Prévia do material em texto
1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 3 2 A NUTRIÇÃO PARENTERAL ................................................................................... 4 2.1 Histórico..... ............................................................................................................ 4 2.2 A equipe multidisciplinar de terapia nutricional ...................................................... 5 2.3 Suporte nutricional parenteral ................................................................................ 5 3 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES PARA O SUPORTE NUTRICIONAL PARENTERAL ............................................................................................................ 7 3.1 Indicações ..............................................................................................................7 3.2 Contraindicações ................................................................................................... 9 4 PRINCÍPIOS DA NUTRIÇÃO PARENTERAL ........................................................ 11 4.1 A nutrição parenteral total e a nutrição parenteral parcial ................................... 13 5 A COMPOSIÇÃO DA DIETA PARENTERAL ......................................................... 14 5.1 Aminoácidos ........................................................................................................ 16 5.2 Carboidratos ........................................................................................................ 16 5.3 Emulsões lipídicas ............................................................................................... 17 5.4 Vitaminas..............................................................................................................17 5.5 Eletrólitos.. ........................................................................................................... 18 5.6 Água......... ........................................................................................................... 18 6 VIAS DE ACESSO PARA A NUTRIÇÃO PARENTERAL ....................................... 18 6.1 Acesso venoso periférico ..................................................................................... 20 6.2 Acesso venoso central ......................................................................................... 21 6.3 Acesso venoso central de inserção periférica ..................................................... 23 7 ETAPAS A SEREM CONSIDERADAS ANTES DE INICIAR A NUTRIÇÃO PARENTERAL .......................................................................................................... 25 8 INDICAÇÕES DE USO DAS TERAPIAS NUTRICIONAIS ENTERAL E PARENTERAL .......................................................................................................... 26 8.1 Triagem nutricional .............................................................................................. 27 2 8.2 Avaliação do estado nutricional ........................................................................... 27 8.3 Avaliação dietética ............................................................................................... 29 8.4 Exame físico ........................................................................................................ 29 8.5 Análise bioquímica ............................................................................................... 29 9 MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL ...................... 30 9.1 Técnicas de infusão de nutrição parenteral ......................................................... 30 9.2 Complicações da nutrição parenteral .................................................................. 34 10 CANHÕES, CALIBRES, CATETERES E BOLSASCOMPARTIMENTAIS ........... 36 10.1 Classificação de acordo com a quantidade de lúmens ...................................... 37 10.2 Tipos de cateteres ............................................................................................. 40 11 CRITÉRIOS DE QUALIDADE APLICADOS À MANIPULAÇÃO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL .......................................................................................................... 41 11.1 Estabilidade das formulações de nutrição parenteral ........................................ 43 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 45 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 A NUTRIÇÃO PARENTERAL 2.1 Histórico Na história da nutrição parenteral (NP), temos os primeiros relatos de seu surgimento em 1931, quando foram formuladas as primeiras soluções venosas contendo cloreto de sódio, carboidrato e água, para tratamento de doenças como a cólera. Em 1937, Robert Elman desenvolveu um estudo experimental em cães, no qual ele demonstrou a administração bem-sucedida de nutrição parenteral no desenvolvimento e crescimento de beagles, utilizando proteínas sob a forma de hidrolisados de caseína suplementados por triptofano, em associação com metionina ou cistina. Após os resultados positivos apresentados nesse estudo, ocorreu em 1967 a primeira indicação clínica de NP por uma via de administração central em humanos, no Hospital Pediátrico da Filadélfia (Pensilvânia, EUA). No Brasil, a história da NP iniciou em 1969, no Rio de Janeiro, com Geraldo Chini (BECK, 2018). A Secretaria de Vigilância Sanitária (BRASIL, 1998) define a nutrição parenteral como: [...] solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais; estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. Ela também regula que os insumos farmacêuticos e correlatos industrialmente preparados, adquiridos para o preparo e a manipulação da NP, devem ser devidamente registrados no Ministério da Saúde e acompanhados do certificado de análise emitido pelo fabricante, e ainda precisam atender às especificações físico- químicas e microbiológicas exigidas. Além disso, deve haver a presença de uma equipe multiprofissional (exigência primária), composta por profissionais médicos, farmacêuticos, nutricionistas e enfermeiros, para a promoção de ações direcionadas e especializadas ao paciente (BECK, 2018). 5 2.2 A equipe multidisciplinar de terapia nutricional Nesse sentindo, o Ministério da Saúde (MS) criou a resolução nº 4.283 que exige que todo hospital tenha uma equipe direcionada à adequada terapia nutricional de seus pacientes. O trabalho conjunto de especialistas com formações distintas permite integrar,harmonizar e complementar os conhecimentos e as habilidades dos integrantes da equipe, a fim de cumprir o objetivo proposto: identificar, intervir e acompanhar o tratamento dos distúrbios nutricionais. Essa equipe é denominada de equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN). A equipe multidisciplinar é definida como grupo formal e obrigatoriamente constituído de pelo menos um profissional médico, um farmacêutico, um enfermeiro e um nutricionista, habilitados e com treinamento específico para a prática da terapia nutricional. Ela tem como objetivo identificar pacientes que tenham indicação de terapia nutricional, bem como direcionar a escolha da melhor via de terapia – seja por via oral, enteral ou parenteral. Também são atribuições da equipe: definir metas técnico-administrativas; realizar triagem e vigilância nutricional; avaliar o estado nutricional; assegurar condições ótimas de indicação, prescrição, preparação, armazenamento, transporte, administração e controle da terapia; educar e capacitar a equipe; criar protocolos; analisar o custo e o benefício; traçar metas operacionais da EMTN (BECK, 2018). As vantagens da EMTN estão descritas em estudos que, desde a década de 1980, mostraram vantagens e melhores resultados relacionados à aplicação da TN, quando realizada por EMTN. Essas vantagens estão relacionadas à normatização das condutas, ao surgimento de protocolos, à redução das complicações mecânicas, metabólicas, gastrointestinais, infecciosas e à melhor adequação nutricional. Segundo alguns estudos, a presença de equipe multidisciplinar aumentou a frequência de avaliação nutricional e proporcionou oferta mais adequada de nutrientes, indicação mais apropriada de nutrição parenteral, e diminuição de custos e tempo de internação. 2.3 Suporte nutricional parenteral O suporte nutricional tem como objetivo fornecer as quantidades necessárias de energia e proteína, em conjunto com uma quantidade adequada de água, minerais, 6 vitaminas e minerais traços, de acordo com as diretrizes para exigências nutricionais. Existem três vias utilizadas para a administração de suporte nutricional: suporte nutricional oral, nutrição via sonda enteral e nutrição parenteral. No suporte nutricional oral, ocorre a modificação dos alimentos e líquidos, com maior aporte de alimentos com proteínas, carboidratos e/ou gorduras, minerais, vitaminas e/ou suplementos orais. A nutrição via sonda enteral de alimentação é aquela em que o fornecimento de calorias, proteína, eletrólitos, vitaminas, minerais, elementos traços e líquidos ocorre por meio da via intestinal, com utilização de formulação artesanal ou industrializada. Já na nutrição parenteral (NP), o fornecimento de calorias, aminoácidos, eletrólitos, vitaminas, minerais, elementos traços e líquidos ocorre por via intravenosa. A avaliação inicial ocorre com a triagem nutricional, na qual se diagnostica o estado nutricional do paciente, identificando situações de desnutrição e o nível de estresse fisiológico. Após a avaliação do paciente (e se constatada a necessidade do suporte nutricional), ocorre a determinação da via de administração. Assim, iniciam- se as avaliações de funcionalidade e segurança do trato gastrointestinal (TGI). Resumidamente, o planejamento e a execução do suporte nutricional ocorrem seguindo as seguintes etapas (BECK, 2018): 1. Avaliação do estado nutricional: avaliação clínica de sinais de desnutrição, da doença base, da ingestão alimentar e de atividades planejadas (cirurgias, tempo de internação hospitalar, prognóstico do paciente). 2. Diagnóstica nutricional e estimativa das necessidades nutricionais. 3. Seleção da via de administração do suporte nutricional. 4. Monitoração da ingestão ou quantidades infundidas. 5. Modificação do volume e/ou da rota de administração (se necessário). 6. Monitoração dos efeitos e das complicações da terapêutica aplicada. 7 3 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES PARA O SUPORTE NUTRICIONAL PARENTERAL 3.1 Indicações Definimos que a NP é a infusão intravenosa de nutrientes diretamente na circulação sistêmica, contornando o trato gastrointestinal (TGI). Como regra estabelecida, o suporte nutricional deve priorizar as vias fisiológicas em suas indicações; logo, o suporte nutricional oral e o enteral devem ser priorizados, quando existir possibilidade segura para a sua administração. Entretanto, em situações clínicas em que é inviável a utilização do TGI para suprir as necessidades nutricionais do paciente, a via intravenosa deve ser avaliada como alternativa para garantir o suporte nutricional (BECK, 2018). O suporte nutricional parenteral estará indicado em situações clínicas nas quais, após a avaliação clínica e nutricional, identifique-se a necessidade de nutrição por via alternativa, sem utilizar o TGI. Além disso, essa forma de suporte nutricional deve ser priorizada em condições clínicas nas quais se identifique a impossibilidade de oferta nutricional utilizando o TGI por mais de sete dias, ou em situações em que o TGI precise ser poupado, com finalidade terapêutica. Algumas indicações clínicas específicas para a utilização de suporte nutricional parenteral são apresentadas a seguir (BECK, 2018): Vômito intratável: ocorre em situações de pancreatite aguda, hiperemese gravídica, quimioterapia, entre outros. Diarreia grave: doenças inflamatórias intestinais, síndrome de má absorção, síndrome do intestino curto. Mucosite/esofagite: quimioterapia, doença enxerto versus hospedeiro. Obstrução no TGI: neoplasias, aderências, malformação do TGI. Repouso intestinal: fístulas enteroentéricas, enterocutâneas. Pré-operatório: em caso de desnutrição grave, em que a cirurgia não pode ser adiada. Alterações de íleo: grandes cirurgias abdominais, trauma grave, isquemia mesentérica, pacientes sem condições para jejunostomia. 8 A indicação de uso de suporte nutricional parenteral deve ser pautada em análise clínica individual do paciente, avaliando os riscos e benefícios que esse suporte poderá gerar no quadro clínico atual e futuro. A NP apresenta como vantagens (WAITZBERG, 2006): fácil fornecimento; sequência no fornecimento; dispensa de função intestinal; manutenção de peso e gordura corporal; restabelecimento do pool de vitaminas e minerais. A NP é indicada, basicamente, em casos de impossibilidade de utilização do trato gastrintestinal para nutrir um indivíduo, ou de incapacidade de atingir as necessidades nutricionais pela via digestiva. Isso pode estar associado a algum distúrbio disabsortivo, acarretando grandes perdas de água, eletrólitos e nutrientes (TOLEDO; CASTRO, 2015). No quadro a seguir, você pode ver as principais indicações de NP. 9 3.2 Contraindicações A primeira contraindicação para a utilização do suporte nutricional parenteral se dá pela viabilidade do uso do TGI como via de alimentação. Nessas situações, o TGI deve ser elegível como a via de suporte nutricional, promovendo uma oferta nutricional de forma mais fisiológica e segura. Outra contraindicação absoluta para o uso de suporte nutricional é a instabilidade hemodinâmica. Situações de hipovolemia, 10 choque cardiogênico ou séptico, edema pulmonar, anúria sem diálise, distúrbios metabólicos e eletrolíticos profundos não garantem a segurança clínica necessária para se estabelecer qualquer tipo de suporte nutricional. Essas situações devem ser estabilizadas previamente, para que se possa iniciar o suporte nutricional (BECK, 2018). Também há situações de contraindicação relativas ao uso de nutrição via parenteral, em que a equipe multidisciplinar deve avaliar a viabilidade e necessidade do início da terapêutica. Situações de jejuns inferiores a cinco dias, em pacientes que não apresentam desnutrição severa, devemser discutidas pela equipe, a fim de determinar as previsões para o início do suporte nutricional, avaliando o quadro e os prognósticos esperados. Pacientes com prognósticos que não necessitem de suporte nutricional agressivo podem ter contraindicação para o uso de nutrição parenteral. Além disso, é questionável o uso de nutrição parenteral em pacientes terminais, que não possuam perspectivas terapêuticas. Entretanto, essas são contraindicações relativas; portanto, necessitam de definição pautada na avaliação global do paciente e dos benefícios que o suporte nutricional poderia agregar ao tratamento e ao prognóstico clínico (BECK, 2018). Segue uma lista de casos em que a NP é contraindicada (WAITZBERG, 2006): pacientes hemodinamicamente instáveis; hipovolemia; choque cardiogênico ou séptico; edema agudo de pulmão; anúria sem diálise; graves distúrbios metabólicos e eletrolíticos; distrofia intestinal; hiperglicemia; imunossupressão; desequilíbrio em aminoácidos e lipídeos; trombose venosa; síndrome da realimentação. 11 4 PRINCÍPIOS DA NUTRIÇÃO PARENTERAL Durante a internação hospitalar, muitos pacientes necessitam de uma alimentação artificial quando não podem ingerir alimentos através da via oral ou quando esta não atende às necessidades nutricionais diárias. Várias condições clínicas podem levar o paciente a precisar da nutrição parenteral (NP), como desnutrição, prematuridade e baixo peso, obstrução intestinal, alguns estágios de colite ulcerativa, entre outras. A NP é administrada por via intravenosa e é composta por carboidratos, aminoácidos (AA), lipídios, vitaminas e minerais, podendo ser comprada pronta ou manipulada na farmácia hospitalar pelo farmacêutico. Por ser uma solução estéril e apirogênica, os processos de manipulação, armazenamento, transporte e administração passam por rigorosos critérios de qualidade (MACHADO, 2010). Neste capítulo, você vai conhecer os principais conceitos aplicados à NP, bem como os tipos de formulações, os critérios que devem ser seguidos na garantia da qualidade das formulações preparadas e a atuação do farmacêutico hospitalar no contexto da equipe multidisciplinar de terapia nutricional aplicada especialmente à NP. Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 12 A desnutrição tem um considerável impacto na evolução clínica dos pacientes e piorar o prognóstico e resultar em maior tempo de internação. Na tentativa de reverter esse processo nocivo, às vezes é preciso optar pela nutrição parenteral. O primeiro estudo registrado com uma administração bem-sucedida de alimentação parenteral utilizando AA cristalinos é da década de 1960 e foi desenvolvido por Dudrick e colaboradores. Desde então, houve grandes avanços na aplicação desse tipo de alimentação (MACHADO, 2010). A nutrição parenteral é uma forma de alimentação artificial que pode complementar ou substituir totalmente uma alimentação oral. Ela é administrada diretamente na circulação sistêmica, ultrapassando o trato gastrointestinal, em pacientes que não podem fazer uso da alimentação oral, quando a absorção dos nutrientes ocorre de forma incompleta ou quando o paciente está desnutrido ou pode evoluir para um quadro de desnutrição. A Portaria MS/SNVS nº 272/98 regulamenta a NP e a define como: [...] solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. (BRASIL, 1998, documento on-line). De acordo com Gastaldi et al. (2009), a NP é indicada nas seguintes situações: pré-operatórias, onde os pacientes apresentam um quadro de desnutrição com doenças obstrutivas no trato gastrointestinal alto; com complicações pós-operatórias, como fístulas intestinais e íleo prolongado; pós-traumáticas, como lesões múltiplas, queimaduras graves e infecção; com moléstias inflamatórias intestinais, como na colite ulcerativa e doença de Crohn; com desordens gastrointestinais, como vômitos crônicos e doença intestinal infecciosa; pediátricas, como no caso de prematuros de baixo peso, de má formação congênita do trato gastrointestinal, de diarreia crônica intensa, entre outros. 13 4.1 A nutrição parenteral total e a nutrição parenteral parcial A NP pode ser classificada em dois tipos: a nutrição parenteral total (NPT) e a nutrição parenteral parcial. A NPT fornece todas as necessidades nutricionais diárias e essenciais para o paciente, tais como carboidratos, gorduras, AA, eletrólitos, minerais, oligoelementos e vitaminas, podendo ser administrada por acesso venoso central como uma solução hiperosmolar. A NP parcial fornece somente um percentual das necessidades nutricionais diárias, suplementando a alimentação oral. Muitos pacientes hospitalizados recebem glicose ou soluções de aminoácidos por esse método. A NP pode ser comprada pronta para o uso, com nutrientes em quantidades padronizadas, ou pode ser manipulada para que a fórmula atenda melhor às necessidades individuais do paciente. Uma NPT para um indivíduo adulto pode ser exemplificada pela formulação indicada no Quadro 1. Já a composição da solução de NP pode ser classificada como: sistema glicídico, binário ou “2 em 1” — a NP é composta por duas soluções de grande volume (solução de AA e solução de glicose); 14 sistema lipídico, ternário ou “3 em 1” — a NP é composta por três soluções de grande volume (solução de AA, solução de glicose e solução de lipídios). Na NP, o nitrogênio é fornecido através de uma mistura de AA colocados na solução. De acordo com o fabricante, as soluções de AA podem variar em concentração (7 a 15%) e em variedade (13 a 20 AA diferentes), combinando AA essenciais e não essenciais. Há soluções de AA específicas para pacientes nefropatas, hepatopatas, entre outros. Quanto às fontes calóricas, podem ser empregados na NP soluções de glicose e emulsões lipídicas. As soluções de glicose possuem a vantagem de serem facilmente encontradas e possuírem baixo custo, além de ser uma fonte pronta para uso, sem necessidade de metabolização prévia. Porém, elas contribuem, de forma significativa, para a elevação da osmolaridade da solução. As emulsões lipídicas, por sua vez, funcionam como fonte calórica e resultam em menor osmolaridade e menor volume. Elas podem ser adquiridas em concentrações de 10 a 20%. Às emulsões lipídicas, podem ser adicionados triglicérides de cadeia longa (TCL) e triglicérides de cadeia média (TCM), evitando a carência de ácidos graxos essenciais. Os eletrólitos, as vitaminas e os oligoelementos na NP devem estar em quantidades que atendam às necessidades diárias para boa manutenção dos processos fisiológicos intracelulares e extracelulares do indivíduo. Existem tabelas que descrevem os valores recomendados desses elementos para cada faixa etária e patologia associada, como as da Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN, do inglês American Society Parenteral and Enteral Nutrition), que devem ser consultadas antes da manipulação das formulações. 5 A COMPOSIÇÃO DA DIETA PARENTERAL A composição da nutrição via parenteral contém diferentes componentes, incluindo água, macronutrientes (carboidratos, lipídeos, aminoácidos), eletrólitos, micronutrientes (elementos traços e vitaminas) e outros aditivos (como glutamina, insulina, heparina). Eles podem ser administrados usando recipientes separados ou a 15 partir de um sistema de bolsa “pronta para uso”, preparado na farmácia do hospital ou pela indústria. A evolução na tecnologia aplicada ao suporte nutricional proporcionadiferentes opções para a oferta do suporte nutricional. As soluções da nutrição parenteral de bolsa “pronta para uso” são frequentemente administradas a partir de um sistema de bolsa fechado, evitando exposição e contaminação. De forma geral, as dietas elaboradas seguem duas linhas: Soluções preparadas localmente, preparadas à mão ou com um dispositivo de manipulação automatizado. Dietas parenterais fabricadas, comercializadas e fornecidas em bolsas de multicâmaras. Há atualmente dois tipos bolsas de multicâmaras comercializadas pela indústria farmacêutica: as bolsas de câmara dupla e as de câmara tripla. Nas bolsas de câmara dupla, existe um compartimento contendo uma solução de aminoácidos e outro contendo glicose (com ou sem eletrólitos). O componente lipídico – se utilizado – deve ser administrado a partir de uma bolsa separada. Já as bolsas de câmara tripla contêm todos os macronutrientes (com ou sem eletrólitos) divididos em três compartimentos separados. Se forem necessários elementos traços e vitaminas, eles podem ser injetados nas bolsas de duas ou três câmaras, ou infundidos por uma via separada. A composição da dieta é influenciada por diversos fatores, que devem ser avaliados ao se escolher a formulação mais apropriada para atender às diversas necessidades nutricionais dos pacientes dependentes desse suporte. Assim, são avaliados: A demanda de energia (glicose) e proteína (nitrogênio) exigida pelo paciente, de acordo com o seu diagnóstico, estado clínico e prognóstico. O suporte proteico vai variar de forma individual, uma vez que diferentes pacientes possuem necessidades de nitrogênio igualmente diferentes, conforme os níveis de estresse metabólico. Dessa forma, a avaliação clínica do estado geral do paciente vai determinar a necessidade da demanda de nitrogênio, podendo ser normal, moderada e alta. As exigências nutricionais adicionais do paciente, fornecidas pelas emulsões lipídicas. Estas também são responsáveis por atender às 16 exigências nutricionais de ácidos graxos e necessidades estruturais de membrana. O volume da bolsa e as necessidades de fluidos. A influência dessa questão afeta principalmente os pacientes em estado crítico que utilizam o suporte nutricional parenteral, levando em consideração que esses pacientes necessitam de um controle de volume ofertado, para o manejo de complicações como edema periférico, edema pulmonar, insuficiência cardíaca, entre outros. Além disso, o paciente crítico muitas vezes precisa utilizar drogas infundidas via intravenosa; logo, o ajuste do volume total ofertado ao paciente é uma necessidade. A osmolaridade da solução infundida. De acordo com as diretrizes da ESPEN, a baixa osmolaridade de infusões administradas perifericamente pode ajudar a prevenir tromboflebite venosa periférica. Essas diretrizes recomendam que a osmolaridade da solução infundida não deve exceder 850 mOsm/l, quando administrada por uma veia periférica. 5.1 Aminoácidos As soluções de aminoácidos disponíveis para formulação de nutrição parenteral contêm produtos de aminoácidos mistos, fornecendo todos os nove aminoácidos essenciais (histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina), em quantidades variáveis entre 38 e 57% dos aminoácidos totais, e uma composição variável de aminoácidos não essenciais (por exemplo, alanina, arginina, glicina, prolina, serina e tirosina. Essas soluções são fornecidas em diferentes concentrações de aminoácidos, com ou sem eletrólitos. 5.2 Carboidratos A fonte de carboidrato mais utilizada na composição de nutrição parenteral é a dextrose. As soluções de dextrose estão disponíveis em uma gama de concentrações e geralmente contribuem com a maior parte da osmolaridade da solução de NP. São 17 comercializadas em concentrações de 5, 10, 25, 50 e 70%. A necessidade mínima de glicose varia de 100 a 150 g/dia, tendo 3,4 kcal/g. 5.3 Emulsões lipídicas Existem variações entre os tipos de percentual de gordura nas soluções de nutrição parenteral. A utilização do óleo de soja já representou a fonte mais comum das formulações; entretanto, observou-se que as emulsões de soja têm possíveis associações com o aumento do risco de peroxidação lipídica, redução das defesas antioxidantes, efeito supressor de células imunes, complicações hepatobiliares e aumento dos níveis de fitoesterois. Atualmente, as formulações lipídicas comercializadas incluem emulsões lipídicas compotas de: formulações à base de óleo de soja, geralmente referidas como triglicerídeos de cadeia longa (LCT); misturas “farmacêuticas” (geralmente 50:50) de LCT do óleo de soja e de triglicerídeos de cadeia média do óleo de coco (MCT); misturas “farmacêuticas” de triglicerídeos com uma molécula de glicerol, tendo uma distribuição de ácidos graxos com cadeias de comprimentos diferentes; misturas de óleo de oliva e óleo de soja (80:20); misturas de lipídeos incluindo óleo de peixe (por exemplo, misturas de óleo de soja, MCT, óleo de oliva e óleo de peixe); óleo de peixe isolado, para ser usado como um suplemento, em combinação com outras emulsões. 5.4 Vitaminas A utilização de vitaminas e elementos traços é avaliada. Eles podem ser injetados nas bolsas de duas ou três câmaras ou infundidos por uma linha separada. Casos agudos e processos infecciosos podem necessitar de maiores quantidades. 18 Deve-se observar a interação entre o uso concomitante de vitaminas e medicações específicas. Multivitamínicos comerciais específicos para NP em geral apresentam níveis suficientes para manter concentrações normais de vitaminas, mas não para corrigir deficiências preexistentes. 5.5 Eletrólitos A análise do estresse metabólico inclui a avaliação diária dos eletrólitos. O quadro clínico do paciente é diretamente influenciado pelas concentrações de eletrólitos, que apontam ajustes necessários ao equilíbrio osmótico e à manutenção das funções celulares. A administração de eletrólitos deve ocorrer com base na evolução diária e no balanço hídrico do paciente. 5.6 Água As necessidades hídricas devem ser supridas pela nutrição parenteral. No estado crítico, muitas vezes ocorre a necessidade de restrição de fluídos, uma vez que, na via periférica, são administradas diversas drogas infundidas em soluções. Nesse sentido, é preciso que a oferta hídrica seja programada de forma global, considerando todos os fluídos administrados. Além disso, muitas vezes ocorrem quadros de retenção hídrica, decorrentes do contexto clínico do paciente. Nessas situações, é preciso observar o balanço hídrico do paciente, programando medidas de correção para o balanço hídrico positivo. 6 VIAS DE ACESSO PARA A NUTRIÇÃO PARENTERAL As vias de acesso utilizadas para a alimentação parenteral são a periférica (NPP) e a central (NPC). A primeira é usualmente indicada para períodos curtos (de sete a 10 dias), porque, em geral, não atinge as necessidades nutricionais do paciente, nela podem ser somente oferecidas soluções hipo-osmolares, hipocon- centradas e as gorduras, costumando alcançar o valor energético em torno de 1.000 a 1.500 kcals por dia, devendo sua osmolalidade ser inferior a 900mOsm/L, no 19 intuito de evitar flebite. Já a segunda é aconselhada para uso superior a sete ou 10 dias, podendo ser administrada uma infusão de soluções hipertônicas de glicose e proteínas, vitaminas, entre outros. Nesta, geralmente, a osmolalidade é acima de 1.000 mOsm/L. A NP pode ser classificada, ainda, como total (NPT) ou parcial, dependendo das necessidades do paciente e/ou da disponibilidade das soluções (COSTA; SILVA, 2014). Estipulada a via de acesso, a solução pode ser instalada, respeitando sempre as condições estabelecidas quantoao volume e às calorias, situação esta controlada através da velocidade do gotejamento. As questões de administração de NPT são definidas após a meta da taxa de infusão ter sido estabelecida pelos cálculos da dieta. Diante disso, tem-se que a infusão pode ser contínua ou cíclica. No âmbito das infusões contínuas, as soluções parenterais são geralmente iniciadas abaixo da meta da taxa de infusão por meio de uma bomba volumétrica e, então, aumentadas em incrementos durante os primeiros sete dias até alcançarem a taxa de infusão. Alguns médicos iniciam a nutrição parenteral baseando-se na quantidade de dextrose, com prescrição de 100 a 200g/dia e avançando durante um período de dois a três dias, para um objetivo final. Com as altas concentrações de dextrose, a interrupção abrupta da NPT deve ser evitada, particularmente, se a tolerância à glicose do paciente for anormal. Se for preciso interromper a NPT, é prudente diminuir aos poucos a taxa de infusão em um paciente instável para prevenir a hiperglicemia de rebote, no entanto as últimas diretrizes recomendam iniciar esse suporte com 80% das recomendações, incluindo todos os nutrientes da solução. A nutrição parenteral total cíclica se faz necessária ao se prescrever uma taxa de infusão maior ou uma solução mais concentrada, no entanto seu uso é inviável caso o cliente apresente intolerância à glicose ou a líquidos. No intuito de otimizar a qualidade de vida do mesmo, esse tipo de nutrição é administrado por períodos de 8 à 12h, na maioria das vezes à noite, com a finalidade de permitir um período livre de 12 à 16h no dia (COSTA; SILVA, 2014). As necessidades clínicas diagnosticadas no paciente nortearão qual o melhor local de acesso para uma terapia nutricional parenteral. Tais vias de administração são dividas em: 20 6.1 Acesso venoso periférico É utilizado como meio para complementar a ingesta oral quando não é indicado o repouso intestinal total e não é recomendada a nutrição enteral. A Nutrição Parenteral Periférica (NPP) é administrada através de uma veia periférica. As fórmulas de NPP não são complexas em relação às utilizadas na nutrição parenteral total. No que diz respeito às concentrações de glicose, faz-se necessário enfatizar que normalmente as de mais de 10% não são administradas através de veias periféricas, pois irritam a camada íntima das pequenas veias, provocando a flebite química. Os lipídios frequentemente são administrados de maneira simultânea para tamponar a NPP e para proteger a veia periférica contra irritação. A duração habitual da terapia usando a NPP é de cinco a sete dias (COSTA; SILVA, 2014). Fonte: Material empírico Google imagens, João Pessoa, 2012. Vantagens: maior segurança e facilidade; mantém o sistema digestório em funcionamento; não requer treinamento avançado da equipe; boa relação benefício /risco (curto prazo); menor custo. 21 Desvantagens: incidência aumentada de tromboflebite; limitação pelo pH e pela osmolaridade das soluções; a troca do local de inserção é recomendada a cada 72 horas. 6.2 Acesso venoso central As vias mais usadas na administração parenteral em acesso venoso central são a veia subclávia ou a veia jugular interna, por serem de grande calibre, são capazes de diluir a solução causando menor incomodo e sensibilidade à camada interna da veia. Em consonância com os Guidelines internacionais de terapia nutricional parenteral em adultos, a escolha do melhor local para inserção central é a punção subclávia, estando associada a uma menor frequência de infecções quando relacionada aos cateteres de inserção em jugular (COSTA; SILVA, 2014). Inserção em veia jugular interna Fonte: Material empírico Google imagens, João Pessoa, 2012 22 Inserção em veia subclávia Fonte: Material empírico Google imagens, João Pessoa, 2012 Vantagens: a saída local do cateter com túnel pode ser colocada mais rapidamente e de forma mais visível, disponível para o paciente, facilitando, assim, a necessária autogestão da nutrição parentérica e devidos cuidados; infusão não é limitada pelo pH nem pela osmolaridade da solução; diminui o risco de tromboflebite; maior durabilidade; tratamentos a longo prazo. Desvantagens: requer maior treinamento da equipe; maior risco de complicações graves (infecciosas e mecânicas); maior custo; requer confirmação radiológica. Contraindicações relativas à punção venosa central: em pacientes com trombose da veia cava superior, o risco de complicações mecânicas e outras tromboses é cerca de 10 vezes a taxa de acesso subclávia; estados de hipocoagulabilidade; 23 enfisema pulmonar acentuado; deformidade torácica; cirurgia ou irradiação prévia da região cervical; assistência ventilatória com pressão positiva; prematuros e mesmo crianças até um ano de idade; choque hipovolêmico grave. 6.3 Acesso venoso central de inserção periférica Nos casos de escolha de tratamento em curto prazo, principalmente para pacientes internados, um cateter venoso de inserção periférica (PICC) pode ser o mais recomendado. Porém, existem algumas limitações como: difícil inserção, já que muitos pacientes com necessidade de terapia parenteral tendem a apresentar veias periféricas danificadas e; aumento da irritabilidade da veia, em casos de pacientes que realizaram secção intestinal, tornando necessário infundir um elevado volume nutricional parenteral de alta osmolalidade (COSTA; SILVA, 2014). Quando comparados, alguns pacientes internados em PICC relataram menores taxas de infecções e custo definitivamente menor em relação às demais vias de acesso. O PICC é uma opção bastante interessante por conseguir, por via periférica, atingir a circulação venosa central e fornecer, ao paciente, quantidades adequadas de nutrientes. Quando a intenção é não manter o paciente em hospital e ele precisa receber a nutrição parenteral ainda por um período curto, para depois ser reavaliado, esse tipo de dispositivo é uma excelente opção, desde que os cuidados sejam observados. Sua maior desvantagem ainda está relacionada ao custo. O cateter normalmente é colocado em uma das veias de grande calibre antecubitais e enroscado na veia cava superior por cima do átrio direito. 24 Fonte: Bard acess system Em acordo com a portaria que norteia a administração da Nutrição Parenteral, considera-se que é de responsabilidade do profissional enfermeiro: administrar o acesso venoso periférico e o acesso central de inserção periférica, assim como tomar parte da seleção do acesso central, em consonância com o médico responsável pelo atendimento ao paciente e os demais profissionais de saúde. O conhecimento, a competência, a habilidade e a segurança da equipe refletem e contribuem para minimizar os riscos à saúde física e emocional, proporcionando melhor qualidade de vida ao cliente. Durante a escolha de inserção, deve-se considerar o número de infusões semanais a serem realizadas, o tempo da terapia (temporária ou permanente) de acordo com o diagnóstico da doença de base (benigna ou não), assim como com qualquer história prévia em relação à obtenção de acesso venoso central e os conhecimentos disponíveis. Não menos importante, deve-se considerar a qualidade de vida, a idade e, consequentemente, as atividades diárias do paciente, do mesmo modo que seus desejos em relação ao tipo de cateter (COSTA; SILVA, 2014). 25 7 ETAPAS A SEREM CONSIDERADAS ANTES DE INICIAR A NUTRIÇÃO PARENTERAL Um extenso exame do paciente é necessário para decidir sobre as possíveis indicações e contraindicações para a NP e para calcular de forma adequada as necessidades de nutrientes (Figura 2.2). Deve-se considerar terapias e doenças pré- existentes subjacentes,a condição do trato gastrointestinal, possibilidades para ingestão de alimentos por via oral e/ou enteral, o acesso venoso, estado nutricional e valores laboratoriais. Fonte: https://www.fresenius-kabi.com As indicações podem incluir: vômitos intratáveis, íleo, diarreia refratária, isquemia gastrointestinal, intestino curto, etc. 26 As contraindicações podem incluir: choque, acidose, falência de órgãos descompensada, desequilíbrio hidroeletrolítico grave. 8 INDICAÇÕES DE USO DAS TERAPIAS NUTRICIONAIS ENTERAL E PARENTERAL O aumento da morbimortalidade está associado à desnutrição em pacientes internados. A desnutrição resulta em perda de massa corporal magra e, subsequentemente, perda de estrutura ou função respiratória, cardíaca, renal, imune e contratilidade muscular. A falta de cicatrização de feridas é uma das consequências conhecidas da desnutrição. Portanto, a partir de uma terapia nutricional adequada, o prognóstico pode ser melhorado, evitando ou corrigindo as deficiências de macro e micronutrientes. As metas nutricionais pediátricas gerais podem ser resumidas como se segue (SANT ANNA, 2020): 1. Para evitar limitações na taxa de crescimento e na perda de peso. Na presença de uma doença, o crescimento pôndero/estatural é geralmente afetado. Uma intervenção nutricional adequada permite a recuperação do crescimento. 2. Para manter um balanço nitrogenado positivo, necessário para o crescimento, o reparo de tecidos e posterior funcionamento de múltiplos órgãos. As crianças possuem maior risco de perda de proteína do que os adultos, devido a uma taxa metabólica basal proporcionalmente mais alta. Elas podem perder até 1/3 de sua massa corporal magra em 3 a 5 dias após o esgotamento dos estoques calóricos. A desnutrição pode levar a fraqueza muscular progressiva, função respiratória alterada, resposta imune prejudicada e outros perigos de debilitação, incluindo deficiências celulares e mitocondriais. 3. Para reduzir a morbidade de curto e longo prazo, como, por exemplo, episódios infecciosos de várias origens, tais como respiratórios e relacionados com cateteres ou complicações pós-operatórias. 4. Para evitar a deficiência de nutrientes a longo prazo. 5. Para reduzir os custos para o paciente e para o sistema de saúde. Com o advento da terapia nutricional domiciliar e a redução das taxas de complicações, os pacientes tendem a ter internações mais breves. A escolha da intervenção nutricional tem um profundo impacto nos custos hospitalares. 27 6. Para melhorar a qualidade de vida. Embora difícil de avaliar e quantificar, a qualidade de vida parece ser melhorada, principalmente durante a terapia nutricional. 8.1 Triagem nutricional A triagem nutricional é o primeiro passo no processo de decisão da indicação da terapia nutricional de um paciente. Ela identifica as crianças admitidas na internação que requerem uma avaliação nutricional e quem está em risco nutricional. Para isso, os parâmetros a serem avaliados devem ser simples, eficientes e capazes de ser implementados pelo nutricionista ou pela equipe de enfermagem. De acordo com Cordelini (2014), a triagem nutricional pediátrica tem como objetivo estimar a existência de risco nutricional nos pacientes e definir a complexidade do atendimento, visando à diminuição dos agravos de sua condição clínica por meio de uma intervenção precoce. Portanto, é importante que o processo de triagem em crianças seja realizado até 48 horas após a internação, visto que elas se encontram em uma fase acelerada de crescimento e desenvolvimento, de modo que necessitam de maior quantidade de energia e nutrientes e exibem sinais de desnutrição mais rapidamente que os adultos. Os parâmetros de triagem exclusivos para pacientes pediátricos incluem: avaliação do estado nutricional, histórico médico, avaliação dietética, exame físico e avaliação bioquímica, descritos a seguir. 8.2 Avaliação do estado nutricional Para realizar a avaliação do estado nutricional, devem ser consideradas as informações sobre o peso e o comprimento/estatura obtidas pelo profissional de enfermagem no momento da admissão no setor de internação ou pronto socorro. Quando necessário, deve-se complementar essas informações com a tomada de outras medidas indicadas para a avaliação nutricional na população pediátrica hospitalizada, como (CORDELINI, 2014): Peso habitual: informado pelo cuidador ou acompanhante, quando não é possível a tomada direta da medida. 28 Peso ideal: valor correspondente à mediana ou percentil 50 do padrão de referência segundo o sexo e a idade. Peso estimado: valor correspondente ao percentil 3 do padrão de referência segundo o sexo e a idade, adotado como alternativa para o cálculo inicial das necessidades energéticas em casos de subnutrição grave (nível crítico inferior ao percentil 3 do padrão de referência). Dobra cutânea tricipital (DCT): realizada pelo profissional de nutrição ou pela equipe médica com o uso de fita métrica inextensível e de adipômetro. Circunferência muscular do braço (CMB): realizada pelo profissional de nutrição ou pela equipe médica com o uso de fita métrica inextensível. Perímetro cefálico (PC): realizado pelo profissional de nutrição ou pela equipe médica com o uso de fita métrica inextensível. Após a coleta das medidas antropométricas, são realizados os cálculos para o diagnóstico do estado nutricional do paciente. Para isso, são utilizados os valores esperados em uma população sadia. Alguns exemplos são (CORDELINI, 2014): Peso × idade: avaliação em crianças com idade inferior a 2 anos. Comprimento ou estatura × idade: crianças a partir dos 2 anos de idade completos. Peso × comprimento ou estatura: crianças a partir dos 2 anos de idade completos. IMC (índice de massa corporal) × idade: avaliação em adolescentes a partir dos 10 anos completos. DCT × idade: adotado para todas as faixas de idade, para comparação intramedidas ou com o padrão de referência. CMB × idade: adotado para todas as faixas de idade, para comparação intramedidas ou com o padrão de referência. PC × idade: para crianças de até 5 anos de idade completos. 29 8.3 Avaliação dietética A avaliação dietética é importante para estabelecer uma linha de base para ajudar a definir a etiologia da deficiência nutricional, como impedimentos à alimentação ou à absorção de nutrientes, incluindo interesse e/ou recusa pela alimentação, frequência, horários e duração da alimentação, problemas na aceitação de texturas, qualidade de sucção e deglutição e sintomas de refluxo gastresofágico. Além disso, podem ser avaliadas intolerâncias, alergias e aversões alimentares. Acrescentam-se a esses dados as quantidades de alimentos ingeridas por meio de um inquérito alimentar para estimar a ingestão de energia e de macro e micronutrientes (SANT ANNA, 2020). 8.4 Exame físico No exame físico, o nutricionista observa a presença de sinais clínicos de desnutrição por meio da inspeção (associando tais resultados à avaliação da equipe médica e de enfermagem). Podem ser avaliados sinais como perda de músculos ou gordura (principalmente tríceps e tórax), edema no abdome, nos tornozelos e na região sacral, ascite, se a criança se apresenta alerta, com boa coordenação e fala, presença de palidez e dermatite e aspectos do cabelo e das unhas (SANT ANNA, 2020). 8.5 Análise bioquímica A condição clínica pode interferir na utilização de alguns exames bioquímicos para a indicação do estado nutricional, de modo que é importante que isso seja levado em consideração na definição do diagnóstico. Os exames bioquímicos devem ser solicitados na internação e reavaliados duas vezes durante os primeiros 7 dias para os casos graves, com exceção de hemoglobina e hematócrito, que devem ser realizados uma vez porsemana nos períodos subsequentes. Alguns exames a ser avaliados são: hemoglobina, hematócrito, albumina, pré-albumina, transferrina, enzimas hepáticas, função renal e balanço nitrogenado (SANT ANNA, 2020). 30 9 MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL A administração da nutrição parenteral pode ocorrer de forma contínua ou cíclica. O método contínuo ocorre por meio da infusão contínua de nutrientes em 16 a 24 horas, com fluxo constante e sem interrupções. Geralmente se inicia com uma infusão de 30 a 40 ml/h, atingindo cerca de 50% das necessidades proteico-calóricas. A progressão ocorre de acordo com a tolerância do paciente, tendo como principais parâmetros os níveis séricos de glicose e o seu quadro clínico, até que se alcancem as necessidades nutricionais estipuladas. Já a administração cíclica ocorre em períodos de 12 a 14 horas. É o método mais utilizado para pacientes em uso de suporte parenteral domiciliar, uma vez que pode ser administrado no período noturno, possibilitando maior liberdade ao paciente durante o dia. Nesse método, a infusão ocorre de forma escalonada, com gotejamento lento, aumentando a velocidade a cada 20 a 30 minutos, até alcançar a velocidade constante de infusão. 9.1 Técnicas de infusão de nutrição parenteral Infusão por bomba Para uma administração segura de NP, recomenda-se o uso de bomba de infusão. Os dispositivos utilizados devem ser trocados a cada 24-48 horas, de acordo com as normas de cada instituição, que deve padronizar esse processo e estabelecer parâmetros baseados em evidências científicas, experiências e nos recursos disponíveis na instituição. Elaborar as normas de manuseio das bombas e equipos de infusão em conjunto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Essas normas devem incluir a limpeza, desinfecção, calibração e manutenção desses materiais. Os procedimentos deverão ser registrados e arquivados de acordo com o programa de controle de qualidade. Verificar, a cada 12 horas, se a quantidade informada pelo contador de volume da infusão realmente corresponde à quantidade administrada ao paciente. Manter a bolsa de nutrição parenteral ou enteral afastada da bomba (aproximadamente 50 cm), pois o equipamento irradia calor (cerca de 37°C), o que 31 poderia induzir alterações nas propriedades físico-químicas e interações indesejáveis nas misturas e fórmulas. Em crianças é preferível administrar a NP por meio de uma bomba de infusão, já que é indispensável manter o gotejamento constante dos nutrientes e evitar acidentes capazes de causar graves complicações metabólicas. Observações: São requisitos essenciais para as bombas de infusão, tanto em nutrição enteral quanto parenteral: Conter um manual de instruções em linguagem compreensível; Obter o compromisso de que haverá visitas do técnico para manutenção do aparelho e treinamento do pessoal que o utiliza; Ter bateria própria e de longa duração, preferencialmente não dar falso alarme; Ter na programação as especificações do frasco, informações sobre frasco vazio e oclusão do sistema; Ser portátil e leve, para facilitar a deambulação; Possuir controle regulável do fluxo; Ser fácil de limpar, de manter e de operar. Infusão por controle manual do gotejamento É a infusão dos nutrientes no leito venoso utilizando a força da gravidade como impulsionadora da mistura de nutrientes, controlando-se a velocidade do gotejamento manualmente. Embora seja muito utilizada nos hospitais que não dispõem de bombas de infusão ou em pacientes domiciliares que não podem arcar com os custos de um equipamento eletrônico, é uma técnica que exige estrito controle por parte do pessoal de enfermagem ou da família (em casa), a fim de evitar complicações metabólicas graves. Favorece a mobilização e a deambulação do paciente. Recomenda-se o uso de equipo com microgotas para garantir o fluxo da infusão programada. Inicia-se com uma velocidade de 30 a 40 mVh (7- 32 10 gotas por minuto), progredindo até 80 a 140 mVhora, conforme a tolerância e as necessidades nutricionais do paciente. Sua principal desvantagem é não permitir um fluxo constante, já que a mobilização do paciente pode provocar deslocamento da chave reguladora da infusão, aumentando o volume infundido, com risco de complicações metabólicas. A excessiva manipulação das vias de infusão aumenta o risco de complicações infecciosas. Recomendações gerais para a administração de nutrição parenteral: Preparar as misturas de nutrição parenteral na farmácia, de preferência em capela de fluxo laminar, empregando técnica asséptica, na quantidade necessária para 24 horas. Entregá-Ias aos serviços devidamente rotuladas e indicar no rótulo: componentes, osmolaridade, gotejamento e número da mistura, a fim de manter a continuidade da administração. Manter a individualidade do cateter que está sendo utilizado para Nutrição Parenteral, exceto no caso dos lipídeos, que podem ser conectados em "Y" à via de acesso principal. Eles devem ser administrados em 24 horas e em seguida o equipo deve ser descartado. Reservar a via distal para a nutrição parenteral quando estiver sendo utilizado um cateter de duas ou três vias. Utilizar bomba de infusão para administrar nutrição parenteral (aminoácidos e glicose), trocar os equipos a cada 48 horas. Quando em uso o sistema 3 em 1, a NP acondicionada em bolsas de 2 ou 3 litros de etil-vinil-acetato (EVA), o equipo de infusão pode ser conectado à bolsa sob fluxo laminar e ser descartado com todo o sistema após finda a infusão. Descartar o equipo depois da administração cíclica de NP. Em recém-nascidos e pacientes imunocomprometidos, deve-se trocar os equipos a cada 24 horas. Em pacientes pediátricos e recém-nascidos, com cateter de luz única e sem via de acesso periférica disponível, suspender momentaneamente a nutrição, limpar o local de administração de medicamentos no equipo de infusão, irrigar com 33 solução salina normal, administrar o medicamento lentamente ou com auxílio de uma bureta, e irrigar novamente com solução salina normal. O frasco ou bolsa de nutrição parenteral, ou de outra solução, não deve permanecer instalado por mais de 24 horas. Deve-se manter sob refrigeração, a 4°C, a mistura que não estiver sendo administrada. Após retirá-la do refrigerador, 15 minutos antes da infusão, verificar se está à temperatura ambiente. NÃO utilize calor para aumentar a temperatura da solução. Não reinstalar uma solução de NP que tenha sido descontinuada ou retirada. Não utilizar a via de acesso de nutrição parenteral para administração simultânea de medicamentos, nem realizar medição de pressão venosa central ou coleta de amostras de sangue nesse cateter. Os filtros de 0,22 micra estão indicados quando a nutrição parenteral contém fosfato e cálcio. Trocar o filtro juntamente com o equipo a cada 24-48 horas ou segundo as indicações do fabricante. Os filtros de 1,2 micra estão indicados quando a nutrição parenteral contiver lipídeos. Trocar o filtro a cada 24 horas ou de acordo com as indicações do fabricante. Observar a mistura parenteral em uso para verificar precipitações ou turvação. Término da infusão A interrupção da nutrição parenteral deve ser programada com antecedência. Uma vez que a infusão de glicose estimula a secreção de insulina, a interrupção abrupta pode causar estado de hipoglicemia. Monitoração A utilização de suporte nutricional parenteral exige monitoração para a sua efetividade e segurança. As variações séricas de eletrólitos exigem ajustes, de modo a garantir que o suporte nutricional esteja atuando no manejo ou na recuperação do 34 estado nutricional do paciente. Os parâmetros metabólicos devem ser avaliados diariamente, até que se atinja a estabilidade.Além disso, também é preciso estar atento aos parâmetros infecciosos, uma vez que a via de administração parenteral é porta de entrada para o início de processos infecciosos. 9.2 Complicações da nutrição parenteral Ao conhecer as possíveis complicações mecânicas, sépticas e metabólicas causadas pela própria NP, os profissionais envolvidos com a terapia nutricional podem tomar medidas para evitá-las e estar preparados para tratá-las com maior facilidade caso ocorram. A administração de NP é, por si só, um método invasivo, já que a formulação é administrada diretamente na circulação sanguínea, requerendo vigilância em todas as etapas do processo e cumprimento de todos os procedimentos preconizados pela Portaria 272/98. As complicações mecânicas ou associadas ao cateter podem surgir durante o procedimento de inserção e são provocadas principalmente por inexperiência do profissional ou por dificuldades técnicas. As complicações mais comuns são pneumotórax, embolia gasosa, embolia por cateter, lesão do ducto torácico, localização inadequada do cateter e lesão arterial. Após a inserção, podem ocorrer trombose venosa, oclusão do acesso venoso, flebite e saída acidental do cateter. A infecção do cateter venoso é uma complicação séptica que merece atenção. Ocorre mais frequentemente em ambiente hospitalar e se manifesta clinicamente por meio de febre, calafrios, taquicardia, hipotensão arterial, confusão mental e glicosúria inexplicada. Outras complicações sépticas por infecção podem ser resultantes do próprio estado de desnutrição do paciente, pelo uso recorrente de antibióticos de amplo espectro e por infecções simultâneas advindas de ferimentos, além do trato respiratório e urinário. A presença de Candida na urina e na cavidade oral dos pacientes também é um sintoma frequente. As complicações metabólicas são ocasionadas pelo excesso ou pela deficiência dos componentes da NP. Diversas complicações metabólicas podem ocorrer durante a administração da NP, como glicosúria, hipofosfatemia, hipomagnesemia, entre outros abordados no Quadro 2. 35 36 10 CANHÕES, CALIBRES, CATETERES E BOLSASCOMPARTIMENTAIS Durante a punção parenteral, alguns materiais são imprescindíveis para sua administração, a equipe de enfermagem, ao se preparar para uma inserção parenteral, obrigatoriamente separa e organiza o material que será utilizado desde o posto de enfermagem onde coleta os possíveis dispositivos: gazes, luvas estéreis e/ou de procedimento (dispositivo de proteção individual), garrote, algodão hidrofílico, álcool etílico a 70º, equipos (conexões de polietileno), jelcos, agulhas, esparadrapo. Figura – Diferenciação por cores dos calibres nos canhões das agulhas de inserção Fonte: NIPRO indústria e comércio de produtos cardiopulmonares LTDA.. * Não existe um padrão obedecido, as cores e calibresvariam de acordo com cada fabricante 37 Quanto aos cateteres, estes são divididos em dois tipos: curta ou longa (tunelados) permanência. O cateter venoso central classifica-se em dois grandes grupos, de acordo com a técnica de inserção, podendo ser percutânea ou cirúrgica. Os de inserção percutânea normalmente são inseridos nas veias subclávia, jugular e, mais recentemente, cefálica e cubital do membro superior. Nesse caso, usa-se o PICC (Cateter Central de Inserção Periférica), comentado anteriormente (COSTA; SILVA, 2014). 10.1 Classificação de acordo com a quantidade de lúmens Figura – Dispositivo de único lúmen e suas partes Vantagem (COSTA; SILVA, 2014): Menores riscos de infecção e contaminação. Desvantagens: Menos vias de administração. Redobra o cuidado com a interação medicamentosa. 38 Multi-lúmens Os cateteres multi-lúmens não são recomendados, a fim de minimizar o risco de infecção. Dispositivo de multi-lúmen e suas partes: Fonte: Bard acess system O médico irá determinar a melhor escolha para pacientes que necessitam de outras terapias simultâneas com diálise. Em caso de utilizar-se o triplo lúmen, o terceiro é completamente independente dos dois primeiros lúmens, estes são utilizados em diálise e aqueles são indicados para a parenteral. O cateter para a diálise, representado em azul e vermelho, é feito de poliacetal. O lúmen roxo é 39 composto de poliuretano, as pernas de extensão de poliuretano e o eixo do cateter são derivados de poliuretano termossensível, este amolece à temperatura do corpo (COSTA; SILVA, 2014). Vantagens Mais vias de administração de medicamentos. Menos riscos de interação medicamentosa. Desvantagens Maior risco de infecção. Maior risco de contaminação É recomendado que o tamanho do cateter seja tão pequeno quanto possível. O cateter geralmente contém um eixo de feltro e um de fixação a partir de onde adere aos tecidos, é colocado em um túnel subcutâneo, pelo menos 2,5 cm do local de saída. A ponta do cateter deve estar localizada na junção da veia cava e átrio direito. Figura – Local de fixação subcutânea Fonte: Bard acess system Já o método cirúrgico é subdividido em inserção tunelizada e totalmente implantada. Até o final da década de 80, a maioria dos cateteres utilizados em NP era tune-lizada e, no início dos anos 90, os cateteres percutâneos já representavam quase a metade dos mesmos. 40 A evolução dos cateteres também foi importante para a terapia NP, tanto em relação ao tipo de material quanto ao número de lúmens. Os de duplo e triplo lúmen poderão ser utilizados caso a via seja exclusiva para este fim; entretanto, preconiza-se o uso de cateter com um único lúmen, uma vez que aqueles apresentam maior taxa de infecção (COSTA; SILVA, 2014). No que diz respeito ao material do cateter, este influencia na capacidade de adesão de alguns microrganismos, podendo citar, como exemplos, os de teflon, polietileno e poliuretano, que, por serem lisos e maleáveis, são os mais utilizados, uma vez que a superfície lisa diminui a capacidade de adesão dos Staphylococcus coagulase negativo, Staphylococcus aureus e Candida ssp, principais responsáveis pelas infecções relacionadas aos cateteres. Além disso, por serem maleáveis, reduzem ocorrência e extensão de lesão endotelial, facilitando o uso em pediatria. Na prevenção de infecções relacionadas ao tipo de material dos cateteres, destacam-se, ainda, os cateteres com maior capacidade hidrofílica, que são impregnados com antissép-tico e antibióticos e conexões com antissépticos (COSTA; SILVA, 2014). 10.2 Tipos de cateteres Cateter periférico Cateteres periféricos são dispositivos com comprimento que costuma ser igual ou inferior a 7,5 cm e colocados em veias periféricas. Cateter central Curta permanência – são aqueles que atingem vasos centrais (subclávia, jugular, femoral) e são instalados por venopunção direta e não são tunelizados. Esses dispositivos não possuem nenhum mecanismo para prevenção de colonização extraluminal. São frequentemente empregados quando há necessidade de acesso central por curtos períodos (tipicamente entre 10 -14 dias), da qual deriva sua denominação (COSTA; SILVA, 2014). Longa permanência – aqueles que atingem vasos centrais (subclávia, jugular, femoral) e são instalados cirurgicamente. Esses dispositivos apresentam algum 41 mecanismo para evitar a colonização bacteriana pela via extraluminal. São frequentemente empregados quando há necessidade de acesso central por períodos mais prolongados (tipicamente acima de 14 dias), de onde deriva sua denominação (COSTA; SILVA, 2014). Segundo Costa e Silva (2014, p. 53), eles se subdividem em: Semi-implantados – o acesso ao vaso dá-se por intermédio de um túnel construído cirurgicamente. A presença de um cuff de Dacron gera uma reação tecidual quesela a entrada de bactérias da pele. Totalmente implantados – o acesso ao vaso central dá-se por intermédio da punção de um reservatório implantado cirurgicamente sob a pele. A entrada de bactérias é impedida pela própria pele supra-adjacente. 11 CRITÉRIOS DE QUALIDADE APLICADOS À MANIPULAÇÃO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL As formulações de NP podem ser industrializadas, manipuladas na própria farmácia hospitalar ou manipuladas por empresas terceiras. As formulações industrializadas são disponibilizadas prontas para o uso e têm composição padronizada; suas variações referem-se à quantidade de carboidratos, AA e eletrólitos e à presença ou não de lipídios. Diante da necessidade de individualização da NP, comum entre prematuros extremos, por exemplo, é possível manipular a NP visando atender às necessidades específicas do paciente. A manipulação da NP pode ser realizada no próprio hospital, desde que todos os requisitos da Portaria 272/98 sejam atendidos, ou ainda pode ser realizada por terceiros (MACHADO, 2010). Para manipulação de NP, a farmácia hospitalar deve possuir sistema de garantia de qualidade que atenda aos requisitos exigidos pelas Boas Práticas de Preparação de Nutrição Parenteral (BPPNP) explicitados na Portaria 272/98 e controle de qualidade que seja efetivo, documentado e monitorizado através de auditorias da qualidade. De acordo com Gomes e Reis (2003, p. 466), um sistema de garantia de qualidade apropriado para a preparação de NP deve assegurar que: a) as operações de preparação da NP sejam claramente especificadas por escrito e que as exigências de BPPNP sejam cumpridas; b) os controles de qualidade necessários para avaliar os produtos farmacêuticos, os correlatos, o processo de preparação (avaliação farmacêutica, manipulação, conservação e transporte) e a NP sejam realizados de acordo com procedimentos escritos e devidamente registrados; 42 c) os pontos críticos do processo sejam devida e periodicamente validados, com registros disponíveis; d) os equipamentos e instrumentos sejam calibrados, com documentação comprobatória; e) a NP seja corretamente preparada, segundo procedimentos apropriados; f) a NP só seja fornecida após o farmacêutico responsável ter atestado formalmente que o produto foi manipulado dentro dos padrões específicos pelas BPPNP; g) a NP seja manipulada, conservada e transportada de forma que a qualidade da mesma seja mantida até o seu uso; h) sejam realizadas auditorias da qualidade para avaliar regularmente o Sistema de Garantia da Qualidade e oferecer subsídios para a implementação de ações corretivas, de modo a assegurar um processo de melhoria contínua. O controle de qualidade deve analisar todos os aspectos relacionados aos materiais de embalagem, formulações, procedimentos de limpeza, higiene e desinfecção, conservação e transporte da NP com o intuito de atestar que os critérios pré-acordados sejam cumpridos. Todos os produtos utilizados na manipulação da NP devem ser registrados no Ministério da Saúde e estar acompanhados dos certificados de análise emitidos pelo fabricante, os quais devem ser conferidos quanto ao atendimento das especificações pré-estabelecidas. Todas as manutenções preventivas e corretivas devem ser registradas para controle. Como se trata de produto estéril, a manipulação de NP deve ser realizada em sala limpa classe ISO 7, utilizando cabines de fluxo laminar classe ISO 5 com pressão positiva e por profissional capacitado. Nestas cabines, a passagem do ar é feita através de filtros HEPA (filtros de alta eficiência com a capacidade de reter 99,97 % das partículas maiores de 0,3 micrômetros de diâmetro) e é impulsionada por ventiladores (MACHADO, 2010). Antes de adentrar na área limpa, o manipulador deve passar por uma antecâmara para desinfecção e paramentação com vestuário próprio, o qual deve ser esterilizado e não deve liberar partículas. Além disto, de acordo com a Portaria 272/98: [...] Todas as superfícies de trabalho, inclusive as internas da capela de fluxo laminar, devem ser limpas e desinfetadas, com desinfetantes recomendados em Legislação do Ministério da Saúde, antes (pelo menos 30 minutos) e depois de cada sessão de manipulação. (BRASIL, 1998, documento on-line). A NP pronta deve ser submetida à análise da embalagem a fim de verificar se o rótulo contém as informações corretas, se há possíveis precipitações, separação de fases e presença de partículas. De acordo com a portaria 272/98 o rótulo da NP pronta deve conter: 43 [...] nome do paciente, n.º do leito e registro hospitalar, composição qualitativa e quantitativa de todos os componentes, osmolaridade, volume total, velocidade da infusão, via de acesso, data e hora da manipulação, prazo de validade, número sequencial de controle e condições de temperatura para conservação e transporte, nome e CRF do farmacêutico responsável. (BRASIL, 1998, documento on-line) Devem ser retiradas amostras representativas para os testes de esterilidade e microbiológicos. As amostras de contrarreferência de cada NP preparada devem ser armazenadas sob refrigeração até o fim do seu prazo de validade acrescido de sete dias. Segundo a Portaria 272/98, o transporte deve ser feito em recipientes térmicos exclusivos, protegidos da incidência direta da luz solar, sob condições validadas, que garantam a integridade físico-química e de esterilidade do produto. A temperatura de transporte não deve exceder 20°C e não deve ultrapassar 12 horas. O armazenamento da NP deve ser feito em geladeira exclusiva para medicamentos e sua temperatura deve estar entre 2°C a 8°C. A determinação do prazo de validade pode ser baseada em informações de avaliações da estabilidade físico-química dos fármacos ou por meio da realização de testes de estabilidade (MACHADO, 2010). 11.1 Estabilidade das formulações de nutrição parenteral A precipitação de cálcio e fósforo e a ruptura da emulsão lipídica são os principais aspectos críticos de estabilidade das formulações de NP. Nas formulações onde há a necessidade de adicionar uma quantidade maior de cálcio e fósforo, há o risco de formação de um precipitado insolúvel, o fosfato de cálcio. Este precipitado é proveniente da união do íon cálcio, fornecido pelo gluconato de cálcio, e do íon fosfato, fornecido pelo fosfato de potássio ou sódio. A formação deste precipitado pode ser impedida pela troca da fonte fósforo, utilizando o glicerofosfato de sódio, que é um fósforo orgânico ao invés do fosfato de sódio ou potássio (“fósforo inorgânico”). Outra recomendação para prevenir esta instabilidade é avaliar a concentração de cálcio e fósforo, o pH, o tempo de infusão, a temperatura e se a solução de AA é menor que 2,5%. As soluções de NP com sistema lipídico são sujeitas à ruptura da estabilidade da emulsão lipídica ou à formação de micelas gordurosas maiores. O risco de instabilidade pela separação de fases deste tipo de NP pode ser calculado utilizando 44 a fórmula segundo Shultz-Hard, no qual o intervalo recomendável é de 400 a 700 mMol/L. A fórmula pode ser vista a seguir (MACHADO, 2010): CAN = (a + 64 × b + 729 × c) × 1000/volume total onde: CAN: número crítico de agregação; a: concentração de cátions monovalentes em mMol/L; b: concentração de cátions divalentes em mMol/L; c: concentração de cátions trivalentes em mMol/L. São fatores que podem influenciar a estabilidade de uma emulsão lipídica: concentração final de AA, glicose e lipídeos, proporção entre macronutrientes, concentração de eletrólitos, ordem de adição, pH, volume final da mistura e temperatura de armazenamento. Algumas atitudes podem ser tomadas ao verificar a instabilidade da emulsão, como corrigir a distribuição e a concentração de íons; dividir a solução em duas etapas, separando os íons divalentes; aumentar a concentração de AA; alterar a concentraçãode glicose; administrar a emulsão lipídica em sistema separado. 45 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECK, Bianca Duarte. Suporte nutricional parenteral. SAGAH, 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de terapia nutricional na atenção especializada hospitalar no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. Brasília, DF, 2016. Disponível em: . Acesso em: 04 fev. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/SNVS nº 272, de 8 de abril de 1998. Regulamento técnico para a terapia de nutrição parenteral. Brasília, DF, 1998. Disponível em: http:// ccihadm.med.br/legislacao/Nutricao_parenteral_ANVISA.pdf. Acesso em: 29 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 272, de 8 de abril de 1998. Brasília, DF, 1998. Disponível em: . Acesso em: 04 fev. 2018. BRITO, D. A. Complicações por uso de cateter venoso na nutrição parenteral. 2011. Monografia (Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas)- Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. Disponível em: https://www.acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/54375/R%20-%20E%20- %20DARCLEY%20ALVES%20BRITO. pdf?sequence=1. Acesso em: 28 jan. 2020 CALIXTO-LIMA, L. et al. Manual de nutrição parenteral. Rio de Janeiro: Rubio, 2010. COSTA, M.J.C., SILVA, E. M. Nutrição Parenteral. Uma abordagem metabólica para nutricionistas. 2014. CORDELINI, S. Triagem e avaliação nutricional em pediatria. In: CARUSO, L.; SOUSA, A. B. (org.). Manual da equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN): Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – HU/USP. São Carlos: Cubo, 2014. p. 29–32. Disponível em: http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/46777. Acesso em: 17 out. 2020. MACHADO, Marcella Gabrielle Mendes. Farmacoterapia e Nutrição Parenteral. SAGAH, 2010. Métodos de administração da nutrição parenteral (NP) em Só Nutrição. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2021. Consultado em 02/09/2021 às 09:42. Disponível na Internet em http://www.sonutricao.com.br/conteudo/artigos/enteral/p3.php. SANT ANNA, Lina. Terapias nutricionais enteral e parenteral em pediatria. SAGAH, 2020. SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA. Acessos para terapia de nutrição parenteral e enteral. São Paulo: AMB, 2011. Disponível em: . Acesso em: 04 fev. 2018. 46 TOLEDO, D.; CASTRO, M. Terapia nutricional em UTI. Rio de Janeiro: Rubio, 2015. 424 p. VIANA, L. A.; BURGOS, M. G. P. A.; SILVA, R. A. Qual é a importância clínica e nutricional da síndrome de realimentação? Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 56-59, mar. 2012. Disponível em: . Acesso em: 04 fev. 2018. WAITZBERG, D. L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2006. 2 v.