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Nutrição Enteral e Parenteral 1 Nutrição Enteral e Parenteral Ana Paula Fioreti Parreira Lima Nutrição Enteral e Parenteral 1 Introdução 3 2 Equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN) 3 3 Avaliação nutricional 4 3.1 Avaliação nutricional objetiva 5 3.2 Avaliação nutricional subjetiva global 5 4 Necessidades nutricionais 6 5 Terapia nutricional enteral (TNE) 6 5.1 Histórico 6 5.2 Indicações 7 5.3 Contraindicações 8 5.4 Seleção da via de acesso 9 5.5 Métodos e administração 11 5.6 Dose e velocidade de administração 12 5.7 Critérios de decisão na seleção de dietas enterais 14 5.8 Preparo da nutrição enteral 21 5.9 Complicações 22 6 Terapia nutricional parenteral (TNP) 23 6.1 Histórico 23 6.2 Indicações 24 6.3 Contraindicações 24 6.4 Vias de acesso 25 6.5 Componentes da nutrição parenteral 26 6.6 Sistemas de nutrição parenteral 29 6.7 Métodos de infusão 29 6.8 Complicações 30 7 Caso clínico 30 7.1 Dados do paciente 30 7.2 Dados da avaliação nutricional 30 7.3 Prescrição dietética 31 Referências bibliográficas 32 SUMÁRIO Nutrição Enteral e Parenteral 3 1 INTRODUÇÃO Entende-se por terapia nutricional (TN) “[...] o conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio da nutrição parenteral ou enteral (BRASIL, 1998, 2000)”. A nutrição enteral (NE) compreende a administração de nutrientes no trato gastrointestinal por meio de uma sonda, quando a utilização por via oral estiver inadequada. Já a nutrição parenteral (NP) é a provisão de nutrientes por via intravenosa (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2008). Mesmo com os avanços da terapia nutricional nas últimas décadas, a desnutrição continua sendo comum em pacientes hospitalizados, com prevalência variando entre 30% e 65% nos diferentes estudos, e podendo estar presente no momento da admissão hospitalar ou desenvolver-se no decorrer da internação. Ingestão diminuída, restrição de oferta hídrica, instabilidade hemodinâmica, diminuição da absorção e interação droga-nutriente podem ser situações de risco nutricional. Além desses fatores, a pouca atenção dos profissionais de saúde ao cuidado nutricional – levando à indicação inadequada, à falta de avaliação nutricional e à monitoração pouco frequente – é comumente observada e pode contribuir para a desnutrição (LEITE; CARVALHO; SANTANA E MENEZES, 2005, p. 778). Neste sentido, a atuação de uma equipe multidisciplinar é fundamental para assegurar atenção adequada aos pacientes hospitalizados. 2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA NUTRICIONAL (EMTN) “Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamenta a formação de Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN), obrigatória nos hospitais brasileiros” (LEITE; CARVALHO; SANTANA E MENEZES, 2005, p. 778). Tanto a RDC 63 quanto a Portaria 272 definem a EMTN como “[...] um grupo formal e obrigatoriamente constituído de pelo menos um profissional de cada categoria, a saber: médico, nutricionista, enfermeiro e farmacêutico”, podendo ainda incluir profissional de outras categorias, habilitados e com treinamento específico para a prática da terapia nutricional. Faz parte das atribuições da EMTN: definir metas técnico-administrativas, realizar triagem e vigilância nutricional, avaliar o estado nutricional, indicar terapia nutricional e metabólica, assegurar condições ótimas de indicação, prescrição, preparação, armazenamento, transporte, administração e controle dessa terapia; educar e capacitar a equipe; criar protocolos, analisar o custo e o benefício e traçar metas operacionais; educar e capacitar a equipe; criar protocolos; analisar o custo e o benefício e traçar metas operacionais (LEITE; CARVALHO; SANTANA E MENEZES, 2005, p. 778-9). Entretanto, estudos nacionais e internacionais mostram que a presença ou atuação da EMTN nos hospitais ainda é baixa, seja por falta de informação e de recursos disponíveis, por questões de política hospitalar ou, ainda, por pouca aceitação por parte da equipe assistencial (LEITE; CARVALHO; SANTANA E MENEZES, 2005). São etapas obrigatórias tanto para a Terapia Nutricional Enteral (TNE) como para a Terapia Nutricional Parenteral (TNP): indicação e prescrição Nutrição Enteral e Parenteral 4 médica; preparação, conservação, armazenamento e transporte; administração; controle clínico e laboratorial e avaliação final. Ainda, na TNE há a etapa específica de prescrição dietética. Todas estas etapas “[...] devem atender a procedimentos escritos específicos e serem devidamente registradas, evidenciando as ocorrências na execução dos procedimentos” (BRASIL, 1998, 2000). Para tanto, cada membro da EMTN tem suas atribuições definidas. Compete ao médico, por exemplo, “[...] indicar, prescrever e acompanhar os pacientes submetidos à TNE” (BRASIL, 2000). O nutricionista é responsável por “[...] realizar todas as operações inerentes à prescrição dietética, composição e preparação da NE, atendendo às recomendações das Boas Práticas de Preparação da Nutrição Enteral (BPPNE)” (BRASIL, 2000). Ao farmacêutico, compete: a) adquirir, armazenar e distribuir, criteriosamente, a NE industrializada, quando estas atribuições, por razões técnicas e ou operacionais, não forem de responsabilidade do nutricionista; b) participar do sistema de garantia da qualidade, respeitadas suas atribuições profissionais legais. E, por fim, o enfermeiro deve “[...] administrar NE, observando as recomendações das Boas Práticas de Administração de NE (BPANE)” (BRASIL, 2000). Assim como na TNE, na TNP as atribuições modificam de acordo com a formação específica de cada membro. O médico é responsável pela indicação e pela prescrição da NP, além de acompanhar os pacientes submetidos à TNP. Ao farmacêutico, compete: “[...] realizar todas as operações inerentes ao desenvolvimento e preparação (avaliação farmacêutica, manipulação, controle de qualidade, conservação e transporte) da NP” (BRASIL, 1998). Já o enfermeiro é responsável pela administração da NP, observando as Boas Práticas de Administração da NP (BPANP), de forma a garantir ao paciente uma terapia segura e que permita a máxima eficácia. Por fim, ao nutricionista, compete “[...] avaliar o estado nutricional dos pacientes, suas necessidades e requerimentos” (BRASIL, 1998). 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O estado nutricional de pacientes hospitalizados influi em sua evolução clinica. A avaliação nutricional é exigida como parte do cuidado integral do paciente, contudo muitas vezes é descuidada, não havendo um padrão para sua utilização nos centros hospitalares. Estima-se que cerca de 30% dos pacientes são desnutridos. A desnutrição proteica é um problema prevalente nos hospitais, afetando entre 30% a 60% dos pacientes; sendo que 40% dos pacientes são desnutridos quando de seu ingresso no hospital e 75% desses pacientes perdem peso quando internados por mais de uma semana. Pacientes em risco nutricional permanecem hospitalizados durante um período de tempo 50% maior do que os pacientes saudáveis, gerando aumento nos custos hospitalares (FONTOURA et al., 2006, p. 298-9). Após a internação hospitalar, cerca de 70% dos pacientes inicialmente desnutridos, sofrem [sic] uma piora gradual do seu estado nutricional. Este número contribui para o aumento da morbidade e mortalidade, em até 65% dos pacientes. Este déficit nutricional acarreta o aumento da incidência de infecções hospitalares, cicatrização de feridas mais lentas, aumentando ainda mais o tempo de internação, Nutrição Enteral e Parenteral 5 além de contribuir para o aumento dos custos hospitalares. (LEANDRO-MERHI; MORETE; OLIVEIRA, 2009, p. 219). “Vários métodos podem ser utilizados na avaliação nutricional. Os mais efetivos em geral são os mais sofisticados, não aplicá¬veis à beira do leito e de alto custo, não fazendo parte da pratica diária em geral” (FONTOURA et al., 2006, p. 299). 3.1 Avaliaçãonutricional objetiva Antropometria • Peso corporal • Estatura • Índice de massa corporal (IMC) • Espessura de dobras cutâneas • Circunferência do braço (CB) • Circunferência muscular do braço (CMB) Avaliação bioquímica • Albumina sérica • Proteína ligada ao retinol • Pré-albumina • Transferrina • Contagem total de linfócitos • Hematócrito e nível de hemoglobina Avaliação dietética • História alimentar: dentre tantos fatores da avaliação dietética, investigar especialmente se há presença de anorexia e há quanto tempo; se há alteração da dieta habitual e que tipo de alteração (alterou para uma dieta líquida ou hipocalórica ou pastosa, se está em jejum há muito tempo), pois estas alterações têm influência direta no estado nutricional do paciente, visto que não atingem as necessidades nutricionais do paciente. Avaliação clínica • Exame físico: aspecto geral; tecido adiposo e muscular; mucosas; extremidades; olhos; boca, língua e dentes; abdômen; unhas. 3.2 Avaliação nutricional subjetiva global A avaliação nutricional subjetiva global (ANSG) [...] consiste unicamente na prática de anamnese e exame físico que deve ser realizado dentro de um período de até três dias após a internação hospitalar. É utilizada para classificar o grau de desnutrição e o risco nutricional, prescinde de exames antropométricos e laboratoriais objetivos, tornando a avaliação mais rápida e com menor custo (FONTOURA et al., 2006, p. 299). “O diagnóstico nutricional será definido através da soma de pontos. Através dela é possível classificar o paciente” (FONTOURA et al., 2006, p. 299), de forma subjetiva, em: sem desnutrição, desnutrido moderado Nutrição Enteral e Parenteral 6 e desnutrido grave. “A ANSG vem ganhan¬do adeptos, pois permite a avaliação dos riscos nutri¬cionais em pacientes de forma não-invasiva.” (FONTOURA et al., 2006, p. 299). 4 NECESSIDADES NUTRICIONAIS • Necessidade hídrica • Necessidade energética • Necessidade de macronutrientes: proteínas, carboidratos e lipídeos • Necessidade de vitaminas e minerais 5 TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL (TNE) Este é o nome dado para o conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de nutrição enteral (BRASIL, 2000). A Resolução nº 63 de 2000 define nutrição enteral (NE) como [...] alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializado ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. (BRASIL, 2000). 5.1 Histórico O primeiro relato de administração da nutrição enteral é de 1500 a.C., pelos egípcios e depois por gregos, com utilização da via retal, fornecendo alimentos como leite, soro de leite, cereais germinados, vinhos, entre outros ou também com finalidade de laxante intestinal. Em 1617, houve a primeira tentativa de nutrição via nasofaríngea utilizando-se tubos de plantas. Acredita-se que a primeira tentativa para administrar alimento diretamente no estômago através de um tubo rígido foi em 1776, por John Hunter. Em 1837, Egeberg introduzira por gastrostomia em 1985, Gould por jejunostomia (FERREIRA, 2009, p. 5). Entretanto, em 1881 e durante a Segunda Guerra Mundial ainda se utilizava a via retal para alimentação, com a administração de sangue desfibrilado, carne de boi, uísque, água, soros salinos, glicosados, aminoácidos em solução isotônica e, também, alguns medicamentos (FERREIRA, 2009, p. 5). Na primeira metade do século XIX, iniciaram-se os desenhos das sondas e também o desenvolvimento da bomba de infusão, na Inglaterra. No começo do século XX, inicia-se nos Estados Unidos da América, o desenho de sondas mais finas e flexíveis, com destaque para as sondas desenvolvidas em 1910 com bulbo metálico no extremo distal, permitindo transpassar o piloro. Ao longo do tempo o calibre das sondas diminuiu (FERREIRA, 2009, p. 5). Nutrição Enteral e Parenteral 7 Em 1939, os cirurgiões desenvolvem técnicas para as ostomias e em 1959 realiza-se a gastrostomia endoscópica percutânea (FERREIRA, 2009, p. 6). Na segunda metade do século XX há um avanço nos desenhos das fórmulas quimicamente definidas. Nos anos de 1930, houve o desenvolvimento do primeiro produto destinado a lactentes. Na década de 1940, houve o desenvolvimento de fórmulas parcialmente hidrolisadas. Nos anos de 1950, conseguiu-se a produção de fórmula monomérica (FERREIRA, 2009, p. 6). Em 1969, foi desenvolvida uma fórmula enteral liofilizada para consumo oral dos astronautas. No final da década de 1980, evidências mostraram que havia vantagens no uso da nutrição enteral no lugar da parenteral, devido aos “[...] menores riscos de complicações, à preservação do trato gastrointestinal e estimulação de suas funções” (FERREIRA, 2009, p. 6). 5.2 Indicações De acordo com Waitzberg (2002), existem duas indicações gerais para iniciar TNE: a) Risco de desnutrição ou em desnutrição Indicado quando a ingestão oral estiver inadequada para prover de 2/3 a 3/4 das necessidades nutricionais diárias, sendo que o tempo de inadequação pode variar em função do estado nutricional prévio e catabolismo, entre outros fatores. b) Trato digestivo total ou parcialmente funcional Ressalta-se que não se deve instituir terapia nutricional, de modo geral, a menos que se espere utilizá-la por pelo menos cinco a sete dias (WAITZBERG, 2002). A Resolução 63 de 2000 também afirma que “[...] são candidatos à TNE os pacientes que não satisfazem suas necessidades nutricionais com a alimentação convencional, mas que possuam a função do trato intestinal parcial ou totalmente íntegra”. São, ainda, indicações específicas para TNE (WAITZBERG, 2002, p. 563): • Dificuldades de deglutição por causa neurológica ou muscular • Cirurgias de grande porte e fístulas digestivas (altas) • Estados hipermetabólicos • Intestino curto e doença inflamatória intestinal • Necessidade de uso de dietas especiais com propriedades organolépticas que dificultam sua aceitação • Dificuldade de acesso ao TGI pela ocorrência de patologias anatômicas ou funcionais • Complementação da via oral por ingestão insuficiente da VO (50% das NET diárias) por um período de 72h • Lesões do sistema nervoso central; anorexia nervosa; trauma muscular; queimaduras; lesões de face e mandíbula Em crianças, especificamente, a TNE [...] tem por objetivo a manutenção do crescimento e desenvolvimento normal da Nutrição Enteral e Parenteral 8 composição corporal. Ao contrário dos adultos, nas crianças com desnutrição e diarreia crônica a NE pode trazer melhoras quando a concentração e volume são aumentados vagarosamente. (WAITZBERG, 2002, p. 562). Quadro 1 – Indicações de terapia nutricional enteral em crianças de acordo com o diagnóstico Indicação de Terapia Nutricional Enteral em Crianças de Acordo com o Diagnóstico • Anorexia / perda de peso • Crescimento deficiente • Ingestão via oral inadequada • Desnutrição: aguda, crônica e hipoproteinemia • Estado hipercatabólico: queimaduras, sepse, trauma múltiplo, doenças cardíacas e doenças respiratórias. • Doenças neurológicas - Dificuldade ou incapacidade de sucção - Facilidade de aspiração • Coma por tempo prolongado • A nomalias congênitas: fissura do palato, atresia de esôfago, fístula traqueoesofágica • Cirurgia do TGI • Doença ou obstrução esofágica • Diarréia crônica não-específica • Sindrome do intestino curto • Fibrose cística • Câncer associado à quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia Fonte: Waitzberg (2002, p. 563). 5.3 Contraindicações As contraindicaçõesem terapia de NE são mais relativas ou temporárias do que definitivamente absolutas. Na tabela abaixo, pode-se observar algumas das contraindicações mais frequentes. Tabela 1 – Contraindicações de terapia nutricional enteral e suas principais razões e condições Contra-indicações de TNE e suas Principais Razões e Condições Contra-indicações Razões e Condições Doença Terminal As complicações potenciais sureram os benefícios Síndrome do Intestino Curto Do Tipo maciço ou em fase de reabilitação intestinal Obstrução Intestinal Mecânica Ausência de trânsito intestinal total ou localizado Sangramento gastrointestinal Requer interveção, ocasiona náusea, vômito e melena ou enterorragia Vômitos Dificultam a manutenção de sonda nasoenteral Diarréia Avaliar a causa, considerar drogas, perdas hidroeletrolíticas Fístulas intestinais Especialmente jejunais e de alto débito Isquemia gastrointestinal Doentes críticos, com sepse, disfunção de múltiplos órgãos, instabilidade cardiopulmonar evidente. Nutrição Enteral e Parenteral 9 Íleo paralítico intestinal Peritonites, hemorragia intraperitoneal, perfuração intestinal Inflamação do TGI Enterites grave e pancreatite grave Fonte: Waitzberg (2002, p. 564). 5.4 Seleção da via de acesso A nutrição por via digestiva é a priorizada por apresentar várias vantagens fisiológicas, metabólicas, de segurança e de custo/benefício em relação à TNP, conforme pode ser observado na tabela: Tabela 2 – Benefícios da nutrição enteral Benefícios da Nutrição Enteral Fisiológicos • Recebe nutrientes complexos • Os nutrientes passam inicialmente, via sistema porta, por metabolismo e processamento hepáticos • O processamento intestinal dos nutrientes estimula fatores hormonais tróficos • Reforça a barreira mucosa intestinal • Recebe nutrientes enterotróficos • Mantém pH e flora intestinal normais • Reduz crescimento bacteriano oportunístico no intestino delgado • Desenvolve atividade neuroendócrina e imunológica intestinal (IgA) Segurança • Ministrada com cuidado, é mais segura que a TNP, particularmente pela redução de complicações infecciosas Custo/benefício • Custos globais integrados são menores que os com TNP Fonte: Waitzberg (2002, p. 562). Uma vez preferida a via enteral, deve ser estimado o tempo pelo qual a TNE será necessária para a escolha da melhor via de acesso. Particularmente, para o paciente cirúrgico, esta estimativa implica a possibilidade de terapia nutricional pré-operatória, pós-operatória ou ambas. A duração adequada da nutrição pré e pós-operatória ainda não foi determinada. Porém, é aceito que, se um paciente for selecionado para nutrição enteral pré-operatória, esta deve durar pelo menos 10 dias, para permitir uma melhora significativa do estado nutricional. O período pode ser mais longo, dependendo do estado nutricional pré-operatório e das condições clínicas do paciente (WAITZBERG, 2002). Embora não seja consensual, o período de seis semanas difere nutrição enteral de curto e longo prazos. Entende-se como curto prazo “[...] a interrupção ou redução da progressão das doenças, a cicatrização das feridas, a passagem para nutrição normal e a melhora do estado de nutrição” (BRASIL, 2000). Por longo prazo entende-se “[...] a manutenção do estado nutricional normal e a reabilitação do paciente em termos de recuperação física e social [...] Em casos excepcionais, a TNE pode substituir definitivamente a nutrição oral” (BRASIL, 2000). • Curto prazo: “[...] pode-se usar a sonda nasoenteral, mas se aceita de modo geral as estomias (gástrica ou jejunal), já que a sonda nasoenteral por períodos prolongados pode levar a complicações tardias” (WAITZBERG, 2002, p. 564): • Migração da sonda (especialmente para o esôfago) • Aspiração pulmonar Nutrição Enteral e Parenteral 10 • Lesão da mucosa do TGI pela ponta da sonda • Infecções de vias aéreas e trato respiratório superior • Estenose esofágica • Paralisia de cordas vocais “Uma vez realizada a opção por sonda nasoenteral ou estomia, a próxima decisão a ser tomada é relativa ao local da extremidade distal da sonda” (WAITZBERG, 2002, p. 564). – Estômago ou intestino delgado? – Pré-pilórico: sonda nasogástrica ou gastrostomia – Pós-pilórico: sonda nasojejunal ou j ejunostomia Critério de decisão: risco de aspiração pulmonar Figura 1 – Fluxograma de decisão da via de administração. Fonte: Waitzberg (2002). Tubo digestivo funcionante Nutrição enteral oral ou por sonda gástrica Nutrição parentenal Prolongada TGI funcionante Oral ou sonda gástrica Jejunostomia Gastrostomia Sonda transpilórica Oral ou sonda gástrica Legenda: S (sim): P (parcial): N (não) Risco de aspiração Risco de aspiração Considerar Ostomia S S S S S N N N N NP Vantagens e Desvantagens da Localização Gástrica e Duodenal/Jejunal Localização Gástrica Localização Duodenal/Jejunal Vantagens • Maior tolerância a fórmulas variada (proteínas intactas, proteínas isoladas, aminoácidos cristalinos) • Boa aceitação de fórmulas hiperosmóticas • Permite a progressão mais rápida para alcançar VCT ideal • Permite introdução de grandes volumes em curto tempo (devido dilatação receptiva) • Fácil posicionamento • i risco de aspiração • Maior dificuldade de saída acidental da sonda • Permite nutrição enteral quando a alimentação gástrica é inconveniente e inoportuna Quadro 2 – Vantagens e desvantagens da localização gástrica e duodenal/jejunal Nutrição Enteral e Parenteral 11 Desvantagens • Alto risco de aspiração em pacientes com dificuldades neuromotoras de deglutição • A ocorrência de tosse, náusea ou vômito favorece a saída acidental da sonda. • Risco de aspiração em pacientes que têm mobilidade gástrica alterada ou que são alimentados durante a noite. • Desalojamento acidental, podendo causar refluxo gástrico • Requer dietas normo ou hipoosmolares Fonte: Waitzberg (2002, p. 569). Métodos de Administração de Dieta Enteral Técnicas de Administração Alimentação Intermitente Alimentação Contínua • Bolo: injeção com seringa - 100 a 300ml de dieta no estômago a cada 3 a 6 horas, pelo menos durante 2 a 6 minutos, precedida e seguida por irrigação com 20 a 30ml de água potável. • Gotejamento Gravitacional ou por Bomba de Infusão • Intermitente Gravitacional: - volume de 100 a 300ml administrado por gotejamento (60 a 150ml/hora) a cada 4 a 6 horas, precedida e seguida por irritação com 20 a 30ml de água potável. • Alimentação Contínua: - administração de 25 a 125ml/hora, por 24 horas no jejum, duodeno ou estômago, interrompida a cada 6-8 horas para irrigação com 20 a 30ml de água potável. • Intermitente com Bomba de Infusão: -idem • Alimentação Clínica: -geralmente noturna, administração de 25 a 125ml/hora, por 8 até 6 horas no jejuno, duodeno ou estômago, interrompida a cada 6 horas para irrigação com 20 a 30 ml de água potável. Fonte: adaptado de Waitzberg (2002, p. 568). 5.5 Métodos e administração Existem dois métodos para administração da nutrição enteral por sonda: intermitente e contínuo. Quadro 3 – Métodos de administração de dieta enteral A opção por um ou outro método se faz de acordo com o demonstrado no próximo quadro. Nutrição Enteral e Parenteral 12 5.6 Dose e velocidade de administração • Sonda gástrica e método intermitente: – Pode ser iniciada num volume de 60ml, na sua concentração total, a cada 3 a 4 horas. – Aumento gradativo de 60 a 120ml, a cada 8 a 12 horas, conforme tolerância e meta nutricional a ser alcançada. • Sonda gástrica e infusão contínua: – Inicia-se com 10 a 40ml/hora – Aumento gradativo de 10 a 20ml a cada 8 a 12 horas, conforme tolerância (WAITZBERG, 2002, p. 566-7). Métodos de Administração de Dieta Enteral Alimentação Intermitente Alimentação Contínua Técnica de Administração Bolo Intermitente gravitacional Intermitente com Bomba de InfusãoGotejamento Gravitacional ou bomba de infusão Alimentação Contínua Alimentação Cíclica Características •Similar a nutrição oral •A distensão gástrica estimula a secreção cloridropéptica •Retardo do esvaziamento gástrico com risco de aspiração no paciente convalescente • h da atividade contrátil do estômago com h da velocidade de adinistração (60ml/ minuto) e com volume acima de 350ml causa desconforto • No jejuno a risco de aspiração, infundida mais lentamente reduz a distensão abdominal Indicações específicas •Para pacientes com esvaziamento gástrico normal e com NE domiciliar Para pascientes incapazes de tolerar alimentação intermitente. imobilizados, que requerem infusões mais lentas e precisas, evetualmente à noite Fonte: adaptado de Waitzberg (2002). Quadro 4 – Métodos de administração de dieta enteral: características e indicações específicas Para crianças, a progressão deve ser igual , observando-se o volume, que deve ser adequado ao peso ponderal. Para avaliação do esvaziamento gástrico em NE consideramos os seguintes procedimentos: [...] o achado de elevados volumes residuais sugere intolerância à alimentação gástrica e o risco de regurgitação e aspiração pulmonar. A interpretação do volume residual gástrico encontrado vai depender da concomitância de sinais de intolerância digestiva à NE nas seguintes situações: Nutrição Enteral e Parenteral 13 De acordo com este protocolo, se [...] RG <200 ml era retornado ao paciente e a dieta era mantida; RG >200 ml e <500 ml era desprezado, a infusão da dieta era reduzida pela metade e uma nova checagem era realizada após 4 horas, se o RG <200 ml mantinha a taxa de infusão sem alterações, se RG ainda entre 200 ml e 500 ml suspendia a dieta e comunicava a equipe de nutrição ou médica; RG >500 ml era desprezado o resíduo, a dieta suspensa imediatamente e as equipes comunicadas. As checagens eram feitas a cada 6 horas, 4 vezes ao dia. (FREITAS et al., 2011, p. 100). ∙ Resíduos gástricos > 200ml (nasoenteral) ou > 100ml (gastrostomia) + sinais de desconforto abdominal ou distensão (h da circunferência abdominal) = interromper a infusão de NE e investigar radiologicamente o paciente. ∙ Caso não haja sintomas digestivos, sugere- se retardar a dieta por uma hora e rechecar o volume residual gástrico. No caso de persistência, utilizam-se drogas promotoras da motilidade gástrica (WAITZBERG, 2000, p. 567). Em estudo recente, Freitas et al. (2011) construíram um protocolo de checagem de resíduo gástrico (RG). Checagem de resíduo gástrico VRG menor que 200 ml VRG menor que 500 ml Checagem de resíduo gástrico Reinfundir o resíduo Parar a dieta e visar a equipe médica Desprezar o resíduo Manter a dieta VRG menor que 200 ml Manter a taxa de infusão Refazer a checagem em Figura1 - Protocolo de Checagem de Volume Residual Gástrico (VRG). Parar a dieta e visar a equipe médica Figura 2 – Protocolo de checagem de volume residual gástrico (VRG). Fonte: Freitas et al. (2011, p. 101). Nutrição Enteral e Parenteral 14 • Sonda transpilórica: “[...] o gotejamento da dieta deve ser observado com grande atenção, uma vez que o escoamento rápido pode ocasionar cólica e diarreia, com consequente queda no aproveitamento nutricional e prejuízo ao paciente.” (WAITZBERG, 2002, p. 567). – Infusão contínua: dose e velocidade semelhante à gástrica, mas a concentração da dieta deve ser iso ou hipotônica. – Método intermitente: velocidade de gotejamento não deve ultrapassar 60ml/ hora. Deve-se ter em mente que o refluxo gastroesofágico não está completamente evitado, mesmo com a extremidade da sonda no jejuno (WAITZBERG, 2000). 5.7 Critérios de decisão na seleção de dietas enterais Após a fase de identificação do paciente candidato à TNE, segue-se a difícil tarefa de elaborar um plano dietoterápico. Em função da grande variedade de produtos disponíveis para uso enteral, algumas variáveis têm sido comumente consideradas na prática clínica, visando facilitar a escolha da formulação mais apropriada ao paciente: Quadro 5 – Variáveis comumente avaliadas para a seleção de dietas enterais Variáveis Comumente Avaliadas para a Seleção de Dietas Enterais a) Densidade Calórica b) Osmolaridade/Osmoraridade c) Fórmula x Via e Tipo de Alimentação d) Fontes e complexidade dos nutrientes • carboidratos • lipídeos • proteínas • vitaminas e minerais e) Desenho da fórmula x indicação clínica Fonte: Waitzberg (2002, p. 660). a) Densidade calórica É a expressão da quantidade de calorias fornecidas por mililitro da dieta pronta. DC = Valor Energético Total (VET) Volume Total (VT) A determinação deste valor dependerá do total de calorias que o paciente precisa receber versus o volume da dieta enteral que deverá ser administrado durante o dia, em função da sua capacidade de tolerar esta quantidade a ser infundida (necessidade hídrica/restrição hídrica). Por exemplo: um paciente necessita de 2.000kcal/dia e pode receber até 2.000ml/dia de dieta enteral. Logo, a DC da dieta poderá ser de 1,0kcal/ml. Pacientes com alguma restrição hídrica poderão ter indicação de dietas com maior valores de DC, atingindo de 1,5 a 2,0kcal/ml de fórmula Nutrição Enteral e Parenteral 15 Sugere-se uma categorização das formulações enterais segundo sua densidade calórica: Quadro 6 – Categorização das fórmulas enterais segundo sua densidade calórica Obs.: o termo hipocalórico é utilizado apenas para fins comparativos com as demais fórmulas enterais e não deve ser entendido como uma indicação das mesmas para dietas restritas em calorias. Na prática clínica, esses valores são, muitas vezes, relacionados com a tolerância digestiva da formulação enteral. Enquanto o estômago tolera dietas com osmolalidade mais elevada, porções mais distais do TGI já respondem melhor às formulações isosmolares. Entretanto, a administração lenta de dietas hiperosmolares (especialmente, com bomba de infusão) pode ter boa tolerância, mesmo nas porções pós-pilóricas. Os nutrientes que mais afetam a osmolalidade de uma solução são: os carboidratos simples (mono e dissacarídeos): efeito osmótico maior do que CHO de maior peso molecular (amido); os minerais e eletrólitos (sódio, cloreto, potássio): pela propriedade de dissociação em partículas menores; as proteínas hidrolisadas e os aminoácidos cristalinos, bem como os triglicerídeos de cadeia média: por serem mais solúveis do que os de cadeia longa. Quanto mais componentes hidrolisados contiver a formulação, maior será o valor da sua osmolalidade. Como lembrete, vale destacar a influência da osmolalidade de medicação, usualmente negligenciada. A média da osmolalidade de medicamentos líquidos administrados por sonda ou via oral varia entre 450 a 10.950mOsm/Kg de água. Determinadas intolerâncias digestivas podem estar relacionadas à medicação, embora, com frequência, sejam atribuídas à formulação enteral (WAITZBERG, 2002, p. 661-2). c) Fórmula enteral x via e tipo de administração Categorização das Fórmulas Enterais Segundo sua Densidade Calórica Categorização da DC Valores de DC (kcal/ml) Categorização da fórmula Muito baixa <0,6 Acentuadamente hipocalórica Baixa 0,6-0,8 Hipocalórica Padrão (standard) 0,9 - 1,2 Normocalórica Alta 1,3 - 1,5 Hipercalórica Muito Alta >1,5 Acentuadamente hipercalórica Fonte: Waitzberg (2002, p. 661). Categorização das Fórmulas Enterais Segundo Valor de Osmolaridade da Solução (mOsm/kg de Água) Categorização Valores de Osmolaridade Hipotônica 280 - 300 Isotônica 300 - 350 Levemente hipertônica 350 - 550 Hipertônica 500 - 750 Acentuada hipertônica >750 Fonte: Waitzberg (2002, p. 662). b) Osmolaridade/Osmolalidade Refletem a concentração de partículas osmotica- mente ativas na solução. – Osmolalidade refere-se ao número de miliosmoles por quilo de água. – Osmolaridade refere-se ao número de miliosmoles por litro de solução. Para fins comparativos defórmulas, devem- se padronizar as grandezas de medidas. Tem-se a categorização da formulação enteral segundo os valores de osmolalidade: Quadro 7 – Categorização das fórmulas enterais segundo valores de osmolalidade da solução (mOsm/ kg de água) Nutrição Enteral e Parenteral 16 A escolha da via, bem como, do tipo de infusão influenciará na escolha da formulação. Isso implica a determinação: • dos horários de administração da dieta; • do volume a ser infundido; • da velocidade de infusão; • do tipo de administração: contínua ou intermitente; por gotejamento gravitacional, bomba de infusão ou em bolo. Se a sonda estiver em posicionamento gástrico, haverá maior flexibilidade quanto: ao volume total, à osmolalidade e ao método de infusão da fórmula. Se a sonda estiver em posicionamento pós-pilórico, – as dietas devem ser, preferencialmente, isosmolares ou levemente hiperosmolares; – em método intermitente, o volume não poderá ser muito elevado; – o gotejamento é mais indicado que a técnica em bolos; – a administração da dieta deve ocorrer de forma lenta. Na seleção das fórmulas enterais, as variáveis a seguir devem ser consideradas: Resumo Esquemático da Programação da TNE, Segundo Posicionamento da Sonda Pré e Pós-pilórica Posicionamento da Sonda Volume Osmolaridade Fracionamento Equipamentos Pré-pilórico Confere Maior liberdade quanto ao volume por horário. Esta flexibilidade, depende da capacidade gástrica do paciente. Tolera soluções hiperosmolares embora esvaziamento gástrico mostre-se mais lento qto > a osmolaridade. Dependendo do volume total por dia e tolerância do paciente. Pode ser menor fracionamento (4 a 6x/dia) e maior volume. Funil plástico nas gastrostomias calibrosas. Seringa Equipos com pinça (intermitente) e para BI (contínuo) Pós-pilórico Se intermitente, volume limitado. Maior Tolerância de formulações <550 de osmolal. = rigorososm. = riroso controle de gotejamento (BI). Se intermitente fracionamento em geral varia entre 6 a 8 tomadas/dia (a cada 3 horas) Seringa Equipos com pinça (intermitente) e para BI (contínuo) Fonte: adaptado de Waitzberg (2002, p. 663). Quadro 8 – Resumo esquemático da programação da terapia nutricional enteral, segundo posicionamento da sonda pré e pós-pilórica Nutrição Enteral e Parenteral 17 d) Fonte e complexidade dos nutrientes - Carboidratos: aparecem na forma de mono, di, oligo e polissacarídeos. As principais fontes nas fórmula são: frutose, glicose, sacarose, maltodextrina e amido de milho. Os oligossacarídeos apresentam como vantagem o fato de serem mais eficientemente digeridos e absorvidos pelo TGI, mesmo em condições de síndrome de má absorção; além de interferirem menos nos valores de osmolalidade. (WAITZBERG, 2002, p. 664). A lactose pode ser regularmente indicada quando em posição gástrica e em pacientes sem intolerância. Cabe destacar que a intolerância à lactose, responsável por intercorrências digestivas do tipo diarreia, desconforto pós-prandial, flatulência excessiva, distensão abdominal, é um achado muito comum na prática clínica, especialmente, em pacientes desnutridos. A lactase é uma das principais enzimas a ser prejudicada na vigência de um déficit nutricional importante, com diminuição significativa da sua produção nas bordas em escova (WAITZBERG, 2002, p. 664). - Fibras alimentares: as recomendações de fibras para pacientes em TNE não são numericamente definidas e não há necessidade de serem atingidas as recomendações. As fontes de fibras mais comumente empregadas em nutrição enteral têm sido a pectina, a goma guar e o polissacarídeo da soja. Além de regularizar o trânsito intestinal, a presença de fibras na NE visa fornecer substrato energético colonócito- específico (WAITZBERG, 2002, p. 664-5). - Proteínas: sua presença nas fórmulas tem a função de prover aminoácidos com o fim de promover retenção nitrogenada e consequente aumento na massa muscular. “Para que esta função ocorra eficientemente, torna-se imprescindível que haja adequado suprimento de energia, de onde surge a relação ‘calorias não proteicas para cada grama de nitrogênio’.” (WAITZBERG, 2002, p. 666-7). Para encontrar essa relação, primeiramente é necessário calcular as calorias não proteicas (energia proveniente dos carboidratos e dos lipídios) e depois calcular os gramas de nitrogênio da dieta. Para isso, é necessário dividir a quantidade em gramas de proteínas da dieta pelo índice de 6,25. Por fim, basta dividir calorias não proteicas por gramas de nitrogênio. A melhor relação para pacientes que buscam o balanço nitrogenado positivo está ao redor de 150 kcal não proteicas para cada grama de nitrogênio (150:1, variando de 110 a 180:1) (WAITZBERG, 2002, p. 667). “Para uma pessoa saudável, recomenda-se 120 a 150:1; 200 a 220:1 para pacientes com insuficiência renal e 80 a 90:1 para indivíduos doentes em estado grave ou hipercatabólicos.” (CALIXTO-LIMA, 2010, p. 38). As fontes proteicas predominantes nas formulações enterais são a soja e a caseína, e, em menor escala, a gema de ovo e o soro de leite (WAITZBERG, 2002, p. 667). - Lipídeos: são os nutrientes de maior densidade energética. Correspondem, em geral, a 30-35% do VCT da formulação, exceto as chamadas hipolipídicas. Podem aparecer na forma intacta, como triglicerídeos de cadeia longa (TCL), ou veiculados por fontes alimentares que também carreiam os triglicerídeos de cadeias média (TCM) e curta (TCC) (WAITZBERG, 2002, p. 667). - Vitaminas e minerais: Nas carências nutricionais específicas deve-se avaliar a indicação de suplementação adicional destes, mesmo quando a formulação atinge as cotas recomendadas pelas DRIs. A maioria das dietas enterais é adequada quanto Nutrição Enteral e Parenteral 18 às vitaminas e minerais. Algumas formulações propositalmente são insuficientes (específicas para alguma situação clínica). No planejamento dietético, deve-se prever a necessidade ou não de realizar a suplementação destes (WAITZBERG, 2002, p. 667). e) Desenho da fórmula versus indicação clínica As formulações enterais podem ser classificadas segundo os objetivos da dietoterapia em (WAITZBERG, 2002, p. 672): - Dietas enterais de formulação padrão: são aquelas que visam suprir as necessidades nutricionais dos pacientes, de forma a manter ou melhorar o estado nutricional dos mesmos. - Dietas enterais de formulação especializada: são aquelas que, além de otimizarem o estado nutricional do enfermo, visam atuar mais ativamente em seu tratamento clínico. Pode-se afirmar que, nos últimos anos, houve uma enorme expansão na variedade de formulações, tanto das dietas denominadas padrão, quanto das especializadas. Além desta classificação, as dietas enterais ainda são classificadas em outras categorias. Quanto ao suprimento de calorias, elas podem ser (WAITZBERG, 2002, p. 673): – Nutricionalmente completas: dada a sua densidade calórica, fornecem a quantidade de calorias adequada para suprir as necessidades do paciente, sem que haja fornecimento de fluidos maior do que o recomendado. – Suplemento nutricional: dada a sua densidade calórica, não atingem as necessidades calóricas do paciente, exceto se suplantarem as recomendações de fluidos. Quanto à complexidade dos nutrientes (WAITZBERG, 2002, p. 673): – Poliméricas: são aquelas em que os macronutrientes apresentam-se na sua forma intacta. – Oligoméricas: são aquelas em que os macronutrientes apresentam-se na sua forma parcialmente hidrolisada. – Monoméricas ou elementares: são aquelas em que os macronutrientes apresentam-se na sua forma totalmente hidrolisada. Quanto à forma de preparo (WAITZBERG, 2002, p. 671): – Dietas enterais industrializadas: • Dietas industrializadas em pó para reconstituição: acondicionadas em pacotes hermeticamente fechados, em porções individuais ou em latas e pacotes. Necessitam de reconstituição em água ou em outro veículo. Quadro9 – Vantagens e desvantagens das dietas industrializadas em pó para reconstituição Vantagens • permitem individualização, com menor manipulação que as artesanais • maior estabilidade microbiológica e bromatológica que as artsanais. • auxiliam no fornecimento adequado dos micronutrientes, bem como, de uma dieta especializada • armazenamento facilitado Fonte: adaptado de Waitzberg (2002, 671). Nutrição Enteral e Parenteral 19 • Dietas industrializadas prontas para uso: já se apresentam envasadas em bolsas próprias que são diretamente acopladas no equipo. São chamadas de “sistema fechado”. Quadro 11 – Vantagens e desvantagens das dietas industrializadas prontas para uso Figura 3 – Critérios de seleção de dietas enterais. Fonte: Waitzberg (2002, p. 675). – Dietas modulares ou módulos de nutrientes: são a apresentação pura ou quase exclusiva de um determinado nutriente (WAITZBERG, 2002, p. 673). Podem ser citados como benefícios dos módulos de nutrientes: g a flexibilidade no seu uso e a facilidade na individualização; g o atendimento das necessidades nutricionais (passíveis de adequação ao caso clínico); g a manutenção do sabor dos alimentos; • Dietas industrializadas líquidas semi-prontas para uso: são dietas já industrialmente reconstituídas. Quadro 10 – Vantagens e desvantagens das dietas industrializadas líquidas semi-prontas para uso – Dieta caseira ou artesanal: são aquelas preparadas à base de alimentos in natura ou de mesclas de produtos naturais com industrializados (módulos), liquidificados e preparados artesanalmente em cozinha doméstica ou hospitalar. Quadro 12 – Vantagens e desvantagens da dieta caseira ou artesanal Vantagens • Mesmas vantagens descritas para as dietas em pó • exigem um mínimo de manutenção antes da administração ao paciente. • torna-a mais econômica, com mínimas chances de contaminação e alta estabilidade do produto final. Desvantagens • ainda existe algum tipo de manipulação e, portanto, alguma chance de contaminação do produto final. Fonte: adaptado de Waitzberg (2002, 671). Desvantagens • ainda existe algum tipo de manipulação. • podem apresentar problemas com viscosidade, bem como menor estabilidade microbiológica. Fonte: adaptado de Waitzberg (2002, 671). Vantagens • não ocorre nenhuma manipulação. • facilitam o uso em domicílio, com um risco mínimo de alteração microbiológica e/ou bromatológica da formulação. Desvantagens • possíveis perdas de dieta pronta. • Não ocorre nenhuma possibilidade de alteração no formulário para individualização das mesmas. Fonte: adaptado de Waitzberg (2002, 671-2). Vantagens • indvidualização da fórmula quanto à composição nutricional e o volume. • custo aparentemente menor Desvantagens • instabilidade bromatológica, microbiológica e organoléptica do produto final g custo maior. • não é composição nutricional definida e há dificuldades para ser formulada uma dieta com algum grau de especialização. • fornecimento prejudicado dos micronutrientes. Fonte: adaptado de Waitzberg (2002, 670-1). Nutrição Enteral e Parenteral 20 g a variedade de uso: em sopas, sucos, mingaus, purês, cremes e na própria dieta enteral, assim como adequação às dietas líquidas e pastosas; g segurança no uso pelo controle e padrão de qualidade garantidos. • Módulos de carboidratos: situações clínicas que exigem aumento energético – estresse metabólico (trauma, infecção); desnutrição (aguda ou crônica); neoplasias. Fonte: maltodextrina, na maioria dos módulos disponíveis. • Módulos de proteínas: situações clínicas que exigem aumento da oferta proteica – estresse metabólico (trauma, infecção, cicatrização); desnutrição; neoplasias. Fonte de proteína: caseinato de cálcio, na maioria dos módulos disponíveis. • Módulos de lipídeos: dificuldades digestivas; insuficiência das enzimas digestivas/bile; dificuldades absortivas (reduz esteatorreia); redução da superfície de absorção, inflamação ou atrofia da mucosa intestinal; desnutrição, estresse metabólico; necessidade de maior aporte energético rapidamente. Apresentações: 100% triglicerídeos de cadeia média (TCM) e 70 % de TCM e 30% de TCL (com ácidos graxos essenciais). Avaliação da alimentação via oral Consegue atingir 60% das necessidades nutricionais? sim sim não Dieta via oral Consciência normal? Dieta leve ou líquida com suplementos Dieta lespecializada pode ser polimérica Dieta especializada, preferencialmente com hidrolisados ou formulação com módulos Consegue ingerir/absorver nutrientes intactos ? Dieta geral não sim sim não não Dieta enteral Apresenta alguns disturbios metabólicos Dieta enteral especializada Dieta convencional polimérica Dieta enteral convencional Consegue ingerir/absorver nurientes intactos? Dieta especializada com hidrolisados ou elementar ou formulação com módulos Figura 3 – Critérios de seleção de dietas enterais. Fonte: Waitzberg (2002, p. 675). Nutrição Enteral e Parenteral 21 • Módulos de fibras: correção da obstipação/ diarreia; prevenção das doenças diverticulares e do câncer de cólon; composição de uma dieta saudável; redução da glicemia e colesterol; restabelecer a microflora do cólon. • Módulos de glutamina: aminoácido importante para a manutenção da integridade intestinal. Prevenção da translocação bacteriana, recuperação do sistema imune e redução do catabolismo proteico. Sugestão de uso: pode ser adicionado a sucos, água, chá, gelatina, purês, mediante prescrição de médico ou nutricionista. 5.8 Preparo da nutrição enteral A Resolução nº 63, de 06 de julho de 2000, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para a Terapia de Nutrição Enteral, possui instruções específicas sobre a preparação da nutrição enteral. De acordo com esta resolução: [...] o nutricionista é o profissional responsável pela supervisão da preparação da NE. A preparação da NE envolve a avaliação da prescrição dietética, a manipulação, o controle de qualidade, a conservação e o transporte da NE e exige a responsabilidade e a supervisão direta do nutricionista, devendo ser realizada, obrigatoriamente, de acordo com as recomendações das Boas Práticas de Preparação da NE (BPPNE). Os insumos e recipientes adquiridos industrialmente para o preparo da NE devem ser registrados nos órgãos competentes, quando obrigatório, e acompanhados do certificado de análise emitido pelo fabricante, garantindo a sua pureza físico-química e microbiológica, bem como o atendimento às especificações estabelecidas, além de serem previamente tratados para garantir sua assepsia e inspecionados visualmente quanto à presença de partículas estranhas. A avaliação da prescrição dietética da NE quanto à sua adequação, concentração e compatibilidade físico-química de seus componentes e dosagem de administração, deve ser realizada pelo nutricionista antes do início da manipulação, compartilhada com o farmacêutico quando se fizer necessário. Qualquer alteração na prescrição dietética deve ser discutida com o nutricionista responsável por esta, que se reportará ao médico sempre que envolver a prescrição médica. Qualquer alteração na prescrição dietética deve ser registrada e comunicada à EMTN. A manipulação da NE deve ser realizada em área específica para este fim e com técnica asséptica, seguindo procedimentos escritos e validados. A NE deve ser acondicionada em recipiente atóxico, compatível fisico-quimicamente com a composição do seu conteúdo, para que o mesmo mantenha a qualidade físico-química e microbiológica do seu conteúdo durante a conservação, transporte e administração. De cada sessão de manipulação de NE preparada devem ser reservadas amostras, conservadas sob refrigeração (2ºC a 8ºC), para avaliação microbiológica laboratorial, caso o processo de manipulação não esteja validado. Recomenda-se reservar amostra de cada sessão de preparação para contraprova, devendo neste caso, ser conservadasob refrigeração (2ºC a 8ºC) durante 72 horas após o seu prazo de validade. A NE deve ser rotulada com identificação clara do nome do paciente, composição e demais informações legais e específicas para a segurança de sua utilização e garantia do seu rastreamento. (BRASIL, 2000). Nutrição Enteral e Parenteral 22 Além disso, a Resolução nº 63 de 2000 ainda determina que: Após a manipulação, a NE deve ser submetida à inspeção visual para garantir a ausência de partículas estranhas, bem como precipitações, separação de fases e alterações de cor não previstas, devendo ainda ser verificada a clareza e a exatidão das informações do rótulo. Com relação à conservação, a NE não industrializada deve ser administrada imediatamente após a sua manipulação. Para a NE industrializada devem ser consideradas as recomendações do fabricante. O nutricionista é responsável, ainda, pela manutenção da qualidade da NE até a sua entrega ao profissional responsável pela administração (enfermeiro) e deve orientar e treinar os funcionários que realizam o seu transporte. “A administração da NE deve ser executada de forma a garantir ao paciente uma terapia segura e Quadro 13 – Itens que devem constar do rótulo da nutrição enteral que permita a máxima eficácia, em relação aos custos, utilizando materiais e técnicas padronizadas.” (BRASIL, 2000). Entretanto, estudos mostram que há sempre um déficit nas quantidades de alimentação prescrita e administrada, indicando que, raramente, os pacientes recebem 100% das necessidades energéticas. Os fatores que impedem o adequado aporte nutricional enteral incluem os relacionados à intolerância da dieta (vômitos, diarreia, resíduo gástrico, distensão abdominal, etc.), os associados às práticas de rotina de enfermagem (manipulação do paciente, administração de me¬dicamentos, etc.) e outras rotinas (procedimentos, exames) (TOZETTO et al., 2011; TEIXEIRA; CARUSO; SORIANO, 2006). Vale lembrar que a utilização da sonda de adminis- tração da NE não é exclusiva, podendo ser empregada para medicamentos e outras soluções quando neces- sário (BRASIL, 2000). Entretanto, alguns cuidados se fazem necessários, como conhecer o diâmetro interno da sonda e a viscosidade do medicamento; verificar se os medicamentos podem ser administrados através da sonda; não misturar a medicação diretamente à dieta; administrar cada medicamento separadamente; lavar a sonda depois de administrar as drogas; triturar uma forma sólida apenas quando não houver alternativa; e nunca triturar formas farmacêuticas efervescentes, cápsulas de gelatina mole, drágeas ou medicamentos oleosos (MARTINS; CARDOSO, 2000). 5.9 Complicações As complicações em NE estão relacionadas a: anormalidades gastrointestinais (náuseas, vômitos, estase gástrica, refluxo gastroesofágico, distensão abdominal, cólicas, empachamento, flatulência, diarreia, obstipação), complicações metabólicas Itens que devem Constar do Rótulo da Nutrição Enteral • Nome do paciente, nº do leito e registro hospitalar • Composição quantitativa e qualitativa de todos os componetes ou denominação padronizada desde que codificada em procedimento escrito • Via de acesso, volume total e velocidade de administração • Data, hora de manipulação e prazo de validade • Nº sequencial de controle e condições de temperatura para conservação • Nome e nº conselho regional do respectivo profissional técnico Fonte: Waitzberg (2002, p. 698). Nutrição Enteral e Parenteral 23 (hiperidratação, desidratação, hiperglicemia, hipoglicemia, anormalidades de eletrólitos, alterações da função hepática), complicações mecânicas – relacionadas com a sonda nasoenteral (erosão nasal e necrose, abscesso septonasal, sinusite aguda, otite, rouquidão, faringite etc.), complicações infecciosas (gastroenterocolites por contaminação microbiana no preparo e administração da fórmula), complicações respiratórias (aspiração pulmonar, pneumonia infecciosa) e complicações psicológicas (ansiedade, depressão, falta de estímulo ao paladar, monotonia alimentar, insociabilidade, inatividade) (WAITZBERG, 2002; SHILLS et al., 2009). 6 TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL (TNP) Conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de nutrição parenteral (BRASIL, 1998). A Portaria nº 272 de 1998 define nutrição parenteral como [...] solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. Para compreender melhor este conceito, torna-se necessário definir solução e emulsão. Solução é uma formulação farmacêutica aquosa que contém carboidrato, aminoácidos, vitaminas e minerais. Já emulsão é uma formulação farmacêutica que contém substâncias gordurosas em suspensão no meio aquoso, em perfeito equilíbrio (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p.12; BRASIL, 1998). Na Nutrição Parenteral Total (NPT) “[...] todas as necessidades nutricionais do paciente são fornecidas pela via endovenosa, sem nenhuma ingestão enteral ou oral”. Na Nutrição Parenteral Suplementar (NPS) “[...] parte das necessidades nutricionais é administrada pelo TGI e o restante é infundido por via endovenosa” (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 12). 6.1 Histórico As descobertas científicas importantes para o avanço da nutrição parenteral (NP) coincidem no tempo com as conquistas alcançadas na anatomia, cirurgia, química e bioquímica. A infusão endovenosa (EV) de nutrientes não era possível até a descrição do sistema circulatório (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 1). Em 1658, Sir Christopher Wren estudava a aplicação de opiáceos e vinho na veia de um cão e vinte anos mais tarde, Courten infundiu vinagre, sais e urina em cães (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 1-2). De 1750 a 1800 várias descobertas contribuíram para o avanço da nutrição parenteral: foram estabelecidas bases científicas para o papel do alimento como combustível para o corpo humano, houve o reconhecimento da separação de nutrientes em substâncias nitrogenadas, lipídios e carboidratos, a glicose foi descoberta, assim como o gasto energético como proporcional à área corporal, e o calorímetro foi construído. Em 1830 foram administrados água e bicarbonato na veia de hindus com cólera para correção dos distúrbios hidroeletrolíticos. Em 1869, injetaram lipídios, leite e cânfora por via subcutânea em cães. Mas, foi em 1896 que Biedl e Kraus administraram glicose por via endovenosa em seres Nutrição Enteral e Parenteral 24 humanos. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918) soluções de glicose a 5% foram infundidas em seres humanos com a finalidade de corrigir o estado de choque. Em 1920, Yamakawa administrou emulsão lipídica endovenosa em seres humanos (CALIXTO- LIMA, 2010, p. 2). 6.2 Indicações A indicação da NP está relacionada com a situação clínica do paciente e a impossibilidade de utilização da via oral e enteral por um período pré-definido. Assim, as indicações mais frequentes de NP incluem: • Pré-operatório: quando se pretende minimizar quadros de desnutrição grave em pacientes que necessitem de procedimentos cirúrgicos mais urgentes e que a terapia nutricional oral ou enteral está contraindicada. Iniciar, no mínimo, cinco a sete dias antes da cirurgia. • Complicações cirúrgicas pós-operatórias: fístula gastrintestinal – de natureza desconhecida; de alto débito no intestino delgado; de baixo débito no jejuno terminal ou íleo proximal; íleo prolongado, também chamado íleo paralítico ou íleo adinâmico – os movimentos contráteis normais da parede intestinal se detém temporariamente e o processo absortivo se encontra prejudicado. • Pós-trauma: hipomotilidade gástrica causada por hipertensão intracraniana,baixa perfusão esplâncnica, ventilação mecânica e presença de sepse que comprometa o uso do tubo digestivo. • Distúrbios gastrintestinais: vômitos crônicos, doença intestinal infecciosa, diarreia intratável e enteropatias inflamatórias (colite ulcerativa e doença de Crohn). • Pancreatite aguda: o uso contínuo da nutrição enteral com posicionamento da sonda além do ângulo de Treitz pode favorecer a introdução e a manutenção da terapia nutricional. Se essa via de alimentação não atingir as necessidades nutricionais em um período de cinco a sete dias e/ou exacerbar dor abdominal, o recurso da via parenteral deve ser utilizado. • Obstruções mecânicas do trato gastrintestinal (TGI): as obstruções mecânicas do TGI impossibilitam o uso de nutrição enteral. • Hemorragias gastrintestinais: acarretam alteração da mucosa, impossibilitando a absorção adequada de nutrientes, além da presença de nutrientes no lúmen intestinal estimular maior fluxo sanguíneo na circulação mesentérica, podendo intensificar o sangramento15. • Síndrome do intestino curto (SIC): gera a impossibilidade de absorção adequada de nutrientes por via oral ou enteral por um período indeterminado, que varia conforme a área e a quantidade de intestino delgado ressecado, além da presença de cólon intacto ou não (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 14-15). 6.3 Contraindicações A NP está contra-indicada em situações de sobrecarga de volume, em situações de sobrecarga de volume, de falência hemodinâmica (quando o paciente entra em choque hipovolêmico) e em graves alterações metabólicas e bioquímicas com repercussão funcional orgânica. As situações mais comuns são: instabilidade hemodinâmica (hipovolemia, choque cardiogênico ou séptico); fase aguda do trauma; edema agudo de pulmão; infarto agudo do miocárdio; anúria sem diálise e distúrbios metabólicos (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p.[18]). Algumas contraindicações são controversas, ficando a critério do médico responsável optar ou não por essa via de acesso. Algumas situações incluem: jejum menor que cinco dias Nutrição Enteral e Parenteral 25 sem desnutrição grave; possibilidade do uso do TGI, dificuldade para obter acesso venoso; prognóstico que não necessite de suporte agressivo (pacientes terminais) (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 19). 6.4 Vias de acesso A escolha da via dependerá da duração planejada da terapia. Informações adicionais podem ser necessárias como: presença de edema ou de lesão no local de acesso, necessidade de outras infusões, tempo de coagulação, condição da veia periférica, estado funcional e estilo de vida (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 23). a) Acesso venoso periférico – nutrição parenteral periférica (NPP) “Terapia nutricional na qual uma solução parenteral é administrada por meio de uma veia periférica” (BRASIL, 1998). É utilizada “[...] uma veia superficial de grosso calibre, comumente as veias das extremidades superiores, na mão ou no antebraço” (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 23). “É recomendado quando a nutrição parenteral for planejada por períodos curtos (<15 dias) ou como alimentação complementar, tendo impacto mínimo no estado nutricional” (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 23). Essa via de alimentação apresenta como vantagens: a punção venosa superficial rápida, segura e sem necessidade de cuidados especializados; controle glicêmico mais fácil (menos hiperglicemia); menores índices de complicações inerentes ao acesso venoso central e ao seu manuseio; além de menor custo (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 23). “Os doentes que mais se beneficiam são desnutridos graves no período pré-operatório ou que necessitam de jejum prolongado por período inferior a 14 dias no pós-operatório” (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 23). Em geral, a quantidade de calorias administrada fica em torno de 1.000 a 1.500 kcal por dia. As complicações associadas a essa via são pouco frequentes e de baixa morbidade, sendo a principal delas a tromboflebite, com incidência que pode variar de 3% a 30%. No entanto, reações alérgicas e infiltração subcutânea da solução também podem ocorrer. A NPP não permite a infusão de soluções hiperosmolares (>850mOsm/L), o que leva a uma frequente necessidade de infusão de soluções de maior volume para suprir as necessidades nutricionais. Assim, os pacientes com restrição hídrica – como aqueles com insuficiência cardiopulmonar, renal ou hepática – não são bons candidatos a essa via (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 24). b) Acesso venoso central – nutrição parenteral central (NPC) “Terapia nutricional na qual uma solução parenteral é administrada em uma veia central” (BRASIL, 1998). É utilizada “[...] uma veia de alto fluxo sanguíneo interligada à veia cava superior ou ao átrio direito, ou seja, a infusão parenteral chega diretamente ao coração” (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 23). “O acesso à veia cava superior pode ser realizado, principalmente, através de uma das seguintes veias: subclávia, jugular interna e femoral” (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 26). A terapia é indicada por períodos longos (>14 dias). Permite a administração de soluções hiperosmolares sem que haja o risco de flebite ou trombose (visto que a solução infundida é diluída pelo intenso fluxo sanguíneo nesse Nutrição Enteral e Parenteral 26 local) e possibilita a administração de todos os nutrientes necessários para uma nutrição completa e balanceada (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 25). “A ocorrência de sepse1 é a principal das desvantagens associadas a esse tipo de acesso. Dados da literatura descrevem uma incidência de 5% a 10% de efeitos adversos após disposição de uma linha venosa central.” (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 25). Existem determinadas situações que contraindicam a punção do sistema venoso central: estado de hipocoagulabilidade, deformidade torácica, enfisema pulmonar acentuado, cirurgia ou irradiação prévia da região cervical, assistência ventilatória com pressão positiva e choque hipovolêmico grave (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 26). 6.5 Componentes da nutrição parenteral As soluções de NP são formulações que englobam fontes calóricas destinadas ao fornecimento de energia para o organismo (carboidrato e gordura), fontes de nitrogênio (proteína), eletrólitos, elementos-traços, vitaminas e água. Tais nutrientes devem ser prescritos conforme objetivo específico da NP, situação clínico-nutricional, diagnóstico do paciente, presença de comorbidades, balanço hidroeletrolítico e estado ácido-base (CALIXTO- LIMA et al., 2010, p. 37). 1 Sepse pode ser definida como a resposta sistêmica a um agente infeccioso identificável (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2008, p. 1012) . Em virtude da via de administração da NP ser endove- nosa é necessário que esses componentes sejam com- patíveis com ela, ou seja, com o sangue. Dessa forma, os substratos devem ser solúveis em água, estéreis e apirogênicos, e apresentar-se na forma mais simplificada possível (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 37). - Proteínas: atualmente, as soluções-padrão de proteína comercialmente disponíveis são constitu- ídas por aminoácidos cristalinos essenciais e não essenciais, em concentrações que variam de 6,7% a 15%, disponíveis em frascos de vidros de 50ml, 100ml, 250ml 1.000ml e têm como características físico-químicas um pH de 5,5 a 6,5 e osmolaridade em torno de 900mOsm/L. as fórmulas disponíveis buscam composições que tenham aminoacidogra- ma semelhante a proteínas de alto valor biológico. Os produtos parenterais com aminoácidos po- dem ser divididos em dois grupos: formulação de aminoácidos-padrão, usado naqueles pacientes com necessidades nutricionais normais e sem al- terações na função orgânica e formulação de ami- noácidos modificados, utilizado em pacientes com doença renal ou hepática ou em pacientes pediátri- cos. São produtos com alto custo sem dados con- clusivos que confirmem sua eficácia, portanto sua utilização é feita de forma limitada (CALIXTO-LIMA et al.,2010, p. 39). A formulação comercialmente disponível para pa- cientes com doença hepática apresenta uma concen- tração mais elevada de aminoácidos ramificados e re- duzida em aminoácidos aromáticos, ao passo que a formulação para pacientes renais se constitui apenas de aminoácidos essenciais, sem nenhuma adição dos não essenciais (exceto a histidina, que na insuficiência renal é considerada um aminoácido essencial) (CALIX- TO-LIMA et al., 2010, p. 39). Classificação das soluções de aminoácidos (CA- LIXTO-LIMA et al., 2010, p. 39-40): Nutrição Enteral e Parenteral 27 • Soluções de aminoácidos a 10% e a 15% para pacientes adultos • Soluções de aminoácidos a 10% para neonatos ou pacientes pediátricos (podem apresentar sua composição baseada no per- fil do leite materno ou do cordão umbilical) • Soluções de aminoácidos a 8% enri- quecidas com aminoácidos de cadeia ramifi- cada • Soluções de aminoácidos que variam de 6,7% a 7%, compostas somente por aminoácidos essenciais - Carboidratos: historicamente, várias fontes de carboidrato foram propostas para utilização na NP, como xilitol, sorbitol e frutose. Todavia, a glicose mo- noidratada é a que apresenta maior interesse prático na atualidade. Sua presença é essencial nas formula- ções parenterais, pois ocupa posição central no meta- bolismo energético do organismo, exerce efeito pou- pador de nitrogênio, é fundamental no metabolismo de alguns tecidos (SNC, leucócitos, hemácias), além de ser o substrato de maior disponibilidade comercial e menor custo (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 40). As soluções de glicose encontram-se disponíveis em ampolas plásticas de 10ml, em frascos ou bolsas plásticas de 100ml, 250ml, 500ml, 1.000ml e 2.000ml, com pH em torno de 3, em concentrações que va- riam de 5% a 70%. Cada grama de glicose utilizada fornece 3,4 calorias. As soluções de NP adequadas para serem administra- das por veia periférica necessitam ser pres- critas em baixas concentrações, geralmen- te 10% ou menos, devido a osmolaridade. A quantidade mínima de glicose requerida é de 100 a 150g, e a quantidade má- xima não deve ultrapassar 3mg/kg/min no paciente grave e 5mg/kg/min no paciente estável (taxas limítrofes para a oxidação plena no organismo). A administração ex- cessiva pode provocar hiperglicemia, anor- malidades hepáticas e aumento do esforço ventilatório, decorrente da produção exces- siva de dióxido de carbono (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 40). - Lipídeos: a emulsão lipídica (EL) é definida como uma dispersão de gotículas de óleo, com dimensões de, aproximadamente, 0,3µm de diâmetro, homoge- neizadas de forma a produzir uma dispersão segura para administração endovenosa. As ELs são usadas com dois objetivos principais: fornecer ácidos graxos essenciais e como parte da oferta calórica (CALIXTO- -LIMA et al., 2010, p. 41). Os produtos comercialmente disponíveis são fabricados em concentrações de 10% a 30% (sendo a EL a 30% indicada somente para fins de composição farmacêutica), em frascos de vidro de 50ml, 100ml e 500ml, com pH variando de 6,5 a 8,8 e osmolarida- de em torno de 273mOsm/L. São compostos de água, triglicerídios, emulsificante e um agente hipertonizante, geralmente o glicerol (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 41). • Emulsão lipídica a 10% (TCL): composta por óleo de soja (100%) • Emulsão lipídica a 20% (TCL): composta por óleo de soja (100%) • Emulsão lipídica a 20% (TCL): composta por óleo de oliva (20%) e óleo de soja (80%) Nutrição Enteral e Parenteral 28 • Emulsão lipídica a 10% (TCL/TCM): composta por óleo de soja (50%) e óleo de coco (50%) • Emulsão lipídica a 20% (TCL/TCM): composta por óleo de soja (50%) e óleo de coco (50%) • Emulsão lipídica a 20% (TCL/TCM): composta por óleo de soja (40%), óleo de coco (40%) e óleo de oliva (20%) • Emulsão lipídica a 20% (TCL/TCM): composta por óleo de soja (30%), óleo de coco (30%), óleo de oliva (25%) e óleo de peixe (15%) Como o triglicerídio é insolúvel em água, não pode ser administrado por via endovenosa, precisa ser emulsificado, ou seja, tornar- se hidrossolúvel pela ação de um agente emulsificador. Atualmente, a lecitina do ovo é o agente emulsificante mais utilizado nas EL. Diferente do óleo comum, que fornece 9kcal/g, a EL a 10% contribui com 1,1kcal/ml ou 11kcal/g, ao passo que a emulsão a 20% contém 2kcal/ml ou 10kcal/g. Isso porque a molécula de três carbonos (glicerol), quando oxidada, produz 4,3kcal (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 42). - Eletrólitos: na NP, é preciso adicionar diariamente eletrólitos em doses terapêuticas ou de manutenção para manter o equilíbrio osmótico e as funções celulares. Tais constituintes podem ser adicionados à solução em produtos que contenham um ou múltiplos eletrólitos. Assim, na deficiência de algum eletrólito específico, sua suplementação pode ser feita de modo independente da NP. (CALIXTO- LIMA et al., 2010, p. 43). Os eletrólitos das formulações de NP podem ser encontrados nas seguintes concentrações e apresentações (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 44): • Cloreto de sódio a 10%; cloreto de sódio a 17,55%; cloreto de sódio a 20%; cloreto de potássio a 10%; cloreto de potássio a 19,1%; acetato de sódio (1meq/ml); acetato de potássio (1meq/ml); gliconato de cálcio a 10%; sulfato de magnésio a 10%; sulfato de magnésio a 50%; fosfato de potássio (2meq/ml): todos em ampola com 10ml. • Glicerofosfato de sódio: ampola com 20ml. - Vitaminas: constituem componentes essenciais para o regime diário de um paciente em NP, pois são necessárias para o metabolismo normal e para a função celular do corpo. Nos casos em que o complexo vitamínico existente seja composto por 12 vitaminas, a vitamina K pode ser ofertada diariamente na dose de 0,5 a 1mg/dia ou uma vez por semana na dose 5 a 10mg/dia, separadamente da NP (CALIXTO-LIMA et al., 2000). - Oligoelementos: zinco, cobre, cromo, manganês, selênio: quando adicionados em doses convencionais à solução de NP não alteram sua estabilidade. A presença de Ferro (Fe) nos complexos de oligoelementos disponíveis para NP não é usual. As formulações disponíveis no mercado podem apresentar composição e concentrações variadas, encontradas na forma de complexos de oligoelementos ou isolada (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 47). - Fluidos: as necessidades de fluidos podem ser calculadas de duas maneiras: 30 a 49ml de água para cada kg de peso corporal por dia ou 1ml de água para cada 1kcal ofertada. As prescrições variam de 1,5 a 3l e podem exceder esse valor em situações clínicas específicas, como as observadas em pacientes em terapia intensiva (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 48). Nutrição Enteral e Parenteral 29 - Aditivos: apesar das formulações de NP representarem veículos potenciais de administração de medicamentos, sua natureza complexa possibilita a ocorrência de interações físico-químicas entre as combinações medicamentos-nutrientes. Quando houver necessidade da adição de medicamentos na NP, é necessário que seja realizada análise minuciosa dos componentes da formulação de NP e do medicamento em questão (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 48). 6.6 Sistemas de nutrição parenteral Em NP, o aporte de calorias não proteicas pode ser feito exclusivamente pela glicose ou por um substrato misto, constituído de glicose e lipídios. As soluções que contêm aminoácidos e glicose podem ser denominadas NP 2 em 1 ou sistema glicídico e apresentam a glicose como principal substrato energético utilizado. A associação de aminoácidos, glicose e lipídios em uma mesma formulação pode ser denominada NP 3 em 1 ou mistura de nutriente total (MNT), e a proporção calórica mais utilizada é de 70% de glicose e 30%, mas uma relação de 50% para 50% também pode ser utilizada (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 48) . Para assegurar o fornecimento de ácidos graxos essenciais, as formulações de NP glicídica são usadas em associação com emulsões lipídicas infundidas uma a duas vezes por semana, em separadodos outros nutrientes e das demais soluções. Nos últimos anos, acumularam-se evidências referentes a complicações mecânicas e infecciosas graves relacionadas a tal prática. A MNT é considerada metabolicamente mais balanceada, pois contém todos os nutrientes, além de tornar a administração da NP mais simples, reduzir a manipulação e o risco de contaminação. A redução da concentração da glicose ofertada leva à consequente diminuição da osmolaridade final da solução, permitindo sua infusão em veia periférica. Outros benefícios do aporte energético simultâneo de carboidrato e gordura: melhor tolerância por pacientes diabéticos; menor interferência na função hepática; prevenção de esteatose hepática e da deficiência de ácidos graxos; melhor função do sistema imunológico; diminuição do risco de sobrecarga hídrica e redução do estresse respiratório (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 48-49). 6.7 Métodos de infusão A infusão da solução de NP pode ser de forma contínua ou intermitente (cíclica): Bolsas com um componete Bolsaas com componentes combinados Misturas 2 em 1 Misturas 3 em 1 Aminoácidos x x X x Glicose x Lipídio x x x Fonte: adaptado de Calixto-Lima et al. (2010, p. 49). Quadro 14 – Sistemas de nutrição parenteral Nutrição Enteral e Parenteral 30 Nutrição parenteral contínua: a solução é infundida de forma ininterrupta, em 24 horas, não permitindo qualquer período pós-prandial, ou seja, o metabolismo do paciente é mantido em uma modalidade de armazenamento de nutrientes que inibe a situação metabólica na qual esses nutrientes armazenados seriam redistribuídos. Nutrição parenteral cíclica: a NP é administrada de forma intermitente, por períodos de 8 a 12 horas, geralmente à noite, para permitir um período livre de 12 a 16 horas durante o dia, possibilitando, assim, melhor qualidade de vida ao paciente. Essa forma intermitente de administrar NP foi originalmente desenvolvida para pacientes em regime de NP domiciliar. É contraindicada na presença de intolerância à glicose ou líquidos. Para melhor controle metabólico, é recomendado o uso de bomba de infusão para administração da NP, independentemente do método de infusão (CALIXTO-LIMA et al., 2010, p. 74). 6.8 Complicações Complicações técnicas ou associadas ao cateter: pneumotórax; embolia gasosa; embolia por cateter; lesão do ducto torácico; localização inadequada do cateter e lesão arterial; trombose venosa; oclusão do acesso venoso e saída acidental do cateter. Complicações infecciosas: falta de cuidados na punção do acesso venoso e na higienização do local de inserção do cateter. Infecções relacionadas ao cateter, ao paciente e à formulação. Complicações metabólicas: hipoglicemia; hiperglicemia; hipercapnia; deficiência de ácidos graxos essenciais; hipertrigliceridemia; imunossupressão; síndrome de realimentação. Complicações gastrintestinais: alterações hepáticas; atrofia da mucosa gastrintestinal; gastrite e úlcera (CALIXTO-LIMA et al., 2000). 7 CASO CLÍNICO 7.1 Dados do paciente T. R. J., 61 anos, recebeu alta hospitalar há uma semana, após internação por ter sofrido um acidente vascular cerebral hemorrágico. Não tem conseguido se alimentar de forma adequada por via oral em função de comprometimento neurológico do mecanismo da deglutição - sequela da enfermidade. Paciente até então hígido, orientado e coerente. Foi indicada sonda nasoenteral para alimentação que foi passada há dois dias atrás. Paciente estava em uso da via oral, com alimentos líquidos e pastosos, entretanto teve episódios de tosse e desconforto. Devido ao risco de aspiração, a dieta via oral foi suspensa pelo médico. A esposa é a cuidadora e o paciente apresenta dificuldade de comunicação e deambulação. As despesas estão sendo cobertas pelos filhos do paciente. 7.2 Dados da avaliação nutricional Avaliação nutricional subjetiva global (ANSG): eutrofia. Esposa informa que o paciente não apresentou perda de peso até a ocorrência do episódio. Antropometria: PU (peso usual) = 75kg (esposa informou) / Altura recumbente = 178cm / IMC (PU - idosos) = 2Kg/m2 = Eutrofia Exames bioquímicos: somente hemograma, que está com os parâmetros normais. Outros exames ficaram no hospital. A esposa informa que o paciente não tem história de diabetes ou outra doença crônica, exceto uma hipertensão arterial sistêmica há muitos anos. Avaliação física: mucosas úmidas, coradas, pele com bom aspecto, sem lesões, petéquias ou escamações. Nutrição Enteral e Parenteral 31 Aspecto dos olhos, unhas e cabelos normais. Sem edema. Dificuldade para deambulação e necessidade de auxílio para higiene e alimentação. Massa gorda e muscular ainda preservadas. Eliminações normais, mas atualmente apresentando leve constipação e distensão abdominal com flatulência excessiva. Uso de droga anti-hipertensiva. 7.3 Prescrição dietética a) Cálculo das necessidades nutricionais – Necessidade hídrica: paciente sem necessidade de restrição hídrica e bem hidratado. Por isso a escolha de 1ml/kcal prescrita. – Necessidade energética: fórmula de bolso – stress moderado = 30kcal/kg. Assim, 30 x 75kg = 2.250kcal e 2.250ml de líquidos. – Necessidade proteica: stress moderado = 1,2g/ kg. Assim, 1,2 x 75kg = 90g. b) Seleção da via de acesso O ideal é que a sonda seja transpilórica para reduzir o risco de aspiração. Pelo prognóstico do paciente, talvez necessite de terapia nutricional de longo prazo, por isso deve-se discutir com o médico a possibilidade de uma estomia. c) Seleção do método de administração Método intermitente gravitacional. A alimentação intermitente é indicada para pacientes com esvaziamento gástrico normal e com NE domiciliar. Para administração do método intermitente em uma sonda transpilórica, a velocidade inicial de gotejamento não deve ultrapassar 60ml/h. d) Seleção da fórmula enteral Fórmula polimérica, pois o paciente sem comprometimento de digestão e absorção. Atenção à osmolaridade, pois as porções distais do TGI respondem melhor às formulações isosmolares. Entretanto, a administração lenta de dietas hiperosmolares pode ter boa tolerância mesmo nas porções pós-pilóricas. Densidade calórica: dieta normocalórica = 1,2kcal/ml. Dieta padrão. e) Determinação da dose e velocidade de administração GET = 2250kcal / DC = 1,2kcal/1ml Serão infundidos 1875ml de dieta Se for administrar com pausa noturna, descontar 6 horas noturnas das 24 horas do dia. Assim, 24 – 6 = 18 horas/3 = 6 frascos de dieta a cada 3 horas. Dividir a quantidade a ser infundida pelo número de vezes: 1875ml / 6 vezes ao dia = 312,5ml de dieta por frasco a cada 3h, podendo ser: às 6-9-12-15-18- 21h. Supondo que a dieta iniciará com administração por duas horas (uma hora de intervalo), dividir o volume do frasco por 2, para descobrir a medida de ml por hora. Assim, 312,5ml/2 = 156,25ml/h. Não se pode iniciar com este volume, portanto, no 1º dia iniciar com infusão de 60ml/h e avançar dia a dia até atingir a meta nutricional. Desta forma, dependendo da tolerância do paciente, em aproximadamente três dias (ou 72h) o paciente atinge a meta nutricional. Por fim, calcular o gotejamento. Se forem administrados 156, 25ml por hora: 156,25ml ------ 60min X ------ 1min Nutrição Enteral e Parenteral 32 X = 2,60ml/min Considerando que 1ml = 20 gotas: 1ml ----- 20 gotas 2,60ml ----- x x = 52 gotas/min – este deverá ser o gotejamento para que o paciente receba 156,25ml por hora no terceiro dia. Nutrição Enteral e Parenteral 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 272, de 08 de abril de 1998. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para a Terapia de Nutrição Parenteral. Brasília, 1998. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/ wcm/connect/d5fa69004745761c8411d43fbc4c6735/ PORTARIA_272_1988.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em 04 nov. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 63, de 06 de julho de 2000. Dispõe sobre o Regulamento Técnico
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