Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL ARTIGOS 215 A 218-A, CÓDIGO PENAL PROF. RENATA MACEDO DE SOUZA VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE – ART. 215, CÓDIGO PENAL OBJETO JURÍDICO – a liberdade sexual; SUJEITOS - Ativo: qualquer pessoa; Passivo: qualquer pessoa; ELEMENTOS OBJETIVOS - A conduta incriminada consiste em ter conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. Elementar do crime é a fraude. É o ardil, o engodo que induz a vítima em erro, levando-a a crer numa situação falsa. ELEMENTO SUBJETIVO – o dolo; CONSUMAÇÃO - com a realização do ato libidinoso, seja ele qual for. Não é preciso que o agente consiga dar vazão à sua concupiscência. TENTATIVA - ocorre quando o sujeito é impedido de prosseguir com a execução do ato sexual. FORMA QUALIFICADA - nos termos do parágrafo único do art. 215 do CP, “se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa”. Não é preciso que o sujeito obtenha referida vantagem, sendo suficiente a intenção de faze-lo. PENA E AÇÃO PENAL - A violação sexual mediante fraude é apenada com reclusão, de dois a seis anos. A Lei n. 12.015, de 2009, elevou a sanção cominada ao art. 215 do CP. A ação penal é pública incondicionada. IMPORTUNAÇÃO SEXUAL Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. Introdução O crime de importunação sexual, caracterizado pela realização de ato libidinoso na presença de alguém e sem o seu consentimento, foi tipificado no ano passado a partir da sanção da Lei 13.718/18, que teve como base o projeto (PL 5452/16) de autoria da senadora Vanessa Grazziotin. A alteração no Código Penal trazida pela lei tem como aspecto positivo solucionar um problema prático para operadoras e operadores do Direito, que se viam diante de uma lacuna legislativa entre a tipificação das condutas de estupro e de importunação ofensiva ao pudor. BEM JURÍDICO PROTEGIDO - a liberdade sexual e o direito à intimidade da pessoa humana. SUJEITOS DO DELITO - Tanto o sujeito ativo como o sujeito passivo podem ser qualquer pessoa. TIPO OBJETIVO - para configuração do delito em estudo, é necessário que o ato libidinoso seja praticado com o fim específico de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro, mas não há o emprego de violência ou da grave ameaça. Deve ocorrer o dissenso ou consentimento (válido) da vítima como elemento essencial para a tipificação ou o afastamento da tipicidade da conduta. Se a vítima consente na prática do ato libidinoso não há crime. TIPO SUBJETIVO - é caracterizado pelo dolo, na vontade em satisfazer a própria lascívia ou de a de terceiros, não bastando o simples toque, por exemplo. Assim, deve ser ato doloso em que se constitui a satisfação do agente, ao mesmo tempo em que ofende a liberdade sexual da vítima. OBS.: caso um indivíduo que, num rompante, levante a saia de uma mulher para humilhá-la em público, pratica injúria real e não importunação sexual, ainda que nesta conduta revele sua nudez. CONSUMAÇÃO - o crime se consuma com a prática de um ato que evidencie o assédio, não o reconhecendo como crime habitual. TENTATIVA - admitida. AÇÃO PENAL - ação pública incondicionada. ASSÉDIO SEXUAL Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. Parágrafo único. (VETADO) § 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. BEM JURÍDICO PROTEGIDO - a liberdade sexual e o direito à intimidade da pessoa humana, em especial o respeito no ambiente laboral para que o indivíduo possa exercer seu ofício sem qualquer intimidação ou constrangimento. SUJEITOS DO CRIME Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa, tanto homem quanto mulher. Entretanto, trata- se de delito especial próprio, de certo que exige uma qualidade pessoal do agente, que deve ser superior hierárquico ou ter ascendência sobre a vítima. Não é admitido o delito em estudo quando a conduta é realizada por agente que ocupe cargo ou função equivalente ao da vítima. É admissível a coautoria e participação. Sujeito Passivo: qualquer pessoa, tanto homem quanto mulher, desde que figure como inferior hierárquico ou esteja submetido à ascendência do agente. OBS.: Pode ocorrer o delito entre pessoas do mesmo gênero. • TIPO OBJETIVO: preceito primário da norma, ou seja, constranger alguém com a intenção de obter vantagem ou favorecimento sexual, aproveitando-se da condição de superioridade hierárquica ou ascendência no exercício laborativo. Constranger – significa importunar, incomodar, embaraçar seriamente a vítima denotando uma forma sutil de obrigação. Pode ser praticado através de palavras, gestos, escritos ou qualquer outro meio idôneo em que se vislumbre ato de insinuação sexual, delito exclusivamente comissivo, mesmo que a realização seja de modo sútil e apresente duplo sentido. Superior hierárquico – decorrente da relação laboral, no âmbito da Administração Pública. Cargo e função: expressões típicas da estrutura da Administração Pública, conforme apresentado no art. 3º da Lei n.º 8.112/1990, cargo conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser realizadas pelo servidor. Por sua vez, função pública é a atribuição ou atividade específica ou um conjunto delas, cujo o poder público incumbe a um agente administrativo ou a um conjunto deles. Emprego: é típico da atividade privada constitui a prestação de serviços de forma contínua a empregador, sob o recebimento de salário. OBS.: Vítima na condição de aprendiz, que ainda não completou 16 anos, pode ser sujeito passivo no crime. O TIPO SUBJETIVO - o dolo é o tipo subjetivo do injusto, consistente no especial fim de obter vantagem ou favorecimento sexual. Sendo outro o objetivo buscado pelo agente, como somente humilhar vítima, não se configura assédio sexual, sendo substituído por outro tipo penal, como injúria real ou constrangimento ilegal. A importunação constrangedora do assediador na busca do ato sexual pretendido, revestida do dissenso da vítima. OBSERVAÇÕES: a) Se na abordagem há contato físico, a conduta amolda-se ao tipo penal previsto no art. 213, CP, estupro; b) Se a vítima, apesar de ter recusado, atender a solicitação da prática do ato sexual, não se importa com a investida do agente, não se configura o delito, já que para que se perfaça o delito é imprescindível não só o desvalor da ação como também o desvalor do resultado. c) Não é necessária uma abordagem frequente, mas de que seja persistente e com intensidade. d) A existência de relacionamento anterior entre vítima e agressor, bem como uma amizade não tem o condão obrigar a vítima a suportar o assédio do agressor. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA a) CONSUMAÇÃO: no momento em que o agente efetua a importunação, que deve ser contrária à vontade da vítima. Não é necessário que o agente obtenha a vantagem ou o favor sexual almejado. b)TENTATIVA: é admissível. Apesar de ter sido desencadeado o ato lesivo ao bem jurídico, a vítima não chega a tomar conhecimento da pretensão ao agente. OBSERVAÇÕES a)O crime de assédio sexual pode ser um “crime-meio” ou subsidiário, pois caso o agente utilize de violência ou grave ameaça contra a vítima, concretizando o ato libidinoso, a conduta se amolda tipo do crime de estupro. b)Constrangimento ilegal (art.146, CP) X Assédio Sexual: no primeiro, o agente se utiliza de violência ou grave ameaça de qualquer outro meio capaz de reduzir a resistência da vítima, para força-la a não fazer o que a lei permite ou a fazer o que ela não determina. No assédio sexual a proteção é voltadapara a liberdade sexual e à dignidade humana nas relações de trabalho. Princípio da especialidade. CAUSA DE AUMENTO DE PENA: se a vítima é menor de 18 anos, a pena é aumentada em até 1/3 (um terço). AÇÃO PENAL: ação penal pública incondicionada. OBSERVAÇÃO Relação professor e aluno - O entendimento majoritário doutrinário é a de que não existe vínculo empregatício entre as referidas partes para a ocorrência de superioridade hierárquica do professor em face aos alunos, logo não cabe para tal situação a atribuição do crime de assédio sexual. Entretanto, ao realizar julgados, apesquisas na jurisprudência, é possível verificar, em muitos consideração do crime em exame à referida situação, conforme acórdão a seguir: “PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME DE ASSÉDIO SEXUAL PRATICADO POR PROFESSOR DE INSTITUTO FEDERAL DE ENSINO (IFAM) EM FACE DE ALUNAS MENORES DE IDADE. CP, ART. 216-A, § 2º. MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS DEMONSTRADAS. DEPOIMENTOS DAS VÍTIMAS. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. DOLO CONFIGURADO. MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO. RECURSOS DE APELAÇÕES NÃO PROVIDOS. 1.O crime de assédio sexual caracteriza-se pelo constrangimento praticado por um superior hierárquico em face da vítima, onde o agente aproveita-se de seu cargo para obter, forçadamente, favorecimento sexual com seu subordinado. 2.Especificamente quanto à relação ao assédio sexual praticado por professor em face de aluno, tem-se visto discussões doutrinárias sobre a matéria, no sentido de não ser considerada relação empregatícia, ou de superioridade, uma vez que o vínculo que o aluno tem se dá pela instituição de ensino. A controvérsia gira em torno da existência ou não da relação de superioridade ou ascendência funcional na relação entre professor e aluno, o que originou opiniões diferenciadas dos doutrinadores. 3.Assim, é possível observar que são divididos os entendimentos quanto ao assédio sexual entre professor e aluno, uma vez que, dada a particularidade de cada situação, pode ser considerada como assédio. Em conformidade com o entendimento de diversos doutrinadores, deve-se considerar a agressão sofrida pela vítima, sendo possível a ocorrência de assédio sexual nas relações de ensino, considerando, portanto, o caráter privado da ação, cabendo à vítima a escolha de promover a ação penal ou não, o que não seria possível se considerada a ocorrência de outro delito que não o de assédio sexual.” (TRF1 – Processo nº: 0013643-38.2015.4.01.3200/AM – RELATORA: DESEMBARGADORA FEDERAL MONICA SIFUENTES. Data do julgamento: 25/06/2019. Data da publicação: 26/07/2019) CAPÍTULO I-A DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL Registro não autorizado da intimidade sexual Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo. BEM JURÍDICO PROTEGIDO - a liberdade sexual e o direito à intimidade da pessoa humana. SUJEITOS DO DELITO - Tanto o sujeito ativo como o sujeito passivo - qualquer pessoa. TIPO OBJETIVO - o crime consiste no ato do agente produzir (criar, financiar), registrar (fotografar, filmar, gravar etc.) cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes. TIPO SUBJETIVO - Elemento subjetivo é o dolo. Não se exige especial fim de agir. Não admite modalidade culposa. Caráter íntimo e privado. A cena registrada deve ter sido praticado em caráter íntimo e privado. Se o agente filma um casal mantendo relações sexuais em uma praça, por exemplo, não configura o crime. . Sem autorização dos participantes Se há autorização, o fato é atípico, salvo em se tratando de criança ou adolescente, situação na qual configura o crime do art. 240 do ECA. Vale ressaltar que para a não configuração do crime em tela, deve a autorização ter sido dada por todos os participantes. Se faltar a autorização de um dos participantes do ato, haverá crime. TENTATIVA É possível. Isso porque se trata de crime plurissubsistente no qual a execução pode ser fracionada em vários atos. Princípio da especialidade Se o agente faz o registro indevido e posteriormente divulga a cena, deve responder pelos crimes dos arts. 216-B e 218-C em concurso material: Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. AÇÃO PENAL Trata-se de crime de ação pública incondicionada. Infração de menor potencial ofensivo Trata-se de infração de menor potencial ofensiva, de forma que o rito é sumaríssimo (Lei nº 9.099/95), cabendo transação penal e suspensão condicional do processo. FIGURA EQUIPARADA Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo. TIPO OBJETIVO No caput, a cena registrada é verdadeira. Neste parágrafo único, por outro lado, a fotografia, vídeo ou áudio não é autêntica. Foi feita uma montagem, ou seja, foram acrescentados elementos que não ocorreram na realidade. Ex: o agente pega imagem de uma modelo nua e, por meio do programa de computador Adobe Photoshop troca o rosto da modelo pelo da vítima. SUJEITOS DO DELITO - Tanto o sujeito ativo como o sujeito passivo podem ser qualquer pessoa. TIPO SUBJETIVO - É o dolo. Não se exige especial fim de agir. Não se exige o agente tenha feito isso para se vingar da vítima ou alguma outra motivação especial. Não admite modalidade culposa. CONSUMAÇÃO - O crime se consuma ainda que o agente tenha feito a montagem com o intuito apenas de diversão, ou seja, com a intenção de “brincar” com a vítima. ALTERAÇÃO NA LEI N.º 11.340/2006, “LEI MARIA DAPENHA” A Lei nº 13.772/2018 ainda promoveu uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 ((Lei Maria da Penha) para deixar expresso que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência doméstica, classificada como violência psicológica que deve ser entendida como qualquer forma de dano emocional, diminuição da autoestima, prejuízo ou controle das ações, comportamentos, crenças e decisões da mulher. ANTES DA LEI 13.772/2018 Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: (...) II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; APÓS A EDIÇÃO DA LEI N.º 13.772/2018 Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: (...) II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguiçãocontumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; OBSERVAÇÃO Uma vez que a suposta vítima mantenha relação sexual ou exponha nudez em local público ou local particular vigiado (que informe a condição de estar filmando o ambiente) não poderá servir de pauta para a realização de uma conduta em estudo. O comportamento das pessoas registradas que, sabendo ou devendo saber que estão em um ambiente em que há registro de imagens e sons, e ainda assim prosseguem com seu intento libidinoso deve afastar a antijuridicidade a partir do exercício regular de um direito (vigiar patrimônio) ou do estrito cumprimento do dever legal (garantir segurança pública). Por fim, o ato obsceno (art. 233, CP) de natureza sexual ou libidinosa praticado por alguém diante de câmeras é punível pelas autoridades, que devem registrar tal prática sempre que possível para a garantia de materialidade e autoria delitivas. DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL Estupro de vulnerável Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 2o (VETADO). § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime BEM JURÍDICO TUTELADO - a liberdade sexual em sentido amplo dos menores de 14 anos e vulneráveis, inclusive sua integridade e autonomia sexual. Hipóteses de vulnerabilidade • Indivíduo menor de 14 anos; • Pessoa que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem discernimento necessário para a prática do ato sexual ou libidinoso; • Pessoa que, por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência. Vulnerável é qualquer pessoa em situação de fragilidade ou perigo. A lei não se refere aqui à capacidade para consentir ou à maturidade sexual da vítima, mas ao fato de se encontrar em situação de maior fraqueza moral, social, cultural, fisiológica, biológica etc. Uma jovem menor, sexualmente experimentada e envolvida em prostituição, pode atingir à custa desse prematuro envolvimento um amadurecimento precoce. Não se pode afirmar que seja incapaz de compreender o que faz. No entanto, é considerada vulnerável, dada a sua condição de menor sujeita à exploração sexual. Incluem-se no rol de vulnerabilidade casos de doença mental, embriaguez, hipnose, enfermidade, idade avançada, pouca ou nenhuma mobilidade de membros, perda momentânea de consciência, deficiência intelectual, má formação cultural, miserabilidade social, sujeição a situação de guarda, tutela ou curatela, temor reverencial, enfim, qualquer caso de evidente fragilidade. SUJEITOS DO DELITO a) ATIVO: qualquer pessoa; b) PASSIVO: pessoa do gênero feminino ou masculino, desde que esteja na faixa etária dos catorze anos ou que seja considerado vulnerável. TIPO OBJETIVO - a conduta vedada pelo legislador no tipo penal do art. 217-A, caput, CP, consiste em ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos. No parágrafo primeiro do supracitado artigo, incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém vulnerável em decorrência de transtorno ou deficiência mental ou que não possa oferecer resistência. Vulnerabilidade – diz respeito a sua capacidade de reagir a intervenções de terceiros quando no exercício de sua sexualidade, seja em razão da idade ou condição da pessoa, sendo mais suscetível à ação de quem pretende intervir em sua liberdade sexual. TIPO SUBJETIVO - representado pelo dolo expressamente apresentado pela vontade consciente do agente para a prática dos elementos objetivos do tipo penal. CONSUMAÇÃO- com a cópula vaginal ou com prática de ato libidinoso objetivado pelo agente. TENTATIVA - é admissível; FORMAS QUALIFICADAS - se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave (art. 217-A, paragrafo terceiro, CP e, ainda, se resulta morte (art. 217-A, paragrafo quarto, CP). AÇÃO PENAL - ação pública incondicionada. OBSERVAÇÕES Sexo ou ato libidinoso com menor de 14 anos é estupro de vulnerável, independente de ter havido consentimento. Este é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que solidificou sua jurisprudência em uma súmula: Súmula 593 O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente. Entretanto, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, TJ-SP, apresentou o entendimento de que é possível aplicar o novo tipo penal por ser mais benéfico ao réu, uma vez que o novo tipo penal de importunação sexual é mais adequado e proporcional às circunstâncias no caso da inexistência de violência ou grave ameaça. Ao tratar de atos libidinosos, difere os crimes de estupro dos de importunação sexual. Enquanto o primeiro exige a presença de violência ou grave ameaça, a importunação sexual prevê sanção àquele que, sem a anuência não é sinônimo de algo forçado contra a vítima para pratica de ato libidinoso. Corrupção de menores Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Parágrafo único. (VETADO) OBJETO JURÍDICO - a proteção à liberdade sexual, em especial ao menor de 14 anos. SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa; SUJEITO PASSIVO: a pessoa menor de 14 anos; OBJETO MATERIAL - a pessoa menor de 14 anos induzida à satisfação da lascívia de outrem; TIPICIDADE OBJETIVA - Podem ser usados vários meios , como palavras, publicações, representações, fotografias, exibições lascivas e obscenas, desde que idôneos à persuasão. Também ocorre por intermédio da prática de qualquer ação que objetive o prazer sexual, abrangendo a própria conjunção carnal ou ato libidinoso. O agente busca persuadir e convencer a vítima a satisfazer a lascívia de outrem, visando incutir em seu espírito hábitos e práticas sensuais. TIPO SUBJETIVO - o dolo. CONSUMAÇÃO: com o induzimento da vítima a satisfazer a lascívia de outrem; TENTATIVA: admissível, mas de difícil configuração. AÇÃO PENAL: ação pública incondicionada Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos BEM JURÍDICO PROTEGIDO: a liberdade, dignidade sexual em sentido amplo dos menores de catorze anos; SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa; SUJEITO PASSIVO: pessoa do gênero masculino ou feminino, desde que menor de catorze anos; TIPO OBJETIVO: tipifica-se a conduta daquele que pratica na presença de menor de 14 anos ou induz que esse menor presencie a prática de qualquer ato que vise à satisfação sexual alheia ou própria. Busca o agente despertar na vítima o desejo ou libido, não é necessário a prática com a vítima, basta que o sujeito passivo presencie qualquer ação de cunho sexual. TIPO SUBJETIVO: o dolo; CONSUMAÇÃO: com a prática ou com o induzimento do menor a presenciar a conjunção carnal ou outro ato libidinoso. TENTATIVA: é admissível. OBSERVAÇÕES: • Os termos “presença” e “presenciar”não significam proximidade física, podendo o delito ser praticado por meio da internet, por filme pornográfico ou outro meio permissivo para atingir a captação das imagens pelo menor; • O crime em estudo não se confunde com o crime previsto no art. 241-D, da Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Nesta figura, o acesso da criança ao material pornográfico destina-se a convencê-la a com o agente praticar qualquer ato libidinoso; • O tipo penal apresenta somente núcleo induzir descrito no tipo penal, por interpretação extensiva, deve-se incluir a instigação e o auxílio, formas similares de participação.
Compartilhar