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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Admilson G. de Almeida EAD Editora Universitária Adventista Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos da Silva Alves Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima Reitor: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor do Campus Hortolândia: Henrique Karru Romaneli Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor do Campus São Paulo: Afonso Ligório Cardoso Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de graduação: Edilei Rodrigues de Lames Pró-reitor de pós-graduação lato sensu e Pró-reitor da educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Wendel Tomas Lima Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil e Diretor do Campus Engenheiro Coelho: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Valdir Knoener Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Me. Telson Vargas Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes Supervisora Administrativa: Rhayane Storch Responsável editorial pelo EaD: Jéssica Lisboa Pereira FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO 1ª Edição, 2023 Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Admilson Gonçalves de Almeida Doutor em Educação ( área de História e Filosofia da Educação) pela Universidade Metodista de Piracicaba Marques, Pâmela Caroline Costa Ferramentas de produtividade e gestão do tempo [livro eletrônico] / Pâmela Caroline Costa Marques. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2022. PDF Bibliografia. ISBN 978-65-5405-041-8 1. Administração 2. Gestão de negócios 3. Produtividade 4. Tempo - Administração I. Título. 22-134421 CDD-650.1 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Tempo : Produtividade : Administração 650.1 Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380 Fundamentos Filosóficos e Históricos da Educação 1ª edição – 2023 e-book (pdf) OP 00123 Coordenação editorial: Amanda Ferelli Preparação: Adriane Rodrigues Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Kenny Zukowski Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Francisco Luiz Gomes de Carvalho Doutorado em Educação: História e historiografia da Educação - (USP) Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO FILOSOFIA: CONCEITO, IMPLICAÇÃO E APLICAÇÃO ..............................10 Introdução ...........................................................................11 A era dos mitos ....................................................................11 Filosofia: a origem ................................................................14 Grécia: Sócrates, o modelo de pedagogo; Platão e Aristóteles .............................................16 Filosofia patrística (do século 1 ao 7 D.C.) ..........................................................22 Escolástica ............................................................................23 Considerações finais .............................................................26 Referências ..........................................................................27 HISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO ......................28 Introdução ...........................................................................29 Idade antiga e a história da educação romana .....................29 Esparta ........................................................................29 Atenas ..........................................................................30 Idade média .........................................................................32 As reformas religiosas ...................................................34 Idade moderna: racionalismo, empirismo, criticismo ...........................................................35 Racionalismo ................................................................36 Empirismo ....................................................................36 Criticismo .....................................................................36 Idade contemporânea: pragmatismo ..................................37 VO CÊ ES TÁ A QU I Outros atores: autores contemporâneos ...............................38 Immanuel Kant (1724 - 1804) ......................................38 Augusto Comte (1798 – 1857) .....................................39 Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) .........................39 Karl Marx (1818 – 1883) ..............................................40 Michel Foucault (1926 – 1984) ....................................40 Paulo Freire (1921 – 1997) ...........................................40 Considerações finais .............................................................41 Referências ..........................................................................41 EDUCAÇÃO E SISTEMA POLÍTICO NO BRASIL ......................................43 Introdução ...........................................................................44 O início de tudo: a educação jesuíta no Brasil colônia ..................................................................45 Método pedagógico .....................................................47 Expoentes do período Brasil colônia .............................49 Educação no Brasil império ..................................................49 Educação no Brasil república ................................................51 A primeira república (1889-1930) ................................52 A segunda república (1930 – 1937) .............................53 O Estado Novo (1937-1945) ..........................................55 A quarta república (1945-1964) ...................................56 Reformas educacionais: Benjamin Constant .........................56 A reforma educacional proposta por Benjamim Constant ................................................57 A reforma Rivadávia Corrêa (1911) ...............................58 Reforma de 1915 ..........................................................58 Reforma de 1925 ..........................................................58 VO CÊ ES TÁ A QU I Educação superior no Brasil e a formação dos brasileiros ...................................................59 Considerações finais .............................................................60 Referências ..........................................................................61 A PRÁTICA ESCOLAR E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS ............................62 Introdução ...........................................................................63 pedagogia liberal: tendência liberal tradicional ...................63 Principais características...............................................65 Pedagogia liberal: renovada progressiva ..............................66 Pedagogia liberal: tendência liberal renovada não diretiva e liberal tecnicista .............................67Tendência liberal renovada não diretiva .......................67 Pedagogia liberal tecnicista ..........................................68 Pedagogia progressista: tendência progressista libertadora e progressista libertária .....................................70 Tendência progressista libertadora ..............................70 Tendência progressista libertária ..................................72 Pedagogia progressista: tendência progressista crítico-social dos conteúdos .................................................73 Escola Nova ..........................................................................74 Considerações finais .............................................................78 Referências ..........................................................................79 EDUCAÇÃO E PROPÓSITO: HISTÓRIA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ ..................80 Introdução ...........................................................................81 Cosmovisão bíblica e a educação hebraica ...........................81 Educação e redenção ............................................................86 Filosofia cristã de educação ..................................................87 Valores: ética e moral ...........................................................90 A pedagogia do mestre dos mestres.....................................93 Considerações finais .............................................................97 Referências ..........................................................................97 EMENTA Estudo da constituição do pensamento pedagógico da antiguidade à contemporaneidade, com destaque na Educação Brasileira, considerando os diferentes elementos étnico-raciais. Fundamentos históricos e filosóficos que subsidiam as concepções educacionais. Constituição da escola e correntes pedagógicas no Brasil. O sujeito do processo educacional: os métodos e concepções de ensino e aprendizagem. HISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO UNIDADE 2 - Compreender a importância da reflexão sobre o campo de estudo da História e Filosofia da educação; - Demonstrar compreensão do fenômeno da educação como saber indispensável à prática docente; - Organizar o processo histórico e filosófico partindo da antiguidade até a contemporaneidade a partir das ressalvas sociais, culturais, políticas e econômicas que influenciaram o processo educacional. OB JE TI VO S 29 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO No estudo de hoje, nosso objetivo será o de refletir de forma mais aprofundada na história da edu- cação do período clássico (séc. 6 a 4 a.C.), analisando de forma mais cuidadosa seus principais elementos e buscando realizar um contraponto com a educação grega. Vamos estudar também a educação e a civili- zação clássica romana. Iniciaremos abordando as contribuições dos gregos na área da educação, buscando conhecer mais de perto os filósofos clássicos que você já conhece (Sócrates, Platão e Aristóteles), grandes expoentes des- sa época e referências futuras para toda a cultura ocidental. Ao final deste estudo, esperamos que você tenha compreendido: • o contexto histórico e as práticas educacionais produzidas nas cidades gregas Esparta e Atenas; • o processo histórico da educação romana em suas diferentes fases; • os papéis educacionais desempenhados pela sociedade medieval; • os pensamentos dos principais filósofos a respeito do conhecimento na idade moderna e con- temporânea. Bom estudo! IDADE ANTIGA E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ROMANA Você já deve saber que as Olimpíadas surgiram na Grécia, certo? Não só isso, ao estudarmos a histó- ria podemos ver que neste histórico lugar surgiram a mitologia, a filosofia, a democracia e as artes como teatro, poesia e muito mais. Segundo Scheibe (2010), Desde a Grécia antiga, houve uma dupla referência para o conceito de pedagogia, qual seja: a reflexão liga- da à filosofia, acentuando a finalidade ética presente na atividade educativa; e o sentido empírico e prático inerente à “paideia”, entendida como a formação da criança para a vida, reforçando-se assim o aspecto metodológico presente já no sentido etimológico da palavra. Neste mesmo local, inclusive, temos os primeiros registros de colégios (TERRA, 2014). Daremos enfo- que nesta primeira parte para a educação grega, olhando nesse processo para duas cidades estados gregas totalmente opostas: Esparta e Atenas. ESPARTA A cidade de Esparta possuía um paradigma educacional voltado para uma preparação militar, para a formação do homem guerreiro, sempre preparado para o combate e defesa da cidade por meio da força física. 30 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Esparta era uma importante cidade-estado situada na península do Peloponeso. Após a fase heroica, ao contrário das demais cidades gregas, ela ainda valorizava as atividades guerreiras, desenvolvendo uma educa- ção severa, orientada para a formação militar (ARANHA, 2011). É sabido que, ao nascer, a criança espartana era minuciosamente observada por um grupo de anciãos. Caso ela não apresentasse uma boa saúde ou tivesse algum problema físico, era lançada do cume do monte Taigeto. Se a criança fosse considerada saudável, ficaria com a mãe até os sete anos de idade e, a partir dessa idade, passava a ficar sob a tutela do governo espartano, com a finalidade de receber todo o conhecimento necessário à sua futura trajetória militar (BARBOSA et. al 2013.p, 21). A educação espartana na Antiguidade também dava importância ao aspecto moral no processo de preparação do soldado. Era uma educa- ção ordenada a incutir no jovem o ideal de patriotismo e devoção à pólis, inclusive, se necessário, através do sacrifício de sua própria vida. Crianças e jovens eram propriedades do Estado e deveriam ser moldados confor- me seus fins. O objetivo principal da educação espartana era transformar os jo- vens em bons soldados. As mulheres eram responsáveis por gerar filhos sadios e vigorosos e, para isso, recebiam educação quase igual à dos ho- mens, participando dos torneios e atividades esportivas com o objetivo de adquirir um corpo forte. Na antiguidade, é possível verificar que a educação possuía um for- te laço familiar. A família era o primeiro lugar de socialização da criança: os meninos conviviam com seus parentes próximos durante algum tempo para somente depois serem retirados e encaminhados aos cuidados do Estado, sendo a partir daí preparados por meio de uma educação militar. A programação educacional para os jovens espartanos se dava atra- vés de um conjunto característico que não focalizava a leitura e a alfabe- tização: poucos sabiam ler e contar, enquanto a educação física, a prio- ridade para a população esportana, se transformava em um verdadeiro treinamento militar. ATENAS Na contramão dessa realidade, encontramos a educação em Ate- nas. Registros históricos mostram que a educação ateniense, diferente da espartana, estava mais voltada ao aperfeiçoamento pessoal: as crianças pertenciam à família ao longo do processo da infância e adolescência, incluindo ainda um processo educacional que visava três aspectos: ginás- tica, música e escrita. Motivados pelos ensinamentos de Sócrates e Platão, parte relevan- te da educação ateniense consistia na formação de oradores, ou seja, da- Educação espartana. Fonte: Shutterstock 31 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO queles que saberiam falar em público, persuadindo outros na política, executando arguições e fazendo bom uso da ironia. É válido ressaltar, ainda, a figura dos sofistas, que foram os primeiros filósofos do Período Clássico. Es- ses professores educavam os jovens mediante retribuições em dinheiro, o que contribuiu inevitavelmente para a sistematização e profissionalização da educação. Originalmente, por exemplo, os locais públicos da cidade de Atenas como a ágora, os ginásios,os locais de palestras, os estádios ou o teatro eram locais de trabalho dos sofistas. SAIBA MAIS Embora inicialmente não houvesse um programa definido, muitas famílias contratavam “condutores” (agogos) para ensinar as crianças (paidós). Agora é só você somar as ideias! Veja: a palavra grega paidagogos é formada pela palavra paidós (criança) e agogos (condutor), ou seja, “pedagogo”, que significa condutor de crianças, aquele que ajuda a conduzir o ensino! Leia mais sobre esse assunto em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/ trabalho-docente/professor-pedagogo-condutor-de-criancas-a-empreen. htm. Acesso em: 23 jan. 2023. Contudo, é sempre válido destacar que Sócrates fazia críticas parciais a esses mesmos sofistas pela ma- neira que se julgavam sábios, conhecedores e detentores das verdades universais. Para ele, sábio era aquele que reconhecia sua própria ignorância, filosofia evidenciada em sua clássica frase: “Só sei que nada sei.” Como você deve saber, para combater os sofistas, Sócrates desenvolveu o método que ficou conhe- cido como maiêutica. Esse método pedagógico socrático reconhecia o valor da personalidade e do caráter, levando em conta o contexto de educação ateniense, que possuía como objetivo educar o cidadão para viver na cidade (polis). Atenas vivia um regime democrático, de forma que a educação servia para capacitar o cidadão para assumir principalmente funções públicas. A educação se iniciava aos 7 anos e, tal como na educação espartana ao menos nesse aspecto, a prática da educação física também era comum sob a orientação do instrutor (pedótriba). Contudo, diver- sas outras atividades eram desenvolvidas e priorizadas, tal como a educação musical sob a orientação do mestre de música (citarista) e, finalmente, o ensino gramático. Essa educação elementar completava-se por volta dos 13 anos de idade. As crianças ricas continuavam seu processo de formação até os 18 anos, quando a educação assu- mia uma dimensão cívica e militar, partindo posteriormente para alguma escola de nível superior, como a escola de Platão (Academia) ou de Aristóteles (Liceu), onde os alunos se dedicavam principalmente aos estudos da filosofia. A EDUCAÇÃO ROMANA Quando ouvimos sobre “Roma”, pensamos normalmente em um grande Império que expandiu seu território até os famosos períodos entre o primeiro e o terceiro milênio depois de Cristo, retratados na cul- tura popular. Contudo, existem registros de que Roma foi povoada por tribos de várias origens. https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/professor-pedagogo-condutor-de-criancas-a-empreen.htm 32 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO A cultura romana incorporou muitos aspectos da conquistada Gré- cia, como a escola elementar, que recebia alunos de 7 anos. Para essa faixa etária, já havia um programa de leitura, escrita e cálculo, destacando-se o rigor da disciplina e sendo permitido, inclusive, castigos físicos. SAIBA MAIS O Castelo de Santo Ângelo (Castel Sant’Angelo) é o único edifício que acompanhou o destino e o desenvolvimento de Roma por quase dois mil anos. Para saber mais, acesse o conteúdo disponível em: https://www. rome-museum.com/br/castelo-santo-angelo.php. Acesso em: 23 jan. 2023. Dos 12 aos 16 anos, os alunos cursavam a escola secundária, pos- suindo em seu currículo disciplinas como: gramática latina, literatura, geografia, aritmética, geometria e astronomia. Faziam parte do ensino superior apenas estudantes economicamente elitizados que estudavam política, direito e filosofia, além de, em alguns casos, a ainda presente educação física, que tinha o intuito de preparar soldados. No contexto educacional, o legado romano é significativo! Sua he- rança é encontrada no direito e até mesmo na linguagem, por conta da língua latina que deu origem à língua portuguesa. O contexto histórico ressalta que a educação romana mais básica era tipicamente familiar, es- tando a responsabilidade maior nas mãos da figura paterna, que se cons- tituía como o primeiro educador, promovendo ensinamentos de caráter prático, além da base educacional constituída dos direitos e deveres. Como mencionado, a educação romana abarcava também elemen- tos gregos. Essa cultura chegou às classes superiores como herança dos séculos passados, de forma a motivar a organização de um sistema de escolas de gramática e retórica, permitindo a fundação de universidades e bibliotecas. Contudo, segundo Barbosa (2013), “com o tempo, essa edu- cação ficou formal e irreal e perdeu sua importância social. Surge, então, uma nova educação ministrada pela Igreja”. A educação romana, assim como a espartana, preparava também os jovens para a defesa da pátria, formando filhos fortes que aprendiam a manejar armas. O principal objetivo desse processo mais militarizado era a defesa da pátria e da moral, prevalecendo a autoridade do pai. IDADE MÉDIA A partir de agora, abordaremos a história da educação na Idade Média (476 d.C.), a influência da educação religiosa cristã, as primeiras Castelo de Santo Ângelo. Fonte: Wikimedia Commons https://www.rome-museum.com/br/castelo-santo-angelo.php 33 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO escolas e universidades e o movimento de reforma. Estudos demostram que esse período foi longo, cujo início se deu com a queda do Império Romano e com o crescimento do clero. Inclusive, essa classe come- çou a adquirir força, não somente no contexto religioso, mas também no civil. É nesse contexto que temos o fortalecimento do cristianismo. Quando falamos de educação cristã, comumente apontamos para o próprio Jesus e seus apóstolos na divulgação do evangelho (boas novas). Segundo Palma Filho (2010), o cristianismo conviveu durante cinco séculos com o império romano. É válido lembrar, entretanto, que boa parte desse contexto foi mais de perseguição do que de assimilação e aceitação por parte dos romanos aos cristãos. Com o surgimento do cristianismo, os rumos da cultura ocidental mudaram, tal como, consequente- mente, as ideias sobre o processo educacional. Dentro do cristianismo, Jesus foi o primeiro mestre, seguido pelos apóstolos, pelos evangelistas e, em geral, pelos discípulos do próprio Jesus (PALMA FILHO, 2010, p.2). A doutrina do cristianismo era aprendida no cotidiano, não havendo prédios estabelecidos e pensados originalmente para esse fim. Os seguidores de Cristo reuniam-se somente em pequenas comunidades, que passaram a ser conhecidas como a comunidade cristã primitiva, cuja base filosófica era carregada dos ensinamentos de Cristo fundamentados na valorização do amor a Deus em primeiro lugar e ao próximo como a si mesmo. Esse modelo de educação estava mais voltado para o contexto religioso, visto que o papel dos mes- tres era converter pessoas para o movimento. Os escritos deixados pelos apóstolos e discípulos de Cristos, por exemplo, foram fundamentais para que o crescimento dessa doutrina pudesse adentrar de maneira assertiva no ocidente, ao longo do período da idade média. A educação, nesse período, foi basicamente controlada pela igreja, que desenvolveu uma filo- sofia cristã de educação, fundamentada em duas correntes: a patrística e escolástica, como você deve bem saber. SAIBA MAIS Os professores e mestres do período medieval ensinaram em algumas ocasiões em locais mais populosos, principalmente por conta do crescimento de uma vida mais urbana. Sendo assim, a partir do século XII, as universidades tornaram-se centros de desenvolvimento intelectual e cultural. O método de ensino das escolas de nível básico tinha um caráter rigoroso, composto pelas artes liberais, o trivium e o quadrivium. Após esses estudos, os alunos ingressavam na formação superior, através dos cursos de direito, medicina ou teologia. A patrística, filosofia dos padres da Igreja, do século II ao V, caracterizou-se pela defesa da fé e conversão dos não-cristãos. Já a escolástica, filosofia dasescolas cristãs ou dos doutores da Igreja, do século IX até o XIV, é a mais alta expressão da filosofia cristã medieval. É válido ressaltar que com o uso do termo “escolástica”, estamos nos remetendo diretamente aos ensinamentos dentro das escolas e universidades. 34 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AS REFORMAS RELIGIOSAS Quando o tema é reforma religiosa, um nome de destaque histó- rico é Martinho Lutero (1483-1546). Não pretendemos apresentar um abrangente estudo biográfico, mas, certamente será importante refle- tir, ainda que de forma breve, a respeito da influência desse homem para a educação, bem como do movimento pelo qual ele se tornou conhecido por representar. Lutero era um monge católico que rejei- tou a autoridade do Papa. A igreja dominante estava sendo constante- mente criticada por vários fatores como a injustiça social, a corrupção do clero e, principalmente, as vendas de indulgências para a garantia da salvação. Lutero, escandalizado com todo o contexto religioso de sua épo- ca, afixou, provavelmente, no dia 31 de outubro de 1517, na porta da catedral de Wittenberg, na Alemanha, as suas famosas 95 teses, em que demonstrava toda a sua revolta contra a atitude da liderança da igreja católica. Esse ato ficou historicamente conhecido como o gran- de símbolo inicial da reforma protestante – ainda que esse tema tão relevante possua bases que remontem a décadas ou séculos antes de Lutero. A partir dessa iniciativa, outros líderes promoveram ações con- sideradas reformistas, como a reforma calvinista, anglicana e anabatis- ta (VALENTIN, 2010). A reforma iniciada por Lutero teve fortes impactos também no contexto educacional, visto que ela permitiu a base de uma nova reli- giosidade. Primeiramente, a educação eclesiástica foi abalada. Em se- gundo lugar, a educação pública passou a ser defendida, de forma que mais pessoas pudessem ter acesso inclusive aos temas religiosos, com consulta direta aos textos bíblicos originais. Para Lutero, era da com- petência do Estado assumir a tarefa da educação gratuita para todos. A igreja católica buscou se organizar para combater esse movi- mento cada vez mais crescente na Europa através de outro movimento denominado de contrarreforma. A iniciativa para o feito se deu através do concilio de Trento, em que houve a fundação da companhia de Je- sus, uma ordem religiosa liderada por Inácio de Loyola, que possuía como objetivo primário manter a fé católica principalmente pelo cami- nho da educação, punindo os considerados hereges. Mais tarde conhecidos como jesuítas, os membros desse movi- mento se caracterizavam pela sua fidelidade ao papa, desenvolvendo uma rígida disciplina, semelhante a disciplina militar. Sua missão era catequizar, objetivando dar com isso um basta no protestantismo lu- terano. Como você talvez já imagine, a influência desse grupo tanto na religião quanto na educação atravessou o oceano, chegando até o nosso continente! Estátua de Lutero. Fonte: Shutterstock 35 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO IDADE MODERNA: RACIONALISMO, EMPIRISMO, CRITICISMO Abordaremos a partir de agora um período bem significativo para a história e a filosofia: a idade mo- derna, que levantou problemáticas relacionadas com a capacidade do homem de fazer ciência, incluindo diversos pensadores e filósofos que merecem destaque. Citaremos alguns deles ao longo das próximas páginas, principalmente aqueles que se destacaram no campo da educação. Por fim, abordaremos as cor- rentes filosóficas mais conhecidas, como o racionalismo, o empirismo e o criticismo. SAIBA MAIS Na língua latina, segundo Saviani (2008), o termo pedagogia era expresso pelas palavras “paedagogatus” e também “institutio”, assumindo igualmente o significado de educação ou formação (SCHEIBE, 2010). Leia mais sobre o assunto em: https://gestrado.net.br/verbetes/pedagogia/. Acesso em: 23 jan. 2023. Os anos entre os séculos XV e XIX foram determinantes, pois a Europa vivia um momento de gran- des transformações em diversas áreas, como a economia, a política e o comércio. No mundo científico e educacional não foi diferente, sendo o renascimento o movimento marcante de rompimento ou passa- gem do medievo para a idade moderna. Nessa fase da história, houve maior valorização do antropocen- trismo, afirmando a autonomia e a centralidade na própria vida do homem, na busca de uma separação do mundo religioso. O renascimento, como a própria palavra indica, se caracteriza pela revalorização da cultura greco- -romana, incluindo também o humanismo, o racionalismo e o individualismo, principalmente nas artes, na literatura e na filosofia. O humanismo representou uma tendência semelhante no campo da ciência, permitindo uma in- fluência maior de pessoas letradas, pertencentes ao clero e à burguesia, que passaram a atuar de forma mais contundente na sociedade por meio da rejeição dos valores e da maneira de ser da idade média, conduzindo modificações nos métodos de ensino e desenvolvendo a análise e a crítica na investigação científica. Nesse período, o homem passou a perceber a sua importância como um ser racional, deixando de ser dominado pelos senhores feudais. Ele trocou os valores dominantes da idade média por novos valores, baseados no homem como o centro em um mundo compreendido de uma maneira moderna (BARBOSA et al. 2013). A história e a filosofia da educação, no contexto da modernidade, receberam a influência direta do renascimento; portanto, a valorização do antropocentrismo exerceu um lugar de destaque neste período. Ainda nesse contexto, como mencionado anteriormente, tivemos o surgimento de correntes filosó- ficas fundamentadas pelos seus respectivos defensores. Passaremos agora a refletir a respeito de algumas dessa correntes! https://gestrado.net.br/verbetes/pedagogia/ 36 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO RACIONALISMO O pensador, matemático e filosofo René Descartes (1596-1650), é considerado o expoente principal do racionalismo, sendo conhecido pela sua célebre frase “penso, logo existo”. O racionalismo enfatiza a razão como fator preponderante para o conhecimento, modelo de pensamen- to também conhecido como racionalismo cartesiano. Segundo Aranha e Martins (2016), “o propósito inicial de Descartes era encontrar um método tão seguro que o conduzisse à verdade indubitável”. Para o racionalismo, “a razão é a fonte capital de todo o conheci- mento”, ou seja, o conhecimento humano é motivado e justificado apenas pelo intelecto. O método cartesiano tem sua inspiração no modelo de estudo matemático, pois o conhecimento da matemática é inteiramente dominado pela inteligência, não deixando margem para qualquer emo- ção. EMPIRISMO Se contrapondo às ideias do racionalismo, a corrente filosófica em- pirista afirma que a experiencia é a fonte primeira para o conhecimento, ou seja, é a doutrina ou teoria do conhecimento segundo a qual todo conhecimento humano deriva, direta ou indiretamente, da experiência sensível externa ou interna. Temos diversos filósofos empiristas para utili- zar como exemplo, contudo, daremos enfoque especial, ainda que breve, para David Hume (1711- 1776). Filosofo escocês, David Hume propõe um empirismo que chega em alguns momentos a ser considerado como um “ceticismo”. De acordo com Hume, nós não podemos construir nenhuma teoria que corresponda de fato à realidade (SANTOS FILHO, 2013). Esse tipo de ideia, segundo Hume, afirma que o homem está in- teiramente submetido aos sentidos, visto que para ele o conhecimento começa quando os sentidos são excitados pelos objetos exteriores. As experiências são os pontos mais relevantes para os empiristas, pois fun- damentam o conhecimento na própria experiência. CRITICISMO Para a abordagem desta terceira corrente de pensamento metodo- lógico, não podemos deixar de citar seu grande filósofo expoente: Imma- nuel Kant(1724-1804). O criticismo é considerado uma possibilidade do conhecimento! Para Kant, havia a necessidade de superar as ideias dos racionalistas, assim como as dos empiristas. Sua obra, Crítica da razão pura, apresenta que não pode haver dicotomia entre as duas abordagens anteriores, ou seja: tanto a razão como a experiência são elementos indis- pensáveis no processo de conhecimento. Retrato do filósofo René Descartes. Fonte: Shutterstock 37 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Logo, não há como rejeitar as sensações, como queriam os racio- nalistas, e não há como conhecer a realidade sem os aparatos da razão. Sendo assim, temos aqui duas fontes fundamentais para o conhecimento humano: a experiência e a razão (SANTOS FILHO, 2013). Para o criticismo não se pode negar a razão, tampouco as experiên- cias, pois é justamente a associação das duas correntes que propicia a possibilidade de conhecimento. Para Kant, o conhecimento humano é constituído pela experiência, algo que é externo ao sujeito, e pela razão, não dependendo diretamente da experiência, mas sendo algo interno. IDADE CONTEMPORÂNEA: PRAGMATISMO Chegamos, então, ao período em que vivemos hoje! Entretanto, muita coisa se deu ao longo dos últimos séculos! Historiadores afirmam que a revolução francesa foi o marco de transição para o período con- temporâneo, por exemplo, evento significante que ocorreu há quase dois séculos e meio! No estudo dessa etapa em especial, vamos considerar John Dewey (1859-1952) como nosso expoente principal, visto ser ele até hoje muito conhecido por seus trabalhos na área da filosofia política e, sobretudo, na área da filosofia da educação. John Dewey (1859-1952) foi filósofo e educador. Sua vasta produ- ção intelectual compreende artigos, ensaios, conferências e obras como: Escola e sociedade, Democracia e educação, Experiência e educação e En- saios de lógica experimental. O pragmatismo de Dewey é uma espécie de instrumentalismo. Como é importante que as ideias estejam ligadas à prática, elas são propriamente instrumentos para resolver problemas: a relevância ou não da eficácia para alcançar esse fim garantem sua valida- de. Por isso, as ideias não são verdades ou falsidades absolutas; elas po- dem ser corrigidas ou aperfeiçoadas (ARANHA E MARTINS, 2016, p.146). O pragmatismo é considerado uma corrente filosófica que busca interpretar a realidade em termos dos seus efeitos práticos. Quando pen- samos na etimologia, ou seja, no significado da palavra “pragmatismo”, sabemos que ela vem do grego prágma, “ato”, “ação”, palavra da qual deri- va pragmatikós, “relativo aos fatos”. Na linguagem comum, pragmático é o que é suscetível de aplicação prática, o que visa ao útil. Quando usado na filosofia, o pragmatismo é um movimento filo- sófico que tem como característica principal a valorização da ‘prática’ em oposição à ‘teoria’. Para Dewey, o mais importante era a aplicação social das ideias, o que o levou a chamar sua filosofia de “instrumentalismo”. De- wey ainda afirmou que o papel da filosofia pragmática enquanto instru- mentalismo é o de contribuir para o desenvolvimento científico e moral dos homens (SANTOS FILHO, 2013). Immanuel Kant (1724-1804). Fonte: Shutterstock 38 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO No contexto educacional, Dewey buscou romper com o modelo de educação tradicional, visto que esta apresentava uma formação essen- cialmente conteudista, negligenciando a experiência dos alunos. Dewey propôs, portanto, a escola ativa, um modelo de educação progressista que resultaria num processo dinâmico entre o pensamento e a experiên- cia entre a teoria e prática. Para Santos Filho (2013), “a educação é um processo, e como tal, ela deve acompanhar o homem enquanto dure sua vida”. A preocupação com as crianças em sua formação é algo capital na educação progressis- ta de Dewey, como podemos perceber. A maior preocupação do filósofo John Dewey era exatamente a formação das crianças. Todas as crianças deveriam ser educadas para se tornarem “cidadãos inteligentes de uma democracia, seres humanos que continuassem a crescer intelectual e moralmente durante a vida toda” (PUTNAM, 2003, p. 378 apud SANTOS FILHO, 2013, p.43). Finalmente, o educador John Dewey levantou a bandeira da ética na formação do homem contemporâneo, propondo uma espécie de edu- cação com autonomia e liberdade. Além disso, uma sociedade livre e au- tônoma só seria possível diante do exercício de uma democracia, regime em que seria possível o desenvolvimento pleno do ser humano em seu aspecto moral e intelectual. A filosofia pragmática instrumentalista de Dewey é importante para a compreensão do homem e de sua atuação na sociedade, visto não haver nesse contexto a teoria sem a prática. “Assim, não é possível conce- ber um tipo de conhecimento que não esteja a serviço da vida” (SANTOS FILHO, 2013). OUTROS ATORES: AUTORES CONTEMPORÂNEOS Concluindo nossas reflexões a respeito do período moderno e con- temporâneo da história e filosofia da educação, vale a pena citarmos ou abordarmos novamente somente a título de conhecimento, sem execu- tar análises aprofundadas, alguns filósofos que também contribuíram no campo educacional. IMMANUEL KANT (1724 - 1804) Já abordamos esse filósofo em itens anteriores, mas aqui apontare- mos seu legado para a área da educação. Kant é alemão, considerado um dos pensadores mais influentes dos tempos modernos. Na sua infância, teve a oportunidade de estudar os clássicos latinos e, aos 16 anos, iniciou seus estudos universitários, concluindo-os aos 21 anos. Kant estudou físi- ca, matemática, filosofia e teologia. Retrato de John Dewey. Fonte: Shutterstock 39 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Como vimos, Kant é da escola filosófica do criticismo. Algumas de suas principais obras fundamentam tal conceito, como Crítica da razão pura (1781), Crítica da razão prática (1788) e Crítica do julgamento (1790). Em sua carreira acadêmica foi professor universitário e escritor, po- dendo também ser considerado como educador, pois abordava a infância como temática, compreendendo que esta disciplina possui um aspecto fundamental na formação do homem. Kant abordou também temas como a ética e a formação de bons costumes e hábitos. Para ele, a “filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana” (CHAUÍ, 2000). AUGUSTO COMTE (1798 – 1857) Comte é considerado o pai do positivismo, uma corrente filosófica que defende o conhecimento científico como uma forma de validação do conhecimento. O termo, adotado pelo próprio Comte, exprime a diretriz principal de sua filosofia, marcada pelo culto da ciência e pela sacraliza- ção do método científico (COTRIM e FERNANDEZ, 2016). O pensamento do positivismo influenciou muito educadores brasi- leiros. Para Comte, o espírito humano teria passado por três estágios, a sa- ber: o teológico, o metafísico e o positivo. “O último estágio é considerado superior por denotar a fase de maturidade intelectual da humanidade, ao alcançar o conhecimento científico” (ARANHA e MARTINS, 2016). Entre suas obras destaca-se Curso de Filosofia Positiva (1830-1842), Discurso Sobre o Espírito Positivo (1844), Uma Visão Geral do Positivismo (1848) e Religião da Humanidade (1856). JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712 – 1778) Rousseau, suíço que viveu na França no século XVIII, criou uma teoria que se fundamentava no pacto social. Considerado um expoente do iluminismo, produziu diversos textos e livros nas áreas da educação e da política. Rousseau foi ainda um defensor da educação infantil. Na época em que viveu, a criança era considerada como um pequeno adulto. O autor era radicalmente contra essa ideia, compreendendo que a infância era o momento de preparação do indivíduo para viver de forma éticana so- ciedade. Suas principais obras são: Discurso sobre as ciências e as artes (1750), Sobre a origem da desigualdade entre os homens (1755), O con- trato social (1762) e Emílio (1762), justamente o livro que aborda a educa- ção infantil, uma educação que deveria ser livre, junto a natureza. Augusto Comte (1798-1857). Fonte: Wikimedia Commons Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Fonte: Wikimedia Commons 40 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO KARL MARX (1818 – 1883) Marx era filósofo, cientista social, historiador e revolucionário ale- mão. Quando falamos desse personagem histórico tão complexo, é ainda necessário lembrar de seu amigo e parceiro de produção Friedrich Engels (1820-1895). Juntos, são os fundadores do chamado socialismo científico, elaborando em parceria o conceito de ideologia e alienação. Marx estudou o funcionamento da sociedade burguesa sob a or- ganização capitalista de produção, elaborando conceitos completos e fazendo críticas a essa forma de organização. No intuito de propor a su- peração das desigualdades sociais e considerando aspectos sobretudo de viés econômico, Marx foi o principal responsável pela elaboração mais complexa da teoria comunista. Suas obras principais são O Manifesto Co- munista (1848) e O Capital (1867). MICHEL FOUCAULT (1926 – 1984) Nosso próximo pensador contemporâneo é Michel Foucault, filóso- fo francês que desenvolveu um método de investigação histórica e filosó- fica, cujo ponto de partida são as instituições prisionais e hospícios. Seus objetos de pesquisa estão principalmente no estudo da se- xualidade, da disciplina e da loucura. Para ele, o saber não se encontra separado do poder. Suas principais obras são História da loucura na idade clássica (1961), Arqueologia do saber (1969), Vigiar e punir (1975) e Histó- ria da sexualidade (1976). PAULO FREIRE (1921 – 1997) Finalmente, dentre esse rol de pensadores e filósofos contemporâneos selecionados, vamos encerrar com um educador brasileiro expoente no con- texto educacional do Brasil. Estamos falando do professor Paulo Freire. Segundo Souza (2015), Freire desenvolveu um método para alfa- betização de adultos. Nascido no nordeste do Brasil, com toda certeza se deparou por diversas vezes com as dificuldades de educação daquela sofrida população. Por essa razão, preocupado com os analfabetos, prin- cipalmente os que viviam na área rural, Freire buscou propor um aprendi- zado que fizesse parte do contexto social do indivíduo. Os alunos realizavam reflexões e debates sobre o seu cotidiano e, dessa forma, conheciam as palavras a partir dos temas geradores e das letras. Suas principais obras são: Educação Como Prática da Liberdade (1967), Pedagogia do Oprimido (1968), Cartas à Guiné-Bissau (1975), Educação e Mudança (1981), Prática e Educação (1985), Por Uma Pedagogia da Pergunta (1985), Pedago- gia da Esperança (1992), Professora Sim, Tia Não: Carta a Quem Ousa Ensinar (1993), À Sombra Desta Mangueira (1995) e Pedagogia da Autonomia (1997). Bustos de Marx e Engels. Fonte: Shutterstock Michel Foucault (1926-1984). Fonte: Shutterstock 41 HIstórIA gErAl DA EDUCAçãO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos assim o estudo de hoje, relembrando que desde a antiguidade clássica até nossos dias, educadores, historiadores e filósofos sempre tiveram a preocupação de valorizar o processo de formação do homem na perspectiva de construção de uma sociedade mais justa, ética e dotada de princípios e valores. Podemos observar que, em cada época estudada, a sociedade organiza modos diferentes de educa- ção, sendo ela o reflexo da forma como os homens vivem, se relacionam, trabalham e entendem o mundo. O século 21 recebeu muitas influências da filosofia moderna e contemporânea. Não podemos deixar de considerar os feitos dos filósofos no passado, visto serem essas as reflexões que a história e a filosofia propor- cionam aos estudantes hoje. Somente avaliando todo o nosso contexto histórico é que será possível conhe- cer e atuar em uma prática pedagógica mais democrática. Permaneça estudando e aprendendo mais e mais! REFERÊNCIAS ARANHA, M. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. Editora Moderna. São Paulo, 2011. ARANHA, M; MARTINS, M. Filosofando introdução à filosofia. Editora moderna. São Paulo, 2016. BARBOSA, C. Pedagogia: história da educação. Editora UNIMONTES. Montes Claros, 2013. CHAUÍ.; M. Convite a Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. COTRIM, G; FERNANDES, M. Fundamentos de Filosofia. Manual do professor. 4ª ed. Editora Saraiva, São Paulo, 2016. http://www.joinville.ifsc.edu.br/~sergio.sell/FUNDAMENTOS_de_FILOSOFIA_Cotrim.pdf. Acesso em: 17 fev. 2022. Acesso em: 23 jan. 2023. PALMA FILHO, J. A Educação Através dos Tempos. UNIVESP: UNESP. Junho, 2010. https://acervodigital. unesp.br/handle/123456789/173?locale=pt_BR. Acesso em: 23 jan. 2023. QUEIROZ, M. A história da educação. Teresina, 2010. disponível em: https://sigaa.ufpi.br/sigaa/ verProducao?idProducao=2997822&key=64fc7eeb63bb1d1b17d0d4b81368c383. Acesso em: 23 jan. 2023. SANTOS FILHO, J. Pedagogia filosofia da educação. Editora Unimontes. Montes claros, 2013. Disponível em: http://www.ead.unimontes.br/index.php/artigos/cursos/graduacao/material-didatico/material-didatico-de- historia. Acesso em: 23 jan. 2023. SCHEIB, L. Pedagogia. In: OLIVEIRA, D.A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F. DICIONÁRIO: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. Disponível em: https://gestrado.net. br/verbetes/pedagogia/. Acesso em: 23 jan. 2023. SOUZA, J. A educação segundo Paulo Freire: uma primeira análise filosófica. Theoria - Revista Eletrônica de Filosofia (Faculdade Católica de Pouso Alegre) v. 7, n. 18, p. 72-78. Porto Alegre, 2015. Disponível em: https:// www.theoria.com.br/edicao18/06182015RT.pdf. 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Revista de Educação do Cogeime – Ano 19 – n. 37 – julho/dezembro Ismael Forte 2010. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-cogeime/ index.php/COGEIME/article/view/66. Acesso em: 23 jan. 2023. https://www.metodista.br/revistas/revistas-cogeime/index.php/COGEIME/article/view/66 https://www.metodista.br/revistas/revistas-cogeime/index.php/COGEIME/article/view/66 _Hlk88136676 Filosofia: conceito, implicação e aplicação Introdução A era dos mitos Filosofia: a origem Grécia: Sócrates, o modelo de pedagogo; Platão e Aristóteles Filosofia patrística (do século 1 ao 7 D.C.) Escolástica Considerações finais Referências História geral da educação Introdução Idade antiga e a história da educação romana Esparta Atenas Idade média As reformas religiosas Idade moderna: racionalismo, empirismo, criticismo Racionalismo Empirismo Criticismo Idade contemporânea: pragmatismo Outros atores: autores contemporâneos Immanuel Kant (1724 - 1804) Augusto Comte (1798 – 1857) Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) Karl Marx (1818 – 1883) Michel Foucault (1926 – 1984) Paulo Freire(1921 – 1997) Considerações finais Referências Educação e sistema político no Brasil Introdução O início de tudo: a educação jesuíta no Brasil colônia Método pedagógico Expoentes do período Brasil colônia Educação no Brasil império Educação no Brasil república A primeira república (1889-1930) A segunda república (1930 – 1937) O Estado Novo (1937-1945) A quarta república (1945-1964) Reformas educacionais: Benjamin Constant A reforma educacional proposta por Benjamim Constant A reforma Rivadávia Corrêa (1911) Reforma de 1915 Reforma de 1925 Educação superior no Brasil e a formação dos brasileiros Considerações finais Referências A prática escolar e as principais tendências pedagógicas Introdução pedagogia liberal: tendência liberal tradicional Principais características Pedagogia liberal: renovada progressiva Pedagogia liberal: tendência liberal renovada não diretiva e liberal tecnicista Tendência liberal renovada não diretiva Pedagogia liberal tecnicista Pedagogia progressista: tendência progressista libertadora e progressista libertária Tendência progressista libertadora Tendência progressista libertária Pedagogia progressista: tendência progressista crítico-social dos conteúdos Escola Nova Considerações finais Referências Educação e propósito: história e filosofia da educação cristã Introdução Cosmovisão bíblica e a educação hebraica Educação e redenção Filosofia cristã de educação Valores: ética e moral A pedagogia do mestre dos mestres Considerações finais Referências Botão 14: Botão 15: Botão 16:
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