Prévia do material em texto
PRÁTICAS PSICOMOTORAS UNIASSELVI-PÓS Autoria: Vandrize Meneghini Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M541p Meneghini, Vandrize Práticas psicomotoras. / Vandrize Meneghini. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 124 p.; il. ISBN 978-65-5646-254-7 ISBN Digital 978-65-5646-255-4 1. Psicomotricidade. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 152 Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................07 CAPÍTULO 1 A Psicomotricidade e Seus Elementos Básicos .......................7 CAPÍTULO 2 Atuação Docente e as Práticas Psicomotoras ......................43 CAPÍTULO 3 Práticas da Psicomotricidade ..................................................85 APRESENTAÇÃO Prezado aluno, este livro foi desenvolvido com os objetivos de prover bases teóricas para a atuação profissional e contribuir para ampliar o leque de possibilidades na prática psicomotora. As práticas psicomotoras podem ser desenvolvidas em contextos educacionais e de reabilitação, sob a responsabilidade de profissionais de educação física, pedagogos, fisioterapeutas, psicoterapeutas, entre outros. Essas práticas impactam positivamente o desenvolvimento de crianças, mas também podem ser utilizadas para terapia em jovens, adultos e idosos. Esta disciplina está dividida em três capítulos que contemplam objetivos do saber e do fazer. No Capítulo 1, conheceremos um pouco da história da psicomotricidade, quem foram seus principais estudiosos, como ocorreu a evolução da área de estudo e qual a sua importância. Você descobrirá os elementos básicos que compõem a psicomotricidade e suas principais características. Além disso, discutiremos o papel dos pais no desenvolvimento dos seus filhos e como eles podem atuar conjuntamente com professores e terapeutas. A atuação docente nas práticas psicomotoras é tema central do Capítulo 2. Nele serão abordados tópicos relacionados ao papel do professor e sua contribuição, por meio das práticas psicomotoras, para o desenvolvimento integral da criança. Discutiremos a importância da avaliação para o direcionamento das práticas psicomotoras e o potencial das atividades recreativas no desenvolvimento dos escolares. Finalmente, no Capítulo 3, abordaremos as diferenças e principais características dos tipos de prática psicomotora. Você observará as aplicações das práticas psicomotoras educacionais e terapêuticas. Além disso, discutiremos como as práticas esportivas se encaixam nesse contexto e sua importância para o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas e psicológicas. Preparamos esse material com atenção e carinho, buscando fontes de conhecimento que possam enriquecer seu ambiente de trabalho. Para quem já atua na área, esperamos que este livro traga a fundamentação teórica necessária para o melhor entendimento do desenvolvimento das crianças, adultos e idosos. As atividades práticas e brincadeiras sugeridas foram escolhidas com cuidado para se aproximarem da realidade de professores, apresentando brincadeiras clássicas e outras menos conhecidas, que permitam a criação, a inovação e a ludicidade para as crianças. Ao longo da disciplina, aproveite as sugestões de leitura para enriquecer ainda mais o seu conhecimento e responda às questões para fixar melhor o conteúdo. Você já é um profissional diferenciado por chegar até aqui! CAPÍTULO 1 A Psicomotricidade e Seus Elementos Básicos A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Conhecer o que é a psicomotricidade. • Caracterizar os elementos básicos da psicomotricidade, dentre eles: organização espaço-temporal, esquema e imagem corporal. • Discutir o papel dos pais no desenvolvimento psicomotor de bebês e crianças. 8 Práticas Psicomotoras 9 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Para melhor entender o que é psicomotricidade, sua definição e os conceitos relacionados a ela, torna-se necessário compreender como esse termo surgiu e quem foram seus principais autores e estudiosos. A psicomotricidade sofreu influência de diversas áreas do conhecimento, como neurologia, psicologia e psicanálise. Essas áreas contribuíram para o entendimento de problemas de desenvolvimento infantil e também para a utilização das práticas psicomotoras como uma forma de tratamento. Ao longo deste capítulo, você vai observar que os elementos básicos da psicomotricidade são interligados e sua estruturação repercute nas próximas etapas de desenvolvimento de bebês, crianças e adolescentes. Os elementos apresentados neste material são: tônus, esquema corporal, estruturação espaço- temporal, equilíbrio, ritmo, coordenação motora ampla ou global, coordenação motora fina e lateralidade. A educação da criança começa desde seu nascimento, com seus pais reconhecendo-a como sujeito com identidade própria, desejos, emoções e sentimentos. Além dos profissionais que trabalham com embasamento na psicomotricidade, os pais têm papel fundamental em propiciar diferentes estímulos que contribuem para o desenvolvimento psicomotor de bebês e crianças. Destaca- se que esses pais também necessitam de orientação para o desenvolvimento de atividades adequadas e significativas para o enriquecimento motor e emocional- afetivo de seus filhos. A seguir, apresentamos a você, acadêmico, um pouco da história da psicomotricidade, os elementos básicos que compõem a prática psicomotora e o papel dos pais no desenvolvimento de bebês e crianças. 2 O QUE É A PSICOMOTRICIDADE? Para entender melhor a ciência da psicomotricidade, sua definição e os conceitos relacionados a ela, torna-se necessário compreender como esse termo surgiu e quem foram seus autores e estudiosos. A seguir, apresentamos um pouco da história da psicomotricidade. 10 Práticas Psicomotoras 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS O berço da psicomotricidade foi a França, no entanto, foi Karl Wernick, neuropsiquiatra austríaco, a primeira pessoa a utilizar esse termo em um discurso (em 1870). Nessa época, a psicomotricidade objetivava avançar o modelo anátomo-clínico na abrangência de doenças. No modelo anátomo-clínico, a medicina se preocupava com a descrição do corpo e das doenças (CAMARGO JUNIOR, 1992). A partir de 1907, importantes contribuições foram feitas por Ernest Dupré, psiquiatra francês, que iniciou o estudo da psicomotricidade na criança e foi responsável pela conceituação do termo e pelos estudos na área de debilidade psicomotora e suas relações com a deficiência mental. A partir daí surgiram os primeiros estudos e reflexões sobre o movimento humano. Mais tarde, em 1925, Henri Wallon, desenvolveu trabalhos importantes relacionando o movimento corporal com a emoção e a estruturação do caráter e considerando o movimento como a primeira forma de interação com o meio (MORIZOT, 2018). Outros nomes destacaram-se por suas contribuições na área da psicomotricidade, principalmente após a década de 1930, dentre eles (MORIZOT, 2018; BUENO, 1998): • Georges Heuer: utilizou o termo psicomotricidade para constituir a relaçãoentre desenvolvimento motor, inteligência e afetividade. • Edoard Guilmain: desenvolveu um exame psicomotor com o intuito de diagnóstico, de indicação terapêutica e de prognóstico visando as perspectivas de Wallon. Com relação à terapêutica psicomotora, Guilmain fez uma proposta de tratamento utilizando exercícios de atenção, educação sensorial e trabalhos manuais. • Jean Piaget: teve contribuições baseadas na psicologia e biologia, com a organização das fases de desenvolvimento corporal, cognitivo, afetivo e social. Seu trabalho foi centrado na compreensão da inteligência e influência do movimento na formação dela. Além disso, Piaget “estabeleceu que o desenvolvimento cognitivo se processa por uma sequência, de acordo com os períodos ou estágios do desenvolvimento, em que cada um é explicação do anterior e preparatório para o seguinte” (BUENO, 1998, p. 28). • Gesell: por meio da observação descritiva, Gesell procurou determinar as alterações evolutivas com a idade cronológica, produzindo, assim, uma escala de desenvolvimento vinculado às faixas etárias. Em 1947 começou o segundo período na evolução da psicomotricidade, com um novo olhar sobre o corpo e o movimento. Essa ciência passa a ser vista 11 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 como a atividade de um organismo total, que está relacionado com o afeto e os sentimentos. As técnicas reeducativas direcionadas aos comprometimentos psicomotores surgiram um pouco mais tarde, juntamente com a elaboração de uma nova descrição da abordagem terapêutica. Essa abordagem incluía exame psicomotor, métodos e técnicas adaptados aos mais diversos transtornos. Nesse período, também foram definidos os grandes eixos da psicomotricidade, destacados na figura a seguir (MORIZOT, 2018). FIGURA 1 – GRANDES EIXOS DA PSICOMOTRICIDADE FONTE: Adaptado de Morizot (2018) Em 1963, ocorreu a oficialização da psicomotricidade como uma nova especialidade, por meio da certificação conferida pelo Hospital Henri Rouselle. A partir dos anos de 1970, diversos autores contribuíram com suas pesquisas na área da psicanálise, além das contribuições dos pós-freudianos. A psicanálise fortaleceu a importância do conceito de relação e transferência na psicomotricidade, com autores como Jean Bergès, René Diatkine, Lebovici, Launay e Jolivet. E contribuiu para a concepção e estudo do esquema corporal. A psicanálise complementou a visão da psicomotricidade incluindo a discussão de termos como fantasmas e projeções, por exemplo, o que desviou a utilização unicamente instrumental e funcional das atividades corporais. Vale destacar também os autores: André Lapierre, Bernard Aucouturier, Jean Le Boulch e Pierre Vayer pelas suas contribuições advindas de métodos da educação física; e, François e Desobeau, Iann Beltz, Huguette Bucher, Germaine Rossel, Françoise Geromini e Giselle Soubiran pelo desenvolvimento de técnicas e métodos na abordagem específica da terapia psicomotora. O enfoque neurológico 12 Práticas Psicomotoras foi dado por Dupré; o psicológico, por Wallon; o pedagógico- reeducativo, por Guilmain e a epistemologia genética por Jean Piaget. Nesse cenário, foi fundada a Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora na Bélgica, em 1974 (MORIZOT, 2018). A contribuição de Jean Le Boulch se deu por meio da psicocinética. O autor preconizava a utilização da psicomotricidade como uma forma de prevenir os distúrbios de aprendizagem, eliminando o aspecto competitivo da educação física e incluindo exercícios de conscientização corporal, equilíbrio e socialização, por exemplo. Mais tarde, surge a psicomotricidade relacional, fundamentada por Lapierre e Autocoutourier, que destaca a psicomotricidade como uma motricidade da relação, entendendo que a relação com você mesmo antecedia a relação com o outro (BARRETO, 2000). Práticas psicomotoras são compostas de atividades, exercícios, brincadeiras ou jogos, desenvolvidas por um profissional (professor, psicomotricista, terapeuta), a partir da análise, exame ou consulta prévia ao indivíduo, a fim de prevenir, educar e/ou reeducar aspectos do desenvolvimento psicomotor. Para Probst (2017, p. 28) A terapia psicomotora pode ser definida como um método ou tratamento que utiliza o corpo e o movimento como um direcionador de sua abordagem. O profissional deve realizar um exame psicomotor metódico e a consulta com o paciente, para depois tentar alcançar os objetivos formulados que são relevantes para os problemas do paciente. Essa definição se refere mais à estrutura do que ao conteúdo da terapia psicomotora. No Brasil, a história da psicomotricidade iniciou por volta de 1960, quando esse termo foi trazido por profissionais que retornavam de formação acadêmica na Europa. Aqui, as práticas eram empregadas em hospitais, escolas e instituições de atendimento a pessoas com deficiência. Aos poucos, a psicomotricidade foi incluída como disciplina de outros cursos nas áreas da Educação e Saúde, e foram desenvolvidos cursos específicos de formação em terapias psicomotoras. O auge da psicomotricidade no Brasil foi na década de 1970, quando duas tendências se destacaram (MORIZOT, 2018, p. 1): [...] a) a generalista, na qual qualquer abordagem corporal nas áreas de educação ou reeducação era considerada prática Nesse cenário, foi fundada a Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora na Bélgica, em 1974 (MORIZOT, 2018). 13 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 psicomotora e, b) as correntes com aplicação de métodos ou linhas de trabalho resultante de cursos iniciais, que utilizavam os métodos Ramain, Le Boulch, Picq & Vayer, Hughette Bucher e Dalila Costallat. [...] Alguns profissionais optavam por um método eclético. Ecletismo traduzido por fragmentos de diversas correntes, via de regra, inserido nos atendimentos fonoaudiólogicos, pedagógicos ou psicológicos. Em abril de 1980, foi fundada a Sociedade Brasileira de Terapia Psicomotora, com sede no Rio de Janeiro. Trata-se de uma entidade de caráter técnico-cultural, tendo como objetivo a organização e apoio aos profissionais da área. Em 2005, a organização passou a se chamar Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP) e permanece com esse nome até hoje (ABP, 2020). Na página eletrônica da ABP, você pode conhecer um pouco mais sobre a história dessa instituição, além de informações de eventos, formações e material de estudo. Disponível em: <https:// psicomotricidade.com.br/>. 2.2 MAS O QUE É A PSICOMOTRICIDADE? A palavra psicomotricidade faz referência às palavras psique (lugar ou exercício das sensações, percepções, imagens, pensamentos, afetos, decisões, ...) e motricidade (a função motriz é a resultante das atividades de diversos sistemas que se superpõem ao arco reflexo segmentar ou supra medular) (CHAZAUD, 1987). A psicomotricidade é uma área de conhecimento que abrange e é subsidiada por outras áreas, dentre elas: psicologia, linguística, pedagogia, neurologia, educação física e psicanálise. A ABP (2020, s.p.) define a psicomotricidade como: [...] uma ciência que tem como objetivo, o estudo do homem através do seu corpo em movimento, em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo 14 Práticas Psicomotoras é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade e sua socialização. De acordo com a autora Bueno (1998), a psicomotricidade é uma ciência relativamente nova que tem o homem como seu objeto de estudo, englobandoáreas educacionais, pedagógicas e de saúde. No começo do século XX, esse termo estava mais relacionado com o desenvolvimento motor da criança. Com o passar do tempo, os temas ficaram mais abrangentes, incluindo a relação entre gesto, comunicação, afetividade e os problemas motores. Assim, o atraso no desenvolvimento intelectual e motor, e o desenvolvimento de habilidade manual e de aptidões motoras em função da idade ganharam espaço no estudo da psicomotricidade. Nesse contexto, houve a expansão do campo de estudo e o envolvimento de profissionais das áreas da psicologia, neurologia, social, emocional e motora. Para Chazaud (1987, p. 11), “a psicomotricidade é, inicialmente, uma determinada organização funcional da conduta e da ação; correlatamente, é um certo tipo de prática da reabilitação gestual”. O autor ainda cita que a psicomotricidade pode ser analisada por dois pontos de vista: o do organismo e enquanto campo de uma prática. No primeiro, é apontada a complexidade dessa função e sua relação com a dimensão da integração. No segundo, observa-se que os exercícios realizados nas sessões de práticas psicomotoras são dinâmicos e ilimitados, sendo que as regras apenas dão suporte para a criação deles. De acordo com Fonseca (1995), o desenvolvimento psicomotor é considerado como um componente vital para desenvolvimento global da criança. A psicomotricidade pode ser dividida em três grandes áreas de atuação, também chamadas de vertentes da psicomotricidade, sendo elas: educação, terapia e reeducação (NEGRINE, 1987). A educação psicomotora pode ser dividida em funcional e relacional. 15 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 Terapia psico- motora Reeducação psicomotora Educação psi- comotora fun- cional ou psi- comotricidade funcional Educação psico- motora relacional ou psicomotrici- dade relacional O que é? A terapia psi- comotora vai ocupar-se do tratamento de doenças ou condições psico- motoras, afetivas e/ou cognitivas. Conjunto de métodos e técnicas elab- orados para a reestruturação da motricidade, com o objetivo de ensinar a cri- ança como ex- ecutar determi- nadas funções motoras. Atividades mo- toras que acom- panham o desen- volvimento físico e emocional da criança. Desenvolver as potencialidades da criança, com foco nas relações, utili- zando a brincadei- ra como principal instrumento. Pra quem? Para indivíduos saudáveis ou portadores de deficiências físi- cas ou mentais que apresentam dificuldades de comunicação, de expressão corpo- ral e de vivência simbólica. Destinada a indivíduos que apresentam déficit psicomo- tor. Atendimento individualizado ou em grupo realizado em clínicas e esco- las, as atividades são baseadas na prescrição de exercícios. Atendimento indi- vidualizado ou em grupo realizado em clínicas e es- colas, atividades baseadas no jogo espontâneo e simbólico. Onde ocorre? Em clínicas, hos- pital psiquiátrico, grupos de ajuda psicopedagógica ou centro médico pedagógico. Instituições, ambulatórios e escolas espe- ciais. Escolas, creches e atividades es- portivas. Escolas, creches e atividades es- portivas. Quem tra- balha? Profissionais de áreas afins e psicólogos com especialização em psicomotrici- dade. Psicomotricista, fonoaudiólogo, fisioterapeutas e pedagogos. Professores, professores de educação física, psicomotricistas e fonoaudiólogos. Professores, professores de educação física, psicomotricistas e fonoaudiólogos. QUADRO 1 – VERTENTES DA PSICOMOTRICIDADE FONTE: Adaptado de Negrine (1987) 16 Práticas Psicomotoras Para Fonseca (1987) e Le Boulch (1983), o objetivo das atividades de educação psicomotora é possibilitar a ativação dos seguintes processos: • Perceber estímulos sensoriais, que permitam discriminar partes do próprio corpo e exercer o controle sobre elas. • Experienciar o corpo como um todo e, a partir disso, relacionar-se com os outros e os objetos. • Vivenciar a organização espaço-temporal por meio da interação do próprio corpo com o mundo. • Experimentar situações de estímulo para o bom desenvolvimento de habilidades básicas como o cálculo, a escrita e a leitura. • Conhecer diferentes estímulos de tensão e relaxamento, para melhor ajuste do tônus muscular. • Ter uma experiência de melhor imagem corporal a fim de buscar o equilíbrio psicossomático. 2.3 PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL A psicomotricidade relacional foi idealizada por Aucoutourier e Lapierre (1986), a partir de uma abordagem dialética entre o pensamento e a ação. As concepções teóricas são esboçadas durante o curso das ações, na relação com os indivíduos, sejam eles crianças, adultos ou idosos, com o confronto das experiências realizado a posteriori. Sua abordagem, de característica psicossomática, leva em consideração o movimento no seu aspecto qualitativo. Assim, o ser humano é considerado em sua unidade, como um corpo vivo, que age, pensa e reflete. A atuação ocorre sobre o ser humano em movimento e suas relações, evitando considerar apenas os sintomas (BARRETO, 2000). O termo psicossomático diz respeito à causa psíquica (mental) com efeito somático (físico). O trabalho do terapeuta, assim, deve ser sistemático e atuar sobre as condutas e não sobre os sintomas (BARRETO, 2000). Para Rischibieter et al. (1994), é necessário um trabalho centralizado nas relações interpessoais e na dimensão psicoafetiva da criança. Neste cenário, o papel de observador é imprescindível para analisar como a criança se comporta a partir dos objetos que são fornecidos a ela. Não existe a imposição de atividades, elas devem ser executadas de forma livre, expressiva e simbólica. O trabalho do terapeuta, assim, deve ser sistemático e atuar sobre as condutas e não sobre os sintomas (BARRETO, 2000). 17 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 2.4 PSICOCINÉTICA A educação psicomotora por meio do movimento é a base da psicocinética. Nessa abordagem, os movimentos, os gestos e as atitudes são os objetos de estudo e representam a face exterior da conduta (LE BOULCH, 1977). Para que os processos ocorram da melhor forma, é necessário que o desenvolvimento afetivo, motor e intelectual não sejam dissociados. Por isso, a estimulação global permite que a aprendizagem seja significativa e conceitual. A progressão da terapia deve levar em consideração diversos fatores para que a evolução seja adequada, conforme o quadro a seguir (FENSTERSEIFER, 1985). QUADRO 2 – PROGRESSÃO DAS ATIVIDADES Fator Início Progressão Complexidade Mais simples Mais complexo Intensidade Mais suave Mais intenso Incorporação de objetos Sem objetos Com objetos Número de pessoas envolvidas Movimento individual Movimento em grupo FONTE: Adaptado de Fensterseifer (1985) Conforme as etapas são vencidas, é possível partir para o próximo nível, respeitando o tempo de adaptação necessário para cada criança, seu acervo motor e memória muscular. Outro aspecto importante é permitir que as crianças trabalhem em grupo. 2.5 A TERAPIA PSICOMOTORA NA VISÃO PSIQUIÁTRICA A terapia psicomotora em saúde mental é centrada na pessoa e direcionada a crianças, adolescentes, adultos e idosos com problemas comuns e graves, agudos e crônicos de saúde mental. Os terapeutas psicomotores, que podem ser de diferentes áreas de formação, fornecem atividades de promoção da saúde, cuidados preventivos de saúde, tratamento e reabilitação para indivíduos e grupos, principalmente, em tratamento hospitalar (PROBST, 2017). O principal objetivo da terapia psicomotora é mostrar que o direcionamento das situações de movimento pode ter um efeito positivo psicológico, em habilidades cognitivas, perceptivas, afetivas e comportamentais. No primeiro 18 Práticas Psicomotoras estágio da terapia,é oferecido tratamento prioritariamente individualizado, dependendo dos problemas que o paciente apresenta. Em uma fase posterior, são propostas atividades em grupo e interativas. Com a terapia, espera-se estimular uma autoimagem positiva e bem-estar pessoal nas relações sociais equilibradas (PROBST, 2017). 1 Identifique os termos-chaves em cada definição de psicomotricidade e, em seguida, conceitue a psicomotricidade com suas próprias palavras. 2 Selecione dois estudiosos da psicomotricidade, pesquise e escreva as informações mais relevantes sobre a atuação e contribuição desses autores para a área. 3 OS ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE Nesta seção serão apresentados os elementos básicos da psicomotricidade de acordo com o quadro a seguir. QUADRO 3 – ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE TÔNUS ESQUEMA CORPORAL ESTRUTURAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL EQUILÍBRIO RITMO COORDENAÇÃO MOTORA AMPLA OU GLOBAL COORDENAÇÃO MOTORA FINA LATERALIDADE FONTE: O autor 19 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 3.1 TÔNUS O tônus muscular diz respeito à qualidade, condição ou ao estado parcial de contração (tensão elástica) de um músculo em repouso. Trata-se da ligeira contração dos músculos, permitindo acelerar o tempo de contração voluntária. O tônus se estabelece de forma lenta, mas é permanente, geralmente, está relacionado com a força muscular. A tonicidade muscular é muito importante na abordagem psicomotora, isso porque, é um fenômeno complexo que abrange diversos aspectos, tais como a participação em todos os outros elementos básicos. Ela atua sobre a coordenação motora fina e a global e facilita o equilíbrio postural, exigindo que cada postura seja dominada antes da execução de determinado gesto ou movimento e se modificando para se ajustar à nova postura. É indispensável como suporte na linguagem corporal; e, é um critério de definição da personalidade, pois varia de acordo com as características de inibição, instabilidade e extroversão (COSTE, 1978). O tônus tem origem no músculo, de natureza reflexa, com influências vindas do sistema nervoso central e regulado pelo cerebelo. O estado de contração depende também de impulsos nervosos inconscientes, como forma de proteção contra perigos (a tensão muscular aumenta quando uma pessoa é empurrada ou puxada, por exemplo). O tônus é específico para cada movimento, voluntário ou não, em cada atitude, postura e até mesmo no repouso. Existe uma variação entre a contração (tônus) e o relaxamento dos músculos do corpo, de acordo com os estímulos recebidos durante o dia e, até mesmo, durante o sono (onde os músculos conservam certa consistência e o tônus muscular persiste). Seja durante o sono ou em vigília, toda a postura ou atitude será influenciada pelo grau de contração (ou relaxamento) dos músculos (COSTE, 1978). A manutenção da postura está diretamente ligada com o tônus muscular, pois os músculos precisam manter uma contração parcial para a ação contra a gravidade. O controle da contração vai depender do nível de maturação (bebês têm menos controle do que adultos), da força muscular (pessoas mais fortes têm maior controle do que pessoas fracas) e das características psicomotoras do indivíduo. Cada postura exige um tônus muscular diferente e o ajuste do indivíduo à nova situação. A aprendizagem de novas habilidades só ocorrerá após o domínio O tônus muscular diz respeito à qualidade, condição ou ao estado parcial de contração (tensão elástica) de um músculo em repouso. 20 Práticas Psicomotoras da postura adequada: se a criança não consegue se manter na postura sentada adequadamente por falta de tônus muscular, ela terá dificuldades para executar as atividades de coordenação motora fina (BUENO, 1998). Dois tipos de disfunção tônica-postural são observados (BUENO, 1998): • Distonia de atitude: consiste em alterações posturais relacionadas à tensão muscular, resultando em movimentos rígidos (ex.: torcicolo). • Distonia neurovegetativa: está relacionada aos transtornos emocionais ou afetivos ocasionados pelo estado de hipotensão (ex.: problemas digestivos). O relaxamento ou descontração muscular é a outra face desse elemento básico da motricidade, e, torna-se um outro elemento possível de ser trabalhado na prática psicomotora. O relaxamento não é somente a falta de ação muscular, mas uma forma de comportamento tônico específico, visando a diminuição do tônus muscular quando este não necessita estar aumentado. As disfunções relacionadas à tonicidade podem ser: • Hipertonia: quando o tônus muscular é aumentado e a musculatura está rígida. • Hipotonia: ocorre quando a musculatura apresenta o tônus diminuído, também conhecida como flacidez. O tônus pode ser considerado um estado de atenção necessário para que haja harmonia dos movimentos e equilíbrio no organismo. A autora Costallat (1981) divide o tônus em muscular, afetivo e mental: • Tônus muscular: refere-se à tensão muscular de repouso ou de atividade, na execução do movimento. • Tônus afetivo: diz respeito ao estado de espírito, sendo que o indivíduo pode estar de bom ou mau humor. Nesse caso, a estabilidade do tônus repercute no equilíbrio emocional, já o desequilíbrio é desencadeado pela ausência de estabilidade emocional. • Tônus mental: é a capacidade de atenção naquele dado momento. A vontade de fazer determinada ação leva a fazê-la, enquanto a falta de vontade (negação) leva à apatia (falta de interesse). Com isso, a autora reforça a premissa de que o movimento é influenciado pelo comportamento humano, que se altera em cada indivíduo baseado nos estímulos e limitações do meio (COSTALLAT, 1981). 21 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 Outro aspecto importante é a manifestação das emoções que podem ser observadas e reagem pelo tônus muscular. Por exemplo: um estado de tensão muscular que vai aumentando, por causa de uma espera, pode se tornar em angústia e desencadear uma série de reações fisiológicas, como o aumento da frequência de respiratória e dos batimentos cardíacos. Outros exemplos de reação emocional são: a alteração do tônus quando percebemos que alguém entra na sala onde estamos, nosso nome é chamado por alguém ou quando temos medo de público. De acordo com Sherrington, toda e qualquer emoção tem sua origem no domínio postural (COSTE, 1978). Assim, observa-se que o estado emocional e suas alterações (angústia, depressão, hiperatividade etc.) estão intimamente ligados ao tônus. E a verdadeira comunicação só será possível com a maleabilidade nas relações afetivas, por meio do diálogo tônico-afetivo entre os indivíduos (BUENO, 1998). PRÁTICA E ATIVIDADES Tônus muscular • Atividades de força muscular em geral: como subir escadas, ficar em apoio de mãos, brincadeiras em barras suspensas. Relaxamento e descontração muscular • Relaxamento global: pedir que a criança, deitada, alterne entre ficar “dura” como um boneco de gelo e “mole” como quando o gelo derrete. • Relaxamento por segmento corporal: pode ser associado com a respiração, elevar e soltar os braços e as pernas (em pé, sentado e deitado); apertar as mãos, segurar por alguns instantes e soltar. 1 Descreva como o tônus é influenciado pelos aspectos emocionais. 22 Práticas Psicomotoras FIGURA 2 – ATIVIDADES DE TÔNUS MUSCULAR FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 3.2 ESQUEMA CORPORAL A estruturação do esquema corporal influencia no ajuste da criança ao meio, assegura a boa aquisição de noções de espaço e de tempo, assim como está relacionada ao controle motor adequado dos movimentos básicos (como sentar, levantar, andar etc.) e à alfabetização. Essa última se explica pelo exemplo a seguir: uma criança com deficiências no esquema corporal não coordena bem os movimentos e pode ter as habilidadesmanuais limitadas, a leitura perde a harmonia, o gesto vem após a palavra e o ritmo de leitura não é mantido, ou então, é paralisado no meio de uma palavra. A percepção do próprio corpo se dá pela relação que o indivíduo estabelece consigo mesmo e com o meio em que vive e depende da capacidade de receber e interpretar os estímulos (BARRETO, 2000). A organização do esquema corporal ocorre por meio das experiências do próprio corpo, tais como engatinhar, arrastar-se, andar, movimentos realizados em brincadeiras livres, jogos e com o relaxamento. Nesse contexto, estímulos táteis e auditivos também são fundamentais para o desenvolvimento dessa percepção. Ainda assim, é importante que esses estímulos sejam feitos de maneira lúdica. De maneira geral, pode-se dizer que o esquema corporal é um conhecimento intuitivo e sintético do próprio corpo (segmentos e articulações) e sua utilização. Na criança, a identificação gradual do próprio corpo ocorre por conta das manipulações no seu corpo que são feitas por outras pessoas. Depois, ela aprende a se movimentar por imitação, ou seja, vendo as outras pessoas se movimentarem. A experiência de reconhecer o próprio corpo por meio do “estágio De maneira geral, pode-se dizer que o esquema corporal é um conhecimento intuitivo e sintético do próprio corpo (segmentos e articulações) e sua utilização. 23 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 do espelho” ocorre a partir dos 18 meses. Trata-se de um conjunto de processos muito importantes que fazem parte dessa elaboração. Nesse período, a criança atinge o período das identificações sucessivas e ocorre, então, a conscientização progressiva do próprio corpo. No entanto, somente a partir dos três anos, a criança consegue distinguir-se do meio e construir sua própria personalidade (COSTE, 1978). Para Bueno (1998), uma boa estruturação do esquema corporal assegura a percepção e o controle do próprio corpo, a eficiência do equilíbrio postural, a definição da lateralidade, a independência e relação dentre as partes do corpo e o controle das pulsões e inibições referentes ao esquema corporal. PRÁTICA E ATIVIDADES • Identificar partes do próprio corpo humano. • Fazer autorretrato e retrato de colegas. • Montar partes de um boneco. • Perceber e nomear as partes do corpo em gravuras, desenhos e recortes. FIGURA 3 – ATIVIDADE RELACIONADA AO ESQUEMA CORPORAL FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 24 Práticas Psicomotoras 3.3 ESTRUTURAÇÃO ESPAÇO- TEMPORAL A capacidade de avaliar a relação entre espaço e tempo, assim como de realizar interpretações dando significado às sequências e durações, é conhecida como estruturação espaço-temporal. Ela permite que a criança se movimente e se reconheça no espaço, desenvolva uma sequência de gestos marcados por uma cadência, coordene suas atividades e organize a vida diária (COSTE, 1978). A estruturação espaço-temporal incorpora aspectos do tempo, do espaço, da distância e do ritmo. • Tempo: é a integração da duração, ordem e sucessão necessária para a organização temporal dos indivíduos. A adaptação a esse conceito depende do desenvolvimento do conjunto da personalidade (que deve ocorrer por volta dos 13-14 anos). A organização temporal está relacionada com a capacidade de perceber problemas na duração e na sequência de fenômenos, por exemplo: ao se situar no agora, o indivíduo é capaz de perceber o antes e o depois ou o passado e o futuro. Esse conceito deve ser, especialmente, trabalhado com os idosos e nesse caso, a dança expressiva pode auxiliar na organização do tempo (BARRETO, 2000). QUADRO 4 – ETAPAS DA AQUISIÇÃO DA TEMPORALIDADE A capacidade de avaliar a relação entre espaço e tempo, assim como de realizar interpretações dando significado às sequências e durações, é conhecida como estruturação espaço-temporal. Tarefa Idade (em anos) Reconhecer um dia da semana (domingo, segunda-feira) 4 Indicar o período do dia (manhã, tarde, noite) 5 Indicar o dia da semana 6 Indicar o mês 7 Indicar o ano 8 Indicar o dia do mês 8-9 Avaliar a duração de uma conversa 12 Indicar o horário 12 FONTE: Adaptado de Coste (1978) • Espaço: a percepção espacial abrange a percepção do mundo e tem como referência o nosso próprio corpo. Além disso, ela está presente em nossa vida em todas as fases. O entendimento da localização dos objetos em relação aos outros e a organização em função do espaço 25 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 são tarefas difíceis para as crianças. É preciso considerar que o mundo espacial da criança é construído juntamente com o seu desenvolvimento psicomotor. De acordo com Coste (1978), citando os trabalhos de Piaget, o desenvolvimento da percepção espacial pode ser dividido em: a) Percepção fragmentada: até os 4 meses, a criança tem somente a percepção fragmentada (de pedaços) do espaço (auditivo, tátil e visual) e apresenta dificuldade de relacionar eles. b) Coordenação óculo-manual: caracteriza-se pela etapa de preensão (capacidade de pegar objetos com a mão), em que a criança relaciona as diferentes características e posições dos objetos que a circundam no espaço (4-18 meses). c) Percepção projetiva do espaço: a representação espacial da criança avança para a identificação de conceitos, como alto, baixo, perto, longe (3-7 anos). A capacidade de projetar formas geométricas no espaço ocorre somente mais tarde (9-10 anos). • Distância: a partir dos sentidos (visão, audição e tato), é possível ter consciência e conhecimento do nosso espaço. E esse elemento deve ser entendido tanto no sentido físico (calculado em metros e centímetros) como no sentido afetivo (longe dos olhos, longe do coração). A avaliação da distância é fortemente influenciada pela cultura de um povo, assim como pelo grupo sociocultural. Ela também varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com a sua personalidade (o extrovertido fala alto e toca nas pessoas, o introvertido não suporta o contato e reprime os seus gestos). • Ritmo: este é um fator de organização e adaptação ao tempo. Os ritmos podem ser internos (batimentos cardíacos, ritmo respiratório) e externos, ligados à sucessão de eventos naturais (troca das estações, claro- escuro, dia-noite). PRÁTICA E ATIVIDADES • Jogo de amarelinha. • Caminhar/correr de um lado para o outro da sala, trocando de direção de acordo com um sinal sonoro. • Correr de um ponto a outro, pulando obstáculos ou seguindo o ritmo de uma música ou um som específico. • Receber e lançar uma bola com um colega. 26 Práticas Psicomotoras O sistema vestibular é responsável por detectar a posição da cabeça no espaço e mudanças de direção, sendo essas sensações relacionadas com o equilíbrio. Sua principal função é a manutenção do equilíbrio vertical para nos mantermos em posição ereta. Os órgãos que compõem o sistema vestibular estão localizados no ouvido interno (Figura 5). O sistema plantar é formado pelas estruturas que compõem o pé, dentre elas: músculos, ossos, tendões, ligamentos e ramificações FIGURA 4 – ATIVIDADE DE ESTRUTURAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 3.4 EQUILÍBRIO O equilíbrio é a base da coordenação motora global dinâmica e se dá pela transferência de peso, em relação a um espaço e um tempo. O sistema vestibular e o sistema plantar estão envolvidos no controle do equilíbrio. O equilíbrio é a base da coordenação motora global dinâmica e se dá pela transferência de peso, em relação a um espaço e um tempo. 27 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 nervosas. Essas estruturas são responsáveis pela manutenção do equilíbrio e da postura, bem como, pela realização de movimentosdo corpo (Figura 6). FIGURA 5 – SISTEMA VESTIBULAR FONTE: <http://canaldoouvido.blogspot.com/2013/07/como- funciona-o-ouvido.html>. Acesso em: 13 jun. 2020. FIGURA 6 – SISTEMA PLANTAR FONTE: <http://www.alvaroalaorpilates.com/2016/03/os-pes- nossa-base-de-suporte/>. Acesso em: 13 jun. 2020. 28 Práticas Psicomotoras O equilíbrio pode ser definido como estático ou dinâmico, sendo que o primeiro representa a habilidade de manutenção do corpo em uma mesma posição durante determinado tempo, em diversas situações (olhos fechados, apoio em um pé, sobre um plano inclinado etc.). Essa ação exige mais concentração e seu domínio implica no controle da postura corporal. Já o equilíbrio dinâmico caracteriza-se pela manutenção do corpo em movimento uniforme, com velocidade constante. A movimentação do centro de gravidade tende em aumentar a dificuldade de execução e exigir contrações compensatórias em cada movimento parcial, a fim de obter o movimento harmonioso, fluido e progressivo (WALLON, 1995). A caminhada é um tipo de atividade que exige equilíbrio dinâmico. As crianças que apresentam dificuldade de equilíbrio necessitam de mais energia e atenção para realizar os movimentos, posturas ou gestos. O equilíbrio exige bom desenvolvimento do esquema corporal e a integração dos sistemas neuropsicomotores. Sabe-se, também, que o equilíbrio é um componente imprescindível para o controle postural e este último é a base do sistema de controle motor, produzindo estabilidade e condições para o movimento, como a habilidade de assumir e manter a posição corporal desejada durante uma atividade quer seja essa estática ou dinâmica. O ajuste do controle postural é feito pelo cerebelo, fixando as reações posturais como automáticas a partir das experiências vividas. Os esquemas corporais de postura são inconscientes, porém, estão constantemente sendo adaptados às condições atuais de desenvolvimento. Ainda assim, seu desempenho pode ser afetado por razões psicológicas. PRÁTICA E ATIVIDADES • Andar com um copo cheio na mão. • Andar sobre um banco sueco virado. • Equilíbrio em um pé só. • Exercícios baseados na ginástica olímpica. 29 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 FIGURA 7 – ATIVIDADE DE EQUILÍBRIO FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 3.5 RITMO O ritmo se refere à velocidade, noção de duração e sucessão de ações ou movimentos. Uma criança com problemas na habilidade rítmica pode apresentar leitura lenta, silabada, com pontuação e entonação inadequadas. Com relação à grafia, pode apresentar a escrita de palavras unidas, adicionar ou omitir letras e sílabas. O ritmo é uma força inerente nas atividades do ser humano, manifestando- se como a sucessão de movimentos diferentes. O ritmo vital é caracterizado pela maneira como falamos, andamos e vivemos, estando ligado ao ritmo biológico e influenciado pelo meio em que vivemos. Os ritmos biológicos são divididos em: • Ultradiano: composto pelo ritmo das células cerebrais, do coração, da respiração, entre outras. • Circadiano: é o ritmo referente ao sono, metabolismo, fome e sede. • Infradiano: são os ritmos das modificações periódicas do organismo, como o ciclo menstrual, por exemplo. Ainda existe o ritmo psicológico, o qual exerce grande interferência no ciclo vital (BUENO, 1998). 30 Práticas Psicomotoras O ritmo também pode ser dividido como: • Externo: compreende a sucessão de eventos naturais (ritmo das estações, dos dias) e o conjunto dos fenômenos (claro-escuro, dia-noite). • Interno: composto por todos os ciclos biológicos vitais (ritmo da respiração, do sono). Dessa forma, a educação rítmica e gestual de base é necessária para o desenvolvimento da criança. Por meio do ritmo, a criança equilibra os processos de assimilação e acomodação, facilitando a adaptação dos valores e ideais humanos. Quando a criança consegue identificar os ritmos da marcha, dos saltos, da corrida, ela terá mais facilidade de acompanhar diferentes ritmos e conseguirá se familiarizar com a utilização de instrumentos sonoros. Para Bueno (1998), as atividades rítmicas devem, em um primeiro momento, objetivar a aquisição e aperfeiçoamento das noções básicas de regularidade, velocidade, duração, silêncio e acentuação, que permitem conseguir a percepção de estruturas de melodia ou de som mais complexas. Paralelamente, a criança deve entender o seu corpo como um instrumento de ritmo. Com o avanço da aprendizagem, será possível o desenvolvimento do próprio ritmo, que está relacionado com o aumento na capacidade de concentração e de aprendizagem, além de desenvolver a individualidade (BUENO, 1998). A sucessão de movimentos ritmados é mais eficiente (econômica) do que os movimentos fora de ritmo (mais cansativo), isso por causa da alternância entre tempos fortes e fracos. Esses tempos são representados na forma de esforços e relaxamentos, e chama a atenção da criança que precisa seguir o ritmo sugerido. O ritmo ajuda no controle dos movimentos, na flexibilidade, no relaxamento, na independência dos segmentos do corpo que são indispensáveis para a autonomia do sistema motor. A sincronização sensorial e motora, que é a capacidade de realização simultânea de uma ação motora coordenada com o estímulo externo, inicia a partir do primeiro ano de vida, mas só será adquirida completamente entre os 3 e 4 anos de idade, por isso é importante estimular as crianças com atividades rítmicas e musicais desde cedo (BUENO, 1998). Nas escolas, a utilização conjunta da música e de movimentos pode contribuir para a adaptação escolar das crianças, principalmente daquelas com dificuldades psicomotoras e inibição. Além disso, a liberdade de movimentos auxilia no Por meio do ritmo, a criança equilibra os processos de assimilação e acomodação, facilitando a adaptação dos valores e ideais humanos. 31 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 estímulo da imaginação e da criatividade, diminuindo a timidez e preparando o corpo para fala e para o ritmo. Neste aspecto, percebe-se a importância das cantigas de roda e dos brinquedos cantados (BARRETO, 1998). Além disso, a utilização da música está relacionada à sensação de prazer da criança ao deslocar o corpo no espaço, liberar as tensões, estruturar a lateralidade, melhorar a coordenação e o equilíbrio e estimular a percepção sinestésica (BARRETO, 2000). Nesse cenário, cabe ao profissional evitar os movimentos estereotipados e mecânicos, deixando as crianças livres para experimentarem os mais diversos ritmos, enriquecendo seu acervo motor. PRÁTICA E ATIVIDADES • Bater palmas acompanhando uma música. • Pular ou dançar seguindo um ritmo marcado; cantigas de roda. • Ensinar a criança a manusear instrumentos de percussão. • Dança da cadeira. FIGURA 8 – ATIVIDADE RÍTMICA FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 32 Práticas Psicomotoras 3.6 COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL (OU AMPLA) A coordenação motora global envolve a realização de movimentos ou deslocamentos com todo o corpo ou com grandes porções do corpo, realizados harmoniosamente. Ela permite a contração de grupos musculares diferentes de uma forma independente. Sua função é possibilitar a realização de movimentos relacionados a vários segmentos corporais, implicados em um gesto ou uma atitude, de maneira eficaz e econômica (ALVES, 1981; BUENO, 1998). De acordo com Alves (1981), a coordenação global pode ser: • Estática: realizada em repouso, onde o tônus muscular permite o controle voluntário da atitude, resultando no equilíbrio entre a ação dos músculos antagonistas; depende de um bom controle postural. As atividades de “estátua” e permanecer em um pé só são exemplos de equilíbrio estático. • Dinâmica: é a ação voluntária e simultânea de diferentes gruposmusculares visando a execução de determinado movimento. Essa ação compreende os movimentos simultâneos de membros superiores e inferiores, como correr, saltar, lançar; e automatização dos movimentos. A coordenação dos movimentos é feita principalmente pelas vias neurais do cerebelo. E a descoberta da possibilidade de movimentação resulta, entre outros sentimentos, na sensação de prazer da criança. Essa sensação incentiva, na criança, a possibilidade de independência sobre o meio. QUADRO 5 – DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E CAPACIDADE DE REALIZAÇÃO DE MOVIMENTOS A coordenação motora global envolve a realização de movimentos ou deslocamentos com todo o corpo ou com grandes porções do corpo, realizados harmoniosamente. Idade (em anos) Atividades recomendadas 3 - 4 Envolver a noção de amplitude de movimentos 5 Atividades de coordenação global de membros inferiores e superiores 6 Incluir movimentos dissociados de membros superiores e inferiores 7 - 8 Aperfeiçoar as habilidades adquiridas anterior- mente 9 Desenvolver a mecanização dos movimentos habituais e a aceleração natural dos movimentos 7 - 12 Período de desenvolvimento de valências física (força, velocidade, resistência, coordenação) FONTE: Adaptado de Bueno (1998) 33 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 PRÁTICA E ATIVIDADES • Exercícios educativos de corrida. • Saltar diferentes alturas e distâncias. • Subir/descer um espaldar. FIGURA 9 – ATIVIDADES REFERENTES À COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 3.7 COORDENAÇÃO MOTORA FINA A coordenação motora fina está relacionada à realização de movimentos específicos utilizando pequenos grupos musculares e que necessitam de habilidade na execução. Esse tipo de tarefa exige exatidão e precisão nos movimentos, tais como: recorte, perfuração, colagem e encaixe. Estão envolvidas na realização destes movimentos: • Coordenação visomotora: é a capacidade de coordenar os movimentos em relação a um alvo visual e envolve atividades como equilíbrio sobre traves, jogar e pegar uma bola e boliche (Figura 10). 34 Práticas Psicomotoras FIGURA 10 – BOLICHE FONTE:<http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. • Coordenação viso-manual: é a coordenação entre a visão e o tato, permitindo o controle exato do movimento para o objetivo (Figura 9). Os primeiros estímulos podem ser dados preparando a criança para a escrita, no entanto, eles devem ser variados e ir além dos estímulos gráficos. Nesse sentido, as atividades de desenho livre, de pintura e de colorir podem ser utilizadas para o desenvolvimento da coordenação viso-manual e preparam o aluno para a escrita. As atividades devem ser iniciadas pelo corpo inteiro e alcançar níveis de destreza, velocidade e precisão. FIGURA 11 – ESCRITA FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 35 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 • Coordenação músculo-facial: diz respeito aos movimentos refinados do rosto (face), que auxiliam na aquisição da fala, da mastigação e da deglutição. Essa habilidade também é útil para o desenvolvimento das expressões faciais. Atividades que estimulem a criança a demostrar sentimentos (triste, feliz, chateado) podem ser realizadas. FIGURA 12 – EXPRESSÃO FACIAL FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. PRÁTICA E ATIVIDADES • Manusear peças pequenas (como lego). • Recortar e colar. • Massinha de modelar. • Reconhecer e desenhar expressões faciais. 3.9 LATERALIDADE A lateralização é a dominância em relação ao lado do corpo (direito ou esquerdo), exercendo um papel importante na adaptação psicomotora. Trata-se de um fenômeno complexo, mas que pode ser entendido com base na fisiologia e nos aspectos culturais. O embasamento fisiológico diz respeito à dominância cerebral hemisférica, ou seja, à superioridade de um dos hemisférios do cérebro (direito ou esquerdo) nas manifestações comportamentais e funcionais do ser humano. Os aspectos culturais compreendem os estímulos que ocorrem ao longo da infância e as possibilidades de explorar o ambiente (COSTE, 1978). 36 Práticas Psicomotoras O processo de lateralização ocorre em todos os níveis do desenvolvimento da criança e necessita da estruturação da organização espacial, acompanhando seus processos, como localização do próprio corpo, reconhecimento e projeção de objetos de referência. Coste (1978) divide a lateralidade em quatro tipos principais: • Destralidade verdadeira: em que a dominância lateral está à direita. • Sinistralidade verdadeira: neste caso existe o predomínio bem estabelecido do lado esquerdo na utilização dos membros. • Falsa sinistralidade: a sinistralidade é adotada como consequência de uma paralisia ou amputação. • Falsa destralidade: quando o comportamento destro é adotado como consequência de uma paralisia ou amputação. A lateralidade está envolvida em todas as fases do desenvolvimento e aprendizagem da criança, mas se torna definitiva nos primeiros anos escolares, quando a criança consegue compreender a relação entre direita-esquerda e frente atrás, referentes ao seu corpo ou ao externo. Além da lateralidade manual, é muito estudada a lateralidade ocular e de membros inferiores. Quanto mais consistência e homogeneidade entre as três, mais facilmente as habilidades serão desenvolvidas. Assim, também são consideradas as seguintes variações dentro da lateralidade: • Lateralidade homogênea: quando a dominância é destra ou canhota a nível de todas as observações (mãos, pés, olhos e ouvidos). • Lateralidade cruzada: quando não há dominância de um lado do cérebro na execução das funções motoras (por exemplo: “mão direita dominante e pé esquerdo dominante” ou “mão esquerda dominante e olho direito dominante”. Nesses casos, o cérebro pode ficar confuso, alterando a noção de espaço, prejudicando a leitura e a escrita, entre outros. Geralmente, a lateralidade cruzada surge em virtude do lado esquerdo (sinistros) ser estimulado no âmbito familiar e, na escola, a destralidade é adotada como padrão. Pode ocorrer também pelo processo de “espelhamento” que ocorre na infância, uma vez que um dos pais/ responsáveis pode ser destro e a criança canhota e ao utilizar o destro como “parâmetro” acaba por inverter a lateralidade. • Lateralidade ambidestra: o indivíduo apresenta desempenho similar (é hábil) nas tarefas em ambos os lados (direito e esquerdo). • Lateralidade mal definida: quando não é estabelecido um lado preferencial dos segmentos corporais. De acordo com Fonseca (1987, p. 37 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 68), “se uma criança é imatura no plano psicomotor, hesitará em definir sua lateralidade e que, só depois de definida a lateralidade, a criança poderá aprender a orientação, seriação, precisão e ajustamento espaço- temporal”. Entende-se que a criança que apresentar dominância lateral bem definida terá facilidade na realização dos movimentos em geral, sendo que eles serão mais harmoniosos e precisos. Por outro lado, a indefinição lateral pode acarretar em problemas na aprendizagem motora, na aquisição e desempenho de habilidades específicas, tais como: fala, escrita e leitura (BARRETO, 2000). Cabe ressaltar que a preferência lateral e a dominância lateral possuem definições diferentes, sendo que a segunda se refere a completa dominância do hemisfério cerebral direito ou esquerdo (BARRETO, 2000). 3.9.1 Prática e atividades • Jogar/pegar bola com uma das mãos. • Dominar a bola com o pé direito e, depois, com o pé esquerdo. • Brincar de amarelinha. • Pular corda. FIGURA 13 – ATIVIDADE DE LATERALIDADE Por outro lado, a indefinição lateral pode acarretar em problemas na aprendizagem motora,na aquisição e desempenho de habilidades específicas, tais como: fala, escrita e leitura (BARRETO, 2000). FONTE: <http://pixabay.com>. Acesso em: 13 jun. 2020. 38 Práticas Psicomotoras 4 A PSICOMOTRICIDADE EM RELAÇÃO AOS PAIS De maneira geral, por meio da convivência diária e observação, os pais desenvolvem papel fundamental no estímulo dos elementos básicos da psicomotricidade, assim como na detecção de deficiências motoras. No entanto, a falta de informação quanto aos estágios de desenvolvimento motor e a falta de tempo podem comprometer a observação dos pais com relação ao desenvolvimento psicomotor dos filhos. O desenvolvimento dos bebês é favorecido pela mediação, estímulo e interação com as pessoas mais próximas a eles, por isso, a família tem um papel natural em seu desenvolvimento. É por meio da família que a criança aprende a explorar objetos, falar, andar e interagir socialmente. De acordo com Zerbinato, Makita e Zerloti, (2003), o desenvolvimento integral da criança ocorre por meio do brincar e das brincadeiras. Quando a criança brinca com outras pessoas, e isso ocorre primeiramente com os pais, ela experimenta o estreitamento dos laços afetivos. Na brincadeira, também é importante que os pais a observem e respeitem as questões de iniciativa, preferências, ritmos e regras (SENDIN, 2011). Na brincadeira, os pais precisam brincar com a criança, encorajar a participação e imaginação dela para que, aos poucos, ela arquitete o mundo a sua volta. De acordo com Sendin (2011), alguns aspectos podem ser apontados na interação de pais e crianças, tais como: • Deixar a criança explorar livremente o brinquedo. • Sugerir, estimular, explicar a brincadeira ou forma de brincar, sempre respeitando a fase do brincar. • Antecipar, em dez minutos, para a criança que a brincadeira acabará, pois a criança vive o presente, sendo difícil compreender o futuro sem prévias. • Sentar-se ao lado, ou no chão, e estimular a criança a brincar. Embora os professores sejam responsáveis por uma parte significativa do desenvolvimento e dos estímulos psicomotores das crianças, geralmente, eles atuam com grupos e passam poucas horas do dia com as crianças. Por isso, a relação entre professor e a família é importante e contribui para o êxito no desenvolvimento psicomotor. 39 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 Principalmente nos casos de disfunções ou atrasos no desenvolvimento de bebês e crianças, a transferência de conhecimento para a família, por parte dos professores e outros profissionais, sobre os problemas e as formas de enfrentá- los fortalece e tranquiliza os pais. É possível informar sobre como fazer cada atividade de estimulação motora, cognitiva e de linguagem para que eles sejam capazes de adaptar para o dia a dia da família de forma lúdica, prazerosa e com maior frequência (BRASIL, 2016). 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Observou-se ao longo do Capítulo 1 que a psicomotricidade é uma área de conhecimento e uma técnica de educação, reeducação e aprendizagem para o desenvolvimento integral do ser humano. Conhecer os elementos básicos que a compõem são de fundamental importância para a prevenção e tratamento de problemas de desenvolvimento motor e aprendizagem. O papel do profissional, especialista no campo de conhecimento da psicomotricidade, no desenvolvimento e estruturação dos elementos psicomotores é relevante e deve ser feito baseado nas técnicas e teorias estudadas, visando o alcance do potencial máximo de seus alunos e/ou clientes. Destaca-se que as brincadeiras e atividades lúdicas podem ser mais efetivas quando significam o aprendizado, principalmente, para as crianças. Os elementos básicos apresentados foram: tônus, esquema corporal, estruturação espaço-temporal, equilíbrio, ritmo, coordenação motora ampla ou global, coordenação motora fina e lateralidade. Foram observadas as características desses elementos e a relação deles com o desenvolvimento infantil. O papel dos pais nesse contexto deve ser valorizado, tendo em vista a forte influência que exercem sobre os filhos com suas ações. Assim, os professores precisam estar preparados para atuar em conjunto com os pais a fim de alavancar os resultados. 40 Práticas Psicomotoras REFERÊNCIAS ABP. Associação Brasileira de Psicomotricidade: código de ética. 2020. Disponível em: <https://psicomotricidade.com.br /sobre/>. Acesso em: 15 mar. 2020. ALVES, T. B. Manual prático de psicomotricidade. Porto União: Uniporto, 1981. AUCOUTOURIER, B.; LAPIERRE, A. Bruno: psicomotricidade e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. BARRETO, S. J. Psicomotricidade: educação e reeducação. 2. ed. Blumenau: Acadêmica, 2000. BARRETO, S. J. Psicomotricidade: educação e reeducação. Blumenau: Odorizzi, 1998. BRASIL. Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. São Paulo: Editora Lovise, 1998. CAMARGO JUNIOR, K. R. de. (Ir) racionalidade médica: os paradoxos da clínica. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 2, p. 203-230, 1992. CHAZAUD, J. Introdução à psicomotricidade. São Paulo: Manole, 1987. COSTALLAT, D. Psicomotricidade. Porto Alegre: Globo, 1981. COSTE, J. C. A psicomotricidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1978. FENSTERSEIFER, H. H. Psico-motricidade. Revista do Centro de Educação Física. Santa Maria (RS), v.1, n. 2, p.83-89, 1985. FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. FONSECA, V. Educação especial. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. 41 A Psicomotricidade e Seus A Psicomotricidade e Seus Elementos BásicosElementos Básicos Capítulo 1 FROSTIG, M. The frostig program for development of visual perception. Chicago: Follett Educational Corporation, 1964. LE BOULCH, J. (1983). Introdução a psicocinética. Lisboa: Semente, 1977. LE BOULCH, J. (1983). Educação pelo movimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. MORIZOT, R. A história da psicomotricidade e da Associação Brasileira de Psicomotricidade. 2018. Disponível em: <https://psicomotricidade.com.br/a- historia-da-psicomotricidade-e-da-abp/>. Acesso em: 15 mar. 2020. NEGRINE, A. A coordenação psicomotora e suas implicações. Porto Alegre: Palloti, 1987. PROBST, M. Psychomotor therapy for patients with severe mental health disorders. Occupational Therapy-Occupation Focused Holistic Practice in Rehabilitation, p. 26-47, 2017. RISCHBIETER, L. C. et al. Proposta pedagógica de 0 a 6 anos. Curitiba: Secretaria Municipal da Criança, 1994. SENDIN, M. M. Manual de atividades lúdicas. 2011. 19 p. Disponível em: <https://saudedamente.com.br/wp-content/uploads/2012/06/Manual_de_ Atividades_Ludicas.pdf>. Acesso em: 5 abri. 2020. TEIXEIRA, E. et al. Terapia ocupacional na reabilitação física. São Paulo: Roca, 2003. WALLON, H. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. ZERBINATO, L.; MAKITA, L. M.; ZERLOTI, P. Paralisia cerebral. In: TEIXEIRA, E.; SAURON, F. N.; SANTOS, L. S. B.; OLIVEIRA, M. C. Terapia ocupacional na reabilitação física. São Paulo: Roca; 2003. p. 503-534. 42 Práticas Psicomotoras CAPÍTULO 2 Atuação Docente e as Práticas Psicomotoras A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Reconhecer o papel da atuação docente nas práticas psicomotoras. • Avaliar a necessidade e aplicar corretamente atividades psicomotoras. • Avaliar o potencial das atividades de recreação no desenvolvimento psicomotor. 44 Práticas Psicomotoras 45 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Agoravocê já sabe o que é psicomotricidade, quem são os principais estudiosos e quais são os elementos básicos para o desenvolvimento psicomotor. Avançamos para mais um capítulo! Aqui, você vai relembrar os estágios de desenvolvimento motor do ser humano e isso lhe dará o entendimento necessário para pensar nas práticas psicomotoras de forma mais adequada. É muito importante que o professor, sendo um mediador no desenvolvimento integral da criança, saiba identificar em qual estágio seus alunos se encontram e, a partir disso, fazer o planejamento necessário. Nesse sentido, este capítulo traz reflexões sobre a contribuição da prática docente no desenvolvimento do educando. Reforçamos sua importância, principalmente na educação infantil e nos anos iniciais. O professor planejará suas atividades baseadas nos conhecimentos gerais e específicos, relacionadas com o desenvolvimento infantil e na sua relação com cada criança. Outro aspecto importante para o planejamento das atividades é a realização de avaliações psicomotoras. Elas auxiliam os profissionais a identificarem as dificuldades das crianças e a hora certa de avançar no nível e exigência das práticas. As brincadeiras e os jogos são as principais ferramentas do professor nesse processo. Ao longo do capítulo, a importância dessas atividades para o desenvolvimento psicomotor da criança será discutida e algumas atividades psicomotoras serão sugeridas. Além das brincadeiras e jogos associados ao período de aula na educação formal, verifica-se que o tempo livre das crianças também pode contribuir para o desenvolvimento delas. Assim, é necessário entender o potencial das atividades de recreação no desenvolvimento psicomotor e dar condições para que a criança possa escolher e participar de forma ativa. Aproveite bem este capítulo, acadêmico, e tenha em mente suas experiências na realização de atividades, brincadeiras e jogos com crianças, seja no contexto escolar ou recreativo. 46 Práticas Psicomotoras 2 A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁXIS DOCENTE PARA O DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO As práticas psicomotoras devem fazer parte da formação de base de crianças e devem ser conduzidas desde cedo, a fim de prevenir problemas difíceis de corrigir depois de estruturados, como problemas na coordenação motora fina ou na postura corporal, por exemplo. Com ações educativas e permitindo a realização de movimentos e atitudes espontâneas das crianças, é possível conduzir à aquisição de habilidades de forma positiva. Como vimos no capítulo anterior, as práticas psicomotoras são atividades realizadas com o intuito de desenvolver os aspectos psicomotores (coordenação, organização espaço- temporal, esquema corporal etc.). No cenário da educação formal, aquela que ocorre no âmbito escolar, as práticas psicomotoras beneficiam crianças na educação infantil e fundamental, aplicando as leis do desenvolvimento, aprendizagem e controle motor. Por meio da interação com o ambiente, a psicomotricidade procura assegurar o desenvolvimento funcional e a afetividade da criança. Nesse processo, é fundamental que o educador tenha conhecimento das etapas de desenvolvimento psicomotor da criança, das características, necessidades e interesses de cada faixa etária para melhor planejar a sua ação. Para isso, primeiramente, vamos relembrar a definição e principais etapas do desenvolvimento humano. É um conteúdo importante para que possamos, depois, avançar para o desenvolvimento psicomotor. 2.1 O DESENVOLVIMENTO HUMANO De acordo com o dicionário da língua portuguesa, o termo desenvolvimento está relacionado com o crescimento e o aumento das capacidades e condições (DESENVOLVIMENTO, 2020, s.p.): Ato ou efeito de desenvolver(-se); desenvolução. Passagem gradual (da capacidade ou possibilidade) de um estágio inferior a um estágio maior, superior, mais aperfeiçoado etc.; As práticas psicomotoras devem fazer parte da formação de base de crianças e devem ser conduzidas desde cedo, a fim de prevenir problemas difíceis de corrigir depois de estruturados, como problemas na coordenação motora fina ou na postura corporal, por exemplo. 47 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Para avançar no entendimento dos estágios de desenvolvimento humano, recomendamos que você procure conhecer e/ou relembrar as fases de desenvolvimento psicológico e neurológico. O estudo do desenvolvimento neurológico se dá por meio do conhecimento da anatomia e fisiologia do sistema nervoso. As referências recomendadas são: • A apostila Primeira infância: um olhar desde a neuroeducação da Organización de los Estados Americanos (2006), disponível em: <http://iin.oea.org/pdf-iin/RH/primera-infancia-por.pdf>. • Vídeos sobre os principais autores e suas teorias psicológicas são apresentados pelo canal Didatics no YouTube: <https://www. youtube.com/channel/UC6Qp0jm83uxJKJEbkafl35g>. adiantamento, aumento, crescimento, expansão, progresso. Aumento das condições ou qualidades físicas (força, tamanho, vigor, volume etc.); crescimento. Aumento da capacidade ou competência (moral, psicológica, espiritual, intelectual etc.); amadurecimento, crescimento, evolução [...]. Rappaport (1981) complementa esse conceito citando que o desenvolvimento é amplo e refere-se a uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui, além do crescimento, maturação, aprendizagem e aspectos psíquicos e sociais. O desenvolvimento humano segue alguns princípios básicos, destacados a seguir, comuns a todos os indivíduos. • Desenvolvimento céfalo-caudal: o desenvolvimento ocorre inicialmente na região da cabeça, evoluindo em direção aos pés, sendo ordenado e previsível. • Desenvolvimento próximo-distal: refere-se ao desenvolvimento e ao controle do corpo que inicia na região central do corpo em direção às extremidades (mãos, pés, dedos). • Desenvolvimento geral para específico: as transformações acontecem, inicialmente, de forma simples e generalizada e futuramente se tornam específicas e refinadas. Por exemplo: com relação ao controle muscular, durante a execução de um movimento ou uma ação, primeiro se tem controle da musculatura global (maior) e depois, dos músculos menores. Rappaport (1981) complementa esse conceito citando que o desenvolvimento é amplo e refere-se a uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui, além do crescimento, maturação, aprendizagem e aspectos psíquicos e sociais. 48 Práticas Psicomotoras • Sobre o desenvolvimento psicológico, autores como Freud, Wallon, Piaget e Gesell elaboraram e definiram os estágios que podem ser estudados nos materiais a seguir: • PIAGET, Jean. A psicologia da inteligência. Petrópolis: Editora Vozes Limitada, 2013. • FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2016. • WALLON, Henry; BERLINDER, Claudia. A evolução Psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1975. • GESELL, Arnold. O desenvolvimento da criança de 0 a 5 anos. O bebê e a criança na cultura dos nossos dias. Trad. Cardigo dos Reis. Lisboa: Dom Quixote, 1979. 2.2 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR Nos quadros a seguir, apresentamos, de forma resumida, as etapas de desenvolvimento psicomotor de acordo com a idade cronológica. Essas informações auxiliarão na compreensão de alguns padrões previsíveis de desenvolvimento. No primeiro ano de vida, após o nascimento, o bebê apresenta reações automáticas ou de sobrevivência (para liberação das vias aéreas, por exemplo) e reflexas (como o reflexo de sucção). QUADRO 1 – ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NO PRIMEIRO ANO DE VIDA 1º mês • Reação de atenção inata, deixa de chorar quando alguém se aproxima. • Se comunica por meio do choro. 2º mês • Acompanha os estímulos com os olhos. • Usa as mãospara brincar. • Emite sons vocais. 49 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 3º mês • Consegue se comunicar com um sorriso. • Sacode um chocalho involuntariamente. • Sai do estágio reflexo, entrando no mundo humano da comuni- cação do sorriso. 4º mês • Começa a orientar-se no espaço. • Aproxima-se de objetos. • Rola. 5º mês • Pega objetos • Senta com apoio. • Leva os pés à boca. • Começa desenvolver a preensão com as mãos e dedos, inicial- mente a preensão palmar é total, não havendo diferenciação entre a palma e os dedos. 6º mês • Balbucia. • Utiliza o corpo e objetos no espaço. 7º - 8º meses • Joga objetos e procura aqueles caídos. • Entende presença e ausência (“cadê, achou!”). • Estabelece relação percebida e reconhecida dos objetos. • Reconhece-se (alegremente) no espelho. • Repete atos que lhe interessam (palmas, chutes). • Começa a demonstrar compreensão das palavras, emite sons, vo- caliza sílabas. • Engatinha. 9º mês • Mantém-se em pé com apoio. • Vocaliza palavras com duas sílabas. • Movimento de pinça. 10º mês • Fica em pé sozinho. • Fala as primeiras palavras. • Interrompe uma ação ao ouvir ordens. • Consegue beber líquidos utilizando copo. 50 Práticas Psicomotoras 11º - 12º meses • Desenvolvimento da caminhada, começa a andar. • Entende frases curtas. • Consegue dizer três ou quatro palavras. FONTE: Adaptado de Bueno (1998) O desenvolvimento dos aspectos psicomotores continua em alta após o primeiro ano. QUADRO 2 – ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 15º - 18º meses • Anda sozinho. • Linguagem de ação com organizações rítmicas. • Faz rabiscos. 2 anos • Noção da totalidade do corpo, mas não relaciona as partes. • Usa colher e lápis com certa autonomia (esboça os primeiros traços com significado para si; e, leva comida até a boca com a colher). • Salta com os dois pés juntos. • Confunde a realidade e a imaginação. • Vocabulário aumentado. 3 anos • Toma consciência de si mesmo (usa “eu”). • Quer se vestir sozinho (mas ainda tem dificuldade ou não consegue). • Consegue saltar em um pé só (até três saltos seguidos). • Sobe e desce escadas alternando os passos. • Aperfeiçoamento da coordenação motora fina (começa a usar a tesoura, usa talheres). 4 anos • Maior coordenação do movimento das mãos na escrita. • Veste-se sozinho. • Consegue distinguir frente e costas. • Salta com habilidade. • Anda na ponta dos pés. 51 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 5 anos • Coordenação global desenvolvida (salta com habilidade e co- ordenação. • Desenvolvimento do esquema corporal e da coordenação motora fina. • Utiliza a mão dominante, reconhecendo direita e esquerda apenas em si. 6 anos • Boa lateralização (distingue os dois lados: direita e esquer- da). • Desenvolvimento da capacidade de escrita. • Consegue distinguir fantasia da realidade. • Consegue andar de bicicleta. • Desenvolve com maior facilidade jogos de competição e ra- ciocínio. 7 a 8 anos • Integração do corpo e aperfeiçoamento das habilidades ad- quiridas (estimulação com esportes). • Consegue dissociar movimentos do corpo (somente com os braços ou com as pernas, somente um lado do corpo). • Noção de temporalidade bem definida (passado, presente, futuro). • Reproduz ritmos. 9 a 10 anos • Automatização de movimentos. • Postura mais relaxada. • Percepção mais aguçada. • Coordena a fala e as ações. 11 a 12 anos • Combina movimentos de membros inferiores e superiores • Equilibra força e habilidade. • Realiza movimentos expressivos corporais e faciais. • Início da adolescência. FONTE: Adaptado de Bueno (1998) A adolescência é um período de grandes transformações, com alterações nos âmbitos emocional e psicológico. Quanto ao desenvolvimento psicomotor, esse 52 Práticas Psicomotoras período é marcado pela modificação do esquema corporal devido às mudanças no corpo. A vida adulta pode ser dividida em duas fases distintas, chamadas de: adulto jovem (20 a 35 anos) e meia-idade (35 a 55 anos). QUADRO 3 – ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA VIDA ADULTA 20 a 35 anos • Fase de fixação das habilidades individuais motoras. • Inicia-se o processo de moderação na qual os movimentos se tornam mais calmos, econômicos e objetivos. • Para os atletas esportivos, este é o momento de alcance máxi- mo das habilidades de rendimento motor. 35 a 55 anos • Os indivíduos apresentam mais moderação, objetividade e economia em todas as atividades com movimento. • No geral, o nível de atividade física diminui. • Nos indivíduos treinados, ocorre a manutenção do rendimento motor máximo. FONTE: Adaptado de Bueno (1998) A velhice ou terceira idade inicia por volta dos 55 anos, tendo como marco principal nas mulheres a menopausa e nos homens a andropausa. Seu impacto se apresenta de forma diferente, de acordo com as experiências anteriores, sendo que os adultos que se mantiveram ativos vão apresentar melhor performance na velhice. Biologicamente, esse período é marcado pelas perdas muscular e óssea, aumento da gordura corporal e comprometimento do sistema nervoso, interferindo no desempenho das atividades motoras em geral, na coordenação sensorial motora, entre outras. Há o agravamento das qualidades motoras básicas como agilidade, velocidade e força, comprometimento da postura corporal e redução da capacidade cardiorrespiratória. Trata-se de um período também marcado por alterações emocionais e psicológicas que vão influenciar nos demais aspectos (BUENO, 1998). 2.3 A ATUAÇÃO DOCENTE COM ÊNFASE NA EDUCAÇÃO INFANTIL A psicomotricidade é considerada, por autores como Le Boulch (1984), a base para a educação infantil. A partir de práticas psicomotoras, as crianças aprendem a tomar consciência do próprio corpo, da lateralidade, da coordenação motora e situar-se no espaço e no tempo. 53 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Também é necessário que o docente tenha em mente que as atividades desenvolvidas devem ser planejadas previamente, de acordo com os objetivos predefinidos, respeitando as faixas etárias e etapas do desenvolvimento. Assim, é possível realizar atividades de estimulação do desenvolvimento cognitivo e de habilidades motoras, por meio de uma relação afetiva, estável e de respeito. De acordo com Imai (2007), é comum que professores da educação infantil relatem aos pais a dificuldade da criança em executar as tarefas propostas, citando atividades que exijam equilíbrio e coordenação motora global. Outras dificuldades comuns percebidas pelos professores são: reproduzir movimentos de dança com música e executar as atividades manuais (recortar, colar, pintar, copiar etc). Muitos professores relacionam o déficit psicomotor somente às atividades e tarefas manuais, no entanto, é preciso considerar que dificuldades na comunicação e linguagem também podem estar relacionadas à problemas no desenvolvimento psicomotor. Algumas vezes, os insucessos das crianças são percebidos, mas a situação persiste por falta de domínio do conhecimento teórico e prático na área da psicomotricidade. Percebe-se assim, que a formação no campo da psicomotricidade, por parte dos professores de educação infantil, pode auxiliar na correta identificação de atrasos de desenvolvimento e dificuldades de ordem psicomotora. Alguns exemplos da realidade escolar, que podem ser observados pelo professor no dia a dia da sala de aula, são citados por Imai (2005, p. 221-22) no quadro a seguir. QUADRO 4 – DIFICULDADES DE ORDEM PSICOMOTORA NA REALIDADE ESCOLAR Muitos professores relacionam o déficit psicomotor somente às atividades e tarefas manuais, no entanto, é preciso considerar que dificuldades na comunicação e linguagem também podem estarrelacionadas à problemas no desenvolvimento psicomotor. Ocorrência de quedas ou falta de equilíbrio eficiente. Dificuldades para correr, pular, saltar ou outras atividades dinâmicas. Com frequência, a criança derruba objetos e é desajeitada no manejo de objetos. Apresenta dificuldade em manusear a tesoura e/ou segurar o lápis adequada- mente. Quando a criança tiver muitas dúvidas ou não compreender os termos relacio- nados ao espaço, como: forma, quantidade, localização, ordem e sequência de tamanho. 54 Práticas Psicomotoras Dificuldade em entender a noção de tempo e de perceber as mudanças de ritmo nas músicas. Incapacidade de imitar a postura de outras pessoas. Não reconhecer partes ou características importantes do corpo humano. FONTE: Imai (2005, p. 221-22) Ressaltamos que essas dificuldades representam “sintomas” de possíveis transtornos psicomotores, porém não quer dizer que toda criança “desajeitada” tem algum atraso. Outros fatores como pressa e o comportamento podem influenciar. Por isso a importância da formação em psicomotricidade, pois só o profissional conseguirá avaliar se há uma influência pontual para a dificuldade enfrentada na execução de movimento ou situação especifica; ou se é realmente uma limitação no desenvolvimento. Relação professor-criança e o conhecimento a respeito da criança Como ocorre em qualquer área do conhecimento, as práticas psicomotoras são embasadas por uma concepção teórica e metodológica e, dessa forma, envolvem uma escolha pessoal. Na perspectiva da concepção psicogenética, as intervenções levam em consideração os estágios de desenvolvimento cognitivo, os processos de construção do conhecimento e a interação com o meio. A relação professor-criança é um aspecto primordial da interação com o meio, assim como, o conhecimento do professor sobre a infância (ARANTES; VALADARES, 2012). A relação professor-criança é bidirecional e está baseada na participação ativa de ambas as partes, gerando com isso, acordos e desacordos (HOFFMANN, 2000). É indispensável que, ao propor uma atividade psicomotora, o professor interaja, participe das brincadeiras e tenha que lidar com situações de conflito entre as crianças. Nesse último caso, a definição e o esclarecimento das regras devem ser feitos no início das práticas, priorizando a relação baseada no respeito mútuo. Essa condição vai refletir em um ambiente favorável para a criança desenvolver também a moralidade e a autonomia. 55 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Para entender um pouco mais o desenvolvimento da moralidade infantil, você pode procurar pelos estudos de Piaget e seus colaboradores. Na perspectiva psicogenética, os autores destacam que a criança necessita de um contexto sócio moral favorável para o seu desenvolvimento. PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994. PIAGET, Jean. O julgamento moral na criança. São Paulo: Mestre Jon, 1977. O conhecimento sobre a criança é utilizado pelo professor para planejar as atividades psicomotoras. Esse conhecimento pode ser geral, a respeito do desenvolvimento infantil; ou específico, com relação a cada criança sob seus cuidados. O conhecimento geral está baseado na formação do professor no campo de conhecimento relacionado à criança (por exemplo: etapas do desenvolvimento psicomotor). Por outro lado, o conhecimento específico é construído com base na relação professor-criança e no relato de pais e antigos professores. Na relação professor-criança, os conhecimentos geral e específico do professor vão contribuir para o entendimento da criança e suas manifestações em situações que envolvem interações, amizades, preferências, modo de lidar com a frustração, aceitação de regras e limites, a forma de se expressar e participar em atividades coletivas. O professor vai entender, por exemplo, a dificuldade de a criança dominar uma atividade que exige coordenação motora fina, como recortar, quando a criança ainda é muito pequena e não consegue desempenhar a tarefa. O conhecimento do professor vai auxiliar na correta implementação de jogos e brincadeiras a fim de que eles sejam recursos importantes para o desenvolvimento da criança, além de contribuir para lidar com limites, cooperar e viver em sociedade. Nesse contexto, o conhecimento dos recursos psicomotores pode potencializar os resultados da aprendizagem das crianças. De acordo com Le Boulch (1992, p. 140) “a atividade lúdica incide na autonomia e na socialização, condição de uma boa relação com o mundo”. O professor deve se apropriar de informações em diferentes áreas do conhecimento, como neurologia, cognição e psicologia, que auxiliam na compreensão e planejamento das atividades para cada estágio de desenvolvimento da criança (IMAI, 2007). 56 Práticas Psicomotoras Ação educativa e o papel do professor Outro ponto importante para o professor, além do conhecimento acerca do desenvolvimento da criança, é a aplicação de uma avaliação psicomotora e a constante observação das crianças. Esses são meios de identificar possíveis carências, dificuldades e progressos no desenvolvimento psicomotor. A avaliação psicomotora não deve ser realizada somente pra aqueles que procuram serviço especializado. Ela é uma ferramenta que o professor utiliza para auxiliar no planejamento e avaliação das atividades e para identificar as necessidades individuais dos alunos. Conforme já abordado anteriormente, o desenvolvimento da criança se dá por estágios e de acordo com Wallon (1975, p. 211) “[...] em todos os períodos por que passa a criança é preciso saber preparar o período seguinte”. Assim, o professor também é incentivado a criar um ambiente favorável para o encaminhamento para as próximas etapas. Essa tarefa não é fácil, e alguns aspectos são imprescindíveis pra isso, tais como: • Conhecimento sobre o desenvolvimento da criança: ter em mente os estágios de desenvolvimento psicomotor e as faixas etárias correspondentes. • Respeito ao ritmo individual: observar como as crianças desempenham diferentes atividades e entender que a velocidade da aprendizagem provavelmente não será a mesma para toda a turma. • Diversidade de estímulos: oferecer variedade de atividades e materiais para o mesmo objetivo, dando maior oportunidade de aprendizado para as crianças. • Dar condições para o desenvolvimento da autonomia e independência, por meio de um ambiente lúdico e agradável para as crianças. Dessa forma, a prática psicomotora é uma forma de atuação do professor que planeja sua ação a partir da observação e dos conhecimentos sobre desenvolvimento e avaliação psicomotora. As atividades (práticas) são realizadas em um horário e tempo previamente estabelecidos no planejamento, utilizando alguns objetos (materiais), em um espaço físico determinado (sala, parquinho). Assim, o professor emprega, de acordo com os objetivos propostos, os diversos jogos e brincadeiras. Por exemplo: por meio de uma avaliação psicomotora e do conhecimento sobre os estágios de desenvolvimento motor, o professor identifica a necessidade de trabalhar a coordenação motora global, na turma de 4/5 anos de idade. No seu cronograma mensal, ele elege que as atividades Dessa forma, a prática psicomotora é uma forma de atuação do professor que planeja sua ação a partir da observação e dos conhecimentos sobre desenvolvimento e avaliação psicomotora. 57 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 1 Sobre a importância da psicomotricidade no desenvolvimento motor de crianças de 0 a 12 anos, assinale as afirmações com V para as verdadeiras e F para as falsas: ( ) O rendimento escolar não tem relação direta com o desenvolvimento psicomotor. ( ) As práticas psicomotoras realizadas nessa faixa etária visam melhorar o desenvolvimento dacriança como um todo e combater a inadaptação psicomotora. ( ) A psicomotricidade atua diretamente na organização das sensações, das percepções e na cognição. ( ) Somente o conhecimento do estágios de desenvolvimento motor é necessário, para que o professor desenvolva suas atividades em sala de aula. ( ) A relação professor-aluno deve ser baseada no respeito mútuo, com a participação ativa de ambas as partes. ( ) Através do conhecimento dos estágios de desenvolvimento motor, o professor pode criar um ambiente favorável para o encaminhamento da criança para as próximas etapas. Assinale a alternativa correta: a) ( ) F – V – V – F – V – V. b) ( ) V – V – F – F – V – F. c) ( ) F – F – F – V – V – F. d) ( ) V – F – V – F – V – V. direcionadas para esse objetivo serão realizadas três vezes por semana, por uma hora cada sessão. As brincadeiras são variadas, incluindo diferentes espaços e materiais: circuito de atividades na sala, circuito de atividades no parquinho, jogos utilizando bolas, caixas e balões, atividades com música, entre outras. 58 Práticas Psicomotoras 3 ATIVIDADES EM PSICOMOTRICIDADE E AVALIAÇÃO PSICOMOTORA Para que o trabalho psicomotor tenha, de fato, um impacto positivo na vida de seus estudantes, é fundamental que seja realizada uma avaliação das capacidades e o reconhecimento do estágio em que eles efetivamente se encontram, independentemente da faixa etária. A observação do cenário antes da tomada de decisão repercute positivamente no direcionamento das práticas psicomotoras mais adequadas para determinada situação. O professor pode realizar essas observações durante as aulas, na sala de aula, no pátio ou no playground, utilizando testes e baterias de avaliação psicomotora ou durante as próprias atividades em aula. O profissional psicomotricista precisará criar um ambiente propício para realizar essa avaliação, no qual a criança se sinta à vontade e, a partir daí, as avaliações são realizadas. Esse profissional também poderá requisitar mais informações dos pais e, até mesmo, dos professores da escola. No cotidiano escolar, o professor pode incluir brincadeiras e jogos que visam contribuir para o desenvolvimento psicomotor das crianças. Nesse sentido, o planejamento das atividades pode ser mais efetivo quando orientado pelos aspectos psicomotores presentes de forma mais intensa em cada uma das brincadeiras. Por exemplo, para estimulação da coordenação motora global e da organização espacial, poderia ser escolhida a brincadeira Coelhinho sai da toca. FIGURA 1 – COELHINHO SAI DA TOCA FONTE: <https://www.soescola.com/wp-content/uploads/2016/08/ coelhinho-sai-da-toca.png>. Acesso em: 11 abr. 2020. 59 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Na brincadeira Coelhinho sai da toca, duas crianças se dão as mãos formando uma toca e uma criança será o coelhinho e ficará entre eles. Do lado de fora, ficam outras crianças (coelhos) ficam “perdidos”. Quando for dado o comando: “Coelhinho sai da toca, um, dois, três”, as tocas levantam os braços e todos os coelhinhos devem ocupar uma nova toca, inclusive os coelhos perdidos. A psicomotricidade também é um campo de conhecimento da educação e, quando um professor se apropria desses conhecimentos, pode desenvolver atividades e jogos a fim de prevenir possíveis dificuldades motoras e/ou reeducar para o desenvolvimento psicomotor. As atividades preventivas procuram dar condições para que as crianças se desenvolvam melhor em seu ambiente (usando variedade de materiais e texturas, por exemplo). Já as atividades de reeducação visam tratar as dificuldades e problemas motores, em todos os níveis de severidade, apresentados pelas crianças (por exemplo, com exercícios, jogos e brincadeiras para crianças com dificuldade de equilíbrio) (OLIVEIRA, 1997). Nesse contexto, Le Boulch (1992) acrescenta que as práticas psicomotoras devem ser realizadas desde os primeiros anos e conduzidas com perseverança, a fim de prevenir as dificuldades ou incapacidades que serão mais difíceis de corrigir posteriormente. Os professores devem empregar, na medida do possível, os diversos jogos e brincadeiras, também chamados de recursos psicomotores, que serão direcionados ao estímulo de condições favoráveis ao desenvolvimento psicomotor da criança. No contexto da escola, as práticas psicomotoras são aquelas desenvolvidas pelos professores, pedagogos e professores de educação física, a partir da análise anterior das dificuldades e necessidades da criança ou de um grupo de crianças (IMAI, 2007). Para Imai (2007), a atividade motora global deve ser priorizada na educação infantil e deve envolver a exploração do ambiente, atividade lúdicas, variedade de movimentos, investigação e curiosidade, expressão e criatividade (figura a seguir). 60 Práticas Psicomotoras FIGURA 2 – FATORES IMPORTANTES PARA A CONSTRUÇÃO DAS ATIVIDADES FONTE: Adaptado de Imai (2007) Dessa forma, espera-se que o professor busque proporcionar condições para que as crianças desfrutem da brincadeira, tanto sozinhas como em grupos, participando ativamente ou coordenando as atividades para o desenvolvimento psicomotor. Para Le Boulch (1992, p. 139), “Permitir brincar às crianças, é uma tarefa essencial do educador”. Para tal, é necessário oferecer espaço seguro e adequado onde as crianças possam pular, correr, saltar e rolar. Materiais, como cordas e bolas de diferentes tamanhos, arcos, sacos e bancos, devem ser disponibilizados de acordo com o propósito de cada atividade planejada pelo professor. A utilização de espelhos pode ser adotada para desenvolver o trabalho acerca do esquema corporal da criança, na sala de aula, assim ela pode ver seu reflexo e analisar seus movimentos. Entende-se que a diversidade das atividades é maior de acordo com a disposição de materiais para o professor. Conhecer o espaço disponível e os materiais a serem utilizados nas brincadeiras é fundamental para o professor desenvolver e variar suas atividades (LE BOULCH, 1992). Com relação às atividades lúdicas, elas delimitam o tempo e o espaço em que a fantasia irá ocorrer, contribuindo também para estimular a imaginação e a criatividade das crianças. No faz de conta, brincadeiras que causam uma fuga do real, por exemplo, o pega-pega congela, em que a criança pode ser “congelada”, estimulam a associação do objetivo do jogo com o imaginário infantil. Até mesmo o uso de roupas e fantasias estimulam a ludicidade e o desenvolvimento de elementos psicomotores, como a motricidade fina. Em uma brincadeira que utiliza fantasias, pode-se favorecer a aprendizagem de ações como se vestir, abotoar, colocar cinto, meia, sapato (Figura 3). O professor, ao planejar as atividades, deve introduzir aspectos lúdicos na brincadeira natural, com fins pedagógicos e estimular as crianças a se divertirem. 61 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 FIGURA 3 – SE VESTINDO PARA UMA BRINCADEIRA FONTE: <https://www.educacaoetransformacao.com.br/cartazes-de- rotina-para-educacao-infantil>. Acesso em: 11 abr. 2020. 3.1 PSICOMOTRICIDADE NA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA Na organização escolar, outra grande possibilidade de prática de atividades que estimulem o desenvolvimento psicomotor são as aulas de educação física. A inclusão de práticas psicomotoras pode contribuir de forma expressiva na formação e estruturação do esquema corporal e da organização espacial, trabalhando de forma lúdica e estimulando a liberdade de movimentos (COSTA et al., 2016). Por isso é interessante que a criança possa desfrutar das aulas de educação física desde os primeiros anos da educação infantil. No geral, as atividades citadas neste livro para os professores de educação infantil também podem ser aplicadas nas aulas de educação física, desde que observados os aspectos pertinentes(faixa etária, objetivo da aula etc.). As brincadeiras, jogos e atividades lúdicas devem ser priorizadas, principalmente na educação infantil e primeiros anos do ensino fundamental e a partir delas proporcionar aos alunos o desenvolvimento da sua cultura corporal, espontaneidade, crescimento pessoal e social, aperfeiçoamento dos movimentos naturais e a vivência de desafios e desequilíbrios (KYRILLOS; SANCHES, 2004). 62 Práticas Psicomotoras De acordo com Costa et al. (2016), um programa de educação física estruturado e baseado nas práticas psicomotoras (visando favorecer o desenvolvimento global da criança e a consciência corporal), para alunos da educação infantil (5 anos), foi capaz de resultar em alterações positivas nos elementos da psicomotricidade (coordenação, equilíbrio, lateralidade, dentre outros). Nesse contexto, o profissional de educação física possibilita aos alunos a experimentação de diversos estímulos motores e atividades corporais, aliados ao componente psicológico, cognitivo e/ou emocional. Através do movimento, a educação física escolar visa alcançar o desenvolvimento do conhecimento do corpo, indo muito além da parte fisiológica (PAIM; BONORINO, 2009). Esses dois campos de conhecimento, educação física e psicomotricidade, podem ser integrados, oferecendo benefícios aos seus praticantes. Nesse sentido, o profissional de educação física atua como um mediador no processo de ensino-aprendizagem, procurando assegurar uma aprendizagem significativa para o desenvolvimento dos alunos (VICENTE; LUCENA, s.d.). As atividades propostas nas aulas devem respeitar os níveis de maturação biológica dos alunos e fornecer a possibilidade de exploração do ambiente e das práticas corporais. As aulas de educação física são os momentos em que as crianças podem se sentir à vontade para se expressar, brincar e desenvolver habilidades motoras e corporais (MOLINARI; SENS, 2003). As atividades lúdicas despertam ainda mais a motivação para a prática e devem ser utilizadas pelos professores. Além disso, a afetividade, ou seja, as relações da criança com o mundo, com os outros e com ela mesma, é outro aspecto importante a ser considerado pelos professores de educação física no planejamento das atividades. Sem dúvidas, pensar a educação física para que ela seja significativa visando o desenvolvimento integral do indivíduo é um grande desafio para os profissionais que atuam na educação de crianças e adolescentes. Portanto, é indispensável o conhecimento de outras áreas, como a psicomotricidade, para dar subsídios para práticas mais exitosas. 1 Descreva como as práticas psicomotoras podem ser planejadas pelos professores, de acordo com os objetivos de prevenção e reeducação. 63 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 3.2 BRINCADEIRAS E JOGOS PARA DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR A seguir serão apresentadas algumas brincadeiras e jogos que podem ser incluídos nas aulas com o objetivo de desenvolver um ou mais elementos psicomotores. Caça ao calçado Materiais: calçados das crianças e espaços para correr. Procedimento: pedir para as crianças que retirem o calçado de um dos pés. Após isso, dividi-las em duas equipes em um lado da sala e colocar todos os calçados retirados por elas do outro lado dessa mesma sala. Uma criança de cada vez deve correr até onde está seu tênis, calçá-lo e voltar até a sua equipe para permitir que a próxima criança faça o mesmo procedimento. Vence a equipe que calçar todos os tênis primeiro (Figura 4). Objetivos: • Desenvolver habilidade manual. • Desenvolver a agilidade. • Despertar a atenção. • Aprender a calçar o tênis. FIGURA 4 – CAÇA AO CALÇADO FONTE: <http://www.vilaencantada.com.br/blog/sem-categoria/atracoes- em-pomerode-para-brincar-descalco/>. Acesso em: 11 abr. 2020. 64 Práticas Psicomotoras Alerta Materiais: bola e espaço para correr. Procedimento: cada criança deve ser identificada pelo nome de animal (ou outro tema como: números, frutas, números, países etc.). Para iniciar, uma criança fica de costas para as outras crianças e deve lançar uma bola o mais alto que ela conseguir e, ao mesmo tempo, chamar o nome de um dos animais escolhidos pelos colegas. A criança, cujo nome foi escolhido, deve correr para pegar a bola enquanto as outras correm em qualquer outra direção. Quando a criança chamada conseguir pegar a bola, ela deve gritar “ALERTA!” e este comando fará com que as demais crianças “congelem” em seus lugares. Então quem está com a bola pode dar até 3 passos e deve lançar a bola em um de seus colegas. Quem for acertado deve imitar o animal escolhido por quem lançou (Figura 5). Objetivos: • Desenvolver força. • Desenvolver agilidade. • Despertar a atenção. • Desenvolver coordenação. FIGURA 5 – ALERTA FONTE: <https://demonstre.com/alerta-brincadeira/>. Acesso em: 11 abr. 2020. 65 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Amarelinha Materiais: giz para desenhar no chão e pedra pequena. Procedimento: a criança deve se posicionar na frente da casa Número 1 e colocar a pedrinha nessa casa. Depois ela vai seguir pulando em uma perna só em cada casinha, de acordo com a ordem numérica, até o final do percurso. Ao voltar a criança deve recolher a pedrinha e voltar saltando para a posição inicial. O mesmo procedimento será repetido em todas as casas. Durante todo o percurso a criança não pode pisar na casa marcada pela pedrinha e nem nas linhas. O objetivo é marcar todas as casas e completar o percurso. Objetivos: • Desenvolver força. • Desenvolver coordenação global. • Desenvolver a agilidade. • Desenvolver equilíbrio. FIGURA 6 – AMARELINHA FONTE: <https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/carater>. Acesso em: 11 abr. 2020. 66 Práticas Psicomotoras Caça ao tesouro Materiais: papéis, canetas e algo para ser o tesouro. Procedimento: o professor esconde o tesouro, que pode ser brinquedos, livros ou uma sacola com frutas, e elabora pistas que levem as crianças ao tesouro. As pistas devem ser enigmas ou tarefas que tenham a ver com o caminho que as crianças devem fazer para encontrar o tesouro. De pista em pista elas devem chegar ao tesouro. Para resolver os enigmas, as crianças devem interagir entre si ou realizar pequenas tarefas motoras. Ao encontrar o tesouro, as crianças podem brincar, lanchar e ler juntas. Objetivos: • Desenvolver atenção. • Desenvolver raciocínio lógico. • Desenvolver coordenação. • Desenvolver equilíbrio. FIGURA 7 – CAÇA AO TESOURO FONTE: <https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/mao>. Acesso em: 11 abr. 2020. 67 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Esconde-esconde Materiais: espaço para correr e uma venda (opcional). Procedimento: uma criança fecha os olhos e conta até 30 (ou outro número definido pelo grupo) em um local definido como base. As demais crianças devem esconder-se. A criança que estiver contando, ao fim da contagem, deve procurar as demais. Ao ver um dos colegas, ela deve retornar para a base e falar o nome do colega em voz alta. Outra opção é a criança que estava contando tocar nos colegas que encontrar. Objetivos: • Desenvolver atenção. • Desenvolver coordenação. • Desenvolver audição. FIGURA 8 – ESCONDE-ESCONDE FONTE: <https://www.obrasileirinho.com.br/brincar-criancas/ brincadeira-esconde-esconde/>. Acesso em: 11 abr. 2020. 68 Práticas Psicomotoras Cabo de guerra Materiais: corda ou cabo. Procedimento: deve-se identificar o meio do cabo e colocá-lo sobre uma marca no solo. As crianças devem ser divididas em dois grupos e cada grupo deve segurar o cabo de frente para a outra equipe. Após um comando do professor, o objetivo de cada equipe é puxar todo o cabo e todos os membros da outra equipe para oseu lado da demarcação do solo. Objetivo: • Desenvolver força. FIGURA 9 – CABO DE GUERRA FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/brincadeiras-para-festas- infantis/cabo-de-guerra-2/>. Acesso em: 11 abr. 2020. Bum Balão Materiais: barbantes e balões de sopro. Procedimentos: após encher os balões, eles devem ser amarrados nos tornozelos das crianças. O objetivo é que as crianças estourem os balões das outras crianças, pisando nos balões, e não deixem que o seu balão seja estourado. Essa atividade pode ser realizada em duplas. 69 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Objetivos: • Desenvolver habilidade manual (para encher e manusear os balões). • Desenvolver a agilidade. • Despertar a atenção. • Desenvolver equilíbrio. • Desenvolver coordenação. FIGURA 10 – BUM BALÃO FONTE: <http://cuorecurioso.com/brincadeiras-para-crianca- num-aniversario-em-casa/>. Aceso em: 11 abr. 2020. Bolinha de gude Materiais: várias bolinhas de gude e um giz, se necessário. Procedimento: deve ser feito um desenho geométrico (círculo, quadrado, triângulo etc.) no solo e algumas bolinhas de gude devem ser colocadas ali. Recomenda-se deixar dentro do desenho, aproximadamente, o mesmo número de bolinhas que será distribuído para os participantes. Cada participante deve estar a uma distância de aproximadamente um metro e meio do desenho. Essa distância deve ser marcada com uma linha. Cada jogador, de forma alternada, deve jogar uma bolinha nas que estão dentro do desenho, com o objetivo de tirar o máximo de bolinhas de dentro do desenho. As bolinhas retiradas ficam com o jogador que as retirou e vence quem tiver o maior número de bolinhas. Uma outra maneira de jogar é: toda vez que não há mais bolinhas dentro do desenho, as crianças colocam quantas bolinhas quiserem colocar das que estão com cada um. Dessa maneira vence quem conseguir retirar todas as bolinhas dos colegas. 70 Práticas Psicomotoras Objetivos: • Desenvolver habilidade manual. • Desenvolver a lateralidade. • Desenvolver coordenação. FIGURA 11 – BOLINHA DE GUDE FONTE: <https://www.obrasileirinho.com.br/brincar-criancas/ brincadeira-bola-de-gude/>. Acesso em: 11 abr. 2020. Cabra-cega Materiais: uma venda para os olhos. Procedimento: as crianças devem formar um círculo de mão dadas. Uma criança é selecionada para ficar no meio da roda e coloca uma venda nos olhos. Após o comando de início da atividade, a criança que está no meio da roda deve tentar pegar um de seus colegas. Ao mesmo tempo, a roda deve se movimentar para que ninguém seja pego, sem soltar as mãos. Por questão de segurança, as crianças não poderão correr, apenas caminhar. Quem for pego ou soltar as mãos, deve ir para o meio da roda, colocar a venda e agora tentará pegar os demais colegas que estão em roda. 71 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Objetivos: • Desenvolver audição. • Desenvolver coordenação global. • Desenvolver noção tempo-espacial. • Desenvolver equilíbrio. FIGURA 12 – CABRA-CEGA FONTE: <https://www.escolasanti.com.br/dicasculturais/2018/02/05/ cachorro-e-gato-cego/>. Acesso em: 11 abr. 2020. Dança da cadeira Materiais: cadeiras e uma caixa de som. Procedimentos: a quantidade de cadeiras necessárias é igual ao número de participantes menos um. As cadeiras devem ser posicionadas em forma de círculo com o assento do lado de fora pra que as crianças possam sentar. O professor (ou um aluno que não está participando da brincadeira) vai ligar uma música e as crianças vão caminhando ao redor das cadeiras, com as mãos para trás. Toda vez que a música parar, os alunos devem sentar-se. Quem não conseguir sentar é eliminado. Vence quem conseguir sentar até a última cadeira. Objetivos: • Desenvolver audição. • Desenvolver noção tempo-espacial. 72 Práticas Psicomotoras FIGURA 13 – DANÇA DA CADEIRA FONTE: <https://www.criandocomapego.com/brincar-de- danca-das-cadeiras/>. Acesso em: 11 abr. 2020. Corrida com obstáculos Materiais: diversos, de acordo com a disponibilidade (bancos, arcos, cones, step, colchonetes, blocos, barbante etc.). Procedimentos: o professor deve criar obstáculos em um percurso, com os objetos disponíveis. O percurso deve ter possibilidades de desviar, saltar, subir, descer, rolar, passar por baixo ou através de arcos ou barbantes. O objetivo é que todos terminem o percurso evitando os obstáculos, ou se o professor preferir, pode dividir a turma em equipes e registrar o tempo das equipes ou quem termina o percurso primeiro. Objetivos: • Desenvolver habilidade manual • Desenvolver a agilidade. • Despertar a atenção. • Desenvolver coordenação. • Desenvolver força. 73 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Outras referências podem ser consultadas para ampliar a variedade de atividades, tais como: SCHILLER, Pam; ROSSANO, Joan. Ensinar e aprender brincando: mais de 750 atividades para educação infantil. Artmed Editora, 2016. WARNER, Penny. Aprender brincando: 150 brincadeiras e atividades. Editora Ground, 2000. p. 176. FIGURA 14 – CORRIDA COM OBSTÁCULOS FONTE: <https://novaescola.org.br/plano-de-aula/3817/ desvio-de-obstaculos>. Acesso em: 11 abr. 2020. 1 O planejamento das atividades ficará mais fácil se você tiver um quadro com as brincadeiras e os jogos separados de acordo com seus objetivos. Dessa forma, complete o quadro a seguir com as atividades apresentadas neste livro, depois você pode incluir outras atividades que já conhecia. Tire uma cópia desse quadro e tenha ele junto com o material de planejamento. 74 Práticas Psicomotoras Objetivos / elementos psicomotores Brincadeiras / jogos Coordenação motora global Coordenação motora fina Equilíbrio Tônus / força Agilidade Lateralidade Raciocínio lógico Organização tempo-es- pacial 3.3 AVALIAÇÃO PSICOMOTORA Durante o planejamento das atividades que buscam desenvolver os aspectos psicomotores (coordenação motora, esquema corporal etc.), a realização de uma avaliação prévia das crianças pode contribuir fornecendo informações importantes sobre a atual fase de desenvolvimento psicomotor e possíveis necessidades, a fim de basear a tomada de decisão do professor. A avaliação psicomotora da criança é fundamental, tanto para o acompanhamento do seu desenvolvimento, quanto para a identificação de dificuldades na área. Essa avaliação não deve ter o propósito de diagnosticar uma deficiência (ou atraso), classificar ou definir em um estágio, nem mensurar, rotular ou comparar em relação a outras crianças. Ela deve ser usada pelo professor para acompanhar e registrar a criança na área psicomotora. A avaliação pode ser feita periodicamente pelo professor. A avaliação psicomotora da criança é fundamental, tanto para o acompanhamento do seu desenvolvimento, quanto para a identificação de dificuldades na área. 75 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Uma das dificuldades da avaliação psicomotora é que, durante o processo, o professor não sofra as influências de suas próprias concepções. Dessa forma, o avaliador necessita ser o mais rigoroso possível nos critérios observados, dando preferência para a utilização de ferramentas (questionários e baterias de testes) com validação científica. Hoffman (2000, p. 47) alerta para as dificuldades: Percebe-se, no processo avaliativo, quão difícil é para o professor dar-se conta de que o que ele acredita observar da criança é decorrente de suas próprias concepções e posturas de vida. A avaliação deve ter o objetivo de aumentar a interação entre o professor e o aluno, para o planejamento, direcionamento, registro e reflex- ão das atividades. A formação do professor e seus conhecimentossobre desenvolvimento infantil, junto com a avaliação psicomotora o auxiliam a reconhecer, respeitar e atender às necessidades individuais das crianças. De forma diagnóstica e formativa, o professor deve avaliar as crianças constantemente e utilizar as informações obtidas para acompanha-las diariamente e planejar suas atividades. O tempo investido para observar e avaliar tem como objetivo adquirir novos conhecimentos sobre a criança e assimilar as informações obtidas (HOFFMANN, 2000). Essas avaliações podem ser sistematizadas ou realizadas por meio da observação de atividades diárias das crianças durante as aulas ou no recreio (pátio e playground). A partir das avaliações, tem-se informações obtidas dos principais elementos psicomotores: esquema corporal, lateralidade, coordenação motora (global e fina), organização espacial e organização temporal. As avaliações não devem avaliar a performance da criança nas atividades, mas sim, as atividades que se espera que ela realize de acordo com o seu estágio de desenvolvimento. O acompanhamento diário da criança e as atividades executadas por ela geram informações que devem ser analisadas pelo professor para avaliar a evolução dela. Essa tarefa exige um olhar sensível e reflexivo para perceber as necessidades da criança no campo psicomotor. As avaliações sistematizadas ocorrem por meio da aplicação de baterias de testes psicomotores. Deve-se dar preferência para aquelas validadas e com bons índices de confiabilidade e reprodutibilidade. A autora Jocian Bueno, em seu livro Psicomotricidade: teoria e prática (BUENO, 1998), cita algumas opções de 76 Práticas Psicomotoras baterias de testes para avaliação psicomotora, no entanto, ela reforça que cada profissional deve criar seu próprio sistema (bateria de testes) de avaliação, de acordo com o perfil do avaliado. Esses testes devem ser validados e confiáveis. QUADRO 5 – TESTES E BATERIAS DE AVALIAÇÃO PSICOMOTORA NOME DA BATERIA (AUTORES) ELEMENTOS PSICOMOTORES AVALIADOS Bateria de Zazzo Lateralidade Exame perceptivo gráfico e gestáltico de Bender Percepção espacial Coordenação visomotora Grafismo (>6 anos) Bateria de Mira Stambak Ritmo Sincinesias (contrações musculares invol- untárias) Coordenação motora fina Agilidade motora na grafia Teste subjetivo de Soubiran Coordenação motora global e fina Equilíbrio Esquema corporal Relaxamento Orientação espacial e temporal Linguagem Exames psicomotores de Pick e Vayer (crianças de 2 a 5 anos) Coordenação motora global e oculomanual Controle postural Controle do próprio corpo Organização perceptiva Linguagem Lateralidade 77 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Exames psicomotores de Pick e Vayer (crianças de 6 a 11 anos) Coordenação dinâmica geral e das mãos Equilíbrio Agilidade Organização espacial Estruturação espaço-temporal Lateralidade Escalas de desenvolvimento de Wallon, Piaget, Denver e Gesell Orientação acerca da evolução normal da criança Costallat, Frostig, Borel-Maisonny e Hu- guette Bucher Orientação por meio de atividades visando um processo de avaliação mais conveniente para o avaliador FONTE: Adaptado de Bueno (1998) O caderno Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, do Ministério da Saúde, apresenta uma orientação quanto aos aspectos psicomotores a serem avaliados em bebês e crianças até 3 anos. Seu conteúdo pode ser acessado em: <https://bvsms.saude.gov. br/bvs/publicacoes/diretrizes_estimulacao_criancas_0a3anos_ neuropsicomotor.pdf>. 4 A IMPORTÂNCIA DA RECREAÇÃO A recreação está relacionada com as atividades ou escolhas feitas para se distrair e se divertir. É comum estar associada com a utilização de brincadeiras e jogos e com a ação de brincar (RECREAÇÃO, 2020; RECREAR, 2020). A partir dessa definição, fica fácil imaginar que brincadeiras e jogos envolvendo elementos psicomotores podem ser estimulados para os mais variados públicos. No entanto, neste tópico, continuaremos com o foco no desenvolvimento psicomotor de crianças e, consequentemente, abordaremos também as possibilidades de recreação na escola. 78 Práticas Psicomotoras Podemos considerar que a recreação escolar apresenta dois objetivos importantes: o lazer e o educacional. No campo educacional, deve-se buscar o desenvolvimento intelectual e das habilidades motoras da criança, incentivar a aprendizagem, a criatividade e autonomia. Com relação ao lazer, a recreação está relacionada à possibilidade de o aluno arriscar e tomar decisões, fazer escolhas sem ser julgado (ou avaliado), estimulando a aprendizagem, a imaginação e contribuindo para a socialização. Além disso, o lazer compreende a ideia de utilizar o tempo livre para as atividades que tragam satisfação para o indivíduo. Quando utilizadas de maneira adequada, as brincadeiras são ferramentas importantes para as crianças, inclusive, no desenvolvimento do raciocínio lógico. Nesse sentido, o estímulo pode ser feito em atividades de lazer e recreação, permitindo que a criança possa testar suas habilidades e descobrir seu potencial. O incentivo e o trabalho dos professores em relação ao lazer e à recreação poderão contribuir para a evolução das crianças nos aspectos físico, pessoal e intelectual. A construção do conhecimento ocorre a partir das interações pessoais e com o meio em que vivemos. Essas interações são exploradas nas atividades recreativas, com a valorização das experiências de cada criança, exercício de novas habilidades e o estímulo da convivência social. Para alcançar os objetivos relacionadas à recreação, as escolas deveriam fornecer um espaço externo amplo e ventilado, contendo uma grande diversidade de objetos. O pátio da escola é o local utilizado durante a recreação, portanto torna-se necessário estar consciente de que o tamanho dele é adequado para a quantidade de crianças que o utilizam e suas brincadeiras. A publicação do Ministério da Educação (BRASIL, 2012, p. 128) cita que: O parque infantil, instalado junto às salas de atividades, é um ganho para crianças e professores no cotidiano das instituições de educação infantil. Planejado nos mesmos moldes do parque para bebês, propõe que o espaço externo seja um potencializados da imaginação, de encantamento, de experiências, de desafios e exercício da sensorialidade. Para crianças de 1 a 3 anos, por exemplo, quando é considerada a estrutura do pátio, é interessante que seja disponibilizada uma área específica de parque com caixa de areia, jardim com plantas, casa da árvore ou cabana para as crianças utilizarem da imaginação, brinquedos tradicionais como escorregadores, balanços, gangorras e gira-giras. Assim, as atividades psicomotoras poderão ser O pátio da escola é o local utilizado durante a recreação, portanto torna-se necessário estar consciente de que o tamanho dele é adequado para a quantidade de crianças que o utilizam e suas brincadeiras. 79 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 1 Considerando a importância das brincadeiras e jogos durante o tempo livre das crianças, qual espaço pode ser construído em escolas, hospitais, parques e até mesmo em casa, e quais são as suas principais características? 2 Cite três brincadeiras ou jogos que podem ser incluídos em um planejamento de atividades para crianças de 8 a 12 anos, com o intuito de desenvolver equilíbrio e coordenação motora global. muito bem exploradas por meio do brincar. Um pátio amplo também possibilitará a realização de atividade em grupos, corridas, andar de triciclos ou bicicletas. Nesse caso, o parque está associado ao pátio, pois as crianças utilizam-se de ambos na hora da recreação (BRASIL, 2012). Por meio das brincadeiras, as interações são favorecidas, sendo queelas podem ocorrer com o professor, com outras crianças, com o ambiente, brinquedos ou outros objetos e em um sentido mais amplo, ela ocorre entre a criança, a família e a escola. Portanto, as brincadeiras devem ser a principal atividade das crianças, favorecendo o desenvolvimento integral do indivíduo (KISHIMOTO, 1999). É assim que também destacamos a importância da brinquedoteca: “um espaço criado com o objetivo de proporcionar condições favoráveis, para que a criança brinque. É um lugar onde tudo estimula a ludicidade” (SANTINI, 1993, p. 25). As brinquedotecas podem ter diversos objetivos e configurações, estando em escolas, hospitais, clínicas terapêuticas, condomínios, dentre outros, mas preservando a ideia central que é o brincar. É por meio dos brinquedos presentes nesse espaço que a criança recebe o estímulo visual para a brincadeira e a imaginação. Nesse cenário, a presença de um agente de recreação (também chamado de recreador) é importante para o desenvolvimento das atividades. Ele é responsável pelo planejamento e execução das atividades propostas visando o melhor aproveitamento do tempo de lazer. Dentre as principais características para se destacar nessa profissão estão: a habilidade de liderar uma atividade em que ele também esteja na condição de participante; entender o interesse de todos e os desejos em comum; conseguir engajar o grupo ao mesmo tempo que se aproxima de cada um. Assim, destaca-se a necessidade de um profissional recreador qualificado, que faça um bom planejamento das atividades e tenha habilidades específicas para desenvolver um bom trabalho. 80 Práticas Psicomotoras 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, procuramos reconhecer o papel da atuação docente nas práticas psicomotoras, com ênfase na educação infantil, e conhecer algumas ferramentas que permitem avaliar a necessidade e correto desenvolvimento de atividades psicomotoras. Além disso, sugerimos algumas brincadeiras e jogos e apresentamos o potencial das atividades de recreação no desenvolvimento psicomotor de crianças. Conhecer as etapas de desenvolvimento motor e as características individuais possibilita ao professor um melhor direcionamento das atividades para as necessidades das crianças nos âmbitos cognitivo, motor e psicológico, além de combater possíveis deficiências. Verificamos que, para o desenvolvimento mais adequado dessas atividades, o professor necessita realizar avaliações periódicas em seus alunos e estar atento às dificuldades na realização das atividades propostas. Além disso, é fundamental que o professor tenha o suporte da instituição em que trabalha e disponibilidade de estrutura e materiais. Especialmente na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, brincar deve ser a principal atividade da criança e a variabilidade das atividades educacionais e recreativas pode ajudar no seu desenvolvimento integral. Contudo, cabe salientar que as brincadeiras devem ser adequadas de acordo com a faixa etária das crianças, por exemplo: brinquedotecas não funcionam para crianças acima de 8 anos, mas são essenciais para os menores; amarelinhas são para crianças a partir de certa idade e funcionam bem com os maiores. As brincadeiras e os jogos estimulam vários tipos de conhecimento, além de ter a função de divertir e impactar positivamente na personalidade, aprendendo a ter companheirismo e solidariedade e também desenvolver o poder de escolha e a tomada de decisão individual e coletiva. Destaca-se, também, que as atividades de lazer e recreação são de extrema importância para o desenvolvimento físico e pessoal. Essas atividades acabam sendo desenvolvidas com mais facilidade pelas crianças, ainda assim, é preciso ter um planejamento adequado e supervisão das atividades, considerando as faixas etárias. Dessa forma, agrega-se mais valor a essas atividades e ao profissional que as desenvolve. Portanto, é por meio das brincadeiras, jogos e atividades de lazer que as crianças são estimuladas a vivenciar situações novas, fazendo delas uma forma de se comunicar, sentir prazer e de passar o tempo livre. Assim, a capacidade de criar e aprender é necessária, entendendo que a brincadeira constitui um dos meios mais importantes que podem levar as crianças a um crescimento global. 81 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 Ao final desse capítulo, esperamos que você tenha conseguido fazer relações do conteúdo apresentado com as suas experiências profissional e pessoal. No próximo capítulo, abordaremos a psicomotricidade com relação aos seus tipos de práticas, sendo elas educacionais, terapêuticas e esportivas. REFERÊNCIAS ARANTES, M. M.; VALADARES, F. R. Crianças, educação infantil, aprendizagem e desenvolvimento: contribuições da teoria Walloniana. RENEFARA, v. 3, n. 3, p. 69-80, 2012. BRASIL. Brinquedos e brincadeiras de creche: manual de orientação pedagógica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC/SEB, 2012. 158p. BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. São Paulo: Editora Lovise, 1998. COSTA, H. T. et al. Influência da educação física no desenvolvimento psicomotor de crianças com cinco anos de idade. Nuances: estudos sobre Educação, v. 27, n. 3, p. 79-100, 2016. DESENVOLVIMENTO. In: MICHAELIS Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2020. Disponível em: <https:// michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/ desenvolvimento/>. Acesso em: 11 abr. 2020. DIAMENT, A. J. Bases do desenvolvimento neurológico. Arquivos de Neuro- Psiquiatria, v. 36, n. 4, p. 285-302, 1978. HOFFMANN, J. M. L. Avaliação na pré-escola: um olhar sensível e reflexivo sobre a criança. Porto Alegre: Mediação, 2000. IMAI, V. H. Desenvolvimento psicomotor: uma experiência de formação continuada em serviço com professores da educação infantil. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, São Paulo, 2007. 82 Práticas Psicomotoras IMAI, V. H. O caráter preventivo das práticas psicomotoras na educação infantil. In: GUIMARÃES, C.M (org.). Perspectivas para educação infantil. Araraquara: Junqueira e Marin, 2005, p.219- 33. KISHIMOTO, T. M. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. Petrópolis: Vozes, 1999. KYRILLOS, M. H. M.; SANCHES, T. L. Fantasia e criatividade no espaço lúdico: educação física e psicomotricidade. In: ALVES, Fátima (Org.). Como aplicar a psicomotricidade: uma atividade multidisciplinar com amor e união. Rio de Janeiro: Wak, p. 153-175, 2004. LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor. Porto Alegre: Artmed, 1992. LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até os 6 anos. Tradução de Ana Guardrola Brizolara. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. MOLINARI, A. M. da P.; SENS, S. M. A educação física e sua relação com a psicomotricidade. Revista PEC, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 85-93, 2003. MORIZOT, R. A história da psicomotricidade e da Associação Brasileira de Psicomotricidade. 2018. Disponível em: <https://psicomotricidade.com.br/a- historia-da-psicomotricidade-e-da-abp/>. Acesso em: 11 abr. 2020. OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis: Vozes, 1997. ORGANIZACIÓN DE LOS ESTADOS AMERICANOS. Primeira infância: um olhar desde a neuroeducação. Washington, DF, 2006. Disponível em: <http://iin. oea.org/pdf-iin/RH/primera-infancia-por.pdf>. Acesso em: 10 set. 2017. PAIM, M. C. C., BONORINO, S. L. Importância da educação física escolar, na visão de professores da rede pública de Santa Maria. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, v. 13, n. 130. 2009. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd130/importancia-da-educacao-fisica-escolar- na-visao-de-professores.htm>. Acesso em: 11 abr. 2020. RAPPAPORT, C. R. Psicologia do desenvolvimento: teoria do desenvolvimento- conceitos fundamentais. São Paulo: EPU, 1981. 83 Atuação Docente e as Atuação Docente e as Práticas PsicomotorasPráticas Psicomotoras Capítulo 2 RECREAÇÃO. In: MICHAELIS Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2020. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/ moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/recreacao/>. Acesso em: 15 abr. 2020. RECREAR. In: MICHAELIS Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2020. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/ moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/recrear/>. Acesso em: 15 abr. 2020. SANTINI, R. de C. G. Dimensões do lazer e da recreação: questões espaciais, sociais e psicológicas. São Paulo: Angelotti, 1993. VICENTE, D. V.; LUCENA, R. R. A importância da psicomotricidade nas aulas de educação física na educação infantil. Revista Científica Integrada, v. 3, n. 2. [s.d]. Disponível em: <https://www.unaerp.br/revista-cientifica-integrada/edicoes- anteriores/volume-3-edcao-2/2411-rci-a-importancia-da-psicomotricidade-nas- aulas-de-educacao-fisica-na-educacao-infantil/file>. Acesso em: 11 abr. 2020. WALLON, H.; BERLINDER, C. A evolução Psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1975. 84 Práticas Psicomotoras CAPÍTULO 3 Práticas da Psicomotricidade A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Apresentar os objetivos das diferentes práticas da psicomotricidade. • Distinguir e aplicar corretamente as práticas psicomotoras educacionais, terapêuticas e esportivas. 86 Práticas Psicomotoras 87 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO As práticas psicomotoras podem ser divididas em três objetivos principais: educação, reeducação e terapia. A educação psicomotora trata da realização de atividades voltada para o desenvolvimento integral da criança, estimulando as habilidades correspondentes a cada faixa etária, preparando para as próximas etapas de desenvolvimento e, buscando prevenir as disfunções ligadas à aprendizagem. Como um exemplo prático de educação psicomotora, temos as atividades realizadas na educação infantil, por pedagogos e profissionais de educação física. A reeducação psicomotora, como o próprio nome diz, preocupa-se com reestruturar as funções psicomotoras em crianças que apresentam algum déficit psicomotor. Esse trabalho pode ocorrer nas escolas, no entanto, é necessário que ele seja mais especializado e individualizado do que a educação psicomotora. O tratamento de doenças ou condições psicomotoras, afetivas ou cognitivas mais graves é realizado através da terapia psicomotora. Ela é voltada para pessoas com deficiências físicas ou mentais que apresentam dificuldades de comunicação, de expressão corporal e de vivência simbólica. Suas atividades são realizadas em clínicas e hospitais especializados. Com relação às práticas esportivas, elas podem (e devem) fazer parte do repertório de atividades a fim de desenvolver aspectos motores, como a coordenação motora, a lateralidade e o equilíbrio. Além disso, o esporte pode contribuir para o desenvolvimento social e emocional das crianças, desde que sejam considerados alguns aspectos, como a ponderação entre competitividade e resultado. As práticas esportivas no contexto psicomotor devem ser inclusivas e favorecer o desenvolvimento integral da criança. 2 PRÁTICAS EDUCACIONAIS A psicomotricidade é uma técnica que pode ser utilizada durante toda a infância, em todos os estágios do desenvolvimento motor. Nas etapas de aprendizagem, são destacados aspectos importantes como proporcionar um ambiente rico em estímulos e adequar as atividades de acordo com o tempo de cada fase da criança. É importante também que sejam realizadas atividades que favoreçam a integração e a socialização, visando impactar no desenvolvimento psíquico. As habilidades adquiridas facilitam o aprendizado e a detecção de problemas e atrasos de desenvolvimento com antecedência (FONSECA, 2009). 88 Práticas Psicomotoras As práticas educacionais são extremamente importantes para o desenvolvimento da criança e vêm sendo apresentadas desde o Capítulo 1. Elas podem ser divididas em: educação e reeducação psicomotora. Vejamos, a seguir, as características de cada prática. 2.1 EDUCAÇÃO PSICOMOTORA A educação psicomotora inicia o mais cedo possível, na educação infantil, em que a atuação dos professores é fundamental para estimular o desenvolvimento psicomotor e para identificar dificuldades e possíveis atrasos das crianças. Destacamos, assim, a importância de se trabalhar os elementos da educação psicomotora e a sua influência em outros aspectos, como na personalidade e na aprendizagem (LE BOULCH, 2008). Para Le Boulch (2008), a educação psicomotora deve ser vista como a educação de base no ensino infantil. A estruturação e domínio dos elementos básicos da psicomotricidade: consciência (esquema) corporal, lateralidade, noção espaço-temporal, habilidade e coordenação motora dão suporte para a aprendizagem nos anos iniciais. A educação psicomotora deve ter prioridade desde os primeiros anos a fim de prevenir (mal) adaptações que serão difíceis de serem revertidas quando estruturadas. A educação psicomotora é dirigida, basicamente, para crianças com o objetivo de favorecer o desenvolvimento psicomotor e evitar distúrbios de aprendizagem. As atividades desenvolvidas têm caráter preventivo e envolvem a estimulação das capacidades básicas: a) sensoriais: visão, tato, paladar, olfato; b) motoras: coordenação, equilíbrio, lateralidade, ritmo; e, b) de percepção: noção de tempo e espaço, esquema corporal, tônus; repercutindo na melhor organização da aprendizagem (ALVES, 2007). A educação psicomotora é dirigida, basicamente, para crianças com o objetivo de favorecer o desenvolvimento psicomotor e evitar distúrbios de aprendizagem. 89 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 FIGURA 1 – PRÁTICAS PSICOMOTORAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR FONTE: <https://stjames.com.br/corpo-em-movimento-brincadeiras- estimulam-a-educacao-psicomotora/>. Acesso em: 20 jun. 2020. Nesse contexto, o trabalho dos professores deve garantir a formação de base fundamental para o desenvolvimento motor, afetivo e psicológico. É por meio de atividade lúdicas, jogos e brincadeiras que as crianças se conscientizam sobre seu corpo e interagem com os objetos. Assim, entende-se que a educação física escolar pode contribuir ainda mais para o desenvolvimento dos alunos, utilizando práticas psicomotoras como forma de atividades rítmicas e recreativas (MOLINARI; SENS, 2003). Para o desenvolvimento psicomotor, busca-se estimular funções motoras, cognitivas, sociais, afetivas e de percepção. É por meio da brincadeira que a criança pode se expressar, mostrar seus desejos e emoções. A brincadeira também deve ser carregada de ludicidade para aumentar a motivação das crianças em participar e despertar experiências que vão além do movimento do corpo. Nesse sentido, as práticas psicomotoras podem estar conjugadas com atividades teatrais. No estudo de Spanaki et al. (2016), foi investigada a efetividade de um programa de práticas psicomotoras com elementos teatrais nas habilidades cognitivas e motoras de pré-escolares. As práticas psicomotoras foram baseadas na metodologia de desenvolvimento psicomotor que dá ênfase em três direções: corpo, socialização e experiências materiais (Quadro 1). Ao final de 10 semanas de intervenção, os autores observaram benefícios na habilidade motora geral e nas funções cognitivas relacionadas com a linguagem, vocabulário, memorização 90 Práticas Psicomotoras de imagens, distinção de gráficos, completar propostas e conclusão de palavras (SPANAKI et al., 2016). QUADRO 1 – PRÁTICAS PSICOMOTORAS PORMEIO DE BRINCADEIRAS TEATRAIS Brincadeiras teatrais Desenvolvimento - Ativi- dades motoras Materiais Piratas e o tesouro Desenvolvimento motor global – movimentos de dif- erentes maneiras (equilíbrio, caminhar na ponta dos pés etc.) Cadeiras, caixas, colchonetes, mesas, aros de ginástica etc. Atletas em corridas com obstáculos Desenvolvimento motor glob- al – saltos, corrida, rastejan- do no chão, girando etc. Cabos, pneus de automóveis, colchonete, aptidão para boli- che etc. Corridas no rio Percepção espacial e coor- denação bilateral das ativi- dades corporais. Mastros de bandeira, canos de solo, pneus de automóveis, pedalinho etc. Os planetas no quadra- do do universo Percepção do espaço - For- mas com o corpo: bolas, triângulos, quadrados e dia- mantes. Bolas, argolas de ginástica, barras, caixas grandes etc. FONTE: Adaptado de Spanaki et al. (2016) Os resultados desse estudo reforçam o potencial das práticas psicomotoras na aprendizagem e, nesse caso, enriquecidas com brincadeiras teatrais. É importante que os professores e os profissionais de educação física, de educação infantil e dos anos iniciais saibam que essas atividades podem contribuir para a melhora da habilidade motora das crianças, além de auxiliar no desenvolvimento de funções cognitivas. Além disso, os professores devem ter em mente maneiras alternativas de dar suporte para os alunos, visando facilitar a aprendizagem através de intervenções desde os primeiros anos (SPANAKI et al., 2016). A realização de brincadeiras é fundamental para a vida da criança. O mundo do brinquedo é aquele criado por ela e, ao mesmo tempo, é onde a criança se desenvolve. O caráter lúdico das atividades e da própria vida da criança deve ser defendido, visto que os símbolos utilizados recriam a realidade, principalmente, no contexto social e de interação humana. Trata-se de uma atividade social aprendida, em que são atribuídos significados aos objetos e ações, contribuindo para o desenvolvimento de um sistema de comunicação e interpretação do mundo real. Brincar constitui-se, dessa forma, em uma atividade interna das crianças, baseada no desenvolvimento da imaginação e na 91 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 interpretação da realidade, sem ser ilusão ou mentira. Também se tornam autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colocando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem a intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucionar problemas de forma livre das pressões situacionais da realidade imediata (BRASIL, 1998, p. 23). Nesse sentido, a utilização de elementos, como o faz de conta e a fantasia, estimulam a imaginação da criança, dando “vida e sentimento” aos objetos inanimados. Por exemplo: a boneca vai dormir ou está com fome e precisa ser alimentada; e a tampa da panela que vira volante de carro (em que um objeto se torna algo para a satisfação de quem está brincando). Essa representação da realidade é chamada de jogo simbólico e ela ocorre por meio da imitação e da imaginação. O jogo simbólico é importante, pois auxilia na compreensão da realidade, mesmo que as crianças ainda sejam incapazes de entender a realidade em si. Assim, utilizar acessórios, como fantasias de personagens famosos e brinquedos, contribui para a imaginação e ludicidade das brincadeiras. A expressividade da criança nas atividades também vai auxiliar no equilíbrio emocional, reduzindo as situações de angústia e ansiedade. FIGURA 2 – UTILIZAÇÃO DE FANTASIAS PARA A REALIZAÇÃO DE BRINCADEIRAS TEATRAIS FONTE: <https://br.freepik.com/fotos/festa'>. Acesso em: 20 jun. 2020. Diversos autores já têm mostrado a grande importância da psicomotricidade para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem da criança. Também é observado que os problemas no desenvolvimento psicomotor repercutem em 92 Práticas Psicomotoras dificuldades em diversas áreas da aprendizagem. Nesse sentido, a inclusão de práticas psicomotoras para as crianças, por meio de movimentos e interações com o corpo e os objetos, contribuirá para a formação da personalidade, estimulação da criatividade e bom desenvolvimento geral (GIBELLI, 2014). Contribuições significativas são observadas quando os elementos da psicomotricidade (lateralidade, equilíbrio, coordenação motora, esquema corporal, ritmo, estruturação espaço-temporal e tônus) são trabalhados desde cedo, sob o olhar atento dos pais e professores e de acordo com a maturação da criança. Por meio dos estímulos e das vivências das práticas psicomotoras, a criança lidará com o seu próprio espaço, relacionar-se com objetos e com outras pessoas, minimizando as dificuldades na aprendizagem, que se torna mais natural e fluída (GIBELLI, 2014). Nesse contexto, os estímulos relacionados à lateralidade, por exemplo, impactam no desenvolvimento do sistema nervoso central e organização espacial, repercutindo negativamente na aprendizagem. A dificuldade em identificar esquerda e direita pode fazer com que a criança não consiga seguir a direção das frases e textos em um livro (considerando que a leitura inicia pela esquerda) (LUCENA et al., 2010). Além disso, crianças que apresentam lateralidade cruzada têm mais chances de desenvolverem problemas como o transtorno obsessivo- compulsivo (SIVIERO et al., 2002). Diante disso, observa-se que quando a criança estabelece uma relação direta com o que está aprendendo e com o meio (espaço, tempo, objetos), a aprendizagem torna-se efetiva, ocorre a mudança no comportamento e a ampliação do seu potencial. Portanto, é imprescindível que o professor(a) tenha o domínio do conhecimento teórico sobre o desenvolvimento infantil e o processo de aprendizagem e que ele(a) conheça as crianças e suas particularidades (GUAPINDAIA, 2019). Nesse sentido, a inclusão de práticas psicomotoras para as crianças, por meio de movimentos e interações com o corpo e os objetos, contribuirá para a formação da personalidade, estimulação da criatividade e bom desenvolvimento geral (GIBELLI, 2014). 1 As práticas psicomotoras de educação são muito importantes para as crianças, desde os primeiros anos. Quais os aspectos principais que devem guiar o planejamento das atividades? Responda V para as alternativas verdadeiras e F para as alternativas falsas. 93 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 ( ) A etapa do desenvolvimento motor em que as crianças se encontram. ( ) Na sala de aula, é fundamental que esteja previsto no planejamento que todas as crianças devem realizar as atividades da mesma forma. ( ) O conhecimento prévio de cada criança, suas experiências anteriores e habilidades, também devem embasar o planejamento. ( ) O planejamento das atividades deve incluir uma diversidade de estímulos e atividades lúdicas. 2.2 REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA A reeducação psicomotora, como o próprio nome já diz, visa reeducar o indivíduo para os aspectos psicomotores, tais como: dominar o equilíbrio e o tônus, controlar com eficácia os movimentos globais e melhorar a coordenação motora fina, ter uma boa organização do esquema corporal desenvolvendo consciência corporal, apresentar uma boa orientação espaço-temporal e correta lateralização. Ela é indicada a pessoas com dificuldades ou atrasos psicomotores leves, com problemas afetivos e que sofrem distúrbios. Os distúrbios psicomotores são dificuldades na realização de determinados gestos, alterações cognitivas e afetivas que não acompanham as etapas de desenvolvimento da criança. Nessas situações, são observadas dificuldade para andar, quedas frequentes, movimentos lentos e desajeitados. Os distúrbios podem levar a dificuldades de aprendizagem, ou seja, crianças com instabilidade ou inibição psicomotora têm a noção espaço-temporal, a coordenação visomotora e a lateralidade comprometidas, além de possivelmente apresentarem a imagemcorporal distorcida (GRUNSPUN, 1991). Os distúrbios psicomotores são classificados como (GRUNSPUN, 1991): • Instabilidade psicomotora: é um distúrbio complexo, no qual predomina a atividade muscular contínua e incessante. As pessoas com esse distúrbio apresentam instabilidade emocional, afetiva e social, dificuldade de aprendizagem, prejuízos na coordenação motora e no equilíbrio. • Inibição psicomotora: é caracterizada, principalmente, pela presença constante de ansiedade, que afeta diversas tarefas do cotidiano. Além 94 Práticas Psicomotoras disso, ocorrem problemas de coordenação motora e outros distúrbios (circulatórios, tiques, perda involuntária de urina e fezes). • Debilidade psicomotora: nesse distúrbio ocorre a dificuldade de relaxar voluntariamente um grupo muscular, caracterizado pela paratonia (rigidez muscular persistente nas extremidades do corpo) e pela sincinesia (contração de músculos que não são necessários para determinada tarefa). Outras características englobam a dificuldade de linguagem, tremores, sonolência, falta de atenção e coordenação motora fina comprometida. • Lateralidade cruzada: é definida pela dominância trocada, ou seja, as dominâncias não são todas do mesmo lado (direto ou esquerdo), de pé, mão, olho e ouvido. Pessoas que apresentam esse distúrbio têm problemas de linguagem e aprendizagem, coordenação motora comprometida, sentem-se mais fadigadas e têm quedas frequentes. • Imperícia: é um distúrbio de menor gravidade, sem comprometimento cognitivo, no entanto, as crianças podem apresentar coordenação motora fina e grafia comprometidas; rigidez muscular; e fadiga. Os portadores desses distúrbios necessitam de acompanhamento individual ou em pequenos grupos (dependendo da gravidade dos problemas). Para o correto acompanhamento também se faz necessária uma avaliação psicomotora específica que inclua os seguintes componentes: coordenação motora global e fina; qualidade tônica (relaxamento e rigidez); agilidade; equilíbrio; qualidade gestual; lateralidade; organização espacial e temporal; e grafia (ANTUNES, 2012). As práticas de reeducação se utilizam de jogos e exercícios psicomotores para alcançar três situações principais: a redução do sintoma, o alívio e a adaptação ao problema. No entanto, em alguns casos, espera-se a total recuperação dos problemas psicomotores. De maneira geral, são recomendadas atividades de expressão livre e harmoniosa, buscando a eficiência dos movimentos e do corpo. A sistematização da rotina de atividades e o nível de idade dos participantes devem ser considerados na metodologia (ALVES, 2007). O trabalho de reeducação deve começar o mais cedo possível, a fim de reestabelecer as funções prejudicadas e não prejudicar as próximas etapas de desenvolvimento motor, psicológico e afetivo. Destaca-se, também, que a avaliação psicomotora desempenha um papel fundamental no processo de reeducação. Existem diversas formas de avaliação na literatura, cabe ao profissional escolher a que melhor se encaixa na sua realidade. A seguir, apresentaremos dois exemplos de avaliação psicomotora: o Manual 95 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 de Avaliação Motora de Rosa Neto (2002; 2015) e um instrumento para avaliar crianças entre 6 a 10 anos (BRÊTAS et al., 2005). • Manual de Avaliação Motora – EDM III O Manual de Avaliação Motora – EDM III (ROSA NETO, 2015; 2002) é indicado para avaliação de crianças com dificuldades na aprendizagem escolar; atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor; problemas na fala, escrita e cálculo; problemas de conduta (hiperatividade, ansiedade, falta de motivação, outros); alterações neurológicas e sensoriais. Podendo ser aplicado em escolares da Educação Infantil, Fundamental e Especial. Os materiais utilizados para a execução dos testes compõem o kit EDM, sendo eles: livro, folha de respostas, instrumentos para aplicação dos testes, programa informático e vídeo digitalizado, arquivos com trabalhos científicos (Figura 3). FIGURA 3 – KIT EDM FONTE: <http://www.motricidade.com.br/kit-edm.html>. Acesso em: 20 ago. 2020. A avaliação compreende os seguintes elementos da psicomotricidade: coordenação motora (fina e global); equilíbrio; esquema corporal; organização espacial e temporal; e lateralidade. Na figura a seguir é apresentado um resumo dos testes utilizados. 96 Práticas Psicomotoras FIGURA 4 – RESUMO DOS TESTES MOTORES DO MANUAL DE AVALIAÇÃO MOTORA – EDM III FONTE: Adaptado de Rosa Neto (2015; 2002) 97 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 • Ficha de avaliação psicomotora O instrumento, apresentado por Brêtas et al. (2005), foi adaptado baseado no Manual de Exame Psicomotor de Rossel (ROSSEL, 1975) e no Manual da Revisão Psicomotora de Guilmain (GUILMAIN, 1986). Trata-se de um sistema de avaliação de funções psicomotoras (motora, perceptual e dominância lateral) para crianças entre 6 e 10 anos de idade. Os materiais utilizados na realização das atividades foram: lápis preto, bolas, tesoura, baralho, material para encaixe, fio de nylon e estruturas de madeira perfuradas, cubos de madeira colorida de 2,5 x 2,5 cm, material para Atividade de Vida Diária (com zíper, carreira de botões, cadarço), folha com desenho de labirinto e com formas geométricas para recorte, 10 clips, jogos de encaixe, formas geométricas retilíneas em papel para recorte, cartaz com tipos de grafismos e outros (Figura 5). FIGURA 5 – MATERIAL PARA A AVALIAÇÃO DE FUNÇÕES PSICOMOTORAS DE BRÊTAS ET AL. (2005) FONTE: Brêtas et al. (2005. p. 412) 98 Práticas Psicomotoras Ficha de Avaliação Psicomotora (adaptado de Brêtas et al., 2005). Identificação:__________________________________________ Idade:__________________ Data:_________ Sexo: (a) M (b) F Escolaridade: __________________________________________ I – COORDENAÇÃO MOTORA 1. Coordenação motora fina (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. ( ) Atitude de encaixe (5 encaixes) 2. ( ) Atitude de enfiagem (5 enfiagens) 3. ( ) Composição articulada de 10 clips 4. ( ) Abotoa e desabotoa uma fileira de botões 5. ( ) Puxa um zíper 6. ( ) Atitude de empilhagem (5 objetos) 7. ( ) Recorte em papel (seguindo o modelo) 8. ( ) Desenho dos labirintos (seguindo o modelo) 2. Coordenação motora grosseira, dinâmica, postura e equilíbrio (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. ( ) Controle da imobilidade por 30 seg. (com olhos abertos) 2. ( ) Controle da imobilidade por 30 seg. (com olhos fechados) 3. ( ) Equilíbrio estático sobre uma perna durante 30 seg. 4. ( ) Anda em frente, sobre um linha reta. 5. ( ) Caminha para trás. 6. ( ) Pula com os dois pés juntos, sem sair do lugar. 7. ( ) Pula com um pé só em uma distância de 2 m. 8. ( ) Salta obstáculos (5 obstáculos) 9. ( ) Agacha-se 10. ( ) Bate palmas-pé-palmas (dissociação de movimento) 11. ( ) Bate bola 12. ( ) Chuta bola parada 13. ( ) Chuta bola em rebote. 14. ( ) Pula corda (5 vezes seguidas) 15. ( ) Acompanha com os olhos, um círculo feito pela mão do 99 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 examinador, sem mexer a cabeça. 16. ( ) Braços estendidos horizontalmente sobre os lados descrevendo no espaço circunferências com os indicadores das mãos (o direito com sentido horário e o esquerdo com sentido anti- horário) – duração de 10 seg. 17. ( ) Andando a criança carrega em sua mão esquerda uma bobina da qual ela desenrola o fio, para enrolá-lo no indicador direto. Após 5 a 10 seg. de repouso, repetir o mesmo exercício com a outra mão – duração de 15 seg. II- FUNÇÃO PERCEPTUAL 3. Esquema corporal (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. ( ) Nomeia partes do corpo em si. 2. ( ) Nomeia partesdo corpo nos outros. 3. ( ) Discrimina partes do corpo nos objetos. 4. ( ) Desenho da figura humana. 4. Adaptação espacial (andar em um espaço determinado, contando até 5 passos e voltar contando 10 passos, por 3 vezes). (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. ( ) Passos maiores. 2. ( ) Passos menores. 5. Orientação espacial (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. ( ) realização do jogo mão – pé. 6. Memórias (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. ( ) Memória visual. 2. ( ) Memória tátil. 7. Ritmo e concentração (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. ( ) Ritmo espontâneo (tempo espontâneo). 2. ( ) Ritmo codificado (estruturação temporal). 100 Práticas Psicomotoras TESTE DE RITMO E CONCENTRAÇÃO DE MIRA STAMBAK. Estruturas rítmicas Erro Acerto Ensaios o o o o 1. ooo ( ) ( ) 2. oo oo ( ) ( ) 3. o oo ( ) ( ) 4. o o o ( ) ( ) 5. oo oo ( ) ( ) 6. o ooo ( ) ( ) 7. oo o o ( ) ( ) 8. oo oo oo ( ) ( ) 9. oo ooo ( ) ( ) 10. oo oo ( ) ( ) 11. o oo oo ( ) ( ) 12. oooo o ( ) ( ) 13. oo o oo ( ) ( ) 14. oo oo oo ( ) ( ) 15. ooo oo ( ) ( ) 16. oo ooo o ( ) ( ) 17. o oooo oo ( ) ( ) 18. oo o o oo ( ) ( ) 19. ooo o oo o ( ) ( ) 20. o oo ooo oo ( ) ( ) 21. o oo oo o oo ( ) ( ) 8. Discriminação esquerda/direita (a) Realizou sem dificuldade. (b) Realizou com dificuldade. (c) Não realizou. 1. Direita – esquerda: reconhecimento em si 1. ( ) mostrar a mão direita. 2. ( ) mostrar a mão esquerda. 3. ( ) mostrar o olho direito. 4. ( ) mostrar a orelha esquerda. 2. Executar movimentos ordenados oralmente. 1. ( ) mão direita – orelha esquerdo. 2. ( ) mão esquerda – olho direito. 3. ( ) mão direita – olho esquerdo. 4. ( ) mão esquerda – orelha direita. 3. Direita – esquerda: reconhecimento no outro (do observador frente a frente). 1. ( ) Toque na minha mão esquerda. 2. ( ) Toque na minha mão direita. 101 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 9. Grafismo rítmico – perceptual (utilizar modelos gráficos): (a) Sim (b) Não 1. ( ) Consistência de ritmo. 2. ( ) Inversões de direção. 3. ( ) Confusões de ordem. 4. ( ) Alterações de modelo. 5. ( ) Reprodução inexata. 6. ( ) Tamanho irregular. III- DOMINÂNCIA LATERAL (lateralização) 10 – Avaliação da dominância lateral: (a) Sim (b) Não 1. ( ) Dominância lateral definida. 2. ( ) Dominância lateral cruzada. 3. ( ) Dominância lateral indefinida MÃOS Provas Direita Esquerda Indefinida Recorte Baralho Movimento das mãos em leque Marionete com as mãos Movimento dos dedos – piano Desenho OLHOS Provas Direita Esquerda Indefinida Cartão perfurado Olhar pelo cone PÉS Provas Direita Esquerda Indefinida Equilíbrio estático Equilíbrio dinâmico Chute Rebote Subir na cadeira Descer da cadeira FONTE: Adaptado de Brêtas et al. (2005. p. 410-411) 102 Práticas Psicomotoras É importante destacar que a aplicação de avaliações psicomotoras necessita de conhecimento aprofundado, preparação e treinamento. Seguir protocolos bem definidos diminui a chance de variação na aplicação dos testes e, consequentemente, erros nas medidas. Com os resultados em mãos, os profissionais conseguem identificar quais as necessidades dos avaliados e direcionar as práticas psicomotoras mais adequadas. A avaliação também possibilita acompanhar a evolução dos pacientes e a resposta às práticas. Essas avaliações extrapolam o contexto de reeducação psicomotora, podendo ser aplicadas também para embasar as práticas educacionais e, até mesmo, as práticas terapêuticas. • Considerações sobre a reeducação psicomotora As práticas de reeducação psicomotora não podem ser conduzidas como uma simples “ginástica”. Chazaud (1987, p. 13) chama esse trabalho de “psicoterapia com mediação corporal”. É indiscutível o papel central que o exercício tem, mas trata-se de uma educação gestual que busca, por meio do exercício, desenvolver o ser humano em sua totalidade, situá-lo no tempo, no espaço e no ambiente onde está presente, relacionando-se com os objetos a sua volta de forma harmônica e significativa. O autor também afirma que “a reeducação psicomotora aparece como uma terapêutica que age por meio do corpo sobre as funções psíquicas ou ‘instrumentais’ da adaptação” (CHAZAUD, 1987, p. 14). Nesse sentido, ela pode iniciar um tratamento ou complementar outras terapias (neurológica, psicossomática, psicológica). As práticas de reeducação contemplam técnicas específicas, exercícios psicomotores, jogos e trabalho direto pelas falas (vocalização). De acordo com Alves (2007), ela pode ser dividida em diretiva e não diretiva: • Reeducação diretiva: o profissional responsável pela prática (educador ou psicomotricista) toma as decisões com relação à estratégia e ao método a ser utilizado no tratamento. Para melhor desempenhar o seu papel, o profissional necessita ter grande capacidade para ouvir e compreender a criança. • Reeducação não diretiva: o cliente escolhe o caminho mais adequado para seguir ao longo do tratamento. Essa estratégia utiliza materiais e objetos para serem os intermediários da prática de reeducação psicomotora. A escolha do método de reeducação e técnicas mais apropriados será feita pelo próprio profissional. O estilo do terapeuta, a personalidade e os distúrbios do paciente influenciam no trabalho de reeducação psicomotora (COSTE, 1978). O estilo do terapeuta, a personalidade e os distúrbios do paciente influenciam no trabalho de reeducação psicomotora (COSTE, 1978). 103 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 Na relação terapêutica da reeducação psicomotora, entre o paciente e o reeducador, é possível seguir dois eixos ou estilos de atendimento, que não se excluem totalmente, são eles: 1. A reeducação como uma técnica de condicionamento: que consiste em “eliminar no sujeito os mecanismos e hábitos cuja aquisição deu lugar às perturbações que o conduziram à reeducação” (COSTE, 1978, p. 75). A partir de uma técnica operacional são desenvolvidos exercícios de ritmo, lateralidade e coordenação motora, buscando o reconhecimento do corpo. Nesse caso, a relação terapêutica é mediada por essa técnica e a progressão do paciente está no centro do tratamento, por meio da evolução crescente da dificuldade das tarefas. Cada tarefa proposta deve auxiliar no desenvolvimento de um comportamento, ao mesmo tempo que mantém o paciente motivado para as próximas práticas. Nesse caso, a utilização de recompensas ao longo da sessão é uma estratégia para aumentar a satisfação em realizá-la. Outra dica do autor é estimular a criança com a ludicidade do exercício e a presença encorajadora e gratificante do “reeducador”. A atenção da criança será maior também com a utilização de práticas que alternem seus componentes, ou seja, em uma mesma sessão, alternar atividades e brincadeiras que trabalhem a força e o relaxamento/descontração. 2. A reeducação, atitude essencialmente relacional: nesse caso, o elemento-chave da dinâmica é o aspecto relacional e afetivo. Aqui, o corpo ainda é o centro das terapias práticas, mas as realizações motoras serão secundárias e a progressão das sessões será feita de acordo com a progressão das relações afetivas e das projeções feitas pelo paciente. Neste eixo, entende-se que a situação patológica é tratada de forma que os sintomas e o tratamentoda criança não sejam fixos, definidos e tratados como uma condição médica pré-estabelecida. O terapeuta propõe: antes de tudo, o meio de reconstruir, num contexto, lugar e tempo privilegiados, um diálogo e uma comunicação que lhe faltavam; [...] reabilita sua gestualidade como meio de expressão e assume sua atitude e suas posturas, sob o olhar do terapeuta (COSTE, 1978, p. 76). 104 Práticas Psicomotoras FIGURA 6 – ATIVIDADES DE REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA FONTE: <https://www.ganhesempremais.com.br/psicopedagogia/bases-da-educacao- psicomotora-para-criancas-com-tdah-e-dislexia/>. Acesso em: 20 jun. 2020. Apresentado isso, reflita por um instante sobre as seguintes questões: como você poderia organizar os aspectos técnicos da reeducação psicomotora? Por onde começar? Quais as etapas da reeducação? Pensando nisso, apresentamos a seguir alguns pontos de referência elaborados pelo estudioso Jean-Claude Coste, em seu livro intitulado A psicomotricidade (1978). Com relação às etapas de progressão que serão apresentadas aqui, destaca-se que elas não são rígidas e universais, podendo ser adaptadas para as diferentes situações. 2.2.1 Reestruturação do esquema corporal Os exercícios que visam a reestruturação do esquema corporal devem acompanhar as etapas de desenvolvimento da criança. No entanto, é importante notar que as condições em que eles acontecem são muito diferentes dos exercícios feitos com o objetivo de educação psicomotora. Então, cabe ao profissional adaptar as práticas à personalidade do paciente, considerando as experiências anteriores e a maturação avançada. A primeira etapa da reeducação do esquema corporal é a investigação do próprio corpo, que ocorre por meio da nomeação, manuseio e utilização do corpo e suas partes: 105 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 • A introdução pode ser feita, primeiramente, pelas partes do corpo (mãos, pés, cabeça). • Utilizar estratégias como o desenho (contornar as mãos e os pés) e a modelagem das partes do corpo, bem como, a criação de máscaras. • A progressão ocorre com o destaque para as principais articulações do corpo (tornozelos, punhos, pescoço, joelhos, quadril, ombros). • Finalmente, ocorre a ligação das partes e unificação do corpo em um eixo. Pode-se utilizar o contato com as mãos e o desenho/contorno do corpo todo. Após a identificação do próprio corpo, o paciente avança para o reconhecimento do corpo, em que ele vai situar o seu corpo no espaço e com relação ao corpo do outro: • Utilizar o espelho (a criança reconhece a própria mão e a mão do reeducador). • Identificar lado direito e lado esquerdo. • Utilizar comandos de voz e imitação (por exemplo: “levantar a mão direita”). • Podem ser utilizados outros meios além do espelho, como o desenho, a mímica e a massinha de modelar. • Realizar atividades em grupos (imitando estátuas, por exemplo). • Utilizar exercícios de contração-descontração e relaxamento para identificar grupos musculares. • As direções de reconhecimento seguem das partes para o todo do corpo e das extremidades para o centro. FIGURA 7 – ATIVIDADES UTILIZANDO O ESPELHO FONTE: <https://www.sbie.com.br/blog/dinamicas-com-espelho-desenvolva- a-inteligencia-emocional-dos-alunos/>. Acesso em: 20 jun. 2020. 106 Práticas Psicomotoras Por último, ocorre a integração do esquema corporal, nessa etapa: • O paciente descreve o próprio corpo, descreve os colegas e interpreta os desenhos e figuras. • São utilizadas as imitações de atitudes, posturas e gestos típicos de personagens significativos para o paciente. • As atividades passam a ser mais complexas, utilizando elementos do equilíbrio, deslocamentos em pé e rastejando. • O relaxamento do corpo também é incluído nessa etapa, dando destaque para o trabalho de conscientização corporal e de verbalização. O impacto da reestruturação do esquema corporal vai além do reconhecimento do próprio corpo e da reconstrução da imagem corporal, ela resulta em benefícios nas funções motoras (coordenação, equilíbrio, lateralidade), na reeducação de aprendizagens (ler, escrever, fazer a higiene pessoal) e no controle tônico-emocional (instabilidade emocional e afetiva, timidez). 2.2.2 Reeducação da estruturação espaço-temporal Disfunções na estruturação espaço-temporal impactam negativamente na adaptação às atividades do ciclo do dia e àquelas relacionadas com os horários (alimentação, descanso, escola), ocorrendo a falta de um ponto de referência e confusão na ordem e sucessão de acontecimentos no tempo. Com a reeducação psicomotora, espera-se que o paciente alcance pontos de referências, desenvolva a noção de tempo e de ritmo. Na composição do trabalho de reeducação psicomotora, pode-se iniciar com a aquisição de pontos de referência espaciais, buscando, no paciente, noções de orientação espacial (alto-baixo, direita-esquerda, frente-atrás): • Identificar os pontos de referência utilizando saltos e quedas (exemplo: a cabeça está em cima do corpo quando eu salto e os pés estão embaixo quando eu caio). • Indicar o que está na frente (barriga) e o que está atrás do corpo (costas), com o auxílio de um espelho. • Desenhar representações mostrando a verticalidade do corpo e os lados direito e esquerdo. • Brincadeiras e jogos (como esconde-esconde) podem ser usados para trabalhar a exploração do espaço. 107 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 • Medir objetos e sua distância para algum ponto de referência (contando passos, por exemplo) e depois reproduzir essas medidas com desenhos. Na segunda etapa, ocorre a projeção no espaço através da orientação, em que o objetivo é fazer com que o paciente organize suas percepções tendo grandes pontos de referência: • Favorecer situações de ocupação dos espaços. • Em grupos, organizar atividades usando diferentes composições, como rodas, linhas, colunas etc. • Estimular a vocalização de gestos e trabalhar a imitação. • Envolver a construção e reconhecimento de formas geométricas (formas, figuras e desenhos). • Desenvolver jogos e brincadeiras de olhos vendados ou no escuro, utilizando o reconhecimento do espaço por meio do tato e do som, como nas brincadeiras “marco-polo” e “cabeça-cega”. FIGURA 8 – EXERCÍCIO COM COMPOSIÇÃO DE GRUPOS FONTE: <http://tatiana-alfabetizacao.blogspot.com/2017/06/ orientacao-espaco-temporal.html>. Acesso em: 20 jun. 2020. A estruturação temporal ocorre na terceira fase, na qual o paciente terá a possibilidade de organizar suas percepções de acordo com o decorrer do tempo: • A realização de tarefas em série é uma das propostas para essa fase (o terapeuta bate palmas duas vezes para a criança dar dois passos), deve ter progressão de dificuldade crescente e pode utilizar gestos ou deslocamentos. • Movimentos complexos podem ser descontruídos, trabalhados em partes (marcha, salto, movimento de braços) e reconectados, dando a ideia de sucessão e ordem com base na gestualidade. 108 Práticas Psicomotoras • Quando a criança identifica a organização dos momentos para cada tipo de atividade (estruturada, lúdica, relaxamento) durante a reeducação, pode auxiliar na estruturação das suas próprias atividades no dia a dia. Por fim, a reeducação da estrutura espaço-temporal necessita conscientizar e educar sobre os ritmos próprios. O nosso corpo funciona por meio de ritmos (respiratório, cardíaco) e eles devem ser repassados para os pacientes: • Para estimular o reconhecimento do ritmo da respiração, podem ser feitos exercícios de sopro (usando bolas, chamas), exercícios de controle da respiração com movimentos coordenados, exercícios de força e alongamento mediados pela respiração. • Identificar o ritmo respiratório da criança por meio do movimento do abdômen. • Integrar o ritmo de instrumentos musicais (pandeiro, metrônomo) com o desenvolvimento de gestos edeslocamentos. • Entender que a conscientização ocorre em etapas: (a) reconhecimento do som, (b) aprendizagem e reprodução desses ritmos, para só depois ocorrer o (c) movimento de acordo com eles. • A riqueza dos estímulos (palmas, instrumentos musicais, voz) auxilia na internalização dos ritmos. FIGURA 9 – UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS FONTE: <https://pedagogiaaopedaletra.com/presenca-da-musica-na- educacao-infantil-ideias-e-praticas-correntes/>. Acesso em: 20 jun. 2020. 109 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 2.2.4 Relaxação A relaxação é concebida como uma série de técnicas que visa a descontração das diferentes partes do corpo e sua integração, buscando reduzir as tensões psíquicas e atingir um ponto de equilíbrio e a regulação do corpo (COSTE, 1978). Para realizar uma sessão de relaxação, são necessários alguns cuidados em relação à sala ou ao ambiente (calmo, não muito amplo, pouco ruído) e ao paciente (estar confortável). Além disso, o terapeuta precisa dominar as técnicas de relaxação para garantir o bom andamento da sessão e os benefícios relacionados ao domínio corporal e controle emocional-tônico do paciente. Os princípios básicos da relaxação, de acordo com Coste (1978), estão relacionados com a abordagem psicomotora do indivíduo, considerando que todos os comportamentos tônicos (manter o corpo todo contraído ou relaxado, por exemplo) têm impacto nas questões afetivas. Assim como o estado emocional do paciente repercute em determinada atitude tônica, ou seja, quando a criança está muito triste, ela mantém o corpo mais tenso e curvado. O autor destaca também que o objetivo principal da relaxação deve ser a educação (e não a sua redução) do tônus e a regulação dos ritmos corporais (respiratório e cardíaco), visando alcançar um ponto de equilíbrio. Ela pode funcionar como uma psicoterapia e é indicada para diversas situações, como distúrbios cardiovasculares e respiratórios (bronquites crônicas, asma), distúrbios digestivos e problemas psiquiátricos (neuroses maníaco-depressivas, fobias e histerias). Além disso, pessoas que sofrem de certos problemas (como nervosismo, timidez, perturbações de sono), sem ter uma doença específica, também podem se beneficiar das técnicas de relaxação. FIGURA 10 – EXERCÍCIO DE RELAXAÇÃO FONTE: <https://incrivel.club/inspiracao-dicas/6-exercicios-de-respiracao- para-criancas-que-ajudarao-a-ativar-seu-cerebro-e-melhorar-sua- concentracao-na-escola-974510/>. Acesso em: 20 jun. 2020. 110 Práticas Psicomotoras Você pode encontrar mais informações sobre as técnicas de relaxação em livros e artigos disponíveis on-line: SÁNDOR, Pethö et al. Técnicas de relaxamento. São Paulo: Vetor, 1982. BOUSINGEN, P. D.; GEISSMAN, P. Métodos de relaxação. São Paulo: Loyola, 1987. RIZZI, A. C. et al. Mindfulness para crianças: um guia para pais, psicoterapeutas e educadores. São Paulo: Vetor, 2018. Quanto às técnicas de relaxação, existem diversas modalidades que podem ser utilizadas em programas de intervenção, dentre elas: • Mindfulness (atenção plena): é uma técnica que visa direcionar a atenção do praticante ao momento presente, sem julgamento, encorajando a curiosidade e aceitação (RIZZI et al., 2018). • Imaginação guiada: é uma técnica cognitiva, realizada por meio da imaginação de um local ou experiência agradável, que visa encorajar as pessoas a lidar com situações de stress ou dor. • Relaxação ativo-passiva de Henri Wintrebert (GUIOSE, 2007): é um método que visa eliminar tensões corporais que se manifestam no paciente; é dividida em quatro etapas que intercalam entre movimentos passivos e ativos do paciente (MEDEIROS, 2019). • Método de concentração e relaxação de Jacques Choque: consiste em uma dinâmica lúdica que alternam momentos de atividade com momentos de imobilidade/passividade, através do uso de jogos. É constituído por atividades englobadas em seis categorias: preparação, respiração, relaxação, concentração, visualização e prevenção (CHOQUE, 1994). 111 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 1 A reeducação psicomotora tem como objetivos o alívio do problema, a diminuição do sintoma e a adaptação a situação. Para quem ela é indicada? 2 Sabe-se que a estruturação do esquema corporal impacta na construção da imagem corporal, no desempenho das funções motoras e ainda pode influenciar a aprendizagem e o controle emocional. Dito isso, relacione as colunas etapas e atividades, respeitando a proposta de Coste (1978): Etapas: (1) Investigação do próprio corpo, estimulando a nomeação, manuseio e utilização do corpo e suas partes. (2) Situar o seu corpo no espaço e com relação ao corpo do outro; etapa de reconhecimento do corpo. (3) Integração do esquema corporal, desenvolvendo atividades de interpretação de movimentos, gestos, atitudes e posturas, as exigências motoras são mais complexas e trabalha-se o relaxamento do corpo. Atividades: ( ) Imitar posturas de colegas e reeducador. ( ) Jogo de imitação de personagens desenhos animados. ( ) Contornar o corpo e suas partes em um papel. 3 PRÁTICAS TERAPÊUTICAS As terapias psicomotoras utilizam-se da consciência corporal, seus movimentos e expressividade, como estratégias para mostrar as dificuldades e conflitos que necessitam ser melhorados. Por meio do corpo e do movimento também é feita a avaliação diagnóstica dos atrasos psicomotores e características da personalidade, geralmente associados a uma condição psicopatológica (ALVES, 2007). A terapia psicomotora é direcionada àquelas pessoas com problemas mais graves na sua estruturação, com impacto na funcionalidade e no equilíbrio corporal e socioemocional. Por meio A terapia psicomotora é direcionada àquelas pessoas com problemas mais graves na sua estruturação, com impacto na funcionalidade e no equilíbrio corporal e socioemocional. 112 Práticas Psicomotoras dessa terapia, podem ser tratadas pessoas de todas as faixas etárias com quadros de agressividade acentuada, com disfunções motoras incontroladas ou associadas a doenças do sistema nervoso central. São atendidos também casos excepcionais, pessoas com dificuldades de relacionamento corporal e com transtorno psicomotor relacionado à personalidade (BUENO, 1998). As relações e suas análises são trabalhadas por meio de jogos de movimentos corporais. Semelhante a reeducação psicomotora, na terapia, o profissional psicomotricista deve favorecer as experiências que retomam os movimentos corporais mal estruturados, através do diálogo corporal e afetivo com o paciente. A progressão da prática ocorre de acordo com o ritmo do paciente, não do terapeuta. O trabalho inicia, geralmente, de forma individual podendo evoluir para atendimentos em grupos. Também é possível evoluir da terapia para a reeducação e, posteriormente, para a educação psicomotora (BUENO, 1998). Cabe lembrar aqui que a reeducação é indicada para as crianças com atrasos ou dificuldades na área psicomotora. O indivíduo será reeducado em habilidades ou competências que não foram adequadamente assimiladas nas etapas anteriores. Por outro lado, a terapia psicomotora trata pacientes com problemas de saúde que impactam no desenvolvimento da marcha, da coordenação motora, do equilíbrio, do tônus, entre outros; e repercutem em problemas emocionais de linguagem e de aprendizagem (BUENO, 1998). A terapia psicomotora pode ser classificada em diferentes linhas de atuação e vertentes. Dentre as estratégias para as práticas, destacam-se: o relaxamento e as atividades livres, lúdicas e ordenadas (ALVES, 2007). A atuação do terapeuta psicomotor ocorre em locais especializados, como hospitais psiquiátricos, clínicas terapêuticas ou centros especializados em psicomotricidade ou psicopedagógicos. O trabalho do terapeuta é muito importante, pois cabe a ele identificar as potencialidades dacriança e utilizar isso em seu trabalho. As atividades lúdicas requerem muita disponibilidade corporal do terapeuta, para realizar os estímulos e intervenções para o paciente. A sessão de terapia é construída a partir do que o paciente gosta e sabe fazer. Se o paciente gosta de brincar com bola, por exemplo, e desempenha um nível adequado de coordenação no manuseio dela, é possível direcionar brincadeiras e atividades com os mais variados objetivos utilizando esse objeto. 113 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 FIGURA 11 – TERAPIA PSICOMOTORA FONTE: <https://psike.pt/consultas-de-psicomotricidade/>. Acesso em: 20 jun. 2020. 3.1 PRÁTICAS PSICOMOTORAS TERAPÊUTICAS RELACIONADAS COM A SAÚDE MENTAL A terapia psicomotora é uma alternativa para pessoas que sofrem com problemas psicóticos, como a esquizofrenia; transtornos de humor e ansiedade; transtornos cognitivos como demência e delirium; e transtornos de alimentação e de personalidade. Os terapeutas psicomotores, que podem ser de diferentes áreas de formação (psicólogos, pedagogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, profissionais de educação física, dentre outros), fornecem atividades de promoção da saúde, cuidados preventivos, tratamento e reabilitação para indivíduos e grupos, principalmente, em tratamento hospitalar (PROBST et al., 2010). O principal objetivo da terapia psicomotora é mostrar que o direcionamento das situações de movimento pode ter um efeito positivo psicológico, em habilidades cognitivas, perceptivas, afetivas e comportamentais. No primeiro estágio da terapia, é oferecido tratamento prioritariamente individualizado, dependendo dos problemas que o paciente apresenta. Em uma fase posterior, são propostas atividades em grupo e interativas. Além dos benefícios na melhora da função física, a terapia psicomotora auxilia na socialização com outras pessoas, melhora a função cognitiva, a qualidade de vida O principal objetivo da terapia psicomotora é mostrar que o direcionamento das situações de movimento pode ter um efeito positivo psicológico, em habilidades cognitivas, perceptivas, afetivas e comportamentais. 114 Práticas Psicomotoras Atividades gnoso-práxicas são aquelas que envolvem a intenção de estabelecer uma ligação entre a ação e a sua representação, oferecendo uma relação bidirecional entre as capacidades cognitivas, a estruturação temporal-espacial e o controle dos movimentos (FRAZÃO, 2015). São exemplos de atividades gnoso-práxicas: exercícios de coordenação dinâmica e interpessoal; exercícios de orientação no espaço e no tempo (PROBST; VLIET, 2005). e o bem-estar, diminui o estresse e impacta positivamente na imagem corporal (PROBST et al., 2010; FRAZÃO, 2015). Nesse sentido, as intervenções direcionadas às pessoas com problemas mentais, como esquizofrenia e depressão por exemplo, devem ser focadas no relaxamento e descontração muscular, desenvolvimento da coordenação motora (global, fina, visomotora), equilíbrio, percepção, estruturação de espaço e tempo. Além disso, deve-se integrar as práticas psicomotoras à realização de atividades, visando o ganho de aptidão física e a melhora na atenção, na memória e na comunicação (FRAZÃO, 2015). Probst e Vliet (2005) e Frazão (2015) indicam o uso de diferentes metodologias, modalidades e técnicas para alcançar o objetivo da terapia, entre elas: • Atividades de relaxação e conscientização corporal: exercícios de respiração, alongamento, automassagem, imaginação guiada, utilização de músicas, sons e imagens. • Atividades lúdicas e de expressão: utilizar a música e a dança, realização de coreografias e improvisações, exercícios com desenhos, moldagem e colagem. • Atividades gnoso-práxicas: exercícios de coordenação dinâmica e interpessoal; exercícios de orientação no espaço e no tempo. • Atividades que desenvolvam as habilidades sociais e emocionais: exercícios de encenação, representação de papéis, dinâmicas de jogo, jogos de resolução de problemas. 115 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 De maneira geral, observa-se que a área da saúde mental pode utilizar diversas metodologias e técnicas da terapia psicomotora para auxiliar seus pacientes, com o objetivo de melhorar a função e dar mais autonomia (FRAZÃO, 2015). FIGURA 12 – TERAPIA PSICOMOTORA FONTE: <https://futuraconsultoria.com/a-importancia-do-professor-da-educacao- infantil-no-diagnostico-precoce-dos-tea/>. Acesso em: 20 jun. 2020. Veja a seguir algumas sugestões de atividades para desenvolver os domínios psicomotor, cognitivo, social e emocional de pessoas com problemas de saúde mental, de acordo com Frazão (2015). QUADRO 2 – DOMÍNIO PSICOMOTOR Objetivo geral Exemplos de atividades Promover o ajuste e o controle do tônus mus- cular • Realizar uma inspiração contando até 3 e uma expi- ração contando até 6 (repetir quatro vezes). • Exercícios de flexão e extensão de diferentes gru- pos musculares. • Realização de movimentos flexão e extensão coor- denados com a inspiração e expiração, respectiva- mente. • Andar a diferentes velocidades, com identificação e descrição das posições em que se encontram. Desenvolver a equilíbrio • Manter em apoio unipodal durante o máximo tempo possível com apoio e sem apoio de mão, de olhos abertos e olhos fechados. • Andar com um pé ante pé, percorrendo um trajeto previamente definido. 116 Práticas Psicomotoras Desenvolver o esquema e imagem corporal • Massagear o corpo passando com uma bola nas diferentes partes do corpo. • Desenho do corpo por si próprio e pelo outro; atribuições de características que definem a pessoa; atribuir características psicológicas positivas. • Automassagem. • Reproduzir no corpo do outro a sequência de pontos em que foi tocado com a bola nas costas. Desenvolver a estru- turação espaço-temporal • Memorizar uma sequência de pontos no espaço e representá-los no papel. • Identificar alterações na posição do corpo de uma pessoa, no momento 1 para o momento 2 e apontar essas mudanças com o próprio corpo. Desenvolver a praxia (coordenação) global e fina • Jogos com balões, nos quais o paciente deve pro- teger o próprio balão em constante movimento e, ao mesmo tempo, jogar o balão do outro para o chão. • Aquecimento das mãos com mobilização individual dos dedos. • Rodar os ombros ao mesmo tempo que anda pelo espaço. • Jogos com bolas de diferentes dimensões. FONTE: Frazão (2015, p. 50-52) No domínio cognitivo, busca-se desenvolver as funções cognitivas dos pacientes com transtornos mentais. O nível de complexidade das atividades escolhidas deve ser compatível com a habilidade individual, também visando melhorar os aspectos que estão mais deficientes. Dentre as atividades propostas pela autora, podemos citar as brincadeiras nas quais seja necessário memorizar as instruções do terapeuta, sequências de movimentos e/ou ordem de imagens, com o objetivo de melhorar a concentração, atenção e memória de trabalho. A capacidade de representação simbólica pode ser estimulada pela utilização de mímicas para representar objetos. O desenvolvimento da criatividade e da capacidade de planejamento, antecipação e execução de ações pode ser feita envolvendo o paciente na criação e planejamento de uma atividade, em que são incorporados determinados elementos e objetos (FRAZÃO, 2015). As atividades do domínio socioemocional buscam desenvolver competências sociais, relacionadas à cooperação, à capacidade de comunicação verbal e não-verbal, a tomar decisões e à iniciativa na interação social, a refletir crítica e construtivamente. Dentre os exemplos de atividades: realizar movimentos que mais caracterizam uma pessoa; contar uma história apenas com as mãos, utilizando mímica; explicar, em detalhes, uma imagem de modo que os outros a possam representar no papel; refletir sobre os objetivos da sessão(expressão verbal ou plástica); realizar jogos em equipe (cooperação); e, jogos com resolução de problemas sociais (FRAZÃO, 2015). 117 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 Busca-se, também, no domínio emocional, favorecer a compreensão de sentimentos e ensinar a lidar com o estresse, tanto na forma de rejeição quanto de erro. No primeiro caso, é importante permitir ao paciente a reflexão sobre emoções que surgem nas situações de jogo, isso pode ocorrer em diferentes momentos da sessão. Outra atividade específica envolve a identificação, em uma série de imagens, a expressão que mais se aproxima do que o paciente está sentindo no momento e a que gostaria de sentir. Para lidar com o estresse são sugeridas brincadeiras de encenação de personagens (role-play), explorando situações de rejeição e aproximação causadas, por exemplo, por erros em um trabalho desenvolvido (FRAZÃO, 2015). Outro exemplo de aplicação de práticas terapêuticas psicomotoras foi desenvolvido no trabalho de Schelbauer e Pereira (2012). As atividades psicomotoras foram realizadas de forma conjunta com a equoterapia (um método terapêutico e educacional, com abordagem interdisciplinar que utiliza o cavalo), para o tratamento de cinco pessoas com síndrome de Down. Foram realizados exercícios lúdicos, individuais com o objetivo de melhorar a motricidade fina e global, equilíbrio estático e dinâmico, força e tônus muscular e marcha. O programa foi realizado duas vezes por semana, total de 10 sessões e resultou em benefícios nas funções psicomotoras, sendo relevante para os participantes (SCHELBAUER; PEREIRA, 2012). Apesar desse trabalho ser limitado a uma condição de saúde específica (síndrome de Down), destaca-se que as atividades psicomotoras podem (sim!) ser realizadas em conjunto com outras terapias para tratar diversas condições de saúde. 4 PRÁTICAS ESPORTIVAS As práticas psicomotoras conferem a base da prática esportiva por meio das capacidades físicas, cognitivas, sociais e emocionais. No entanto, acredita- se que um caminho de mão dupla pode ser obtido da relação entre esporte e psicomotricidade, em que as práticas esportivas também podem ser usadas como estratégias para desenvolver competências psicomotoras (equilíbrio, coordenação, ritmo etc.). A coordenação motora é a base para a realização de qualquer movimento, atuando na organização e regulação dos gestos motores para a aprendizagem, execução e domínio de determinado movimento. Assim, o desenvolvimento e 118 Práticas Psicomotoras aperfeiçoamento da coordenação motora contribui para a evolução tanto na evolução motora como na iniciação esportiva (SANTOS, 2015). FIGURA 13 – ATIVIDADES PSICOMOTORAS E A INICIAÇÃO ESPORTIVA FONTE: <https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/fundo>. Acesso em: 20 jun. 2020. A aprendizagem e a realização de um movimento técnico para determinada modalidade dependem também das experiências prévias do indivíduo. Assim sendo, crianças com mais vivências e estímulos experimentados terão mais facilidade na realização de um movimento, quando comparadas àquelas com poucas vivências. Além disso, os indivíduos mais coordenados conseguirão desenvolver com mais facilidade as demais capacidades físicas, como agilidade e aptidão, exigências cognitivas e psíquicas (SANTOS, 2015). A prática esportiva também está relacionada com o desenvolvimento de outras habilidades relacionadas à psicomotricidade. Seguir regras, respeitar os companheiros de time e adversários e trabalhar em equipe são algumas características dos jogos relacionadas às habilidades sociais e emocionais. O esquema corporal e a estruturação espaço-temporal também são desenvolvidos por meio da prática esportiva educativa (LE BOULCH, 1991). Superar as dificuldades encontradas em uma prática esportiva é uma forma de se trabalhar o desenvolvimento pessoal da criança por meio do esporte. É possível criar situações-problema e incorporá-las nas atividades esportivas. A criança deverá se esforçar para superar essas dificuldades e, assim, melhorar seu desempenho. O professor/treinador faz a mediação desse processo, auxiliando a criança a encontrar as soluções (LE BOULCH, 1991). Por exemplo, com o intuito de tornar a prática mais cooperativa e inclusiva, o professor estabelece que a única forma de chegar até o objetivo (gol) é passando a bola entre todos os jogadores daquela equipe, ou seja, todos precisam receber e passar a bola 119 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 para que consigam pontuar. Se o professor verificar que uma equipe está tendo muita dificuldade, ele pode fazer pausas no jogo e questionar os alunos sobre as decisões que estão sendo tomadas. Quando nos dirigimos ao esporte escolar, a educação física de caráter recreativo, através da realização de atividades esportivas, proporciona a aprendizagem das crianças e a promoção da saúde física, mental, social e afetiva. A prática esportiva faz parte da educação física escolar e tem mérito pela sua capacidade de promover a socialização e a interação entre os alunos. Ainda assim, é preciso que os professores e treinadores considerem alguns aspectos que podem interferir no modo como a criança “vê e absorve” essa experiência. Por exemplo, a carga de responsabilidade sobre os resultados do jogo pode ser muito pesada e afetar as crianças de forma negativa (MOLINARI; SENS, 2003). Portanto, a iniciação esportiva NÃO deve ser trabalhada com foco no gesto técnico e nas regras engessadas. Algumas brincadeiras podem ser realizadas com o intuito de aproximar as crianças do esporte, utilizando atividades com bolas (diversas formas, tamanhos e texturas), bambolês e tecidos. Nas aulas de educação física, é importante que as atividades esportivas sejam desenvolvidas de forma lúdica, inclusiva, atraente e divertida para as crianças (MOLINARI; SENS, 2003). No processo de ensino-aprendizagem, Le Boulch (1991) aponta para as estratégias que podem ser utilizadas pelo professor/treinador no contexto das práticas psicomotoras esportivas: • Processo de assimilação: o ensino ocorre através de um desenvolvimento didático, progressivo pedagógico e linear, buscando que o conhecimento seja assimilado pelo aluno. Os estímulos externos são incorporados aos esquemas que a criança já possui, ou seja, é uma forma de adaptação do indivíduo ao meio. • Processo de acomodação: o processo de aprendizagem ocorre através de uma experiência ativa de aprendizagem, em que a criança é confrontada com a atividade e se arrisca ao erro. São utilizadas situações-problema visando desenvolver a capacidade de ajuste da criança. • Aprendizagem orientada: é uma estratégia que utiliza, simultaneamente, os processos de assimilação e acomodação. Pode ser considerada como um ponto de equilíbrio que visa garantir a interação da criança com o meio e sua capacidade de ajuste. 120 Práticas Psicomotoras 1 Sobre as práticas psicomotoras na iniciação esportiva, assinale as afirmações com V para as verdadeiras e F para as falsas: ( ) A prática esportiva pode resultar em benefícios sociais e psicológicos para as crianças. ( ) As práticas psicomotoras influenciam positivamente a iniciação esportiva, no entanto, as atividades esportivas não contribuem com os elementos psicomotores. Complementando as estratégias de aprendizagem, é interessante que o professor/treinador faça as ponderações relacionadas ao nível de dificuldade das situações-problema de acordo com as possibilidades dos alunos, ofereça segurança psicológica e afetiva para as crianças e, auxilie seus alunos a avaliar os próprios resultados das práticas (auto-eficácia) (LE BOULCH, 1991). Dessa forma, cabe salientar que não existe uma única modalidade esportiva recomendada. Na verdade, a diversidade de práticas contribui ainda mais para o desenvolvimento motor e psicológico das crianças. Alémdas habilidades psicomotoras, o esporte contribui para o desenvolvimento muscular e ósseo, na promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas metabólicas e cardiovasculares. As diferentes modalidades esportivas (voleibol, futsal, basquetebol, handebol, natação, atletismo etc.) podem ser incluídas nas práticas em escolas e centros esportivos. A iniciação deve levar em conta as características das crianças e o nível de maturação, pois a prática esportiva não terá sucesso se a exigência técnica e tática do professor/treinador ir além do que a criança estiver apta, física e cognitivamente, a entender e desenvolver as ações do jogo. Atividades lúdicas mais específicas podem ser realizadas com os mais novos, adaptando as regras do esporte. As habilidades motoras fundamentais – correr, saltar e arremessar – estão presentes em quase todas as modalidades esportivas e podem ser trabalhadas de diversas formas. A realização de brincadeiras e jogos lúdicos que utilizam essas habilidades não precisam estar necessariamente vinculados a uma modalidade esportiva. Bolas, arcos e materiais alternativos também enriquecem as práticas e auxiliam no desenvolvimento psicomotor. 121 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 ( ) Os jogos esportivos devem ser desenvolvidos, da mesma forma, em todas as faixas etárias e contextos de aplicação (escolas, clínicas, hospitais). ( ) A coordenação motora global é um elemento psicomotor que exerce um papel muito importante para a prática esportiva. ( ) As práticas esportivas devem seguir as regras da modalidade e dar preferência para a aprendizagem das habilidades técnicas. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao final deste capítulo, espera-se que você tenha conseguido identificar os objetivos das diferentes práticas psicomotoras e as especificidades da atuação do profissional, especialista em psicomotricidade, em cada uma das vertentes. Usualmente, as práticas educacionais e esportivas são realizadas no ambiente escolar, com o suporte dos professores de educação física e dos pedagogos. As práticas psicomotoras educacionais são muito importantes para o desenvolvimento integral da criança e devem acompanhar as etapas de desenvolvimento motor e cognitivo. Elas devem iniciar o mais cedo possível, inclusive, com os primeiros estímulos vindos da família ainda em casa. Os benefícios das práticas psicomotoras vão além da melhora no desempenho físico, alcançando melhoras em aspectos afetivos, sociais e cognitivos. A reeducação e a terapia psicomotora têm como característica sua realização em ambientes favoráveis à reabilitação (clínicas, hospitais) e demandam a avaliação mais individualizada do paciente. A reeducação é direcionada a pessoas com dificuldades ou atrasos psicomotores leves, com problemas afetivos e/ou que sofrem distúrbios psicomotores. Com relação à terapia psicomotora, ela é direcionada àquelas pessoas com problemas mais graves na sua estruturação, com impacto na funcionalidade e no equilíbrio corporal e socioemocional. A terapia é indicada para quadros de agressividade acentuada, com disfunções motoras incontroladas ou associadas a doenças do sistema nervoso central. São atendidos também casos excepcionais, pessoas com dificuldades de relacionamento corporal e com transtorno psicomotor relacionado à personalidade. Em todos os casos, o profissional exerce um papel fundamental tanto no planejamento como na execução das práticas. Muitas vezes, os estímulos dependem do seu bom relacionamento e interação com a criança ou paciente. 122 Práticas Psicomotoras Destaca-se que o estilo do terapeuta, a personalidade e os distúrbios do paciente influenciam no trabalho de reeducação psicomotora. A diversidade de estímulos é uma característica importante das práticas psicomotoras, assim como a sua realização por meio de brincadeiras e jogos lúdicos. Nesse contexto, a prática esportiva pode agregar ao desenvolvimento motor, social e psicológico das crianças. Além disso, o aprendizado que resulta das dificuldades superadas no esporte pode ser facilmente transferido para o cotidiano. REFERÊNCIAS ALVES, R. C. S. Psicomotricidade I. 2007. Disponível em: https://www. educmunicipal.indaiatuba.sp.gov.br/shared/upload/z_outros/files/material_curso/ monitores/tema_7/psicomotricidadei.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. ANTUNES, M. S. A psicomotricidade e os benefícios da educação e da reeducação psicomotora nos casos de distúrbios psicomotores em alunos de 2 a 5 anos da educação infantil. 2012. 43f. Pós-Graduação Lato Sensu (Especialista em Psicomotricidade) Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC, 1998. BRÊTAS, J. R. da S. et al. Avaliação de funções psicomotoras de crianças entre 6 e 10 anos de idade. Acta Paulista de Enfermagem, v. 18, n. 4, p. 403-412, 2005. BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. São Paulo: Editora Lovise, 1998. CHAZAUD, J. Introdução à psicomotricidade. São Paulo: Manole, 1987. CHOQUE, J. Concentration et relaxation pour les enfants. Paris: Michel Albim, 1994. COSTE, J. C. A psicomotricidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1978. FONSECA, V. Psicomotricidade, filogênese, ontogênese e retrogênese. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009. 123 Práticas da PsicomotricidadePráticas da Psicomotricidade Capítulo 3 FRAZÃO, A. M. S. Intervenção psicomotora com adultos com doença mental no grupo de intervenção e reabilitação activa. 2015. 110f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Reabilitação Psicomotora) Universidade de Lisboa, Lisboa. GIBELLI, I. C. A relação entre a psicomotricidade e o processo de aprendizagem. 2014. 47f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicopedagogia) Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. GRUNSPUN, H. Crianças e adolescentes com transtornos psicológicos e do desenvolvimento. São Paulo: Atheneu, 1999. GUAPINDAIA, L. T. A psicomotricidade como facilitadora no processo de ensino e aprendizagem na educação infantil. Psicologado, 2019. Disponível em: https://psicologado.com.br/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/a- psicomotricidade-como-facilitadora-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-na- educacao-infantil. Acesso em: 12 jul. 2020. GUILMAIN, E. L' activité psychomotrice de l'enfant: son évolution de la naissance a 12 ans. Tests d'age moteur et tests psycho-moteurs. Paris: EAP, 1986. GUIOSE, M. Relaxations thérapeutiques. Paris: Heures de France, 2007. LE BOULCH, J. O corpo na escola no século XXI: práticas corporais. São Paulo: Phorte, 2008. LE BOULCH, J. El deporte educativo: psicocinética y aprendizaje motor. Barcelona: Ediciones Paidós, 1991. LUCENA, N. M. G. et al. Lateralidade manual, ocular e dos membros inferiores e sua relação com déficit de organização espacial em escolares. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 27, n. 1, p. 03-11, jan/mar. 2010. MEDEIROS, A. L. R. Os efeitos de uma intervenção psicomotora através da relaxação ativo-passiva na imagem corporal e em indicadores de saúde e bem-estar de pessoas idosas. 2019. 93f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Psicomotricidade) Universidade de Évora, Évora, 2019. MOLINARI, A. M. P.; SENS, S. M. A educação física e sua relação com a psicomotricidade. Revista PEC, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 85-93, 2003. 124 Práticas Psicomotoras PROBST, M. et al. Psychomotor therapy and psychiatry: what’s in a name?. The Open Complementary Medicine Journal, Netherlands, v. 2, p. 105-113, 2010. PROBST, M.; VLIET, P. A terapia psicomotora aplicada a pacientes psiquiátricos adultos numa perspetiva flamenga. A psicomotricidade, Lisboa, n. 6, p. 15-33, 2005. RIZZI, A. C. et al. Mindfulness para crianças: um guia para pais, psicoterapeutas e educadores. São Paulo: Vetor, 2018. ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. 2. ed. Florianópolis: DIOESC, 2015. ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. 1. ed. PortoAlegre: Artmed, 2002. ROSSEL, G. Manuel d'éducation psycho-motrice. Paris: Masson Éditeurs, 1975. SANTOS, M. C. S. A importância da psicomotricidade no processo de aprendizagem através das capacidades coordenativas. FIEP BULLETIN, Foz do Iguaçu, v. 85, edição especial, p. 1, 2015. SCHELBAUER, C. R.; PEREIRA, P. A. Os efeitos da equoterapia como recurso terapêutico associado com a psicomotricidade em pacientes portadores de síndrome de Down. Saúde e Meio Ambiente: Revista Interdisciplinar, Mafra, v. 1, n. 1, p. 117-130, jul. 2012. SIVIERO, M. O. et al. Eye-hand preference dissociation in obsessive-compulsive disorder and dyslexia. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 60, n. 2A, p. 242-245, jun. 2002. SPANAKI, E. E. et al. Psychomotor training program with elements of theatrical play on motor proficiency and cognitive skills of preschoolers. IMPACT: International Journal of Research in Applied, Natural and Social Sciences, Chennai, v. 4, n. 6, p. 147-158, jun. 2016.