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Sociologia Contemporânea: Novas Abordagens Teóricas

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SOCIOLOGIA 
CONTEMPORÂNEA
Aline Michele 
Nascimento Augustinho
Novas sínteses teóricas 
da sociologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever a perspectiva integradora entre indivíduo e sociedade 
na obra A construção social da realidade, de Peter Berger e Thomas 
Luckmann.
  Explicar a abordagem configuracional da obra de Norbert Elias.
  Definir espaço social, campo, capital, trajetória e habitus do constru-
tivismo estruturalista de Pierre Bourdieu.
Introdução
Neste capítulo, você aprenderá como se deram alguns dos desdobra-
mentos da sociologia rumo à especialização, ou seja, o distanciamento 
das teorias clássicas sociológicas para novas abordagens, que podiam 
dialogar com as propostas anteriores, mas que expressavam novos olhares 
sobre os fenômenos sociais. Neste contexto, em meados do século XX, 
há um redirecionamento da ideia de composição e identificação das leis 
sociais que poderiam reger os comportamentos individuais para a ideia 
de relacionamento determinante e multicausal entre indivíduo e socie-
dade. As abordagens da sociologia do conhecimento, configuracional 
e construtivista-estruturalista que você conhecerá a seguir são olhares 
teóricos preponderantes para os problemas e questões sociais do século XX. 
Ao longo deste texto, você conseguirá descrever a leitura Peter Berger 
e Thomas Luckman sobre a constituição da sociologia do conhecimento, 
que conecta as ações entre indivíduos e sociedade, poderá compreen-
der e explicar a abordagem configuracional da obra de Norbert Elias, 
verificando o processo de redescoberta da obra eliasiana e aprenderá 
sobre os principais conceitos da revolucionária obra bourdieusiana e de 
sua teoria do construtivismo estruturalista, a partir da identificação dos 
conceitos de espaço social, campo, capital, trajetória e habitus.
A sociologia do conhecimento e suas 
abordagens: Berger e Luckmann 
O texto A construção social da realidade, de Peter Berger e Thomas Luckmann, 
publicado pela primeira vez em 1966, trabalha a perspectiva da sociologia do 
conhecimento para explicar as relações entre sociedade e indivíduo, passando 
também por elementos da psicologia social. Os autores trabalham com as 
perspectivas objetivas e subjetivas da realidade a partir da signifi cação da 
sociedade pelo indivíduo e dos comportamentos do indivíduo em sociedade. 
A sociologia do conhecimento proposta por Berger e Luckman (2004) abre 
uma nova perspectiva para as análises da disciplina, uma vez que os autores 
se baseiam na dualidade da influência entre indivíduo e sociedade para a 
elaboração do conhecimento e, portanto, para a compreensão da realidade. 
Essa seria uma dinâmica de dupla causalidade, baseada na concepção mar-
xista de infraestrutura e superestrutura. Entre as teorias clássicas, os autores 
consideram que tanto a concepção durkheiminiana, de que todas as coisas 
são fatos sociais, quanto a noção subjetiva de construção dos significados da 
ação, formulada por Weber, aparentemente antagônicas, contribuem para a 
sua proposta de definição da construção da realidade. 
De acordo com Berger e Luckmann (2004), a realidade seria construída 
socialmente, sendo função da sociologia do conhecimento explicar como esse 
processo ocorre. A realidade seria composta por eventos e fenômenos que 
aconteceriam independentemente da vontade humana, e os sujeitos “conhece-
riam” esses fenômenos, por meio de seus efeitos e consequências, sabendo-se 
que são reais. A própria definição de conhecimento de realidade em termos 
sociológicos, para os autores, torna-se uma pauta problemática para a ciência, 
pois os conceitos poderiam ser distintos a partir da formação cultural dos 
indivíduos, bem como da intenção na realização de seus atos. Um aluno e 
um professor, em sala de aula, podem falar sobre um mesmo tópico, porém o 
conhecimento de ambos os sujeitos é diferente, bem como o emprego dado a ele. 
Dessa forma, para os autores, “[...] a necessidade da ‘sociologia do conhe-
cimento’ está assim dada já nas diferenças observáveis entre as sociedades nos 
termos daquilo que é admitido como ‘conhecimento’ nelas [...]” (BERGER; 
LUCKMAN, 2004, p. 13). Ainda segundo os autores, esse segmento da so-
ciologia deveria se ocupar de todas as formas de conhecimento estabelecidas, 
já que o conhecimento seria construído e transmitido em meios e situações 
sociais. Por isso, a sociologia do conhecimento não poderia ter outra apre-
sentação senão a observação e a análise da construção social da realidade 
– o conhecimento, aprendido e ensinado em práticas e grupos sociais, seria 
Novas sínteses teóricas da sociologia2
a ferramenta de construção da realidade social em um determinado grupo 
(BERGER; LUCKMAN, 2004). Conhecimentos diferentes poderiam, assim, 
fomentar realidades diferentes. 
O fundamento da realidade, definido como o conhecimento, tem por seu 
campo de exercício a vida cotidiana, ou seja, as práticas derivadas do co-
nhecimento que dirige a vida diária. A vida cotidiana é composta por tudo 
aquilo de mais próximo do indivíduo, como seu corpo, seu tempo presente, a 
composição dos elementos do “aqui e agora”. Este é o contexto manipulável 
pelo indivíduo, o contexto que lhe é acessível, pois, como destacam Berger e 
Luckman (2004, p. 40), “[...] a realidade da vida cotidiana [...] apresenta-se a 
mim como um mundo intersubjetivo [...]”. De acordo com essas proposições, 
a dimensão espacial teria pouca influência sobre a vida cotidiana e sobre 
a construção da realidade, porém o tempo seria o fator estruturante para a 
concepção de cotidiano, uma vez que a consciência que dirige as ações diárias 
é, para os autores, definida temporalmente (BERGER; LUCKMAN, 2004). 
A estrutura temporal da consciência, que é definida a partir das funções 
fisiológicas, como, por exemplo, quanto tempo é possível trabalhar até se 
cansar e ter sono, quanto tempo de vida um ser humano tem, a finitude imposta 
pela morte, é formada por elaborações intersubjetivas, que têm significados 
específicos para cada indivíduo, mas que existem inevitavelmente em todo 
sujeito social. Por outro lado, a estrutura temporal é também coercitiva, mesmo 
na vida cotidiana. Não é o sujeito quem determina o horário do transporte 
público que utiliza, nem o horário em que deve chegar à escola ou ao local 
de trabalho. Portanto, suas práticas cotidianas subjetivas estão condicionadas 
às segmentações temporais de dispositivos da vida social dos quais não tem 
nenhum controle, mas aos quais precisa se ajustar.
Tipificações sociais também são elementos determinantes para a construção 
do conhecimento e da realidade social. As experiências dos outros, daqueles 
que mantêm relações sociais com um indivíduo, podem ter diferentes intensi-
dades de influência sobre suas próprias decisões, como exemplo e elemento de 
comparação. No entanto, quanto mais as estruturas das experiências do outro 
se assemelham às estruturas do “aqui e agora” do indivíduo, mais próximo 
ou conectado a elas ele tende a se sentir. Por isso, a proximidade das estru-
turas da vida cotidiana tipifica aquilo que se pode relacionar como próximo, 
semelhante, distante ou diferente.
A linguagem humana é um dos processos que contribuem para a cons-
trução da realidade, tratando-se de um processo de objetivações sociais dos 
processos subjetivos em que se estabelece a reciprocidade como fundamento. 
Por meio de símbolos, fonéticos e gestuais, o sujeito expressa e exterioriza 
3Novas sínteses teóricas da sociologia
seus pensamentos, ou seja, elementos subjetivos que são interpretados pelo 
ouvinte, que responde à comunicação. Em conjunto, os homens instituem as 
categorias simbólicas que estruturam a linguagem, e a linguagem também 
passa a formar o conhecimento e indicar comportamentos em seu exercício 
de formulação ou interpretação. Assim, 
Os homens em conjunto produzem um ambiente humano, com a totalidade de 
suas formações sócio-culturais e psicológicas.[...] Assim como é impossível 
que homem se desenvolva como homem no isolamento, igualmente é impos-
sível que o homem isolado desenvolva um ambiente humano. O ser humano 
solitário é um ser no nível animal. [...] Logo que observamos os fenômenos 
especificamente humanos entramos no reino animal. A humanidade específica 
do homem e sua socialidade estão inextricavelmente entrelaçadas (BERGER; 
LUCKMANN, 2004, p. 75).
Em conjunto, as ações humanas se tornam sociais, de modo que se es-
tabelecem categorias simbólicas que organizam fenômenos, como o tempo, 
que é organizado entre passado, presente e futuro, a partir da vivência e da 
interpretação dos sujeitos, visto que, fora do contexto interpretativo humano, 
o tempo não possui categorizações. O tempo se torna segmentado a partir das 
categorias simbólicas que o definem mais próximo ou mais distante do “aqui 
e agora”, formado por uma lembrança (passado) ou uma projeção (futuro).
A preocupação de Berger e Luckman (2004) era de formular uma ex-
posição do papel do conhecimento para as sociedades em sua formação, 
estruturação e manutenção, salientando que o conhecimento não é intangí-
vel pelas subjetividades, mas formado também por elas. O conhecimento 
moldaria também as práticas sociais e, por isso, teria uma relação de dupla 
causalidade entre indivíduos e sociedade – é formado por elementos objetivos, 
estruturalmente externos, e elementos subjetivos, estruturados internamente 
pelos indivíduos. Ao fazê-lo, mostraram ainda como as teorias clássicas 
podem ser estudadas e utilizadas a partir de outros olhares, fomentando 
novas abordagens para a disciplina. Berger e Luckman (2004) fazem parte 
do contexto em que a sociologia francesa, derivada dos estudos de Durkheim 
e Weber, era preponderante nas abordagens dos fenômenos sociais. Berger 
e Luckman (2004) mostram que a perspectiva francesa pode ser associada 
às leituras marxistas e até ao positivismo (na medida em que eles também 
destacam um conjunto de práticas para a interpretação dos fenômenos sociais, 
como o fizeram os positivistas).
A sociologia do conhecimento proposta pelos autores expõe uma relação 
dialética entre indivíduo e sociedade, expressa na múltipla influência entre 
Novas sínteses teóricas da sociologia4
pensamentos e comportamentos subjetivos individuais e as estruturas 
sociais. Com isso, salientam, ainda, que a especialização da sociologia 
enquanto ciência necessita da exploração de esferas sociais de maneira 
sistematizada, como a sociologia da religião, por exemplo, uma vez que 
há áreas ou esferas sociais com estruturas particulares em que os conheci-
mentos explicitados são construídos e interpretados de maneira diferente 
quando comparados a outras estruturas sociais.
Estudante, preste muita atenção à definição teórica dos autores, que pode ser confun-
dida com outras abordagens, se baseada no senso comum. A sociologia do conhe-
cimento proposta por Berger e Luckmann (2004) trata da interação entre indivíduo e 
sociedade em diferentes estruturas sociais, fatores que levam a diferentes possibilidades 
de construção do conhecimento; a nomenclatura pode levar a confundir seus preceitos 
com a análise do conhecimento científico enquanto produção intelectual.
A abordagem configuracional da obra 
de Norbert Elias
A década de 1960 ofereceu diferentes possibilidades empíricas com as novas 
sínteses sociológicas, ou seja, com o aprimoramento dos profi ssionais da 
sociologia, a geração de cientistas que se formou academicamente na área, e 
desenvolveu novas teorias e olhares a partir da referência das teorias socio-
lógicas clássicas.
A chamada “Escola de Frankfurt”, corrente de teorias sociológicas de 
pesquisadores alemães, tomou proporção entre as décadas de 1940 e 1960, 
embora tenha se iniciado ainda no início do século XX. A Escola de Frank-
furt não refutava a sociologia francesa de Weber e Durkheim, mas elabora 
perspectivas de análises que iam além da estruturação do comportamento 
social pela sociedade ou da significação subjetiva das ações sociais. Uma 
das vertentes dessa escola de conhecimento é retomada a partir da produção 
resgatada de Norbert Elias, sociólogo alemão que elaborou parte da leitura 
identificada como “a abordagem configuracional”, que eliminava a antítese 
entre indivíduo e sociedade na determinação dos comportamentos e fenômenos 
sociais, pautada na leitura conjunta das influências e nas possibilidades do 
exercício do poder ao longo dos processos civilizatórios. 
5Novas sínteses teóricas da sociologia
Elias é, no contexto contemporâneo, um dos sociólogos mais prestigiados, 
devido à sua contribuição ao arcabouço teórico da disciplina, no entanto, 
foi reconhecido tardiamente em sua vida. Sua principal obra, O processo 
civilizatório, teve grande influência entre sociólogos ingleses e franceses na 
década de 1970, mas sua primeira publicação, em alemão, ocorreu ainda na 
década de 1930. Entre os sociólogos brasileiros, Elias se torna vastamente 
conhecido apenas na década de 1990, ou seja, há um hiato de 30 anos entre a 
primeira e a segunda publicação da obra e o reconhecimento de seu trabalho.
Para Elias (1996), conflito e consenso seriam dois polos interdependentes, 
isto é, precisariam um do outro para existir, e o conflito estaria ligado a ca-
racterísticas emocionais e subjetivas dos sujeitos. O conflito estaria presente 
na natureza humana quando em contato com outras subjetividades, ou seja, 
o conflito emerge quando os indivíduos estão em sociedade. Já o consenso, a 
necessidade de manter o equilíbrio das relações entre interpretação e expressão 
– desde que não estivessem em jogo as temáticas ligadas ao poder – emergiria 
na mesma proporção. As estruturas sociais impedem, por seus dispositivos 
de regulação, que o conflito seja expresso descontroladamente. Quando isso, 
por ventura, ocorresse, se daria na forma de violência. Por isso, em sociedade, 
os sujeitos definiriam maneiras de expressar o conflito de forma ordenada e 
controlada. As “mímesis” – imitação de dinâmicas e sentimentos da vida real, 
em dinâmicas controladas – seriam construídas com a intenção de reproduzir 
situações que permitam a emergência de emoções e o conflito controlado, como 
acontece, segundo Eias, nos esportes (SOUZA; STAREPRAVO; MARCHI 
JUNIOR, 2014). 
O esporte proporcionaria uma dinâmica social de lazer em que seria possível 
equilibrar as emoções expostas como tensão ou conflito em busca do consenso: 
há disputa, tensão na busca do resultado, conflitos entre competidores, mas 
consenso quanto às regras, à duração do jogo. Para Elias (1996) e para os 
leitores de seus trabalhos, os chamados eliasianos, o equilíbrio emocional 
entre conflito e consenso observado no esporte é uma metáfora para o que 
acontece em outros campos da vida social, em que as subjetividades, voluntária 
e coercitivamente, equilibram a expressão das emoções na busca do consenso, 
mas não as sufocam ou eliminam.
A abordagem configuracional da obra de Elias (1996) se baseia nas 
leituras de como elementos como o poder, as emoções, o conhecimento e 
a história imprimem marcas no comportamento social, pautado constan-
temente como movimento entre conflito e consenso. Elias (1996) chega a 
essa configuração teórica ao analisar a civilização europeia e a trajetória 
dos comportamentos e interações sociais das etnias e sociedades europeias 
Novas sínteses teóricas da sociologia6
a partir da Idade Média. Em O processo civilizatório, Elias (1996) avalia 
os costumes, as dinâmicas políticas e a construção de poder, mas, mais 
atentamente, descreve os comportamentos cotidianos e como as emoções 
imprimem significado e direção aos comportamentos diários, bem como 
às estruturas rituais cotidianas, como as regras de etiqueta, por exemplo, 
que controlavam a forma de os sujeitos sentirem as emoções, ou ao menos 
a maneira como as expressavam.
Os anos de domínio da sociologia francesa às práticas sociológicas fizeram 
a obra de Elias (1996), focada na abordagem da açãoindividual (especialmente 
pelas emoções), ser ignorada e criticada. Houve ainda críticas à interpretação 
de que o controle de emoções e comportamentos de desagrado à pessoa ou que 
desagradavam outros elementos da sociedade era uma espécie de “evolução”, 
e sua produção foi, por algumas décadas, associada de forma pejorativa à ideia 
de darwinismo social, ou seja, de melhoramento de grupos sociais por meio 
da adaptação de hábitos, comportamentos e culturas, que levariam algumas 
sociedades a estados mais “avançados”. Essa ideia foi descartada da década 
de 1970, quando o foco no comportamento individual e a identificação da 
sociedade civil como ator social emergem. Nesse contexto, Elias foi considerado 
um sociólogo à frente de seu tempo, que conseguiu se desvencilhar das abor-
dagens materialistas-deterministas e funcionalistas, oferecendo perspectivas 
interessantes aos sociólogos que trabalhavam com a ideia de organização de 
redes e ação coletiva no fim do século. 
Aprofunde o seu conhecimento sobre a abordagem configuracional eliasiana por meio 
de uma leitura sobre as particularidades das sociedades do século XXI “A abordagem 
configuracional: uma estratégia de pesquisa para enfrentar os múltiplos desafios das 
sociedades da informação e do conhecimento” (SPENILLO, 2007). 
O construtivismo estruturalista 
de Pierre Bourdieu
A abordagem sociológica do francês Pierre Bourdieu emerge na década de 1960, 
dialogando com abordagens fi losófi cas, teóricos frankfurtianos e componentes 
da escola de sociologia francesa. Refl etindo sobre as leituras propostas pelas te-
7Novas sínteses teóricas da sociologia
orias sociológicas clássicas, Bourdieu não acredita no determinismo coercitivo 
das estruturas sociais presentes nas leituras funcionalistas, nem na completa 
composição subjetiva das ações sociais. Para ele, a sociologia contemporânea 
deveria se pautar em uma leitura que não colocasse o indivíduo e as estruturas 
como polos separados e opostos, nem como elementos preponderantes sobre 
os outros, mas sim como elementos cujas ações podem, ao mesmo tempo, 
ser estruturadas e estruturantes, ou seja, ser moldadas e moldar outras ações, 
confi gurando o estruturalismo construtivista, ou o construtivismo estrutura-
lista: sim, existem dinâmicas que moldam os comportamentos individuais, 
promovidas pelas estruturas sociais, mas existem movimentos subjetivos 
que alteram as estruturas, especialmente quando derivados das lutas sociais.
Dessa forma, não haveria a liberdade absoluta pautada nas subjetividades 
individuais, nem a determinação completa do comportamento pelas estru-
turas, mas sim uma complexa rede onde as ações são socializadas por meio 
do movimento e do trânsito de corpos sociais, os indivíduos, que adquirem, 
reproduzem ou alteram o significado das ações a partir do contexto de poder 
que os cerca. O poder é o elemento principal na análise da ação individual 
bourdieusiana, e, por meio dele, pode-se compreender as formas de dominação 
de elementos, indivíduos e classes sociais. A constituição de relações entre 
indivíduo e sociedade a partir do poder, que permite dominar ou ser dominado, 
passa pela significação dos espaços e dos modos em que indivíduo aprende, 
expressa, valoriza ou relembra suas ações. A leitura desse processo na so-
ciologia bourdieusiana passa ela definição dos conceitos de campo, habitus, 
capital, poder e violência simbólica e trajetórias de vida. 
O campo, para Bourdieu (2011), é o espaço simbólico onde se empreendem 
e se significam as ações humanas, a partir de um código de valores, inclusive 
as lutas sociais e o exercício da dominação e da violência simbólica. É onde 
elementos constituintes dos agentes sociais, como biografias, trajetórias e 
habitus, expressam o alcance de seus capitais simbólicos e onde se exerce 
o poder. Aqui, estão alocadas as regras sociais existentes na sociedade em 
questão. No campo, existem os “locus”, espaços específicos onde se desen-
volvem lutas e disputas sociais. 
O habitus (BOURDIEU, 2004, 2011) um conjunto de sistemas que direciona 
a ação, definido a partir das influências de estruturas e da subjetividade do 
agente social. É um comportamento que, ao mesmo tempo, expressa as in-
fluências da sociedade e da subjetividade individual, e seu exercício também 
interioriza no agente as referências sociais externas. O habitus não é uma ação 
social determinada, como uma lei, que obriga ou coíbe algo, mas sim uma 
consciência sobre qual tipo de ação pode ou deve ser tomada em situações 
Novas sínteses teóricas da sociologia8
sociais específicas. Por exemplo, o conhecido “jeitinho brasileiro”, a ideia 
de que, apesar de regras e leis, é possível suplantá-las, dar a volta, encontrar 
uma maneira de realizar algo mesmo que não esteja absolutamente dentro das 
regras ou do prazo. Esse é um comportamento cultural local que não costuma 
acontecer em outras nações. É um elemento não visível, intangível, mas que 
norteia comportamentos. Se alguém estaciona o carro na porta da garagem 
de alguém, é possível que pense “é rapidinho!”; “eu só vou ali e já volto”. Se 
é repreendido pela ação, pensa em como contorná-la: “vou explicar que fiquei 
aqui apenas 15 minutos e tudo ficará bem”.
O capital (BOURDIEU, 2011, 2004) composto por elementos que podem 
ser adquiridos e que configuram a quantidade e a intensidade do poder do 
indivíduo em uma sociedade estratificada, ou seja, dividida em classes sociais. 
Bourdieu divide o capital entre capital econômico, capital social e capital 
cultural. O exercício de poder fundamentado em qualquer um desses três 
tipos de capitais é chamado de capital simbólico. O capital econômico é aquele 
promovido pelas possibilidades sociais geradas pelo acúmulo financeiro de 
dinheiro. Lembre-se de que apenas acumular riqueza não se configura como 
capital econômico, mas sim o exercício de privilégios, poder e domínio sobre 
outros indivíduos a partir das possibilidades ofertadas pelo capital econômico. 
O capital cultural é aquele adquirido pela educação formal e pela educação 
erudita, ou seja, formado pelo conhecimento adquirido em instituições de 
ensino, podendo ser utilizado para trânsitos sociais. 
O capital cultural pode, ao mesmo tempo, ser instrumento de libertação e 
de dominação e exercício de poder. O controle do acesso ao capital cultural 
mantém poucos agentes circulando nos espaços privilegiados, ao passo que 
seu amplo acesso promove um movimento na direção do equilíbrio social em 
um contexto de estratificação. O que Bourdieu explica é que pessoas sem o 
capital cultural são mais facilmente dominadas nos campos sociais, e que a 
aquisição de capital cultural pelas classes mais baixas permite mais trânsito 
social, diminuindo a violência simbólica daqueles que ocupam os espaços 
mais altos entre as classes sociais. O capital social é aquele exercido por meio 
de privilégios adquiridos pelo status social, como acessos e trânsitos sociais 
adquiridos pelo sobrenome de uma família, por exemplo. 
Para Bourdieu (2004) as trajetórias sociais são os movimentos, os tra-
jetos, empreendidos por indivíduos, possibilitados por seu capital simbólico 
ou coibidos pela violência simbólica advinda da luta de classes na sociedade 
estratificada. São compostas por biografias, histórias de vida individuais. 
Segundo a óptica do sociólogo francês, as trajetórias sociais são conjuntos de 
feixes biográficos que se movimentam em um mesmo sentido por possuírem 
9Novas sínteses teóricas da sociologia
capitais simbólicos e sofrerem violências simbólicas semelhantes. Por isso, a 
sociologia de Bourdieu não trata de trajetórias individuais, mas sim de como as 
biografias individuais se apresentam no conjunto de trajetórias. As trajetórias 
sociais indicam, ainda, os movimentos empreendidos pelas classes sociais 
como produto das lutas sociais. A contribuição bourdieusiana para a sociologia 
contemporânea ainda é preponderante, e seus conceitos são constantemente 
retomados por sociólogos em todas assegmentações da disciplina. 
Saiba mais sobre a definição e as conexões entre o capital simbólico e a manutenção 
da estratificação das classes sociais por meio da violência simbólica por meio do texto 
de Bourdieu (2003) “Capital simbólico e classes sociais”.
BERGER, P.; LUCKMAN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do 
conhecimento. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Edições 70, 2011.
BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004.
ELIAS, N. O processo civilizador: uma história de costumes. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. v. 1.
SOUZA, J.; STAREPRAVO, F. A.; MARCHI JUNIOR, W. A sociologia configuracional de 
Norbert Elias: potencialidas e contribuições para o estudo dos esportes. Revista Brasileira 
de Ciências do Esporte, Porto Alegre, v. 36, n. 2, p. 429-445, abr./jun. 2014.
Leituras recomendadas
BOURDIEU, P. Capital simbólico e classes sociais. Novos Estudos CEBRAP, v. 96, p. 105-115, 
jul. 2003.
SPENILLO, G. M. D. A abordagem configuracional: uma estratégia de pesquisa para 
enfrentar os múltiplos desafios das sociedades da informação e do conhecimento. In: 
CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 13., 2007, Recife. Anais... Recife: [s.n.], 2007.
VARAJÃO, J. Espaço social: reflexão, representação, transformação. Porto: Faculdade 
de Arquitetura do Porto, [2010?]. 
Novas sínteses teóricas da sociologia10
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