressão radiográfica. Etanercepte, infliximabe e certolizumabe pegol também podem ser utilizados para doença cutânea. Biossimilar de infliximabe pode ser utilizado para doença cutânea e articular. •O ustequinumabe (anticorpo monoclonal anti-IL-12/23 p40) tem eficácia na doença cutânea e articular. •O apremilaste (inibidor da fosfodiesterase 4) tem efeitos benéficos para o envolvimento cutâneo e articular. •Foi demonstrado que o secuquinumabe e o ixequizumabe (antagonistas da IL-17A) melhoram a atividade da doença e também podem ser usados para a psoríase em placas de moderada a grave. •O abatacepte (CTLA4-Ig) tem sido usado para reduzir os sinais e sintomas de APs ativa. •O tofacitinibe (inibidor da Janus cinase) é usado em adultos com APs ativa que tiveram resposta inadequada ou intolerância ao metotrexato ou outros fármacos antirreumáticos modificadores da doença (DMARDs). •AINEs. •Injeções intra-articulares de esteroides: úteis em algumas circunstâncias. Os glicocorticoides sistêmicos só devem ser usados raramente, pois podem induzir a uma exacerbação de rebote da doença cutânea quando sua dose é reduzida. •A sulfassalazina, 2 a 3 g/dia, apresenta eficácia clínica, porém não bloqueia a erosão articular. •O metotrexato, 15 mg/semana, pode não ser modificador da doença, mas pode apresentar efeitos modificadores dos sintomas e pode melhorar os escores cutâneos. •A leflunomida pode ser benéfica para as doenças cutânea e articular. Poliartrite A dor poliarticular (poliartralgia) compromete várias articulações, podendo ser em momentos diferentes. As origens articulares da dor situam-se no interior da articulação; já as origens periarticulares da dor situam-se nas estruturas que envolvem a articulação (ex. tendões, ligamentos, bursas, músculos). Carolina Martins - XXVII A dor poliarticular pode resultar de: Inflamação (infecção, artrite induzida por cristais, doenças inflamatórias sistêmicas como AR e artrite psoriática) Doença mecânica ou outras não inflamatórias (ex. osteoartrite, síndromes de hipermobilidade) Padrão mecânico da dor: dor piora com o uso da articulação pior no fim do dia melhora com o repouso rigidez protocinética (início do movimento) de poucos minutos período de exacerbação inflamatória Agudas Virais: eritrovírus B19, rubéola, arboviroses (fase aguda), hepatite C, HIV (agudo) Crônicas: > 6 semanas Artrite reumatóide: poliartrite crônica aditiva simétrica, erosiva de pequenas e médias articulações, acometendo preferencialmente mãos e punhos. ARTRITE POLIARTICULAR AGUDA: 1) Infecção (geralmente viral) 2) Surto de alguma doença inflamatória sistêmica 3) Gota ou artrite por pirofosfato de cálcio (pseudogota) 4) Febre reumática: complicação inflamatória aguda, não supurativa da infecção faríngea por estreptococos do grupo A, causando combinações de artrites, cardites, nódulos subcutâneos, eritema marginado e coreia. O diagnóstico baseia-se na aplicação dos critérios modificados de Jones relacionados com dados de história, exame e testes laboratoriais. O tratamento inclui ácido acetilsalicílico ou outros anti-inflamatórios não esteroides (AINE), corticoides durante cardites graves e antimicrobianos para erradicar infecção estreptocócica residual e prevenir a reinfecção. Um primeiro episódio da febre reumática aguda (FRA) pode ocorrer em qualquer idade, mas com maior frequência entre os 5 e os 15 anos, que são o pico de idade para faringite estreptocócica. É incomum antes dos 3 anos e depois dos 21 anos. Mas faringite sintomática prévia só é reconhecida em cerca de dois terços dos pacientes com FRA. A incidência mundial é de 19/100.000, com taxas menores (< 10/100.000) na América do Norte e no Oeste Europeu, e taxas mais altas (> 10/100.000) na Europa Oriental, Oriente Médio, África, Ásia, Austrália e Nova Zelândia. Frequências mais elevadas de crises de pacientes com faringite por estreptococos do grupo A que desenvolvem FRA, ocorrem com certos tipos sorológicos de proteínas dos estreptococos M e uma intensa resposta imunológica do hospedeiro (provavelmente resultante de tendências genéticas ainda não caracterizadas). • Sinais e sintomas: os sintomas iniciais ocorrem tipicamente cerca de 2 a 3 semanas após a infecção estreptocócica. As manifestações envolvem tipicamente algumas combinações das articulações, do coração, da pele e do SNC. Articulações: - Poliartrite migratória: manifestação mais comum, ocorre em cerca de 35 a 66% das crianças; frequentemente acompanha de febre. Ocasionalmente ocorre monoartrite em populações indígenas de alto risco. - Articulações extremamente dolorosas e sensíveis: esses sintomas muitas vezes são desproporcionais ao modesto calor e inchaço presentes ao exame (isso se contrapõe à artrite da doença de Lyme, em que os achados de exame tendem a ser mais graves do que os sintomas). Tornozelos, joelhos, cotovelos e punhos geralmente estão envolvidos. Pode haver comprometimento dos ombros, dos quadris e de pequenas articulações dos pés e das mãos, geralmente não isolado. Se ocorrer comprometimento das articulações vertebrais, deve-se suspeitar de outras doenças. Sintomas semelhantes à artralgia podem decorrer de mialgia inespecífica ou tendínea da zona periarticular; a tenossinovite pode aparecer no local da inserção muscular. A dor articular e a febre desaparecem em 2 semanas e raramente têm duração > 1 mês. Coração: a cardite pode ocorrer isoladamente ou em combinação com atrito pericárdico, sopros, cardiomegalia ou insuficiência cardíaca. No primeiro episódio da febre reumática aguda, a cardite ocorre em cerca de 50 a 70%. Os pacientes podem ter febre alta, dor no peito ou ambos; taquicardia é comum, especialmente durante o sono. As lesões cardíacas ocorrem muito mais tarde, em cerca de 50% dos casos. Embora a cardite da FRA seja considerada pancardite (envolvendo o endocárdio, miocárdio e pericárdio), valvite é a característica mais consistente da FRA e, se não estiver presente, o diagnóstico deve ser reconsiderado. Classicamente, o diagnóstico da valvite é feito pela ausculta de sopros, mas casos subclínicos (disfunção valvar não manifestada por sopros, mas reconhecida em exames de ECO e Doppler) podem ocorrer em até 18% dos casos de FRA. Insuficiência cardíaca causada pela combinação de cardite e disfunção valvular pode causar dispneia sem ruídos adventícios, náuseas e vômitos, dor no quadrante superior direito ou dor epigástrica e tosse seca persistente. Letargia acentuada e fadiga podem ser manifestações precoces da insuficiência cardíaca. Pele: aspectos cutâneos e subcutâneos são raros e quase nunca ocorrem sozinhos, aparecendo geralmente em pacientes que já apresentam cardite, artrite ou coreia.- Nódulos subcutâneos ocorrem com maior frequência nas superfícies de extensão das grandes articulações (ex.joelhos, cotovelos) e geralmente coexistem com artrite e cardite. Um pouco mais de 10% das crianças com febre reumática aguda apresentam nódulos. De modo geral, os nódulos são Carolina Martins - XXVII indolores, transitórios e respondem ao tratamento da inflamação articular ou cardíaca. - Eritema marginado é serpiginoso, plano e às vezes discretamente elevado, sem cicatrizes e erupção indolor. Um pouco mais de 2% das crianças apresentam essa erupção cutânea. O rash geralmente aparece no tronco e extremidades proximais, mas não na face. Ela às vezes dura < 1 dia. Seu aparecimento é estimulado pela infecção estreptocócica e pode aparecer com as manifestações da inflamação reumática ou depois delas. SNC: a coreia de Sydenham ocorre em cerca de 10 a 30% das crianças. Pode surgir com outras manifestações, porém com maior frequência surge após abrandamento das outras manifestações (em geral, meses após a infecção estreptocócica aguda) e, portanto, pode ser negligenciada como um indicador de febre reumática aguda. A coreia tem início tipicamente insidioso e pode ser precedida de riso ou choro. Coreia consiste em movimentos rápidos, irregulares e abruptos que podem iniciar nas mãos, mas, com frequência, tornam-se generalizados, envolvendo pés e face. Aspectos característicos incluem força de apreensão oscilante (apreensão da ordenhadeira de leite), fasciculações na língua, movimentos incoordenados da língua, caretas e fala gutural explosiva. Os sintomas motores associados incluem perda do controle motor fino, fraqueza e hipotonia (que pode ser grave o suficiente para ser confundida com paralisia). Tratamento é dividido em profilaxia primária (erradicar o EGA), tratamento das manifestações clínicas e profilaxia secundária (prevenir recorrências). PROFILAXIA PRIMÁRIA PROFILAXIA SECUNDÁRIA A duração da profilaxia secundária da FR depende da idade do paciente, intervalo do último surto, presença de cardite no surto inicial e da gravidade da DCR. Em adultos, a ARTRITE POLIARTICULAR CRÔNICA: 1) Artrite reumatóide 2) Espondiloartropatia soronegativa (normalmente, espondilite anquilosante, artrite reativa, artrite psoriática ou artrite enteropática) DOR POLIARTICULAR NÃO INFLAMATÓRIA em adultos ocorre mais frequentemente de: 1) Osteoartrite: caracterizada pela erosão progressiva da cartilagem articular. Epidemiologia: é o tipo mais comum de doença articular, sendo uma das dez condições incapacitantes em nações desenvolvidas. O termo osteoartrite implica uma doença inflamatória; entretanto, apesar de células inflamatórias poderem estar presentes (por vezes em pequeno número), a osteoartrite é considerada uma doença intrínseca da cartilagem, na qual alterações biomecânicas e metabólicas em pacientes com susceptibilidade genética resultam no seu colapso. - Osteoartrite idiopática ou secundária: forma insidiosa, sem causa aparente; grande maioria dos casos, como um fenômeno de envelhecimento. Nesses casos, é comum a doença afetar algumas poucas articulações (oligoarticular), mas pode ser generalizada. - Osteoartrite secundária: cerca de 5% dos casos, a osteoartrite pode aparecer em indivíduos jovens que apresentam alguma condição predisponente, como injúria articular prévia; deformidade congênita de desenvolvimento Carolina Martins - XXVII das articulações; ou alguma doença sistêmica de base como a diabetes, ocronose, hemocondrose ou obesidade acentuada. Nessas situações, e usualmente envolve uma ou mais articulações predispostas; como o comprometimento do ombro ou cotovelo em jogadores de beisebol e dos joelhos em jogadores de basquete. Os joelhos e as mãos são afetados com maior frequência em mulheres e os quadris, nos homens. A OA pode classificar-se em dois subtipos: - OA típica: surge de forma progressiva em doentes de meia- idade ou idosos e envolve uma ou mais das articulações frequentemente afectadas: a) coluna, coxofemoral (CF), joelho (J) e 1.ª MTF; b) 1.ª carpometacárpica (CMC), interfalângicas proximais (IFP) e distais (IFD). O envolvimento poliarticular é a regra, com forte tendência à simetria. Este tipo de OA é, na maior parte das vezes, primária, podendo associar-se um componente de predisposição genética. O excesso de peso está particularmente ligado ao desenvolvimento de OA patelofemoral, mas a sua relação estatística e causal com a OA de outras localizações é controversa. Algumas profissões constituem factores de risco para OA da CF (mineiros, trabalhadores rurais) ou do joelho (calceteiros, mecânicos). A OA nodular das mãos e a rizartrose são abordadas nos quadros. Poliarticular com início monoarticular LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO DEFINIÇÃO E PATOGÊNESE Doença de etiologia desconhecida na qual os tecidos e células sofrem dano mediado por autoanticorpos que se ligam aos tecidos e por complexos imunes. Fatores hormonais, genéticos e ambientais têm provável importância patogênica. Ocorrem hiperatividade das células T e B, produção de autoanticorpos com especificidade contra determinantes antigênicos nucleares e anormalidades da função das células T. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Cerca de 90% dos pacientes são mulheres, normalmente em idade fértil; a maior prevalência é em mulheres negras. A evolução da doença caracteriza-se, em geral, por períodos de exacerbação e quiescência relativa. Pode acometer praticamente qualquer sistema orgânico e exibe ampla variedade de gravidade da doença. São características comuns: •Constitucionais: fadiga, febre, mal-estar e perda de peso. •Cutâneas: erupções cutâneas (especialmente erupção malar em “borboleta”), fotossensibilidade, vasculite, alopecia e úlceras orais. •Artrite: inflamatória, simétrica e não erosiva. •Hematológicas: anemia (pode ser hemolítica), neutropenia, trombocitopenia, linfadenopatia, esplenomegalia e trombose venosa ou arterial. •Cardiopulmonares: pleurite, pericardite, miocardite e endocardite. Os pacientes também têm risco aumentado de infarto agudo do miocárdio, em geral por aterosclerose acelerada. •Nefríticas: classificação por histologia. •GI: peritonite e vasculite. •Neurológicas: síndromes cerebrais orgânicas, crises convulsivas, psicose e cerebrite. Lúpus induzido por fármacos: Um quadro clínico e imunológico semelhante ao do LES espontâneo pode ser induzido por fármacos (em particular: procainamida, hidralazina, isoniazida, clorpromazina, metildopa, minociclina e inibidores do TNF). As manifestações são predominantemente constitucionais, articulares e pleuropericárdicas; acometimento do SNC e renal são raros. Os pacientes têm anticorpos antinucleares (FAN); anticorpos anti-histona podem estar presentes, porém anticorpos anti- dsDNA e hipocomplementemia são incomuns. A maioria dos pacientes melhora após a remoção do fármaco lesivo. AVALIAÇÃO •Anamnese e exame físico •FAN está presente em > 98% dos pacientes, porém FAN positivo não é específico para LES. A avaliação laboratorial deve incluir: hemograma completo, VHS, FAN e subtipos de autoanticorpos (anticorpos anti dsDNA, ssDNA, Sm, Ro, La e histona), níveis séricos de complemento (C3, C4, CH50), imunoglobulinas séricas, VDRL, TP, TTP, anticorpo anticardiolipina, anticoagulante lúpico e urina tipo I. •Exames radiográficos apropriados •ECG •Considerar biópsia renal se houver evidência de glomerulonefrite DIAGNÓSTICO Os critérios de classificação usados para a confirmação de LES nos estudos podem fornecer em pacientes individuais uma base para a estimativa da probabilidade de que uma doença seja LES. Presença de quatro ou mais dos critérios publicados tem especificidade de 93% e sensibilidade de 92% para o diagnóstico de LES. TRATAMENTO A escolha da terapia deve se basear no tipo e na gravidade das manifestações da doença. Os objetivos consistemem controlar as exacerbações agudas graves e desenvolver Carolina Martins - XXVII estratégias de manutenção nas quais os sintomas sejam suprimidos e reduzidos a um nível aceitável. As escolhas terapêuticas dependem de (1) se a doença está ameaçando a vida ou se existe probabilidade de causar dano orgânico; (2) se as manifestações são reversíveis; e (3) a melhor abordagem para prevenir as complicações da doença e do tratamento. Como o LES afeta predominantemente as mulheres jovens, o potencial teratogênico e a necessidade de contracepção eficaz devem ser considerados em cada medicamento prescrito. TERAPIAS CONSERVADORAS PARA O LES NÃO GRAVE •Proteção solar: como a exposição UV pode exacerbar o LES cutâneo e/ou sistêmico, o uso de protetor solar é altamente recomendado. •AINEs: devem ser consideradas as complicações renais, GI e cardiovasculares. •Antimaláricos (hidroxicloroquina): podem melhorar as manifestações constitucionais, cutâneas e articulares. A avaliação oftalmológica é necessária antes e durante o tratamento para excluir toxicidade ocular. •Metotrexato: pode ser considerado para dermatite e artrite. •Belimumabe: inibidor específico do estimulador dos linfócitos B (BLyS). Não deve ser usado em LES grave, com nefrite ou doença do SNC, e limita-se a pacientes com atividade leve a moderada da doença. •Baricitinibe: inibidor oral de JAK1 e JAK2 (inibidor de pequenas moléculas). Em um ensaio randomizado, mostrou- se eficaz para artrite e exantema no LES. TRATAMENTOS PARA O LES GRAVE •Glicocorticoides sistêmicos. •Agentes citotóxicos/imunossupressores: acrescentados aos glicocorticoides para tratar o LES grave. 1.Ciclofosfamida: pode ser administrada como IV intermitente ou oral diária. Dois esquemas IV foram estudados – alta dose de ciclofosfamida 500-1000 mg/M2 IV × 6 meses usada para nefrite grave ou outros tipos de LES grave. Estudos europeus concluíram que baixa dose de ciclofosfamida de 500 mg a cada 2 semanas por 6 doses é eficaz, mas não está claro se esses dados se aplicam a populações dos EUA. Ambos esquemas são seguidos de manutenção com micofenolato ou azatioprina. 2.Micofenolato (micofenolato de mofetila, micofenolato de sódio): uma proporção maior de pacientes afro-americanos parece responder ao micofenolato de mofetila em comparação com a ciclofosfamida. Como existe potencial teratogênico, contracepção eficaz deve ser discutida com as mulheres em idade fértil e com os homens cuja parceira possa ficar grávida. 3.Azatioprina: pode ser eficaz, porém é mais lenta em induzir resposta terapêutica. 4.Rituximabe: anticorpo monoclonal para depleção de células B com anticorpos anti-CD20. O papel do rituximabe no LES é controverso. O uso geralmente é limitado aos pacientes com doença grave que não respondem às abordagens padrão. Carolina Martins - XXVII 5. Descrever os exames e seus achados nas doenças reumatológicas. Marcadores de inflamação Entre as proteínas produzidas durante a resposta de fase aguda, a proteína C-reativa (PCR) tem maior relevância como marcador de inflamação tanto nas doenças reumáticas quanto naquelas não reumáticas. A PCR é um membro da família das pentraxinas; e, embora sua função não seja totalmente conhecida, sua capacidade de se ligar à fosfocolina sugere uma função de depuração para eliminar produtos bacterianos ou células danificadas e atenuar as consequências da infecção ou da lesão tecidual. Como existe um grande número de condições diferentes que podem induzir à produção de proteína C-reativa, um nível elevado de proteína C-reativa não tem uma especificidade diagnóstica. Outras moléculas, como a proteína amiloide sérica (PAS), fibrinogênio e complemento também apresentam elevações marcantes dos seus níveis séricos durante a resposta de fase aguda, sugerindo o amplo comprometimento da defesa do hospedeiro. O nível de PCR é um parâmetro muito útil na avaliação do processo inflamatório e sua determinação pode auxiliar na classificação de um processo clínico (p. ex., artrite inflamatória versus artrite não inflamatória), bem como na avaliação da atividade da doença e no prognóstico (p. ex., atividade de AR ou possibilidade de erosão articular). A vantagem em se determinar os níveis de PCR em vez de citocinas no sangue, é que os seus níveis são muito mais altos. Além disso, os níveis de PCR permanecem elevados por um período mais longo (dias) comparativamente aos das citocinas; estas últimas podem aparecer apenas transitoriamente no sangue e, assim, comprometer sua detecção Outro teste laboratorial simples que reflete resposta de fase aguda é a determinação da velocidade de hemossedimentação (VHS). Nesse teste, a amostra de sangue anticoagulado é colocada num tubo longo, fino e calibrado para sedimentar sob a ação da gravidade por uma hora. A medida da distância que as hemácias percorrem para sedimentar (VHS) depende de vários fatores, incluindo a concentração de proteínas séricas, como as imunoglobulinas e fibrinogênio, um reagente de fase aguda. A velocidade de hemossedimentação é inespecífica no que concerne à associação com doenças e também é influenciada pela idade e sexo. Os limites superiores de normalidade variam entre mulheres e homens. Outros testes laboratoriais simples também sugerem resposta de fase aguda. Por exemplo, pacientes com inflamação frequentemente exibem leucocitose ou trombocitose, muito provavelmente refletindo a ação de citocinas e de outros mediadores, incluindo glicocorticoides, durante esse processo. Nesse sentido, no lúpus eritematoso sistêmico (LES), fatores como linfopenia, trombocitopenia e baixos valores de PCR frequentemente caracterizam a atividade de doença, e essa discordância entre os achados laboratoriais e clínicos constitui uma importante informação para o auxílio diagnóstico. Avaliação laboratorial da doença musculoesquelética Entre esses testes, a VHS e a PCR são indicadores não específicos de inflamação. Dependendo do estágio da doença e da terapia prévia do paciente, no entanto, tanto a PCR como a VHS podem não estar elevadas no momento da avaliação inicial, porque muitos tratamentos, especialmente aqueles dirigidos às citocinas, podem reduzir de forma efetiva a resposta de fase aguda; ensaios multiplex de vários outros mediadores podem permitir a avaliação da atividade da doença nessa circunstância. Dois testes de autoanticorpos, o fator reumatoide (FR) e os anticorpos para proteínas citrulinadas, fornecem informação diagnóstica mais específica. Os testes para anticorpos antinucleares são frequentemente parte dessa avaliação quando se leva em conta a demografia da artrite inflamatória. Fator Reumatoide O FR compreende um grupo de anticorpos que se ligam à molécula de imunoglobulina G (IgG). Esses FRs reconhecem primariamente a região constante da porção Fc da IgG, reagindo com determinantes antigênicos predominantemente conformacionais. FRs tipo IgM são os mais comuns e mais facilmente detectáveis utilizando-se ensaios de aglutinação com hemácias ou partículas de látex cobertas com IgG. Os FRs ocorrem em aproximadamente 80% dos pacientes com AR e representam um dos critérios para a classificação ou para o diagnóstico dessa doença. Além disso, níveis elevados de FRs estão frequentemente associados a um prognóstico pior, à ocorrência de erosão articular avaliada por exames de raios X e à deformidade. Anticorpos Antiproteínas Citrulinadas Os anticorpos antiproteínas citrulinadas são outro grupo de autoanticorpos importantes no diagnóstico da AR. A citrulina é uma modificação pós-translacional do aminoácido arginina que resulta na sua dimensão. Essa reação química é catalisada pela enzima peptidil-arginina desaminase (PAD) e pode ocorrer no local da inflamação, sendo a função dessa modificação ainda desconhecida. A citrulinação pode afetar várias proteínas, como vimentina, enolase e filagrina.Esse teste possui excelente especificidade, cerca de 96%, e sua sensibilidade é de 60% a 75% para o diagnóstico da AR, podendo ser utilizado em pacientes com doença precoce. Carolina Martins - XXVII Como anti-CCP (peptídeo citrulinado cíclico) e podem ser diferenciados dos anticorpos contra proteínas citrulinadas (ACPAs, ou anticorpos antiproteínas citrulinadas). O termo anti-CCP é também comumente empregado para essas especificidades, embora não seja formalmente sinônimo de ACPA. Os ACPAs podem ser avaliados através de uma variedade de técnicas analíticas usando como antígenos proteínas modificadas e vários peptídeos. Para a detecção de anticorpos anti-CCP, a formulação de peptídeos mudou ao longo dos anos como designado pela geração de ensaios. Os anticorpos anti-CCP estão altamente associados com a AR e representam um critério na classificação de pacientes com esta doença. Dependendo do ensaio, estes anticorpos ocorrem em 60% a 70% dos pacientes com AR e pouco frequentemente naqueles com outras formas de artrite inflamatória, tornando sua presença importante no diagnóstico. Assim, devido à especificidade dos anti-CCP para a AR, a presença desses anticorpos nos pacientes com sinais e sintomas precoces da doença pode indicar o diagnóstico de AR e permitir iniciação mais rápida da terapia antes que a doença se manifeste totalmente. Nesse contexto, embora a AR possa ocorrer na ausência de anticorpos anti-CCP, a presença desses anticorpos pode definir subtipos de doença que diferem a etiologia, curso clínico e resposta à terapia. Análise do Líquido Sinovial A análise do líquido articular pode fornecer dados decisivos na avaliação da artrite e, em alguns casos, um diagnóstico definitivo. Essa análise é essencial no contexto da monoartrite aguda para investigar a possibilidade de infecção; para formas crônicas de artrite, o líquido sinovial deve ser analisado se houver dúvida com relação ao diagnóstico e comprometimento desproporcional de uma articulação comparativamente às outras. A punção aspirativa articular é um procedimento estéril realizado com um anestésico local. Com base na contagem de células, os líquidos sinoviais podem ser classificados em quatro tipos principais: não inflamatório, inflamatório, séptico e hemorrágico. Líquido não inflamatório apresenta menos de 2.000 células/mm3 com predominância de células mononucleares. Líquido inflamatório apresenta entre 2.000 células/mm3 a 50.000 células/mm3, sendo este último o limite superior frequentemente estabelecido para este tipo de líquido. No líquido inflamatório há o predomínio de células polimorfonucleares. Líquido séptico é um líquido inflamatório em que a cultura ou coloração para microrganismos revela infecção. A suspeita de infecção é maior particularmente quando o líquido sinovial apresenta total de células superior a 50.000/mm3. Entretanto, a artrite induzida por cristal pode levar a um número de células dessa magnitude, como também um líquido infectado pode ter um número total de células abaixo desse nível. Líquidos hemorrágicos apresentam predominância de eritrócitos com valores que se aproximam daqueles observados no sangue. Avaliação laboratorial da doença inflamatória sistêmica Anticorpos Antinucleares (FAN) A expressão de anticorpos para componentes do núcleo celular (anticorpos antinucleares, ou ANAs) é característica das DTCs e uma constante em pacientes com LES. Esses anticorpos têm como alvo macromoléculas nucleares do hospedeiro, incluindo DNA, RNA e proteínas, bem como complexos de proteínas com ácidos nucleicos. Esses antígenos são expressos ubiquamente nas células e auxiliam nos processos celulares críticos relacionados à estrutura cromossômica, divisão celular, transcrição e tradução. ANAs são detectados principalmente por ensaios de imunofluorescência (IF) indireta, nos quais os soros a serem analisados são incubados com linhagem de células tumorais humanas mantidas em cultura (p. ex., células Hep2) e fixadas em lâminas de microscopia. Em seguida, a ligação do anticorpo presente no soro do paciente com o antígeno é visualizada pela microscopia da fluorescência após a incubação da lâmina com um reagente anti-imunoglobulina humana marcado com fluoresceína. Os resultados são expressos em termos de padrão de fluorescência, bem como em título final dos soros no qual a fluorescência pode ainda ser observada. Os padrões de ligação do anticorpo são vários e diferem dependendo da localização do antígeno-alvo macromolecular envolvido, sendo que alguns padrões predominam. Difusos ou homogêneos (em decorrência de anticorpos anti-histonas) Com borda (um padrão incomum em decorrência de anticorpos anti-proteínas de envelope nuclear e DNA duplo [ds]) Pontilhado (em decorrência de anticorpos para Sm, RNP, Ro/SS-A, La/SS-B e outros antígenos) Nucleolar Centroméricos. O padrão homogêneo é encontrado em todas as doenças difusas do tecido conjuntivo, inclusive no lúpus eritematoso induzido por medicamentos; correlaciona-se com o fator LE e com anti-histona. O padrão pontilhado grosso é encontrado no soro de diferentes doenças: lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia, doença reumatoide, síndrome de Sjögren e doença mista do tecido conjuntivo. O padrão nucleolar é encontrado mais frequentemente na esclerodermia, mas também em alguns casos de lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren e doença reumatoide. Condições associadas Testes positivos para FAN: LES e outras doenças reumáticas, doenças autoimunes específicas de órgão, doenças linfoproliferativas e infecções crônicas. Muitos fármacos induzem FAN e, menos comumente, uma síndrome semelhante ao lúpus. FANs de baixa titulação são relativamente comuns entre adultos saudáveis. Indicações: O teste para FAN por meio de imunofluorescência indireta é uma investigação inicial muito útil quando existe Carolina Martins - XXVII uma suspeita clínica de LES, lúpus induzido por fármacos, doença mista do tecido conectivo ou esclerodermia. FAN pode ser útil para fornecer informação prognóstica para pacientes com fenômeno de Raynaud isolado, e na identificação daqueles com risco aumentado para doença reumática sistêmica. Interpretação dos resultados: A sensibilidade de um teste FAN, por um ensaio indireto de imunofluorescência para LES, é muito alta (95%). Um resultado negativo, portanto, é uma evidência muito forte para este diagnóstico e geralmente elimina a necessidade de prosseguir com os testes para anticorpos anti-antígenos nucleares específicos (por exemplo, dsDNA, Sm, RNP). Pode ocorrer, por outro lado, aparecer um teste FAN falso-negativo, que foi determinado por meio de Elisa ou exame de partículas multiplex. Assim, Elisa negativo, ou outro teste de alta sensibilidade negativo para FAN, não deve ser o único motivo para excluir o diagnóstico de LES; quando a suspeita clínica justifica, FAN deve ser determinado por imunofluorescência indireta. Um teste FAN positivo é um dos critérios diagnósticos para o lúpus induzido por fármacos e para a doença mista do tecido conectivo. A sensibilidade de FAN para esclerodermia é de 85%. Em geral, a probabilidade de uma doença autoimune subjacente aumenta com a titulação de FAN. No entanto, como a especificidade de FAN é limitada, o valor de um teste positivo depende da probabilidade pré-teste da doença. No contexto clínico apropriado, um FAN positivo por imunofluorescência fornece evidente de apoio para a doença e deve levar a exames imediatos para anticorpos anti- antígenos nucleares específicos. Determinações séricas de FAN não são úteis para monitorar a atividade da doença. Anticorpos Anti-DNA Os anticorpos anti-DNA (anti-DNA) são marcadores sorológicos de LES e representam um critério na classificação dos pacientes com essa doença. Esses anticorpos se ligam a sítios antigênicos tanto da molécula de fita simples (ssDNA)
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