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TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL W BA 07 04 _v 1. 0 22 Iara Gumbrevicius Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Terapia nutricional enteral e parenteral 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Raquel D’ Agostini Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Gumbrevicius, Iara G974t Terapia nutricional enteral e parenteral/ Iara Gumbrevicius, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 116 p. ISBN 978-85-522-1619-3 1. Nutrição. 2. Terapia. I. Gumbrevicius, Iara. Título. CDD 613 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Introdução às terapias nutricionais enteral e parenteral: escolha da terapia adequada 6 Terapia nutricional enteral 24 Terapia nutricional parenteral 43 Papel da equipe multi ou interdisciplinar no serviço de terapia nutricional enteral e parenteral 62 Terapia nutricional enteral e parenteral no domicílio 82 Terapia nutricional enteral e parenteral em pediatria e doenças específicas 101 Alimentação transicional, síndrome de realimentação e questões éticas 122 TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 55 5 Apresentação da disciplina Prezado aluno, Nessa disciplina, você iniciará seus estudos com uma introdução às terapias nutricionais enteral e parenteral, com foco na escolha da terapia adequada. Na sequência você vai estudar, com mais riqueza de detalhes, a terapia nutricional enteral e a terapia nutricional parenteral, com foco nas indicações, contraindicações, complicações, vias de acesso, formas de administração, entre outros. Em seguida, você vai conhecer o papel da equipe multiprofissional em terapia nutricional no serviço de terapia nutricional enteral e parenteral. Para complementar seus estudos, serão apresentados conteúdos sobre a terapia nutricional enteral e parenteral no domicílio, seguindo com a terapia nutricional enteral e parenteral em pediatria e doenças específicas. Para finalizar, serão abordados questionamentos voltados à transição nutricional, síndrome de realimentação e questões éticas em terapia nutricional. É muito importante que você, como futuro nutricionista clínico, esteja habituado a procurar na literatura científica, atualizações clínicas; novas comprovações ou confirmações destas; inovações científicas, enfim, todos os assuntos relacionados à área da saúde que você for atuar. São essas pesquisas que deverão direcionar sua conduta profissional, uma vez que esse tipo de recurso é a base que o nutricionista clínico deve seguir. Além disso, nunca se esqueça de que, além da competência técnica, a ética em nutrição deve ser seu norte, de tal forma que todo o cuidado seja centrado no paciente, de forma humanizada, digna e respeitosa. Seja muito bem-vindo! Bons estudos! 666 Introdução às terapias nutricionais enteral e parenteral: escolha da terapia adequada Autora: Iara Gumbrevicius Objetivos • Definir falência nutricional e conhecer suas implicações na saúde dos pacientes. • Distinguir os tipos de terapias nutricionais – enteral e parenteral. • Reconhecer a importância da terapia nutricional precoce. • Conhecer as indicações de cada tipo de terapia nutricional. 77 7 1. Introdução às terapias nutricionais enteral e parenteral: escolha da terapia adequada O estado nutricional é determinante para a escolha da terapia nutricional, realizada por meio das vias enteral e/ou parenteral. A escolha da via adequada depende de vários fatores, entretanto, é fundamental que seja iniciada de forma precoce, para reduzir o risco de complicações clínicas que poderão levar o indivíduo a outros tipos de comorbidades e, inclusive, ao óbito. Inicialmente, você relembrará de forma breve, a importância do estado nutricional e da falência nutricional na determinação do suporte nutricional em indivíduos com doenças que acometem a composição corporal. Enquanto a doença de base não é tratada, a desnutrição é inevitável quando a alimentação por via oral não é suficiente para suprir as necessidades nutricionais do indivíduo, ocorrendo, assim, a perda progressiva de massa muscular (MM). Nestas condições instala-se a falência nutricional, caracterizada pela alteração de um sistema ou órgão, com fisiopatologia conhecida e de forte impacto na sobrevida do indivíduo, uma vez que, embora seja temporária, é de alta gravidade. É importante saber que a terapia de suporte não atua na doença base, mas sim nas modificações ocasionadas pela agressão primária. A implementação do suporte nutricional tem como objetivo fornecer e manter um fluxo regular e constante de nutrientes, suprindo as necessidades de síntese proteica e fornecimento energético. A recuperação de um indivíduo com falência nutricional pode levar meses a anos, e a incapacidade de manter este aporte nutricional determina a progressiva falência de múltiplos órgãos. Em doenças graves, a falência nutricional pode atingir todos os órgãos e sistemas, uma vez que a proteólise é intensa e proporcional à agressão. A perda de MM está diretamente relacionada ao surgimento 88 de complicações clínicas e aumento da mortalidade. Uma redução em 40% de MM promove a falência de múltiplos órgãos e o óbito se torna inevitável (TOLEDO e CASTRO, 2015). Indivíduos com doenças graves geralmente são incapazes de manter uma ingestão oral adequada e, primeiramente, são dependentes de suas reservas endógenas. As reservas de carboidratos na forma de glicogênio hepático e muscular são pequenas. Para se ter uma ideia, um homem adulto de 70 kg possui 150 g de glicogênio na musculatura esquelética e 70 g no fígado. Esses estoques são consumidos em 1 a 2 dias durante um período de jejum e, quando este se postergar por mais tempo, serão utilizados os triglicerídeos do tecido adiposo e aminoácidos da proteína corpórea. O tecido adiposo tem como função fornecer calorias endógenas, quando não há oferta adequada de nutrientes. As fontes proteicas não têm função de reserva para fornecimento de energia, no período de jejum ou aumento da demanda calórica são empregadas as proteínas musculares e viscerais, cujo uso se relaciona à agressão e inanição (ROSENFELD, 2014). A principal fonte de aminoácidos para a gliconeogênese e síntese proteica de fase aguda advém do tecido muscular esquelético e intestino. Nessas condições, ocorre uma redução na captação de aminoácidos pelos músculos, provendo, assim, perda de MM. Os principais aminoácidos mobilizados para este processo são os de cadeia ramificada e a glutamina, o que determina uma maior demanda de nitrogênio. Nestes pacientes, a manutenção da MM é inteiramente condicionada à terapia nutricional (TN) utilizada corretamente, que deve ser de acordo com as alteraçõese a disfunção metabólica. Tal procedimento promove uma recuperação mais rápida, menos danosa e com melhor qualidade de vida ao indivíduo (TOLEDO e CASTRO, 2015). Entende-se por TN, “o conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio da Nutrição Parenteral ou Enteral” (BRASIL, 2000, s.p.). 99 9 A terapia nutricional é preconizada na diminuição da morbimortalidade agindo na prevenção e tratamento da desnutrição, além de ser eficaz na redução das complicações clínicas, tempo de internação hospitalar e custos hospitalares. Em casos em que o jejum deve ser priorizado, a TN é contraindicada, até obtenção da liberação médica. Segundo a American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN), na presença de comprometimento hemodinâmico, a TN, seja nutrição enteral (NE) ou nutrição parenteral (NP), deve ser postergada até que o indivíduo se restabeleça e se estabilize clinicamente. Na presença de sinais clínicos de hipoperfusão tecidual, como por exemplo, taquicardia, hipotensão, entre outros, a TN não deve ser iniciada (MCCLAVE et al., 2016). PARA SABER MAIS A TN aumenta a demanda de O2 no trato gastrintestinal. Se o organismo do paciente está nos limites entre oferta e consumo de O2, a TN poderá agravar seu quadro clínico, por incluir maior demanda desse elemento nessa região, além de ser necessário também, nesse local, maior aporte de fluxo sanguíneo. Assim, a oferta da TN em indivíduos hemodinamicamente instáveis poderá acarretar em uma condição clínica chamada necrose intestinal não oclusiva, cuja evolução alcança índices de mortalidade acima de 50%. A terapia nutricional enteral (TNE) é descrita como o “conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de NE” (BRASIL, 2000, s.p.). Já a terapia nutricional parenteral (TNP) é definida como “conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de NP” (BRASIL, 1998, s.p.). 1010 O conceito de nutrição enteral é, de acordo com BRASIL (2000, s.p.): alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializado ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. Já a nutrição parenteral, segundo BRASIL (1998, s.p.), tem o seguinte significado: solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. A terapia nutricional é de responsabilidade multiprofissional e especializada, sendo utilizada em praticamente todos os tipos de pacientes, sejam eles hospitalizados, ambulatoriais/clínicos e/ou em atendimento domiciliar. Antes do estabelecimento do tipo de terapia nutricional deve-se estabelecer as metas nutricionais, atividade esta que cabe à equipe multiprofissional de terapia nutricional (EMTN). O papel do profissional nutricionista, nesse momento, é fundamental. Após a triagem ou avaliação nutricional é definido o diagnóstico nutricional do paciente, identificando os potenciais candidatos à terapia nutricional. O responsável por indicar ro tipo de TN é o médico, e em 1111 11 conjunto com a EMTN é feita a organização e desenvolvimento do melhor plano de tratamento para o paciente. Os cuidados são definidos de acordo com protocolos específicos do serviço, sempre trabalhando para evitar complicações aos métodos de administração da TN. Tanto a prescrição médica como a dietética devem ser padronizadas, assim como os outros procedimentos envolvidos. Um exemplo de protocolo para planejamento da terapia nutricional está descrito na Figura 1. É indicado que, havendo possibilidade, a TN seja utilizada de forma precoce. Entende-se por TN precoce a administração de dieta nas primeiras 24h a 48h após admissão hospitalar. Esse tipo de terapia proporciona ao indivíduo benefícios, por exemplo: redução das taxas de mortalidade, diminuição de atrofia intestinal, manutenção da integridade da mucosa intestinal, menores índices de translocação bacteriana, entre outros. ASSIMILE Para iniciar a terapia nutricional precoce, com uso de bomba de infusão, deve-se adotar baixo volume, entre outras considerações (BORGES, BARONE e OLIVEIRA, 2015). • Começar com baixa vazão (10-15mL/h), observando os sintomas abdominais. De acordo com a tolerância do paciente, esse volume pode ser acrescido de forma lenta e gradual até atingir a sua necessidade calórica total. A terapia nutricional precoce pode ser iniciada em pacientes com diarreia, desde que específica para esse fim. 1212 Figura 1 – Algoritmo do planejamento da terapia nutricional Fonte: Castro e Pompilio (2014, cap. 45, p. 377). 1313 13 1.1 Terapia Nutricional Enteral (TNE) A TNE é indicada em situações que o trato gastrintestinal (TGI) esteja total ou parcialmente funcionante e quando a ingestão oral for insuficiente para alcançar dois terços a três quartos das necessidades nutricionais diárias do paciente e, também, em condições de desnutrição (WAITZBERG, 2009). Para se determinar o acesso enteral há que se observar a duração prevista para terapia, o grau de risco de deslocamento da sonda ou risco de aspiração, o estado clínico do paciente, as condições do trato gastrintestinal e as alterações anatômicas individuais, como por exemplo, desvio de septo nasal. Já em relação ao tempo de administração da TNE, tem-se dois tipos de acessos: (I) curta duração (menos que seis semanas), com uso da via nasogástrica ou nasoentérica (sonda duodenal e sonda jejunal) e (II) longa duração (mais que seis semanas), com uso de gastrostomia e jejunostomia (FERRAZ; PINTO; TOLEDO, 2015). As indicações de TNE estão descritas na Tabela 1. Há vantagens e desvantagens no uso da TNE, de acordo com a localização da sonda, que pode ser gástrica, duodenal ou jejunal, conforme apresentadas na Tabela 2. Tabela 1 – Indicações de TNE em adultos de acordo com a situação do TGI Trato gastrintestinal íntegro • Lesões do sistema nervoso central, depressão, anorexia nervosa, caquexia cardíaca, câncer, trauma muscular, cirurgia ortopédica, queimaduras. Dificuldades de acesso ao intestino normal • Lesão de face e mandíbula, câncer de boca, hipofaringe, cirurgia de esôfago, deglutição comprometida de causa muscular/neurológica, lesão obstrutiva inflamatória benigna ou fístula de jejuno. 1414 Anormalidades funcionais do intestino • Doenças intestinais neonatais, obstrução crônica, diminuição do esvaziamento gástrico, fístula digestiva, síndrome do intestino curto, íleo gástrico colônico, anormalidades metabólicas do intestino, má-absorção, alergia alimentar múltipla, pancreatite, enterite por quimioterapia e radioterapia, anorexia, câncer, estados hipermetabólicos, queimadura, infecção grave, trauma extenso, cirurgia e hipertireoidismo. Fonte: adaptada de Alves e Waitzberg (2009, p. 788). Tabela 2 – Vantagens e desvantagens da localização gástrica e duodenal/jejunal Localização gástrica Localização duodenal/jejunal Vantagens • Maior tolerância às fórmulas variadas (proteínas isoladas, aminoácido cristalino). • Boa aceitação de fórmulas hiperosmóticas. • Permite a progressão mais rápida para alcançar o valor calórico total ideal. • Devido à dilatação receptiva gástrica, permite a introdução de grandes volumes em curto tempo. • Fácilposicionamento da sonda. • Menor risco de aspiração. • Maior dificuldade de saída acidental da sonda. • Permite nutrição enteral quando a alimentação gástrica é inconveniente e inoportuna. Desvantagens • Alto risco de aspiração em pacientes com dificuldades neuromotoras de deglutição. • Ocorrência da tosse, náusea ou vômito favorece a saída acidental da sonda nasoenteral. • Risco de aspiração em pacientes que têm mobilidade gástrica alterada ou que são alimentados durante a noite. • Desalojamento acidental, podendo causar refluxo gástrico. • Requer dietas normo ou hipo-osmolares. Fonte: Alves e Waitzberg (2009, p. 789). 1.2 Terapia Nutricional Parenteral (TNP) Indicada na impossibilidade de uso da alimentação por via oral e via enteral, a nutrição parenteral (NP) também pode ser utilizada como adjuvante na nutrição enteral, a fim de otimizar a oferta nutricional, de tal forma que supra as necessidades nutricionais do indivíduo. 1515 15 Os acessos utilizados na NP são (FERRAZ; TOLEDO, 2015): • Acesso venoso periférico: indicado para períodos inferiores a 15 dias. Utilizado como terapia complementar à oferta por via oral e enteral. • Acesso venoso central: indicado para períodos prolongados, superiores a 15 dias. A escolha do tipo de acesso à NP depende de fatores como (FERRAZ; PINTO; TOLEDO, 2015): • Tempo de duração de uso da terapia. • Osmolaridade da solução. • Anatomia do local de acesso. • Presença de distúrbios de coagulação, entre outros. As principais indicações da TNP estão descritas a seguir (Quadro 1). Quadro 1 – Principais indicações de terapia nutricional parenteral Indicação Comentários Fístulas digestivas de alto débito Quando em atividade, principalmente nas fístulas digestivas baixas, ineficácia da terapia nutricional enteral (TNE) por causa da perda de água, eletrólitos e nutrientes. Síndrome do intestino curto Má absorção devido à própria doença e oferta inadequada de nutrientes por via enteral. Doenças inflamatórias intestinais Intolerância à TNE e facilidade na remissão da doença em atividade. Obstrução intestinal Quando não houver indicação imediata de cirurgia. Íleo paralítico Quando não houver previsão do funcionamento normal em até 5 dias. Vômitos persistentes Impossibilidade de controle com uso de antieméticos. Pancreatites graves Na intolerância à NE. Grande queimado A necessidade calórico-proteica é superior à capacidade de ingestão. 1616 Pré-operatório Na presença de desnutrição grave, indica- se a terapia nutricional parenteral por sete a dez dias antes da cirurgia de grande porte; quando houver incapacidade de receber nutrição total ou parcial pela via digestiva. Lactentes prematuros e de baixo peso Inadequação ou fracasso da TNE. Fonte: adaptado de Kawamura e Castro (2015, p. 138). De uma forma geral, a TN deve ser estabelecida nas primeiras 24 a 48 horas, sobretudo em pacientes desnutridos e/ou na presença de catabolismo intenso em função da doença, e quando não existir previsão de ingestão apropriada em três a cinco dias (KANG, 2007; SBNPE, 2011). A nutrição enteral é a via de acesso preferencial (KREYMANN et al., 2006). Esgotadas as possibilidades de uso do tubo digestório, sem alcance dos objetivos determinados ou sendo contraindicado o uso desta via, a nutrição parenteral deve ser empregada. Se depois de sete a dez dias com TNE não se alcançar 100% das recomendações, deve-se considerar a associação do suporte parenteral (SBNPE, 2011). 2. Monitorização da terapia nutricional (TN) A monitorização da TN tem como principal objetivo intervir prontamente se surgirem dificuldades e/ou quaisquer tipos de problemas, a fim de impedir complicações que possam ser danosas ao paciente. Esse procedimento deve ser concretizado de forma rígida, com avaliação diária, ajustado à doença, ao uso de medicamentos, manuseio do indivíduo, assim como sua resposta ao tipo de TN em uso e todas as outras considerações relacionadas a cada caso clínico. As prováveis complicações necessitam ser monitoradas, como por exemplo, diarreia, distensão abdominal, vômitos, febre, presença de edemas, dentre outras. 1717 17 São rotineiramente empregados na monitorização os seguintes parâmetros (ALLISON, 2008): • Sinais clínicos: presença de edema ou desidratação, pressão sanguínea, lucidez e disposição do paciente, temperatura, pulso, exame clínico dos sistemas e órgãos, a exemplo do coração, abdome, pulmões, rins etc. • Parâmetros nutricionais: apetite, função gastrintestinal, ingestão por via oral ou outras vias. • Antropometria: peso diário, peso semanal, medidas de circunferência. • Funcional: dinamometria da mão (para avaliação da força muscular), volume expiratório máximo, escores da disposição física, de qualidade de vida. • Balanço hídrico: alterações de débito urinário, perdas por fístulas, aspiração gástrica. • Dados laboratoriais: a frequência e os exames solicitados são determinados pela condição clínica do paciente. • Dados da evolução e auditoria: todas as complicações, tratamentos e técnicas de alimentação devem estar registrados. O tempo de internação, custos e evolução clínica, dados da alta hospitalar e os dados anteriormente citados são necessários para casos de auditorias e programas de pesquisa. Todos os itens pertinentes à monitorização devem ser anotados diariamente no prontuário do paciente, em todos os momentos em que essa for efetuada pelo profissional, independentemente da quantidade de vezes diárias que são mensurados, com carimbo do profissional, especialidade, número do respectivo conselho regional e data. Nos últimos anos, a terapia nutricional obteve grande valor, sendo essencial nos cuidados a pacientes com diversos tipos de doenças e condições clínicas, devido ao fato de ser comprovado e reconhecido 1818 cientificamente que o estado nutricional do indivíduo tem relação direta tanto na evolução clínica como na redução da morbimortalidade, do catabolismo, melhora do sistema imunológico, conservação da integridade funcional do TGI, além de proporcionar menor tempo de internação e diminuição dos custos envolvidos no tratamento. Quanto mais rápido for instalado o suporte nutricional, principalmente em pacientes com risco nutricional, risco de desnutrição ou já desnutrido, mais eficiente será o processo de recuperação e manutenção de melhores condições de saúde (BORGES; BARONE; OLIVEIRA, 2015). Com uso e escolha adequada da TN, baseada também na correção de distúrbios metabólicos e oferta de nutrientes específicos, os índices de morbimortalidade podem ser reduzidos de forma significativa. TEORIA EM PRÁTICA Você é nutricionista clínico em um hospital da cidade em que reside e foi convidado para fazer parte da equipe multiprofissional de terapia nutricional deste local, pois recentemente foi inaugurada a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Vários protocolos já foram criados, entretanto, você observou que falta elaborar o protocolo de monitorização da terapia nutricional. Atualmente, o controle é feito só com base em dados descritos no prontuário do paciente, na hora da visita médica, em conjunto com outros profissionais da saúde. O que deve ser considerado em relação a esse tipo de controle atual? Ao implantar o protocolo de monitorização da TN, quais parâmetros devem ser contemplados? Esse é um trabalho que você poderá executar sozinho e depois submeter à aprovação da sua equipe de trabalho? 1919 19 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Associe as informações da coluna A com a coluna B. COLUNA A COLUNA B I – Administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não. 1 – Terapia nutricional enteralII – Apresenta composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral. III – Permite a introdução de grandes volumes em curto tempo. 2 – Terapia nutricional parenteral IV – Apresenta alto risco de aspiração em pacientes com dificuldades neuromotoras de deglutição. V – A escolhada via de acesso depende da presença ou não de distúrbios de coagulação. Assinale a alternativa que apresenta a associação correta. a. I-1; II-2; III-2; IV-2; V-1. b. I-1; II-2; III-1; IV-1; V-2. c. I-2; II-1; III-2; IV-2; V-2. d. I-2; II-1; III-1; IV-1; V-2. e. I-2; II-1; III-1; IV-1; V-1. 2. A monitorização da terapia nutricional (TN) deve ser feita com avaliação diária, ajustado à doença, ao uso de medicamentos, manuseio do indivíduo, assim como sua resposta ao tipo de terapia nutricional. Analise as afirmativas a seguir: 2020 I. Sinais clínicos: presença de edema, pressão sanguínea, temperatura etc. II. Parâmetros nutricionais: peso diário, medidas de circunferência etc. III. Antropometria: avaliação da função gastrintestinal, via pela qual é feita a alimentação etc. IV. Funcional: dinamometria da mão, escores da disposição física, de qualidade de vida etc. V. Balanço hídrico: alterações de débito urinário, perdas por fístulas etc. Em relação aos parâmetros empregados na monitorização da TN, é correto o que se afirma somente em: a. I – IV – V. b. I – III – V. c. II – III – IV. d. II – IV – V. e. I – III – IV. 3. Na impossibilidade de uso do trato gastrintestinal, sem alcance dos objetivos determinados ou sendo contraindicado o uso desta via, a nutrição parenteral (NP) deve ser empregada. Esse tipo de terapia nutricional também pode ser utilizada como complemento. Depois de quantos dias em uso de nutricional enteral (NE), sem atingir 100% das recomendações nutricionais, a NP é indicada como coadjuvante da NE? 2121 21 a. 1 a 2 dias. b. 10 a 15 dias. c. 7 a 10 dias. d. 2 a 3 dias. e. 1 a 7 dias. Referências bibliográficas ALLISON, S. Monitorização da terapia nutricional. In: SOBOTKA, L. Bases da nutrição clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2008, Cap. 7, p. 256. ALVES, Claudia Cristina; WAITZBERG, Dan L. Indicações e técnicas de ministração em nutrição enteral. In: WAITZBERG, Dan L.. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2009, Cap. 43, p. 787-798. BORGES, Viviane Chaer; BARONE, Michelle Grillo; OLIVEIRA, Patrícia Morais de. Terapia nutricional enteral precoce. In: TOLEDO, Diogo; CASTRO, Melina. Terapia nutricional em UTI. Rio de Janeiro: Rubio, 2015, Cap. 11, p. 91-98. BRASIL. Resolução nº 63, de 6 de julho de 2000. Regulamento técnico para fixar os requisitos mínimos exigidos para a terapia de nutrição enteral. Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/legislacao/item/ resolucao-da-diretoria-colegiada-rcd-n-63-de-6-de-julho-de-2000. Acesso em: 27 jul. 2019. BRASIL. Resolução nº 272, de 8 de abril de 1998. Regulamento técnico para fixar os requisitos mínimos exigidos para a terapia de nutrição parenteral. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs1/1998/ prt0272_08_04_1998.html. Acesso em: 27 jul. 2019. CASTRO, M.; POMPILIO, C. E. Protocolos de terapia nutricional em Unidades de Terapia Intensiva. In: TOLEDO, D.; CASTRO, M. Terapia nutricional em UTI. Rio de Janeiro: Rubio, 2015, Cap. 45, p. 377. FERRAZ, L. J. R.; PINTO, L. M.; TOLEDO, D. Escolha da via de acesso para terapia nutricional. In: TOLEDO, D.; CASTRO, M. Terapia nutricional em UTI. Rio de Janeiro: Rubio, 2015, Cap. 9, p. 69-79. KANG, Woodae; KUDSK, Kenneth A. 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Disponível em: http://dx.doi.org/10.1177/0148607109335234. Acesso em: 29 jul. 2019. ROSENFELD, Ricardo. Falência nutricional: conceito e base para a terapia nutricional no paciente grave. In: ROSENFELD, Ricardo. Terapia nutricional no paciente grave. São Paulo: Atheneu, 2014, Cap. 1, p. 1-6. SBNPE. Sociedade Brasileira de Nutrição, Parenteral e Enteral. Associação Brasileira de Nutrologia Terapia Nutricional no Paciente Grave. Associação Médica Brasileira/Conselho Federal de Medicina - Projeto Diretrizes 2011;1-16. Disponível em: https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_ no_paciente_grave.pdf. Acesso em: 29 jul. 2019. TOLEDO, Diogo; CASTRO, Melina. Terapia nutricional em UTI. Rio de Janeiro: Rubio, 2015. 424 p. WAITZBERG, Dan L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2009. Gabarito Questão 1 – Resposta D Administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não é feita quando a terapia nutricional instalada é a via parenteral. Quando a composição da dieta é definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, trata-se de uso de terapia nutricional enteral, a qual permite a introdução de grandes volumes em curto tempo. A TNE também apresenta alto risco de aspiração em pacientes com dificuldades neuromotoras de deglutição, por isso deve sempre ser reavaliado seu acesso. A escolha da via de acesso da TNP depende da presença ou não de distúrbios de coagulação. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente! http://dx.doi.org/10.1177/0148607109335234 https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_no_paciente_grave.pdf https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_no_paciente_grave.pdf 2323 23 Questão 2 – Resposta A É correto somente o que se afirma em: I, IV e V. Os parâmetros corretos de monitorização da terapia nutricional são: I – Sinais clínicos: presença de edema, pressão sanguínea, temperatura etc. II – Parâmetros nutricionais: presença ou não de anorexia, função gastrintestinal, via pela qual é feita a alimentação etc. III – Antropometria: peso diário, medidas de circunferência etc. IV – Funcional: dinamometria da mão, escores da disposição física, de qualidade de vida etc. V – Balanço hídrico: alterações de débito urinário, perdas por fístulas etc. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente! Questão 3 – Resposta C A nutrição enteral é a via de acesso preferencial. Esgotadas as possibilidades de uso do tubo digestório, sem alcance dos objetivos determinados ou sendo contraindicado o uso desta via, a nutrição parenteral deve ser empregada. Se depois de 7 a 10 dias com TNE não se alcançar 100% das recomendações, deve-se considerar a associação do suporte parenteral. Em um período curto (menos de uma semana), deve-se tentar atingir as necessidades nutricionais pela via enteral, uma vez que é a primeira via de escolha determinada. A nutrição enteral é indicada quando não se atinge as necessidades por via oral, em 3 a 5 dias, logo, seguindo esse raciocínio, não se deve introduzir antes e nem junto a via parenteral, salvo raras exceções à regra. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente! 242424 Terapia nutricional enteral Autora: Iara Gumbrevicius Objetivos • Identificar as indicações e contraindicações do uso de nutrição enteral. • Reconhecer as recomendações de uso da nutrição enteral. • Conhecer os tipos de fórmulas enterais, sua composição e indicações. • Avaliar as doses e velocidades de administração das dietas enterais, com base no posicionamento da sonda. • Entender a importância do monitoramento da terapia nutricionalenteral. 2525 25 1. Terapia Nutricional Enteral (TNE) Quando as necessidades nutricionais não são alcançadas pelo uso da via oral, há a necessidade de introduzir a terapia nutricional enteral. A regra é que sejam seguidas, preferencialmente, as seguintes vias, na ordem destacada: via oral, enteral e parenteral. Em determinadas condições, faz-se associações entre essas vias, de acordo com as necessidades nutricionais e possibilidades fisiológicas e metabólicas de cada indivíduo (WAITZBERG, 2009). Na prática clínica, é muito comum observar a presença de desnutrição energético-proteica, principalmente em pacientes hospitalizados, que pode alcançar índices de até 80% dos doentes (VASCONCELOS, 2014). Pacientes desnutridos apresentam maior tempo de internação, custos maiores para o hospital e para a saúde pública, maior risco de complicações clínicas e aumento das taxas de mortalidade (WAITZBERG, 2009). A alimentação feita por via enteral pode promover melhor condição de saúde ao indivíduo, recuperar e manter seu estado nutricional adequado e evitar maiores complicações no seu quadro clínico. Para isso, é imprescindível que seja adotada dentro de um menor período possível, a fim de evitar riscos de agravamento do estado nutricional. A nutrição enteral precoce deve ser administrada nas primeiras 48 horas após a admissão hospitalar (WAITZBERG, 2009). A TNE pode proporcionar melhora da integridade da mucosa intestinal, prevenindo a atrofia intestinal e evitando a translocação bacteriana, além de propiciar a manutenção da homeostase e do sistema imunológico, promover adequado balanço nitrogenado, apresentar desfecho positivo em relação à nutrição parenteral e atenuar a resposta inflamatória. 2626 São indicações do uso de TNE em indivíduos adultos, quando o trato digestório estiver total ou parcialmente funcionante (VASCONCELOS, 2014): • Pacientes que não podem se alimentar: inconsciência, anorexia nervosa, lesões orais, acidentes vasculares encefálicos, neoplasias, doenças desmielinizantes. • Pacientes com ingestão oral insuficiente: trauma, septicemia, alcoolismo crônico, depressão grave, queimaduras. • Pacientes nos quais a alimentação comum produz dor e ou desconforto: Doença de Crohn, colite ulcerativa, carcinoma do trato gastrintestinal (TGI), pancreatite, quimioterapia, radioterapia. • Pacientes com disfunção do TGI: síndrome de má absorção, fístula, síndrome intestino. Em relação às contraindicações de uso da TNE, são destacadas (VASCONCELOS, 2014): • Disfunção do TGI ou condições que requerem repouso intestinal. • Obstrução mecânica do TGI. • Refluxo gastroesofágico intenso. • Íleo paralítico. • Hemorragia no TGI severa. • Vômitos e diarreia severa. • Fístula de alto débito (> 500 mL/dia). • Enterocolite severa. • Pancreatite aguda grave. • Doença terminal. • Expectativa de utilizar a TNE em período inferior a cinco a sete dias para pacientes desnutridos ou sete a nove dias para pacientes bem nutridos. 2727 27 As vias de acesso utilizadas são localizadas no estômago, duodeno ou jejuno. Após indicação do uso de TNE, o primeiro passo a ser tomado para escolha da via é determinar o tempo que deverá ser utilizada a nutrição enteral. Pacientes que precisam de nutrição enteral (NE) por curto período (menos de seis semanas) preconiza-se o uso da sonda nasoenteral, que é de baixo custo e fácil colocação. A gastrostomia e a jejunostomia são utilizadas quando a duração da NE for superior a seis semanas (ALVES; WAITZBERG, 2009) (Figura 1). PARA SABER MAIS A faringostomia e a esofagostomia são técnicas pouco utilizadas, mas têm sido alternativas, principalmente para situações intraoperatórias, como cirurgias de cabeça e pescoço. Com o uso da gastrostomia, essas técnicas têm sido muito pouco utilizadas, embora seja importante saber que existem. Após a escolha do tipo de acesso, deve ser determinada a posição da extremidade distal da sonda, podendo esta ser intragástrica ou pós-pilórica. O acesso gástrico é feito com sonda nasogástrica ou gastrostomia e o acesso jejunal é feito por meio de sonda nasojejunal, jejunostomia ou gastrojejunostomia. Um dos critérios para esse tipo de decisão é, por exemplo, presença de risco de aspiração, velocidade de esvaziamento gástrico, gastroparesia, entre outros. As técnicas utilizadas para o acesso enteral podem ser feitas às cegas, por endoscopia, radioscopia, laparoscopia ou cirurgia. 2828 Figura 1 – Algoritmo para planejamento e seleção da via de acesso em nutrição enteral Fonte: Alves e Waitzberg (2009, p. 790). Após a seleção do posicionamento da sonda, determina-se a forma de administração da dieta, que poderá ser feita de forma intermitente (em bolus ou gravitacional) ou contínua (gotejamento contínuo) (Quadro 1). 2929 29 Quadro 1 – Métodos de administração da dieta enteral Alimentação intermitente Alimentação contínua Técnica de administração Bolus: administração de dieta com o auxílio de uma seringa. Procedimento: aspirar a dieta com a seringa; conectar a seringa na sonda. Lentamente empurrar o êmbolo da seringa para que o conteúdo seja infundido gradativamente. Recomenda-se não ultrapassar 20 mL por minuto. Gravitacional: administração da dieta em frasco por gotejamento, suspenso em suporte. Permite uma administração mais lenta que o bolus. Procedimento: conectar o equipo ao frasco plástico descartável ou diretamente no frasco da dieta (se for sistema fechado). Conectar o extremo do equipo na sonda e regular a velocidade de administração com a pinça do equipo. Consiste na administração por gotejamento contínuo. Pode ser realizada por gotejamento gravitacional, porém recomenda-se que seja feita por bomba de infusão, para melhor controle. Alimentação contínua: administração por períodos de aproximadamente 24 horas. Alguns hospitais e unidades de terapia intensiva instituem protocolos de administração em 20- 21 horas, considerando algumas horas de pausa para banho, fisioterapia, medicamentos e procedimentos, evitando, assim, desperdício de dieta e déficit calórico para o paciente. Alimentação cíclica: administração contínua por períodos de aproximadamente 12 horas (geralmente noturna). Indicada para NE complementar em pacientes com ingestão via oral, para estimular a aceitação alimentar. Procedimento: conectar o equipo da bomba com a pinça fechada ao frasco da dieta enteral. Suspender o frasco pelo menos 60 cm acima da cabeça do paciente. Colocar o equipo na bomba de infusão e seguir as instruções corretas de cada bomba. Conectar o extremo do equipo à sonda e regular a velocidade de administração da dieta enteral. Indicações específicas Pacientes com esvaziamento gástrico normal e/ou com NE domiciliar. Pacientes incapazes de tolerar alimentação intermitente, imobilizados, que requerem infusões mais lentas e precisas, eventualmente à noite. Protocolo de início Dieta na concentração total, a cada 3 a 4 horas, conforme tolerância e meta a ser alcançada. Monitorar volume residual gástrico e tolerância gastrintestinal. Dieta na concentração total, começando com 10 a 30 mL/hora, e avançando para a meta nutricional em aumentos de 10 a 20 mL a cada 12 a 24 horas, conforme tolerância. A ação deve ser mais conservadora em pacientes críticos em formulações hipercalóricas ou de alta osmolaridade. Aspectos psicológicos Mais desejável ao paciente domiciliar. Permite deambulação. Maior segurança e confiabilidade de infusão em decorrência do uso da bomba de infusão. Fonte: Booth, Heyland e Paterson (2002); Forlaw, chernaff e Guenter (1990) apud Rocha et al. (2017, p. 903). 3030 A administração em bolo ou intermitente deve ser realizada com o indivíduo sentado ou reclinado em 45º, para reduzir o risco de aspiração. Na posição gástrica podem ser utilizadas dietas iso e hiperosmolares, uma vez que o piloro reduz o risco de passagem de grande quantidade da solução para o duodeno (VASCONCELOS,2014). Quando o posicionamento da extremidade distal da sonda nasoenteral se situa na região gástrica, a velocidade e dose têm importância secundária, uma vez que os mecanismos fisiológicos de adaptação do estômago são permissíveis a este procedimento. Para administração intermitente de nutrição enteral gástrica, inicia-se com volume de 100 mL e esse é aumentado a cada 24 ou 48 horas até que as necessidades nutricionais sejam alcançadas completamente. Havendo necessidade poderá ser infundido até 500 mL de três a quatro horas. Antes de cada refeição é necessário verificar os resíduos gástricos e esta é suspensa quando forem superiores a 150 mL. Em relação à administração contínua, esta deve ter início com volume de 25 a 30 mL/hora/dia, aumentando gradativamente até a velocidade máxima de 100 a 150 mL por hora (VASCONCELOS, 2014). Quando a porção distal da sonda está localizada no duodeno ou no jejuno, ou seja, em porções distais do piloro, o gotejamento da dieta deve ser feito com muita atenção, já que a passagem rápida pode provocar cólica e diarreia, trazendo efeitos negativos tanto na nutrição do paciente quanto na sua qualidade de vida. Após confirmação radiológica da posição da sonda inicia-se a alimentação com uma fórmula diluída à razão de 50 mL/hora e, não surgindo efeitos colaterais gastrintestinais, a velocidade pode ser aumentada para 25 a 50 mL/hora/dia, até se obter o volume necessário. Na sequência, a osmolalidade é aumentada até que as necessidades nutricionais sejam obtidas (VASCONCELOS, 2014). Na infusão contínua, a dose e velocidade é determinada de forma semelhante à sonda com posicionamento gástrico. 3131 31 Em relação à composição da dieta enteral é necessário que a escolha seja feita para suprir as necessidades específicas do paciente, ter conhecimento exato da fórmula, ser nutricionalmente completa e adequada para o período de tratamento, além de ser bem tolerada, de baixo custo e de fácil preparação. A classificação das fórmulas pode ser (BAXTER et al., 2009); VASCONCELOS, 2014): • Fórmulas poliméricas: os nutrientes se apresentam intactos. Muitos pacientes podem se beneficiar com essa formulação. • Fórmulas oligoméricas: os nutrientes se apresentam parcialmente hidrolisados. São indicadas para pacientes com capacidade digestiva e absortiva de forma parcial. • Fórmulas elementares: as fórmulas se apresentam com os macronutrientes (especialmente as proteínas) na forma totalmente hidrolisada (aminoácidos). Indicadas para disfunções orgânicas específicas e presença de estresse metabólico. • Módulos: indicados para suplementar fórmulas e individualizar a formulação. No Quadro 2 você verificará a classificação das fórmulas enterais, em relação à categoria, subcategoria, características das fórmulas, forma dos macronutrientes e indicações. Para a seleção dos nutrientes, é importante saber que os carboidratos, que representam cerca de 40% a 60% do valor calórico total (VCT) da dieta enteral, são os nutrientes responsáveis pelo fornecimento de energia e são utilizados na NE na forma de mono, di, oligo e polissacarídeos. As principais fontes de carboidratos são a frutose, glicose, sacarose, maltodextrina e amido de milho. A presença de lactose na NE é indicada quando a administração da dieta for feita em posição gástrica e para pacientes sem intolerância à lactose. Os carboidratos não digeríveis (fibras alimentares) são cada vez mais utilizados na NE. 3232 A recomendação é iniciar com quantidade mínima e evoluir de acordo com a tolerância digestiva do paciente. As fontes de fibras mais utilizadas na NE são: pectina, goma-guar e o polissacarídeo da soja. As fibras são muito importantes não só para o funcionamento intestinal, como também para o fornecimento de substrato energético para os colonócitos. A síntese de ácido butírico, obtido pela fermentação das fibras alimentares, tem sido destacado como um dos responsáveis pela manutenção da integridade intestinal, de tal forma a minimizar a atrofia da mucosa intestinal. O conteúdo de fibras por formulação varia de 4 a 20 g de fibras/litro. É importante discutir com a EMTN que, na presença de fibras alimentares, deve-se utilizar um calibre de sonda maior, a fim de evitar a obstrução de equipos e sondas (BAXTER et al., 2009). As proteínas correspondem, na maioria das vezes, a 14% a 20% do VCT da formulação enteral e sua presença está relacionada ao fato de fornecerem aminoácidos para retenção nitrogenada e aumento da massa muscular, e não fornecimento de energia. Para se obter essa condição é necessário estabelecer a relação calorias não proteicas para cada grama de nitrogênio. Estudos mostram que a melhor relação para se obter um balanço nitrogenado positivo é de 150 calorias não proteicas para cada grama de nitrogênio (150:1). Os aminoácidos são divididos em essenciais, condicionalmente essenciais e não essenciais, e cabe ao nutricionista saber definir a necessidade de cada paciente, para que possa fazer a escolha correta da formulação da dieta enteral. Os aminoácidos podem ser apresentados na forma intacta, parcialmente hidrolisados e na forma de aminoácidos cristalinos. As principais fontes proteicas das formulações enterais são a soja, caseína e, em menor escala, a lactoalbumina, gema de ovo e soro de leite (BAXTER et al., 2009). Os lipídios, nutrientes de maior densidade calórica, correspondem a cerca de 30% a 35% do VCT da formulação, com exceção das dietas hipolipídicas. Os lipídios podem se apresentar na forma intacta, como triglicérides de cadeia longa (TCL), triglicérides de cadeia média (TCM) ou curta. As principais fontes utilizadas são os óleos de milho e de girassol, 3333 33 gordura láctea, óleo de peixe, óleo de coco, TCM industrialmente extraído e ácidos graxos poli-insaturados (PUFA), procedentes de óleos vegetais (BAXTER et al., 2009). O provimento de vitaminas e minerais é dependente das necessidades individuais de cada paciente e da doença de base. A maioria das formulações enterais disponíveis no mercado atingem as necessidades nutricionais dos pacientes, entretanto, mesmo quando se atinge as recomendações da Recomended Dietary Allowance (RDA), pode haver necessidade de suplementação. Quadro 2 – Classificação das fórmulas enterais Categoria Sub- categoria Características da fórmula Forma dos ma- cronutrientes Indicações POLIMÉRICA Padrão Composição: 10- 15% de proteínas 50-60% de carboidratos 25-30% de lipídios Isotônica (300 mOsm/ Kg de água) Isenta de lactose Nutricionalmente completa Proteína intacta Polissacarídeos Dissacarídeos Polímeros de glicose Monossacarídeos PUFA TCM Capacidade digestiva e absortiva normal do TGI POLIMÉRICA Hiperproteica Proteína > 15% Isotônica Isenta de lactose Nutricionalmente completa Proteína intacta Polissacarídeos Polímeros de glicose PUFA TCM Catabolismo Desnutrição Capacidade digestiva e absorti- va normal do TGI Suplementada com fibras Conteúdo de fibras: 5 a 14g/Lt de fórmula Isotônica Isenta de lactose Nutricionalmente completa Proteína intacta Polímeros de glicose Dissacarídeos Fibra: polissacarídeos de soja PUFA TCM Regulação da função intestinal Uso da NE por período prolongado Capacidade digestiva e absortiva normal do TGI Concentrada Densidade calóri- ca: 1,5 a 2 kcal/mL Alta osmolalidade ( > 450 mOsm/Kg de água) Isenta de lactose Nutricionalmente completa Proteína intacta Polímeros de glicose Dissacarídeos Monossacarídeos PUFA TCM Restrição de líquidos Capacidade digestiva e absortiva normal do TGI 3434 PARCIALMENTE HIDROLISADA Proteína parcialmente hidrolisada Médio conteúdo de lipídios: 3 a 40% Média osmolalidade (250 a 650 mOsm/ Kg de água) Isenta de lactose Nutricionalmente completa Proteína hidrolisada D-peptídeos Tripeptídeos Aminoácidos Polímeros de glicose Dissacarídeos Monossacarídeos PUFA TCM Mínima capacidade digestiva Limitada área de absorção do TGI (síndrome do intestinocurto, doença celíaca, desnutrição) Enteropatias com perda proteica (doenças inflamatórias intestinais ou doença actínica) Aminoácido livre Médio conteúdo de lipídios: 1 a 15% Média osmolalidade (> 450 mOsm/Kg de água) Isenta de lactose Nutricionalmente completa Aminoácidos cristalinos Polímeros de glicose Monossacarídeos PUFA TCM Mínima capacidade digestiva Limitada área de absorção do TGI (síndrome do intestino curto, doença celíaca, desnutrição) ESPECIALIZADA Nefropatia Contém alta taxa de ami- noácido essencial Baixo conteúdo de eletrólitos Conteúdo limitado de vitaminas A e D, mag- nésio e fósforo Alta densidade caló- rica (2 kcal/mL) Alta osmolalidade (> 450 mOsm/Kg de água) Isenta de lactose Aminoácidos cristalinos Polímeros de glicose Dissacarídeos Monossacarídeos PUFA TCM Insuficiência renal Intolerância à lactose Baixo conteúdo de car- boidratos: 30% a 35% Alto conteúdo de lipídios: 50% Suplementada com fibras Isotônica (300 mOsm/ Kg de água) Isenta de lactose e sacarose Nutricionalmente completa Proteína intacta Polissacarídeos PUFA Estresse metabólico Diabetes mellitus Trauma/ estresse Contém 45% a 50% de aminoácidos de ca- deia ramificada Alta osmolalidade (> 450 mOsm/Kg de água) Isenta de lactose Proteína intacta RNA Arginina Glutamina Polímeros de glicose Dissacarídeos PUFA TCM Estresse metabólico Disfunção imune 3535 35 MÓDULOS Proteínas Digestibilidade variada Apresentação na forma de pó Proteína intacta Aminoácidos cristalinos Suplementação proteica Carboidratos Facilmente dissolvida em várias fórmulas Facilmente digerida Apresentação na forma de pó Maltodextrina Suplementação calórica MÓDULOS Lipídios Alta densidade calórica Relativamente insolúvel Digestibilidade variada Apresentação na forma líquida PUFA TCM Suplementação calórica, sobretudo em restrição de líquidos Fibras Apresentação na forma de pó Polissacarídeo de soja: fibra solúvel e insolúvel Regulação da função intestinal Uso da nutrição enteral por período prolongado Fonte: adaptado de Vasconcelos (2014, p. 540-542). ASSIMILE A osmolaridade está relacionada ao número de partículas ativas (miliosmoles)/litro de solução (mOsm/L). A osmolalidade é o número de partículas/Kg de água (mOsm/kg). O termo osmolalidade é o mais usado para comparar dietas e descreve a tolerância digestiva da fórmula enteral. Fórmulas com maior osmolalidade são indicadas para posicionamentos gástricos, e para as porções mais distais do piloro usam-se as fórmulas iso ou hipo-osmolares. Fonte: https://www.dicio.com.br. Acesso em: 13 ago. 2019. O cálculo da quantidade de dieta a ser oferecida ao paciente é singular, uma vez que, havendo restrição hídrica, o volume deve ser muito bem definido. Para isso, a densidade calórica deve ser muito bem avaliada (Quadro 3). A recomendação hídrica é variável, conforme pode ser https://www.dicio.com.br 3636 observado no Quadro 4. Quanto maior a densidade calórica, menor a quantidade de água. Quadro 3 – Categorização das fórmulas enterais segundo sua densidade calórica Categorização Valores de densidadeCalorias (kcal/mL) Categorização da fórmula Muito baixa < 0,6 Acentuadamente hipocalórica Baixa 0,6 – 0,8 Hipocalórica Padrão 0,9 – 1,2 Normocalórica Alta 1,3 – 1,5 Hipercalórica Muito alta > 1,5 Acentuadamente hipercalórica Fonte: adaptado de Baxter (2009, p. 849). Quadro 4 – Bases de cálculo de necessidades hídricas* Base de cálculos 1500 mL/m2 1500 mL para os primeiros 20 Kg + 20 mL/Kg acima 30 – 35 mL/Kg (média para adultos) 30 – 35 mL/Kg (18 - 64 anos) 30 mL/Kg (55 – 65 anos) 25 mL/Kg (> 65 anos) RDA: 1 mL/kcal 1 mL/kcal + 100 mL/g de nitrogênio ofertado Fonte: Hopkins (1993) apud Baxter (2009, p. 849). As fórmulas enterais podem ser categorizadas de acordo com a sua osmolalidade em (BAXTER et al., 2009): • Hipotônica: 280 – 300 mOsm/Kg de água. • Isotônica: 300 – 350 mOsm/Kg de água. • Levemente hipertônica: 350 – 550 mOsm/Kg de água. 3737 37 • Hipertônica: 550 – 750 mOsm/Kg de água. • Acentuadamente hipertônica: >750 mOsm/Kg de água. As dietas enterais podem ser industrializadas ou não industrializadas, caseiras ou artesanais. As dietas industrializadas se apresentam sob três formas distintas (VASCONCELOS, 2014): • Dietas industrializadas em pó para constituição: necessitam ser reconstituídas em água ou outro líquido. São acondicionadas em porções de 60 a 96 g ou em latas com 400 g. • Dietas industrializadas líquidas semiprontas: apresentam-se em latas ou vidros com 230 a 260 mL. • Dietas industrializadas prontas: já se apresentam envazadas, acondicionadas em bolsas próprias com 500 a 1000 mL e são acopladas imediatamente no equipo. As dietas não industrializadas, caseiras ou artesanais são preparadas à base de alimentos in natura ou com uso de módulos, liquidificadas e feitas em cozinha doméstica ou hospitalar. Têm como vantagens a individualização da fórmula em relação à composição nutricional e ao volume, além de um menor custo. Como desvantagens podem ser destacadas a instabilidade bromatológica, microbiológica e organoléptica. Apresenta-se dificuldade em se produzir dietas à base de hidrolisados proteicos ou ricos em nutrientes imunomoduladores. Em relação às complicações da TNE, a mais frequente é a diarreia, geralmente causada pela maior osmolalidade e presença de lactose na formulação. Entretanto, é importante ressaltar que a antibioticoterapia com uso de NE é uma das principais causas destas complicações. A gastroenterocolite é a principal complicação infecciosa, ocasionada por contaminação microbiana durante o preparo da dieta, nos utensílios ou na administração desta. 3838 A complicação de maior gravidade com uso da NE é a pneumonia aspirativa, e pode ser decorrente de uma oferta excessiva de dieta, retardo do esvaziamento gástrico, presença de íleo paralítico, entre outras condições clínicas (WAIZBERG, 2017). As complicações mais comuns com o uso da TNE são (VASCONCELOS, 2014): • Gastrintestinais: náuseas, vômito, estase gástrica, refluxo gastroesofágico, distensão abdominal, cólica, empachamento, flatulência, diarreia, constipação intestinal. • Metabólicas: hiperhidratação/desidratação, hiperglicemia/ hipoglicemia, anormalidades de eletrólitos e elementos traços, alterações da função hepática. • Mecânicas: erosão nasal e necrose, abscesso septo nasal, sinusite aguda, rouquidão, otite, faringite, esofagite, ulceração esofágica, estenose, fístula traqueoesofágica, ruptura de varizes esofágicas, obstrução da sonda, saída ou migração acidental da sonda. • Infecciosas: gastroenterocolite por contaminação microbiana no preparo, nos utensílios e na administração da fórmula. • Respiratórias: aspiração pulmonar com síndrome de Mendelson (pneumonia química) ou pneumonia infecciosa. • Psicológicas: ansiedade, depressão, falta de estímulo ao paladar, monotonia alimentar, insociabilidade, inatividade. O monitoramento da TNE deve ser feito de forma contínua, baseado em parâmetros como sinais clínicos, parâmetros nutricionais e laboratoriais (atentar-se ao risco de síndrome de realimentação), medidas antropométricas e medidas funcionais. Um tópico muito importante que deve ser verificado rotineiramente é a monitoração do volume residual gástrico (VRG), que determina a tolerância à NE. Valores altos de VRG, em pacientes críticos, são fatores de risco para broncoaspiração e pneumonia associada à ventilação mecânica. O protocolo de monitoração deve ser: 3939 39 mensurar o VRG a cada seis horas no primeiro dia de TNE; a cada 8h no segundo dia e uma vez ao dia a partir do terceiro dia. Na presença de VRG acima de 500 mL deve-se interromper a TNE por seis horas e reiniciá-la após esse período. Caso persista esse volume, a taxa de infusão deve ser diminuída em 50% com uso de medicação procinética. Caso o VRG seja reduzido, deve-se progredir com a TNE. Se depois de reduzir a infusão para 50% houvernovo evento de VRG maior que 500 mL, a sonda deve ser posicionada na região pós-pilórica e deve ser feita inserção de sonda para descompressão gástrica (ABREU; CENICOLLA; TOLEDO, 2015). Existem protocolos diversos de controle do VRG e, em alguns, a TNE é suspensa, em adultos não críticos, com VRG de 200 mL (POVEDA et al., 2018). De uma forma geral, o início da TNE deve ser feito de forma precoce e monitorado diariamente, pois só assim poderão ser oferecidos os nutrientes e calorias necessárias para a recuperação do estado nutricional do paciente, com possibilidades de evolução da dieta e melhor resposta ao tratamento clínico proposto. Cabe ao nutricionista clínico fazer o acompanhamento detalhado de todos os procedimentos envolvidos na TNE. TEORIA EM PRÁTICA Paciente é admitido na unidade hospitalar em que você trabalha como nutricionista clínico. Você faz parte da EMTN e a equipe está se reunindo para discutir o caso do Sr. L.P.M, 72 anos de idade, a fim de definir a terapia nutricional que ele deverá seguir. O paciente apresenta diagnóstico de depressão grave e não se alimenta adequadamente, recusando-se a fazer as refeições e apresenta quadro de desnutrição. O TGI está funcionando normalmente e ele deve ficar internado por 10 dias ou mais, até que os exames laboratoriais sejam disponibilizados e as avaliações médicas feitas por especialistas fiquem prontas. O paciente não apresenta risco de aspiração. De acordo com essas 4040 informações, qual deve ser a via de acesso da NE proposta? Qual será a posição da sonda? A administração da dieta poderá ser contínua? Qual deve ser a composição da dieta enteral? Qual a subcategoria mais indicada para esse caso? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Uma das mais frequentes complicações da terapia nutricional enteral é a: a. Diarreia. b. Pneumonia aspirativa. c. Vômito. d. Enterocolite severa. e. Íleo paralítico. 2. Um valor residual gástrico que pode comprometer a progressão da terapia nutricional enteral em pacientes críticos é de: a. Menor que 200 mL. b. 50 mL. c. 1000 mL. d. Menor que 150 mL. e. Maior que 500 mL. 3. As fórmulas enterais podem ser categorizadas de acordo com a sua osmolalidade. As dietas isotônicas apresentam qual osmolalidade? 4141 41 a. 300 – 350 mOsm/Kg de água. b. 280 – 300 mOsm/Kg de água. c. 350 – 550 mOsm/Kg de água. d. 550 – 750 mOsm/Kg de água. e. Acima de 750 mOsm/Kg de água. Referências bibliográficas ABREU, Henrique Barbosa de; CENICOLLA, Guilherme Duprat; TOLEDO, Diogo. Monitoração da nutrição enteral. In: TOLEDO, Diogo; CASTRO, Melina. Terapia nutricional em UTI. Rio de Janeiro: Rubio, 2015. Cap. 14, p. 117-126. ALVES, Claudia Cristina; WAITZBERG, Dan L. Indicações e técnicas de ministração em nutrição enteral. In: WIATZBERG, Dan L.. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2009. Cap. 43, p. 787-798. BAXTER, Yara Carnevalli et al. Critérios de decisão na seleção de dietas enterais. In: WAITZBERG, Dan L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2009. Cap. 48, p. 841-858. KREYMANN, K. George et al. ESPEN guidelines on enteral nutrition: intensive care. Clinical nutrition, v. 25, n. 2, p. 210-223, 2006. POVEDA, Vanessa de Brito et al. Aferição do volume residual gástrico: retrato da prática clínica de enfermeiros. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 52, 2018. ROCHA, Mariana Hollanda Martins da et al. Indicações e técnicas de ministração em nutrição enteral. In: WAITZBERG, Dan L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. Cap. 56, p. 897-906. SOBOTKA, Lubos. Bases da nutrição clínica. Rio de Janeiro: Rubio, 2008. VASCONCELOS, Maria Izabel Lamounier de. Nutrição enteral. In: CUPPARI, Lilian. Nutrição clínica no adulto. 3. ed. São Paulo: Manole, 2014. Cap. 22, p. 527-562. WAITZBERG, Dan L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2009. WAITZBERG, Dan L. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. 4242 Gabarito Questão 1 – Resposta A Uma das complicações mais frequentes da TNE é a diarreia. Esse fato se dá, muito provavelmente, em função da osmolalidade e da presença de lactose na formulação, além do tratamento com antibióticos. A pneumonia aspirativa é a complicação mais grave da TNE e não a mais frequente. As demais condições são contraindicações ao uso de TNE. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente! Questão 2 – Resposta E Um valor residual gástrico que pode comprometer a progressão da terapia nutricional enteral em pacientes críticos é acima de 500 mL. O protocolo de monitoração da TNE preconiza que volumes acima de 500 mL são fatores de risco para broncoaspiração e pneumonia associada à ventilação mecânica. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente! Questão 3 – Resposta A As dietas isotônicas apresentam osmolalidade de 300 – 350 mOsm/Kg de água. Dietas com 280 – 300 mOsm/Kg de água são hipotônicas; de 300 – 350 mOsm/Kg de água são isotônicas; 350 – 550 mOsm/Kg de água são levemente hipertônicas; 550 – 750 mOsm/Kg de água são dietas hipertônicas e acima de 750 mOsm/ Kg de água são acentuadamente hipertônicas. Feedback de reforço: Retome a leitura e tente novamente! 4343 43 Terapia nutricional parenteral Autora: Iara Gumbrevicius Objetivos • Reconhecer as indicações e contraindicações da nutrição parenteral. • Conhecer a composição da nutrição parenteral. • Saber as complicações envolvidas na terapia nutricional parenteral. • Identificar parâmetros para monitoramento da nutrição parenteral. 4444 1. Terapia nutricional parenteral A nutrição parenteral (NP) é uma solução de nutrientes infundida via intravenosa, por acesso venoso periférico ou central, em uma condição em que o trato gastrintestinal (TGI) é totalmente excluído no processo de nutrição do paciente. A terapia nutricional parenteral (TNP) pode ser oferecida ao paciente de forma parcial ou total (WAITZBERG, 2009). A NP é indicada quando o TGI não funciona ou quando este se encontra obstruído ou inacessível, passando por essa condição por, no mínimo, sete dias. Existem indicações específicas para o uso da TNP, conforme destacado por Monte e Shima (2014): • Vômitos intratáveis: pancreatite aguda, e hiperêmese gravídica, quimioterapia. • Diarreia grave: doença inflamatória intestinal, síndrome da má-absorção, doença do enxerto contra o hospedeiro, síndrome do intestino curto, enterite actínica. • Mucosite e esofagite: quimioterapia, doença do enxerto contra o hospedeiro. • Íleo: grandes cirurgias abdominais, trauma grave, quando não se pode usar a jejunostomia por pelo menos sete dias. • Obstrução: neoplasias, aderência etc. • Repouso intestinal: fístulas enteroentérica e/ou enterocutânea. • Pré-operatórios: somente em casos de desnutrição grave nos quais a cirurgia não possa ser adiada. Em alguns casos, a TNP é utilizada na forma suplementar, ou seja, para que as necessidades nutricionais sejam alcançadas, quando, por exemplo, a nutrição enteral não é suficiente para isso. As recomendações de TNP suplementar são (KAWAMURA e CASTRO, 2015): 4545 45 • American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN) (2009): considera a possibilidade de nutrição parenteral suplementar após sete a dez dias de TNE insuficiente para alcançar a necessidade calórica do paciente. TNP suplementar antes desse período pode ser prejudicial ao paciente. • European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) (2009): recomenda TNP suplementar para todos os pacientes que não estejam com a ingestão alimentar normal em três dias e para aqueles cujo aporte de nutrientes por via enteral não seja suficiente por um período maior que 24 horas. No pré-operatório está indicada NP para pacientes desnutridos, cuja ingestão alimentar ou aporte nutricional enteral seja insuficiente.Deve ser considerada TNP suplementar quando o aporte calórico proteico por via enteral não atingir 60% das necessidades. • Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE) (2011): a TNP combinada à TNE é indicada no período perioperatório de doença de Crohn. • Canadian Clinical Practice Guidelines (2013): recomenda enfaticamente que o uso precoce de TNP suplementar não seja realizado em doentes em estado crítico não selecionados (por exemplo, doentes de baixo risco com curto período de internação na UTI). Não existem dados suficientes para indicar o momento em que se deve associar a TNP suplementar. As contraindicações da TNP são (MONTE e SHIMA, 2014): pacientes hemodinamicamente instáveis; pacientes com hipovolemia, choque cardiogênico ou séptico, edema agudo de pulmão; anúria sem hemodiálise ou que apresentam graves distúrbios metabólicos e eletrolíticos. Os fatores relacionados à decisão de se iniciar a terapia nutricional parenteral são (WAITZBERG e NOGUEIRA, 2009; MONTE e SHIMA, 2014): doença de base, idade, via de acesso venoso disponível, necessidade energética e proteica, estado psicológico do paciente e a duração prevista para a TNP. 4646 Antes de ser iniciada a TNP, devem ser avaliados os seguintes critérios (WAITZBERG e NOGUEIRA, 2009): • Estabilidade hemodinâmica. • Capacidade de perfundir os tecidos para permitir o transporte de oxigênio, substratos e intermediários metabólicos. • Capacidade de tolerar volume, proteína, carboidrato e emulsão lipídica em doses necessárias. Além do local de administração da NP – hospital, unidade de terapia intensiva (UTI), domicílio, enfermaria, algumas considerações relacionadas à condição clínica laboratorial do paciente exigem cautela no uso da TNP e devem ser consideradas de forma individualizada. São exemplos (WAITZBERG e NOGUEIRA, 2009): • Glicemia > 300 mg/dL. • Nitrogênio ureico sanguíneo > 100 mg/dL. • Osmolalidade sérica > 350 mOsm/Kg. • Sódio > 150 mEq/L. • Potássio < 3 mEq/L. • Cloro > 115 ou < 85 mEq/L. • Fósforo < 2 mg/dL. • Alcalose ou acidose metabólica. Para garantir que a NP seja efetiva, a escolha da via de acesso é fundamental, assim como os cuidados com esta via, que dependem de alguns fatores como (MONTE e SHIMA, 2014): volume, composição e concentração da solução utilizada, tempo previsto para terapia, história de acesso vascular, anatomia venosa, estado de coagulação, natureza da terapia, local e período de utilização. 4747 47 A NP pode ser de curta (até 15 dias) ou de longa duração (superior a 15 dias), e disso depende o seu tipo de acesso: periférico (curta duração) ou central (longa duração) (MONTE e SHIMA, 2014). Para nutrição parenteral periférica (NPP) são usadas, preferencialmente, as veias periféricas distais dos membros superiores. O local de punção endovenosa deve ser rodiziado a cada 48 horas e a utilização do braço contralateral para a próxima posição deve ser considerada, a fim de reduzir a incidência de flebite. Para evitar a flebite em NPP deve ser administrado menos de 200 ml por hora de nutrição parenteral. O limite de osmolaridade para essa via é inferior a 900 mOsm/L e, acima desse valor, deve ser utilizada a via central. A NPP não é suficiente para se alcançar as necessidades nutricionais do paciente, por essa razão, não deve ser utilizada por longos períodos (WAITZBERG e NOGUEIRA, 2009; MONTE e SHIMA, 2014). Para a nutrição parenteral central (NPC) são usados acessos com alto fluxo sanguíneo, como é o caso da veia subclávia e veia jugular interna (GRANT, 2004; BROWN, MINARD, ZIEGLER, 2016). Em algumas condições, é utilizado o acesso femoral, entretanto, esse local é evitado dado o alto risco de complicação infecciosa pela proximidade às áreas contaminadas (MONTE e SHIMA, 2014). ASSIMILE Em doentes com inanição grave é preciso um cuidado especial na progressão da NP, em função do risco de síndrome de realimentação. O maior risco está na oferta calórica rápida, devendo esta progredir de forma lenta até alcançar a necessidade estimada. Já no paciente hipermetabólico, em condição de estresse a necessidade calórica deve ser atingida em 24 a 36 horas (WAITZBERG e NOGUEIRA, 2009). 4848 A vantagem da NPP é que esse procedimento não necessita da inserção e manutenção de um cateter venoso central, procedimento este que aumenta os riscos de complicações, a exemplo da sepse. A fim de evitar um dano à veia periférica é empregada uma emulsão lipídica isotônica a 10% ou 20% como principal fonte calórica, em vez de ser utilizada uma solução hipertônica de glicose, caracteristicamente usada na NPC (BROWN, MINARD, ZIEGLER, 2016). Observe uma comparação da composição de NPP versus NPC, na Tabela 1. Tabela 1 – Composição das formulações típicas de NP Componente NP por veia periférica NP por veia central Volume (d/L) 2 – 3 1,0 – 1,5 Dextrose (%) 5 10 -25 Aminoácidos (%) 2,5 – 3,5 3 – 8 Lipídio (%) 3,5 – 5,0 2,5 – 5,0 Sódio (mEq/L) 50 -150 50 -150 Potássio (mEq/L) 20 – 35 30 -50 Fósforo (mmol/L) 5 -10 10 -30 Magnésio (mEq/L) 8 -10 10 -20 Cálcio (mEq/L) 2,5 – 5,0 2,5 – 5,0 Vitaminas a Oligoelementos a a As preparações comerciais convencionais contendo misturas de vitaminas e oligoelementos essenciais são utilizadas respectivamente na NP por veia periférica e central. Embora faixas típicas estejam indicadas na tabela, as quantidades de componentes específicos fora dos limites exibidos podem ser utilizadas em alguns casos. Fonte: Brown, Minard e Ziegler (2016, p. 1146). A insulina regular pode ser adicionada à NP, de acordo com a necessidade de manter a concentração de glicose sanguínea dentro do objetivo do paciente. Tanto na NPP como na NPC são fornecidos todos os aminoácidos essenciais e vários aminoácidos não essenciais, e há possibilidade de infusão de concentrações mais altas de aminoácidos pelo uso da via central. Concentrações maiores de dextrose na NPC 4949 49 aumentam as necessidades de potássio, magnésio e fósforo, embora as doses desses micronutrientes sejam mais altas na NPC em comparação à NPP. Porcentagem de sais de sódio e potássio sobre a forma de cloreto podem ser maiores, a fim de corrigir a alcalose metabólica, tanto na NPC como na NPP, enquanto que a porcentagem de sais sobre a forma de acetato pode ser maior para corrigir acidose metabólica (BROWN, MINARD, ZIEGLER, 2016). Na NP, todos os nutrientes essenciais devem ser fornecidos em quantidades adequadas, sendo compostas por carboidratos, aminoácidos, lipídios, eletrólitos, minerais, vitaminas e oligoelementos, respeitando as recomendações diárias, conforme protocolo adotado pela equipe multiprofissional de terapia nutricional do hospital, baseado na literatura científica. A formulação da NP deve ser adaptada às necessidades individuais de cada paciente, em função da sua condição clínica. O cálculo e a composição dos diferentes nutrientes da solução de NP deve ser feito fundamentado em diretrizes específicas para este fim. Cabe ao médico indicar, prescrever e monitorar o paciente durante todo o período de uso da NP. PARA SABER MAIS A composição das soluções de NP é conhecida como: I – Solução 2:1: composta por duas soluções: uma solução de aminoácidos - que tem como função o fornecimento de nitrogênio, e uma solução de glicose, fonte de energia. II – Solução 3:1: composta por três soluções de grande volume: (a) aminoácidos (fonte de nitrogênio), (b) glicose (fonte de energia) e (c) lipídios (fonte de energia e de ácidos graxos essenciais). 5050 Em relação aos componentes das soluções de NP, é importante destacar que a glicose monoidratada é a mais utilizada para o metabolismo energético, evitando, assim, o uso de nitrogênio para esse fim, sendo este essencial a tecidos e células como: sistema nervoso central, leucócitos, hemácias e medula renal. As soluções de glicose apresentam concentrações que variam de 5% a 70% e cada grama de glicose monoidratada fornece 3,4 Kcal (MONTE e SHIMA, 2014). Assoluções padrão de proteínas são compostas por aminoácidos cristalinos essenciais e não essenciais, com concentrações entre 6,7% a 15%. As formulações atuais têm como proposta apresentarem composições semelhantes às proteínas de alto valor biológico. No mercado atual são encontradas formulações específicas, por exemplo, para hepatopatias - ricas em aminoácidos de cadeia ramificada e nefropatias – ricas em aminoácidos essenciais. Cada grama de aminoácido oxidado para energia fornece 4 Kcal (MONTE e SHIMA, 2014). As emulsões lipídicas (EL) compostas de água, triglicérides, emulsificante e um agente hipertonizante (glicerol) são isotônicas, sendo possível sua administração por veia periférica. São fontes importantes de energia, principalmente quando em NPP. Geralmente são utilizadas para fornecer de 20% a 35% do valor calórico total e para reduzir o risco de déficits de ácidos graxos essenciais (2% a 4% do valor energético total como ácido linoleico), além de servirem como transportadores de vitaminas lipossolúveis. As EL apresentam concentrações de 10% (1,1 /kcal/mL) a 20% (2 /kcal/mL). Para EL a 10%, a taxa de infusão deve ser de 100 mL/hora, e para EL a 20%, a infusão indicada é de 50 mL/hora. Com o objetivo de evitar sobrecarga lipídica, não é indicado infusão acima de 2 g/Kg/dia, sendo normalmente utilizado, no máximo, 1 g/Kg/dia. As EL mais utilizadas são uma associação de triglicérides de cadeia média (TCM) com triglicérides de cadeia longa (TCL), e tem como meta reduzir alterações das enzimas hepáticas, com melhor utilização, além de manter uma proporção de lipoproteínas de alta densidade/ lipoproteína de baixa densidade mais adequada, o que não é observado com o uso só de TCL (MONTE e SHIMA, 2014). 5151 51 • Lipídios de primeira geração • EL a 10% (TCL): composta por 100% de óleo de soja. • EL a 20% (TCL): composta por 100% de óleo de soja. • EL a 20% (TCL): composta por 20% de óleo de oliva e 80% de óleo de soja. • Lipídios de segunda geração • EL a 10% (TCL/TCM): composta por 50% de óleo de soja e 50% de óleo de coco. • EL a 20% (TCL/TCM): composta por 50% de óleo de soja e 50% de óleo de coco. • Lipídios de terceira geração • EL a 20% (TCL/TCM): composta por 40% de óleo de soja, 40% de óleo de coco e 20% de óleo de oliva. • Lipídios de quarta geração • EL a 20% (TCL/TCM): composta por 30% de óleo de soja, 30% de óleo de coco, 25% de óleo de oliva e 15% de óleo de peixe. Os tipos de emulsão lipídica são (MONTE e SHIMA, 2014): As recomendações de energia e macronutrientes seguem, a princípio, algumas normas, conforme descrito no Quadro 1. Quadro 1 – Recomendações de energia e macronutrientes na NP Energia Adulto sem enfermidade grave ou síndrome de realimentação: 25 a 35 kcal/kg/dia. Adulto com doença grave: 20 a 25 kcal/kg/dia. Obs.: na ausência da calorimetria indireta, utilizar equação de Mifflin-St para cálculo do gasto energético total para obesos e não obesos e, para pacientes graves, usar equações como a de Ireton-Jones, por exemplo. Carboidratos Equivalem a 50% a 60% do valor energético total (VET), com no mínimo 2 g/Kg/dia e no máximo 7 g/Kg/dia, em condições específicas. É indicado, no máximo, infusão de 7 mg/Kg/ minuto para evitar complicações metabólicas da NP. 5252 Proteínas Pacientes sem estresse metabólico ou falência de órgãos: 0,8 a 1,0 g/Kg/dia. Pacientes com estresse metabólico: 1 a 2 g/Kg/ dia, dependendo da condição clínica. Obs.: A relação calorias não proteicas por grama de nitrogênio deve ser de 200 a 220:1 para pacientes com insuficiência renal e de 80 a 90:1 para pacientes em estado grave ou hipercatabólicos. Lipídios 20% a 35% do VET, não devendo ultrapassar 2,5 g/Kg/dia a fim de reduzir riscos de complicações metabólicas. Pacientes em estado grave: máximo 1 g/Kg/dia. Ácidos graxos linoleico: 10 a 17 g/dia (2% a 4% do VET). α-linolênico: 0,9 a1,6 g/Kg/dia (0,25% a 0,5% do VET). Fonte: adaptado de Monte e Shima (2014, p. 567-568); Rombeau e Rolandelli (2004). Inicialmente, a prescrição é baseada na determinação das necessidades calórico-proteicas do paciente e nas metas da terapia nutricional, contudo, não existe um padrão para adultos, assim como, não se tem uma formulação ideal para cada paciente. As fórmulas são modificadas para acompanhar as necessidades individuais deles. Para avaliação dos componentes segue-se, de uma forma geral, os seguintes aspectos (WAITZBERG e NOGUEIRA, 2009): • Alterações metabólicas produzidas pela doença ou disfunção orgânica. • Coexistência de deficiências ou aumento de algum nutriente em particular ou intolerância por parte do paciente, como hiper/ hipopotassemia, hiper/hipoglicemia etc. • Necessidade de fornecer maior quantidade de algum substrato especial que possa ser benéfico por suas propriedades farmacológicas, como por exemplo, ômega 3, glutamina ou antioxidantes. Na Tabela 2 é descrito um modelo de frequência habitual de administração de nutrientes durante a nutrição parenteral, com uma sugestão de administração. 5353 53 Tabela 2 – Método e frequência habitual de administração de nutrientes durante a NP Nutriente Via de administração Fórmula administrada Frequência de administração Água IV Solução básica Diariamente Proteína (Aminoácidos) IV Aminoácidos em solução básica ou soluções 3 em 1 Diariamente Quilocalorias Glicose IV Glicose em solução básica ou soluções 3 em 1 Diariamente Emulsão lipídica IV Soluções 3 em 1 Diariamente Emulsão lipídica IV Em “Y” na solução básica ou por via IV periférica Diariamente ou 2 a 3 vezes por semana Vitaminas Vitaminas hidro e lipossolúveis IV Preparado vitamínico Diariamente Vitamina K IM ou SC Solução aquosa coloidal Semanalmente (em pacientes que não estão recebendo terapia anticoagulante) Minerais Na, K, Cl, Mg, Ca, PO4 IV Adição de eletrólitos à solução básica ou à solução 3 em 1 Diariamente Zn, Mn, Cr, Cu IV Diariamente Se, I, Mb IV Soluções de oligoelementos Diariamente Fe IV ou IM Solução injetável de ferro dextran Mensalmente ou conforme necessário Co IV ou IM Vitamina B12 Mensal ou diariamente Legendas: IV: intravenoso / IM: intramuscular. Fonte: adaptada de TNT (2004) apud Waitzberg e Nogueira (2009, p. 928). O uso da nutrição parenteral total pode ser muito útil ao paciente, entretanto, não é isento de complicações, principalmente em pacientes desnutridos. 5454 As complicações da NP são divididas em (MARTINS et al., 2009; SILVA et al., 2009; MONTE e SHIMA, 2014): • Relacionadas ao cateter: pneumotórax, hemotórax, lesão de plexo braquial, hidrotórax, hemo e hidromediastino, punção e laceração arterial, lesão do ducto torácico, do nervo frênico e da traqueia, trombose venosa, embolia pulmonar, gasosa e do cateter e do fio-guia, arritmia cardíaca, mal posicionamento do cateter. • Infecciosas: sepse relacionada ao cateter são causados por fungos (Candida), estafilococos ou germes gram-negativos. O cateter infectado ou contaminado pode provocar outros focos de infecção como: endocardite, embolia séptica, broncopneumonia, artrite infecciosa, dentre outros. • Metabólicas: síndromes relacionadas ao metabolismo da glicose (hipoglicemia, hiperglicemia, coma hiperglicêmico hiperosmolar não-cetótico, hipercapnia), sobrecarga de aminoácidos (hiperamonemia, azotemia, acidose metabólica hiperclorêmica), insuficiência de ácidos graxos essenciais (descamação da pele, queda de cabelo, dificuldade de cicatrização, maior sensibilidade a infecções, eczema de difícil controle, hepatomegalia), síndrome da realimentação e doença óssea (osteomalácia, osteopenia, osteoporose, fraturas). • Gastrintestinais: complicações hepatobiliares – colestase, lama biliar, cirrose, colelitíase, esteatose e esteatohepatite, toxicidade direta da NPT no fígado, deficiência hepática de nutrientes (taurina) ausentes na NPT, complicações advindas da falta de ingestão enteral e inadequado estímulo de circulação entero- hepática e função intestinal;
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