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FISIOLOGIA APLICADA A FISIOTERAPIA Isadora Rebolho Sisto Ergometria/calorimetria Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as formas de avaliação e mensuração, com medidas diretas e indiretas, do esforço físico, da atividade física e do exercício. � Apontar os diferentes tipos de ergômetros e equipamentos para avaliação e mensuração do esforço físico. � Demonstrar a relação entre a avaliação ergométrica e a avaliação, a prescrição e o controle das capacidades funcionais. Introdução O consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) é um importante parâmetro preditor do desempenho aeróbio, utilizado no controle e prescrição de treinamento físico; é um índice muito utilizado para determinar e classificar a capacidade funcional cardiorrespiratória. Essa medida é a que melhor representa, tanto quantitativa como qualitativamente, a capacidade funcional do sistema cardiorrespiratório integrado ao sis- tema muscular durante o exercício físico e a habilidade de regulação da demanda energética que cada intensidade exige para realização das atividades, já que há uma perfeita congruência do organismo em captar, transportar e utilizar o oxigênio para os processos aeróbios de produção de energia durante o esforço físico. Neste capítulo, você irá identificar as diferentes formas de avaliação e mensuração da ergometria, diferenciando as medidas diretas e indiretas de avaliação do esforço físico, apontar os diferentes tipos de ergômetros e equipamentos para avaliação do esforço físico e demonstrar a relação entre a avaliação ergométrica e a avaliação, a prescrição e o controle das capacidades funcionais. Formas de avaliação e mensuração da atividade física e do exercício Um dos componentes mais importantes da aptidão física é a resistência car- diorrespiratória, queconsiste na capacidade de realizar exercícios dinâmicos envolvendo grandes grupos musculares em intensidade moderada a alta por períodos prolongados. Toda avaliação de aptidão física deve incluir uma avaliação da função cardiorrespiratória em repouso e em exercício (SILVER- THORN, 2017). O consumo máximo de oxigênio (VO2máx) medido diretamente é a medida mais válida de aptidão funcional do sistema cardiorrespiratório. O VO2máx ou taxa de consumo de oxigênio durante o exercício máximo, reflete a capa- cidade do coração, dos pulmões e do sangue de levar oxigênio aos músculos em exercício durante o exercício dinâmico envolvendo uma grande massa muscular (PESERICO et al., 2011). O critério utilizado para determinar o alcance do VO2máx real durante um teste de tolerância ao exercício máximo é o platô no consumo de oxigênio (Figura 1). A medida direta é considerada padrão ouro (gold standard) por ser o pro- cedimento mais fidedigno, sendo realizada através do teste ergoespirométrico, no qual o indivíduo é submetido a cargas crescentes de esforço, analisando-se as frações expiradas de oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2) durante o exercício e ventilação pulmonar, avaliando assim, com precisão, a capacidade cardiorrespiratória e metabólica. Todavia, o teste ergoespirométrico apresenta custo elevado, os equipamentos são sofisticados e necessita-se de mão-de-obra especializada para operá-los, maior quantidade de tempo para a avaliação de cada indivíduo e, ainda, maior motivação, já que os testes geralmente são efetuados em ambientes laboratoriais; por esses motivos, têm-se proposto métodos para determinação indireta do VO2 máx (PESERICO et al., 2011). A determinação indireta é realizada durante testes de esforços submáximos ou máximos, nos quais são utilizadas determinadas variáveis fisiológicas cujos valores são inseridos em equações matemáticas. Várias pessoas podem ser avaliadas ao mesmo tempo, o custo é baixo e as condições de teste podem ser mais próximas da especificidade da modalidade (PESERICO et al., 2011; ZAGATTO; PAPOTI; GOBATTO, 2009). Ergometria/calorimetria2 O VO2 máximo e o submáximo são expressos em termos absolutos ou relativos. O VO2 absoluto é medido em litros por minuto (L/min) ou mililitros por minuto (mL/min). Proporciona uma medida do custo energético para ativi- dades que não envolvam a sustentação do peso corporal, como cicloergometria de perna ou braço. O VO2 absoluto está diretamente relacionado ao tamanho corporal; geralmente, os homens apresentam um VO2 absoluto maior do que as mulheres (HEYWARD, 2011). O VO2 máximo relativo é utilizado para classificar o nível de aptidão cardiorrespiratória de um indivíduo ou comparar os níveis de aptidão física de indivíduos com diferentes pesos corporais. O VO2 relativo também pode ser utilizado para estimar o custo energético de atividades que envolvem a sustentação do peso corporal, como caminhar, correr e subir escadas (SIL- VERTHORN, 2017). A taxa de consumo de oxigênio pode ser expressa como VO2 bruto ou VO2 líquido. O VO2 bruto consiste na taxa total de consumo de oxigênio e reflete os custos calóricos de repouso e do exercício (VO2bruto = VO2 em repouso + VO2 em exercício). Entretanto, o VO2 líquido representa a taxa de consumo de oxigênio em excesso do VO2 em repouso e serve para descrever o custo calórico do exercício. Tanto o VO2 bruto como o líquido podem ser expressos em termos absolutos (L/min) ou relativos (mL/kg/ min) (HEYWARD, 2011). Teste de esforço progressivo Para determinar objetivamente a aptidão cardiorrespiratória funcional, uti- lizam-se os testes de esforço. O VO2 máx, determinado a partir de testes de esforço progressivo máximo ou submáximo, é utilizado para classificar o nível de aptidão cardiorrespiratória (Quadro 1). Os fisioterapeutas podem utilizar os dados iniciais e subsequentes para avaliar o progresso, por exemplo, de participantes de um programa de exercícios, para estabelecer metas. Ainda, utilizam-se a frequência cardíaca e os dados de consumo de oxigênio obtidos durante os testes de esforço progressivo para fazer prescrições de exercícios acuradas (HEYWARD, 2011). 3Ergometria/calorimetria Fonte: Adaptado de Heyward (2011, p. 87). Idade (anos) Ruim Regular Boa Excelente Superior MULHERES 20–29 ≤35 36–39 40–43 44–49 50+ 30–39 ≤33 34–36 37–40 41–45 46+ 40–49 ≤31 32–34 35–38 39–44 45+ 50–59 ≤28 29–30 31–34 35–39 40+ 60–69 ≤25 26–28 29–31 32–36 37+ 70–79 ≤23 24–26 27–29 30–36 37+ HOMENS 20–29 ≤41 42–45 45–50 51–55 56+ 30–39 ≤40 41–43 44–47 48–53 54+ 40–49 ≤37 38–41 42–45 46–52 53+ 50–59 ≤34 35–37 38–42 43–49 50+ 60–69 ≤30 31–34 25–38 39–45 46+ 70–79 ≤27 28–30 31–35 36–41 42+ Quadro 1. Classificação da aptidão cardiorrespiratória Antes de iniciar um programa de exercícios vigorosos (> 60% VO2 máx ou > 6 METS [equivalentes metabólicos]), recomenda-se um teste de esforço progressivo máximo para (HEYWARD, 2011; AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2000): � Homens (>45 anos) e mulheres (>55 anos); � Indivíduos de qualquer idade, com risco moderado (dois ou mais fatores de risco de cardiopatia coronariana); � Indivíduos com alto risco, com um ou mais sinais ou sintomas de doença cardiovascular e pulmonar; � Indivíduos com alto risco, com doença cardiovascular, pulmonar ou metabólica conhecida. Ergometria/calorimetria4 Os testes de esforço submáximo podem ser aplicados em indivíduos com baixo risco e com risco moderado, caso estejam iniciando um programa de exercícios moderados (40–60% do VO2 máx ou 3–6 METS) (HEYWARD, 2011; AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2002). Pode-se aplicar um teste de esforço progressivo (TEP) máximo ou sub- máximo para avaliar a aptidão cardiorrespiratória do indivíduo. A escolha de um TEP depende de: idade, estratificação de risco (baixo, moderado ou alto); razões para aplicar o teste (aptidão física ou clínico); disponibilidade de equipamento adequado e de pessoal qualificado (HEYWARD, 2011). Geralmente, em ambientes clínicos e de pesquisa, o VO2 máx é medido de forma direta e requer equipamentos caros e uma equipe experiente. Emborao VO2 máx possa ser predito com um bom grau de acurácia a partir da intensi- dade máxima de exercício, os testes submáximos também proporcionam uma estimativa razoável do nível de aptidão cardiorrespiratória, são mais baratos, requerem menos tempo e representam menor risco. Entretanto, são consi- derados menos sensíveis como ferramenta de diagnóstico de coronariopatia (ZAGATTO; PAPOTI; GOBATTO, 2009). Contudo, qualquer teste de esforço deve ser progressivo e de múltiplos estágios. Protocolos de teste de esforço máximo Muitos protocolos de teste de esforço máximo têm sido planejados para avaliar a capacidade cardiorrespiratória. Deve-se selecionar uma modalidade de exercício e um protocolo de testes adequado para o indivíduo, de acordo com a idade, o sexo e o estado de saúde e de aptidão física. Comumente, as modalidades de exercício administradas são caminhada ou corrida na esteira e bicicleta estacionária. O teste de esforço pode ser contínuo ou descontínuo. O contínuo é realizado sem repouso entre os incrementos de trabalho. Os testes de esforço contínuos podem variar na duração de cada estágio de exercício e na magnitude do incremento da intensidade do exercício entre os estágios (HEYWARD, 2011). Segundo Heyward (2011), os testes contínuos, como o teste de rampa, são muito utilizados porque podem ser individualizados de acordo com a tolerância ao exercício estimada para cada paciente. Protocolos de rampa proporcionam incrementos contínuos e frequentes na taxa de trabalho ao longo de todo o teste, de forma que o VO2 aumenta linearmente. Para testes de esforço descontínuo, o paciente repousa de 5 a 10 minutos entre as cargas de trabalho. A carga de trabalho é progressivamente aumentada até que o paciente alcance a tolerância máxima ao exercício (exaustão). Cada estágio do protocolo descontínuo dura 5 ou 6 minutos, possibilitando que o VO2 atinja um estágio estável. 5Ergometria/calorimetria Ergômetros e equipamentos para avaliação e mensuração do esforço físico Teste de esforço máximo em esteira O teste de esforço máximo em esteira ergométrica, o exercício é realizado em uma esteira monitorizada com velocidade e inclinação variáveis (Figura 2). A velocidade varia até 25 mph, ou seja, 40km/h, e a inclinação é medida em unidades de elevação por 100 unidades horizontais, sendo expressa em percen- tual. A carga de trabalho na esteira é elevada, aumentando-se a velocidade ou a inclinação ou ambas. A carga de trabalho normalmente é expressa em quilômetros por hora (km/h ou km h-1) e em percentual de inclinação (HEYWARD, 2011). Figura 1. Esteira ergométrica. Fonte: Heyward (2011, p. 92). Ergometria/calorimetria6 Medir o consumo máximo de oxigênio é difícil e caro; por isso, o ACSM desenvolveu equações para estimar o custo metabólico do exercício (VO2). Essas equações proporcionam uma estimativa válida do VO2 somente para exercícios em estado estável (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDI- CINE, 2002) (Quadro 2). Fonte: Adaptado de Heyward (2011, p. 93). Quadro 2. Equações metabólicas para estimar o VO2 bruto — American College of Sports Medicine Protocolo de esteira de Balke Para aplicar o protocolo de teste de esforço de Balke e Ware, de 1959, a ve- locidade da esteira deve ser ajustada para 3,4 mph (91,1 m/min), e o grau de inclinação inicial para 0% durante o primeiro minuto de exercício. Deve-se manter a velocidade da esteira constante do início ao fim do teste. No início do segundo minuto do exercício, aumenta-se a inclinação para 2%. Depois disso, no início de cada minuto adicional do exercício, aumenta-se a inclinação em apenas 1% (HEYWARD, 2011). 7Ergometria/calorimetria Para estimar o VO2 máx existe uma equação de predição do protocolo de Balke (Quadro 3). Fonte: Adaptado de Heyward (2011, p. 94). Quadro 3. Equação de caminhada do American College of Sports Medicine Protocolo de esteira de Bruce O teste de esforço de Bruce, Kusumi e Hosmer, de 1973, é um protocolo de esteira em múltiplos estágios (Figura 3). O protocolo aumenta a carga de tra- balho mudando a velocidade e o percentual de inclinação da esteira. Durante o primeiro estágio do teste (minutos 1–3), o indivíduo normal caminha à ca- dência de 1,7 mph, com uma inclinação de 10%. No início do segundo estágio (minutos 4–6), aumenta-se a inclinação em 2% e a velocidade para 2,5 mph (67 m/min). Em cada estágio subsequente do teste, aumenta-se a inclinação em 2% e a velocidade em 0,8 ou 0,9 (21,4 ou 24,1 m/min) até a exaustão do indivíduo. As equações de predição para esse protocolo foram desenvolvidas para estimar o VO2 máx de mulheres e homens ativos e sedentários, pacientes cardíacos e idosos (HEYWARD, 2011). Ergometria/calorimetria8 Figura 2. Protocolos de testes de esforço em esteira. Fonte: Heyward (2011, p. 95). 20 10 2 4 6 8 Tempo (min) Tempo (min) 10 12 14 16 3 6 9 12 15 18 20 18 16 14 12 10 % in cl in aç ão % in cl in aç ão % in cl in aç ão % in cl in aç ão ↑ 2% a cada 2 min Velocidade = 8,9 mph ↑ 2% a cada 3 min Velocidade conforme mostrada ↑ 3,5% a cada 2 min Velocidade = 2 mph após os primeiros 2 min 1,7 2,5 3,4 4,2 5 Costil e Fox (1969) Para: altamente treinados Aquecimento: caminhada ou corrida de 10 min Carga inicial de trabalho: 8,9 mph, 0%, 2 min Bruce et al. (1973) Para: normais e alto risco Carga inicial de trabalho: 1,7 mph, 10%, 3 min = normal 1,7 mph, 0,5%, 3 min = alto risco 12,5 10 7,5 5 2,5 2 4 6 8 10 12 ↑ 2 1/2% a cada 2 min Velocidade = 7 mph Tempo (min) Tempo (min) Maksud e Coutts (1971) Para: altamente treinados Aquecimento: caminhada de 10 min a 3,5 mph, 0% Carga inicial de trabalho: 7 mph, 0%, 2 min 21 17,5 14 10,5 7 3,5 2 1 2 2 2 2 2 2 2 4 6 8 10 12 14 16 Nughton et al. (1964) Para: cardíacos e alto risco Carga inicial de trabalho: 1 mph, 0%, 2 min ↑ 2,5% a cada 2 min Velocidade constante = cliente exausto em 7–10 min Após 12 min ↑ para 5% 2,5% a cada 3 min deste ponto em diante Velocidade como mostrada 10 107,5 7,5 1,5 2,52 3 3 3 3 3 12,5 12,5 2,5 5 5 % in cl in aç ão % in cl in aç ão 3 3 6 9 15 18 21 245 7 11 13 Tempo (min) Tempo (min) Ástrand modi�cado (Polloc et al., 1978) Para: altamente treinados Aquecimento: caminhada ou jogging de 5 min Carga inicial de trabalho: 5–8 mph, 0%, 3 min Wilson et al. (1978) Para: cardíacos e alto risco Carga inicial de trabalho: 1,5 mph, 0%, 3 min Protocolo modificado de Bruce O protocolo modificado de Bruce é mais adequado do que o protocolo de Bruce para indivíduos idosos e de alto risco. Contudo, com exceção dos primeiros 9Ergometria/calorimetria dois estágios, esse protocolo é similar ao protocolo padrão de Bruce. O estágio 1 inicia na inclinação de 0% e a uma cadência de caminhada de 1,7 mph. No estágio 2, o percentual de inclinação é aumentado para 5%. Para estimar o VO2 para o protocolo de Bruce modificado, existe outra equação diferente do protocolo padrão de Bruce, que é a equação metabólica para caminhada do American College of Sports Medicine (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2000; AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2002), disponibilizada no Quadro 3. Protocolo de rampa em esteira Em 1998, Kamisky e Whaley desenvolveram um protocolo de rampa padro- nizado para avaliar a capacidade cardiorrespiratória funcional de indivíduos sintomáticos, sedentários e aparentemente saudáveis. A velocidade da esteira aumenta gradualmente (em incrementos de 0,1 – 0,4 mph, ou 2,68 – 10,72 m) a cada minuto. A velocidade mínima é 5,8 mph (155 m/min). A inclinação em esteira também aumenta gradativamente (em 0 – 5%) a cada minuto. A inclinação mínima é 0% e a máxima 20%. A cada 3 minutos durante esse protocolo de rampa, as taxas de trabalho (velocidade e inclinação) igualam- -se às do protocolo tradicional de Bruce. O protocolo em rampa resulta em aumentos uniformes das respostas hemodinâmicas e fisiológicas ao exercício incremental e estima mais acuradamentea capacidade de exercício e o limiar ventilatório (HEYWARD, 2011). Teste de esforço máximo em cicloergômetro O cicloergômetro é um instrumento bastante utilizado para avaliar a aptidão cardiorrespiratória (figura 4). Em um cicloergômetro do tipo fricção, a resis- tência é aplicada contra a roda utilizando-se uma cinta e pêndulos pesados. A roda ajusta a carga de trabalho apertando ou afrouxando a correia do freio. A carga de trabalho no cicloergômetro é elevada mediante aumentos da re- sistência no volante. A produção de potência é normalmente expressa em quilogramas-metro por minuto (kgm/min) ou watts (1W = 6kgm/min), sendo medida pela equação: potência = força x distância/tempo (HEYWARD, 2011; PRESTON; WILSON, 2014). Para calcular o gasto energético utilize a tabela disponibilizada no Quadro 3. Ergometria/calorimetria10 Figura 3. Cicloergômetros (freio mecânico e freio elétrico, respectivamente). Fonte: Heyward (2011, p. 100). Protocolo de teste máximo em cicloergômetro de Astrand Para o protocolo de teste contínuo de Astrand de 1965, a produção de potência inicial é de 300 kgm/min (50W) para mulheres e 600 kgm/min (100W) para homens. Como a cadência de pedalada é 50 rpm, a resistência é de 1kg para mulheres (1kg x 6m x 50 rpm = 300 kgm/min) e 2kg para homens (2kg x 6m x 50 rpm = 600 kgm/min), ilustrado na Figura 3. Para estimar o VO2 deve-se utilizar a ergometria de perna citada na Figura 3. Teste de esforço máximo de step em banco A modalidade de exercício menos desejável para teste de esforço máximo é o step em banco. Durante esse teste, o indivíduo realiza um trabalho tanto positivo (fase ascendente) como negativo (fase descendente). Ainda, o ajuste da altura do banco e da cadência de passada para diferentes pesos corporais, dificultam extremamente a padronização do trabalho (HEYWARD, 2011; PRESTON; WILSON, 2014). 11Ergometria/calorimetria Figura 4. Protocolo de teste de esforço em cicloergômetro. Fonte: Heyward (2011, p. 101). Ástrand (1965) Tipo: contínuo Para: risco normal Carga inicial de trabalho: 600 kgm (100 W) (homens) 300 kgm (50 W) (mulheres) Ástrand (1956) Tipo: descontínuo Para: risco normal Carga inicial de trabalho: 720 kgm (100 W) McArdle et al. (1973) Tipo: contínuo Para: risco normal Carga inicial de trabalho: 900 kgm (150 W) Fox (1973) Tipo: descontínuo Para: risco normal Carga inicial de trabalho: 750–900 kgm (125 150 W) (homens) 450–600 kgm (75 100 W) (mulheres) Ca rg a de tr ab al ho (k gm ) Ca rg a de tr ab al ho (k gm ) Ca rg a de tr ab al ho (k gm ) Ca rg a de tr ab al ho (k gm )1800 (300 W) 1200 (200 W) 1260 (230 W) 1980 (330 W) 1620 (270 W) 1260 (230 W) 900 (150 W) 1080 (180 W) 900 (150 W) 720 (120 W) 1050 (175 W) 1500 (250 W) 1200 (200 W) 900 (150 W) 750 (125 W) 900 (150 W) 600 (100 W) 600 (100 W) 300 (50 W) 450 (75 W) 2 4 6 8 10 Homens Homens Mulheres Mulheres Tempo (min) Tempo (min) Tempo (min) Tempo (min) 0–5 15–20 30–35 45–50 0–5 30–3515–20 45–50 2 4 6 8 10 12 14 16 ↑300 kgm a cada 2 a 3 min (homens) ↑150 kgm a cada 2 a 3 min (mulheres) Freq. = 50 rpm ↑120 a 180 kgm a cada 5 min de período de trabalho Freq. = 60 rpm ↑80 kgm a cada 2 min Freq. = 60 rpm ↑180 kgm a cada 5 min de período de trabalho Intervalo de repouso = 10 min Freq. = 60 rpm A maioria dos protocolos de teste de step eleva a intensidade do trabalho pelo aumento gradual da altura do banco ou da cadência de passada. O trabalho (T) pode ser calculado utilizando-se a equação T=F x D, em que F é o peso corporal em quilogramas e D é a altura do banco multiplicada pelo número de passadas por minuto. As equações podem ser usadas para ajustar a altura do banco e a cadência de passada para diferenças em peso corporal com o objetivo de alcançar determinada taxa de trabalho: Altura do banco (cm) = trabalho (kgcm/min)/ peso corporal (kg) x cadência de passada Cadência de passada = trabalho (kgcm/min)/ peso coporal (kg) x altura do banco (cm) (passadas/min) Ergometria/calorimetria12 Avaliação ergométrica e prescrição e controle das capacidades funcionais É importante considerar os objetivos e os propósitos de um paciente ao ingressar em um programa de exercícios. O objetivo fundamental de se exercitar afeta a modalidade, a intensidade, a frequência, a duração e a progressão da pres- crição de exercícios (SILVERTHORN, 2017; HEYWARD, 2011; TORTORA; DERRICKSON, 2016). Um programa de exercícios aeróbios deve incluir as seguintes fases: aqueci- mento (5–10 min), condicionamento de resistência (20–60 min), volta à calma (5–10 min) e alongamento (> ou = a 10 min). A fase de aquecimento consiste em aumentar o fluxo sanguíneo para os músculos cardíaco e esquelético em funcionamento, aumentar a temperatura corporal, diminuir a chance de lesões musculares e articulares e reduzir as chances de ritmos cardíacos anormais. O aquecimento inicia com 5 a 10 minutos de atividade aeróbia de intensidade baixa (<40% do VO2 de reserva) a moderada (40–60% do VO2 de reserva) (SILVERTHORN, 2017). Na fase de condicionamento de resistência, os exercícios aeróbios são exe- cutados de acordo com a sua prescrição, seguindo os princípios (F:frequência, I: intensidade, T: tempo, T: tipo de modalidade). Essa fase tem uma duração de 20 a 60 min, dependendo da intensidade dos exercícios (PRESTON; WIL- SON, 2014). A fase de volta a calma ou desaquecimento é após os exercícios, com o intuito de reduzir o risco de complicações cardiovasculares causadas pela interrupção repentina do exercício. Nessa fase o indivíduo exercita-se de forma leve permitindo que a frequência cardíaca e a pressão arterial retornem aos níveis basais, sem a possibilidade de tonturas e desmaios (COSTANZO, 2011). A fase de alongamento dura em torno de 10 min e é logo após a fase de aquecimento e desaquecimento. São exercícios de alongamento estático para as pernas, região lombar, abdome, quadril, virilha e os ombros. Esses alongamen- tos reduzem as chances de câimbras ou dores musculares (HEYWARD, 2011). Nas últimas décadas, modelos e teorias comportamentais têm sido utiliza- dos na orientação de programas de promoção de atividade física. A atividade física deve ser incentivada e estimulada para a preservação da saúde e recu- peração da saúde. Portanto, compreender escolhas individuais no contexto social em que a pessoa vive como forma de conhecimento, além do nível de atividade física e fatores associados dos motivos para o comportamento motor dos indivíduos pode contribuir para traçar estratégias mais adequadas de promoção da saúde. No Quadro 4 podemos observar exemplos de diferentes 13Ergometria/calorimetria modalidades de exercício conforme a aptidão cardiorrespiratória de cada indivíduo (HEYWARD, 2011). Fonte: Adaptado de Heyward (2011). Quadro 4. Classificação de modalidades de exercício aeróbio Modalidades de exercícios físicos Conforme as necessidades funcionais observadas pelo fisioterapeuta em seu paciente, existem diferentes modalidades de exercícios que podem ser utilizadas para suprir diferentes necessidades. Os exercícios aeróbios contribuem para melhorar a resistência cardior- respiratória por produzir aumentos significativos no VO2 máximo. Uma das modalidades de treinamento é o treinamento contínuo, que prioriza o exercício aeróbio em intensidade baixa a moderada, porém sem intervalos (repouso). Uma vantagem é a manutenção da intensidade do exercício, sendo mais seguro, confortável e mais adequado para indivíduos que estão iniciando um programa de exercícios aeróbios. Exemplos de treinamento contínuo são a caminhada, a corrida, o ciclismo e a subida de escadas (HALL; BRODY, 2007; HALL, 2009). O treinamento descontínuo envolve a realização de vários blocos intermi- tentes de exercício aeróbio com intensidade de baixa a alta intercalada com períodos de descanso. Por ser intermitente, o treinamento contínuo permite umamaior intensidade de exercício, assim como uma maior quantidade total de trabalho. Essa versatilidade do treinamento descontínuo torna-o muito uti- Ergometria/calorimetria14 lizado por indivíduos com aptidão cardiorrespiratória baixa. Alguns exemplos deste treinamento é o treino intervalado e o treinamento de força em circuito (FLOYD; THOMPSON, 2012). A comparação das duas modalidades de treinamento, contínua ou descon- tínua, indica que o VO2 máximo melhora com maior intensidade no treino descontínuo, quando o volume de exercício é controlado; no entanto, as duas opções de treino possuem vantagens e desvantagens. A escolha da melhor modalidade deve ir ao encontro do objetivo inicial do treinamento (SILVER- THORN, 2017). O exercício resistido otimiza o funcionamento do desempenho muscular, restaurando, melhorando ou mantendo a força, a potência e a resistência à fadiga. Em consequência, é observado um aumento na força dos tecidos conjuntivos (tendões, ligamentos, tecido conjuntivo intramuscular), maior densidade mineral óssea e menor enfraquecimento ósseo pela desmineralização óssea. Além disso, ocorre diminuição da sobrecarga nas articulações durante a execução de atividades físicas e funcionais, redução no risco de lesões e aumento na sensação de bem estar e qualidade de vida. O treinamento de força, por exemplo, é formado por exercícios de fortalecimento, nos quais a musculatura esquelética controla cargas pesadas (resistência) durante um número baixo de repetições ou por um curto período de tempo. A consequência é o aumento na capacidade do músculo de produzir forma máxima (HALL; BRODY, 2007; HALL, 2009). O treinamento da potência muscular é embasado no treinamento de força muscular, pois esse é o elemento básico para o desenvolvimento de potência. Para implementar essa variável é necessário aumentar o trabalho do músculo ou reduzir o tempo necessário para produzir determinada força. Dessa forma, quanto maior a intensidade do exercício e menor o tempo necessário para gerar força, maior a potência muscular. Um exemplo desse treinamento é o treino pliométrico, que consiste de um alongamento rapidamente seguido de um encurtamento muscular (FLOYD; THOMPSON, 2012; RASCH, 2008). O treinamento de resistência à fadiga está relacionado à ação da musculatura esquelética em gerar movimento de uma carga leve por várias repetições ou, ainda, manter uma contração muscular por um longo período. Diferentemente do treino de força, no treinamento de resistência as cargas utilizadas são leves. A adaptação ocorre pelo aumento da capacidade oxidativa e metabólica do músculo, permitindo melhor distribuição e uso do oxigênio. Uma vantagem desse treinamento é gerar baixos níveis de sobrecarga sobre as articulações e tecidos moles (SILVERTHORN, 2017). 15Ergometria/calorimetria Artigo: Escalas de Borg e OMNI na prescrição de exercício em cicloergômetro, 2011. https://goo.gl/W3jFBa AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Manual para teste de esforço e prescrição de exercício. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. 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