Prévia do material em texto
E-book 2 LÍNGUA INGLESA: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Márcia Bonamin Foto por www.slon.pics / Freepik http://www.slon.pics Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 O QUE É UM TEXTO? ���������������������������������4 Características dos Textos ��������������������������������������6 Intertextualidade ������������������������������������������������������9 TIPOS DE TEXTOS E GÊNEROS TEXTUAIS ����������������������������������������������������� 14 Tipologia Textual ��������������������������������������������������� 16 Gêneros textuais ��������������������������������������������������� 21 O processo da escrita ������������������������������������������� 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������29 2 INTRODUÇÃO Para podermos ler o mundo e nos expressarmos por meio da linguagem precisamos de um suporte adequado para que a comunicação seja efetivada� Sejam orais ou escritos, acadêmicos, técnicos, lite- rários, formais ou informais, moldamos as nossas mensagens através de textos� Aprender como um texto funciona em nosso tempo e cultura ajudará você a compreender melhor seus in- terlocutores, ao mesmo tempo em que permitirá que você transmita suas ideias de forma clara e eficiente. Neste módulo apresentaremos, inicialmente, os con- ceitos de texto e intertextualidade� Em seguida, você irá conhecer as diferentes classificações de texto, a noção de tipologia textual e, finalmente, a caracteri- zação de gênero textual� Bons estudos! 3 O QUE É UM TEXTO? Antes de abordarmos o assunto, reflita sobre essa questão: para você, qual dos exemplos abaixo pode- ria ser classificado como um texto? ● Uma história em quadrinhos (HQ) ● Um diário escrito por um adolescente ● Um livro ● Um poema ● Um filme ● Uma série de fotografias Pois é, quando pensamos em texto, comumente nos vêm à mente livros, revistas, artigos impressos ou on-line� O dicionário Michaelis corrobora essa ideia, definindo texto como “sequência de frases de um autor, em um documento, folheto, livro, etc�; redação original de uma obra escrita”� Mas, será que texto seria somente aquilo que nos é veiculado de forma impressa e escrita? Então, vol- tando à questão feita inicialmente, a resposta é: não� Consequentemente, todos aqueles itens mencio- nados podem ser considerados textos� Bem, para que possamos conceituá-los como tal, temos de nos apoiar em uma definição de texto na área de estudos linguísticos� Desse modo, entendemos texto como: 4 Figura 1: Revista em Quadrinhos. Fonte: Foto por Lena Rose / Unsplash. Um conjunto de material falado, escrito ou multimo- dal (imagens, emojis, pinturas, filmes, sinais) com sentido completo, cujo conteúdo transmitido pelo emissor seja compreendido pelo receptor� Figura 2: Outdoors. Fonte: Foto por Sebastian / Unsplash. 5 Muitos autores conceituam de forma semelhante a noção de texto, sendo que KOCH (2007) complemen- ta, afirmando que o sentido não pertence somente ao texto, mas ao que se é criado a partir dele, na interação emissor-receptor� Portanto, extrapolamos a visão de textos como algo somente escrito e distribuído em formato de livros, revistas ou jornais, sujeito a um único entendimen- to� Amplia-se essa perspectiva para novos meios e mídias, tais como filmes, pinturas, debates, etc. em que a interação propiciará a correta interpretação� Características dos Textos Em uma concepção mais abrangente da área de Linguística, podemos caracterizar os textos como: Verbais: são aqueles transmitidos por meio de pa- lavras, sejam eles orais ou escritos� Exemplo: uma conversa telefônica ou uma mensagem de texto via celular� Não verbais: são aqueles elaborados sem palavras, isto é, aqueles cuja mensagem é transmitida por intermédio de imagens (fotos, pinturas) ou meios sonoros (música, áudios)� Mistos: são aqueles que se caracterizam por ele- mentos verbais e multimodais (visuais, sonoros) tais como: quadrinhos, filmes, cartazes publicitários, etc. 6 Acrescente-se a esses, os textos digitais que podem mesclar todas essas características através dos hi- pertextos� Esses permitem uma leitura não linear, que podem ser acrescidos de vídeos, imagens, sons, além dos textos verbais� Observe este exemplo de um trecho da biografia de Martin Luther King Jr�, extraído da Wikipédia� Figura 3: Extrato da biografia de Martin Luther King Jr. Fonte: Wikipedia. Observe que nesse trecho todos os itens em azul são hiperlinks, ou seja, se você estiver conectado na internet, esses links remeterão a outros textos ver- bais (por exemplo: informações sobre o movimento dos direitos civis ou sobre Mahatma Gandhi) ou não verbais (o famoso discurso “I have a dream...”). Há também outra classificação, separando os tex- tos em: a) Literários ou Ficcionais: são aqueles com ca- racterísticas artísticas ou que transmitem histórias ficcionais, tais como: romances, poesias ou contos. 7 https://en.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther_King_Jr b) Não literários ou Não ficcionais: são aqueles que contêm informações verdadeiras, baseadas na vida real� Para ficar mais claro, colocamos lado a lado duas versões de um mesmo fato: a clonagem humana: o primeiro com uma abordagem jornalística (texto não ficcional) e o segundo extraído de um livro (texto ficcional): Texto 1 Texto 2 Texto Jornalístico Jornal Daily Mail de 21/10/2019 Extrato do Livro The Boys from Brazil, de Ira Levin – 1976, versão Kindle Chinese ‘have cloned 30 human embryos’ Chinese scientists have created at least 30 cloned human embryos as a source of cells for medical treatments, it was claimed last night� The research makes them leading conten- ders in the race towards human cloning� The scientists say they have harvested ‘stem cells’ from human em- bryos that were cloned from eggs donated by patients at a fertility clinic��� Fonte: https://www. dailymail.co.uk/health/ article-127836/Chinese- cloned-30-human- embryos.htm Fonte: https://www.dailymail.co.uk/he- alth/article-127836/Chinese-cloned-30- human-embryos.html. Acesso em: 20 out. 2019 e https://www.amazon.com/ gp/product/1605981303/ref=as_li_qf_ sp_asin_il_tl?ie=UTF8&tag=nybydmli- 8 http://amzn.to/2rQaRTB http://amzn.to/2rQaRTB https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.htm https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.htm https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.htm https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.htm https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.htm https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.html https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.html https://www.dailymail.co.uk/health/article-127836/Chinese-cloned-30-human-embryos.html Como você deve ter notado, o texto 1, jornalístico, (texto não ficcional) relata a clonagem de embriões humanos realizada por cientistas chineses� O mesmo tópico é abordado no romance (texto 2 – ficcional) de Ira Levin, “Os meninos do Brasil” (Boys from Brazil), que expõe uma história fictícia – criada a partir da imaginação de seu autor – sobre o nazismo e clona- gem humana� Repare que a linguagem jornalística é mais direta e objetiva, enquanto que o texto literário descreve locais e personagens de forma detalhada, com o objetivo de criar no leitor uma imagem mental mais fidedigna dos acontecimentos retratados. SAIBA MAIS Ficou curioso sobre a história do livro de Ira Levin: Meninos do Brasil? Então acesse este link para assistir ao filme em in- glês (1978), sem legendas� Ou este link para assistir ao filme dublado (requer registro gratuito no site). Intertextualidade O conceito do texto não é estável� Está sempre se transformando, especialmente por conta da evolução das tecnologias, resultando em novos meios para publicação e disseminação detextos� No passado, os textos eram geralmente apresentados como im- pressos em volumes, encadernados em forma livros� Atualmente, no entanto, é mais provável que as pes- 9 https://www.dailymotion.com/video/x3gatuu https://centralmovies.network/filmy.php?movie=16241#magelo-player soas encontrem textos no espaço digital, onde os materiais estão se tornando mais fluidos, de acordo com os linguistas Barton & Lee (2013), que afirmam: “Os textos não podem mais ser considerados fixos e estáveis. Eles são mais fluidos com as mudanças nas possibilidades das novas mídias� Além disso, estão se tornando cada vez mais multimodais e in- terativos� Os links entre textos são complexos [���] e a intertextualidade é comum on-line”� Então, o que é intertextualidade? Julia Kristeva (1969) foi a primeira pessoa a cunhar esse termo, na tentati- va de sintetizar a semiótica de Ferdinand de Saussure (esse autor estudou como os signos derivam seu significado dentro da estrutura de um texto) com o dialogismo de Bakhtin (teoria que sugere um contí- nuo diálogo com outras obras da literatura e autores)� Segundo a autora, quando os leitores estão diante de um novo texto, sempre recebem a influência de outros que já leram anteriormente� Quando um es- critor faz uso de outros textos enquanto elabora os seus, ele atribui camadas de significados ao seu tra- balho� Quando esse trabalho é lido à luz dos outros, confere-lhe um novo significado e interpretação. De acordo com Kristeva (1969), qualquer texto é cons- truído como um mosaico de citações, absorvendo e transformando o outro� Em suma, a intertextualidade se refere à sobreposi- ção de um texto verbal ou não verbal, a outro� Citando apenas alguns exemplos, temos: 10 a) Filmes: O filme Todo Mundo em Pânico II (2000), faz uma paródia de uma cena do filme O Sexto Sentido (1999)� Assim, quando o personagem do filme de 2000 diz “Eu vejo gente morta”, as pessoas que assistiram ao filme original (1999) em que essa frase foi dita, imediatamente se lembram da cena e conseguem entender a mensagem veiculada� b) Desenhos: O seriado Os Simpsons é recheado de intertextualidade, abordada em termos de sátira� Como exemplo, podemos citar a família imitando a famosa capa do álbum “Abbey Road” em que os Beatles cruzam aquela rua pela faixa de pedestre� Figura 4: Os Simpsons na Abbey Road. Fonte: https://faceintheblue. wordpress.com/2009/11/06/awesome-pictures-the-simpsons-do- -abbey-road. 11 c) Livros: ● Ulisses (1922), de James Joyce – uma nova ver- são da obra Odisseia, de Homero, agora passada na cidade de Dublin, na Irlanda� ● Leste do Eden (East of Eden, 1952), de John Steinbeck – uma nova versão do Genesis, passado no Vale de Salinas, na Califórnia� FIQUE ATENTO Um exemplo de Intertextualidade na literatura pode ser encontrado em Senhor das Moscas (Lord of the Flies), de William Golding (1954)� O livro faz uma referência implícita ao livro A Ilha do Tesouro (Treasure Island), de Robert Louis Stevenson (1883), que trata de crianças perdi- das em uma ilha isolada (homem x natureza)� O livro também mantém intertextualidade com o romance A Ilha de Coral (The Coral Island: a tale of the Pacific Ocean), de R� M� Ballantyne (1858)� Esse romance é sobre três estudantes britânicos abandonados em uma ilha que demonstram bra- vura em uma série de aventuras e conquistas� Embora o livro de Golding mantenha intertextua- lidade com as duas obras, os seus personagens são bem diferentes: Stevenson e Ballantyne retra- tam crianças corajosas e aventureiras, as quais contrastam com os personagens de Golding que exibem covardia, egoísmo, sadismo e selvageria� 12 Suzanne Collins, autora dos Jogos Vorazes (Hun- ger Games, 2008) considera o Senhor das Mos- cas a principal influência de seu trabalho. Como os de Golding, seus personagens são jovens que entram em guerra entre si e lutam pela sobrevi- vência� Semelhantes aos romances clássicos de aventura, os livros de Collins detalham as ma- neiras pelas quais seus personagens superam a natureza para sobreviver a condições adversas e hostis� Nesse ponto, a autora também apresen- ta seus personagens como capazes de violência e crueldade, do mesmo modo que O Senhor das Moscas retrata os seus� O filme O Senhor das Moscas está disponível na in- ternet, legendado, podendo ser acessado neste link: Podcast 1 13 https://www.youtube.com/watch?v=9Br9RAXvioU https://famonline.instructure.com/files/919484/download?download_frd=1 TIPOS DE TEXTOS E GÊNEROS TEXTUAIS A comunicação por meio da linguagem é vital para o desenvolvimento da sociedade� Cada cultura uti- liza um conjunto de signos e símbolos – muitas ve- zes, de caráter universal – para transmitir e receber mensagens� Note que, em seu cotidiano, você está cercado de situações que envolvem a linguagem oral ou escrita, formal ou informal, que podem ocorrer no contexto familiar, acadêmico ou profissional. Para cada uma dessas situações você terá de adequar a forma e o conteúdo de sua linguagem, a fim de obter os resul- tados esperados� É a partir dessa perspectiva que surgiram os tipos e gêneros textuais� Eles são formas de linguagem que o falante ou escritor tem como base para a elabora- ção de seu discurso a fim de que alcance, de modo mais efetivo, o seu interlocutor� Aqui é importante traçarmos, inicialmente, uma dis- tinção entre aqueles dois conceitos� Em termos ge- rais, podemos dizer que a tipologia textual verifica o caráter interno da organização do texto, enquanto o gênero se ocupa da função que esse texto irá ocupar em determinada comunidade de fala� Analisemos um exemplo� Atente para as sentenças, a seguir: 14 Open the box Take the product out with care Turn the lid clockwise Pour 20g of the liquid in a small cup Observando somente as sentenças, ou seja, os as- pectos internos desse texto, podemos notar se tratar de uma série de instruções. De fato, trata-se de um tipo de texto instrutivo� Mas aí você se pergunta: como poderei nomear esse texto? Qual o seu propósito? Qual a sua função comunicativa? Figura 5: Livro de receitas. Fonte: Imagem por James Lee / Pixabay. 15 Figura 6: Manual de Instruções. Fonte: ResearchGate. Note que esse texto poderia estar inserido em um grupo de gêneros que possuem a tipologia de ins- trução, além de poder receber outros tipos de texto em sua composição� Por exemplo, esse texto instrutivo poderia ser par- te de uma “Bula de Remédio”, de uma “Receita Culinária”, ou de um “Manual de Instruções de um produto”� Todos esses gêneros podem possuem tex- tos instrutivos� Mas, além deles, podem conter textos descritivos ou persuasivos, dentre outros� Tipologia Textual Podemos definir tipos de texto como estruturas léxico-gramaticais que se apresentam inseridas em padrões estruturais específicos. De modo geral, exis- 16 https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Captura-de-tela-do-Manual-de-instrucoes-do-Iphone-7_fig1_318076418 tem dois tipos principais de texto: factual e literário� A partir desses, existem muitos outros subtipos com definição mais restrita. Os tipos de texto factuais incluem descrição, narração, injunção (instrução), dissertação-exposição e dissertação-argumentação� Os tipos de texto literário incluem o narrativo, épico, dramático, dentre outros� SAIBA MAIS O site Skillswise possui uma série completa de tópicos com explicações, vídeos e exercícios so- bre a Tipologia Textual� Acesse este link� Para que fique mais claro, vamos saber um pouco mais sobre os tipos mais comuns de textos� Texto Descritivo – tem o objetivo de retratar ou ca- racterizar fatos ou pessoas, utilizando-se de adjetivos ou figuras de linguagem para esse fim. Exemplo: It was a sunny but cold day in late early December. But the weather would soon change into a granite grey, with little soft white flakes of snow coming from the sky. 17 https://www.bbc.co.uk/teach/skillswise/types-of-texts/z7g9f4j Figura 7: Textos. Fonte: Foto por Freepik. TextoNarrativo – apresenta uma história com perso- nagens que atuam em determinado tempo e espaço� Exemplo: John could not believe what he had just witnessed right in front of his eyes. His beloved wife, Jane, giving birth on the way to the hospital. Nesse exemplo, temos os personagens: John e sua esposa (beloved wife), indo para o hospital (espaço), sendo o tema da narrativa (história): o marido teste- munhando o parto de sua esposa antes de conseguir chegar ao hospital� Texto Injuntivo (Instrutivo) – tem o propósito de en- sinar como algo deve ser feito� Exemplo: First, place the eggs in a saucepan. Add enough water and heat the water for 10 minutes. 18 O uso do marcador discursivo (First) e do imperativo (Add) leva o leitor a perceber um sequenciamento típico de textos de instrução� Texto Dissertativo-Expositivo – Busca trazer infor- mações mais objetivas, utilizando exemplificações, enumerações, etc. para fazer comparações. Exemplo: Recent statistics show that children under 5 spent more than one semester on watching televi- sion. Psychologists say this could be bad for children’s regular development. Esse texto expõe uma ideia baseada em fatos (re- cent statistics; psychologists say...), a fim de fornecer maior credibilidade à sua exposição� Texto Dissertativo-Argumentativo – Tem objetivo de defender uma opinião ou um ponto de vista, utili- zando argumentos que suportem sua tese principal� Exemplo: Every year we see thousands of young peo- ple dying or developing cancer because of smoking. That’s why I strongly believe that tobacco related pro- ducts should be banned or be sold with extremely high taxes. O autor desse texto fornece seu entendimento pes- soal (I strongly believe...) e afirmações com base em generalizações (We see thousands of young people���), para dar apoio aos seus argumentos� 19 Os exemplos citados se referem a textos não ficcio- nais� Entretanto, é importante destacarmos que os romances literários – os quais, de modo geral, tem caráter narrativo – também utilizam de outros tipos textuais, especialmente a descrição, conforme você pode perceber nos trechos abaixo: a) Descrição do Vale das Salinas, presente no li- vro The East of Eden (O Leste do Eden), de John Steinbeck: The Salinas Valley is in Northern California. It is a long narrow swale between two ranges of mountains, and the Salinas River winds and twists up the center until it falls at last into Monterey Bay. b) Descrição do Vale do Rio Ebro, no livro Hills Like White Elephants (Colinas como Elefantes Brancos), de Ernest Hemingway: The hills across the valley of the Ebro were long and white. On this side there was no shade and no trees and the station was between two lines of rails in the sun. Close against the side of the station there was the warm shadow of the building and a curtain, made of strings of bamboo beads, hung across the open door into the bar, to keep out flies��� 20 Após essa abordagem geral sobre tipologia textual, é importante retomarmos conceituação de Marcuschi (2002, p� 24), que faz a ligação entre Texto e Gênero� Segundo esse autor, “o texto é uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual”� Sendo assim, podemos concluir que esses dois conceitos se complementam, sendo o gê- nero, o “portador” por assim dizer, dos tipos textuais. Para que nos aprofundemos um pouco mais no as- sunto, vamos conhecer melhor o conceito de gênero e sua aplicação? Gêneros textuais Gêneros textuais são estruturas linguísticas que cum- prem uma função social em nossa sociedade� Há várias linhas teóricas na abordagem do gênero, mas aqui ficaremos com a de Swales (1990, p. 58), pois seus estudos se voltam especialmente para a língua inglesa� Para esse autor, um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos propósitos comunicativos são partilhados pelos membros de determinada comunidade discursiva� Além disso, eles possuem uma estrutura retórica, conteúdo e linguagem específicos, reconhecidos pelos membros de determinada sociedade� Para que possamos identificar um gênero textual, precisamos saber sua função comunicativa, sua organização estrutural e seus aspectos léxico-gra- maticais� Eles podem ser orais, escritos ou ter ca- 21 racterísticas multimodais, como acontece com os gêneros digitais� Antes de detalharmos melhor, vamos colocar um desafio para você: Você conseguiria responder as perguntas que se- guem sobre o texto abaixo? a) Qual é o nome desse gênero? b) Como ele está organizado (quais são suas partes)? c) Existe um vocabulário específico que é utilizado? A - Good morning. How can I help you? B – I’d like to speak to Mr� Silva, please� A – I’m sorry, Mr� Santos isn’t in� Would you like to leave a message? B – No, thanks� I’ll call back later� A – Ok� Thank you for calling� Certamente você identificou esse texto como o gê- nero conversa telefônica (item “a”). Assim, se con- seguiu nomeá-lo, com certeza você sabe como ele é estruturado: contém pedido de informações; per- guntas e respostas (item “b”). Você também deve ter inferido qual a sua linguagem característica, tal como: How can I help you? (Como posso ajudar); I’d like to speak��� (Eu gostaria de falar...); I’ll call back later (ligo mais tarde)� 22 Note, também, que esse gênero apareceu somen- te com a invenção do telefone, e foi criado a partir da necessidade de comunicação da sociedade por aquele aparelho� Portanto, os gêneros são criados ou recriados para atender às demandas de determi- nada comunidade ou cultura� É assim que vemos, na atualidade, a variedade de gêneros que surgiram a partir do uso da internet, tais como chats, blogs, vlogs, fanfictions, wikis, etc. E por falar em gêneros digitais, que tal analisarmos um exemplo de mensagens de texto, trocadas por aplicativo de mensagens do telefone celular? Hi Deb. What’s up? Great Cleo. Lets go to the movies 2night? 😑 Sorry 2 bad. What happened? Lots of homework! 😫 Figura 8: Grupo de jovens enviando mensagens de texto. Fonte: Foto por rawpixel.com / Freepik. 23 Repare que esse gênero (mensagem de texto ele- trônica) simula uma conversa, mas, ao invés de ser intermediada pelo telefone, é realizada por meio di- gital� Entretanto, ela não é muito diferente de uma conversa telefônica, não é mesmo? Só que, devido aos novos meios de comunicação digital, é escrita; acrescida abreviações, além de ícones (linguagem não verbal), os quais, muitas vezes, substituem a linguagem oral� Podcast 2 E como os gêneros abrigam os tipos textuais? Observe no quadro, a seguir: Gêneros textuais compostos de tipologia narrativa Conto, Biografia, Fábula, Romance, Lenda, Novela, Carta Gêneros textuais compostos de tipologia descritiva Diário, Relato de viagem Gêneros textuais compostos de tipologia injuntiva Receita, Manual de instruções, Regras de jogo, Bula, Lista de compras Gêneros textuais compostos de tipologia dissertativa- argumentativa Artigo de opinião, Crônica, Editorial, Discurso Tabela 1: Gêneros que apresentam predominância de certo tipo tex- tual. Fonte: Adaptado de https://www.normaculta.com.br/generos- -textuais. 24 https://famonline.instructure.com/files/919485/download?download_frd=1 https://www.normaculta.com.br/generos-textuais/ https://www.normaculta.com.br/generos-textuais/ Embora os gêneros descritos na tabela possuam, basicamente, uma tipologia textual predominante, grande parte dos gêneros pode conter um ou mais tipos de texto em sua composição� Que tal um exem- plo prático, no gênero Bula de Remédio? Esse gênero tem o objetivo comunicativo de instruir pacientes e médicos a administrar corretamente algum medicamento� Ele possui uma organização conhecida por seus usuários, que é composta basi- camente de: Apresentação do Produto, Posologia, Precauções e Efeitos Colaterais. O vocabulário tam- bém é típico, listando nomes de doenças, formas de apresentação (pílulas, comprimidos),números e me- didas (g, ml) e nome dos componentes da fórmula� O quadro abaixo relaciona algumas das partes que compõem a estrutura organizacional desse gênero e a tipologia textual que ele apresenta� Composição do Medicamento Tipologia Descritiva Priorix, powder and solvent for solution for injection in a pre-filled syringe� Measles, Mumps and Rubella vaccine (live) Apresentação do Produto Tipologia Dissertativo-Expositiva Priorix is a vaccine for use in children from 9 months up, ado- lescents and adults to protect them against illnesses caused by measles, mumps and rubella viruses� When a person is vaccinated with Priorix, the immune system (the body’s natural defense system) will make antibodies to protect the person from being infected by measles, mumps and rubella viruses� Although Priorix contains live viruses, they are too weak to cause measles, mumps or rubella in healthy people� 25 Precauções Tipologia Injuntiva (instrução) - If a tuberculin test is to be performed, it should be done either any time before, simultaneously with, or 6 weeks after vaccina- tion with Priorix� - If you are pregnant or breast-feeding, think you may be pregnant or are planning to have a baby, ask your doctor or pharmacist for advice� - Tell your doctor if you are taking, have recently taken or might take any other medicines (or other vaccines)� Tabela 2: Bula do remédio Priorix. Fonte: Adaptado de https://www. medicines.org.uk/emc/files/pil.1159.pdf. Como você pode perceber, esse gênero (bula de me- dicamento) possui suas partes (organização estru- tural ou retórica) com tipologia textual diversificada. A parte “Composição do Medicamento” detalha os componentes da fórmula e, para tanto, apresenta uma tipologia descritiva. A parte “Apresentação do Produto”, que contém explicações mais detalhadas, usa a tipologia dissertativo-expositiva� Finalmente, a parte “Precauções” compreende a tipologia injuntiva, pois visa a instruir e/ou alertar o usuário sobre o uso e os cuidados na administração do medicamento� Do mesmo modo que o gênero bula, outros gêneros também são compostos de vários tipos de texto� Um relato de viagem, por exemplo, pode conter, além da descrição dos locais visitados, a narração de uma experiência vivida� Uma sinopse, além de descrever o enredo de um filme, também pode possuir algum elemento avaliativo, que é característico da tipologia dissertativo-argumentativa� 26 https://www.medicines.org.uk/emc/files/pil.1159.pdf https://www.medicines.org.uk/emc/files/pil.1159.pdf SAIBA MAIS Para se aprofundar no tópico Tipos Textuais não ficcionais e literários, assista ao vídeo do prof� Hother Andersen (em inglês), em que ele aborda o tópico com conceitos e exemplos� Disponível aqui O processo da escrita A elaboração de textos é algo que duas pessoas não fazem da mesma maneira. Não há “caminho certo” ou “caminho errado” para escrever. Pode ser um pro- cesso muito fluido ou seguido de vários rascunhos e alterações até se chegar ao produto final. Será que é preciso perspicácia e competência para ser um bom escritor? Alguma habilidade inata? Bem, se você pesquisar a biografia de grandes autores irá perceber que, além de talento, a vivência deles pode influenciar – e muito – a sua obra. Assim, a leitura constante, bem como suas experiên- cias pessoais podem ser de grande valia, podendo servir de inspiração para compor uma dissertação ou qualquer outro gênero que você queira elaborar� Além disso, há várias estratégias e abordagens teó- ricas que poderão auxiliá-lo no desenvolvimento de textos, tais como a abordagem por etapas ou a por modelos� 27 https://www.youtube.com/watch?v=yaCTth9O6YY&t=299s De qualquer modo, é importante ter em mente que a escrita é um processo de elaboração e reelaboração constante e, para tal, requer paciência, empenho e técnica� 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Texto, tipologia textual e gêneros textuais são con- ceitos distintos, mas complementares� O texto per- meia todos eles, pois é a partir dele que temos a materialização da linguagem por meio de diversos tipos e gêneros� É importante destacar que texto se refere às formas de linguagem oral, escrita ou digital� Signos, símbolos e ícones também são elementos de comunicação, mas fazem parte da linguagem não verbal� Para que a interpretação de um texto seja realizada de modo semelhante ou aproximada à intenção do autor, este tem de fazer uso de recursos estruturais que permitam o adequado desenvolvimento de sua história� Para isso, se apropriam dos tipos textuais, a fim de imprimir o efeito desejado. Contudo, tanto na leitura quanto na elaboração de textos deve sempre haver um diálogo entre escri- tor-leitor� Quando os escritores criam textos per- tencentes aos mais variados gêneros, eles têm de considerar sua audiência e ir ao encontro das suas expectativas, especialmente em textos não ficcionais. A literatura, embora alcance um público mais abran- gente, também tem seus leitores cativos; no entanto, se organiza de modo mais inconstante, dada a licen- ça poética� Mesmo assim, ela segue determinados padrões estilísticos, caso a história seja de aventura, romance, ficção, terror, etc. 29 Enfim, se quisermos ser leitores ou escritores efi- cazes, temos de atentar aos padrões em que se configuram os textos para que possamos atingir adequadamente nossos propósitos e atender as perspectivas de nossa audiência� 30 SÍNTESE Sobreposição de um texto verbal ou não verbal a outro Um conjunto de material falado, escrito ou multimodal com sentido completo, cujo conteúdo transmitido pelo emissor, seja compreendido pelo receptor� • Texto verbal: oral ou escrito, transmitido através da linguagem • Texto não verbal: elaborado através de imagens ou sons • Textos mistos: caracterizados pela multimodalização INTERTEXTUALIDADE • Tipologia Textual Estruturas léxico-gramaticais que se configuram em padrões estruturais específicos – Tipos de Textos: factuais e literários – Subtipos: descrição, narração, injunção (instrução), dissertação e argumentação TIPOS DE TEXTOS E GÊNEROS TEXTUAIS Estruturas linguísticas que cumprem uma função social em nossa sociedade Podem conter um ou vários tipos de texto� GÊNEROS TEXTUAIS O QUE É UM TEXTO O texto: Gêneros e tipologias textuais LÍNGUA INGLESA: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Referências Bibliográficas & Consultadas BARTON, D�; LEE, C� Language online: investigating digital texts and practices� Abingdon: Routledge, 2013� BONAMIN, M� C� et al� Textos fundamentais de fic- ção em língua inglesa� Porto Alegre: Sagah, 2018� [Minha Biblioteca] BONAMIN, M� C� et al� Oficina de textos em in- glês avançado� Porto Alegre: Sagah, 2018� [Minha biblioteca] BRASIL ESCOLA� O que é um texto� Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/ portugues/o-que-e-um-texto.htm� Acesso em: 25 out� 2019� CARRELL, P� L�; DEVINE, J�; ESKEY, D� E� Interactive approaches to second language reading� New York: Cambridge University Press, 1998� ESCOBAR, A� Hyperlink: teacher book 1� São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013� [Biblioteca Virtual] https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-um-texto.htm https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-um-texto.htm ESCOBAR, A� Hyperlink: teacher book 2� São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014� [Biblioteca Virtual] FINBOW, T� D� (Org�)� Gramática histórica da língua inglesa� São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017� [Biblioteca Virtual] KOCH, I� G� V� O texto e a construção dos sentidos� 9� ed� São Paulo: Contexto, 2007� KRISTEVA, J� Introdução à semanálise� São Paulo: Perspectiva, 1969� LAPKOSKI, G� A� O� Do texto ao sentido e prática de leitura em língua inglesa� Curitiba: InterSaberes, 2012� [Biblioteca Virtual] LIBERALI, F� C� (Org�)� Inglês: linguagem em ativida- des sociais� São Paulo: Bluncher, 2018� [Biblioteca Virtual] LIMA, T� C� S� Língua estrangeira moderna: inglês� Curitiba: InterSaberes, 2016�[Biblioteca Virtual] MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade� In: Gêneros textuais & ensino� Rio de Janeiro: Lucerna, 2002� SILVA, T� C� Pronúncia do inglês: para falantes do português brasileiro� São Paulo: Contexto, 2012� [Biblioteca Virtual] SWALES, J� M� Genre analysis: English in acade- mic and research settings� Cambridge; New York: Cambridge University Press, 1990� WALESKO, A� M� H� Compreensão oral em língua inglesa� Curitiba: InterSaberes, 2012� [Biblioteca Virtual] Introdução O que é um Texto? Características dos Textos Intertextualidade Tipos de Textos e Gêneros Textuais Tipologia Textual Gêneros textuais O processo da escrita Considerações finais