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SUMÁRIO 1. Conceito ......................................................................... 3 2. Diabetes mellitus ....................................................... 3 3. Fisiopatologia .............................................................. 5 4. Monitorização ............................................................10 5. Alvos e metas ............................................................12 6. Insulinização no paciente não crítico ................13 7. Protocolo de hipoglicemia ....................................17 8. Protocolo de alta ......................................................19 9. Insulinização do paciente crítico .......................22 10. Situações especiais ..............................................24 Referências bibliográficas ........................................28 3HIPERGLICEMIA HOSPITALAR 1. CONCEITO A hiperglicemia hospitalar é a que acontece no ambiente intra-hospita- lar e é a endocrinopatia mais comum em pacientes hospitalizados, inde- pendente do diagnóstico prévio ou não de Diabetes Mellitus (DM). Apesar da maioria dos estudos ran- domizados e controlados, que inves- tigaram o impacto do tratamento da hiperglicemia, ter sido realizado em pacientes criticamente doentes, há dados observacionais que apoiam a importância do tratamento da hiper- glicemia entre os pacientes não crí- ticos (pacientes que não necessitam de cuidados em unidade de terapia intensiva), admitidos em enfermarias de clínica médica e cirurgia. A hiperglicemia está associada com internações mais prolongadas, au- mento da incidência de infecções, bem como, maior incapacidade fun- cional após alta hospitalar e maior taxa de morte. A maioria dos consensos define como valores maiores que 140mg/dL antes das refeições ou em jejum para considerar o paciente com hiperglice- mia hospitalar. Alguns ainda definem aqueles com glicemia maiores que 180mg/dL após se alimentarem. Existem algumas situações que es- tão incluídas neste diagnóstico, como aquela dos pacientes com Diabe- tes Mellitus prévio que apresentam descompensação glicêmica no mo- mento da internação; aquela dos pa- cientes que não sabiam que tinham DM e fazem o diagnóstico no mo- mento da internação; e aquela si- tuação dos pacientes sabidamente normoglicêmicos, que apresentam hiperglicemia na internação. SE LIGA! É recomendável realizar glice- mia capilar em todos os pacientes que são internados, independentemente de ter o diagnóstico prévio ou não de DM. Reconhecendo a relação da hiper- glicemia hospitalar com a Diabetes Mellitus, torna-se importante relem- brar os fatores determinantes dessa condição. 2. DIABETES MELLITUS A Diabetes mellitus é uma doença do metabolismo, caracterizada fun- damentalmente pela ocorrência de hiperglicemia crônica, que em longo prazo promove lesões em órgãos- -alvo, podendo cursar também com descompensações agudas. De acor- do com a etiopatogenia, os fatores que contribuem para a hiperglicemia são: déficit de insulina (absoluto ou relativo) e/ou resistência à insulina. De qualquer forma, o resultado é sempre a diminuição da utilização periférica e aumento da produção hepática de glicose. 4HIPERGLICEMIA HOSPITALAR A DM do tipo 1, com taxa de 5-10% dos casos, cursa com destruição pri- mária das células beta e queda de insulina por meio de valores absolu- tos. É subdividido em tipo 1A (meca- nismo autoimune, que está presente em mais de 90% dos casos) e tipo 1B (idiopático presente em cerca de 4-7% dos casos e particularmente em pacientes negros e asiáticos). Esse tipo de DM predomina em pa- cientes pediátricos não obesos, mas até 30% dos casos acaba por apare- cer após a idade de 30 anos, o cha- mado “LADA” ou Latent Autoimune Diabetes of Adults, que se traduz como a diabetes autoimune “latente” do adulto. O diagnóstico de DM tipo 1 costu- ma ser fácil, pois na maioria das ve- zes estamos falando da criança ou do adolescente que desenvolve ao longo de dias ou semanas alguns dos sintomas: poliúria, polidipsia, polifa- gia e emagrecimento. Eventualmen- te, a doença só é percebida na des- compensação, que é a cetoacidose diabética. CONCEITO! Cetoacidose diabética é uma complicação metabólica aguda do diabetes caracterizada por hiperglice- mia, hipercetonemia e acidose metabóli- ca. A hiperglicemia causa diurese osmó- tica com perda significativa de líquidos e eletrólitos. Ocorre principalmente no diabetes melito tipo 1. Causa náuseas, vômitos e dor abdominal e pode evoluir para edema cerebral, coma e morte. É diagnosticada pela detecção de ceto- nemia e acidose metabólica com inter- valo de ânions positivo, na presença de hiperglicemia. O tratamento envolve ex- pansão de volume, reposição de insulina e prevenção de hipopotassemia. A DM tipo 2 cursa primariamente com resistência periférica à insulina, que ao longo do tempo se associa à disfunção progressiva das células beta. A queda da insulina agora é por meio de valores relativos, ou seja, no início do quadro a insulina aumenta, mas esse aumento não é o suficiente para controlar a glicemia. Esse tipo de diabetes predomina em adultos obesos, principalmente os maiores de 45 anos, mas tem se tornado cada vez mais frequente em crianças e adolescentes por conta da obesidade precoce. O diagnóstico de DM tipo 2 costu- ma ser tardio, uma vez que muitos pacientes passam anos ou mesmo décadas completamente assintomá- ticos, ou seja, metade dos casos só 5HIPERGLICEMIA HOSPITALAR possuem diagnóstico após lesão de órgão-alvo com características e evo- lução irreversíveis. Aqui é mais raro o surgimento de cetoacidose diabética já que a produção endógena de insu- lina é suficiente para que seja evitado a cetogênese hepática, mas sinto- mas como poliúria e polidipsia podem ocorrer. Outro importante sinal clínico é a acantose nigricans. Às vezes, o diagnóstico é firmado na vigência de um estado hiperosmolar não cetótico, principal complicação aguda do DM tipo 2. Por último, a diabetes gestacional, pode ser definida como a intolerân- cia à glicose diagnosticada durante a gestação que não configura um qua- dro de franco diabetes mellitus se- gundo os critérios diagnósticos para pacientes não grávidas. O diagnóstico de diabetes mellitus, independentemente do tipo, requer a demonstração laboratorial de hi- perglicemia por meio de critérios la- boratoriais evidenciados na tabela a seguir. Hemoglobina Glicada (A1c) ≥ 6,5% Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL Glicemia 2h após teste de tolerância oral a glicose ≥ 200 mg/dL Glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL + sintomas de hiperglicemia Tabela 1. Diagnóstico da dm. Fonte: American Diabe- tes Association, 2019 Os três primeiros critérios elencados na tabela acima precisam ser confir- mados numa segunda dosagem, na ausência de hiperglicemia inequívo- ca. Ou seja, se não estivermos diante de franca descompensação metabó- lica será preciso repetir o exame. 3. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da hiperglicemia hos- pitalar está muito relacionada com os estressores relacionados à inter- nação, como evidenciado na Tabela abaixo. A própria internação Uso de alguns medicamentos • Corticoides • Vasopressores Fatores cirúrgicos • Medicamentos anestésicos • Bateria de exames pré-operatória • Próprio procedimento cirúrgico Nutrição parenteral ou enteral Elevada resistência à insulina Baixa reserva pancreática Tabela 2. Fatores estressantes relacionados à hipergli- cemia hospitalar Esses fatores estressores levam a uma desregulação e a um desbalanço hormonal que acarretam o aumento dos hormônios que são contra in- sulínicos, gerando assim o aumento especificamente do Glucagon e Cor- tisol e aumento das catecolaminas. 6HIPERGLICEMIA HOSPITALAR Assim, como efeito colateral também, ocorre a diminuição da produção de Insulina. Os fatos elencados acima, tem como sua principal consequência o desen- volvimento de algumas complicações. Essas complicações são os maiores problema relacionados a essedesba- lanço hormonal. São elas: a diminui- ção do óxido nítrico, que leva a di- minuição da vasodilatação e a queda do complemento que leva a queda das taxas de fagocitose. A diminuição da produção e libera- ção de óxido nítrico resulta em uma diminuição na vasodilatação. Paralelo a isso, a diminuição no sistema com- plemento resulta em uma diminuição na fagocitose, o que aumenta o risco de infecções em 6 vezes e ocasiona um aumento de até 3 vezes o risco de o paciente desenvolver insuficiência renal e arritmias. Todo esse conjunto dobra o risco da mortalidade nos pacientes diabéti- cos, e aumenta em 10 vezes a mor- talidade em pacientes não diabéticos. 7HIPERGLICEMIA HOSPITALAR ↑ Glucagon ↓ Insulina ↑ Cortisol ↑ Catecolaminas ↓ Óxido Nítrico ↓ Complemento+ Vasodilatação ↓ Fagocitose ↑ Infecções ↑Insuficiência renal e arritmias 2x em diabéticos 10x em não diabéticos FISIOPATOLOGIA DA HIPERGLICEMIA HOSPITALAR 8HIPERGLICEMIA HOSPITALAR Os principais hormônios envolvidos na hiperglicemia hospitalar são: a insulina, o glucagon, o cortisol e as catecolaminas. Insulina é um hormônio responsável pela redução da glicemia ao promover a entrada de glicose nas células. Esta é também essencial no metabolismo de sacarídeos (hidrato de carbono), na síntese de proteínas e no armaze- namento de lipídios. É produzida nas células beta das ilhotas de Langhe- rans, do pâncreas endócrino. Atua numa grande parte das células do organismo, como nas células pre- sentes no fígado, em músculos e no tecido adiposo, contudo não atua em células específicas cujos transpor- tadores da membrana não são sen- síveis à insulina, como é o caso das células nervosas. As membranas celulares não são permeáveis a glicose, com isso há a necessidade da atuação de proteí- nas transportadoras presentes na membrana plasmática, essas prote- ínas transportadoras são a GLUT1, GLUT7 que tem características dis- tintas de funcionamento e distribui- ção tecidual. A insulina é um polipeptídio de estru- tura química plenamente conhecida, e pode ser sintetizada a partir de di- versos animais. Mais recentemente, surgiram os medicamentos análogos de insulina, que constituem molécu- las que, não sendo insulina, possuem as mesmas características químicas e portanto reativas, são moléculas “de insulina” modificadas em laboratório. O glucagon é um hormônio hipergli- cemiante responsável pelo aumento do nível da glicose na corrente sanguí- nea quando ela se encontra abaixo do que é considerado normal – uma con- centração entre 70 e 110mg/100ml. É produzido pelo pâncreas, especifi- camente nas ilhotas pancreáticas (an- tigas ilhotas de Langerhans) que se apresentam como um aglomerado de células arredondadas que ocupa cer- ca de 1,5% do volume do pâncreas. O glucagon atua principalmente no fígado, pois a ação da insulina após as refeições promove a síntese de gli- cogênio a partir da glicose que entra no fígado. Assim, entre as refeições, quando a concentração da glicose decai na corrente sanguínea, o gluca- gon estimula o fígado a decompor o glicogênio, sintetizado anteriormente, e a converter outras substâncias em glicose para a sua liberação na cor- rente sanguínea. 9HIPERGLICEMIA HOSPITALAR Figura 1. Ilhotas Pancreáticas. Fonte: www.smart.servier.com O cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, que es- tão localizadas acima dos rins. A fun- ção do cortisol é ajudar o organismo a controlar o estresse, reduzir inflama- ções, contribuir para o funcionamento do sistema imune e manter os níveis de açúcar no sangue constantes, as- sim como a pressão arterial. Os níveis de cortisol no sangue variam durante o dia porque estão relacionados com a atividade diária e a serotonina, que é responsável pela sensação de prazer e de bem-estar. Assim, os níveis de cortisol basal no sangue, geralmente, são maiores de manhã ao acordar, de 5 a 25 µg/dL, e depois vão diminuindo ao longo do dia para valores menores que 10 µg/dL, sendo que em pesso- as que trabalham à noite os níveis se invertem. O cortisol alto no sangue pode originar sintomas como perda de massa muscular, aumento de peso ou diminuição de testosterona ou ser indicativo de problemas, como a Sín- drome de Cushing, por exemplo. No termo genérico catecolaminas, escondem-se três neuro hormônios: a noradrenalina, a adrenalina e a do- pamina. Estes hormônios, produzidos Ácinos pancreáticosDucto Ilhotas de Langerhans 10HIPERGLICEMIA HOSPITALAR pelo sistema nervoso em caso de choque emocional ou físico, facilitam a propagação dos fluxos nervosos no cérebro. Ela permite liberar mais gli- cose e ácidos graxos para aumentar o aporte energético, aumentar a pres- são arterial e acelerar a frequência cardíaca para que o indivíduo possa ter uma resposta adaptada ao perigo em potencial que se apresenta a ele. Assim que a sua missão for cumprida, as catecolaminas são metabolizadas em elementos inativos. 4. MONITORIZAÇÃO A monitorização do paciente hospi- talizado deve ocorrer, pois, indepen- dentemente de ele possuir ou não o diabetes, ele está sujeito a desen- volver hiperglicemia hospitalar. Além disso, caso ele não seja portador de DM, ele tem um risco muito maior de morte, como já foi dito, o que se faz necessário um protocolo para ser se- guido a partir do momento da admis- são do paciente e que será descrito a seguir. O manejo dessa condição é baseado na realização do diagnóstico, na afe- rição da glicemia capilar no momento correto, na administração correta da insulina e no diagnóstico, tratamento e prevenção da hipoglicemia. Deve-se medir a glicemia capilar de todos pacientes internados, indepen- dentemente do diagnóstico de DM. A partir disso, se a glicemia capilar inicial (aleatória) for maior que 250 mg/dL ou o paciente tiver diagnóstico prévio de DM, será necessária realizar monitorização glicêmica até o final da internação. Se essa glicemia capilar não for maior que 250mg/dL, deve-se observar se essa glicemia está maior que 140mg/ dL ou se o paciente possui fatores de risco para hiperglicemia hospita- lar. Caso possua glicemia maior que 140mg/dL ou possua fatores de risco, monitoriza-se as glicemia pré-pran- diais durante 24 horas. A partir disso, se a glicemia capi- lar pré-prandial média for maior que 140mg/dL, monitoriza-se até o final do internamento. Mas se a glicemia capilar pré-prandial média não for maior que 140mg/dL, não será ne- cessária a monitorização até que seja encontrado algum fator de risco para o paciente durante as reavaliações da evolução. Se o paciente não possui glicemia maior que 140mg/dL ou não possui fatores de risco, reavalia-se a evolu- ção do paciente para identificar al- gum dos fatores de risco, caso haja ou desenvolva. 11HIPERGLICEMIA HOSPITALAR FATORES DE RISCO Piora do status clínico Uso de corticoide Falência hepática Pancreatite Infusão excessiva de glicose Nutrição enteral ou parenteral Uso de drogas vasoativas Obesidade Gestação Septicemia DM pré-existente Tabela 3. Fatores de risco para a hiperglicemia hospitalar MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE NÃO CRÍTICO GLICEMIA CAPILAR (GC) ALEATÓRIA (DEXTRO) EM TODO PACIENTE QUE INTERNAR (ADMISSÃO) < 140mg/dL > 140mg/dL História de DM ou Glicemia > 250mg/dL SEM fatores de risco para hiperglicemia hospitalar Nova GC antes da próxima refeição MONITORIZAÇÃO ATÉ A ALTA + EXAME DE Hb1Ac ≤ 140mg/dL > 140mg/dL OU fatores de risco para hiperglicemia hospitalar SEM NECESSIDADE DE MONITORAÇÃO DA GC MONITORIZAÇÃO GLICÊMICA POR 24HORAS: SE ALIMENTAÇÃO ORAL: GC ANTES DAS REFEIÇÕES E ÀS 22h SE JEJUM OU DIETA ENTERAL: GC 6/6h Dois ou mais valores >140mg/dL Apenas um valor >140mg/dL Reavaliar se há novos fatores de risco para Hiperglicemia Hospitalar 12HIPERGLICEMIA HOSPITALAR 5. ALVOS E METAS Existem critérios bem estabelecidos que guiam a monitorização e trata- mento e que também alertam quanto a efetividade do manejo. O objetivo desseprotocolo é manter a glicemia pré-prandial do paciente não crítico entre 100 e 140mg/dL, do pa- ciente crítico entre 140 e 180mg/dL, a glicemia pós-prandial menor do que 180mg/dL (independente da condi- ção clínica do paciente), além de evi- tar a hipoglicemia nesses pacientes. Suspende-se os antidiabéticos orais para prevenção dessa hipoglicemia indesejada, porém se mantém o uso de insulina. A hiperglicemia em pacientes sabi- damente não diabéticos pode apon- tar para diabetes prévio não diagnos- ticado, ou ocorre pelo aumento dos hormônios contrarreguladores causa- do pelo estresse da doença de base ou administração de medicamentos, soluções e dietas hiperglicemiantes, sendo neste caso chamada de hiper- glicemia de estresse. A hemoglobina glicada (HbA1c) maior que 6,5% indi- ca diabetes prévio não diagnosticado. Este exame também é útil na avalia- ção do controle prévio dos pacientes sabidamente diabéticos, ajudando no planejamento das orientações tera- pêuticas à alta hospitalar. É indicado para todos os pacientes com hipergli- cemia, exceto para aqueles que o te- nham realizado há menos de 3 meses da internação. SE LIGA! O paciente deverá ser coloca- do em “dieta para diabetes”, que é uma dieta de 1800kcal, livre em açúcar e hipolipídica. Em geral, todos os níveis de glicose devem ser mantidos abaixo da faixa de 180 mg/dL (10,0 mmol/L) para evi- tar novas escaladas, que podem estar associadas à desidratação, glicosúria e perda calórica, além de reduzir o ris- co de infecção e, embora raro, de de- senvolver cetoacidose. A hipoglicemia hospitalar é definida como glicemia abaixo de 70mg/dL e hipoglicemia clinicamente significa- tiva abaixo de 54mg/dL. Pode haver flexibilização da meta glicêmica para pacientes não críticos com baixo ris- co de hipoglicemia (100 a 140mg/dL) e para pacientes terminais ou muito idosos, com metas mais altas. O esquema terapêutico para controle da glicemia deverá ser ajustado dia- riamente com base em julgamento clínico e levando-se em consideração a dieta, realização de procedimentos invasivos e início ou suspensão de medicamentos hiperglicemiantes. 13HIPERGLICEMIA HOSPITALAR ALVOS Pré-prandial: 100 -140 mg/dL Pós-prandial: < 180 mg/dL EVITAR HIPOGLICEMIAS DROGAS ANTIDIABÉTICAS Suspensão das drogas antidiabéticas, exceto insulina DIETA 1800 Kcal, livre em açúcar e hipolipídica Tabela 4. Alvos e metas para monitorização 6. INSULINIZAÇÃO NO PACIENTE NÃO CRÍTICO Não existem estudos de qualidade com a avaliação dos hipoglicemiantes orais em pacientes hospitalizados, por isso, em geral, esses medicamen- tos devem ser suspensos e substituí- dos por esquemas de insulinização. A exceção se dá em casos onde os pa- cientes se encontram estáveis, sem contraindicações e já em programa de alta hospitalar. A estratégia mais utilizada para a te- rapia da hiperglicemia com insulina é a aplicação de escalas de corre- ção com insulina regular apenas sob demanda, de acordo com glicemias (sliding scale). Apesar, disso, exis- tem evidências que mostram que os melhores desfechos são alcançados quando protocolos utilizando esque- mas de insulina basal-bolus são empregados. Assim, o tratamento recomendado em ambiente hospitalar é a insulino- terapia, por via subcutânea, através dos esquemas basal-bolus (uso de insulina basal e de insulina rápida ou ultrarrápida em bolus antes das refei- ções) ou basal plus (insulina basal e correção, conforme glicemia capilar). Figura 3. Insulinização concomitante à alimentação. Fonte: retirado de www. gliconline.net/tratamento-basal-bolus 14HIPERGLICEMIA HOSPITALAR As insulinas prandiais (em bolus) se dividem em ultrarrápidas e rápidas. As ultrarrápidas são as Aspart, Lisi- pro e Glulisina, enquanto que a rápida é a Insulina Regular. Já as insulinas basais (que utiliza-se a noite para cobrir a liberação hepáti- ca de glicose e são de ação mais len- ta) podem ser de ação intermediária, como a protamina neutra de Hage- dorn (insulina NPH) ou um análogo de ação prolongada como Glargine e Detemir. Dentro de todos esses tipos de insu- lina, sabemos que o tempo de ação é a principal diferença entre eles, e que além desses elencados alguns outros tipos também já estão dispo- níveis para uso. No cotidiano da en- docrinologia ambulatorial, é comum alterar dentro desses tipos basean- do-se na clínica da doença individual de cada paciente, adesão e situação financeira. Figura 4. Perfis de ação das insulinas. Fonte: retirado de www.diabetes.org.br Sobre a dose, se faz metade dela para cobertura da liberação hepática de glicose e metade com a insulina prandial para cobrir a necessidade nutricional e para correção da glice- mia se o paciente estiver fazendo gli- cemia acima do alvo glicêmico. 15HIPERGLICEMIA HOSPITALAR 50% DA DOSE INSULINA BASAL COBRE LIBERAÇÃO HEPÁTICA DE GLICOSE INSULINA PRANDIAL COBRE NECESSIDADE NUTRICIONAL CORREÇÃO DA GLICEMIA SE ACIMA DO ALVO GLICÊMICO 50% DA DOSE OBJETIVOS DO ESQUEMA DE INSULINOTERAPIA BASAL-BOLUS Sendo assim, o esquema basal-bo- lus se resume em: 1) Insulina basal (0,2UI/kg/dia) insuli- na NPH (preferível fracionar em 2 a 3 doses) ou glargina (uma vez ao dia); 2) Insulina regular ou análogo (lis- pro, aspart ou glulisina) 0,2UI/kg fracionadas antes do café, almoço e jantar (geralmente 30 min antes da refeição) associada a dose de corre- ção. Não aplicar se o paciente não es- tiver se alimentando. 3) Dose de correção: GLICEMIA (MG/DL) INSULINO-SENSÍVEL USUAL INSULINO-RESISTENTE >141-180 2 4 6 181-220 4 6 8 221-260 6 8 10 261-300 8 10 12 301-350 10 10 12 351-400 12 14 16 >400 14 16 18 Insulino-sensível: pacientes idosos, insuficiência renal, insuficiência hepática. Usual: diabéticos tipo 1 e tipo 2 com peso normal. Insulino-resistente: obesos, uso de corticoide. Tabela 5. Insulina Suplementar para correção de hiperglicemia. Fonte: retirado de www.diabetes.org.br 16HIPERGLICEMIA HOSPITALAR O cálculo da dose de insulina deve considerar o estado clínico, o uso de medicações que afetam a glicemia, a função renal e hepática, o peso cor- póreo e a idade do paciente. Esses fatores influenciam o grau de sensibi- lidade do paciente à insulina que são classificados em normossensíveis, muito sensíveis ou resistentes. AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE À INSULINA Normossensíveis Muito sensíveis Resistentes DM tipo 1 e 2 ou disglicêmicos com peso normal 0,4 UI/Kg/dia Idade >70 anos, RFG <60mL/min, induficiência hepática 0,3 UI/Kg/dia Corticoide, obesos ou glicemia >200 mg/dL 0,5 UI/Kg/dia 50% basal e 50% bolus Dose de bolus associada a dose de correção baseado nas glicemias pré-prandiais Relembrando, os ajustes serão ba- seados nas medidas de glicemia, re- alizadas em jejum, antes do almoço, antes do jantar e à noite. Para pa- cientes com dieta enteral contínua ou nutrição parenteral, poderão ser realizadas medidas de 6 em 6 horas. Quando necessário o uso de insulina venosa contínua, a monitorização de- verá ser intensificada (2/2h ou 1/1h). AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE E CÁLCULO DA DOSE DE INSULINA SE LIGA! É necessário considerar usar só a insulina basal caso paciente este- ja fazendo uma média das glicemias de até 180mg/dL (ou seja, de 140mg/L a 180 mg/dL), sendo possível o adiamento para o uso da insulina prandial. Qual seria a melhor forma de trata- mento em um Paciente com 100Kg sem diagnóstico prévio de DM e com Glicemia Capilar inicial de 250 mg/dL? Nesse caso, o cálculo da dose ge- ral consiste em 0,4UI x 100Kg (0,4 UI 17HIPERGLICEMIA HOSPITALAR por quilo), o que nos fornece o resul- tado geral de 40 UI. Metade dessa dose geral precisa ser de Insulina basal e a outra metade de Insulina em bolus resultando no se- guinte esquema: • INSULINA BASAL: longa ação = 20 UI ◊ NPH: 7 +7 + 0 + 7 ou 12 +0 + 0 + 8 • INSULINA PRANDIAL: rápida ou ultrarrápida = 20 UI ◊ 7 UI antes do café, do almoço e do jantar ◊ Caso a GC esteja acima do alvo (100-140 mg/dL)nós fa- zemos o seguinte esquema: • A cada 40 mg/dL acima desse alvo, se acresce 1UI em cada dose prandial • Ou seja, a dose real para insulina prandial do nos- so paciente fictício é de 10UI. 7. PROTOCOLO DE HIPOGLICEMIA Uma das grandes barreiras para o bom controle glicêmico em ambiente hospitalar é o medo de hipoglicemia. A hipoglicemia hospitalar, além do desconforto ao paciente e apreensão de seus acompanhantes, pode deter- minar aumento dos índices de morbi- -mortalidade. A hipoglicemia estimu- la o sistema simpático, propiciando Paciente 100Kg e sem DM Glicemia capilar inicial 250mg/dL 0,4 UI x 100 Kg 40 UI 20 UI 20 UI INSULINA REGULAR 20 UI NPH: 7 + 7 + 0 + 7 UI Ou 12 + 0 + 0 + 8 UI INSULINA PRANDIAL 20 UI 7 UI antes de cada refeição Adiciona 1 UI para cada 40mg/dL acima da meta 18HIPERGLICEMIA HOSPITALAR a ocorrência de arritmias, aumenta a demanda miocárdica de oxigênio, favorecendo quadros anginosos, e aumenta a liberação de citoquinas inflamatórias. No ambiente hospitalar existem vá- rias situações que predispõem à ocorrência de hipoglicemias. Proto- colos de abordagem e prevenção de hipoglicemias devem ser implanta- dos, com o envolvimento ativo e trei- namentos frequentes da equipe de enfermagem. Eventos de hipoglice- mia (≤70mg/dL) indicam necessida- de de revisão imediata do esquema terapêutico. São consideradas hipo- glicemias clinicamente significativas aquelas < 54mg/dL Paciente em uso de insulina Diminuição de dose ou suspensão de glicocorticoide Uso de hipoglicemiantes (sulfonilureias, glinidas e insulinas mistas) Baixo peso (IMC<18,5) Mudança no aporte calórico Diabetes mellitus tipo I Vômitos. Tabela 7. Fatores de risco para hipoglicemia Dentro desse aspecto clínico então, fica evidenciado que o manejo de- pende de outras condições clínicas, como a alimentação do paciente, se esse paciente se encontra consciente ou inconsciente, e até mesmo se ele possui acesso venoso ou não, como veremos a seguir. A hipoglicemia no paciente conscien- te, capaz de ingerir líquidos por via oral, pode ser controlada através da oferta de 15 g de carboidrato oral (1 colher de sopa de mel ou açúcar líqui- do, 1 copo de refrigerante ou suco de laranja) e repetir a glicemia capilar a cada 15 minutos, reofertando o car- boidrato até atingir glicemia superior a 100 mg/dL. Em função de seu efeito muito tardio, evita-se corrigir a hipo- glicemia pela antecipação da refeição. No paciente com redução da cons- ciência, quando está contra-indica- da a ingesta oral, ou no paciente em jejum, utiliza-se a solução glicosada hipertônica de glicose a 50%, por via endovenosa (infundimos o soro glico- sado a 50% lentamente pois é muito comum desenvolver flebite no braço do paciente) e repetimos a glicemia capilar após 5 minutos e checar nível de consciência. Se o paciente estiver inconsciente e sem acesso venoso, fazemos Gluca- gon 1 ampola IM ou SC. Ao acordar, oferecer alimento (se possível) com carboidrato de rápida absorção. Reconhece-se que a hipoglicemia deve ser evitada, mas a solução não é o subtratamento da hiperglicemia. 19HIPERGLICEMIA HOSPITALAR 8. PROTOCOLO DE ALTA Para que o paciente possa receber alta do hospital ele deverá ser ava- liado antes das tomadas de deci- sões de manejo de acordo com a etiologia da hiperglicemia. São elas, a hiperglicemia temporária, o DM sem diagnóstico prévio e o diabetes conhecido. A hiperglicemia temporária é uma hiperglicemia que aparece e se resol- ve no hospital, mas o paciente neces- sita de acompanhamento médico pós PROTOCOLO PARA CORREÇÃO DA HIPOGLICEMIA ATENÇÃO! Sempre que glicemias < 100mg/dL, considerar diminuir dose de insulina NÃO SIM 15g de carboidrato simples Via Oral Com acesso venoso: SG 50% 20 a 40mL EV Sem acesso venoso: Glucagon 1 ampola IM Paciente alimentando-se, consciente Paciente em jejum e/ou desacordado inconsciente GLICEMIA CAPILAR (DEXTRO) < 70MG/DL Aguardar 15 minutos Aguardar 5 minutos Recuperou da hipoglicemia? Identificar causa e agir Oferecer lanche Se jejum: aumentar aporte de glicose EV 20HIPERGLICEMIA HOSPITALAR internação, pois existe o risco de de- senvolver DM. A diabetes sem diagnóstico prévio é uma hiperglicemia que terá contro- le no hospital, mas o paciente, caso não siga as instruções médicas, po- derá se apresentar novamente em ambiente extra-hospitalar, como na maioria dos casos. Dessa forma, de- verá ser instituído um tratamento, uma dieta e fornecido educação ins- truções sobre a doença para ele. Ele deverá seguir com acompanhamento endocrinológico. No diabetes conhecido, assim como a diabetes sem diagnóstico prévio, o paciente sairá do hospital com risco para hiperglicemia, caso não mante- nha o tratamento e a dieta para pa- cientes com diabetes. Deverá ser avaliado o grau de controle da doença e a presença ou não de complicações, assim como deve ser ajustado o tra- tamento deste paciente, e o paciente deverá seguir com acompanhamento endocrinológico, independentemente se já possui ou não. Plano de alta para o paciente sem DM, se HbA1c < 6,4% (Hiperglice- mia temporária) consiste em realizar orientações sobre risco de DM e fazer o seguimento para mudança de estilo de vida. Se HbA1c > 6,5% (Diabe- tes sem diagnóstico prévio, ou seja, o paciente já tinha DM e não sabia), é preciso confirmar diagnóstico, insti- tuir tratamento e iniciar medidas edu- cativas sobre a doenças. O plano de alta para o paciente com DM, depois de ser feito a hemoglo- bina glicada logo na entrada oferece três cenários relacionado às taxas de Hb1Ac. Se Hb1Ac < 7,5 %, trata-se de um caso de DM compensado. De- ve-se manter o tratamento caso ele já tinha diagnóstico e acompanhamento e iniciar o tratamento caso não tenha diagnóstico nem tratamento prévio. Se Hb1Ac de 7,5 – 9,0 %, trata-se de um caso de DM mal controlado. Se o paciente estava usando até um antidiabético oral, acrescenta-se mais um antidiabético. Se já usava 2 anti- diabéticos, inicia-se a insulinoterapia, e aqui cabe uma observação de que fora do SUS e para pacientes com condições, podemos fazer um análo- go de GLP1. Se Hb1Ac > 9,0 %, tra- ta-se de um caso de DM descompen- sado. Se o paciente já estava fazendo uso de até 2 antidiabéticos, pode-se começar a insulinoterapia. Se já está em insulinoterapia, deve-se otimizar essa terapia. 21HIPERGLICEMIA HOSPITALAR A educação ao paciente que rece- ber alta com insulina e seus acompa- nhantes deve incluir: disponibilização de medicamentos, insulinas, serin- gas, agulhas, monitor de glicemia, lancetas e tiras reagentes; objetivos terapêuticos bem definidos; reco- nhecimento e conduta frente a hiper/ hipoglicemia; contato telefônico de emergência; consulta pré-agendada para no máximo 30 dias apos a alta; planejamento das refeições; brace- letes de segurança ou identificações que contenham o diagnóstico de DM. PLANO DE ALTA HbA1c da entrada ADO = antidiabético oral HIPERGLICEMIA TEMPORÁRIA Orientações sobre risco de DM e recomendações para mudança de estilo de vida Confirmar diagnóstico Instituir tratamento Iniciar educação Avaliar grau de controle Ajustar tratamento Avaliar complicações Orientar segmento 6,5% - 7,5% 7,5% - 9,0% > 9,0% Introduzir ADO ou reintroduzir a medicação em uso antes da internação Introduzir 2 ADO. Se já em uso de 2 ADO introduz insulina. Se já usa insulina, intensificar tratamento Manter 70% da dose de insulina prescrita no hospital Reintroduzir ADO Retorno breve DM SEM DIAGNÓSTICO PRÉVIO DIABETES CONHECIDO < 6,4% ≥ 6,5% Sem diagnóstico de DM 22HIPERGLICEMIA HOSPITALAR O acompanhamento ambulatorial do paciente com hiperglicemia hospi- talar sem diagnóstico prévio de dia- betes é fundamental, visto que esses pacientes têm maiores possibilidades de se tornar diabéticos. 9. INSULINIZAÇÃO DO PACIENTE CRÍTICO Em pacientes críticos, a insulinote- rapia venosa contínua deverá ser o esquema terapêutico preferencial,até que exista estabilidade clínica e de ingesta alimentar que permitam a implantação segura do esquema basal-bolus. Dentre os critérios para indicação de insulinoterapia endovenosa, estão: • 2 medidas consecutivas de glice- mia capilar > 180 mg/dL • Choque de qualquer etiologia • Controle glicêmico peri-operatório • Paciente em uso de corticoesteroi- de em altas doses A administração de insulina por bom- ba de infusão EV contínua é o siste- ma mais eficiente, seguro e fácil para controlar a glicemia. Utiliza-se pre- ferencialmente a insulina regular hu- mana em soluções de 100 unidades diluídas em 100 mL de solução salina 0,9% (1 U/mL), com homogenização do meio. A meia vida curta da insulina EV, ao redor de 4-5 min, permite rá- pido controle de eventuais hipoglice- mias, tão logo se suspenda a infusão pela bomba. Recomenda-se também a utilização de acessos venosos distintos para a infusão de soluções para hidratação, reposição eletrolítica e administração de medicamentos, para que estes não sejam afetados numa eventual inter- rupção da infusão de insulina. Os pacientes críticos se encontram em estado catabólico e, por diver- sas razões, com seu apetite suprimi- do. Devemos, portanto, garantir um aporte de pelo menos 5-10g/hora de glicose. Considerando os objeti- vos propostos para os níveis da glice- mia, recomenda-se que o suporte nu- tricional no paciente crítico em jejum seja preferencialmente por via ente- ral, introduzido gradualmente, evitan- do-se a infusão de grandes quantida- des de glicose intravenosa. As infusões controladas de glicose podem ser utilizadas provisoriamente nas eventuais pausas da dieta ente- ral. Com relação à nutrição parenteral, as infusões de emulsões lipídicas es- tão associadas a aumento do risco de mortalidade e infecções em pacientes críticos. Da mesma forma, o excesso de triglicérides e ácidos graxos circu- lantes são preditores prognósticos tão poderosos quanto a hiperglicemia. 23HIPERGLICEMIA HOSPITALAR SAIBA MAIS! Na presença de glicemias acima de 300 mg/dL devemos quantificar a cetonemia para afastar a possibilidade de cetoacidose diabética, principalmente no portador de diabetes mellitus (DM) tipo 1 ou pancreatectomizado. Alguns autores utilizam aplicação inicial de bolus de insulina EV antes de iniciar a infusão contínua, para reduzir o efeito da glicotoxicidade nas hiperglicemias acima de 300 mg/dL, utilizando uma fórmula padrão (glicemia ≥300 ÷ 100 = dose de insulina). Existem diversos programas eletrô- nicos, comercialmente disponíveis, para estabelecer o ritmo de infusão da insulina e os ajustes necessários, os quais estão calibrados com base em três parâmetros básicos: correção da hiperglicemia, prevenção da hipo- glicemia e obtenção de menor varia- bilidade glicêmica possível A dose diária total de insulina (DDTI) pode ser calculada de duas maneiras: • Utilizar a dose total de insulina que o paciente já recebia ambulatorial- mente, desde que a HbA1c de en- trada seja satisfatória; • Calcular a dose com base no peso corpóreo: ◊ Utiliza-se a proporção de 0,2 a 0,4 UI/kg nos pacientes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1), nos indivíduos magros, nos idosos, naqueles com HbA1c prévia adequada, nos virgens de insulina, naqueles com in- suficiência renal crônica e nos pacientes não críticos; ◊ Utiliza-se a proporção de 0,5 a 2,0 UI/kg nos indivíduos com DM2, nos pacientes obesos com resistência à insulina, nos pacientes críticos, naque- les com elevação de HbA1c e nos pacientes recebendo corticoterapia. Após a estabilização do quadro clíni- co, deve-se proceder à transição do esquema de insulina endovenosa para a via subcutânea, utilizando-se o equivalente a 60 a 80% da dose to- tal infundida nas últimas 6 horas de infusão, preferencialmente da noite, quando o paciente não se alimentou, e multiplicar por 4, para o cálculo da DDTI. SE LIGA! É importante salientar que a bomba de infusão endovenosa de insu- lina deve ser desligada somente após 2 a 4 horas da aplicação de insulina basal, a fim de evitar o rebote hiperglicêmico decorrente da suspensão da aplicação endovenosa. Nesse processo de desligamen- to, utiliza-se 80% da dose utilizada nas últimas 24 horas divididas em 24HIPERGLICEMIA HOSPITALAR basal-bolus associada a correção da dose de acordo com a glicemia capilar (avaliar as últimas 6 horas e extrapo- lar para 24 horas). Por exemplo, caso o paciente esteja fazendo infusão de 5 UI/h, nas últimas 6 horas, ele infundiu 30 UI. Completando o raciocínio, consegui- mos a partir de uma regra de 3 chegar no valor de infusão extrapolado das últimas 24h, que foi, nesse caso, de 120 UI. Desse valor, calcula-se 80%, resultando em 96 UI disponíveis para dividir igualmente entre Insulina Ba- sal e Insulina Bolus. Resultando no esquema a seguir: • 48 UI para Insulina Basal de ação longa ◊ NPH: 16 + 16 + 0 + 16 ◊ NPH: 32 + 0 + 0 + 16 • 48 UI para insulina prandial de ação rápida ou ultrarrápida ◊ 16 UI antes de cada refeição Alguns parâmetros clínicos podem sugerir que ainda não seja segura a transição da infusão endovenosa para a via subcutânea, entre eles: taxa de infusão de insulina maior que 3 UI/ hora, grande variabilidade glicêmica, grande edema de partes moles e ins- tabilidade hemodinâmica. Além disso, na prática pode se utilizar uma calculadora para esse cálculo das doses da insulinoterapia basal-bolus no paciente crítico e não crítico por meio do aplicativo insulinapp disponí- vel em www.insulinapp.com.br. 10. SITUAÇÕES ESPECIAIS • Terapia com corticosteroides: Os corticosteroides podem ser dividi- dos em ação rápida, intermediária ou longa. Eles atua, suprimindo a secreção pancreática de insulina, aumentando a produção de glico- se pelo fígado e, principalmente, aumentando a resistência à insu- lina. Não existem protocolos pré- -estabelecidos, mas uma aborda- gem razoável seria monitorar por mais 48 horas todos os pacientes com corticoterapia em dose alta e administração de insulina. Essa elevação corresponde a 10-20% da dose de insulina a cada incre- mento do corticoide, mas também é importante lembrar de diminuir a dose de insulina quando houver redução da dose de corticoide. • Pacientes cirúrgicos: Nos pacien- tes que irão se submeter à cirur- gia, os cuidados do controle glicê- mico objetivam atingir a meta de glicemia, mantendo-se entre 110 a 180 mg/dL, evitar a hipoglice- mia, prevenir de cetoacidoses a estados hiperosmolares, manter o equilíbrio de fluidos e eletrólitos, evitar hiperglicemia acentuada. 25HIPERGLICEMIA HOSPITALAR • Pacientes com cuidados palia- tivos: O controle glicêmico dos pacientes internados em cuida- dos paliativos deve ser menos ri- goroso para evitar hiperglicemias acentuadas (>270 mg/dL) ou hi- poglicemias. As metas devem ser estabelecidas de acordo com o prognóstico e individualizadas. • Insuficiência renal crônica: Em- bora a metabolização renal da in- sulina endógena seja pouco ex- pressiva, ela ganha importância quando se trata da insulina exó- gena. Além disso, o tecido renal responde por cerca de 10 a 25% da neoglicogênese durante o je- jum. Dessa forma, em associação à inerente redução do apetite pela uremia, indivíduos com doença re- nal crônica (DRC) estão mais su- jeitos à hipoglicemia. Assim, em pacientes com taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) < 50 mL/min, deve-se promover redu- ção de 25% da dose usual; na- queles com TFGe < 10 mL/min, a dose deve ser reduzida a 50% da usual. Em pacientes que realizam hemodiálise, existe uma tendência maior a hipoglicemia nas 24 horas subsequentes ao procedimento. Deve-se evitar o uso de insulinas rápidas no período de 1 a 2 horas antes do procedimento devido ao risco de hipoglicemia. Estudos clí- nicos sugerem uma redução de 25% na dose de insulina basal no dia posterior à hemodiálise, sem necessidade de modificação da dose prandial. • Insuficiência hepática: Pacientes com doenças inflamatóriascrôni- cas do fígado apresentam maior resistência insulínica, em razão do efeito das citocinas inflamatórias, e requerem, em geral, doses mais elevadas de insulina. Por sua vez, pacientes com cirrose e insufici- ência hepática grave, em virtude da menor reserva de glicogênio e da menor metabolização da insu- lina, estão mais sujeitos a sofrer hipoglicemia, principalmente nos períodos de jejum prolongado. Em pacientes submetidos a transplan- te hepático, a ocorrência de hipo- glicemia no transoperatório é di- retamente proporcional ao escore MELD (modelo para doença hepá- tica terminal; model for end-stage liver disease) de severidade fun- cional hepática. Ao mesmo tempo, a captação hepática de glicose no estado pós-prandial é reduzida, fazendo com que esses pacientes apresentem grandes elevações gli- cêmicas pós-prandiais. Assim, nos pacientes com disfunção hepática grave, deve-se reduzir a propor- ção de insulina basal em relação à prandial. 26HIPERGLICEMIA HOSPITALAR RESUMO: Pontos importantes no manejo da hi- perglicemia hospitalar: • Atentar para hiperglicemia hospitalar mesmo em pacientes não diabéticos; • Todos os pacientes internados de- vem ter metas glicêmicas definidas, realizando perfil glicêmico inicial e teste de hemoglobina glicada; • Abolir o uso do esquema “sliding scale”; • Suspender o uso de hipoglicemian- tes orais; • Monitorização necessária e adequada; • Estabelecer critérios claros para atin- gir metas glicêmicas; • Evitar hipoglicemia; • Insulina como agente eficaz no con- trole glicêmico; • Insulina basal, bolus (pré-prandial) e suplementar para não críticos; • Infusão de insulina endovenosa para pacientes críticos; • Aplicar o plano educacional de alta do paciente. 27HIPERGLICEMIA HOSPITALAR Paciente inconsciente Glicemia capilar inicial >250 ou DM prévio? Avaliar alimentação Interromper ADO Avaliação da sensibilidade à insulina Iniciar insulinoterapia >140 ou fatores de risco para glicemia? Monitorização até o final da internação Monitorização Monitorar glicemias pré- prandiais e às 22h Reavaliar fatores de risco durante a internação Tratamento Pacientes não críticos Pacientes críticos Esquema baal-bolus + correção Infusão de insulina endovenosa HbA1c <7% HbA1c 7-9% HbA1c >9% 15g de carboidrato simples, VO Paciente consciente Com acesso venoso Sem acesso venoso Com tto prévio Sem tto prévio Manter tto Inciar ADOSG 50% 20 a 40mL EV Glucagon 1 ampola, IM Correção de hipoglicemia Iniciar dose de insulina basal aos ADOs Prescrição de insulina basal-bolus Plano de alta MANEJO HIPERGLICEMIA HOSPITALAR Glicemia capilar e A1c na admissão SIMNÃO SIM NÃO 28HIPERGLICEMIA HOSPITALAR REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da sociedade brasileira de diabetes. Grupo Gen-AC Farmacêutica, 2019-2020. CAMPINS, R. et al. 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