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Direito de Família: Casamento e Proteção

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Direito de Família
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuito a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.
Comunhão plena de vida. A expressão releva a importância do princípio da solidariedade, aqui designado em sua forma mais particular e eficiente, de atenção e zelo de um cônjuge para com o outro e para com sua prole, bem como de provimento material e moral de todos, uns para com os outros. Esse o sentido da norma, que expõe, a um só tempo, não apenas a causa moral do casamento, mas a viga mestra de sua eficiência como mecanismo para o sustento e resguardo moral e material dos membros da família que ele protege juridicamente.
Igualdade jurídica entre os cônjuges. A CF 226 § 5.º estabelece especificamente a igualdade jurídica dos cônjuges, depois de, em outras oportunidades, reiterar vivamente a igualdade de todos perante a lei: CF 5.º I e 150 II. Desapareceu, por assim dizer, no nosso sistema, a figura da prevalência da decisão do pater famílias. “Como consequência inerente ao princípio da isonomia na família, não há hierarquia entre os cônjuges ou entre os conviventes; não existe a prevalência da vontade de um em relação ao outro, ou seja, um dos cônjuges ou um dos conviventes não representa valor inferior perante o outro.
Art. 1.512. O casamento é civil e gratuito a sua celebração. 
Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.
Casamento civil. É previsto na CF 226 § 1.º como mecanismo jurídico de proteção da família, berço onde se origina a vida. Apesar de o casamento civil poder ser dissolvido pelo divórcio, ele é o mecanismo mais adequado de proteção jurídica da família. O Estado deve facilitar a conversão dos casamentos de fato em casamentos civis (CF 226 § 3.º). O resguardo da família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado (CF 226 caput). O casamento tem sido conceituado, também, como “o contrato de direito de família que regula a vida em comum (não só a união sexual) entre o varão e a mulher” (Pontes de Miranda. Tratado, t. VII 4 , § 765, n. 8, p. 210) (RSTJ 188/410).
Eficácia do casamento. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família, podendo dispor sobre o planejamento familiar, como livremente entenderem (CC 1565 e §§), sem interferência de quem quer que seja (CC 1513), podendo estipular o regime de bens que lhes aprouver (CC 1639), salvo as limitações específicas do CC 1641.
Par.ún.: Gratuidade de atos. A CF 5.º LXXVI libera os reconhecidamente pobres, na forma da lei (LRP 30), de pagar emolumentos para efetuar o registro civil de nascimento e de óbito. O parágrafo único deste CC 1512, igualmente, para os reconhecidamente pobres, na forma da lei, dispensa da paga de selos, emolumentos e custas, para a habilitação de casamento. A celebração, para todos, é gratuita (CC 1533 a CC 1542). -> Declaração de pobreza. 
Casamento religioso. Efeitos civis. O casamento reconhecido pela lei brasileira é o civil. No entanto, é possível dar-se ao casamento religioso os mesmos efeitos do casamento civil. Para tanto, devem ser observados os requisitos e o procedimento previsto na LRP 71 a 75.
Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família.
Interferência do Estado na família. A intimidade e a vida privada das pessoas são invioláveis (CF 5.º X) e a casa é inexpugnável (CF 5.º XI). Prescreve também a CF 226 § 7.º: “Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas”. Esse preceito constitucional é parcialmente repetido no CC 1565 § 2.º.
Comunhão de vida instituída pela família. O texto é mais amplo do que o estabelecido no CC 1511, atingindo, evidentemente, todos os aspectos da vida de família, formada, ou não, pelo casamento.
Liberdade para a escolha do regime de bens. Apesar de a norma aludir à situação jurídica já estabelecida pela família, o princípio atinge, evidentemente, a liberdade e autonomia necessária à celebração do pacto antenupcial, para a escolha do regime de bens, salvo os casos do CC 1641, bem como a liberdade de postular a alteração do regime de bens, conforme CC 1639 § 2.º.
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.
Celebração do casamento. A solenidade da celebração do casamento é antecedida da habilitação dos nubentes, nos termos do CC 1525 a CC 1532, e revestida de solenidade prescrita pela lei (CC 107 c/c CC 1535), sem o que o casamento não se celebra validamente. A liberdade dos cônjuges é condição fundamental para a validade do casamento. A manifestação deles há de ser por livre e espontânea vontade. Para o regime da celebração do casamento v. CC 1533 a CC 1542.
Estado de família. Conceito. O estado de família é situação jurídica que varia de acordo com a posição que cada pessoa ocupará dentro da família, do qual derivam os direitos e deveres correlatos. Na definição de Zannoni, o estado de família é definido como o conjunto de direitos subjetivos e de deveres correlatos que correspondem às pessoas em virtude de sua localização familiar, os quais, por estar a elas atribuídos, procuram a tutela de sua individualidade familiar (como pessoa) diante do ordenamento jurídico (Zannoni. Derecho de Familia 3 , v. I, § 30, p. 72). O estado de família é um atributo da personalidade. Esse estado é a particular atribuição à pessoa, efetuada pelo ordenamento jurídico, como sujeito de relações jurídicas familiares. Dentro do estado de família é possível efetuar maiores precisões, uma vez que pode aludir-se a um vínculo jurídico familiar conjugal quando se tem celebradas núpcias, enquanto a ausência destas determina o estado de solteiro, em outra ordem é possível pontuar a existência de vínculos jurídicos familiares parentais, tais como os derivados da consanguinidade, afinidade e da adoção (Azpiri. Derecho de familia, pp. 41/42; Zannoni. Derecho de Familia 3 , v. I, §§ 30 e 31, pp. 72/73). O estado consiste numa qualidade jurídica que se adquire independentemente de um ato de vontade do sujeito, e do qual derivam como consequência, um ou mais direitos subjetivos e também deveres para quem tem essa qualidade (v. Zannoni. Derecho de Familia 3 , v. I, §§ 30 e 31, pp. 78/73; Messineo. Manuale 9 , t. II, § 49, p. 3 et seq).
Estado de família. Natureza. O estado de família é um atributo da personalidade. Está dado pelos vínculos jurídicos familiares que unem uma pessoaa outra, ou então pela ausência de tais vínculos (ausência de vínculo conjugal, estado de solteiro, estado de filho de pais desconhecidos). Ditos vínculos jurídicos familiares são de duas ordens: o vínculo conjugal que une alguém com a pessoa com quem se celebrou matrimônio; e o vínculo parental, que une com as pessoas das quais se descende (parentesco consanguíneo em linha reta), com as que descendem de um ascendente comum (parentesco consanguíneo em linha colateral), com as que se tem criado um parentesco legal que não coincide com a realidade biológica (parentesco adotivo) ou com os parentes do cônjuge (parentesco por afinidade). Do estado de família derivam os direitos subjetivos familiares e os deveres ou obrigações correspondentes, mas também resultam direitos subjetivos não propriamente familiares, como o direito de herdar ab intestato (Augusto Cesar Belluscio. Derecho de Familia. t. I, Buenos Aires: Ediciones Depalma, 1979, n. 15, pp. 46/47). Não se pode deixar de considerar, a esta altura, a circunstância peculiar de que o CC 1593 considera que o parentesco pode derivar de outra causa que não apenas o vínculo biológico ou civil. Por isso, a afetividade tem sido considerada como fato ensejador de consequências jurídicas bem definidas, criando vínculo de paternidade e filiação, portanto, parentesco em linha reta.
Estado individual da pessoa (status personae). Conceito. Tanto a Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas, como a Convenção de Direitos da Criança das Nações Unidas em 1989 e diversos outros pactos internacionais, reconhecem ao ser humano, desde seu nascimento, direitos que permitem sua precisa identificação na sociedade. A proteção do ser humano desde seu nascimento exige sua identificação e, portanto, inscrição no Registro de seu estado civil. O direito à identidade é um direito de personalidade de caráter inato, base de outros direitos de referentes à família e à cidadania.
Estado individual pessoal. Estado familiar da pessoa. Distinção. O direito à identidade é direito de personalidade de caráter inato. Do estado civil à identidade da pessoa surgem outros direitos de personalidade, tais como o estado de família. O estado familiar reflete a posição de cada pessoa a respeito de sua própria família, ou seja, a relação que corresponde à pessoa em razão de seu parentesco com outras enquanto membro de uma mesma família. Desse modo, se compreende facilmente que a noção de estado civil é bem diferente da posição jurídica da pessoa natural considerada em si mesma e diretamente amparada pelo ordenamento jurídico. O estado de família denota uma relação entre parentes ou entre cônjuges, enquanto o estado individual da pessoa reflete seu próprio direito à identidade, amparado pelo ordenamento jurídico de maneira erga omnes (Diego Espín Cánovas. El estado civil de la persona natural [Est. Hernández Gil, t. II, p. 1178]). “O casamento, constituindo a família legítima, confere aos cônjuges o estado civil de casados, ‘fator de identificação na sociedade’, atraindo uma série de efeitos próprios deste status, qualidade jurídica que, à evidência, não pode ser atribuída a ninguém que não seja casado” (Tepedino. Temas 4 , p. 408).
Estado civil e direitos de personalidade. Distinção. Os direitos de personalidade protegem o indivíduo nas manifestações que uma democracia estima como essenciais a sua própria dignidade, tais como a honra, vida e liberdade. Porém, esta proteção lhe é devida, com independência de toda a relação familiar, inclusive frente a qualquer outro membro da mesma família, em típico caso de violência doméstica. Já se aprecia a diferença com o estado civil, que, uma vez estabelecido, é fonte de outros direitos distintos dos de personalidade, tais como o de convivência, alimentos e herança (Diego Espín Cánovas. El estado civil de la persona natural [Est. Hernández Gil, t. II, pp. 1178/1179]). De acordo com De Cupis, os direitos familiares têm em comum com os direitos de personalidade seu caráter intransmissível, ainda que o fundamento em ambos os casos seja diverso, porque, enquanto a intransmissibilidade dos direitos de personalidade se deve a sua própria natureza, a dos direitos familiares se justifica em razão da necessidade de que podem ser exercitados pelo titular a quem a lei os confia.
Estado de família. Efeitos. O estado de família reflete, portanto, a posição de cada um em relação a sua família. Seus efeitos estão previstos na lei, ainda que os fatos nos quais se originam se produzam pela vontade das pessoas. Isto porque o conteúdo da relação familiar depende da lei, que, ao organizar a estrutura familiar, determina a extensão e os efeitos do parentesco criado, seja pela consanguinidade, seja pela adoção, bem como os requisitos e efeitos do casamento. Desse modo, a lei, ao regular a relação entre os parentes, determina os direitos e deveres de cada membro da família em relação aos demais parentes, bem como a relação entre os cônjuges. A situação de incapacidade e de capacidade dos membros da família também é objeto da legislação; quando se trata de menores de idade ou incapacitados, confia-se seu cuidado e representação, preferencialmente a outros membros da família, sob o controle e vigilância da autoridade judicial [e principalmente do MP]. Em regra, os direitos e deveres familiares, integram o conteúdo do estado familiar, regendo-se por normas imperativas (ordem pública) e regem-se pela regra da reciprocidade (v. Diego Espín Cánovas. El estado civil de la persona natural [Est. Hernández Gil, t. II, pp. 1177/1179]).
Estado de família. Características. O estado de família se estabelece mediante o vínculo familiar entre as pessoas; em regra, existe correlação entre os estados de família. Não há dúvida de que ninguém pode ser detentor do estado de pai se não existir um respectivo filho, bem como não é possível a sustentação de estado de família antagônico (e.g., casado e solteiro). Quando um sujeito está localizado em um estado de família determinado, pode fazê-lo valer frente a todas as pessoas sem que estas possam desconhecê-lo. Esta oponibilidade do estado de família permite ao sujeito exercer todos os direitos e planejar todas as ações que o ordenamento jurídico confere a esse sujeito, o qual, ao mesmo tempo, é passível de ser demandado a cumprir todos os deveres que são impostos por essa localização. Importante destacar que o estado de família é “estável”, porém, não imutável (Azpiri. Derecho de familia, pp. 42/43). Uma questão que não é devidamente esclarecida é sobre quando se pode dizer que começa e quando termina o estado familiar decorrente da união estável. A lei não estabelece como se deve proceder a esse rompimento. O estado de família é também caracterizado pela universalidade; isto porque compreende todas as relações jurídicas familiares, ou seja, não apenas a relação pai-filho, mas também todas as relações de parentesco, inclusive a conjugal. Outra característica fundamental do estado de família é a unidade: o estado de família deve ser apreciado com relação a cada indivíduo em particular e compreende todos os vínculos jurídicos familiares que o ligam com outras pessoas, qualquer que seja a qualificação de tais vínculos. A indivisibilidade também particulariza o estado de família; isto significa que não é possível ostentar frente a umas pessoas um estado de família e frente a outras um outro diferente. Por exemplo, não se pode considerar alguém casado frente a alguns e solteiro frente a outros (Belluscio. Derecho de familia. t. I, ns. 17/20, pp. 50/52). A irrenunciabilidade também caracteriza o estado de família: trata-se de uma consequência de sua indisponibilidade, em razão da natureza de ordem pública que possuem suas disposições. Outra característica do estado de família é a imprescritibilidade, uma vez que o estado de família não se adquire nem se perde por prescrição. Assim, a atribuição subjetiva de relações jurídicas familiares não pode derivar da possessão de estado, nem pode perder-se por falta de reclamação do estado. Tampouco é prescritívelo exercício de direitos contidos nas relações familiares atributivas do estado, salvo as patrimoniais, adquiridos em função dele, que são prescritíveis (Zannoni. Derecho de familia 3 , t. I, § 33, pp. 78/80).
Estado de família. Modificação. Azpiri indica três maneiras de se modificar o estado de família. (i) O primeiro seria por meio de um ato jurídico familiar, como quando se reconhece um filho concebido fora do casamento ou quando se celebra um matrimônio. (ii) A segunda modificação do estado de família é a proveniente de um fato jurídico, que é um fato natural que produz consequências jurídicas, v.g., a morte, que modifica o estado de casado para produzir uma nova localização no estado de família, qual seja o de viuvez. (iii) A terceira modificação do estado de família é oriunda de uma sentença judicial, tal como a que declara o divórcio (Azpiri. Derecho de familia, p. 43).
Constituição do título do estado de família. Em regra, o título do estado de família consubstancia-se em instrumentos e documentos inscritos no Registro Civil. Contudo, as sentenças judiciais também podem ser constitutivas de um estado de família. Uma vez provados determinados pressupostos, a sentença constitui a localização no estado de família do qual se carecia (e.g., reconhecimento de paternidade), que permitirá, no futuro, opor seu caráter de sujeito de conjunto de direitos/deveres que lhe atribuem como titular desse estado. A partir da sentença, o sujeito obtém seu título de estado tanto no sentido material como no formal (Zannoni. Derecho de familia 3 , t. I, §§ 37 e 38, pp. 82/83).
Constituição do título do estado de família. Função administrativa e jurisdicional. A constituição do título de estado é função administrativa (procedimentos registrais) ou jurisdicional. Em razão da dimensão e da importância que tais funções ocupam no espaço estatal, não poderiam ficar relegadas à discricionariedade dos particulares. Assim sendo, quando a constituição do estado civil deriva de condições legais de um ato voluntário que possui eficácia constitutiva (e.g., casamento), o Estado delega o controle de legalidade desse ato ao Registro Civil e inclusive ao Judiciário.
Casamento homoafetivo. O pluralismo familiar engendrado pela Constituição – explicitamente reconhecido em precedentes tanto desta Corte quanto do STF – impede se pretenda afirmar que as famílias formadas por pares homoafetivos sejam menos dignas de proteção do Estado, se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas por casais heteroafetivos. O que importa agora, sob a égide da Carta de 1988, é que essas famílias multiformes recebam efetivamente a “especial proteção do Estado”, e é tão somente em razão desse desígnio de especial proteção que a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento, ciente o constituinte que, pelo casamento, o Estado melhor protege esse núcleo doméstico chamado família. Com efeito, se é verdade que o casamento civil é a forma pela qual o Estado melhor protege a família, e sendo múltiplos os “arranjos” familiares reconhecidos pela Carta Magna, não há de ser negada essa via a nenhuma família que por ela optar, independentemente de orientação sexual dos partícipes, uma vez que as famílias constituídas por pares homoafetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das pessoas de seus membros e o afeto. A igualdade e o tratamento isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à autoafirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias. Em uma palavra: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se é garantido o direito à diferença. Conclusão diversa também não se mostra consentânea com um ordenamento constitucional que prevê o princípio do livre planejamento familiar (CF 226 § 7.º). E é importante ressaltar, nesse ponto, que o planejamento familiar se faz presente tão logo haja a decisão de duas pessoas em se unir, com escopo de constituir família, e desde esse momento a Constituição lhes franqueia ampla liberdade de escolha pela forma em que se dará a união. Os CC 1514, 1521, 1523, 1535 e 1565 não vedam expressamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não há como se enxergar uma vedação implícita ao casamento homoafetivo sem afronta a caros princípios constitucionais, como o da igualdade, o da não discriminação, o da dignidade da pessoa humana e os do pluralismo e livre planejamento familiar. Não obstante a omissão legislativa sobre o tema, a maioria, mediante seus representantes eleitos, não poderia mesmo “democraticamente” decretar a perda de direitos civis da minoria pela qual eventualmente nutre alguma aversão. Nesse cenário, em regra é o Poder Judiciário – e não o Legislativo – que exerce um papel contramajoritário e protetivo de especialíssima importância, exatamente por não ser compromissado com as maiorias votantes, mas apenas com a lei e com a Constituição, sempre em vista a proteção dos direitos humanos fundamentais, sejam eles das minorias, sejam das maiorias. Dessa forma, ao contrário do que pensam os críticos, a democracia se fortalece, porquanto esta se reafirma como forma de governo, não das maiorias ocasionais, mas de todos. Enquanto o Congresso Nacional, no caso brasileiro, não assume, explicitamente, sua coparticipação nesse processo constitucional de defesa e proteção dos socialmente vulneráveis, não pode o Poder Judiciário demitir-se desse mister, sob pena de aceitação tácita de um Estado que somente é “democrático” formalmente, sem que tal predicativo resista a uma mínima investigação acerca da universalização dos direitos civis (STJ, 4.ª T., REsp 1183378/RS, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 25.10.2011, m.v., DJUe 1.º.2.2012).
Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.
Disposições constitucionais. “O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei” (CF 226 § 2.º). “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias” (CF 5.º VI).
Celebração do casamento perante autoridade ou ministro religioso. O CC prevê duas hipóteses para conferir efeitos civis ao casamento celebrado perante autoridade ou ministro religioso. A primeira é a de a celebração ter ocorrido após a habilitação (CC 1525 a CC 1532) dos nubentes perante o oficial do registro civil (CC 1516 § 1.º). Neste caso exige-se que a celebração tenha ocorrido dentro do prazo de validade da habilitação, ou seja, 90 (noventa) dias (CC 1532 c/c CC 1516 § 1.º) e que o celebrante faça a comunicação do fato (ou qualquer interessado o requeira) ao oficial do registro civil com atribuições perante a circunscrição onde haja sido feita a habilitação (CC 1526). A segunda hipótese prevê a possibilidade de a celebração ter precedido a habilitação (CC 1516 § 2.º). Neste outro caso, os interessados devem proceder à habilitação para realizar o registro.
Eficácia civil do casamento religioso. O registro produzirá efeitos jurídicos a contar da celebração do casamento (LRP 75).
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil.
§ 1º O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de 90 (noventa) dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação. 
§ 2º O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532.
§ 3º Será nulo o registrocivil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil.
§ 1°:Validade da habilitação. Os interessados no registro civil do casamento religioso devem ficar atentos à validade da habilitação civil para o casamento. Após noventa dias da extração do certificado (CC 1531 e CC 1532) a habilitação não mais é eficaz para ensejar o registro civil do casamento. A compatibilização das normas contidas no CC 1531 e CC 1532 com a deste CC 1516 § 1.º deve ser a seguinte: a) o CC 1516 § 1.º trata do casamento religioso celebrado após a extração do certificado de habilitação ainda válido e, portanto, trata do casamento religioso celebrado nos 90 dias que se sucederam à extração do certificado de habilitação; b) o assento civil do casamento religioso, neste caso, é que deverá se dar em 90 dias a partir de sua celebração, sob pena de outra habilitação se fazer necessária.
§ 2°: Habilitação a qualquer tempo. Tendo sido celebrado casamento religioso sem que os nubentes tivessem cuidado previamente da habilitação civil, o registro civil poderá se dar depois, a qualquer tempo, mas desde que providenciada a habilitação e requerido o registro civil da celebração religiosa. A habilitação, de qualquer forma, está sujeita ao regramento do CC 1525 a CC 1532.
§ 3.º: Nulidade do registro civil do casamento religioso. A hipótese é de nulidade do registro, e não do casamento religioso. Este não se considera nulo, mas já não é hábil para produzir efeitos civis, nem pode se equiparar ao casamento civil. A norma visa a deixar sem efeitos civis a celebração de casamento religioso que, conquanto tenha sido formalmente perfeita, ensejou registro (outro casamento) realizado após outra celebração civil, seguida de novo assento regular (CC 1535 e 1536).
Capacidade para o casamento
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 1.631.
Capacidade para casar. A disposição para se casar e para eleger com quem se casar passa pela necessária consciência sobre a verdade, extensão e consequências do casamento, que apenas quem tem o domínio de sua autodeterminação podem vivenciar. Afinal, a partir do convívio conjugal se cria ocasião propícia para pôr em prática um projeto de sonho de formação da família, contingência natural e esperada do convívio, mas que se revela como fato que por si só, a par de resguardar o segredo mais profundo da existência humana, como continuidade da obra da criação, interessa de perto à segurança das relações sociais, na dimensão do respeito à vida e à dignidade humana. Portanto, a capacidade para casar e as formalidades do casamento não são apenas exigências formais, mas está intrinsecamente ligada à razão e à natureza jurídica do casamento (Rosa Nery.Tratado, v. I, p. 893).
Ausência de autorização. É causa de anulabilidade do casamento (CC 1550 II). Não prejudica o ato, contudo: a) se os nubentes já tinham atingido a idade núbil e se os pais ou representantes legais do menor assistiram à celebração ou manifestaram, de algum modo, aprovação ao ato (CC 1555 § 2.º); b) se do casamento resultar gravidez (CC 1551).
Casamento de filhos menores. A lei admite o casamento de homem e mulher com dezesseis anos, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil (CC 1517 caput). Há, quanto ao tema, determinação legal expressa no sentido de que a autorização para casar seja transcrita na escritura antenupcial (CC 1537), quando essa vier a ser celebrada. V. coment. CC 1537.
Par.ún.: Suprimento de outorga. O CC quer que o casamento seja realizado com a aquiescência de ambos os pais, mas não pretende impedi-lo porque somente um deles o não aprove (Bevilaqua. CC, v. II 11 , 186, 26). É possível que o interessado busque em juízo a outorga para a realização do ato, se a negativa de anuência ou de autorização for despropositada, ou se deu de forma inadequada. CF 5.º XXXV: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. 
Requisitos do assentimento. O consentimento proveniente de genitor, tutor, curador ou suprimento judicial deve ser dado por escrito e especificar a pessoa com quem o nubente se casará; no entanto, se o assentimento foi dado sem designação, a negligência do assentinte não pode prejudicar o matrimônio (Pontes de Miranda. Tratado, t. VII 4 , § 768, n. 3, p. 243). A doutrina não é pacífica. Carvalho Santos, utilizando-se do pensamento de Planiol, pondera que autorização genérica firmada pelos pais autorizando o casamento do filho com qualquer pessoa importaria abdicação do poder familiar (Carvalho Santos. CC Interpretado 14 , v. IV, art. 185, n. 3, p. 62). Para salvaguardar a autenticidade do termo e para viabilizar que o documento seja utilizado para a habilitação para casamento, exige-se, ademais, o reconhecimento das respectivas firmas.
Art. 1.518. Até à celebração do casamento podem os pais, tutores ou curadores revogar a autorização.
Termo final para a revogação da autorização. É o momento da celebração do casamento (CC 1535). Após a celebração já não mais está o menor sob o poder familiar, pois o casamento produz eficácia plena a partir de sua celebração e, entre seus efeitos, especificamente, o casamento faz cessar a incapacidade dos menores, curatelados e tutelados (CC 5.º par.ún. II; CC 1541 § 4.º), fazendo cessar o poder familiar dos pais (CC 1635 II); dos tutores (CC 1763 I) e dos curadores (CC 5.º par.ún. II c/c CC 1763 I, 1781 e 1775 caput) sobre os filhos, pupilos e curatelados, respectivamente.
Revogação da autorização. Deve se dar da mesma forma de que se revestiu a autorização. A justificativa para a possibilidade de o consentimento ser revogado reside na possibilidade de os pais, tutores ou curadores, até a data do respectivo casamento, serem cientificados de novas informações que os façam alterar sua concordância. Revogado o consentimento, o casamento não pode se realizar, salvo se por suprimento judicial de consentimento. Pontes de Miranda prevê a possibilidade de o assentimento anteriormente dado ser revogado por vontade de quem tenha substituído o pai, a mãe, tutor ou curador, no poder familiar, na tutela ou na curatela – quer causa mortis ou não –, desde que o sucessor o faça expressamente. Este sucessor é investido da faculdade de retratar, sendo que não é exigido novo consentimento por sua parte. A vontade foi expressa e, a despeito da mudança subjetiva, continua, até que se manifeste aquele que passou a ter o direito de retratar (Pontes de Miranda. Tratado, t. VII 4 , § 768, n. 3, p. 245).
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.
Injusta denegação de consentimento. A autorização dada pelos pais, para a celebração de casamento de filhos menores, e dos representantes legais para o casamento de seus tutelados e curatelados, é condição sine qua non para a celebração válida do casamento (CC 1550 II), salvo, no primeiro caso, se do casamento tiver resultado gravidez (CC 1551), ou, em qualquer caso, se for presumida autorização tácita dos pais ou representantes para a celebração (CC 1555 § 2.º). Se os pais divergirem com relação à outorga de consentimento, o casamento pode se realizar com suprimento judicial (CC 1517 par.ún.). Se, entretanto, os pais negarem consentimento ou revogarem o consentimento dado (CC 1518) de forma despropositada, é possível ao interessado buscar em juízo a outorga para a realização do ato. CF 5.º XXXV: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Suprimento de consentimento para o casamento. É pedido (CPC 1103) que deve ser formulado perante o Juízo da Infância e da Juventude nas hipóteses do ECA 148 par.ún. c, e perante o Juiz de Família, nos outros casos. Recurso cabível contra a decisão é a apelação (CPC513 e CPC 1110). É obrigatório o regime de separação de bens, nessa hipótese (CC 1641 III).
Legitimação. São partes legítimas para a propositura da ação de suprimento judicial de consentimento: a) o menor interessado, ao qual será designado, nos termos do CPC 9.º I e ECA 142 caput e par.ún., curador especial; e b) o órgão do MP, que deve, obrigatoriamente, intervir, em casos de interesse de incapazes (CPC 82 I e ECA 202). Na eventualidade de o órgão do MP perceber a ocorrência de conflito de interesses entre o incapaz e seu representante legal, deve requerer ao juiz que lhe seja nomeado curador especial, nos termos do CPC 9.º I e ECA 142 caput e par.ún.
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1.517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.
Impossibilidade do casamento para evitar a imposição ou cumprimento de pena criminal. A L 11106/05 revogou o CP 107 VIII, que previa como causa de extinção da punibilidade o casamento do agente com a vítima de crime contra os costumes. Dessa forma, resta tacitamente revogado, em parte, o CC 1520.
Dos Impedimentos
Impedimentos. A ausência de qualquer dos requisitos essenciais exigidos pela lei para que possa haver o casamento caracteriza impedimento (ou, especificamente, impedimento matrimonial). É a incapacidade nupcial estabelecida pelo direito (Bevilaqua. CC, v. 2, art. 183, p. 16).
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
Ascendentes e descendentes. Não importa o grau, nem a qualidade do parentesco, se civil ou natural. Estando as pessoas, umas com as outras, na relação em linha reta de ascendentes e descendentes, não podem se casar (CC 1591 e CC 1521 I). A proibição se estende a todos os ascendentes e descendentes que têm parentesco por afinidade com o cônjuge ou com o companheiro (CC 1595 § 1.º e CC 1521 II), ainda que tenha havido a dissolução do casamento ou da união estável (CC 1595 § 2.º).
Casamento do adotante com quem foi cônjuge do adotado e do adotado com quem o foi do adotante. Não pode ser celebrado. Isto porque a adoção atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com sua família de sangue (ECA 41).
Casamento monogâmico. O sistema do CC conserva a proibição da poligamia (CC 1521 VI). É por esta razão que é nulo o registro civil do casamento religioso se foi precedido de casamento civil de qualquer dos consorciados com outra pessoa (CC 1516 § 3.º). Este impedimento, diferentemente do que ocorre em virtude dos outros, não obsta a constituição da união estável, se a pessoa casada já tiver rompido de fato, ou judicialmente, a sociedade conjugal (CC 1723 § 1.º). Se a convivência marital entre homem e mulher se der em desobediência à proibição do CC 1521 VI, sem que tenha havido separação judicial ou de fato no anterior casamento do impedido, nem união estável entre eles haverá, mas apenas concubinato (CC 1727). Note-se que a bigamia ainda é considerada crime por nossa ordem jurídica (CP 235).
Parentesco (civil ou consanguíneo). É a causa dos impedimentos elencados no CC 1521 I a V. Parentesco civil é o que não resulta da consanguinidade; parentesco natural é o que deriva da consanguinidade (CC 1593).
Impedimentos do CC 1521 I a V em face de adotados. Também podem ser opostos em virtude do parentesco natural, por expressa previsão legal (ECA 41).
Impedimentos decorrentes do vínculo de adoção em decorrência de parentesco civil na linha colateral. Prescreve o ECA 41 que a adoção atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de quaisquer vínculos de filiação com seus pais consanguíneos, salvo quanto aos impedimentos matrimoniais. É correto afirmar-se, portanto, que todos os impedimentos em geral para o casamento que podem ser opostos em virtude do vínculo de parentesco natural remanescem oponíveis para os adotados em face de seus parentes biológicos e vice-versa, quer o parentesco seja identificado na linha colateral ou reta. O que causa certa perplexidade ao intérprete, contudo, são os impedimentos que decorrem do parentesco civil pela linha colateral, além do segundo grau, entre adotado e a família do adotante, reciprocamente. O elenco taxativo de hipóteses específicas de impedimento, com raízes nesse vínculo de parentesco civil (CC 1521 I, III e V), em contraposição com a regra geral do ECA 41 (que atribui situação jurídica plena de filho ao adotado), autoriza a afirmação de que o impedimento decorrente de parentesco civil colateral (CC 1521 IV) e o decorrente da afinidade civil colateral (CC 1521 II) não impedem o casamento de colaterais além do segundo grau, se o vínculo entre eles for civil, ou seja, não consanguíneo.
Impedimentos dos incisos IV e V. Em ambas as hipóteses o impedimento tem como causa o parentesco civil ou natural entre irmãos (parentes em 2.º grau, em linha colateral – CC 1594).
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz. 
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.
Declaração obrigatória de impedimentos. Deve ser feita pelo oficial do registro, pelo juiz (CC 1522 par.ún.), pelo MP (LRP 67 § 2.º) e pelo celebrante, se no momento da celebração for oposto publicamente impedimento para o casamento.
Oposição de impedimentos. Se faz na forma do CC 1529 e 1530: “Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas” (CC 1529).
Oposição de impedimentos pelo MP. Nos casos em que a lei concede legitimação para o MP postular a declaração de nulidade do casamento (CC 1549), pode ele opor os impedimentos respectivos. O direito conferido ao órgão do MP de opor-se à celebração do casamento também é justificado pelos seus interesses institucionais: a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF 127 caput).
Das Causas Suspensivas
Art. 1.523. Não devem casar: 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até 10 (dez) meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo.
Divorciado. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens (CC 1581), mas o novo casamento do divorciado não se celebrará sem que se ponha termo ao condomínio dos bens do casal divorciado. O formal de partilha é título declaratório da propriedade de cada um dos separados, “distinguindo o que é de cada um deles” (Afrânio de Carvalho. Registro de Imóveis, 3.ª ed., RJ: Forense, 1982, p. 127).
Prestação de contas de tutor ou curador. Deve ser feita perante o juízoda tutela e da curatela, nos moldes do CC 1755 a 1762 e 1781.
Viúva ou mulher cujo casamento se desfez. Não pode se casar nos dez meses que se seguirem ao desfazimento da sociedade conjugal. Isto porque se presume do marido o filho nascido nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial (o estado civil de separado, ostentado por muitas pessoas na sociedade civil, já não se obtém, judicial ou consensualmente, pelo sistema de direito de família, diante do advento da EC 66, que fez desaparecer a separação judicial ou extrajudicial do sistema jurídico, como modalidade apta a permitir a viabilização de divórcio posterior), nulidade ou anulação do casamento (CC 1597 II). Exames que comprovem a inocorrência de gravidez podem dispensar a incidência da causa de suspensão.
Viúvo ou viúva que não fez inventário dos bens do casal, nem deu partilha aos herdeiros. Até a partilha o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e à posse da herança, é indivisível (CC 1791 e par.ún.). Os bens confiados à administração do pai ou da mãe, pertencentes aos filhos, não podem se misturar com os bens do novo casal. Por isso a recomendação legal visa a evitar a confusão patrimonial. O comando legal fica reforçado pelo mecanismo de garantia de hipoteca legal (CC 1489 II), pelo qual sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias, antes de se fazer o inventário do casal anterior, pende hipoteca legal.
Homologação de partilha e novo casamento. Não se faz necessária a efetiva homologação da partilha, por meio de sentença, para se permitir o regime de comunhão universal de bens nas novas núpcias do viúvo que tem filhos do casamento anterior, desde que aquela tenha sido iniciada, com a apresentação de todos os bens a serem partilhados, de modo a afastar a possibilidade de confusão de patrimônios dos bens do novo casal com os dos filhos da união anterior. Não há, portanto, falar-se em vulneração do CC/1916 183 XIII (CC 1523 I) (STJ, 4.ª T., REsp 343719/SP, rel. Min. Jorge Scartezzini, v.u., j. 10.8.2004, DJU 30.8.2004, in Rosa Nery. Tratado, v. IV, p. 423).
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins.
Do Processo de Habilitação para o Casamento 
Exigências legais. Essas exigências têm o condão de demonstrar a vontade livre e desimpedida dos nubentes, bem como a possibilidade legal de contraírem casamento. Visa à demonstração evidente da existência dos requisitos essenciais do casamento (Carvalho Santos. CC Interpretado 14 , v. IV, art. 180, n. 4, p. 18). É um cuidado do legislador para a solenidade e ingresso do ato do casamento no registro público. Se, porventura, o casamento se realiza sem a habilitação e não exista para o casamento, efetivamente, nenhum impedimento, a celebração é válida e eficaz (Rosa Nery. Tratado, v. I, p. 941).
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos: 
I - certidão de nascimento ou documento equivalente; 
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; 
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; 
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; 
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.
Procedimento perante o oficial do registro civil de pessoas naturais. O novo sistema simplificou o procedimento de habilitação, ato complexo necessário para o registro da celebração civil ou religiosa do casamento. Impôs ao oficial competente o dever funcional de alertar os nubentes quanto aos impedimentos e às causas de invalidade do casamento e quanto ao regime de bens (CC 1528). Naquilo que não contrastar com este capítulo, vigem os regramentos da LRP 67 a 69. V. coment. CC 1526.
Exibição de documentos. Cabe aos pretendentes, ou a seus procuradores – investidos de poderes especiais –, a apresentação do rol de documentos exigidos pela lei. Caso resolvam os próprios nubentes exibi-los, não se exige que o façam conjuntamente. O único ônus existente é a necessidade de apresentação deles ao oficial competente, que os autuará e, estando em ordem os documentos, providenciará a extração e divulgação dos editais (CC 1527).
Casamento de pródigo. Pelas características da incapacidade por prodigalidade, que se limitam à administração do patrimônio do pródigo, deve ele ser assistido por seu curador, necessariamente, na eventualidade de vir a realizar pacto antenupcial.
Nome de família. Pelo sistema do CC 1565 § 1.º, qualquer dos nubentes pode acrescer seu sobrenome ao do outro, independentemente de ser o homem, ou a mulher. A norma não autoriza a retirada de nomes, mas apenas o acréscimo, muito embora a interpretação jurisprudencial da matéria se encaminhe para outra solução.
Casamento nuncupativo. Dispensa de formalidades de habilitação e proclamas. Pedido de autorização de registro de casamento. Moléstia grave de um dos nubentes. CC 1539. A urgência do ato dispensa os atos preparatórios da habilitação e proclamas (TJRS, 7.ª Câm. Cív., Ap. Cív. 70013292107, rel. Des. Ricardo Raupp Ruschel, v.u., j. 11.1.2006, DJE 18.1.2006, in Rosa Nery. Tratado, v. IV, p. 445).
Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do Ministério Público.
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiros, a habilitação será submetida ao juiz.
Oficial do registro civil. O procedimento de habilitação de casamento deve ser feito perante o oficial de registro civil. O oficial nada decide. Apenas processa a habilitação, recebendo a documentação exigida pela lei (CC 1525), apresentada a ele pelos nubentes. Nos termos da LNR 12, o oficial com atribuições para a prática dos atos próprios do registro de casamentos civis é o da circunscrição geográfica do local onde o casamento é celebrado.
Natureza do procedimento. A habilitação de casamento é procedimento administrativo.
Ministério Público. Os autos da habilitação devem ser encaminhados pelo oficial de registro civil ao MP para que possa exercer sua função de fiscal da lei. Examinará a capacidade dos nubentes para o casamento, eventual existência de impedimentos e outros requisitos gerais e os particulares que o caso exija.
Juiz de paz. O juiz que tem competência para atuar nos procedimentos administrativos de habilitação de casamento é o juiz de paz, de acordo com o que expressamente estabelece a CF 98 II, que contém preceito cogente, determinando aos Estados a criação da justiça de paz. O juiz de paz é eleito entre cidadãos maiores de vinte e um anos (CF 14 § 3.º VI c), temporariamente (tem mandato), podendo celebrar casamentos, decidir, sem caráter jurisdicional, sobre a habilitação e suas impugnações e auxiliar em conciliações (CF 98 II).
Oposição de impedimento e impugnação do MP. Decisão do juiz de paz. Quando no procedimento da habilitação de casamento for oposto impedimento por algum interessado ou houver impugnação pelo órgão do MP, cabe ao juiz decidir a respeito. Essa controvérsia não altera a natureza da habilitação, que continua a ser de jurisdição voluntária. Daí por que compete ao juiz de paz decidir sobre o tema. Essa competência lhe é dada de forma expressa pela CF 98 II: “(…) celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional (…)”. Verificar de ofício ou em virtude de impugnação apresentada (CF 98 II) é da competência do juiz de paz.Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante 15 (quinze) dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver. 
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.
Proclamas e publicidade do casamento. O objetivo da publicidade do casamento é permitir que seja revelada, por qualquer pessoa, a existência de possíveis impedimentos ao enlace. Decorrido o prazo legal sem que sejam opostos impedimentos ou causas suspensivas, presumem-se inexistentes obstáculos para a celebração. Ausente qualquer impedimento, o oficial do registro expedirá certidão indicando a habilitação dos pretendentes para se casarem dentre dos noventa dias imediatos. V. Nery-Nery. Leis Civis Comentadas, LRP 43 e 44.
Editais. Local de publicação. Como a finalidade dos editais é a de dar publicidade ao casamento, a fim de possibilitar oposição de impedimento, a publicação deve ser feita no local de residência, onde as pessoas são presumivelmente conhecidas, e não no local de nascimento, onde a publicidade poderia ser ficta (TJRS, Ap 70007257207, rel. Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, v.u., j. 10.12.2003 [Cahali. Família e sucessões, pp. 13/15]).
Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens.
Estatuto patrimonial do casal. Jornada IV DirCiv STJ 331: “O estatuto patrimonial do casal pode ser definido por escolha de regime de bens distinto daqueles tipificados nos CC 1639 e 1640 par. ún., e, para efeito de fiel observância do disposto no CC 1528, cumpre certificação a respeito, nos autos do processo de habilitação matrimonial”.
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas.
O procedimento de habilitação, inclusive o da oposição de impedimentos, é regulado pelo art. 67 da Lei dos Registros Públicos, que deverá ser examinado em conjunto com as normas do presente Código. Esse artigo complementa que tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas. O opositor responsabiliza-se civil e criminalmente pelas suas declarações. Este Código dá o nome de causas suspensivas aos antigos impedimentos descritos no art. 1.523.
Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu. 
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé.
O oficial dará aos nubentes ou a seus representantes a nota de oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem ofereceu. O procedimento tramita perante o oficial de registro civil. Pelo parágrafo único, os nubentes podem requerer prazo razoável para fazer contraprova, bem como promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé. Assegura-se, portanto, o contraditório. Pela Lei dos Registros Públicos, esse prazo era de somente três dias (art. 67, § 5º). A decisão será do juiz, após a oitiva dos interessados e do Ministério Público.
Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação.
Estando em ordem o processo de habilitação, decorrido o prazo de edital e verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial extrairá o certificado de habilitação (art. 1.531), que, como vimos, terá a validade de 90 dias a contar da data em que foi extraído, segundo este Código. A realização do casamento só pode ocorrer com a apresentação do certificado de habilitação. Será grave falha funcional do oficial o não atendimento a esse requisito. Os impedimentos podem ser apresentados, contudo, até a celebração do casamento. Pois está em jogo a nulidade do ato. O mesmo não ocorre com a oposição de causas suspensivas, que não mais poderão ser opostas após essa fase do procedimento.
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de 90 (noventa) dias, a contar da data em que foi extraído o certificado.
Trata-se de prazo decadencial. Decorrido o prazo de 90 dias sem que se lhe siga o casamento, restará aos interessados recorrer a novo procedimento. Esse prazo é necessário, pois após a habilitação poderão ocorrer fatos que alterem a situação e impedimentos ou causas suspensivas podem ter surgido. Casamento realizado com prazo de habilitação vencido não será nulo, porém, só produzirá efeitos após a realização pelos nubentes de nova habilitação e ratificação dos atos de celebração e registro.
Da Celebração do Casamento
Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art. 1.531.
Autoridade celebrante. CC 1554: “Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil”.
As solenidades do casamento, juntamente com o procedimento formal de habilitação que o antecede, encontram sua razão de ser em mais de um aspecto: impedem que decisões apressadas levem os nubentes a um ato superficial do qual possam arrepender-se; obrigam os interessados a meditar sobre o novo estado familiar no qual pretendem ingressar, realçando as responsabilidades; e contribuem para a vitalidade da instituição e da família perante a sociedade que dele toma público conhecimento. Carbonnier (1999, p. 425) sintetiza que os ritos do casamento possuem um duplo objeto: manifestar à sociedade a fundação de um novo lar e, mais utilitariamente, fornecer aos nubentes uma prova do ato.
Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular. 
§ 1º Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato. 
§ 2º Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever.
Publicidade da celebração. A celebração do casamento é ato público e solene. A regra é no sentido de que a cerimônia da celebração tenha lugar no edifício público sede do cartório. A exceção é a do casamento celebrado fora das dependências da sede do cartório. Nesta hipótese, o local da celebração deve se manter de portas abertas, durante o ato oficial. Se a autoridade celebrante for ministro religioso, a publicidade do ato, também, não se dispensa.
Testemunhas da celebração. Serão em número de 2 (duas) se a celebração se der na sede do cartório e em número de 4 (quatro) se a celebração ocorrer em outro local, da preferência dos nubentes, em o consentindo a autoridade celebrante. Exceção é a hipótese do CC 1539, em que o casamento se dá fora da sede do cartório; porém, o número de testemunhas é de 2 (duas). Também se excepciona o casamento em que algum dos contraentes não souber ou não puder escrever. Mesmo que realizado na sede do cartório, neste último caso, terá o número de 4 (quatro) testemunhas.
Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos: 
“De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes pormarido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”.
Momento do casamento. É o da expressão da vontade dos nubentes. O órgão estatal apenas homologa à vontade já exteriorizada dos nubentes.
A presença dos nubentes é essencial, ressalvada a possibilidade de casamento por procuração, como já mencionamos. O celebrante perguntará a eles, presentes as testemunhas representando a sociedade, se persistem no livre propósito de casar. Deverão então os noivos, cada um de per si, responder o “sim”, de forma inequívoca, sem qualquer qualificativo, termo ou condição, declarando em seguida o juiz efetuado o casamento, proferindo as palavras estatuídas nesse artigo.
As palavras sacramentais também deixam de existir no projeto do Estatuto, embora o sentido da atividade do juiz de paz permaneça o mesmo. Trata-se de resquício do ato solene formular do Direito Romano, que emprestava sentido de validade a palavras sacramentais.
“o casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados”.
Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o assento no livro de registro. No assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, serão exarados: 
I - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges; 
II - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos pais; 
III - o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior; 
IV - a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; 
V - a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; 
VI - o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas; 
VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada a escritura antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido.
Logo em seguida à celebração, será lavrado o assento no livro de registro. Para efeito prático, geralmente o registro já estará lavrado no livro, aguardandose apenas o consentimento e a formalização do ato pelo juiz, para que seja assinado por ambos os contraentes e pelas testemunhas.
Na prática, também, a autoridade já terá as respectivas certidões prontas, que serão entregues aos nubentes após sua assinatura. Nulidade alguma existe nessa prática, que visa facilitar os trâmites para os noivos. Se, por qualquer motivo, o ato não se concretizar, cancelam-se os assentos.
Nos termos do art. 70 da Lei dos Registros Públicos, contudo, logo após o matrimônio será lavrado o assento, assinado pelo presidente do ato, os cônjuges, as testemunhas e o oficial. Nesse assento, serão exarados: (1) os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges; (2) os prenomes, sobrenomes, nacionalidade, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos pais; (3) o prenome e o sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior; (4) a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; (5) a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; (6) o prenome, o sobrenome, nacionalidade, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas; (7) o regime de casamento, com declaração da data e do cartório em cujas notas foi tomada a escritura antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido (art. 1.536). Se o regime de bens decorre da lei, ou seja, o de separação obrigatória, o oficial deverá fazer constar do assento, se assim tiver conhecimento.
Art. 1.537. O instrumento da autorização para casar transcrever-se-á integralmente na escritura antenupcial.
Regime de bens dos nubentes menores de idade. A lei não obriga os que dependem de autorização dos pais ou de seus representantes para se casar (CC 1517) a que celebrem o casamento sob o regime de separação obrigatória de bens (CC 1641 e incisos). Se, entretanto, o casamento deles se der por suprimento judicial de vontade (CC 1519 e CC 1520), o regime de bens entre os cônjuges será, necessariamente, o da separação obrigatória de bens (CC 1641 III).
Esse requisito aumenta a segurança jurídica. Exige-se que a autorização para casamento dos menores seja integralmente transcrita no pacto antenupcial. Mais útil seria ainda se essa transcrição constasse do assento de casamento. A eficácia do pacto nupcial dependerá da aprovação dos representantes legais quando os nubentes forem menores de 18 anos e maiores de 16 (art. 1.654). Perante terceiros, o pacto só tem eficácia após o registro imobiliário. Eles podem, é claro, consorciar-se em pacto nupcial, ficando então o casamento submetido ao regime da comunhão de aquestos. Lembre-se que quando o casamento é realizado com suprimento judicial ou suplementação de idade, submeter-se-á ao regime de separação obrigatória de bens (art. 1.641, III).
Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: 
I - recusar a solene afirmação da sua vontade; 
II - declarar que esta não é livre e espontânea; 
III - manifestar-se arrependido. 
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia.
O ato será imediatamente sobrestado se algum dos contraentes deixar de manifestar sua concordância, titubear ou ficar reticente; declarar que sua manifestação não é espontânea, ou mostrar-se arrependido. A liberdade de vontade matrimonial deve ser absolutamente livre e indene de suspeitas.
Segundo o parágrafo único, o nubente que der margem à suspensão não poderá retratar-se no mesmo dia. Nesse caso, o casamento somente poderá realizar-se a partir do dia seguinte. Entende-se que, a partir do dia seguinte, a vontade estará livre da emoção anterior, permitindo que o nubente retorne após um período de meditação. A suspensão impõe-se ainda que a negativa ou reticência tenha sido manifestada por chacota. A seriedade do ato não se harmoniza com o escárnio.
Também será suspenso o ato se houver a oposição de qualquer impedimento, ou a autoridade celebrante tiver, por qualquer modo, conhecimento de óbice. A autoridade celebrante não está obrigada a aceitar qualquer impugnação, podendo indeferir aquelas que lhe pareçam inócuas, meramente emulativas ou desprovidas de seriedade. Como aduz Caio Mário da Silva Pereira (1996, p. 75), “não procederá por mera suspeita; será prudente e cauteloso”. 
Lembre-se de que o ato também pode ser suspenso por revogação do consentimento outorgado pelos pais, tutor ou curador, quando este era necessário, como permite o ordenamento. Caberá aos nubentes recorrer ao processo de suprimento do consentimento.
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante 2 (duas) testemunhas que saibam ler e escrever. 
§ 1º A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. 
§ 2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em 5 (cinco) dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.
Casamento realizado em caso de moléstia grave de um dos nubentes. A situação é diversa da do casamento nuncupativo. Aqui permite-se, como regra, que o casamento se faça fora da sede do cartório e que a celebração, mesmo assim (diferentemente da regra do CC 1534 e § 2.º), se faça com apenas duas testemunhas, diante da autoridade celebrante, ou de alguém que lhe faça as vezes. A lei dá aqui um privilégio ao que quer se casar mas está impedido de deslocar-se até o cartório, por motivo de moléstia grave, que, de toda maneira, não lhe retire a capacidade de exercício de direitos, nemo coloque em risco de vida. Se o que está acometido de moléstia grave está correndo risco de vida e o casamento precisa se realizar nos moldes do CC 1540, não se impõem ao caso as regras deste CC 1539.
Moléstia grave. A moléstia grave que acomete o contraente é fato clínico, comprovável por atestado a ser firmado pelo médico e deve compor os documentos para a habilitação, ou para a formulação posterior de pedido de celebração do casamento em local diverso do cartório, no local onde se encontra o nubente impedido de deslocar-se. Para a celebração, entretanto, no momento em que ela se dá, se a moléstia eclodiu posteriormente à habilitação, basta que no momento da celebração o outro contraente e as testemunhas confirmem esse fato, que justifica o deslocamento da autoridade celebrante, ou a celebração diante de quem lhe faça as vezes.
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.
Casamento nuncupativo. Esta modalidade de celebração tem lugar quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida e não puder contar com a presença da autoridade celebrante, dada a urgência da celebração. Por isso o número de testemunhas é alto, em número de 6 (seis), para suprir a falta da formalidade oficial. O “aperfeiçoamento do ato depende do cumprimento dessas formalidades a posteriori” (Domingos Pietroangelo. Vigência das normas da Lei de Registros Públicos sobre o casamento em face do Código Civil de 2002, Revista Fé Pública, Rio de Janeiro, n. 7/11). A doença que põe em risco a vida do contraente não pode ser tal que lhe retire a capacidade de exercer direitos.
Outra situação de supressão de formalidades ocorre quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida. Cuida-se do chamado casamento nuncupativo ou in extremis. Aplica-se a essa modalidade de casamento in extremis o mesmo comentário acerca do dispositivo anterior: embora a lei refirase ao risco de vida de um dos nubentes, com maior razão admite-se quando ambos estiverem nessa situação. Para qualquer das hipóteses de moléstia grave ou risco de vida, é evidente que os nubentes devem estar na plenitude do discernimento. Moléstia que os afete mentalmente tornará írrito seu consentimento.
Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em 10 (dez) dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de: 
I - que foram convocadas por parte do enfermo; 
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; 
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher. 
§ 1º Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em 15 (quinze) dias. 
§ 2º Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes. 
§ 3º Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos. 
§ 4º O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração. 
§ 5º Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro.
Casamento in extremis (casamento nuncupativo). É o celebrado perante seis testemunhas, “que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau” (CC 1540), sem a presença da autoridade competente, porque um ou os dois nubentes vive(m) situação “de iminente risco de vida” (Bevilaqua. CC, v. II11, 199, p. 44).
Formalidades. A regularização formal da celebração do casamento in extremis deve ser feita perante o juiz do lugar onde se celebrou o casamento. O juiz verificará a ocorrência da hipótese de risco de vida e da ausência de impedimentos para o casamento, ouvindo os interessados. Homologado o casamento, ele será registrado no cartório de registro civil do mesmo lugar da celebração.
Efeitos do casamento. Três hipóteses de fato devem ser observadas para que se determinem os efeitos do casamento: a) o cônjuge enfermo morre; 
b) o cônjuge enfermo se restabelece; 
c) o cônjuge enfermo se restabelece, mas não pode ratificar o ato. 
No primeiro caso, o estado de casado dos cônjuges se presume a partir da data da celebração. É isto o que quer significar o § 4.º, quando prescreve que o assento retrotrai os seus efeitos. Se o risco de vida cessar e a morte não advier, os cônjuges devem pessoalmente ratificar o ato, a não ser que não possam fazê-lo, por impedimento decorrente de inacessibilidade do lugar em que se encontrem.
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais. 
§ 1º A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos. 
§ 2º O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no casamento nuncupativo. 
§ 3º A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias. 
§ 4º Só por instrumento público se poderá revogar o mandato.
Forma solene. Mandato sujeito a forma solene prescrita em lei (CC 657) e com poderes especiais (CC 660).
Extinção do mandato. Após noventa dias o mandato estará extinto (CC 1542 § 3.º c/c CC 682 IV).
O presente Código foi expresso, limitando a eficácia do mandato a 90 dias (§ 3º), no que andou muito bem. As partes podem, evidentemente, convencionar prazo mais reduzido. Como o mandato é essencialmente revogável, o retrato ou revogação pode ocorrer até o momento da celebração. Também somente por instrumento público se poderá revogar o mandato (§ 4º). O § 1º do artigo menciona que a revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos. O casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, é anulável, segundo opção tomada pelo legislador (art. 1.550, V), não se anulando o negócio, porém, se tiver havido coabitação entre os cônjuges. A disposição é óbvia, pois se o mandante passa a viver sob o mesmo teto com o outro nubente, aceitou tacitamente o casamento.
Também não deve ser admitido que os dois nubentes confiram poderes à mesma pessoa, porque desvirtuaria a natureza do consentimento. A lei não o diz expressamente, mas dela se infere quando menciona no texto “o outro contraente” (GOMES, 1983, p. 102).
Se a procuração mencionar o regime de bens, a outorga é mais ampla e também é conferida para firmar o pacto antenupcial.
Das Provas do Casamento
Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro. 
Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova.
A celebração do casamento é provada pela certidão do registro. Em princípio, ninguém pode alegar estado de casado sem essa prova. No entanto, o registro não é essencial, pois mesmo em sua ausência, o casamento pode ser provado. O registro, por qualquer razão, pode ter sido perdido ou mesmo não ter sido lavrado. Nessas premissas, aceitam-se provas pelos meios admitidos em direito para justificar a perda ou a falta do documento (parágrafo único). Primeiramente, o interessado deve provar que o registro não mais existe ou nunca existiu. Numa segunda fase, deve provar a existência do casamento. A prova docasamento pode decorrer também de sentença judicial em processo movido para esse fim.
Inadmissibilidade de prova testemunhal. O dispositivo trata de exceção à regra geral do CPC 400 caput, constituindo hipótese em que a lei dispõe pela inadmissibilidade da prova testemunhal, amplamente admitida pelo sistema de direito. O CC 1543 par.ún. prevê a possibilidade de por qualquer outro meio se comprovar a celebração do casamento, se justificada a falta ou perda do registro civil. A perda “do registro civil” não se confunde com a perda da certidão do registro civil.
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em 180 (cento e oitenta) dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir.
O casamento celebrado no exterior prova-se de acordo com a lei do local da celebração. Se realizado perante autoridade consular, a prova é feita pela certidão do assento no registro do consulado.
Os casamentos de brasileiros celebrados no exterior, segundo a lei do país respectivo, serão considerados autênticos, nos termos da lei do local, legalizadas as certidões pelos cônsules (art. 32 da LRP).
Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.
A posse de estado de casado é a melhor prova do casamento, na ausência de registro, embora não seja peremptória, pois deve vir cercada de circunstâncias que induzam a existência do matrimônio.
Sua utilização, contudo, é excepcional na lei. O ordenamento protege o estado de casado na hipótese de cônjuges que não possam manifestar sua vontade e de falecimento dos cônjuges nesse estado, em benefício da prole comum. A presunção de casamento somente não ocorrerá mediante certidão do registro civil, provando que algum dos cônjuges falecidos já era casado quando contraiu o matrimônio impugnado. A posse do estado de casado só pode, portanto, ser impugnada com prova cabal.
A finalidade do dispositivo é beneficiar a prole comum. Nessa situação, presume-se o casamento, impedindo-se sua contestação, se há filhos do casal falecido. Para que essa presunção opere, há necessidade de quatro requisitos: (1) que os pais tenham falecido ou que não possam manifestar sua vontade; (2) que tenham vivido na posse de estado de casados; (3) a existência de prole comum; e (4) a inexistência de certidão do registro que ateste ter algum dos pais já contraído casamento anteriormente.
Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do casamento.
Nesse caso, a ação declaratória é o meio hábil. A sentença daí decorrente deverá ser inscrita no registro. Esse registro produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, todos os efeitos desde a data do casamento. O início de prova, nessa premissa, porém, deve partir do reconhecimento do estado de casado, como veremos no artigo seguinte, situação pela qual os cônjuges mostram-se como marido e mulher em seu meio social. Outros documentos e provas devem ser acrescidos, para evidenciar a existência do casamento. A sentença declaratória retroagirá para desde a data do casamento.
Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados.
Posse do estado de casado. A expressão representa, como antes, exceção à regra de que o estado se prova pela “prova legal”, ou seja, assento do registro civil. Aqui, presume-se o casamento pelas circunstâncias que envolvem a vida do casal, que se mantinha mutuamente como se casado fosse. Considerada a existência do casamento, ainda que sem a prova legal, os cônjuges vivem o estado de casado e a posição jurídica própria desse estado civil.
Posse do estado de casado. Longa convivência entre homem e mulher, como se casados. Presunção de casamento (RT 189/399).
Da Invalidade do Casamento
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; REVOGADO
II - por infringência de impedimento.
Invalidade absoluta do casamento. O legislador enumera duas hipóteses com naturezas jurídicas absolutamente distintas. Uma se relaciona com a higidez mental do que expressa vontade de se casar. Outra, com impedimentos cogentes que o legislador opõe à celebração do casamento. A hipótese do CC 1548 II está ligada ao rol do CC 1521 I a VII. A hipótese do CC 1548 I liga-se à capacidade do agente (CC 166 I). V. CC 3.º II e CC 166 I.
Casamento realizado por enfermo mental. Jornada IV DirCiv STJ 332:“A hipótese de nulidade prevista no CC 1548 I se restringe ao casamento realizado por enfermo mental absolutamente incapaz, nos termos do CC 3.º II”.
Por Infringência de impedimento. são nulos de pleno direito os Casamentos contraídos violando as causas de impedimento.
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
Ação de nulidade do casamento. A pretensão de nulidade pode ser ajuizada mediante ação declaratória de nulidade do casamento. Essa pretensão é perpétua, isto é, insuscetível de decadência ou de prescrição, razão pela qual o interessado pode ajuizar ação declaratória de nulidade do casamento a qualquer tempo. A ação de nulidade pode ser ajuizada tanto pela via principal como pela reconvencional ou de pedido contraposto.
Eficácia da sentença que reconhece a nulidade do casamento. A sentença que reconhece a nulidade do casamento, seja como matéria principaliter ou incidenter tantum, tem eficácia ex tunc, retroagindo à data da celebração do casamento. Quanto à eficácia da decretação da nulidade relativamente ao casamento putativo, v. coment. 7 CC 1549, coments. CC 1561 e coments. CC 1829.
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
I – de quem não completou a idade mínima para casar; 
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; 
III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; 
V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; 
VI – por incompetência da autoridade celebrante. 
§ 1º Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. 
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015).
O caso de nulidade do casamento (art. 1.548) traduz um interesse público. O ordenamento reage de forma mais rigorosa em suas hipóteses, pois não pode admitir infração a disposições que afetam a estrutura da família, orientada pelo Estado. Ao lado desse interesse social proeminente nos casos de nulidade, a anulação surge na proteção do interesse individual. Por isso, a lei protege os próprios nubentes, se se casaram, por exemplo, sob coação ou antes de atingir a idade legal. As causas de anulação estão elencadas nesse artigo e substituem, em linhas gerais, os outrora denominados impedimentos dirimentes relativos. Desse modo, seis são as hipóteses legais de anulação no texto da lei. Não existem outras. Em linhas gerais, a lei preocupa-se com a liberdade de consentimento, com a vontade viciada por erro ou coação, ou então presumindo que esse consentimento

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