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A anulação do casamento da pessoa transexual

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A ANULAÇÃO DO CASAMENTO DA PESSOA TRANSEXUAL 
 
 
 
01. INTRODUÇÃO 
 O presente artigo pretende abordar o conceito de transexualidade, bem 
como essas pessoas são integradas em nossa sociedade, de forma que se cria 
um pensamento crítico sobre o assunto; mais especificamente nos diretos civis 
dessas pessoas sobre o casamento, o qual é um direito de todas as pessoas, 
indiferente da opção e orientação sexual de cada pessoa, também é trazido no 
presente trabalho acadêmico, com ênfase nas peculiaridades e exigências que 
a lei determina. Bem próximo ao tema proposto, está o direito da pessoa, se 
achar necessário, em realizar a cirurgia de mudança de sexo – e ter todos os 
seus direitos e deveres garantidos com a troca de seu “fenótipo sexual”; ainda 
sobre o tema, se é debatido um eventual conflito de princípios, o princípio da 
privacidade e da identidade pessoal do transexual contra o princípio e direito do 
cônjuge em ter conhecimento da origem sexual de seu parceiro. 
 
 
02. DEFINIÇÃO DE PESSOA TRANSEXUAL 
Denominada como “Transexual” a pessoa que detém a chamada disforia 
de gênero. A medicina explica a disforia de gênero como uma pessoa que se 
identifica e acredita ser uma vítima de um acidente biológico sobre seu corpo, 
devido ao fato de que não aceita ou repudia o corpo em que nasceu. 
No ano de 2018, a OMS retirou o transtorno de identidade de gênero do 
capítulo das doenças mentais, sendo assim, passa a ser denominado como 
“incongruência de gênero” e passa a ser debatido no capítulo de saúdes 
sexuais. 
Como dito anteriormente, a incongruência de gênero não é considerada 
um transtorno mental, porém quando presente no ser humano pode causar uma 
enorme desconexão entre o sexo biológico e a identidade de gênero intrínseco 
desta pessoa, a qual será diagnosticada com disforia de gênero. 
Segundo estudiosos sobre o presente tema, a disforia de gênero muitas 
vezes se manifesta por volta dos 2 a 3 anos de idade. 
 
 
03. RESOLUÇÃO 1955/2010 
 O Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução de n° 
1955/2010, admite a cirurgia de adequação do fenótipo masculino para o 
feminino, sendo necessário o acompanhamento, por 02 anos, da paciente junto 
a uma equipe especializada. 
 A referida cirurgia só pode ser realizada em maiores de 21 anos, depois 
de diagnóstico médico e com características físicas apropriadas para a cirurgia. 
 Por outro lado, a cirurgia de alteração do fenótipo feminino para o 
masculino ainda é considerada experimental, por ainda não apresentar 
resultados satisfatórios aos médicos. 
 
 
04. REGULAMENTAÇÃO DO CNJ SOBRE A MUDANÇA DO REGISTRO 
CIVIL DE PESSOAS TRANSEXUAIS 
 O CNJ, por meio do Provimento 73/2018 regulamenta a mudança do 
registro civil das pessoas transexuais, obrigatoriamente em cartórios 
extrajudiciais. Desta forma, não cabe aos processos que tramitam em foros 
judiciais. 
 Na referida regulamentação, a pessoa maior de 18 anos que deseja 
alterar seus registros público, indiferentemente de já ter realizado a cirurgia de 
mudança de sexo, poderá ir até o cartório de registro civil e realizar a 
AVERBAÇÃO em seus registros. 
 Nesta esteira, o provimento já deixa expresso, em seu Artigo 4°, Parágrafo 
6° os documentos obrigatórios ao ato. Da mesma forma, no Artigo 4°, Parágrafo 
7° é trazido também os documentos facultativos que poderão ser apresentados 
pelo pedinte. 
 
05. O CASAMENTO DA PESSOA TRANSEXUAL 
Segundo a autora Maria Helena Diniz, em sua definição de “casamento”, 
diz que: (…) é a união de um homem e uma mulher, reconhecida pelo Direito e 
investida de certas condições jurídicas. 
 O casamento, no qual é abordado pelo Código Civil a partir do seu inciso 
1.511, atribui direitos e deveres/ônus e bônus aos participantes do casório. Os 
quais a partir da celebração do ato passam a assumir mutuamente a condição 
de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. 
Desta forma, o casamento no brasil é universal, gratuito ou não e pode 
ser realizado observando-se os requisitos definidos em lei, desde os capacitados 
a fazer até as condições de invalidade para o ato; os quais são trazidos em lei, 
dentro do capítulo do casamento. 
Sobre as pessoas transexuais, é muito ultrapassado dizer que as pessoas 
transexuais não tem os direitos de se casar, como era a alguns anos atrás. Hoje 
em dia, é totalmente possível o casamento entre transexuais, sejam eles heteros, 
homossexuais, etc. 
Segundo a autora Maria Berenice Dias: “Estar à margem da lei não 
significa ser desprovido de direito nem pode impedir a busca do seu 
reconhecimento na Justiça. Ainda quando o direito se encontra envolto em uma 
auréola de preconceito, o juiz não deve ter medo de fazer justiça. Fulcro nos 
princípios do direito, em especial ao da dignidade da pessoa humana, o 
casamento é valido a todos, sem preconceitos, porém deve-se respeitar os 
requisitos trazidos pelo Código Civil. 
 
 
06. INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL NA ANULAÇÃO DE CASAMENTO 
ENTRE TRANSEXUAL 
 Primeiramente, é necessário dizer que mesmo não esteja positivado no 
Código Civil, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido. O que se 
tem é a Resolução nº 175/2013 do CNJ a qual diz, em seu artigo 1°, que é 
vedado a autoridade competente em recusar a habilitação, a celebração de 
casamento civil ou a conversão de união estável em casamento entre pessoas 
do mesmo sexo. 
 Nesta mesma esteira, o Código Civil em seu artigo 1.557 determina que 
os erros tidos como essencial, os quais dizem respeito a identidade, a honra e 
boa fama da pessoa podem ser alegados com a finalidade de se anular o 
casamento se o cônjuge desconhecia dos erros supracitados. Sobre o mesmo 
caso, o Código Penal classifica como crime, conforme seu artigo 236. 
 Desta forma, esses artigos abrangem o casamento entre pessoas 
transexuais, se no momento do casamento era desconhecido tal fato por uma 
das partes. 
 Desta forma, a pessoa transexual deve contar ao cônjuge a sua cirurgia 
feita, sob pena de seu casamento seja anulado, como já dito, por razão de erro 
essencial 
 Sobre o prazo em que o cônjuge enganado tem para postular a ação de 
anulação do casamento, segundo o Artigo 1.560, inciso III, do Código Civil, o 
prazo determinado para que seja feito é de três anos, começando a contar da 
data de celebração do ato. 
 Ainda sobre os diretos do cônjuge enganado, o mesmo poderá 
fundamentar seu pedido com o Artigo 147, do Código Civil, o qual se trata sobre 
o silencio doloso nos negócios jurídicos bilaterais. 
 
 
07. PRINCÍPIO DA PRIVACIDADE E DA IDENTIDADE PESSOAL DO 
TRANSEXUAL X DIREITOS DO CÔNJUGE AO CONHECIMENTO DA 
ORIGEM SEXUAL DE SEU PARCEIRO 
 Ainda é um debata presente dentro do Direitos Civil, mais especificamente 
sobre a matéria do casamento entre pessoas transexuais, qual princípio do 
direito é mais importante no caso concreto, o princípio da privacidade da 
identidade pessoal do transexual ou o direito de seu cônjuge em conhecer a 
origem sexual de seu parceiro. 
 Como é um assunto que gera muito debate, pare da doutrina defende que 
se sobrepõe a privacidade da pessoa, a fim de preservar sua identidade pessoal. 
Ainda, parte da doutrina defender que, o direito de se conhecer a origem sexual 
do parceiro é indispensável ao casamento de boa-fé, bem como dos negócios 
jurídicos. 
Por fim, por se fazer parte da doutrina majoritária do direito, pressupõe a 
validade de se anular o ato. Segundo o autor Marco Aurelio Viana: “Faz-se de 
suma importância ressaltar que esses erros essenciais devem ser anteriores ao 
casamento, além disso, deve-se demonstrar que a parte interessada na 
anulação tenha tido total desconhecimento, como também, frisa-se que devem 
tais erros, tornar a convivência insustentável. (VIANA, 2018). 
 
08. CONCLUSÃO 
 Conclui-se com o presente trabalho acadêmico que, não se há dúvidas 
quanto ao casamento entre pessoas transexuais – não é o debatidono presente 
artigo acadêmico, pois já se trata de assunto com matéria certa – mas sim sobre 
o embate jurídico sobre o dever ou não dessa pessoa em informar ao seu 
companheiro sobre a cirurgia de alteração de sexo em que foi submetido. 
 Foi trazido junto ao presente artigo que, o casamento é um negócio 
jurídico bilateral, na qual deve prevalecer a boa-fé de ambas as partes – isso 
pressupõe que ambas devem estar de acordo e ter conhecimento sobre todos 
os fatos que se dizem respeito ao outro cônjuge, do ponto de vista de jurídico. 
 Sobre a boa-fé entre as partes, é imprescindível o conhecimento do 
cônjuge, por exemplo, que seu companheiro realizou uma cirurgia de alteração 
de sexo, pois o seu desconhecimento poderá ser considerado um erro essencial 
sobre a identidade da pessoa - e que o mesmo posteriormente pode ser anulado, 
desde que que o convívio entre ambos seja prejudicado. 
 O presente acadêmico segue o pensamento da majoritária doutrina sobre 
o tema, que alega a obrigatoriedade em haver o conhecimento do companheiro 
sobre a cirurgia, desta forma presando a transparência do ato jurídico 
(casamento), bem como evitando possível nulidade do referido ato. 
 
 
09. REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário 
Oficial da União: Brasília, DF, 10 jan. 2002. Disponível 
em:https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. 
Acesso em: 31 mar. 2023; 
 
BRITO, Renner Leandro Marinho. A nulidade do casamento civil e seus 
efeitos patrimoniais. Monografia (Graduação em Direito) – Centro 
Universitário 
UNINOVAFAPI, Teresina, 2019. Disponível em: 
https://assets.uninovafapi.edu.br/arquivos/old/arquivos_academicos/repositorio
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CNJ. CNJ Serviço: Pessoa trans pode alterar nome e gênero em cartório. 
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