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1 Psicopedagogia e Neurociências DIFICULDADES, TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM E OUTRAS ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Unidades I a VIII Talita de Cassia Batista Pazeto Edna Barberato Genghini PAZETO, Talita de Cássia Batista GENGHINI, Edna Barberato Dificuldades, Transtornos de aprendizagem e outras Alterações do Desenvolvimento (Livro-texto – Unidades I a VIII) / Talita de Cássia Batista Pazeto; Edna Barberato Genghini – São Paulo: Pós-graduação Lato Sensu – UNIP, 2019 164 p. il. I.1 Dificuldades de Aprendizagem. 2 Transtornos de Aprendizagem. 3 Transtornos Globais do Desenvolvimento. 4 Neurodesenvolvimento. 5 Síndromes Cromossômicas. 6 Psicopedagogia II. Talita de Cássia Batista Pazeto; Edna Barberato Genghini. – III. Dificuldades, Transtornos de aprendizagem e outras Alterações do Desenvolvimento (Livro- texto – Unidades I a VIII). São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu - UNIP, 2019. DIFICULDADES, TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM E OUTRAS ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Talita de Cassia Batista Pazeto possui graduação em Pedagogia pela Universidade Bandeirante de São Paulo (2009), pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2011), Mestrado (2012) e Doutorado (2016) em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência e realiza atendimento psicopedagógico na área de avaliação e intervenção em dificuldades e Transtornos Específicos de Aprendizagem. Palestrante e professora convidada do curso de pós-graduação em Psicopedagogia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Experiência como Professora nos cursos de Pedagogia, Psicologia, Letras e História e na pós em Psicopedagogia nas Universidades: Anhanguera; Faculdade das Américas e FMU. Pesquisa na área de desenvolvimento infantil, com foco em habilidades pré- escolares, leitura, escrita, linguagem e funções executivas. Professora Colaboradora: EDNA BARBERATO GENGHINI, Professora Universitária desde 2002. Atualmente no exercício da função de Coordenadora para todo o Brasil de cinco cursos ao nível de Pós Graduação Lato Sensu: em PSICOPEDAGOGIA E NEUROCIÊNCIAS, PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL, DOCÊNCIA PARA O ENSINO SUPERIOR, FORMAÇÃO E GESTÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA e em FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, pela UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP/EaD, onde também atua como Professora Adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É Diretora e Psicopedagoga da MENTOR ORIENTAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA LTDA. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica - Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), Pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós-graduação Lato Sensu em Formação em Educação a Distância pela UNIP - Universidade Paulista (2011). É autora e coautora de livros Textos para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP - EaD. Áreas de Interesse: Neurociências - Educação Inclusiva - Psicopedagogia Clínica e Institucional - Formação e Gestão em Educação a Distância - Formação de Docentes para o Ensino Superior. DIFICULDADES, TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM E OUTRAS ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO SUMÁRIO INTRODUÇÃO 005 UNIDADE I – DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E OS MANUAIS MÉDICOS 006 1.1) Aprendizagem 006 1.2) Dificuldades de Aprendizagem 009 1.3) DSM-5 e CID: conhecendo os manuais médicos 015 UNIDADE II – DIFICULDADES E TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM 020 2.1) Transtornos Específicos de aprendizagem 020 2.2) Critérios Diagnósticos dos TEAs 023 2.3) Diferenças entre as dificuldades e os TEAs 032 UNIDADE III – TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM E O TDAH 037 3.1) TEAs: dislexia 037 3.2) TEAs: disgrafia e disortografia 047 3.3) TEAs: discalculia 050 3.4) Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 054 UNIDADE IV– TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO E TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO 064 4.1) Transtornos Globais do Desenvolvimento 064 4.2) Transtorno do Espectro do Autismo 065 UNIDADE V – ALTERAÇÕES E TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO (PARTE 1) 083 5.1) Transtornos de comportamento 083 5.2) Deficiência visual 086 5.3) Deficiência auditiva 088 5.4) Deficiência motora 091 5.5) Dispraxia infantil 093 5.6) Paralisia cerebral 094 UNIDADE VI – ALTERAÇÕES E TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO (PARTE 2) 103 6.1) Alterações no PAC 103 6.2) Alterações nas Funções Executivas 105 6.3) Deficiência intelectual 11 6.4) Deficiências múltiplas 115 UNIDADE VII– SÍNDROMES CROMOSSÔMICAS 122 7.1) Síndrome de Down 122 7.2) Síndrome do X Frágil 130 7.3) Síndrome de Williams 133 7.4) Síndrome de Rett 136 7.5) Síndrome de Turner 138 7.6) Síndrome de Klinefelter 140 UNIDADE VIII – O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO DIANTE DAS DIFICULDADES, TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM E OUTRAS ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO 147 8.1) Atuação do psicopedagogo diante dessas alterações 147 8.2) Reflexões sobre avaliação e intervenção psicopedagógica 151 REFERÊNCIAS 162 5 INTRODUÇÃO A disciplina “Dificuldades, transtornos de aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento” tem como foco capacitar o profissional das áreas da educação e da saúde em compreender os processos de aprendizagem com objetivo de entender a diferença entre dificuldades e transtornos específicos de aprendizagem assim como de conhecer as características básicas dos transtornos de aprendizagem e dos principais transtornos do neurodesenvolvimento. Veremos a caracterização e diferenciação entre dificuldades de aprendizagem, Transtorno Específico de Aprendizagem (TEAp) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), com base nos manuais de classificação de transtornos do neurodesenvolvimento (DSM-5) e no CID 10. Apresentaremos as principais causas das dificuldades e outros fatores que interferem na aprendizagem, assim como conheceremos os transtornos específicos de aprendizagem: Dislexia, Discalculia, Disgrafia e Disortografia. Refletiremos sobre fatores que impactam a aprendizagem assim como os critérios diagnósticos desses transtornos e a importância da avaliação interdisciplinar em casos de suspeitas. Caracterizaremos os Transtornos Globais do Desenvolvimento e outros transtornos físicos e mentais que interferem na aprendizagem: TEA (Transtorno do Espectro Autista), Transtornos do Comportamento, Deficiência Visual, Deficiência Auditiva, Deficiência Motora, Dispraxia Infantil, Paralisia Cerebral, Alterações no PAC, Deficiências nas Funções Executivas, Deficiência Intelectual e Deficiências Múltiplas. Apresentaremos as principais Síndromes Cromossômicas que afetam a aprendizagem, encontradas nos meios escolares brasileiros (da Educação Infantil ao Ensino Superior): Síndrome de Down, X Frágil, Willia8u9ums, Rett, Turner, Klinefelter. A proposta é apresentar ao profissional e embasá-lo com os principais transtornos e alterações que ele pode encontrar em sua prática, lembrando que tudo aqui apresentado é apenas uma base de por onde o trabalho deve começar. O seu papel de aluno é o de pesquisar, realizar as leituras obrigatórias, investigar o saiba mais, assistir as aulas e se aprofundar muito além do que está aqui explanado!Vamos lá?! 6 I. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E OS MANUAIS MÉDICOS Olá, aluno(a)! Nesta Unidade de Ensino vamos conhecer um pouco sobre o conceito de Dificuldades de Aprendizagem e como os mesmos são localizados nos manuais médicos: a forma de apresentação dos sintomas e os critérios que devemos utilizar para inclusão de casos de forma a prepara-lo(a) para elaborar sua avaliação diagnóstica. Preparado(a)? Vamos lá, pois temos uma longa jornada e muitas definições pela frente! 1.1 Aprendizagem A aprendizagem possui uma base neurológica, que se relaciona com a forma como cada cérebro é formado e estruturado, já que cada um se organiza de acordo com as experiências individuais e estímulos de cada pessoa, acontece a partir da junção de fatores genéticos mais a experiência. Diversos componentes afetam o processo de aprendizagem, como o ambiente, o estímulo, a disposição de quem ensina e de quem aprende, o estado emocional e muito mais, porém é no cérebro, principalmente no Sistema Nervoso Central que toda base desse processo acontece. Mesmo tendo essa base neurológica, cada pessoa irá desenvolver seus processos de aprendizagem de forma diferenciada e Cosenza e Guerra (2011, p. 28) exemplificam essa formação ao comparar a estrutura e organização cerebral com uma cidade: É como uma cidade planejada, que à medida que vai sendo construída vai adquirindo características próprias, podendo ocorrer, inclusive, algumas mudanças no plano original. A história de vida de cada um constrói, desfaz e reorganiza permanentemente as conexões sinápticas entre os bilhões de neurônios que constituem o cérebro. Assim como cada cidade é diferente da outra, cada cérebro se organiza e se forma de maneira única e exclusiva, definindo assim a forma e os estilos de aprendizagem de cada um. As pessoas aprendem de forma diferente 7 porque as pessoas são diferentes, na forma como cada cérebro irá se moldando assim como fisicamente, temperamento, personalidade, de onde vêm, no que acreditam, entre diversas outras áreas. Esse desenvolvimento se inicia desde a formação do embrião, tendo o sistema nervoso central um papel fundamental nesse processo, pois é por meio dele e de sua formação que diversas estruturas são formadas, e por isso falhas ou erros ocorridos nesse momento podem gerar alterações e distúrbios que a pessoa carregará por toda sua vida (COSENZA; GUERRA, 2011). Para conhecer mais sobre a base neurológica da aprendizagem leia COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. É impressionante pensar que os processos de aprendizagem podem ser afetados por algo que ocorreu durante a gestação, e por isso os cuidados pré- natais e o estilo de vida que a gestante leva são tão importantes para o desenvolvimento do bebê. Além de todos esses fatores biológicos a interação com o ambiente exerce grande influência no desenvolvimento dos processos de aprendizagem, pois ela afeta as interações, apresenta modelos e reflete nos comportamentos de cada pessoa. Um ambiente empobrecido não fornece o necessário para um desenvolvimento saudável da criança, assim como não estimula de forma adequada as habilidades em potencial de cada período. 8 Cuidado com o exagero de estímulos na primeira infância, pois assim como foi explicado que um ambiente empobrecido pode afetar de forma negativa o desenvolvimento infantil, ainda não se sabe se a estimulação exagerada pode prejudicar a longo prazo a vida da criança (COSENZA; GUERRA, 2011). Rotta, Ohlweilwe e Riesgo (2016) descrevem que a aprendizagem então é um processo que envolve (Figura 1): Figura 1: Processos envolvidos na aprendizagem Fonte: (ROTTA; OHLWEILWE; RIESGO, 2016 adaptado por PAZETO, 2019). O aprendizado só é possível porque somos capazes de adquirir, manter e de retomar o conhecimento diante de situações que precisam ser resolvidas por meio de informações armazenadas na nossa memória. E é exatamente por uma falha ou dificuldade em algum desses processos que as dificuldades de aprendizagem começam a aparecer. Aquisição Conserva ção Evocação 9 1.2 Dificuldades de Aprendizagem Dificuldades de aprendizagem envolve diversos problemas que alteram a capacidade e as possibilidades da criança de aprender e são percebidas principalmente no ambiente escolar por meio da observação de comportamentos problemáticos, sendo as crianças caracterizadas por apresentarem: Dificuldades para seguir instruções; Imaturidade social; Dificuldade com a conversação; Inflexibilidade; Fraco planejamento e habilidades organizacionais; Distração; Falta de Destreza; Falta de controle dos impulsos; Entre outros. Smith e Strick (2001) além de apresentarem essa lista de comportamentos descrevem que quando a criança não é devidamente atendida e observada visando compreender as causas de suas dificuldades ela é vista como que se não estivesse fazendo esforço para cooperar ou simplesmente não prestasse atenção. Porém ao observar a criança é possível identificar alguns sinais, como por exemplo: Queixas gerais da escola; Queixas de tédio; Recusa em falar sobre a escola; Perda do orgulho pelo trabalho escolar; 10 Baixo desempenho inesperado. Comportamento ou problemas emocionais persistentes. Declínio na confiança e na autoestima. São crianças que apresentam uma discrepância entre o que estão fazendo e o que tem potencial para fazer, apresentando desempenho inconsistente e perdendo o interesse pela aprendizagem. Elas começam a desenvolver diversas estratégias e a apresentar questões comportamentais a fim de evitar a frustração ao realizar tarefas que não conseguem ou que têm dificuldades. Muitos fatores podem estar influenciando negativamente e causando essa dificuldade no aprender que podem ser verificados na figura 2 (SMITH; STRICK, 2001): Figura 2: Fatores que influenciam a aprendizagem Fonte: (SMITH; STRICK, 2001 adaptado por PAZETO, 2019) Tipo de escola Professor Escolarização inadequada Falta de estímulos em relação ao desenvolvimento Meio familiar Meio social Estrutura financeira Alterações do neurodesenvolvi mento Doenças 11 ROTTA, et al. (2016, p.98-99) descreve que as dificuldades de aprendizagem da criança podem estar relacionadas principalmente a fatores escolares, familiares e relativos a própria criança, que podem ser verificados na Figura 3: Figura 3: Fatores escolares e familiares que afetam a aprendizagem FONTE: (ROTTA, et al., 2016 adaptado por PAZETO, 2019) Todas essas áreas precisam ser olhadas quando uma criança começa a apresentar dificuldades de aprendizagem. O mais comum é que o não aprender seja justificado apenas por alguma causa da própria criança, sem considerar que pode ser a metodologia da escola, a estratégia de ensino que o professor está utilizando ou até mesmo alguma mudança que tenha ocorrido em casa, como a perda de um ente querido, um processo de separação ou alguma doença que a criança esteja. Às vezes um simples mudar de período da criança na mesma escola pode fazer com que ela tenha dificuldades de aprendizagem, porque apesar de julgarmos que essa é uma situação simples, para a criança pode não ser, pois Escolares •Condições físicas de sala de aula, que se relacionam com um ambiente seguro, limpo, arejado, com boa iluminação e com um limite aceitável de alunos em cada turma; •Condições pedagógicas, que se relacionam à disponibilidade de material didático adequado para a faixa de idade a que se destina, método pedagógico de acordo com a realidade da criança, otimização da duração do turno escolar e a preocupação de interação escola-família; •Condições do corpo docente, que se referemà motivação, dedicação, qualificação e remuneração adequada. Os problemas emocionais, sociais e econômicos do professor interferem em seu trabalho e em sua interação com o aluno. A baixa remuneração dos professores impede que muitos deles se dediquem a um grupo de alunos de cada vez, pois necessitam trabalhar em dois ou até três turnos, o que interfere em seu desempenho na sala de aula. Familiares •Escolaridade dos pais, principalmente das mães, em diferentes pesquisas, desempenha um papel fundamental na estimulação da criança para um melhor envolvimento com os estudos. •O hábito da leitura na família, sem dúvida, constitui um diferencial na estimulação pedagógica do escolar. •Condições socioeconômicas, na maioria das vezes com renda familiar insuficiente, são relevantes e, com frequência, estão implicadas no fracasso escolar. •História familiar de alcoolismo e de uso de drogas; •Pais desempregados ou com comportamento antissocial costumam fazer parte de uma anamnese completa e, não raro, constituem a única etiologia ou um reforço para o insucesso da criança na escola. •Fatores importantes na desagregação familiar, como pais separados ou em constantes litígios, também podem influenciar negativamente o desempenho escolar da criança. 12 ao mudar ela pode não se adaptar à nova turma, a professora ou ter dificuldades para fazer amigos e todo esse contexto afetar a sua aprendizagem. Em relação a criança é necessário observar então questões relacionadas a alterações físicas, neurológicas, transtornos psiquiátricos e deficiência intelectuais. O processo de aprendizagem é bastante complexo e por isso situações que podemos julgar como simples ou pequenas podem afetar o aprender da criança! Muitos profissionais utilizam de forma incorreta as terminologias, confundindo o uso dos termos dificuldades e transtornos de aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem podem ser classificadas em naturais ou secundárias. Rotta, et al. (2016, pp. 86 e 87) diferencia da seguinte forma: Dificuldades naturais: àquelas dificuldades experimentadas por todos os indivíduos em alguma matéria e/ou em algum momento de sua vida escolar. Os fatores causadores dessas dificuldades estão relacionados a aspectos evolutivos ou são decorrentes de problemas na proposta pedagógica, de padrões de exigência da escola, de falta de assiduidade do aluno e de conflitos familiares eventuais. São, em geral, dificuldades naturais, evolutivas e, portanto, transitórias, que tendem a desaparecer a partir de um esforço maior do aluno ou da ajuda de professor particular. Dificuldades secundárias: dificuldades secundárias a outros quadros diagnósticos. Problemas na aprendizagem escolar, decorrentes de transtornos que atuam primeiramente sobre o desenvolvimento humano normal e secundariamente sobre as aprendizagens específicas. Nessa subcategoria, estão incluídos os portadores de deficiência mental, sensorial, e aqueles com quadros neurológicos mais graves ou com transtornos emocionais significativos. Para a 13 caracterização das dificuldades secundárias, é imprescindível o diálogo com outros profissionais, particularmente psicólogos, psiquiatras e neurologistas, visto que o diagnóstico primário é fornecido por eles. Você consegue pensar em mais exemplos que podem afetar a aprendizagem da criança e fazer com que elas apresentem uma dificuldade ou alguma situação que tenha acontecido com você e que durante um tempo gerou uma dificuldade de aprendizagem? Registre a seguir: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Compreender o conceito de dificuldades de aprendizagem é fundamental para depois entender o conceito de transtornos específicos de aprendizagem, que será abordado na próxima unidade e conseguir assim utilizar de forma correta as nomenclaturas. 14 ROTTA, N.T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R.S. (Org.). Transtornos da Aprendizagem. Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016. Quando a criança apresenta a dificuldade, quando ela não consegue aprender da forma que precisa nem no ritmo para acompanhar os pares da mesma idade e o profissional já investigou e verificou todas ás áreas que descrevemos anteriormente, assim como já realizou intervenções focadas na dificuldade que estava observando e mesmo assim a criança não responde de forma adequada, ou está respondendo mas muito devagar, começamos a investigar a possibilidade de um transtorno específico de Aprendizagem. Os transtornos específicos de aprendizagem (TEAs) são avaliados por meio de dois manuais médicos, o DSM-5 e a CID-10 (Figura 4). Figura 4: Manuais médicos para diagnóstico dos TEAs FONTE: https://books.google.com.br 15 1.3 DSM-5 e CID: conhecendo os manuais médicos No prefácio do DSM-5 eles descrevem que o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), da American Psychiatric Association, é uma classificação de transtornos mentais e critérios associados elaborados para facilitar o estabelecimento de diagnósticos mais confiáveis desses transtornos. Com sucessivas edições ao longo dos últimos 60 anos, tornou-se uma referência para a prática clínica na área da saúde mental. Devido à impossibilidade de uma descrição completa dos processos patológicos subjacentes à maioria dos transtornos mentais, é importante enfatizar que os critérios diagnósticos atuais constituem a melhor descrição disponível de como os transtornos mentais se expressam e podem ser reconhecidos por clínicos treinados. O DSM se propõe a servir como um guia prático, funcional e flexível para organizar informações que podem auxiliar o diagnóstico preciso e o tratamento de transtornos mentais. Trata-se de uma ferramenta para clínicos, um recurso essencial para a formação de estudantes e profissionais e uma referência para pesquisadores da área. Embora esta edição tenha sido elaborada, acima de tudo, como um guia para a prática clínica, tratando-se de uma nomenclatura oficial, o Manual deve funcionar em uma ampla gama de contextos. O DSM tem sido utilizado por clínicos e pesquisadores de diferentes orientações (biológica, psicodinâmica, cognitiva, comportamental, interpessoal, familiar/sistêmica) que buscam uma linguagem comum para comunicar as características essenciais dos transtornos mentais apresentados por seus pacientes. As informações aqui resumidas são úteis para todos os profissionais ligados aos diversos aspectos dos cuidados com a saúde mental, incluindo psiquiatras, outros médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, consultores, especialistas das áreas forense e legal, terapeutas ocupacionais e de reabilitação e outros profissionais da área da saúde. Os critérios são concisos e claros, e suaintenção é facilitar uma avaliação objetiva das apresentações de sintomas em diversos contextos clínicos – internação, ambulatório, hospital-dia, consultoria (Inter consulta), clínica, consultório particular e atenção primária –, bem como em estudos epidemiológicos de base comunitária sobre transtornos mentais. 16 O DSM-5 também é um instrumento para a coleta e a comunicação precisa de estatísticas de saúde pública sobre as taxas de morbidade e mortalidade dos transtornos mentais. Por fim, os critérios e o texto correspondente servem como livro-texto para estudantes que precisam de uma forma estruturada para compreender e diagnosticar transtornos mentais, bem como para profissionais experientes que encontram transtornos raros pela primeira vez. Felizmente, todos esses usos são compatíveis entre si. Já na CID-10 - A Classificação Internacional de Doenças – CID 10 (International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems) tem como objetivo fornecer códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código, que contém até 6 caracteres. Tais categorias podem incluir um conjunto de doenças semelhantes. A CID é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e é usada globalmente para estatísticas de morbilidade e de mortalidade, sistemas de reembolso e de decisões automáticas de suporte em medicina. A introdução da CID-10 descreve que uma classificação de doenças pode ser definida como um sistema de categorias atribuídas a entidades mórbidas segundo algum critério estabelecido. Existem vários eixos possíveis de classificação e aquele que vier a ser selecionado dependerá do uso das estatísticas elaboradas. Uma classificação estatística de doenças precisa incluir todas as entidades mórbidas dentro de um número manuseável de categorias. Esses dois manuais serão a nossa base de definição e compreensão dos transtornos específicos de aprendizagem que serão abordados na proxima unidade. Análise o estudo de caso a seguir e descreva se a criança possui dificuldades de aprendizagem naturais ou secundárias e justifique: 17 A professora de Joana tem percebido que ela não está conseguindo acompanhar os colegas de classe como o esperado, que ela demonstra dificuldades em compreensão de texto e principalmente na matemática em tarefas que exigem maior compreensão e atenção. Joana tem 10 anos e é aluna dessa escola particular na região central de sua cidade desde o começo do ano. Quando entrou nessa nova escola, seus responsáveis explicaram para a coordenação que a escola que ela estudava até o ano anterior era uma escola com uma metodologia bem diferente da atual, e que ela estava naquela escola desde a educação infantil, porém por conta da mudança de serviço da mãe, eles precisaram mudar ela de escola. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: A Joana possui dificuldades naturais, que são àquelas dificuldades experimentadas por todos os indivíduos em alguma matéria e/ou em algum momento de sua vida escolar. Os fatores causadores dessas dificuldades estão relacionados a aspectos evolutivos ou são decorrentes de problemas na proposta pedagógica, de padrões de exigência da escola, de falta de assiduidade do aluno e de conflitos familiares eventuais. São, em geral, dificuldades naturais, evolutivas e, portanto, transitórias, que tendem a desaparecer a partir de um esforço maior do aluno ou da ajuda de professor particular. Como no estudo de caso a escola atual apresenta uma metodologia muito diferente da anterior pode ser que Joana esteja apresentando dificuldades para se adaptar à nova metodologia e por isso está apresentando dificuldades de aprendizagem, porém com o olhar e intervenção adequados ela pode superar e se ajustar as novas expectativas. 18 Caro(a) aluno(a): Nessa unidade vimos que: A aprendizagem possui uma base neurológica, que se relaciona com a forma como cada cérebro é formado e estruturado e acontece a partir da junção de fatores genéticos mais a experiência; O aprendizado só é possível porque somos capazes de adquirir, manter e de retomar o conhecimento; As dificuldades de aprendizagem envolvem diversos problemas que alteram a capacidade e as possibilidades da criança de aprender e são percebidas principalmente no ambiente escolar por meio da observação de comportamentos problemáticos; As dificuldades de aprendizagem da criança podem estar relacionadas principalmente a fatores escolares, familiares e relativos a própria criança; As dificuldades de aprendizagem podem ser classificadas em naturais ou secundárias; Os transtornos específicos de aprendizagem são avaliados por meio de dois manuais médicos, o DSM-5 e a CID-10; O DSM-5 (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) é uma classificação de transtornos mentais e critérios associados elaborada para facilitar o estabelecimento de diagnósticos mais confiáveis desses transtornos; A CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) tem como objetivo fornecer códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. 19 Então? Você aprendeu bastante do conteúdo desta Unidade? Vamos partir para a Unidade II e aprender mais um pouco para, depois, estarmos prontos para podermos elaborar as avaliações e estabelecermos os critérios de intervenções psicopedagógicas. Pronto(a)? Vamos lá! 20 II. DIFICULDADES E TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM Olá, aluno(a)! Bem-vindo(a) à Unidade II Nesta unidade vamos estudar os Transtornos Específicos de Aprendizagem e aprendermos um pouco sobre as diferenças entre as Dificuldades de Aprendizagem e os Transtornos Específicos de Aprendizagem. Na sequência, vamos falar sobre os Critérios Diagnósticos dos TEAs, preparando você para a próxima disciplina (Avaliação Neuropsicopedagógica) e para o exercício da Psicopedagogia Clínica. Preparado(a)? Então vamos lá! 2.1 Transtornos específicos de aprendizagem Os transtornos específicos de aprendizagem (TEAS) englobam aquelas crianças que apresentam um desempenho abaixo do esperado e que precisam de intervenções direcionadas para conseguirem avançar nos processos de aprendizagem. São crianças que apresentam uma dificuldade de aprendizagem, porém quando avaliados todos os pontos discutidos na Unidade I (dificuldades primárias e secundárias), não são suficientes para justificar o porquê de a criança não conseguir aprender da forma como o esperado para a idade e ano escolar. O transtorno específico da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica que é a base das anormalidadesno nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com eficiência e exatidão (APA, 2014 p.68). 21 Em grande parte, as pesquisas e os manuais sobre os TEAS englobam quatro áreas que precisam ser observadas (FLETCHER et al., 2009): 1. Discrepância entre o que a criança é capaz de realizar e o seu real desempenho; 2. Desempenho abaixo do esperado para a idade e ano escolar; 3. Diferenças intraindividuais (da própria criança); 4. Resposta da criança à instrução. FLETCHER, JM; LYONS, GR; FUCHS, LS; BARNES, MA. Transtornos de Aprendizagem: da Identificação à Intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2009. Existem critérios específicos para que uma criança se enquadre dentro de algum dos transtornos e uma forma de avaliação para identificar corretamente, que apresentaremos a seguir de acordo com os dois manuais médicos (DSM-5 e CID-10). Apesar dos dois manuais serem os mais recomendados para a avaliação e identificação de uma criança com um transtorno específico de aprendizagem, o DSM-5 é o mais utilizado na área educacional e por isso será o mais abordado também aqui em toda formação. 22 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mentais: DSM- 5. 5th ed. Porto Alegre: Artmed, 2014 (páginas 66 a 74). Inicialmente descreveremos os TEAS pelo DSM-5, segundo esse manual as características de um transtorno específico de aprendizagem têm como características (APA, 2014 p.32): Ser diagnosticado diante de déficits específicos na capacidade individual para perceber ou processar informações com eficiência e precisão; Manifesta-se, inicialmente, durante os anos de escolaridade formal, caracterizando-se por dificuldades persistentes e prejudiciais nas habilidades básicas acadêmicas de leitura, escrita e/ou matemática; O desempenho individual nas habilidades acadêmicas afetadas está bastante abaixo da média para a idade, ou níveis de desempenho aceitáveis são atingidos somente com esforço extraordinário; O transtorno específico da aprendizagem pode ocorrer em pessoas identificadas como apresentando altas habilidades intelectuais e manifestar-se apenas quando as demandas de aprendizagem ou procedimentos de avaliação (p. ex., testes cronometrados) impõem barreiras que não podem ser vencidas pela inteligência inata ou por estratégias compensatórias; Para todas as pessoas, o transtorno específico da aprendizagem pode acarretar prejuízos duradouros em atividades que dependam das habilidades, inclusive no desempenho profissional. 23 2.2 Critérios diagnósticos dos TEAS O primeiro critério diagnóstico segundo o DSM-5 é (APA, 2014 p. 66): Mousinho e Navas (2016) escreveram um artigo descrevendo sobre como o DSM-5 trata os TEAS e apresentando as principais alterações das versões anteriores. Um dos principais ganhos e contribuições para as crianças foi a mudança de acrescentar que antes de dizer que uma pessoa tem um TEA ela deve passar por intervenção focada por pelo menos seis meses. Essa alteração é fundamental para evitar diagnósticos incorretos que classificavam crianças com dificuldades de aprendizagem nesse grupo com TEAS. Trata-se de um modelo em que o diagnóstico não é dado a priori; inicialmente, pode ser estabelecida uma hipótese diagnóstica, que deve ser confirmada após um período de intervenção eficaz e cientificamente embasada. Tal proposta baseia-se na ideia de que, como há muitas variáveis ambientais que podem promover um falso positivo para um diagnóstico (no caso, de dislexia), a evolução no período de 6 meses de intervenção ou a rapidez e o modo de resposta podem ser aspectos decisivos para confirmar ou não o diagnóstico (MOUSINHO & NAVAS, 2016, p. 39). A figura 5 apresenta um fluxograma explicando essa nova alteração: (A) Dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadêmicas, conforme indicado pela presença de ao menos um dos sintomas a seguir que tenha persistido por pelo menos 6 meses, apesar da provisão de intervenções dirigidas a essas dificuldades. 24 Figura 5: Modelo de intervenção FONTE: (MOUSINHO; NAVAS, 2016, p. 39) Essa mudança é fundamental para direcionar o olhar primeiro para a criança e não simplesmente focar em avaliar e dizer se ela tem ou não um tea. Além disso, serve como base para que vocês fiquem atentos com os relatórios que recebem dizendo que uma criança tem um transtorno específico de aprendizagem. Pois, se todos os critérios aqui apresentados não forem seguidos e se a criança não tiver passado por intervenção antes dessa classificação o profissional que a avaliou não está seguindo as recomendações dos manuais. Marta é uma menina de 8 anos que acabou de iniciar o terceiro ano do ensino fundamental. Ela ainda não está alfabetizada, porém os demais colegas do mesmo ano já estão conseguindo ler pequenas frases e avançando no processo de leitura e de escrita. A professora de Marta diz que ela tem um transtorno específico de leitura (dislexia), pois a dificuldade dela para se alfabetizar é muito grande. De acordo com as discussões até o momento a fala 25 da professora de Marta está correta? O que ela deveria fazer em relação a Marta que seguiria o procedimento correto que o DSM-5 indica? __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Como explicado a grande mudança na última versão do DSM- 5 foi acrescentar que antes de uma criança ser encaminhada ou que seja diagnosticada com um transtorno ela deve passar por pelo menos 6 meses de intervenções direcionadas a sua dificuldade. Então, a professora de Marta deveria retomar a alfabetização dela para primeiro verificar se ela recebeu nos anos anteriores as instruções que precisava, além disso, investigar se existe alguma alteração que justifique essa dificuldade dela em aprender (Unid.1) e, depois desse trabalho feito e caso não obtenha os resultados esperados, então encaminhar para uma avaliação multidisciplinar para confirmar ou não a suspeita de um transtorno. 26 CUIDADO! Professor não realiza diagnóstico de um transtorno específico de aprendizagem, a avaliação deve ser multidisciplinar e seguir todos os critérios que serão abordados a seguir. O professor deve compartilhar os comportamentos e as dificuldades que observa no dia a dia, mas nunca enquadrar uma criança em alguma alteração simplesmente por essa observação! Os TEAS englobam basicamente dificuldades e alterações nas habilidades de leitura, escrita e matemática,conforme pode ser visualizado na figura 6 (APA, 2014 p. 66): Figura 6: Dificuldades na leitura, escrita e matemática dos TEAS 27 FONTE: (APA, 2014 p.66 adaptado por PAZETO, 2019) Os demais critérios diagnósticos para identificar os teas são (APA, 2014 p.66-67): B – As habilidades acadêmicas afetadas estão substancial e quantitativamente abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo, causando interferência significativa no desempenho acadêmico ou profissional ou nas atividades cotidianas, confirmada por meio de medidas de desempenho padronizadas administradas individualmente e por avaliação clínica abrangente. Para indivíduos com 17 anos ou mais, história documentada das dificuldades de aprendizagem com prejuízo pode ser substituída por uma avaliação padronizada. C – As dificuldades de aprendizagem iniciam-se durante os anos escolares, mas podem não se manifestar completamente até que as exigências pelas habilidades acadêmicas afetadas excedam as capacidades limitadas do indivíduo (p. ex., em testes cronometrados, Leitura •1. Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (p. ex., lê palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha palavras, tem dificuldade de soletrá- las). •2. Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (p. ex., pode ler o texto com precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as inferências ou os sentidos mais profundos do que é lido). Escrita •3. Dificuldades para ortografar (ou escrever ortograficamente) (p. ex., pode adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes). •4. Dificuldades com a expressão escrita (p. ex., comete múltiplos erros de gramática ou pontuação nas frases; emprega organização inadequada de parágrafos; expressão escrita das ideias sem clareza). Matemática •5. Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou cálculo (p. ex., entende números, sua magnitude e relações de forma insatisfatória; conta com os dedos para adicionar números de um dígito em vez de lembrar o fato aritmético, como fazem os colegas; perde-se no meio de cálculos aritméticos e pode trocar as operações). • 6. Dificuldades no raciocínio (p. ex., tem grave dificuldade em aplicar conceitos, fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas quantitativos). 28 em leitura ou escrita de textos complexos longos e com prazo curto, em alta sobrecarga de exigências acadêmicas). D – As dificuldades de aprendizagem não podem ser explicadas por deficiências intelectuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida, outros transtornos mentais ou neurológicos, adversidade psicossocial, falta de proficiência na língua de instrução acadêmica ou instrução educacional inadequada. Nota: Os quatro critérios diagnósticos devem ser preenchidos com base em uma síntese clínica da história do indivíduo (do desenvolvimento, médica, familiar, educacional), em relatórios escolares e em avaliação psicoeducacional. Nota para codificação: Especificar todos os domínios e sub-habilidades acadêmicos prejudicados. Quando mais de um domínio estiver prejudicado, cada um deve ser codificado individualmente conforme os especificadores a seguir. Se uma criança possui alguma das alterações descritas no critério B ela se enquadra em uma dificuldade de aprendizagem secundária e não em um transtorno. Por isso compreender as diferenças é fundamental para identificar corretamente as crianças. Ao realizar o diagnóstico o avaliador deve especificar se o prejuízo (dificuldade) da criança é na leitura, na escrita ou na matemática conforme a figura 7 a seguir (APA, 2014 p.67): 29 Figura 7: dificuldades na leitura, escrita e matemática dos TEAS FONTE: (APA, 2014 p. 67 adaptado por PAZETO, 2019) Nota: Dislexia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades de aprendizagem caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras, problemas de decodificação e dificuldades de ortografia. Se o termo dislexia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades na compreensão da leitura ou no raciocínio matemático (APA, 2014 p.67). Nota: Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Se o termo discalculia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades matemáticas, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades no raciocínio matemático ou na precisão na leitura de palavras (APA, 2014 p.67). Com prejuízo na leitura: •Precisão na leitura de palavras; •Velocidade ou fluência da leitura; •Compreensão da leitura. Com prejuízo na expressão escrita: •Precisão na ortografia; •Precisão na gramática e na pontuação; •Clareza ou organização da expressão escrita. Com prejuízo na matemática: •Senso numérico; •Memorização de fatos aritméticos; •Precisão ou fluência de cálculo; •Precisão no raciocínio matemático. 30 Dislexia e Discalculia apesar de serem muito utilizados são termos alternativos para especificar os transtornos específicos de aprendizagem com prejuízo na leitura e na escrita. E o último ponto que o DSM-5 descreve que o profissional deve especificar é a gravidade atual do transtorno, que é classificada em leve, moderada ou grave (APA, 2014 pp. 67-68): Leve: Alguma dificuldade em aprender habilidades em um ou dois domínios acadêmicos, mas com gravidade suficientemente leve que permita ao indivíduo ser capaz de compensar ou funcionar bem quando lhe são propiciados adaptações ou serviços de apoio adequados, especialmente durante os anos escolares. Moderada: Dificuldades acentuadas em aprender habilidades em um ou mais domínios acadêmicos, de modo que é improvável que o indivíduo se torne proficiente sem alguns intervalos de ensino intensivo e especializado durante os anos escolares. Algumas adaptações ou serviços de apoio por pelo menos parte do dia na escola, no trabalho ou em casa podem ser necessários para completar as atividades de forma precisa e eficiente. Grave: Dificuldades graves em aprender habilidades afetando vários domínios acadêmicos, de modo que é improvável que o indivíduo aprenda essas habilidades sem um ensino individualizado e especializado contínuo durante a maior parte dos anos escolares. Mesmo com um conjunto de adaptações ou serviços de apoio adequados em casa, na escola ou no trabalho, o indivíduo pode não ser capaz de completar todas as atividades de forma eficiente. Na Classificação Internacional das Doenças (CID-10), a nomenclatura já se diferencia do DSM-5, sendo chamados de Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares com o código F.81, divididos em: 31 F81: Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares F81.0: Transtorno específico de leitura; F81.1: Transtorno específico da soletração; F81.2: Transtorno específico da habilidade em aritmética; F81.3: Transtorno misto de habilidades escolares; F81.8: Outros transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares; F81.9: Transtorno não especificado do desenvolvimento das habilidades escolares. ROTTA, et al. (2016 p. 88) apresenta um quadro que resume os critérios diagnósticos de acordo com o CID-10, como pode ser visualizado na Figura 8: Figura 8: Transtorno de aprendizagem de acordo com a CID-10 FONTE (ROTTA, et al., 2016p. 88) 32 2.3 Diferenças entre as dificuldades e os TEAS As dificuldades de aprendizagem (naturais e secundárias) e os transtornos específicos de aprendizagem possuem características e formas de serem avaliados bem diferentes e por isso a compreensão dessas características é fundamental para o profissional que atua nas áreas da educação e da saúde com esse público. Infelizmente diversos profissionais utilizam os nomes de forma incorreta e classificam a criança simplesmente por observar comportamentos e potencial de desenvolvimento diferente do que as crianças da mesma idade e ano escolar, porém foi discutido amplamente nessa unidade e apresentado em detalhes o caminho correto para que uma criança seja diagnosticada com um transtorno específico de aprendizagem. Na próxima unidade abordaremos quais são esses transtornos e suas principais características, mas para fecharmos a Unid.2 é fundamental que a distinção entra dificuldade e transtorno esteja clara e compreendida por cada um de vocês, pois vocês lidarão com esses conceitos constantemente durante a prática profissional e devem saber como e quando utilizá-los. Portanto, a Figura 9 resume e fecha essa unidade apresentando as principais diferenças entre as dificuldades e os transtornos específicos de aprendizagem: 33 Figura 9: Diferenças entre dificuldades e TEAS FONTE: (PAZETO, 2019) Leia as afirmações a seguir e escolha ‘D’ para dificuldades de aprendizagem e ‘T’ para transtornos específicos de aprendizagem: _____ A criança deve passar por pelo menos 6 meses de intervenção antes da confirmação; _____ As dificuldades são persistentes e aparecem em todos os contextos que a criança lida com aquela demanda; Dificuldades de Aprendizagem • Criança apresenta uma discrepância entre o seu real potencial de aprendizado e o seu desempenho quando isso não era esperado; •As dificuldades tendem a ser passageiras voltando a criança ao seu potencial de aprendizado depois de receber intervenções direcionadas a sua dificuldade; •Quando investigada encontram a causa dessas dificuldades, que podem ser pela variável escola, família, ambiente e algo com a própria criança; • Existe uma causa que justifica a dificuldade; •Crianças com alterações do neurodesenvolvimento e problemas psicológicos, visuais, auditivos possuem dificuldades de aprendizagem secundárias, pois essas alterações podem estar justificando o não aprender. Transtornos Específicos de Aprendizagem • Criança aprensenta uma discrepância entre o seu real potencial de aprendizado e o seu desempenho constantemente; • As dificuldades são persistentes e aparecem em todos os contextos que a criança lida com aquela demanda; • As dificuldades começam a aparecer nos anos escolares quando essas habilidades em leitura, escrita e matemática,começam a ser exigidas; • Quando investigada não conseguem encontrar a causa dessas dificuldades, pois tudo aparenta estar bem com escola, família, ambiente e com a própria criança; • Alguma alteração que a criança possua, como problemas visuais, auditivos ou outros não são suficientes para justificar tamanha dificuldade; • A criança deve passar por pelo menos 6 meses de intervenção antes da confirmação do transtorno. 34 _____ A criança apresenta uma discrepância entre o seu real potencial de aprendizado e o seu desempenho quando isso não era esperado; _____ As dificuldades tendem a ser passageiras; _____ Alguma alteração que a criança possua, como problemas visuais, auditivos ou outros não são suficientes para justificar tamanha dificuldade; _____ Quando investigada encontram a causa dessas dificuldades. __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: T – T – D – D – T – D Prezado(a) aluno(a): Chegamos ao final da Unidade II, na qual foram apresentados os seguintes conceitos: 35 Os transtornos de dificuldades são percebidos pela discrepância entre: a) O que a criança é capaz de realizar e o seu real desempenho; b) O desempenho abaixo do esperado para a idade e ano escolar; c) As diferenças intraindividuais (da própria criança) e resposta da criança à instrução; Os TEAS englobam basicamente dificuldades e alterações nas habilidades de leitura, escrita e matemática; O Manual mais utilizado na área educacional é o DSM-5 e os critérios diagnósticos apresentados por ele; O primeiro critério diagnóstico envolve dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadêmicas que persistiram por mais de 6 meses, mesmo com a provisão de intervenções dirigidas a essas dificuldades; O segundo critério diz que as habilidades acadêmicas afetadas estão substancial e quantitativamente abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo, o que pode ser verificado por meio da avaliação em testes padronizados e essa alteração causa impacto em todas às áreas da vida da pessoa; No terceiro critério diz que as dificuldades de aprendizagem se iniciam durante os anos escolares quando as habilidades em leitura, escrita e matemática começam a ser exigidas; E o último (quarto) critério diz que quando investigadas não são identificadas a causas dessa dificuldade por questões biológicas, psicológicas, familiares e escolares; Quando avaliada o profissional deve especificar qual a gravidade atual do transtorno da criança, que é classificada em leve, moderada ou grave; Na Classificação Internacional das Doenças (CID-10), a nomenclatura já se diferencia do DSM-5, sendo chamados de Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares com o código F.81; É fundamental que a distinção entra dificuldade e transtorno esteja clara e compreendida pelos profissionais que atuam com esse 36 público para que as nomenclaturas sejam utilizadas de forma adequada e as crianças sejam avaliadas de forma correta. Então? Você aprendeu bastante do conteúdo desta Unidade? Vamos agora para a Unidade III para aprendermos sobre os Transtornos Específicos de Aprendizagem e o TDAH para, depois, estarmos prontos para podermos elaborar as avaliações e estabelecermos os critérios de intervenções psicopedagógicas. Pronto(a)? Vamos lá! 37 III. TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM E O TDAH Olá, aluno(a)! Chegamos à Unidade III, onde vamos conhecer os Transtornos Específicos de Aprendizagem e, entre eles, especificamente vamos tratar dos mais frequentes entre nossos clientes e alunos: a Dislexia, a Disgrafia, a Disortografia, a Discalculia e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, tendo sempre em vista que estes são os passos essenciais que preparam você para a próxima disciplina (Avaliação Neuropsicopedagógica) e para o exercício da Psicopedagogia Clínica. Preparado(a)? Então vamos lá! 3.1) TEAs: dislexia Na unidade II foram apresentados todos os critérios diagnósticos para identificar uma criança, adolescente ou adulto com um Transtorno Específico de Aprendizagem. Foi possível perceber oquanto essa avaliação deve ser criteriosa, cuidadosa e realizada de forma multidisciplinar, evitando assim diagnósticos incorretos e o direcionamento da criança para intervenções desnecessárias. Dentre os transtornos, vimos que o Transtorno Específico de Leitura é percebido quando a pessoa apresenta dificuldades na precisão na leitura de palavras, velocidade ou fluência da leitura alterada, assim como compreensão prejudicada. O nome alternativo e bastante comum para esse transtorno é Dislexia (APA, 2014). 38 Dislexia é o termo mais comum e conhecido para o Transtorno Específico de Leitura. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1872, por Berlin e o estudo para compreender por que algumas pessoas não conseguiam ler apesar de apresentarem todas as habilidades necessárias para isso começou a partir desse momento. Foi publicado nessa época o caso de um adolescente que não conseguia ler e mesmo depois de ter sido avaliado não foi encontrada nenhuma causa para tal dificuldade, o que foi caracterizado de “cegueira verbal” (ROTTA, et al., 2016a). Somente em 1917 que se cogitou a possibilidade dessas pessoas não conseguirem desenvolver essa habilidade por um funcionamento diferenciado do cérebro, uma forma diferente de lidar com as palavras. Oftalmologistas reforçavam que visualmente esses pacientes não tinham nenhuma alteração, então o problema não era de visão e sim nas áreas cerebrais que se relacionavam com a linguagem (ROTTA, et al., 2016a). O olhar para esse grupo começou a ganhar espaço e as características das dificuldades também. Eram pessoas descritas como “possuem inteligência normal, mas não conseguem aprender a ler e a escrever”, não conseguem reconhecer ou reconhecem e não compreendem as palavras, apresentam dificuldades para ler, soletrar e escrever, assim como espelham e invertem as palavras (ROTTA, et al., 2016a). Rotta et al., (2016a, p.134) descreve o momento em que o termo ficou mais próximo do que temos conhecido hoje: No entanto, só em 1950, Hallgren publica o primeiro estudo clínico e genético do que chamou de “dislexia específica”, em substituição à expressão “cegueira verbal congênita”. A partir daí inúmeros pesquisadores interessados no entendimento da aquisição da linguagem escrita, principalmente psicólogos, colocaram ao lado da origem cerebral maturativa os aspectos psicológicos e a influência das adversidades sociais. Por meio de diversos testes psicológicos, que ainda hoje podem colaborar para o diagnóstico de dislexia, puderam observar também falhas no desenvolvimento da linguagem oral. Foram observadas alterações em outras funções cerebrais superiores, tais como noção de espaço, de tempo e dificuldades visuoespaciais, importantes para o desenvolvimento da leitura e da escrita. 39 As dificuldades apresentadas pelas pessoas diagnosticadas com esse transtorno continuaram a ser cada vez mais exploradas, assim como a busca em compreender por que apesar de apresentarem potencial intelectual dentro da média e muitas vezes superior, mesmo assim não conseguiam aprender a ler de forma adequada para o seu potencial de aprendizado e demais habilidades avaliadas. Alguns pontos começaram a ser levantados, como a relação genética com os casos encontrados, maior incidência em meninos do que em meninas e questões ambientais (ROTTA, et al., 2016a). “Transtornos de Aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar”, reúne destacados profissionais da área da saúde e de áreas relacionadas ao tema para compartilhar seus conhecimentos e experiências sobre os aspectos que interferem no aprendizado e também sobre como abordar esses transtornos na prática diária. Para tanto, o livro divide-se em três partes: Em Aprendizagem “normal” são contempladas informações sobre dificuldades da aprendizagem relacionadas à escola, à família e aos aspectos físicos do próprio paciente. Em Transtornos da aprendizagem são abordados problemas como dislexia, discalculia, dispraxias, disgnosias e transtornos da memória e da atenção. Nesta parte, foram incluídos três novos capítulos, os quais discutem aspectos neurobiológicos, clínicos e comorbidades dos transtornos do espectro do autismo. Em Aprendizagem e situações específicas são analisadas as possíveis repercussões que epilepsia, paralisia cerebral, deficiência mental, autismo e problemas emocionais podem ter sobre o processo de aprendizagem. Um capítulo dedicado à plasticidade cerebral e aprendizagem encerra esta importante obra que é referência indispensável para todos os profissionais que atuam na área, sejam eles médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos ou professores. Não deixe de ler! 40 ROTTA, N.T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R.S. (Org.). Transtornos da Aprendizagem. Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016. Crianças com dislexia mostram alguns sinais que já podem ser percebidos, principalmente em sala de aula. O quadro 1 apresenta o que pode ser observado dividido por etapa escolar: Quadro 1: Características de crianças com dislexia Educação infantil Dificuldade (atraso) na aquisição da linguagem oral; dificuldade de memória fonológica; dificuldade em nomear pessoas, cores, objetos e figuras geométricas; representações gráficas aceleradas e pobres; e desinteresse por letras. Primeiro ano Distanciamento radical entre o que os colegas aproveitam do processo lectográfico e o possível aluno disléxico. Não reconhece as vogais com facilidade, apresenta interesse restrito na produção gráfica, esquiva-se de mostrar o que aprendeu (possivelmente não tenha aprendido). Segundo ano Mantém a dificuldade de reconhecimento imediato de letras, e quando está em situação de leitura oral, substitui ou omite partes da palavra de tal modo que fique sem significado. Esse aluno continua sua batalha na decodificação dos grafemas e não consegue dar-se conta de que não está entendendo o que está escrito. “Juntar” as letras e entender o que elas significam é uma tarefa hercúlea e, claro, ele não consegue fazê-lo. A dificuldade também começa a aparecer em matemática, pois sofrem o mesmo processo de entendimento: trata-se mais de uma dificuldade de decodificação linguística do que de cálculo. 41 Terceiro ano Ainda se embaralha com a diferença do /O/ e do /A/ e com o mistério do /p, q, d, b/. Quarto ano As estratégias de compensação entram em ação: uma espiada no trabalho do colega, um olhar mais atento na expressão fisionômica do professor, o balbuciar em voz baixa enquanto escreve passam a ser ferramentas de inestimável valor. FONTE: (ROTTA, et al., 2016b p.231, adaptado por PAZETO, 2019) Além desses sinais descritos acima, algumas dificuldades podem ser observadas na produção textual da criança, como por exemplo, (ROTTA, et al., 2016ª p. 142): Leitura e escrita, muitas vezes incompreensíveis; Confusões de letras com diferente orientação espacial (p/q; b/d; f/t, etc.); Confusões de letras com sons semelhantes (b/p; d/t; g/j, etc.); Inversões de sílabas ou palavras (par/pra; lata/alta); Substituições de palavras com estrutura semelhante (contribuiu/ construiu); Supressão ou adição de letras ou de sílabas (caalo/cavalo; berla/bela); Repetição de sílabas ou palavras (eu jogo jogo bola; bolo de chococolate); Fragmentação incorreta (querojo garbola/ quero jogar bola); Dificuldade para entender o texto lido. 42 O Instituto ABCD e a Associação Britânica de Dislexia (British Dyslexia Association – BDA) desenvolveram um curso livre gratuito para apresentar a dislexia a todos interessados em aprender sobre ela. Com esse curso, você saberá: o que é a dislexia, as principais teorias sobre as suas causas, como identificá-la, quais são os direitos de pessoas com dislexia e muito mais! Basta acessar:https://www.institutoabcd. org.br/curso-entendendo-a- dislexia/ No site do Instituto ABCD, os pesquisadores descrevem alguns sinais que podem ser observados na linguagem oral, na leitura e na escrita de crianças disléxicas. A figura 10 apresenta quais são: Figura 10: Sintomas de dislexia 43 FONTE: https://www.institutoabcd.org.br/o-que-e-dislexia/ adaptado por PAZETO (2019) Compreender e saber identificar esses sinais é fundamental para que essas crianças sejam atendidas o mais precocemente possível, visando o trabalhar com elas estratégias que as auxiliem no dia a dia de sala de aula, com objetivo de não deixar que elas cheguem até quarto ano, como o quadro 1 apresentou, sem conseguir ler e escrever de forma adequada. Vocês já pararam para refletir sobre o porquê é tão importante ler e o escrever na escola? Stanovich (1991) comparou o processo de leitura e escrita da criança com a parábola bíblica de Mateus, a qual diz, que aquele que muito tem, mais ainda lhe será acrescentado, e aquele que pouco tem, esse pouco lhe será tirado. A autora aplicou esse conceito a trajetória escolar da criança associada aos processos de leitura e de escrita. Ela descreveu que a escola tende a progredir em grau de dificuldade os conteúdos trabalhados e a exigência de habilidades sobre o aluno, ou seja, no segundo ano a criança irá aprender conteúdos mais complexos que no primeiro Linguagem Oral •Atraso no desenvolvimento da fala; •Problemas para formar palavras de forma correta, como trocar a ordem dos sons na palavra (popica / pipoca) ou confundir palavras semelhantes (umidade/ humanidade); •Erros de pronúncia, incluindo trocas, omissões, substituições, adições e misturas de fonemas; •Dificuldade para nomear letras, números e cores; •Dificuldade em atividades de aliteração e rima; •Dificuldade para se expressar de forma clara. Leitura •Dificuldade em decodificar palavras; •Erros no reconhecimento de palavras, mesmo das mais frequentes; •Leitura oral devagar e incorreta. Pouca fluência com inadequações de ritmo e entonação, em relação ao esperado para idade e escolaridade; •Compreensão de texto prejudicada como consequência da dificuldade para decodificar palavras; •Vocabulário reduzido. Escrita •Erros de soletração e ortografia, mesmo nas palavras mais frequentes; •Omissões, substituições e inversões de letras e/ou sílabas; •Dificuldade na produção textual, com velocidade abaixo do esperado para idade e escolaridade. 44 ano, no terceiro ano mais complexos que no segundo, no quarto e assim por diante. A escola a cada ano que passa exigirá mais do aluno. Observem a Figura 11 abaixo, ela apresenta como esse processo ocorre na prática. Nela temos duas crianças, o Bernardo e a Valentina. O primeiro ano está exigindo dos alunos nível de conhecimento 1 e Bernardo é um aluno que está se desenvolvendo de forma adequada, que acompanha os conteúdos e que consegue responder a exigência tendo conhecimento 1 também, já a Valentina apesar de conseguir participar, de estar se desenvolvendo, realiza tudo com muita dificuldade, ela está chegando ao final do primeiro ano com o mínimo de conhecimentos necessários, com diversos entraves, porém ambos seguirão para o segundo ano. Figura 11: Efeito Mateus de Stanovich (1991) Fonte: PAZETO, 2019 Agora que chegaram no segundo ano a exigência aumentou, o conhecimento exigido dos alunos não é mais apenas 1 e sim 2. Bernardo continua respondendo bem as demandas escolares e desenvolve ainda mais 45 suas habilidades, já a Valentina continua com os conhecimentos mal desenvolvidos do primeiro ano, ela não consegue responder as demandas do segundo ano. Porém conforme a imagem mostra, agora o nível de exigência é 2 e não mais 1, ou seja, aquele conhecimento que a Maria tinha se tornou menor ainda, e o Bernardo que não tem dificuldades continua a se desenvolver. Perceberam a aplicação do chamado Efeito Mateus? O Bernardo a cada dia agregará mais conhecimento, pois ele tira vantagem do ler e escrever e se desenvolve cada ano mais, já a Valentina, por carregar tantas dificuldades, seu conhecimento vai se tornando menor ao longo dos anos, porque as exigências estão maiores, ou seja, o pouco que ela tinha a cada ano se torna menor porque exigem mais habilidades que ela não consegue responder. A escola se estrutura em torno do ler e do escrever, praticamente todas as disciplinas exigem essas habilidades e por isso é tão importante perceber desde cedo entraves e dificuldades que a criança possa estar apresentando nesses processos. Stanovich, K. E. (1991). Word recognition: Changing perspectives. In R. Barr, M. L. Kamil, P. Mosenthal, & P. D. Pearson (Eds.), Handbook of reading research (pp. 418-452). New York: Longman Atividade de Aplicação 46 O filme “Como estrelas na Terra: toda criança é especial” conta a história de uma criança que sofre com dislexia e não é compreendida pelos professores e pais. Ishaan Awasthi, de 9 anos, já repetiu uma vez o terceiro período (no sistema educacional indiano) e corre o risco de reprovar novamente. As letras dançam em sua frente, como diz, e não consegue acompanhar as aulas nem focar sua atenção. Inesperadamente, um professor substituto de artes percebe que há algo de errado com Ishaan. Ao descobrir que o garoto era disléxico, o professor coloca em prática um plano para resgatar aquele garoto. (FONTE:http://educamais.com/como-estrelas-na-terra/). Assista ao filme e descreva quais estratégias o professor utilizou para auxiliar o aluno com dislexia: __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 47 3.2) TEAs: disgrafia e disortografia O Transtorno de Aprendizagem com prejuízo na expressão escrita pode envolver a dificuldade da criança na ortografia, na precisão na gramática, pontuação, na clareza ou organização da expressão escrita (APA, 2014). ROTTA et al. (2016a, p.205) descreve alguns sinais que podem ser observados em crianças que apresentam esse transtorno: 1. Recusa na realização de temas e trabalhos escolares; 2. Estresse pessoal e familiar, principalmente na hora do estudo; 3. Cadernos incompletos, com rasuras, desenhos aleatórios, excesso de pressão no traçado; 4. Desatenção às solicitações do professor; 5. Queixas escolares frequentes; 6. Desorganização pessoal (roupas, mochilas, quarto); 7. “Omissão” de datas para entrega de tarefas e provas escolares; 8. Letra ilegível; 9. Lentidão, morosidade (tardes inteiras para o tema); 10. Repetência de séries escolares. Assim como na dislexia, são crianças queapesar de apresentarem nível intelectual adequado e escolaridade não conseguem apresentar uma produção escrita compatível com esse padrão, mostrando dificuldades no traçado, grafismo não diferencia forma e tamanho, escrita irregular, movimentos incorretos, entre demais sinais já descritos. Ciasca (2009) divide a disgrafia em subtipos, conforme pode ser visualizado na figura 12: 48 Figura 12: Subtipos da Disgrafia FONTE: CIASCA (2009, p.188-189) adaptado por PAZETO (2019) Ciasca (2009, p.189) descreve mais alguns sinais que essas crianças podem apresentar em sua produção: a) Má organização da página: ligado à orientação espacial, apresentação desordenada do texto, margens mal feitas ou inexistentes, espaços irregulares entre palavras e linhas, escrita ora ascendente ou descente; b) Má organização das letras: ligada a incapacidade de submeter-se às regras caligráficas, o traçado apresenta qualidade ruim, hastes das letras são deformadas, anéis sobrepostos, as letras são retocadas e irregulares em suas dimensões; c) Erros de formas e proporções: o grau de limpeza do traçado das letras é baixo, dimensão (pequena ou grande), desorganização das formas e, escrita alongada ou comprida. Disgrafia disléxica • Consiste na dificuldade em construir adequadamente a palavra, a escrita espontânea é ilegível, soletração é pobre, mas o desenho e a cópia são relativamente normais. Disgrafia motora • Escrita espontânea e copia são ilegíveis, mas a oralidade é normal, o desenho é pobre. Normalmente este tipo de disgrafia esta associado a um problema puramente motor. Disgrafia visuo- espacial • A dificuldade esta relacionada a distribuição do espaço gráfico, desenho é ruim e escrita pode ser ilegível assim como a cópia. 49 Já a Disortografia é caracterizada pela incapacidade da pessoa em registrar a linguagem oral, ou seja, de transcrever de forma correta a fala. Em sua escrita é possível perceber trocas ortográficas e diversos tipos de confusões entre as letras, não afetando sempre o traçado (CIASCA, 2009). A figura 13 apresenta as principais dificuldades que crianças disortográficas podem apresentar: Figura 13: Características da Disortografia FONTE: CIASCA (2009), adaptado por PAZETO (2019) A Disgrafia envolve a dificuldade focada mais nos aspectos motores e a Disortografia nos aspectos relacionados a expressão escrita. Disortografia Confusão de letras (e.g., trocas auditivas: consoantes surdas por sonoras: f/v, faca/vaca). Confusão de letras (vogais nasais por orais: na/a, en/i, on/o, um/u). Confusão de sílabas com tonacidade semelhante: cantarão/cantaram. Confusão de letras (trocas visuais simétricas: b/d, p/q, semelhantes: e/a, b/h, f/t. Confusão de palavras com configurações semelhantes, exemplo copia pedreiro em lugar de padeiro. 50 CIASCA, S.M. Disgrafia: Transtorno específico da escrita, considerações gerais. In: MONTIEL, J. M.; CAPOVILLA, F. C. Atualização em Transtornos de Aprendizagem. Artes Médicas, São Paulo, 2009. 3.3) TEAs: discalculia A Discalculia é um Transtorno específico de aprendizagem com prejuízo na matemática, no qual a pessoa pode possuir dificuldades com o: senso numérico; memorização de fatos aritméticos; precisão ou fluência de cálculo e precisão no raciocínio matemático. Cerca de 3 a 6% das crianças em idade escolar tem discalculia (APA, 2014). Nota: Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Se o termo discalculia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades matemáticas, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades no raciocínio matemático ou na precisão na leitura de palavras (APA, 2014, p.67) Segundo Rotta et. al., (2016ª, p. 178) a discalculia pode ser definida como: 51 ... uma alteração específica em aritmética, não atribuível exclusivamente a um retardo mental global ou à escolarização inadequada. O déficit concerne ao domínio de habilidades computacionais básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão mais do que às habilidades matemáticas abstratas envolvidas em álgebra, trigonometria ou cálculo (CID 10). Shalev define a discalculia do desenvolvimento como um transtorno específico que afeta a aquisição normal das habilidades aritméticas. As evidências genéticas, neurobiológicas e epidemiológicas indicam que a discalculia, como outros distúrbios de aprendizado, tem bases cerebrais; entretanto, o ensino inadequado e as privações ambientais podem estar envolvidos na sua etiologia. Apesar de ser um transtorno bastante conhecido, não existem tantos estudos em relação a discalculia quanto a dislexia (ROTTA et al., 2016a). Uma possibilidade para essa diferença seria a aceitação social que a pessoa com dificuldades na matemática enfrenta, afinal é considerado “normal” e aceitável ter dificuldades com os aspectos matemáticos, o que já não se reflete e não acontece em relação as dificuldades com a leitura e com a escrita, que apresentam um grande impacto social. É possível em idades bem precoces, a partir dos 3 anos, realizar avaliações com o foco de identificar possíveis áreas matemáticas que podem já estar alteradas, como (Rotta et. al., 2016a p.178): 1. Desenvolvimento do conceito numérico; 2. Habilidade para contar; 3. Desenvolvimento da aritmética (fatos e procedimentos numéricos); 4. Comutatividade e associatividade; 5. Complementaridade. Rotta et al., (2016a, p.187), apresenta algumas áreas que o professor/terapeuta pode trabalhar com a criança que possui dificuldades em matemática dividindo por habilidades: Percepção de figuras e formas: experiências graduadas e simples, observando detalhes, semelhanças e diferenças. Espaço: localização de objetos em cima, embaixo, no meio, entre primeiro, último, etc. Ordem e sequência: primeiro, segundo, etc., dias da semana, ordem dos números, dos meses, das estações do ano. Representação mental: indicar, com as mãos e os dedos, o tamanho e comprimento dos objetos; preencher espaços com figuras de tamanho específico, escolhidas entre outras de mesma forma, porém com tamanhos diferentes. Conceitos de números: trabalhar correspondência um a um, construir fileiras idênticas de objetos, associar o símbolo e a compreensão auditiva à quantidade por meio de atividades rítmicas. 52 Operações aritméticas: trabalhar adequadamente para que a criança entenda que adição se dá pelo acréscimo; a subtração, pela diminuição; a divisão se dá repartindo; e a multiplicação é uma sucessão de somas de parcelas iguais. Esses são os três tipos de transtornos específicos de aprendizagem, os que envolvem a leitura, escrita e matemática, sendo os demais transtornos e alterações do neurodesenvolvimento enquadrados em outras categorias, assim como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, que apesar de ser uma comorbidade dos TEAS, ou seja, pode acontecer junto com um transtorno de aprendizagem, não faz parte desse grupo. Atividade de Aplicação O Programa “Todos Aprendem”, do Instituto Abcd, é direcionado para os Professores, sendo um curso de formação complementar para educadores, que tem como objetivo debater sobre o processo de aprendizagem e as suas complexidades. O curso ensina sobre os transtornos de aprendizagem (TEAp), como a dislexia e a discalculia, o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e outras condições que podem impedir, atrapalhar e atrasar o aprendizado. Direcionado para professores de Educação Infantil e do Ensino Fundamental1, o Todos Aprendem foca principalmente no desenvolvimento da linguagem oral, linguagem escrita e habilidades matemáticas. O curso integra teoria e prática, incluindo atividades e estratégias para sala de aula. (FONTE: https://www.institutoabcd.org.br/todos-aprendem/). 53 Assista o vídeo do módulo 6 “Habilidades matemáticas: O que são, como avaliar e como melhorar?” (https://vimeo.com/109811598) e descreva a seguir como podemos auxiliar a criança com dificuldades na área matemática __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 54 3.4) Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno do neurodesenvolvimento, que tem como características apresentar sinais no período do desenvolvimento, em geral antes da criança começar a sua vida escolar e afetam o funcionamento da pessoa em todas as áreas e não somente na escola, como em sua vida social, pessoal, acadêmica e profissional. A Figura 14 apresenta as principais características do TDAH: Figura 14: Características do TDAH FONTE: APA (2014, p.32) adaptado por PAZETO (2019) Assim como nos transtornos específicos de aprendizagem o TDAH tem critérios diagnósticos específicos e subtipos, que serão apresentados segundo as recomendações do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-5. A seguir serão apresentadas todas essas características (APA, 1994, p.59-60): Transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade Desatenção e desorganização envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento. Hiperatividade-impulsividade implicam atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros e incapacidade de aguardar – sintomas que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento. Na infância, o TDAH frequentemente se sobrepõe a transtornos em geral considerados “de externalização”, tais como o transtorno de oposição desafiante e o transtorno da conduta. O TDAH costuma persistir na vida adulta, resultando em prejuízos no funcionamento social, acadêmico e profissional. 55 Totalmente reformulada, esta nova edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), resultado de mais de 10 anos de trabalho de especialistas de todo o mundo, traz o que há de mais atual em termos de classificação e diagnóstico na área da saúde mental, constituindo-se em recurso indispensável a estudantes, clínicos e pesquisadores. Não deixe de ler! AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais Porto Alegre: Artmed; 2014. Critérios Diagnósticos: 1. Desatenção: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: (Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários.) a. Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (p. ex., negligência ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso). A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade- impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e/ou (2): 56 b. Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (p. ex., dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas). c. Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (p. ex., parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia). d. Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (p. ex., começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente perde o rumo). e. Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (p. ex., dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos). f. Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (p. ex., trabalhos escolares ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos). g. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex., materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular). h. Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados). i. Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (p. ex., realizar tarefas, obrigações; para adolescentes mais velhos e adultos, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados). 2. Hiperatividade e impulsividade: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: (Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários). 57 a. Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira. b. Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (p. ex., sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar). c. Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. (Nota: Em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude.) d. Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente. e. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (p. ex., não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado pormuito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar). f. Frequentemente fala demais. g. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (p. ex., termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar). h. Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (p. ex., aguardar em uma fila). i. Frequentemente interrompe ou se intromete (p. ex., mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que outros estão fazendo). Verificar se vários sintomas de desatenção ou hiperatividade- impulsividade estavam presentes antes dos 12 anos de idade. 58 Verificar se vários sintomas de desatenção ou hiperatividade- impulsividade estão presentes em dois ou mais ambientes (p. ex., em casa, na escola, no trabalho; com amigos ou parentes; em outras atividades). Verificar se há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem sua qualidade. Verificar se os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (p. ex., transtorno do humor, transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo, transtorno da personalidade, intoxicação ou abstinência de substância). Determinar o subtipo: Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1 (desatenção) quanto o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos últimos 6 meses. Apresentação predominantemente desatenta: Se o Critério A1 (desatenção) é preenchido, mas o Critério A2 (hiperatividade- impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses. Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: Se o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) é preenchido, e o Critério A1 (desatenção) não é preenchido nos últimos 6 meses. Especificar se: Em remissão parcial: Quando todos os critérios foram preenchidos no passado, nem todos os critérios foram preenchidos nos últimos 6 meses, e os sintomas ainda resultam em prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou profissional. Especificar a gravidade atual: Leve: Poucos sintomas estão presentes além daqueles necessários para fazer o diagnóstico, e os sintomas resultam em não mais do que pequenos prejuízos no funcionamento social ou profissional. 59 Moderada: Sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave” estão presentes. Grave: Muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico estão presentes, ou vários sintomas particularmente graves estão presentes, ou os sintomas podem resultar em prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional. O diagnóstico de TDAH deve ser realizado por equipe médica em conjunto com psicólogos, psicopedagogo e escola. Atualmente, verifica-se um aumento do número de diagnósticos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), o que tem preocupado bastante alguns educadores que afirmam não saber como agir diante de estudantes que apresentam sinais de desatenção e agitação possivelmente condizentes com esse quadro. Assinale a alternativa correta: Um psicopedagogo/psicólogo escolar e educacional que trabalhe em uma instituição na qual existam estudantes com esse diagnóstico precisa: a) atuar como mediador, propiciando reflexões sobre os riscos da banalização diagnóstica e sobre a articulação entre condições individuais, sejam essas orgânicas ou não, e aspectos relativos à dinâmica da instituição e às relações indivíduo-sociedade. b) esclarecer aos educadores que as dificuldades de concentração de tais estudantes não têm relação com as práticas educativas empreendidas e 60 que esses estudantes serão atrasados em relação aos que não têm esse diagnóstico. c) verificar se esses estudantes estão sendo medicados adequadamente, uma vez que em tais casos tomar a medicação correta é o caminho para curar os sintomas e garantir sucesso na aprendizagem. d) elaborar intervenções que incluam as famílias desses estudantes, uma vez que o TDAH tem incidência em indivíduos provenientes de núcleos familiares desestruturados e que têm dificuldades de educar seus filhos. e) Acompanhar o desempenho dos alunos que já estão medicados, posto que é muito difícil incluir TDAH junto a alunos “normais” sem o controle medicamentoso. FONTE: (COMPERVE - 2018 - UFRN - Psicólogo Escolar / adaptado por PAZETO, 2019). __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: RESPOSTA A. Foi apresentado que o diagnóstico do TDAH é multidisciplinar e finalizado por médico, portanto a atuação do psicopedagogo deve ser com foco de mediar e buscar ajudar com outros profissionais para realizar o diagnóstico de forma adequada conforme foi apresentado com os manuais médicos. 61 Portadores de TDHA reúnem um conjunto de sintomas, mas vale destacar que NÃO são considerados sintomas típicos da síndrome TDAH: a) dificuldade para sustentar a atenção por períodos prolongados, seguir instruções, completar as lições e organizar tarefas. b) tendência a perder objetos, esquecer compromissos e distrair-se com estímulos externos. c) agitação motora, inquietude e tendência a falar excessivamente. d) dificuldade de aguardar sua vez, tendência de interromper os outros ou intrometer-se em assuntos alheios. e) inabilidade acadêmica específica como leitura, expressão escrita e trocas de letras ou números. FONTE: (Adaptado de FCC - 2018 - Prefeitura de Macapá - AP - Especialista na Educação – Psicólogo). __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: RESPOSTA E. As dificuldades descritas nessa alternativa estão descrevendo os Transtornos Específicos de Aprendizagem e não o TDAH. Todas as demais são referentes ao TDAH. 62 Prezado(a) aluno(a): Chegamos ao final de mais uma Unidade de estudo. Nesta Unidade III vimos que: Os Transtornos Específicos de Aprendizagem (TEAs), podem ser caracterizados por prejuízos na: leitura, escrita ou matemática; O Transtorno Específico de Leitura é percebido quando a pessoa apresenta dificuldades na precisão na leitura de palavras, velocidade ou fluência da leitura alterada, assim como compreensão prejudicada; O nome alternativo e bastante comum para esse transtorno é Dislexia; O Transtorno de Aprendizagem com prejuízo na expressão escrita pode envolver a dificuldade da criança na ortografia, na precisão na gramática, pontuação, na clareza ou organização da expressão escrita; A Disgrafia envolvea dificuldade focada mais nos aspectos motores e a Disortografia nos aspectos relacionados a expressão escrita; A Discalculia é um Transtorno específico de aprendizagem com prejuízo na matemática, no qual a pessoa pode possuir dificuldades com o: senso numérico; memorização de fatos aritméticos; precisão ou fluência de cálculo e precisão no raciocínio matemático; O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno do neurodesenvolvimento, que tem como características apresentar sinais no período do desenvolvimento, em geral antes da criança começar a sua vida escolar e afetam o funcionamento da pessoa em todas as áreas e não somente na escola, como em sua vida social, pessoal, acadêmica e profissional. 63 O TDAH possui critérios diagnósticos específicos, que devem ser descritos se envolvem Desatenção e Hiperatividade / Impulsividade, assim como designar o subtipo e a gravidade atual do transtorno, sendo seu diagnóstico por equipe multidisciplinar e fechado por médico. Esperamos que você tenha aprendido bastante com conteúdo desta Unidade. Vamos agora para a Unidade IV para estudarmos sobre os Transtornos Globais do Desenvolvimento e o Transtorno do Espectro do Autismo, também presentes em nossas escolas e universidades. Pronto(a)? Avante! 64 IV– TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO E TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO Olá, aluno(a)! Apresentamos a você a Unidade IV onde vamos estudar os Transtornos Globais do Desenvolvimento e o Transtorno do Espectro do Autismo. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) tem relativa incidência entre nossos clientes e alunos, da Educação Infantil ao Ensino Superior e tem aparato legal específico para Inclusão Escolar e profissional. Portanto, com este capítulo de nosso Livro Texto estaremos capacitando você para a próxima disciplina (Avaliação Neuropsicopedagógica) e para o exercício da Psicopedagogia Clínica. Há muito o que estudar. Preparado(a)? Então vamos lá! 4.1) Transtornos Globais do Desenvolvimento Segundo a APA (2014, p. xlii) nessa última versão ocorreu uma “...fusão de transtorno autista, transtorno de Asperger e transtorno global do desenvolvimento no transtorno do espectro autista. Os sintomas desses transtornos representam um continuum único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos. Essa mudança foi implementada para melhorar a sensibilidade e a especificidade dos critérios para o diagnóstico de transtorno do espectro autista e para identificar alvos mais focados de tratamento para os prejuízos específicos observados”. 65 4.2) Transtorno do Espectro do Autismo O termo “autismo” foi utilizado pela primeira vez em 1908, por um psiquiatra suíço, que relacionava os comportamentos alterados observados com pacientes que tinha esquizofrenia. Em 1943, um psiquiatra infantil, chamado Kanner, percebeu os mesmos comportamentos descritos já em crianças e chamou essas alterações de “autismo infantil precoce”, reforçando as grandes dificuldades de comunicação e de comportamento dos pacientes observados (ROTTA et al., 2016). O psiquiatra e pesquisador chamado Asperger, não conhecia a pesquisa de Kanner e descreveu casos de pacientes que apresentam comportamentos alterados nas áreas de comunicação, interação e comportamental, porém possuíam inteligência média e elevada, pois suas capacidades intelectuais em áreas específicas eram enormes, a ponto de poderem ser considerados pequenos professores. Posteriormente esses casos de autistas com alto nível de inteligência foram chamados de Aspergers em homenagem ao psiquiatra (ROTTA et al., 2016). Na década de 50 de justificava o autismo pela falta de estímulo dos responsáveis pela criança, assim como falta de afeto da mãe durante a gestação ou vínculos iniciais. Em 1952, no primeiro DSM, o autismo fazia parte da esquizofrenia infantil e não como um transtorno próprio com características específicas. Somente em 1980, com Rutter e Schopler, a partir de extensa experiência e pesquisa de crianças com o autismo que eles estabeleceram quatro critérios característicos de crianças com essas alterações (ROTTA et al., 2016).: 1- Atrasos e alterações sociais que não estavam relacionadas somente a deficiência intelectual; 2- Problemas de comunicação; 3- Comportamentos diferentes, chamados de incomuns; 4- As alterações podiam ser observadas antes dos 30 meses de idade. 66 Foi na década de 50 que surgiu o termo “mãe geladeira” para justificar que as crianças eram autistas por falta de um vínculo afetivo com a mãe. Em 1980, com a terceira versão do DSM, o TEA foi reconhecido como um transtorno único, com características específicas, dentro da classe de transtornos do desenvolvimento, e foi chamado de TID, transtorno invasivo do desenvolvimento. E em 2013, com o DSM-5, o TEA ganhou nossas características e formas de ser classificado e avaliado que serão descritos posteriormente (ROTTA et al., 2016). Segundo a APA (2014, p. 31), “O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) faz parte dos transtornos do neurodesenvolvimento, que são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência. É frequente a ocorrência de mais de um transtorno do neurodesenvolvimento, por exemplo: Indivíduos com transtorno do espectro autista frequentemente apresentam deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual); Muitas crianças com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) apresentam também um transtorno específico da aprendizagem. No caso de alguns transtornos, a apresentação clínica inclui sintomas tanto de excesso quanto de déficits e atrasos em atingir os marcos esperados. Por exemplo, o transtorno do espectro autista somente é diagnosticado quando os déficits característicos de comunicação social são acompanhados por 67 comportamentos excessivamente repetitivos, interesses restritos e insistência nas mesmas coisas. Atividade de Aplicação A ABRA (Associação Brasileira de Autismo) é uma entidade civil sem fins lucrativos, com sede e foro em Brasília-DF, mas com funcionamento itinerante. Originalmente destinada a congregar Associações de Pais e Amigos de Autistas, hoje tem por finalidade a integração, coordenação e representação, em nível nacional e internacional, das entidades voltadas para a atenção das pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). No seu site autismo.org.br, possui uma área de downloads de diversos documentos, livros, cartilhas e legislação sobre o TEA. Acesse a “Cartilha: Direito das pessoas com autismo” e descreva abaixo os principais direitos que pessoas com TEA possuem: __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 68 O Transtorno do Espectro do Autismo possui Critérios Diagnósticos que podem ser verificados na Figura 15 e Figura 16 a seguir: Figura 15: Critérios A e B para Diagnósticos do Autismo FONTE: (APA, 2014, p. 50) adaptado por PAZETO (2019) A) Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia: •1 - Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. • 2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. • 3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. Especificar a gravidade atual B) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia: •1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). • 2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). •3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). •4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). Especificar a gravidade atual: 69 Figura 16: Critérios C, D e E para Diagnósticos do Autismo FONTE: (APA, 2014, p. 50) adaptado por PAZETO (2019) A figura 17 apresenta a Tabela de acordo com o DSM-5 na qual deve ser especificada o nível de gravidade do transtorno Figura 17: Níveis de gravidade do Transtorno do Espectro Autista FONTE: (APA, 2014, p. 52) C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida). D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento. 70 É importante que vocês compreendam como o DSM-5 caracteriza cada um dos Transtornos que as unidades abordam, para que vocês conheçam as nomenclaturas corretas e a forma adequada de realizar os diagnósticos! Em geral, pessoas autistas são aquelas que apresentam prejuízos nas áreas da comunicação, comportamento e interação social, sendo que esses sintomas aparecem no início da infância e limitam ou prejudicam a forma de funcionar socialmente dessas pessoas. Não existe uma forma única de como essas alterações podem acontecer ou em qual área o prejuízo pode ser maior, e por isso atualmente se utiliza o termo “ESPECTRO”, que tem como objetivo enquadrar todos os sujeitos que apresentam essas alterações. O termo transtorno do espectro autista engloba transtornos antes chamados de autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger (APA, 2014, p. 53). Atualmente o TEA é foco de inúmeras pesquisas, e esse interesse acontece tanto pelo aumento do número de indivíduos diagnosticados com esse transtorno quanto pelo impacto na vida social, pessoal, profissional e acadêmica que essas pessoas acabam tendo que lidar. São considerados 71 complexos e acabam por envolver diversas áreas, tanto da saúde quanto educacionais. Um desses focos de pesquisa relaciona o TEA com os aspectos genéticos, os quais já identificaram diversos fatores relacionados, por exemplo, o risco de uma criança que tem um irmão com TEA, ter o transtorno é de 15 a 20 vezes maior que na população em geral. Já foram identificados mais de 100 genes que foram associados com casos de TEA ou com algumas características do transtorno (ROTTA et al., 2016). Além das questões genéticas alguns fatores ambientais também foram relacionados com o transtorno, como por exemplo, questões pré-natais: idades materna e paterna avançadas; diabetes gestacional; exposição a diversos tipos de toxinas; depressão e infecções maternas. E algumas alterações e intercorrência no nascimento, como baixo apgar, problemas com o cordão umbilical, entre outros (ROTTA et al., 2016). A identificação precoce de crianças com TEA se faz fundamental para que elas sejam atendidas de forma adequada e aprendam e desenvolvam áreas prejudicas. A figura 18 apresenta alguns sinais que podem ser observados. Figura 18: Sinais precoces de crianças com TEA FONTE: ROTTA et. al., (2016, p. 372) 72 Khoury et. al., (2014) desenvolveram um manual chamado de “Manejo comportamental de crianças com Transtornos do Espectro do Autismo em condição de inclusão escolar”, que é um guia de orientação para professores lidarem com crianças autistas em sala de aula e que apresenta diversas questões comportamentais e dicas de como os professores podem auxiliar essas crianças. Todas as propostas apresentadas nesse manual podem ser adaptadas e utilizadas por profissionais da educação e saúde em contextos clínicos e terapêuticos. O livro Manejo comportamental de crianças com Transtornos do Espectro do Autismo em condição de inclusão escolar é um guia para professores que apresenta o Transtorno do Espectro do Autismo (1 – Definição e caracterização / 2 – Problemas de comunicação, de interação social e de comportamento / 3 – Dificuldades em habilidades cognitivas / 4 – Dificuldade em habilidades de teoria da mente / 5 – Síntesedo capítulo), assim como orientação a professores sobre a inclusão escolar e os transtornos do espectro do autismo, envolvendo três áreas: 1 – Como a Análise Aplicada do Comportamento pode ajudar o professor na avaliação e no manejo de problemas de comportamento no TEA? / 2 – Tipos de comportamento inadequados de maior prevalência em crianças e adolescentes com TEA / 3 – Orientação a professores para manejo comportamental em sala de aula baseadas na Análise do Comportamento. Não deixe de ler! KHOURY, L. P. et al. Manejo comportamental de crianças com transtornos do espectro do autismo em condição de inclusão escolar: guia de orientação a professores [livro eletrônico]. São Paulo: Memnon, 2014 Esse manual apresenta exemplos práticos e contextualizados ao cotidiano escolar de crianças com TEA que apresentam prejuízos nas áreas 73 de: Interação social, comunicação e comportamento. Alguns exemplos serão descritos a seguir e o primeiro já pode ser observado na figura 19: Figura 19: Exemplo de prejuízo na Interação Social FONTE: (KHOURY et. al., 2014, p. 14) A dificuldade de interação social é importante para que a pessoa aprenda as regras sociais e a como se relacionar com o outros nos mais diversos contextos e situações, porém para que essa interação aconteça é necessário que o outro seja percebida, que essas crianças consigam se comportar de maneira adequada e saibam como responder de acordo com as demandas e situações. Possuem dificuldade em perceber os sinais do ambiente e os sinais que as outras pessoas dão se estão ou não satisfeitas com aquela situação (KHOURY et. al., 2014). Segundo Khoury et. al., (2014 p. 17) são crianças que: Apresentam prejuízos na qualidade da interação social. Exemplo: Aninha foi apresentar seu irmão João para uns amigos; eles falaram “Oi!”, mas João passou direto sem cumprimentá-los. Não conseguem estabelecer contato visual direto ou, quando olham, não mantêm o olhar. Têm dificuldade em compartilhar momentos e situações com os outros. Preferem objetos e animais às pessoas. Podem usar pessoas como ferramentas e/ou instrumentos para demonstrar o que desejam. Exemplo: Ricardo queria ir para a área de lazer. Então, pegou o braço de sua mãe e o colocou na porta para que ela pudesse abrir e ele pudesse sair para brincar. Apresentam risos inadequados e/ou fora de contexto. 74 A linguagem é fundamental para que os sujeitos se comuniquem, porém existe uma forma correta de se utilizar as palavras e de construir as frases para que a comunicação aconteça, e é muito comum que crianças com TEA, falem palavras desconexas e soltas que não fazem parte daquele contexto, sendo importadas de lugares que ouviram, histórias, desenhos, músicas entre outros. Esse uso inadequado é chamado de ecolalias, e podem se dividir em dois tipos, imediatas e tardias (KHOURY et. al., 2014): Ecolalias imediatas: repetem instantaneamente a frase que acabaram de ouvir; Ecolalias tardias: repetem frases ou palavras que tem guardadas na memória, que podem fazer parte ou não daquele contexto em questão, mas que é percebido que não é natural ao que estava acontecendo. Em relação ao comportamento crianças com TEA podem apresentar diversas alterações também, como pode ser visto na figura 20: Figura 20: Alterações comportamentais em crianças com TEA FONTE: Khoury et. al., (2014 p. 18) 75 Outra área afetada nas pessoas com TEA é a chamada Teoria da Mente, que envolve a capacidade de se colocar no lugar do outro, imaginar o que ele poderia sentir ou não com aquela situação, naquele contexto e prever respostas ambientais. Alguns sinais comportamentais podem aparecer decorrentes de dificuldades nessa área, e são (KHOURY et, al., 2014 pp. 21- 22): Apontar coisas para outros; Estabelecer contato visual; Seguir o olhar de outro indivíduo quando ele fala sobre algum objeto que estão olhando; Usar gestos de maneira social; Entender emoções em rostos alheios; Usar variação normal de expressões emocionais no próprio rosto; Mostrar interesses em outras crianças; Saber como envolver-se com outras crianças; Manter-se calma quando se sente frustrada; Entender que alguém pode ajudá-la; Entender como os outros se sentem em algumas situações. A observação de crianças que apresentam esses comportamentos pode funcionar como identificação de sinais de possíveis casos de TEA. 76 Atividade de Aplicação Acesse o site (https://memnon.com.br/download-gratuito-teste-01/) e faça o download gratuito do “Manejo comportamental de crianças com Transtornos do Espectro do Autismo em condição de inclusão escolar”. No capítulo 3 que descreve ‘Orientações a professores para manejo comportamental em sala de aula baseadas na análise do comportamento”, são apresentadas algumas orientações bastante práticas que podem ser implementadas em sala de aula, como por exemplo o uso de instruções claras, diretas e simples para cada tarefa orientada. Leia o exemplo apresentado na página 43 e descreva a seguir como ele pode ser aplicado em contexto terapêutico: __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 77 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ O tratamento de crianças com TEA vai envolver o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com neurologista, psiquiatria, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, psicopedagogia, entre outros, e vai depender basicamente do nível de comprometimento dessas crianças, que podem se dividir em três categorias segundo o APA (2014): Nível 1 – crianças bastante funcionais que necessitam de pouca intervenção; Nível 2 – crianças relativamente funcionais que necessitam de muita intervenção; Nível 3 – crianças muito pouco funcionais apesar de muita intervenção. As intervenções têm como objetivo tornar as pessoas com TEA os mais funcionais e adaptadas possível, visando que elas utilizem todo o seu potencial de aprendizagem e reduzam aqueles comportamentos que não são adequados. Pesquisas têm evidenciado que o acompanhado desde cedo com intervenções precoces tem trazido ganhos significativos e duradouros (ROTTA et. al., 2016). 78 O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido alvo de debates e preocupação também no campo educacional. Apesar de ainda envolto com polêmicas, seu diagnóstico tem se expandido para a idade adulta.Leia atentamente os itens abaixo. I. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos. II. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. III. Os sintomas devem se tornar plenamente manifestos antes dos três anos de idade. IV. Os sintomas devem causar prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. V. Essas perturbações não devem ser mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Conforme o DSM V, são critérios diagnósticos do TEA: a) I, II e III. b) I, IV e V. c) I, II, III e V d) I, II, IV e V. e) I, II, III, IV e V. FONTE: (CCV-UFC - 2017 - UFC - Psicólogo - Escolar e Educacional) 79 __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Resposta Correta D. Todas as alternativas estão corretas com exceção da afirmativa III, que diz que os sintomas devem se manifestar plenamente antes dos três anos de idade. Porém no DSM-5 e na discussão da Unidade foi possível perceber que diversos sintomas podem ser observados já antes dos 24 meses, porém não é possível afirmar que em todos os casos tudo será manifestado antes dos três anos, principalmente por conta do desenvolvimento da linguagem. O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, transtorno que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro, é celebrado no dia 02 de abril. Sobre os critérios essenciais para o diagnóstico desse transtorno, presentes nas suas diferentes formas de manifestação, analise os itens a seguir. I. Altas habilidades e inteligência acima da média. II. Padrões restritos e repetitivos de comportamento. 80 III. Déficits na comunicação e na interação social. IV. Surgimento dos sintomas na primeira infância Está correto o que se afirma em: a) II e III, apenas. b) III e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. FONTE: (FGV - 2018 - MPE-AL – Psicólogo) __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Resposta Correta D. Todas as alternativas estão corretas com exceção da afirmativa I que descreve que é um dos critérios diagnósticos que pessoas que TEA tenham altas habilidades e inteligência acima da média. Em alguns casos sujeitos com TEA possuem inteligência elevada, porém não é padrão, sendo que em diversos outros casos temos pessoas com deficiência intelectual. 81 Na Unidade IV você aprendeu um pouco sobre o principal Transtorno Global do Desenvolvimento: o Transtorno do Espectro do Autismo. Aprendemos sobre o histórico desta patologia e as formas de identificação da mesma. Eis um resumo dos assuntos trabalhados nesta Unidade IV: Atualmente os termos transtorno autista, transtorno de Asperger e transtorno global do desenvolvimento foram todos fundidos em um único chamado de transtorno do espectro autista (TEA); Somente em 1980, com a terceira versão do DSM, o TEA foi reconhecido como um transtorno único, com características específicas, dentro da classe de transtornos do desenvolvimento, e foi chamado de TID, transtorno invasivo do desenvolvimento; O Transtorno do Espectro do Autismo possui Critérios Diagnósticos, que envolvem: déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades; Pessoas autistas são aquelas que apresentam prejuízos nas áreas da comunicação, comportamento e interação social, sendo que esses sintomas aparecem no início da infância e limitam ou prejudicam a forma de funcionar socialmente dessas pessoas; Questões genéticas (prevalência entre irmãos, hereditariedade e alterações genéticas), assim como questões ambientais (alterações pré-natais: idades materna e paterna avançadas; diabetes gestacional; exposição a diversos tipos de toxinas; depressão e infecções maternas; intercorrência no nascimento) têm sido foco de pesquisas para compreender as causas do autismo; Khoury et. al., (2014) desenvolveram um manual chamado de “Manejo comportamental de crianças com Transtornos do Espectro do Autismo em condição de inclusão escolar”, que é um guia de orientação que mostra como lidar com diversos comportamentos de crianças com TEA em contexto escolar e que pode ser adaptado a clínica; 82 É muito comum que crianças com TEA, falem palavras desconexas e soltas que não fazem parte daquele contexto, sendo importadas de lugares que ouviram, histórias, desenhos, músicas entre outros. Esse uso inadequado é chamado de ecolalias; Outra área afetada nas pessoas com TEA é a chamada Teoria da Mente, que envolve a capacidade de se colocar no lugar do outro, imaginar o que ele poderia sentir ou não com aquela situação, naquele contexto e prever respostas ambientais. Esperamos que você tenha aprendido bastante com o conteúdo desta Unidade. Vamos agora para a Unidade V para estudarmos a primeira parte do conteúdo Alterações e Transtornos do Neurodesenvolvimento. Pronto(a)? Vamos lá! 83 V – ALTERAÇÕES E TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO (PARTE 1) Olá, aluno(a)! Chegamos à Unidade V, onde vamos ter muitos assuntos para estudar: Transtornos de comportamento; Deficiência visual; Deficiência auditiva; Deficiência motora; Dispraxia infantil e Paralisia cerebral. Dá para ver o quanto um Psicopedagogo precisa conhecer, tendo sempre em vista que estes são os passos essenciais que preparam você para a próxima disciplina (Avaliação Neuropsicopedagógica) e para o exercício da Psicopedagogia Clínica. Preparado(a) para essa “maratona de conhecimentos”? Então vamos lá! 5.1) Transtornos de comportamento A definição de Transtornos de comportamento é muito complexa e não existe uma definição exata, já que comportamentos adequados e inadequados podem variar dependendo do contexto e regras culturais que cada sujeito está inserido. Uma demonstração dessa variação é a enorme quantidade de condições que o DSM-4 já apresentava que se relacionavam com transtornos de comportamento, mais de 250 condições (GRILLO; SILVA, 2004). Bolsoni-Silva e Del Prette (2003,p. 94) descrevem que: ... acredita-se que certo comportamento “indesejável” seja multideterminado e, assim, cabe aos profissionais analisá-lo funcionalmente, considerando o maior número de variáveis independentes. 84 Os profissionais da saúde e da educação podem observar quatro aspectos a serem considerados que auxiliam nessa percepção inicial de que alguma questão comportamental pode estar alterada, conforme pode ser visualizado na Figura 21: Figura 21: Sinais de Transtornos de Comportamento FONTE: (GRILLO; SILVA, 2004 p. 21-22, adaptado por PAZETO, 2019) O diagnóstico precoce é fundamental para identificar o quanto essas alterações de comportamentos, ou seja, comportamentos que fogem do esperado para aquele contexto, situação, idade escolar e nível de desenvolvimento. Assim como preparar os pais e equipe escolar sobre o prognóstico, e dar ferramentas para que eles lidem e auxiliem no desenvolvimento da pessoa afetada (GRILLO; SILVA, 2004). As alterações de comportamentos mais frequentes, acabam aparecendo como comorbidades de outras alterações, como por exemplo: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); Transtorno do Espectro do Autismo; Transtornos de Ansiedade; Depressão; Esquizofrenia; Transtornos Alimentares; Abuso de substâncias, como álcool, fumo e drogas; entre outros (GRILLO; SILVA, 2004). 1 • Quando houver problemas no rendimento escolar não explicado por fatores intelectuais, sensoriais ou outras incapacidades físicas. 2 •Quando são observados problemas em estabelecer e manter relações sociais com colegas, professores ou familiares. 3 •Quando são observadas reações comportamentai s ou sentimentos inapropriados diante de situações corriqueiras, ou tristeza e depressão contínuas. 4 •Quando há tendência a desenvolver sintomas físicos ou medos associados a problemas comuns. 85 Comorbidade é uma alteração que acontece frequentemente associada a outra. Os transtornos de comportamentos englobam duas grandes áreas, os comportamentos externalizantes e internalizantes (BOLSONI-SILVA; DEL PRETTE, 2003): Externalizantes: são aqueles comportamentos possíveis de serem observados no meio, como: nervosismo, teimosia, raiva, impulsividade, entre outros; Internalizantes: são aqueles comportamentos que podem não aparecer no meio, porém a pessoa lida com eles e suas ações acontecem sobre sua influência, como: timidez, medo, ansiedade, olhar disperso, neuroses, entre outros. A forma mais adequada de avaliar esses comportamentos é de forma funcional, o que deve envolver a didática e metodologia em sala de aula, a forma como o professor lida com o aluno e as relações de aprendizagem, assim como a influência da família sobre esses comportamentos. Conte (1997) apud BOLSONI-SILVA; DEL PRETTE (2003, p. 95), descrevem que a família pode funcionar como um fator de proteção para as questões comportamentais, pois podem oferecer: a) suporte parental (condução calorosa, valorização pessoal da criança, demonstração de aceitação e apoio às suas iniciativas); b) encorajamento do desenvolvimento da competência social (ocorrência maior de interações positivas que aversivas, frequente expressão de afeto positivo, pais como modelos socialmente habilidosos, apoio ao desenvolvimento da autonomia na forma de escolhas e auto direção; c) uso de métodos disciplinares mais racionais e verbais, ao invés de físicos. BOLSONI-SILVA; DEL PRETTE (2003, p. 95). Portanto, os transtornos comportamentais precisam ser analisados considerando toda essa perspectiva e pontos apresentados, tendo como guia principal a funcionalidade do sujeito diante das alterações apresentadas assim como a análise de todos os possíveis envolvidos nesse processo. 86 BOLSONI-SILVA, A.; DEL PRETTE, A. Problemas de comportamento: um panorama da área. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 2, p. 91-103, 11, 2003. 5.2) Deficiência visual A Deficiência visual, na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) é classificada dentro dos códigos H53, que envolvem os distúrbios visuais e H54, que engloba a cegueira e visão subnormal. Pode ser conceituada como as alterações na visão que variam desde o grau subnormal (ou baixa visão) até a cegueira, sendo essa última podendo ser adquirida, o sujeito que ficou cego ou ser congênita, desde o nascimento. Gil (2000, p. 6) descreve que: Chama-se visão subnormal (ou baixa visão, como preferem alguns especialistas) à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo da acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades. Uma definição simples de visão subnormal é a incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mão a uma distância de 3 metros, à luz do dia; em outras palavras, trata-se de uma pessoa que conserva resíduos de visão. Até recentemente, não se levava em conta a existência de resíduos visuais; a pessoa era tratada como se fosse cega, aprendendo a ler e escrever em Braille, movimentar-se com auxílio de bengala etc. Hoje em dia, oftalmologistas, terapeutas e educadores trabalham no sentido de aproveitar esse potencial visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer. Foram desenvolvidas técnicas para trabalhar o resíduo visual assim que é constatada a deficiência. Isso melhora significativamente a qualidade de vida, mesmo sem eliminar a deficiência. Usando auxílios ópticos (como óculos, lupas etc.), a pessoa com baixa visão apenas distingue vultos, a claridade, ou objetos a pouca distância. A visão se apresenta embaçada, diminuída, restrita em seu campo visual ou prejudicada de algum modo. Recursos ou auxílios ópticos para visão subnormal são lentes especiais ou dispositivos formados por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, que se utilizam do princípio da magnificação da imagem, para que possa ser reconhecida e discriminada pelo portador de baixa visão. 87 Alterações visuais como miopia, estrabismo, astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, apesar de não estarem dentro da categoria de deficiências visuais podem comprometer significativamente a aprendizagem das crianças e por isso merecem grande atenção de pais, educadores e terapeutas. Atividade de Aplicação Acesse o site da Revista Nova Escola (https://novaescola.org.br/con teudo/270/deficiencia-visual-inclusao) e leia a matéria “O que é deficiência visual” de Ricardo Ampudia (01 de Agosto de 2011), depois escreva a seguir algumas estratégias para lidar com a deficiência visual na escola que podem também ser aplicadas em contexto clínico. __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________88 Gil (2000) descreve qual o papel da escola, da família e da sociedade diante das crianças com deficiência visual, sobre como esses grupos podem auxiliar no combate aos estigmas, mitos e principalmente em relação ao preconceito com esse grupo. E a principal forma de auxiliar nesse trabalho é se informando e conhecendo sobre essa deficiência. “Deficiência visual”, é um Caderno da Tv Escola, do Ministério da Educação, organizado por Marta Gil, que apresenta a importância do conhecimento sobre a deficiência visual, assim como descreve desde o nascimento até a adolescência formas e estratégias de estimular e trabalhar com cada grupo visando sua inclusão e desenvolvimentos adequados. Não deixe de ler! GIL, M. Deficiência visual (Cadernos da Tv Escola). Ministério da Educação. MEC. Brasília. Secretaria de Educação a Distância, 2000. 5.3) Deficiência auditiva A Deficiência auditiva, na Classificação Internacional de Doenças (CID- 10) é classificada dentro dos códigos H90, que envolvem a perda de audição por transtorno de condução e/ou neurossensorial e H91, que engloba outras perdas de audição. Ampudia (2011, p.1) define como: 89 É a perda parcial ou total da audição, causada por má-formação (causa genética), lesão na orelha ou nas estruturas que compõem o aparelho auditivo. A deficiência auditiva moderada é a incapacidade de ouvir sons com intensidade menor que 50 decibéis e costuma ser compensada com a ajuda de aparelhos e acompanhamento terapêutico. Em graus mais avançados, como na perda auditiva severa (quando a pessoa não consegue ouvir sons abaixo dos 80 decibéis, em média) e profunda (quando não escuta sons emitidos com intensidade menor que 91 decibéis), aparelhos e órteses ajudam parcialmente, mas o aprendizado de Libras e da leitura orofacial, sempre que possível, é recomendado. Perdas auditivas acima desses níveis são consideradas casos de surdez total. Quanto mais agudo o grau de deficiência auditiva, maior a dificuldade de aquisição da língua oral. É importante lembrar que a perda da audição deve ser diagnosticada por um médico especialista ou por um fonoaudiólogo. Leia a matéria na íntegra sobre “O que é deficiência auditiva?” de Ricardo Ampudia no site da Nova Escola (https://novaescola.org.br/conteudo/273 /o-que-e-deficiencia-auditiva). Acesso em 22 de Agosto de 2019. Redondo e Carvalho (2000), pelo Ministério da Educação, desenvolveram um Caderno intitulado “Deficiência Auditiva”, no qual assim como no caderno de Deficiência Visual descrevem sinais e estratégias de intervenção para casos desde o nascimento até a adolescência. Além de apresentarem um embasamento teórico apresentando os tipos e subtipos de alterações que podem acontecer. Um dos aspectos que esses autores chamam a atenção de educadores, pais e terapeutas e da sociedade de forma geral, é que é muito mais fácil perceber quando a criança tem uma perda auditiva considerada severa ou profunda, do que quando ela tem uma perda leve a moderada, e por esse motivo as pessoas que lidam com a criança, ou melhor, ainda com o bebê, devem estar atentas a alterações comportamentais que esse grupo possa demonstrar. 90 Quanto mais precoce as alterações forem diagnosticadas melhor o prognóstico, pois o atendimento da criança se iniciará o quanto antes, pois muitos casos só são percebidos quando a criança chega na escola, sendo que desde o nascimento ela já poderia ter sido identificada, por exemplo, pois era um bebê muito quieto, que não procurava ou direciona seu corpo e se movimentava em direção aos sons do ambiente e das pessoas. A Figura 22 apresenta algumas reflexões para lidar com esse grupo: Figura 22: Reflexões acerca da Deficiência Auditiva FONTE: (REDONDO; CARVALHO, 2000 p. 14-15, adaptado por PAZETO, 2019) Para que a sociedade possa melhor conhecer as pessoas que têm perda de audição, é importante pensar em cada indivíduo como um ser único, repleto de possibilidades Entre os mais jovens, e particularmente entre aqueles que apresentam perdas auditivas severas e profundas, existe um movimento para que assumam a própria surdez. Lutam por seus direitos e buscam divulgar a Língua de Sinais Brasileira (LSB), mostrando que se trata de uma língua com regras próprias, como a língua portuguesa. Os recursos de comunicação adotados pelo surdo, seja ele mais ou menos oralizado, não podem ser usados para caracterizá-lo como pessoa. É preciso levar em conta seu percurso de vida e a forma pela qual seu modo de se comunicar possibilita sua integração nos diferentes meios sociais que freqüenta, fazendo com que se sinta mais feliz. Seja qual for o tipo de educação recebida, especial ou não, o surdo não precisa apenas de escola. É indispensável que lhe seja oferecido atendimento nos aspectos médicos relacionados com a surdez, bem como orientação familiar e suporte emocional, procurando facilitar o desenvolvimento de suas potencialidades, levando-o a fazer escolhas e responsabilizar-se por elas e oferecendo-lhe as mesmas oportunidades disponíveis para as pessoas que não são portadoras de deficiência. 91 5.4) Deficiência motora As Deficiências motoras fazem parte do grupo de Transtornos Motores e Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação, pelo DSM-5 (APA, 2014). Esse Manual apresenta alguns critérios que devem ser considerados para enquadrar sujeitos com alterações nesse grupo, que são sinais para serem observados. Conhecer sobre as etapas do Desenvolvimento Infantil é fundamental para identificar atrasos e alterações em diversas áreas, assim como nos aspectos motores. Segundo o DSM-5 (APA, 2014, p.74) quatro critérios devem ser considerados, que são: A. A aquisição e a execução de habilidades motoras coordenadas estão substancialmente abaixo do esperado considerando-se a idade cronológica do indivíduo e a oportunidade de aprender e usar a habilidade. As dificuldades manifestam-se por falta de jeito (p. ex., derrubar ou bater em objetos), bem como por lentidão e imprecisão no desempenho de habilidades motoras (p. ex., apanhar um objeto, usar tesouras ou facas, escrever a mão, andar de bicicleta ou praticar esportes). B. O déficit nas habilidades motoras do Critério A interfere, significativa e persistentemente, nas atividades cotidianas apropriadas à idade cronológica (p. ex., autocuidado e automanutenção), causando impacto na produtividade acadêmica/escolar, em atividades pré-profissionais e profissionais, no lazer e nas brincadeiras. C. O início dos sintomas ocorre precocemente no período do desenvolvimento. D. Os déficits nas habilidades motoras não são mais bem explicados por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por deficiência visual e não são atribuíveis a alguma condição neurológica que afete os movimentos (p. ex., paralisia cerebral, distrofia muscular, doença degenerativa). 92 Como toda avaliação deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar, considerando também os agentes escolares e a família como principal fonte de informação, já que esse grupo é quem está com maior contato com a criança em atividades e tarefas diárias que exigem essas habilidades motoras. Segundo o DSM-5 alguns sinais de dificuldades podem ser observados na criança desde cedo. Muitas vezes elas até conseguem realizar o movimento, porém além de conseguir a forma como é realizada deve ser observada, se é muito devagar quando comparada a crianças da mesma idade ou se é algo que leva muito tempo e despende muita energia, como por exemplo (APA, 2014 p.75): Sentar-se, engatinhar e andar; Subir escadas, pedalar, abotoar camisas, completar quebra-cabeças e usar fechos; Construir modelos, jogar bola (especialmente, em equipes); Escrever a mão, digitar, dirigir ou executar tarefas de autocuidado; Vestir-se, fazeras refeições com utensílios adequados à idade e sem sujeira; Envolver-se em jogos físicos com outros; Usar materiais específicos em aula (réguas e tesouras); Participar de atividades físicas em equipe na escola; Escrita a mão com alteração de legibilidade e/ou velocidade da produção escrita e afetando o desempenho acadêmico. Outros termos usados para descrever o transtorno do desenvolvimento da coordenação incluem dispraxia da infância, transtorno do desenvolvimento específico da função motora e síndrome da criança desajeitada 93 5.5) Dispraxia infantil A definição do termo começou com apraxia, que foi descrita em 1871, por Stenthal. Ele definia como alterações, que também chamou de perturbações na forma de relação entre os movimentos e os objetos, uma desorganização desse movimento. Com o decorrer dos anos e contribuições de outros autores o termo foi evoluindo até chegar no que hoje se tem como padrão, chamado de Dispraxia (ROTTA, et al., 2016). Para compreender melhor o que é uma Dispraxia, os autores acreditam que precisa estar claro o que é uma Praxia, que segundo Rotta et. al., (2016, p. 190), se define como ... capacidade que o indivíduo tem de realizar um ato motor mais ou menos complexo, anteriormente aprendido, de forma voluntária, ou seja, sob ordem. Esses movimentos, depois de aprendidos, podem, posteriormente, tornar-se automáticos. A evolução da Praxia, a forma como o desenvolvimento dessas habilidades vai ocorrer em cada período, pode ser dividida em dois momentos, denominados: período pré-práxico e período práxico, que serão explicados conforme a Figura 23: Figura 23: Diferença entre os Períodos pré-práxico e práxico Pré-práxico •Se divide em cinco subperíodos, que vão desde o nascimento até os 18 meses. •O primeiro subperíodo ocorre no primeiro mês de vida e se caracteriza pela presença dos reflexos próprios do recém-nascido (RN). •No segundo subperíodo, que se estende até o quarto mês de vida, surgem as reações circulares primárias. Nesta etapa, desenvolvem-se atividades como sucção, visão, audição, movimento manual e preparação fonatória. •No terceiro subperíodo, que se estende até em torno dos nove meses, surgem as reações circulares secundárias. •O quarto subperíodo, no qual ocorre a coordenação dos esquemas secundários ou reações circulares secundárias derivadas, vai até os 12 meses. •O quinto subperíodo, em que ocorrem as reações circulares terciárias, vai até os 18 meses de idade. Práxico •Corresponde a etapas a partir dos 18 a 24 meses, e se caracteriza pela aparição da imagem mental, com a antecipação e a planificação do ato a ser realizado. •A partir daí, pode-se falar em alterações práxicas pós-lesão na criança, situação esta que se manifesta não só pelas dificuldades de executar atos anteriormente aprendidos, mas pela repercussão que essas dificuldades trarão para o desenvolvimento desse período em diante, não só alterações motoras, como perceptivas, afetivas e cognitivas. •O estudo do desenvolvimento das praxias na infância é controverso, não porque as etapas sejam diferentemente delimitadas, mas porque a definição de praxia suporta interpretações um pouco distintas, que dependem da etapa do desenvolvimento em que a criança se encontra. 94 FONTE: (ROTTA et al., 2016 p. 92, adaptado por PAZETO, 2019) Atividade de Aplicação Acesse o site da Associação Brasileira de Apraxia (https://apraxiabrasil.org/textos-sobre-afi/27-sinais-de-que-voce-tem-disp raxia/) e leia a matéria “Sinais de que você tem Dispraxia” de Jenny Hollander (Acesso em 22 de Agosto de 2019), depois escreva a seguir quais são os principais sinais que podem ser observados em sujeitos que têm Dispraxia e exemplifique: __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 5.6) Paralisia cerebral. A definição de Paralisia Cerebral (PC) engloba um conjunto de alterações de distúrbios motores assim como alterações posturais de caráter 95 permanente, que acontecem no cérebro em seu estágio ainda imaturo e que podem ou não estar associados a alterações cognitivas, ou seja, nem todos os sujeitos com PC possui alterações intelectuais ou cognitivas (ROTTA et. al., 2016). Na história da nossa humanidade, em diversas culturas, pessoas com PC sofreram preconceitos e eram consideradas sub-humanas, muitas sendo mortas, abandonadas, sacrificadas ou vistas como uma forma de Deus castigar os pais por pecados que esses cometeram. A primeira definição dessa alteração foi descrita em 1843 e o termo conhecido como nos dias de hoje foi definido por Sigmund Freud e consolidado na literatura por Phelps (ROTTA et. al., 2016). São sujeitos que possuem alterações ou agravos no sistema nervoso central que foram causadas durante os períodos pré, peri ou pós-natal, sendo possíveis de serem percebidos até os dois anos de vida. Um outro fator que influencia nos casos de PC, são as precárias condições socioeconômicas e culturais, assim como falta de cuidado durante a gestação e nascimento (ROTTA et. al., 2016). Os casos de PC podem ser classificados de acordo com o tipo e características neurológicas, que funcionam como guias de como o diagnóstico deve ser realizado e no que ele está baseado, envolvendo a histórica de vida da criança, assim como avaliação neurológica de suas manifestação motoras, que são aquilo que pode ser observado. Rotta et al., (2016, p.428) apresenta esses tipos: Espástica (tetraplégica, hemiplégica, diplégica), caracterizada pela presença de hipertonia do tipo elástico, acompanhada de sinais de liberação piramidal; Atetósica, com comprometimento motor, predominante do sistema extrapiramidal, com distonias axiais flutuantes e movimentos involuntários das extremidades; Atáxica, acometimento cerebelar e/ou vias, traduzido por alterações do tônus, do equilíbrio da coordenação apendicular; Formas mistas decorrentes de associações entre os padrões acima descritos. Indivíduos com PC sofrem nos aspectos da inclusão social e educacional, assim como no mercado de trabalho, principalmente pela falta de estrutura física para adequar e adaptar o ambiente às suas necessidades, assim como pela falta de conhecimento das características da paralisia cerebral, do seu tipo, da sua causa e das necessidades de cada caso individual (ROTTA et. al., 2016). 96 A família possui um papel crucial na inserção dessas crianças na vida social, principalmente escolar, pois é ela quem mais conhece assim como sabe formas que a criança responde, porém essa participação é complexa dada a questão de necessidade dos responsáveis em trabalhar assim como de falta de atendimento adequado e especializado para esse grupo, o que deixa os pais inseguros em deixar seus filhos nesses locais. Em contrapartida também temos o caso de famílias completamente desinformadas que não sabem por onde e nem como auxiliar criançascom PC, utilizando de práticas inadequadas e por esse motivo as escolas devem estar preparadas para atender e informar esse grupo, tendo a família como parceira para uma inclusão efetiva (ROTTA et. al., 2016). Apesar dos avanços na conscientização sobre a inclusão social e educacional de pessoas com necessidades especiais, encontram-se ainda, lamentavelmente, discriminações na comunidade, ou mesmo exclusões no mercado de trabalho (ROTTA, et al., 2016 p. 428). O maior desafio é conscientizar a sociedade, principalmente a equipe escolar de que todas as crianças são capazes de aprender e devem ser olhadas além de suas alterações e deficiências que foram descritas ao longo de toda essa Unidade. Por isso é fundamental o diagnóstico e o mais precocemente possível assim como o levantamento da funcionalidade de cada pessoa. Para finalizar reflitam nessa frase do Rotta et al, 2016 (p. 432): Em se tratando da criança com lesão cerebral, a identificação de transtornos no aprendizado deve ser vista com critérios, pois a expressividade desse aluno pode estar alterada, não representando, com isto, a falta de integridade na aquisição e no processamento de informações necessárias para o aproveitamento escolar. Esta consideração pode evitar a exposição de rótulos negativos que mascaram a falta de conhecimento e eficiência no manejo com a causa da criança com PC. Atitudes assertivas possibilitam a construção da autoimagem mais positiva de ambos; de um lado, o aluno com limitações de ordem motora que criam impacto social e dificultam o exercício da identidade com o grupo; de outro, o professor, na maioria das vezes, 97 despreparado para o enfrentamento de situações atípicas em sua sala de aula, que requerem adaptações estruturais, físicas, curriculares e de relação com a criança em questão. “Transtornos de Aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar”, em seu capítulo 31 “Aprendizagem e Paralisia cerebral” reúne destacados profissionais da área da saúde e de áreas relacionadas ao tema para compartilhar seus conhecimentos e experiências sobre os aspectos que interferem no aprendizado e também sobre como abordar esses transtornos na prática diária. Para tanto, o livro divide-se em três partes: Aprendizagem normal, Transtornos de Aprendizagem e Aprendizagem e situações específicas. Nessa última são analisadas as possíveis repercussões que epilepsia, paralisia cerebral, deficiência mental, autismo e problemas emocionais podem ter sobre o processo de aprendizagem. Um capítulo dedicado à plasticidade cerebral e aprendizagem encerra esta importante obra que é referência indispensável para todos os profissionais que atuam na área, sejam eles médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos ou professores. Não deixe de ler! ROTTA, N.T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R.S. (Org.). Transtornos da Aprendizagem. Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016. Renato é um aluno do segundo ano que não ouve bem. Em sala, tende a isolar-se com receio de ter que encarar situações embaraçosas. Quando os 98 professores tentam fazer com que haja interação com os demais alunos, adota a postura de menor exposição, isto é, prefere ficar mais calado e isolado ao invés de enfrentar uma situação difícil, como não entender a conversa dos colegas. Assinale a alternativa que corresponde a uma postura adequada por parte de seus professores. (A) Utilizar vários recursos auditivos para que o aluno se habitue aos sons e elimine a barreira da deficiência auditiva. (B) Fazer com que o aluno se sente no fundo da sala para que receba apoio de seus colegas. (C) Fazer com que o aluno se sente mais próximo dos professores para diminuir as interferências sonoras. (D) Solicitar que os colegas repitam para o aluno o que ele não conseguir entender. (E) Falar de forma bastante pausada quando o aluno estiver presente em sala. FONTE: (Concurso VUNESP / Professor de Educação Infantil/ Deficiência Auditiva / Órgão: Pref. Marataizes/ES / 2014). __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Resposta correta alternativa “C”. Na alternativa A o professor não tem como eliminar as barreiras da deficiência, pois isso não irá mudar, ele precisa compreender e conhecer o seu aluno para saber a melhor forma de lidar com ele em sala de aula. Na alternativa “B, D e E”, todas estratégias de atuação são incorretas, pois ao colocar o aluno no fundo da sala ele terá inúmeros estímulos distratores antes de visualizar o professor, assim como apenas repetir ou falar mais pausado também não resolvam a situação. O mais ideal é aproximar esse aluno do professor para que ele conheça e estabeleça as melhores formas de interação com ele e demais colegas. 99 Observe os recursos/instrumentos/materiais utilizados pelas pessoas com deficiência visual (1, 2, 3, 4, 5) e faça a associação com as suas características (a, b, c, d, e). Assinale a alternativa que apresenta a associação correta. (A) 1-c, 2-d, 3-a, 4-b, 5-e. (B) 1-d, 2-b, 3-c, 4-a, 5-e. (C) 1-a, 2-b, 3-c, 4-d, 5-e. (D) 1-b, 2-a, 3-d, 4-e, 5-c. (E) 1-e, 2-b, 3-c, 4-a, 5-d. FONTE: (Professor do Ensino Fundamental/ Deficiência Visual - órgão: Pref. Marataizes/ES / Instituição: VUNESP/ 2014). __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 100 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Gabarito: Alternativa A. Apesar desses recursos não terem sido abordados nessa Unidade, essa questão é importante para que vocês conheçam alguns recursos alternativos que podem ser utilizados com crianças com Deficiência Visual. Olá, aluno(a)! Chegamos ao final de mais uma Unidade de Ensino. Nesta Unidade V estudamos as Alterações e Transtornos do Neurodesenvolvimento e os seguintes conteúdos: A definição de Transtornos de comportamento é muito complexa e não existe uma definição exata, já que comportamentos adequados e inadequados podem variar dependendo do contexto e regras culturais que cada sujeito está inserido; Os transtornos de comportamentos englobam duas grandes áreas, os comportamentos externalizantes e internalizantes. Os externalizantes: são aqueles comportamentos possíveis de serem observados no meio e os Internalizantes são aqueles comportamentos que podem não aparecer no meio, porém a pessoa lida com eles e suas ações acontecem sobre sua influência; A deficiência visual pode ser conceituada como as alterações na visão que variam desde o grau subnormal (ou baixa visão) até a cegueira, sendo essa última podendo ser adquirida, o sujeito que ficou cego ou ser congênita, desde o nascimento; A deficiência auditiva é a perda parcial ou total da audição, causada por má-formação (causa genética), lesão na orelha ou nas estruturas que compõem o aparelho auditivo; 101 É muito mais fácil perceber quando a criança tem uma perda auditivaconsiderada severa ou profunda, do que quando ela tem uma perda leve a moderada, e por esse motivo as pessoas que lidam com a criança, ou melhor: ainda com o bebê, devem estar atentas a alterações comportamentais que esse grupo possa demonstrar; As Deficiências motoras fazem parte do grupo de Transtornos Motores e Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação. Alguns sinais de dificuldades podem ser observados na criança desde cedo. Muitas vezes elas até conseguem realizar o movimento, porém além de conseguir a forma como é realizada deve ser observada; Outros termos usados para descrever o transtorno do desenvolvimento da coordenação incluem dispraxia da infância, transtorno do desenvolvimento específico da função motora e síndrome da criança desajeitada; A Dispraxia Infantil pode ser definida como uma alteração ou perturbações na forma de relação entre os movimentos e os objetos, uma desorganização desse movimento; A definição de Paralisia Cerebral (PC) engloba um conjunto de alterações de distúrbios motores assim como alterações posturais de caráter permanente, que acontecem no cérebro em seu estágio ainda imaturo e que podem ou não estar associados a alterações cognitivas, ou seja, nem todos os sujeitos com PC possuem alterações intelectuais ou cognitivas; Os casos de PC podem ser classificados de acordo com o tipo e características neurológicas, que funcionam como guias de como o diagnóstico deve ser realizado e no que ele está baseado, envolvendo a histórica de vida da criança, assim como avaliação neurológica de suas manifestações motoras, que são aquilo que pode ser observado; O maior desafio é conscientizar a sociedade, principalmente a equipe escolar de que todas as crianças são capazes de aprender e devem ser olhadas além de suas alterações e deficiências. Então? Você gostou do conteúdo desta Unidade? Estudou bastante? Vamos agora para a Unidade VI para finalizarmos os estudos sobre as Alterações e Transtornos do Neurodesenvolvimento (parte II). Pronto(a)? Vamos lá! 102 103 VI – ALTERAÇÕES E TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO (PARTE 2) Olá, aluno(a)! Chegamos à Unidade VI, onde vamos estudar a segunda parte das Alterações e dos Transtornos do Neurodesenvolvimento e, entre eles, especificamente vamos tratar dos mais frequentes entre nossos clientes e alunos: Alterações no PAC; Alterações nas Funções Executivas; Deficiência intelectual; Deficiências múltiplas, tendo sempre em vista que estes são os passos essenciais que preparam você para a próxima disciplina (Avaliação Neuropsicopedagógica) e para o exercício da Psicopedagogia Clínica. Preparado(a)? Avante, pois há muito o que estudar! 6.1) Alterações no PAC A percepção auditiva é fundamental para a vivência escolar e é avaliada por meio do Processamento Auditivo (PA), que envolve os mecanismos do sistema auditivo que atuam na Localização e Lateralização Sonora; Discriminação Auditiva; Reconhecimento Auditivo; Aspectos Temporais da Audição (Resolução, Mascaramento, Integração e Ordenação Temporal); Performance Auditiva diante de sinal acústico competitivo; e Performance Auditiva com decréscimo do sinal acústico (PELITERO et. al., 2010 p. 1). Uma das alterações nesse processamento é o chamado Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) que afeta a forma como a informação 104 auditiva é processada pelo cérebro. Alterações nessa área estão ligadas a diversas dificuldades de aprendizagem e ao fracasso escolar, inclusive muitos alunos que são considerados como tendo dificuldades quando avaliados são identificados com alterações no PAC, pois essa alteração na forma de interpretar os sons faz com que a compreensão das informações seja afetada (PELITERO et. al., 2010). Além dessas questões acadêmicas, podem aparecer em comorbidade problemas sociais, emocionais e comportamentais. Crianças com alterações nessa área podem demonstrar dificuldades em atividades que envolvam a leitura e a escrita; matemática, principalmente cálculo; memorização, análise e síntese das informações; atenção e compreensão de mensagens. A informação processada de forma incorreta afeta toda a compreensão a sua volta e por isso essas crianças podem ser julgadas como desatentas, quando na verdade o problema não é esse (PELITERO et. al., 2010). Assim como todos os demais transtornos e alterações que foram apresentadas, quando mais precoce for identificada essa alteração, menor a probabilidade desses outros problemas acontecerem e mais adaptada a criança estará na sua vida escolar. Pesquisas mostram que três grandes trabalham em forte conjunto, que são o tratamento auditivo, a compreensão oral e o vocabulário, e que a alteração em alguma dessas partes afeta a forma como a criança compreende e se expressa no mundo, e assim as suas relações sociais. Assim como enfatizam que atualmente existem diversas técnicas que podem melhorar essa alteração, ou seja, as habilidades auditivas podem ser aprimoradas e refinadas com treinamentos e intervenções (KOZLOWSKI et. al., 2004). Fridlin et al., (2014, p.405) descreve alguns sinais/alterações que podem ser observadas em crianças com alteração de PAC: Os distúrbios do processamento auditivo podem apresentar, uma ou mais, manifestações comportamentais, como: problemas de produção de fala e linguagem (comunicação oral); dificuldade de compreensão 105 em ambiente ruidoso; disgrafia (comunicação escrita); comportamento social inadequado (agitação, distração); desempenho escolar inferior em leitura, gramática, ortografia, matemática; e atenção ao som prejudicada (localização, discriminação, identificação e memória). A compreensão ou a habilidade do indivíduo em seguir comandos verbais, compreender discussões de classe, reter informações ou entender o significado de palavras novas, responder questões, dar opiniões, fazer uso da linguagem, bem como a presença de desvios fonêmicos, sintático ou semântico são pistas que indicam um possível distúrbio do processamento auditivo. Outras pistas incluem as características relativas ao humor, como: instabilidade de humor; agressividade, hiperatividade ou apatia. As dificuldades de aprendizagem são originadas pela perturbação no desenvolvimento neurofisiológico, emocional, motor, da linguagem ou da sociabilidade. FRIDLIN, S. L.; PEREIRA, L. D.; PEREZ, A. P. Relação entre dados coletados na anamnese e distúrbio do processamento auditivo. Rev CEFAC;16(2):405-12, 2014. 6.2) Alterações nas Funções Executivas As Funções executivas envolvem diversos construtos que tem como objetivo atuar em conjunto para que o sujeito realize os seus objetivos no ambiente (GAZZANIGA et al., 2006). Envolvem a habilidade de determinar um objetivo e estabelecer quais serão os passos a serem seguidos para que ele seja alcançado, considerando a interação com o meio em busca de recursos, a capacidade de formular um plano de ação, que tem como base experiências prévias de cada pessoa, assim como flexibilizar o comportamento caso a situação não aconteça conforme o planejado e o objetivo inicialmente determinado (ARDILA; OSTROSKY-SOLIS, 1996). 106 As funções executivas são fundamentais então para que a pessoa seja capaz e regular e controlar o seu comportamento diante do que o ambiente lhe oferece. Diamond (2013) apresenta um modelo, que é um dos mais reconhecidos e aceitos atualmente pelos pesquisadores que define as funções executivas como uma habilidade top-down, que atua age de cima para baixo, do controle mental para o comportamento, que entra em ação toda vez que existe a necessidade de concentração e de atenção voluntária, quando o comportamento automático não é suficiente e é exigida uma reflexão por parte da pessoa para conseguir realizar o queé necessário. Esses conceitos estão embasados em seis construtos, que são: memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, planejamento, resolução de problemas e raciocínio. As três primeiras habilidades compõem as funções executivas principais e as três últimas, as complexas. A seguir serão abordados os principais conceitos e constructos dentro das funções executivas. A definição de funções executivas é ampla e complexa, e dependendo dos autores que vocês busquem se embasar alguns conceitos e elementos podem aparecer de forma diferenciada! Para a explanação aqui apresentada foram considerados os pesquisadores mais relevantes da área. Memória de trabalho: realiza operações mentais com informações armazenadas ou aprendidas anteriormente, permitindo que essas possam ser manipuladas, utilizadas e processadas, por meio de uma integração dos estímulos ambientais as experiências já armazenadas. Exemplo: ler esse texto, enquanto anota em um resumo o que acredita ser mais relevante e lembra de situações parecidas; Controle inibitório: refere-se ao controle dos impulsos, sendo a capacidade de inibir comportamentos não adequados ou impulsivos 107 em prol de uma ação esperada e adequada para cada contexto. Envolve desde escolhas simples até bastante complexas. Exemplo: continuar lendo essa unidade até o final mesmo que sua vontade seja a de assistir uma série. Atenção: mecanismo cerebral-cognitivo de filtragem que funciona priorizando o que no ambiente terá prioridade no processamento enquanto ignora demais estímulos distratores. Exemplo: conseguir se manter focado em uma leitura apesar do barulho da televisão vindo de outro cômodo da casa; Flexibilidade cognitiva: capacidade da pessoa de mudar ou alternar de objetivos enquanto realiza uma tarefa, por alterações no ambiente ou por ter que lidar com dois objetivos ao mesmo tempo. Exemplo: a pessoa estava saindo da faculdade e descobre que sua linha de ônibus não está funcionando. Ela precisa se reorganizar e pensar em como fará para alcançar seu objetivo que é ir para sua casa. As funções executivas se desenvolvem desde o nascimento até a idade adulto, sendo que todos esses aspectos mencionados anteriormente vão se refinando e se tornando melhores com o decorrer dos anos. Conforme a criança vai amadurecendo ela vai melhorando no controle dos seus impulsos e respondendo de maneira mais adequada as demandas do ambiente e as situações sociais (GAZZANIGA et al., 2006). Essas funções são fundamentais para o aprendizado e vivência escolar e influenciam diversas habilidades, como a leitura, escrita e matemática, sendo uma habilidade preditora importante para o sucesso acadêmico e social. Por isso a falha em algum desses constructos pode gerar alterações nas funções executivas e afetar a vida desses sujeitos (DIAS; SEABRA, 2013a). “Funções executivas: desenvolvimento e intervenção” é um artigo no qual as autoras, referências nacionais nessa área de funções executivas, apresentam um estudo descrevendo a conceituação teórica dessas habilidades, como elas se desenvolvem e alguns programas de intervenção que objetivam estimular essas áreas. 108 Não deixe de ler! DIAS, N. M.; SEABRA, A. G. Funções executivas: Desenvolvimento e intervenção. Temas sobre Desenvolvimento, 19(107), 206-212, 2013. Atividade de Aplicação A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal tem como objetivo mobilizar as lideranças, sensibilizar a sociedade sobre a importância do desenvolvimento infantil, fortalecer o cuidado com a criança e qualificar a educação infantil. Assista ao vídeo “Função executiva: habilidade para a vida e aprendizagem” (https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/ funcao-executiva--- habilidade-para-a-vida-e-aprendizagem/) e descreva a seguir quais habilidades estão envolvidas nessas funções e exemplifique como em sala de aula elas são requeridas: __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 109 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Existem duas formas de intervir, uma preventiva e outra remediativa. A primeira (intervenção preventiva) tem como objetivo atuar antes do problema aparecer ou já estar bem instaurado, ou seja, antes da habilidade já estar comprometida. Já a intervenção remediativa, em contraponto, atua quando o problema já aconteceu, a criança ou a pessoa já está visivelmente comprometida e em geral o atraso já é maior e comprometendo outras áreas. Por esse motivo programas que objetivam promover e desenvolver as funções executivas precocemente podem trazer benefícios de curto, médio e longo prazo para a vida dessas crianças (DIAS; SEABRA, 2013a). Seis abordagens podem ser utilizadas para promover essas funções, conforme pode ser visualizado na Figura 24: Figura 24: Abordagens para promover as Funções Executivas FONTE: (DIAS; SEABRA, 2013a p.107, adaptado por PAZETO, 2019). Treino Computadorizado: jogos computadorizados. Jogos computadorizados + Jogos não computadorizados. Exercícios aeróbicos. Artes marciais e práticas de contemplação mental (mindfulness). Alteração nos currículos escolares. Programas curriculares complementares. 110 Dentre as abordagens apresentadas, as que apresentam maior eficiência e impacto social são aquelas que alteram o currículo e os programas que visam desenvolver essas habilidades em uma sala inteira ao mesmo tempo, por exemplo. Um desses programas é o PIAFEX (Programa de Intervenção em Autorregulação e Funções Executivas), que pode ser aplicado e implementado pelos próprios professores em crianças do primeiro ano (DIAS; SEABRA, 2013b). DIAS, N. M.; SEABRA, A. G. Programa de intervenção sobre a Autorregulação e funções executivas– PIAFEx. São Paulo: Memnon, 2013. Os programas que promovem as Funções executivas já mostraram eficácia em: melhor adaptação e rendimento escolar; prevenção de problemas sociais; prevenção de problemas de saúde mental; predição em leitura, escrita e matemática e predição de sucesso acadêmico e faculdade. Para que as funções executivas possam se desenvolver é necessário que sejam desafiadas e para isso o ambiente precisa oferecer demandas dessas habilidades, por meio de atividades em que a criança precisará utilizar funções executivas (DIAS; SEABRA, 2013b). No PIAFEX são apresentadas diversas estratégias, divididas em dez módulos, que podem ser utilizadas no contexto de sala de aula e na clínica que irão desenvolver e trabalhar com os constructos envolvidos nas funções executivas. O programa possui os aspectos essenciais e depois as atividades práticas. Os aspectos essenciais são (DIAS; SEABRA, 2013b, p.16): 1) Interação professor-aluno / classe: o professor deve preferir o questionamento à intervenção direta. O controle e a responsabilidadena execução das tarefas devem ser gradativamente passados do professor (controle externo, imposto) para a criança (controle interno, autorregulação); 2) Mediadores externos: são ferramentas que ajudam a criança a desempenhar tarefas sem as quais teriam menores chances de sucesso. Mediadores são objetos, figuras ou quaisquer acessórios externos e tangíveis 111 que auxiliem processos mentais e comportamentais. Por exemplo, quando o professor incentiva a criança a fazer uma lista ou check list antes de uma tarefa, essa lista é um mediador. 3) Fala privada: por meio dela a criança repete ou diz para si mesma o que deve realizar em uma tarefa, como se estivesse dando um comando a si própria, lembrando ou organizando os passos de uma atividade. É uma fala audível, em voz alta, porém sem fins comunicativos: ela é direcionada ao próprio locutor. 4) Incentivo à heterorregulação: que é a tentativa da criança de regular o comportamento dos outros. Ela faz isso sempre que identifica que algum colega não está conseguindo atender a determinada demanda e, então, ajuda-o a lembrar-se da tarefa e de como deve proceder. O professor deve: sempre preferir o questionamento; tomar cuidado para não punir as crianças; atuar como mediador ou facilitador; dar instruções diretas e explícitas; promover a reflexão e engajar e envolver ao máximo os alunos estimulando a autonomia! Todas essa atitudes podem ser aplicadas pelo terapeuta em contexto clínico. 6.3) Deficiência intelectual Rotta et. al., (2016, p. 379) descreve que ... a deficiência intelectual é uma condição caracterizada pelo funcionamento intelectual abaixo da média (QI <70) em conjunto com limitações significativas no funcionamento adaptativo. A Deficiência Intelectual (DI) faz parte dos transtornos do neurodesenvolvimento, que envolve as alterações condições com início no período do desenvolvimento. Segundo a APA (2014, p. 31): 112 Os transtornos tipicamente se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência. A deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) caracteriza-se por déficits em capacidades mentais genéricas, como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência. Os déficits resultam em prejuízos no funcionamento adaptativo, de modo que o indivíduo não consegue atingir padrões de independência pessoal e responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária, incluindo comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e independência pessoal em casa ou na comunidade. O atraso global do desenvolvimento, como o nome implica, é diagnosticado quando um indivíduo não atinge os marcos do desenvolvimento esperados em várias áreas do funcionamento intelectual. Esse diagnóstico é utilizado para indivíduos que estão incapacitados de participar de avaliações sistemáticas do funcionamento intelectual, incluindo crianças jovens demais para participar de testes padronizados. A deficiência intelectual pode ser consequência de uma lesão adquirida no período do desenvolvimento, decorrente, por exemplo, de traumatismo craniano grave, situação na qual um transtorno neurocognitivo também pode ser diagnosticado. Três critérios devem ser considerados para diagnosticar uma pessoa com deficiência Intelectual, conforme pode ser visualizado na Figura 25: Figura 25: Critérios Diagnósticos da DI FONTE: (APA, 2014 p.33, adaptado por PAZETO, 2019) A. Déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência confirmados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados. B. Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os déficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias, como comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade. C. Início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento 113 Segundo o DSM-5 além de considerar os três critérios apresentados, toda criança deve ser classificada de acordo principalmente pela sua funcionalidade, que será fundamental para determinar quais os tipos de apoios que cada pessoa precisa para o seu melhor atendimento e adaptações. Nesse manual ele divide a gravidade dessa alteração em leve, moderada, grave e profunda, conforme pode ser visualizado nas figuras 26, 27 e 28 a seguir: Figura 26: Gravidade Leve da DI FONTE: (APA, 2014 p.34) 114 Figura 27: Gravidade Moderada da DI FONTE: (APA, 2014 p.35) Figura 28: Gravidade Grave e Profunda da DI FONTE: (APA, 2014 p.35) 115 Atividade de Aplicação Assista ao vídeo “Deficiência Intelectual: sintomas e tratamentos” da Pesquisadora Mayra Gaiato (https://www.youtube.com/watch?v=gx9iC1O l8a0) e descreva quais as principais dificuldades no dia a dia que crianças que tem DI apresentam: __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 6.4) Deficiências múltiplas Deficiências múltiplas podem ser utilizadas para caracterizar pessoas que possuem duas ou mais deficiências associadas, sendo que essas podem variar entre alterações físicas, sensoriais, mentais emocionais ou comportamentais (BRASIL, 2006). O ponto fundamental de ser observado é a 116 funcionalidade de cada um, que envolve a comunicação, interação social e aprendizagem, determinando assim as adaptações necessárias assim como possibilidades de inclusão de cada caso. A inclusão de alunos com Deficiências múltiplas é bastante complexa no contexto brasileiro e a atuação tem se baseado mais em experiências de atendimentos isolados do que em uma política de inclusão adequada para todos os casos inseridos na rede regular de ensino. Os casos de sucesso envolvem um trabalho em conjunto da equipe escolar, principalmente do professor, dos responsáveis e da sociedade de forma geral. Além do atendimento de profissionais qualificados da área da saúde, como neurologia, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologiaescolar (BRASIL, 2006). O desempenho e as competências dessas crianças são heterogêneos e variáveis. Alunos, com níveis funcionais básicos e possibilidades de adaptação ao meio podem e devem ser educados em classe comum, mediante a necessária adaptação e suplementação curricular. Outros, entretanto, com mais dificuldades, poderão necessitar de processos especiais de ensino, apoios intensos, contínuos e currículo alternativo que correspondam às suas necessidades na classe comum (BRASIL, 2006 p.11). A inclusão de alunos com Deficiências múltiplas é bastante complexa, porém algumas reflexões devem ser realizadas por parte de todos os profissionais que lidam com esse grupo, como (BRASIL, 2006 p.13): As crianças com qualquer deficiência, independentemente de suas condições físicas, sensoriais, cognitivas ou emocionais são crianças que têm necessidade e possibilidade de conviver, interagir, trocar, aprender, brincar e serem felizes, embora, algumas vezes, por caminhos ou formas diferentes; Essa forma diferente de ser e agir é que as torna ser único, singular. Devem ser olhadas não como defeito, incompletude ou incapacidade, mas como pessoas com possibilidades e dificuldades que podem ser superadas ou minimizadas; Trabalhar com crianças que apresentam dificuldades acentuadas no processo de desenvolvimento e aprendizagem é um grande desafio, com o qual podemos aprender e crescer como pessoas e profissionais, buscando compreender e ajudar o outro; Os alunos com deficiência múltipla podem apresentar alterações significativas no processo de desenvolvimento, aprendizagem e adaptação social. Possuem variadas potencialidades, possibilidades funcionais e necessidades concretas que necessitam ser compreendidas e consideradas. Apresentam, algumas vezes, interesses inusitados, diferentes níveis de motivação, formas incomuns de agir, comunicar e expressar suas necessidades, desejos e sentimentos; A inclusão desses alunos no sistema regular de ensino é desejada por famílias, escolas e professores solidários que se propõem a assumir esse desafio. As escolas que têm obtido êxito no processo de inclusão adotam como compromisso o respeito à diversidade e diferenças individuais, a adaptação do currículo e a modificação dos recursos metodológicos e do meio. Esses são 117 fatores essenciais e capazes de atender às expectativas das famílias e necessidades específicas de aprendizagem desses educandos. “Saberes e práticas da inclusão: Deficiência múltipla”, é um caderno de formação desenvolvido pelo Ministério da Educação, que dissemina nacionalmente a política de educação inclusiva e tem implementado ações que colocam como prioridade a ampliação do acesso e do atendimento educacional especializado, criando as condições necessárias para a inclusão nas escolas de ensino regular, propiciando participação e aprendizagem de todos os alunos e possibilitando avanço as demais etapas e níveis de ensino. Nesse contexto, o MEC apoia a realização de programas de formação continuada de professores e disponibiliza aos sistemas de ensino a Coleção Saberes e Práticas da Inclusão – Educação Infantil que traz temas específicos sobre o atendimento educacional de crianças com necessidades educacionais especiais, do nascimento aos seis anos de idade. São oito volumes organizados para o desenvolvimento da prática pedagógica com enfoque nas Dificuldades Acentuadas de Aprendizagem ou Limitações no Processo de Desenvolvimento; Dificuldades Acentuadas de Aprendizagem – Deficiência Múltipla; Dificuldades de Comunicação e Sinalização – Deficiência Física; Dificuldades de Comunicação e Sinalização – Surdo cegueira/ Múltipla Deficiência Sensorial; Dificuldades de Comunicação e Sinalização – Surdez; Dificuldades de Comunicação e Sinalização - Deficiência Visual e Altas Habilidades/ Superdotação. Não deixe de ler! http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deficienciamultipla.pdf Educação infantil: saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla. [4. ed.] / elaboração profª Ana Maria de Godói – Associação de Assistência à Criança Deficiente – AACD... [et. al.]. – Brasília : MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006. 118 A incidência da deficiência intelectual em uma determinada população é objeto de estimativas, mais do que de pesquisas, visto que a própria delimitação da deficiência é difusa. A incidência de causas concretas também é bastante variada. Com a informação epidemiológica e a etiologia da deficiência intelectual, relacionam-se as medidas e as ações de sua possível prevenção. A classificação convencional para a prevenção dessa deficiência é: A) leve, moderada, severa e profunda. B) gestacional, epidemiológica e social. C) primária, intermediária e global. D) primária, secundária e terciária. E) leve, secundária e global. FONTE: (Professor I - Educação Especial - Deficiência Intelectual e Deficiências Múltiplas / FUNCAB / 2012). __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Alternativa A. Foi abordada nessa unidade, que segundo o DSM-5, os níveis de gravidade da Deficiência Intelectual podem ser divididos em: leve, moderada, severa e profunda. 119 As funções executivas são comportamentos que permitem ao indivíduo interagir no mundo de maneira intencional, envolvem a formulação de um plano de ação que se baseia em experiências prévias e demandas do ambiente atual. Assinale a alternativa incorreta sobre as funções executivas: a) Estas ações precisam ser flexíveis e adaptativas, e por vezes, monitoradas em suas várias etapas de execução. b) São sinônimos de funções executivas: funções de supervisão, funções frontais, funções de controle, sistema supervisor. c) São processos que entram em ação quando o comportamento controlado não consegue ser suficiente para a demanda ambiental. d) São exemplos de testes utilizados para avaliar as funções executivas: Teste de Stroop, que avalia o controle inibitório e Torre de Londres, que avalia o planejamento. e) As Funções Executivas estão embasadas em seis construtos, que são: memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, planejamento, resolução de problemas e raciocínio. FONTE: (IBFC - 2013 - EBSERH - Psicólogo Neuropsicologia adaptado por PAZETO, 2019). __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Alternativa incorreta é a C, pois as funções executivas são processos que entram em ação quando o comportamento automático não 120 consegue ser suficiente para a demanda ambiental, e por isso a pessoa precisa tomar o controle da ação e interagir com o ambiente em busca da melhor resolução. Caro(a) aluno(a): Chegamos ao final da Unidade VI onde estudamos as Funções Executivas, as Alterações do PAC, Deficiência Intelectual e Deficiências Múltiplas.Vamos rever os principais conceitos aqui apresentados: 121 A percepção auditiva é fundamental para a vivência escolar e é avaliada por meio do Processamento Auditivo (PA); Uma das alterações nesse processamento é o chamado Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) que afeta a forma como a informação auditiva é processada pelo cérebro; Crianças com alterações nessa área podem demonstrar dificuldades em atividades que envolvam a leitura e a escrita; matemática, principalmente cálculo; memorização, análise e síntese das informações; atenção e compreensão de mensagens; As Funções executivas envolvem diversos construtos que tem como objetivo atuar em conjunto para que o sujeito realize os seus objetivos no ambiente; Os construtos das funções executivas são: memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, planejamento, resolução de problemas e raciocínio. As três primeiras habilidades compõem as funções executivas principais e as três últimas, as complexas; Essas funções são fundamentais para o aprendizado e vivência escolar e influenciam diversas habilidades, como a leitura, escrita e matemática, sendo uma habilidade preditora importante para o sucesso acadêmico e social; A deficiência intelectual é uma condição caracterizada pelo funcionamento intelectual abaixo da média (QI <70) em conjunto com limitações significativas no funcionamento adaptativo; Toda criança deve ser classificada de acordo principalmente pela sua funcionalidade, que será fundamental para determinar quais os tipos de apoios que cada pessoa precisa para o seu melhor atendimento e adaptações; Deficiências múltiplas podem ser utilizadas para caracterizar pessoas que possuem duas ou mais deficiências associadas, sendo que essas podem variar entre alterações físicas, sensoriais, mentais emocionais ou comportamentais. Foram vários conteúdos estudados até agora. Esperamos que você esteja entusiasmado com as Neurociências e sua importância para o trabalho do Psicopedagogo(a). Vamos agora para a Unidade VII para aprendermos sobre as Síndromes Cromossômicas. Pronto(a)? Vamos lá! 122 VII– SÍNDROMES CROMOSSÔMICAS Olá, aluno(a)! Chegamos à Unidade VII, onde vamos conhecer as Síndromes Cromossômicas, suas características e implicações na aprendizagem. Entre as síndromes mais comuns estão: Síndrome de Down; Síndrome do X Frágil; Síndrome de Williams; Síndrome de Rett; Síndrome de Turner e Síndrome de Klinefelter. Preparado(a) para os novos conhecimentos? Então vamos lá! 7.1) Síndrome de Down A síndrome de Down tem essa nomenclatura graças ao John Langdon Down que descreveu essa condição genética há mais de um século e têm como característica ser uma das causas mais frequentes de deficiência intelectual (DI). Na época em que foi descrita foram apresentadas características diagnósticas assim como comportamentos e alterações fenotípicas que eram percebidas em pessoas dentro desse grupo, como a aproximação bastante preconceito de ‘idiotia mongoloide’. Essa definição de Langdon pode ser lida a seguir (MOREIRA et. al., 2000 p. 96): A grande família Mongólica apresenta numerosos representantes e pretendo neste artigo chamar atenção para o grande número de idiotas congênitos que são Mongóis típicos. O seu aspecto é tão marcante que é difícil acreditar que são filhos dos mesmos pais... O cabelo não é preto, como em um Mongol típico, mas de cor castanha, liso e escasso. A face é achatada e larga. Os olhos posicionados em linha oblíqua, com cantos internos afastados. A fenda pálpebra é muito curta. Os lábios são grossos, com fissuras transversais. A 123 língua é grande e larga. O nariz, pequeno. A pele, ligeiramente amarelada e com elasticidade deficiente. É difícil acreditar que se trate de um europeu, mas pela frequência com que estas características são observadas, não há dúvida de que estes aspectos étnicos resultam de degeneração. O tipo de idiotia Mongólica ocorre em mais de 10% dos casos que tenho observado. São sempre idiotas congênitos e nunca resultam de acidentes após a vida uterina. Eles são, na maioria, exemplos de degeneração originada de tuberculose nos pais. A síndrome de Down também é conhecida como trissomia do cromossomo 21, sendo que essa é a causa mais frequente de pessoas que possuem essa síndrome e pode ser confirmada pelo exame de cariótipo, no qual no par 21 apresenta 3 e não 2 cromossomos. Todas as síndromes cromossômicas que serão descritas nessa unidade podem ser confirmadas pelo exame de cariótipo. A figura 29 explica e exemplifica o que é o cariótipo: 124 Figura 29: O que é o cariótipo? FONTE: (GROSSI et. al., 2017 p. 20-21) Essa síndrome é considerada a alteração genética mais comum em humanos, sendo que no Brasil, existe uma estimativa de 1 criança a cada 600/800 nascimentos, sendo esse número não impactado por diferenças de gênero, classe social ou etnia (BRASIL, 2012). Crianças com Síndrome de Down podem desenvolver diversas outras alterações que são muito comuns a síndrome e por isso precisam de avalições específicas e intervenções desde muito cedo, praticamente desde o nascimento. Por ser uma síndrome bastante reconhecida, com diversas pesquisas na área, os pais já são orientados de que essas crianças podem ter: cardiopatia congênita (40%); hipotonia (100%); problemas de audição (50 a 70%); de visão (15 a 50%); alterações na coluna cervical (1 a 10%); distúrbios da tireoide (15%); problemas neurológicos (5 a 10%); obesidade e envelhecimento precoce (MOREIRA et. al., 2000). Apesar desse grande número de alterações, por ser uma síndrome bastante conhecida, a expectativa de vida, assim como a possibilidade de adequação a sociedade melhorou muito nos últimos anos, devido ao aumento do número de programas educacionais, de saúde e profissionais 125 para esse grupo, tendo como objetivo melhorar a sua qualidade de vida (BRASIL, 2012). MOREIRA, L. M. A.; EL-HANI, C. N.; GUSMAO, F. A. F. A síndrome de Down e sua patogênese: considerações sobre o determinismo genético. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 22, n. 2, p. 96-99, 2000. Crianças com Síndrome de Down apresentam características fenotípicas (genética + ambiente), ou seja, a forma como elas aparentam fisicamente, muito parecidas entre si, pois são crianças que apresentam: (BRASIL, 2012): prematuridade e baixo peso ao nascimento hipotonia (fraqueza muscular) alterações cardíacas fissuras palpebrais inclinadas para cima pele em excesso na nuca pescoço pequeno (curto) orelhas pequenas, arredondadas e diferente do padrão normal língua protusa, grande e com hipotonia prega palmar única baixa estatura rosto com perfil achatado sobrancelhas unidas pregas epicânticas (pele perto da região do olho) nariz com características achatadas cabelo fino frouxidão ligamentar dedos curtos entre outros 126 As figuras 30 e 31 apresentam essas alterações dividas por área facilitando a compreensão e identificação: Figura 30: Características Clínicas da Síndrome de Down FONTE: (BRASIL, 2012 p. 17) 127 Figura 31: Outras Características Clínicas da Síndrome de Down FONTE: (GROSSI et. al., 2017 p. 38-39) Atividade de Aplicação O “Diretrizes de atenção: à pessoa com Síndrome de Down” é uma manual de diretriz criado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas, que tem como objetivo oferecer orientações às equipes multiprofissionais para o cuidado à saúde da pessoa com síndrome de Down, nos diferentes pontos de atenção da rede de serviço ao longo do seu ciclo vital. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_cuidados_sindrome_down.pdf. A partir da leitura das páginas 21 e 22 dessa diretriz, 128 descreva a seguir quais são as três formas genéticas mais comuns que causam a Síndrome de Down e as suas características. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ A editora Pearson criou um grupo de cartilhas gratuitas intituladas como “Aprendizagem de A a Z”. Na de ‘Deficiências Intelectuais’ eles apresentam diversas estratégias que podem ser trabalhadas com esse grupo visando o seu aprendizado, sendo que essas orientações se aplicam tanto a Síndrome de Down quanto a todas outras alterações que veremos nessa Unidade e que já abordamos nas demais também. Como ajudar uma criança com deficiência intelectual em relação ao seu aprendizado? A Figura 32 esclarece como: 129 Figura 32: Como ajudar uma criança com deficiência intelectual FONTE: (COSTA et al., 2016 adaptado por PAZETO, 2019) Crianças com deficiência intelectual aprendem melhor quando as instruções são claras e curtas, bem como quando cada tarefa é dividida em pequenas partes. Use itens e exemplos concretos para explicar novos conceitos e crie oportunidades para que o aluno pratique o novo conceito de uma forma mais fácil, ou seja, da forma que ele trabalha melhor. Deixe claro quais são os comportamentos que você espera da criança na sala de aula: elogie os bons comportamentos, ignore os maus comportamentos que não atrapalham a classe (não reforce dando atenção, mesmo que negativa). Monte cartazes com figuras do passo a passo da criança, como ela deve se comportar nos diversos momentos em sala de aula (quando o(a) professor(a) ou um colega estiver falando, quando e de que maneira ela deve participar, como pedir ajuda, ter paciência para esperar, como agir no recreio, durante a aula de educação física etc.). Procure preparar a classe para novas atividades, coloque no quadro as atividades planejadas para a semana e ajude o aluno a acompanhar o que foi feito e quais são os próximos passos. Não confunda o aluno com instruções longas ou complexas: dê uma instrução de cada vez. Aprenda o máximo que puder sobre como o seu aluno se comporta, mas não espere que ele aja todos os dias do mesmo jeito. Sempre que possível, dê um objetivo imediato e concreto de determinada atividade, deixe-o motivado para trabalhar, oferecendo, por exemplo, atividades de que ele goste muito logo após um exercício que ele precisa fazer. Ajude os pais a prepararem o aluno para novas atividades, antecipe o programa esperado para ele e explique aos pais quais são as habilidades que você espera que sejam alcançadas em cada semana. Sempre que possível, use a tecnologia! Jogos de computador usualmente têm objetivos claros a serem alcançados em cada fase, são motivadores e fornecem feedback imediato ao estudante! 130 “Aprendizagem de A a Z”, Parte do pressuposto de que cada um de nós possui um jeito único de aprender: tem gente que impressiona pela facilidade e outros demoram algum tempo para absorver o conteúdo. O jeito de aprender depende tanto de habilidades que nascem com a gente, assim como das capacidades que precisam ser ensinadas. Quando uma criança apresenta dificuldade em aprender, de forma acentuada e persistente ao longo de seu desenvolvimento, a suspeita é que haja um transtorno de aprendizagem. Por isso, a Pearson Clinical Brasil disponibiliza o download de 6 cartilhas sobre o tema: Deficiências Intelectuais, Superdotados, Discalculia, Transtorno do Espectro Autista, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e Dislexia. Não deixe de ler! COSTA, D. S.; MALLOY-DINIZ, L. F.; MIRANDA, D. M. Aprendizagem de A a Z – Deficiências Intelectuais. Editora Pearson, [recurso eletrônico] Disponível em: http://materiais.pearsonclinical.com.br/cartilha-aprendiza gem, 2016. 7.2) Síndrome do X Frágil A Síndrome do X Frágil (SXF) é uma síndrome transmitida geneticamente, e tem como impacto a deficiência intelectual, comprometendo aspectos físicos, comportamentais e cognitivos na pessoa afetada. Assim como na Síndrome de Down, depois da avaliação e percepção de alterações clínicas, o exame de cariótipo pode confirmar a suspeita. CHERUBINI (2008, p. 409) descreve que as alterações envolvem: macroorquidismo macrocefalia palato ogival alto queixo e orelhas proeminentes problemas oftalmológicos cardíacos otites dificuldades motoras fono-articulatórias 131 viso-espaciais raciocínio aritmético déficit na atenção deficiência mental agressividade hiperatividade autismo entre outras A deficiência intelectual nesse grupo em homens costuma ser grave, e por isso quando antes forem identificados melhor o prognóstico. Muitos casos são confundidos com autismo por conta das alterações comportamentais, principalmente na comunicação, pois são crianças com dificuldades para interagir, tímidas, ansiosas, e podem apresentar estereotipias motoras, principalmente nas mãos. Yonamine e Silva (2002) apresentam dois quadros bem interessantes que funcionam como uma referência do que responsáveis, educadores e terapeutas podem observar em relação à linguagem e podem ser aplicados para todos os quadros de alterações do desenvolvimento, conforme pode ser visualizado nas Figuras 33, 34 e 35. Figura 33: Características do X-Frágil FONTE: (GROSSI et. al., 2017 p. 62-63) 132 Figura 34: Sinais de alteração da Comunicação pré-linguística FONTE: (YONAMINE; SILVA, 2002 p. 983) Figura 35: Sinais de alteração da Comunicação linguística FONTE: (YONAMINE; SILVA, 2002 p. 983) 133 YONAMINE, S. M.; SILVA, A. A. Características da comunicação em indivíduos com a síndrome do X Frágil. Arq Neuropsiquiatr; 60(4):981-5, 2002. 7.3) Síndrome de Williams A Síndrome de Williams (SW) é uma doença considerada rara, acontecendo um caso para cada 7.500 a 20.000 nascidos, e causada por uma micro deleção na região cromossômica 7q11.234,5. Segundo Lima et. al., (2012, p. 74) é caraterizada por: ...dimorfismos faciais típicos, anormalidades no tecido conetivo, alterações de crescimento, anormalidades endócrinas, doenças cardiovasculares, hiperacusia, deficiência intelectual e padrões comportamentais, cognitivos e de linguagem típicos. Incidem na síndrome transtornos psiquiátricos, como fobias específicas, transtorno generalizado de ansiedade, transtornos depressivos e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Pessoas com essa síndrome possuem dificuldades e alterações nas habilidades cognitivas, nas áreas da linguagem e em questões comportamentais, sendo necessário o atendimento específico, individualizado e contextualizado para esse grupo.Porém, por se tratar de uma síndrome rara, o seu conhecimento de como trabalhar com ela acaba sendo escasso também (LIMA et. al., 2012). Lima et. al., (2012) descrevem em sua pesquisa diversas dicas por área prejudicada que podem ser implementadas no processo interventivo, como por exemplo, em relação a linguagem e comunicação, as crianças com SW costumam utilizar muitos clichês, falas importadas de outros locais, as chamadas ecolalias, pausas durante a fala, efeitos sonoros, o que torna a sua 134 forma de comunicar considerada até como pedante. Para trabalhar então com essas dificuldades recomenda-se que: essas crianças sejam ensinadas sobre os aspectos sociais adequados de uma conversa, por exemplo, que não se deve ficar tocando na outra pessoa e a manter uma distância adequada; quando o outro fala ele não deve ser interrompido a todo momento, é importante que a conversa envolva perguntas e respostas e que ambos ou mais participem do que está acontecendo, sem um número alto de interrupções indevidas; sinalizar e não incentivar as ecolalias, por exemplo, não repetindo o que ele fala, mas sim utilizando outra frase adequada para aquele contexto, apresentando a criança outras possibilidades; estimular o ler e o escrever dentro das limitações e potencialidades de cada caso. Em relação aos aspectos cognitivos as pesquisas mostram que o grau de deficiência intelectual varia entre os casos, de leve a moderada e por isso cada individuo deve ser avaliado e analisado individualmente. Além disso, alterações nas áreas de coordenação motora, tanto fina quanto grossa também são bastante comuns. São crianças com dificuldades em se planejar e a lidar de forma adequada com as funções executivas, nas áreas de planejamento, controle inibitório e memória de trabalho, e por isso os processos atencionais também estão prejudicados (LIMA et. al., 2012). A seguir serão apresentadas algumas recomendações para serem trabalhadas com crianças com SW, mas que também podem ser utilizadas com outras síndromes (LIMA et. al., 2012 p. 75): a) solicitar a profissionais da área de Psicologia a avaliação de habilidades gerais de inteligência; b) estimular habilidades de coordenação motora fina e grossa; c) fracionar as tarefas e verificar o cumprimento delas antes de passar para a próxima; d) estimular a capacidade de organização e regulação do comportamento mediante sequências simples de atividades; e) ensinar o aluno a diferenciar estímulos relevantes dos irrelevantes para realização de tarefas; f) evitar ruídos, gritos, estrondos, palmas, risos; g) diminuir estímulos alheios às tarefas que geralmente reduzem habilidades de atenção; h) não permitir tarefas inconclusas; i) estimular habilidades musicais mediante jogos, poesias, canções e coral. 135 Os aspectos comportamentais são outro ponto marcante dessa síndrome, pois as crianças são consideradas sociáveis e felizes, buscando em excessividade esse contato e convivência social, uma hipersociabilidade e alta empatia. Em contrapartida apresentam comportamentos de ansiedade e insegurança e dificuldades em lidar com as regras sociais, podem também ser agressivas cm o outro e consigo mesmas e não conseguirem controlar os seus impulsos, o que prejudica essa interação social (LIMA et. al., 2012). Atividade de Aplicação “Recomendações psicopedagógicas para o trabalho da equipe educacional com escolares com síndrome de Williams”, é um artigo que apresenta teoricamente a síndrome e suas principais características além de direcionar como o trabalho com essas crianças pode ser realizado por um psicopedegogo. Disponível em: http://www.revistapsicopedagogia.com.br /detalhes/148/recomendacoes-psicopedagogicas-para-o-trabalho-daequipe - educacional-com-escolares-com-sindrome-de-williams. A partir da leitura das páginas 75 e 76 descreva a seguir quais são as recomendações que os autores apresentam que podem auxiliar no manejo do comportamento de crianças com SW. __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 136 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ “Recomendações psicopedagógicas para o trabalho da equipe educacional com escolares com síndrome de Williams”, é um artigo que apresenta teoricamente a síndrome e suas principais características além de direcionar como o trabalho com essas crianças pode ser realizado por um psicopedegogo. Não deixe de ler! LIMA, S. F. B.; TEIXEIRA, M. C. T. V.; SEGIN, M.; CARREIRO, L. R. R. Recomendações psicopedagógicas para o trabalho da equipe educacional com escolares com síndrome de Williams. Rev. Psicopedagogia;29(88):74-76, 2012. 7.4) Síndrome de Rett A síndrome de Rett (SR) é uma das síndromes consideradas raras e que acomete apenas meninas, por ser uma desordem associada ao cromossomo X. São crianças que nascem sem nenhum tipo de alteração e que se desenvolvem normalmente até por volta de 1 ano e meio, dois anos, sendo que a partir desse momento começam a sofrer uma regressão brusca em todos os aspectos de seu desenvolvimento, deixando de se comunicar, de andar, comprometendo e gerando dificuldades de aprendizagem gerais e deficiências profundas e múltiplas. 137 Esta síndrome foi identificada em 1966 por Andreas Rett, porém somente em 1991 que começou a ser foco de maiores pesquisas da área, afetando em torno de 1 a cada 10.000 meninas nascidas vivas (LEWIS; WILSON, 1999). Após esse período de regressão as alterações ocorridas persistem por toda vida dessas meninas, se tornando ainda piores em algumas áreas, por exemplo, nos aspectos motores, por conta do crescimento que continua e da falta de mobilidade das mesmas. Elas precisarão de suporte e auxílio por toda a vida, sendo necessários diversos tipos de terapias e intervenções para melhorar a qualidade de vida, pois elas são totalmente dependentes de terceiros para questões básicas de sobrevivência (LEWIS; WILSON, 1999). Algumas terapias recomendadas para esse grupo envolvem aromaterapia, musicoterapia, hidroterapia e fisioterapia. Apesar de todas as meninas que são diagnosticadas com Síndrome de Rett possuírem um caminho de desenvolvimento bastante parecido, há uma grande variação no grau em que são afetadas e, portanto, em suas funcionalidades e necessidades. A Associação Brasileira de Síndrome de Rett de São Paulo – Abre-Te / Nacional foi fundada em outubro de 1990, no Rio de Janeiro, por um grupo de pais e voluntários. Tem como visão promover saúde, aprendizagem e exercício de cidadania para meninas, adolescentes e adultas com a Síndrome de Rett em todo o território nacional, para que possam ser incluídas na sociedade com o respeito que suas diferenças merecem, subsidiando suas famíliascom acolhimento e divulgação de conhecimentos sociais e científicos. Acesse o Site 138 da Associação e leiam mais sobre diversas características da síndrome, como o : Conceito; Histórico; Causa; Epidemiologia; Quadro Clínico; Diagnóstico; Avaliação; Intervenções e muito mais. Disponível em: https://www.abrete.org.br /síndrome _rett.php. 7.5) Síndrome de Turner A Síndrome de Turner (ST) é mais uma das síndromes genéticas que, assim como a de Rett, também está relacionada a alterações no cromossomo X. No caso da Síndrome de Turner há uma monossomia do cromossomo X, ou seja, uma falta desse cromossomo em um dos pares, ou alterações em sua estrutura, sendo diagnosticado por exame de cariótipo. Sua incidência acomete em torno de 1 caso a cada 2.130 meninas nascidas vivas (BRASIL, 2018). As anormalidades típicas da Síndrome de Turner incluem baixa estatura, disgenesia gonadal, pescoço alado, linha posterior de implantação dos cabelos baixa, fácies típica, tórax alargado com aumento da distância entre os mamilos, linfedema, cúbito valgo, tireoidite auto-imune com ou sem hipotireoidismo, anormalidades renais, cardiovasculares, auditivas e deficiência cognitiva em algumas atividades, embora a inteligência média seja considerada normal. Baixa estatura é o achado mais comum da Síndrome de Turner. Caracteristicamente há um retardo leve do crescimento na fase intrauterina, redução progressiva da velocidade de crescimento durante a infância e uma marcada ausência de crescimento na fase – puberal. Pacientes com Síndrome de Turner não tratadas apresentam uma altura média na idade adulta de 136 a 147 cm. (BRASIL, 2018). A descrição dessa síndrome foi realizada por Henry Turner, em 1938, e conforme as pesquisas foram avançando novas áreas de alterações foram sendo acrescentadas, e atualmente já se sabe que junto com a síndrome podem ocorrer infertilidades, problemas de deficiência auditiva, doenças autoimunes e ligas a tireoide, dificuldades de aprendizagem, entre outros (MARQUI, 2015). A forma de intervir e tratar a ST depende de cada caso e das principais manifestações clínicas, sendo comum cirurgia cardíaca, terapias hormonais e comportamentais (BRASIL, 2018). A figura 36 apresenta algumas características da Síndrome: 139 Figura 36: Características da Síndrome de Turner FONTE: (GROSSI et. al., 2017 p. 42-43) A maioria dos casos de ST só são diagnosticados na adolescência, porém a baixa estatura é um dos grandes sinais que auxilia na identificação precoce dos casos. 140 “Síndrome de Turner: sintomas, tratamentos e causas” disponível em: https://www.minhavida.com.br/saude/temas/sindrome-de-turner. Acesso em 23 de Agosto de 2019. 7.6) Síndrome de Klinefelter A Síndrome de Klinefelter (SK) é uma síndrome genética que acomete homens, causada pela presença de um X a mais na formação, sendo que os casos acometidos ao invés de serem 46XY, são 46 XXY, e a incidência é de 1 caso para cada 500-1000 meninos nascidos vivos. A alteração é detectada por exame genético de cariótipo e por esse motivo os casos em grande parte só acabam sendo diagnosticados na adolescência, mesmo alguns sinais já aparecendo na infância. A figura 32 apresenta algumas características: Figura 32: Características da Síndrome de Klinefelter FONTE: (GROSSI et. al., 2017 p. 42-43) 141 São crianças que apresentam diversos problemas de aprendizagem e de comportamento, podendo ter também atraso da linguagem, porém o maior indicador é o atraso para inicio da puberdade ou um amadurecimento incompleto, com alteração da formação do órgão genital. As áreas intelectuais e o seu comprometimento variam em cada caso e se relacionam com o tipo de alteração do cromossomo. Uma das características fenotípicas que chamam a atenção é a alta estatura, com braços e pernas alongados. Os pais do recém-nascido Pedro foram informados pela equipe de acompanhamento da maternidade que seu bebê havia nascido com alterações. Identificaram uma síndrome proporcionada por alterações genéticas. Os portadores dessa síndrome possuem um cromossomo a mais e apresentam algumas características, tais como: Quociente Intelectual (QI) abaixo da média. maior propensão a doenças. alterações no tônus muscular (hipotonia), o chamado “bebê molinho”. traços do rosto característicos, como olhos puxados, menor número de dentes, língua proeminente, dentre outros aspectos. A equipe orientou os pais a buscarem formas de estimular precocemente a criança, visando a proporcionar-lhe um maior desenvolvimento de seu potencial. Assinale a alternativa que nomeia a síndrome com a qual Pedro nasceu. a) Autismo; b) Paralisia Cerebral. c) Síndrome de Asperger. d) Deficiência Mental. e) Síndrome de Down. 142 FONTE: (CETRO Órgão: IF-PR Prova / Psicólogo/ 2014) __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Resposta correta “E”, pois todas as demais alterações não envolvem uma alteração cromossômica, como no caso da Síndrome de Down. Assim como foi explicado na exposição teórica que a SD é conhecida também como trissomia do cromossomo 21, pois possui um cromossomo a mais em sua formação. A Síndrome de Rett é um transtorno grave do desenvolvimento neurológico, descrito pela primeira vez em 1966. Assinale a alternativa que não consiste em critério para o diagnóstico desta síndrome: a) Desenvolvimento psicomotor normal até o 6º mês b) Microcefalia ao nascimento c) Perda da preensão voluntária d) Regressão psicomotora e) Estereotipias manuais 143 FONTE: (IBFC - 2016 - EBSERH - Médico - Psiquiatria da Infância e Adolescência - HUPEST-UFSC) __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Resposta correta “B”, pois todas as demais alterações fazem parte do diagnóstico da Síndrome de Rett, menos a microcefalia ao nascimento, pois conforme foi apresentado na explicação teórica, são meninas que possuem um desenvolvimento absolutamente normal no início do desenvolvimento. Aprendem a falar, a andar, a interagir, e por volta de 12 a 18 meses começam a perder praticamente todas as habilidades que tinham adquirido e se tornam totalmente dependentes de terceiros e necessitam de terapias intensivas. Olá, aluno(a)! Chegamos ao final da Unidade VII – Síndromes Cromossômicas. Quantos conteúdos novos e diferentes estudamos, não foi mesmo? Ao longo de toda essa Unidade pode-se abordar as principais síndromes genéticas com alterações cromossômicas, sendo que por conta de muitas delas serem raras existem poucas pesquisas nacionais descrevendo a inclusão e atendimento terapêutico desses grupos. As síndromes foram apresentadas de forma resumida, para que você tenha um panorama geral de suas principais características, porém não deixe 144 de ler mais nas referências,saiba mais e leituras indicadas para um maior aprofundamento em cada uma delas. Conhecendo os sinais e identificando o mais precocemente possível as possibilidades do prognóstico são maiores e melhores! Relembrando.... A síndrome de Down também é conhecida como trissomia do cromossomo 21, sendo que essa é a causa mais frequente de pessoas que possuem essa síndrome e pode ser confirmada pelo exame de cariótipo, no qual no par 21 apresenta 3 e não 2 cromossomos; Crianças com Síndrome de Down podem desenvolver diversas outras alterações que são muito comuns a síndrome e por isso precisam de avalições específicas e intervenções desde muito cedo, praticamente desde o nascimento; Crianças com deficiência intelectual aprendem melhor quando as instruções são claras e curtas, bem como quando cada tarefa é dividida em pequenas partes; Aprenda o máximo que puder sobre como o seu aluno se comporta, mas não espere que ele aja todos os dias do mesmo jeito. Sempre que possível, dê um objetivo imediato e concreto de determinada atividade, deixe-o motivado para trabalhar, oferecendo, por exemplo, atividades de que ele goste muito logo após um exercício que ele precisa fazer; A Síndrome do X Frágil (SXF) é uma síndrome transmitida geneticamente, e tem como impacto a deficiência intelectual, comprometendo aspectos físicos, comportamentais e cognitivos na pessoa afetada; A deficiência intelectual nesse grupo em homens costuma ser grave, e por isso quando antes os sintomas forem identificados, melhor será o prognóstico. Muitos casos são confundidos com autismo por conta das alterações comportamentais, principalmente na comunicação, pois são crianças com dificuldades para interagir, tímidas, ansiosas, e podem apresentar estereotipias motoras, principalmente nas mãos; A Síndrome de Williams (SW) é uma doença considerada rara, acontecendo um caso para cada 7.500 a 20.000 nascidos, e causada por uma microdeleção na região cromossômica 7q11.234,5. Costumam utilizar muitos clichês, falas importadas de outros locais, 145 as chamadas ecolalias, pausas durante a fala, efeitos sonoros, o que torna a sua forma de comunicar considerada até como pedante; São crianças com dificuldades em se planejar e a lidar de forma adequada com as funções executivas, nas áreas de planejamento, controle inibitório e memória de trabalho, e por isso os processos atencionais também estão prejudicados; A síndrome de Rett (SR) é uma das síndromes consideradas raras e que acomete apenas meninas, por ser uma desordem associada ao cromossomo X. São crianças que nascem sem nenhum tipo de alteração e que se desenvolvem normalmente até por volta de 1 ano e meio, dois anos, sendo que a partir desse momento começam a sofrer uma regressão brusca em todos os aspectos de seu desenvolvimento, deixando de se comunicar, de andar, comprometendo e gerando dificuldades de aprendizagem gerais e deficiências profundas e múltiplas; A Síndrome de Turner (ST) é mais uma das síndromes genéticas, que assim como a de Rett também está relacionada a alterações no cromossomo X; junto com a síndrome podem ocorrer infertilidades, problemas de deficiência auditiva, doenças autoimunes e ligas a tireoide, dificuldades de aprendizagem, entre outros; A Síndrome de Klinefelter (SK) é uma síndrome genética que acomete homens, causada pela presença de um X a mais na formação, sendo que os casos acometidos ao invés de serem 46XY, são 46 XXY. São crianças que apresentam diversos problemas de aprendizagem e de comportamento, podendo ter também atraso da linguagem, porém o maior indicador é o atraso para início da puberdade ou um amadurecimento incompleto, com alteração da formação do órgão genital. Então? Você aprendeu bastante do conteúdo desta Unidade? Vamos agora para a Unidade VIII para finalizarmos nossos estudos sobre as Dificuldades, Transtornos de Aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento, trazendo para você algumas noções sobre O Papel do Psicopedagogo diante das dificuldades, transtornos de aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento. Pronto(a)? Vamos lá! 146 147 VIII O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO DIANTE DAS DIFICULDADES, TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM E OUTRAS ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Olá, aluno(a)! Chegamos à Unidade VIII, parte final deste Livro Texto, onde vamos estudar sobre o papel do psicopedagogo diante das dificuldades, transtornos de aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento, conteúdo fundamental para se entender os passos essenciais que preparam você para a próxima disciplina (Avaliação Neuropsicopedagógica) e para o exercício da Psicopedagogia Clínica. Preparado(a)? Então vamos lá! 8.1) Atuação do psicopedagogo diante dessas alterações O determinar se uma pessoa precisa ou não de uma intervenção com foco na aprendizagem, depende da relação com o conhecimento que cada um individualmente constrói e possui, e com base nisso Fernández (1991, p.37-38) descreve que como profissionais algumas perguntas precisam ser feitas em relação a cada paciente: 1) Com que recursos conta para aprender? 2) O que significa o conhecimento e o aprender no imaginário do sujeito e sua família? 3) Que papel foi-lhe designado por seus pais em relação ao aprender? 4) Qual a sua modalidade de aprendizagem? 5) Qual é a posição do sujeito frente ao não dito, ao oculto, ao secreto? 6) Que função tem o não aprender para ele e para o seu grupo familiar? 7) Qual é o significado da operação particular que constitui o sintoma? 8) Como aprende e como não aprende? 9) O não aprender responde a um sintoma, ou é uma resposta reativa ao meio socioeducativo? 148 O objeto de estudo da Psicopedagogia é a Aprendizagem: o aprender e o não aprender! Pensando em todas alterações do neurodesenvolvimento que foram apresentadas em cada uma das unidades dessa Disciplina, ficou claro o quanto os processos de aprendizagem e a forma de aprender são diferentes em cada um dos Transtornos e das Síndromes. E que o compreender e conhecer as características essenciais de cada um deles é só o começo para identificar como cada um dentro das suas especificidades pode aprender. Mesmo que considerem crianças dentro da mesma Síndrome e do mesmo Transtorno, a forma de cada um aprender é individual e construída com base na sua história de vida, no seu diagnóstico, prognóstico, nas intervenções e tratamentos que realiza, no envolvimento a família e principalmente no sujeito de aprendizagem, na forma como ele se relaciona com o conhecimento e como as modalidades do aprender e do não aprender estão instauradas na sua vida. Reforçando, não é porque estímulos visuais auxiliam a aprendizagem de crianças com Síndrome de Down, por exemplo, que esse recurso auxiliará o seu paciente, o seu aluno que tem essa síndrome. Porque pode ser que a forma como ele aprende é outra, e como você descobrirá isso? Conhecendo o seu aluno! Não tem outro caminho, ou alternativa. O professor/ terapeuta pode lidar com quatro meninos de 10 anos, todos com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), todos filhos mais velhos com mais um irmão e estudantes de escola pública e mesmo com tantas semelhanças eles aprenderão de formas diferentes. Pois, o conhecimento e embasamento teórico das alterações ele é o guia do profissional, mas não é determinante. Ele mostra um caminho por onde o trabalho deve ser iniciado, com base no que é esperado daquele grupo, ou dos estudos e pesquisas na área, porém é só o começo. A verdadeira relação se construirá a cada dia com o Psicopedagogo. Fernandéz (1991, p. 38) escreveu uma frase que reflete e resume essa reflexão sobre a aprendizagem: 149 O organismo alterado provê o terreno no qual se torna mais fácil alojar-se um problema de aprendizagem,mas não é determinante. Muitos sujeitos a partir de organismos deficitários, puderam aprender e até ser brilhantes em sua profissão. No livro “A inteligência aprisionada: uma abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família” a autora desenvolve uma abordagem clínica da criança e da família, descrevendo a dinâmica dos aspectos institucionais, familiares e subjetivos que permeiam o processo terapêutico eficaz dos problemas de aprendizagem mediante exemplos concretos. Esta é uma leitura obrigatória para psicopedagogos. Não deixe de ler! FERNANDÉZ, A. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. A afirmação da autora mostra que cada criança, adolescente, adulto e idoso possui potencial dentro de si para aprender e cabe ao psicopedagogo conhecer cada sujeito e identificar como nele, nas suas relações familiares, no seu convívio social e profissional o aprender e o não aprender foram sendo construídos e estruturados. Muitas Síndromes que foram abordadas apresentam quadros graves e com diversas alterações, que muitas vezes deixam o paciente até sem possibilidade de desenvolvimento individual sem auxilio de terapeutas e intervenções intensivas. Porém mesmo nessa situação existe uma pessoa ali, um sujeito que precisa e deve ser visto além da síndrome e do transtorno, que deve ser olhado como alguém que mesmo dentro de todas essas limitações pode aprender. 150 Atividade de Aplicação No site da Abpp (Associação Brasileira de Psicopedagogia) eles apresentam um texto que se intitula “Símbolo da Psicopedagogia”, disponível em (https://www.abpp.com.br/psicopedagogo_simbolo_psicopedagogia.html). Nesse texto é possível conhecer a Fita de Möbius (conforme imagem abaixo). Descreva o que ela significa e como esse tão importante símbolo representa a atuação do psicopedagogo diante da aprendizagem e aplique esse conceito em relação ao aprender de crianças com transtornos e síndromes conforme foi visto em toda essa disciplina. __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 151 A atuação do Psicopedagogo diante dessas alterações é a de resgatar a individualidade de aprendizagem de cada paciente, de trabalhar de forma conjunta com os demais terapeutas e profissionais envolvidos em cada tratamento visando trocar informações e refletir sobre como todos em conjunto podem contribuir para um melhor aprendizado daquele sujeito. Determinar as possibilidades de sua atuação e esclarecer até onde vai o seu trabalho e onde outro profissional deve entrar por se tratar de uma área que não faz parte da sua formação e atuação. Acesse o site da Abpp (Associação Brasileira de Psicopedagogia) e leia o Código de ética do Psicopedagogo (https://www.abpp.com.br/documento s_ referencias_codigo_etica.html). O Código de Ética tem o propósito de estabelecer parâmetros e orientar os profissionais da Psicopedagogia brasileira quanto aos princípios, normas e valores ponderados à boa conduta profissional, estabelecendo diretrizes para o exercício da Psicopedagogia e para os relacionamentos internos e externos à Abpp. Aproveite para refletir nos itens do código que abordam a avaliação e intervenção psicopedagógica, assim como a atuação desse profissional. 8.2) Reflexões sobre avaliação e intervenção psicopedagógica A avaliação e intervenção psicopedagógica tem como objetivo identificar os “problemas e dificuldades” em relação a aprendizagem de cada pessoa para direcionar e descobrir qual a maneira mais adequada e contextualiza de intervir em cada caso para que aquele paciente avance nos processos de aprendizagem. 152 Segundo Fernández (1991) o ponto de partida é o motivo da consulta, a primeira queixa que é apresentada ao Psicopedagogo, a razão pela qual aquele momento está acontecendo, qual o sintoma que está sendo apresentado inicialmente, e normalmente esse primeiro contato é com os responsáveis e com a sua forma de ver o não aprender. Paín (1985, p.35) descreve que: Ainda antes da entrevista propriamente dita, consideraremos a via pela qual o paciente chegou até nós, enquanto individuo ou instituição; pode ter sido encaminhado pela professora, pelo médico, por outra pessoa com um problema parecido com o seu, por outro psicólogo, ou, então, movido por algum tipo de publicidade. Isto nos será útil para esclarecer ao colocar o problema como próprio ou como imposto de fora; não é a mesma coisa dizer “eu vim consulta-lo porque meu filho tem um problema escolar” do que dizer “vim porque a professora mandou” ou “venho a partir do dr. fulano”, revelando, assim, o grau de independência com que o paciente assume seu problema. Esse primeiro momento, do motivo da consulta auxilia o psicopedagogo a estabelecer alguns aspectos importantes que auxiliarão na avaliação da aprendizagem, conforme pode ser visualizado na Figura 38: Figura 38: Aspectos a serem verificados no motivo da consulta FONTE: (PAÍN, 1985, p.42, adaptado por PAZETO, 2019) Porém além desse relato inicial é importante ouvir do paciente o porquê ele acredita que está ali, se ele sente que tem alguma dificuldade para aprender algo ou como ele se sente quando está na escola, na sala de aula, quais desafios que enfrenta. Nesse ponto tudo depende do desenvolvimento e A) Significação do sintoma na família ou, com maior precisão, articulação funcional do problema de aprendizagem; B) Significação do sintoma para a família, isto é, as reações comportamentais de seus membros ao assumir a presença do problema; C) Fantasuas de enfermidade e de cura e expectativas acerca de sua intervenção no processo diagnóstico e de tratamento; D) Modalidades de comunicação do casal (ou dos responsaveis) e função doo terceiro. 153 potencial de comunicação de cada criança avaliada, pois dependendo do comprometimento da alteração pode ser que esse retorno-relação não seja possível de ser construída dessa forma, e desafia-se o profissional a tentar descobrir alguma forma e obter essa informação conhecendo seu paciente. Depois é o momento de realizar uma entrevista com os pais sem o paciente e de ter o primeiro contato com ele individualmente, para que o vínculo seja inicialmente construído antes de se iniciar a avaliação de forma mais sistemática com os testes padronizados e materiais direcionados. Esses testes/ provas são fundamentais para avaliar como o cognitivo de cada criança, nas mais diversas áreas e habilidades que podem ser avaliadas está. Como estão os seus processos de aprendizagem quando comparados a crianças da mesma idade e ano escolar, para que assim seja possível identificar o atraso, e a sua dimensão. Não é objetivo dessa disciplina nem dessa unidade apresentar instrumentos ou testes que o psicopedagogo pode utilizar, mas sim refletir sobre o processo deavaliação e intervenção em relação ao grupo abordado e descrito em toda essa disciplina, reforçando a importância do seu papel e de sua atuação! A figura 38 descreve o que o psicopedagogo deve analisar durante esse momento de avaliação: Figura 38: Aspectos analisados na avaliação psicopedagógica 154 FONTE: (PAÍN, 1985, adaptado por PAZETO, 2019) Com esses dados levantados chega o momento da devolutiva, o de compartilhar com os responsáveis como a situação está naquele momento e quais serão os próximos passos. Crianças com alterações e transtornos dificilmente estarão apenas com o psicopedagogo envolvido em seu tratamento, por isso é importante envolver toda a equipe que atua com aquele paciente. É a avaliação que orienta a intervenção! Atividade de Aplicação Assista ao vídeo “A importância da Avaliação Psicopedagógica”, disponível em: (https://www.youtube.com/watch?v=ODcnDpDwb9I) da equipe da NeuroSaber. Segundo os pesquisadores a Avaliação Psicopedagógica é indicada após identificar alguns aspectos no desempenho escolar, que muitas vezes não estão de acordo com o esperado ou o processo de leitura e escrita está aquém se comparado com as demais crianças da turma e apresenta Motivo da Consulta; História Vital: história da criança; Antecedentes natais: pré-natais; perinatais e neonatais; Doenças; Desenvolviment o: motor; linguagem e hábitos; Aprendizagem: como ela aprende; Provas psicométricas: testes e provas padronizados e estruturados; Devolutiva com base e sua hipótese diagnóstica. 155 dificuldades na compreensão de uma determinada disciplina. Com base no vídeo descreva a importância da avaliação psicopedagógica e quais aspectos o Psicopedagogo deve se atentar durante esse processo. __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ O tratamento psicopedagógico, também conhecido como intervenção psicopedagógica, tem como objetivo então diminuir ou desaparecer com os sintomas do não aprender, visando retornar o sujeito aos padrões ‘normais’ de aprendizagem de acordo com a crianças da mesma idade e ano escolar. Porém, segundo Paín (1985, p. 81) ... não basta aprender para aprender bem”, por esse motivo a autora estabelece 3 fundamentos que devem ser considerados nesse momento: 1) Em primeiro lugar o objetivo do tratamento é conseguir uma aprendizagem que seja uma realização para o sujeito. Este termo resume o processo pelo qual o individuo se transforma em uma realidade, e isto por meio de duas instancias complementares, uma enquanto alcança sua identidade nas suas capacidades e, outra enquanto compreende a si mesmo como articulação de uma sociedade que se transforma; 2) Em segundo lugar, o objetivo do tratamento é conseguir uma aprendizagem independente por parte do sujeito. Já dissemos que tal enquadre psicopedagógico reforça o vinculo do paciente com a tarefa e não com o psicólogo, o qual configura-se como testemunha do processo... O único conhecimento válido é o que foi processado pelo sujeito, o que consta como uma experiência pessoal...; 156 3) Por último, salientamos o ultimo objetivo psicopedagógico, que é o de propiciar uma correta autovalorização. A avaliação da tarefa é preocupação de cada sessão e constitui uma aprendizagem tão valiosa como a própria tarefa... Acostumadas às gratificações secundárias da aprendizagem e submetidas à competição da nota ou do lugar, as crianças continuam procurando fora a notícia de seu rendimento e deixam de atender o sinal interno de satisfação. PAÍN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1985. A intervenção psicopedagógica será construída então com base nos aspectos e dificuldades encontradas na avaliação e será alinhada com a família e demais profissionais envolvidos com objetivo de oferecer o melhor e mais adequado tratamento para cada caso. É importante que o psicopedagogo respeite a criança, e sua modalidade de aprendizagem e que busque construir uma relação pautada na confiança e na credibilidade no aprender, que consiga resgatar no sujeito a vontade e disposição pelo aprendizado, mostrando que ele é capaz desde que ambiente proporcione o que ele precisa, assim como que ele utilize as estratégias e combinados ensinados. Uma boa intervenção deve ser pensada, organizada e estruturada para cada paciente de forma individual, para que assim consiga atender suas demandas e especificidades do aprender, já que cada pessoa é diferente e possui uma história de vida única com esses processos. 157 Uma atuação ética em Psicopedagogia pressupõe: I. Respeitar o Código de Ética independentemente da abordagem particular do profissional. II. Possuir formação adequada para o exercício profissional. III. Atualização técnico-científica a respeito da aprendizagem humana. IV. Respeitar normas de publicação científica. Está correto o que se afirma em A) I e II, apenas. B) II e III, apenas. C) III e IV, apenas. D) I e III, apenas. E) I, II, III e IV. FONTE: (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA – 2010 – PSICOPEDAGOGIA) __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 158 Gabarito: Resposta correta é a alternativa “e”, na qual todos os itens estão corretos, e segundo o código de ética do psicopedagogo, indicada a leitura no ‘Saiba mais’ é possível verificar que todos os itens fazem parte de uma atuação ética e coerente do profissional de psicopedagogia. Sobre os Fundamentos da Psicopedagogia e seu objeto de estudo, assinale a alternativa que melhor define essa área do conhecimento. A) Área do conhecimento que surge para atuar especificamente com crianças portadoras de dificuldades de aprendizagem. B) É uma área interdisciplinar que reúne conhecimentos de várias ciências e ramos do conhecimento, buscando a compreensão, de forma integrada, do processo de ensino-aprendizagem. C) Área do conhecimento que surge da demanda Clínica e Institucionalem escolas para diagnosticar problemas no âmbito da aprendizagem e modificar esse processo. D) A Psicopedagogia, apesar do crescimento observado na última década, ainda não conseguiu delimitar seus fundamentos. Promove uma integração de conceitos ainda muito confusa, o que compromete a definição de seu objeto de estudo. E) A Psicopedagogia procura, por meio de sua atuação, melhorar a relação do sujeito com a aprendizagem dentro do ambiente escolar. FONTE: (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA – 2010 – PSICOPEDAGOGIA, adaptado por PAZETO, 2019) __________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 159 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Resposta correta é a alternativa “b”. Na alternativa ‘a’ a atuação do psicopedagogo não é especifica com crianças portadoras de dificuldades de aprendizagem, pois ao longo dessa disciplina foi abordado outras alterações que também se constituem como campo dessa atuação. Nas alternativa ‘c’ e ‘e’ diz que a demanda surge em escolas, porém a demanda no não aprender além de vir de escolar também pode ser proveniente dos mais diversos campos institucionais: ongs, abrigos, hospitais, empresas, entre outros. Por fim a alternativa ‘d’ descreve que a psicopedagogia não tem seus fundamentos delimitados, o que não é verdade e o código de ética do psicopedagogo auxilia para mostrar que seu fundamento se dá na aprendizagem. Olá, aluno(a)! Chegamos ao final da Unidade VIII onde estudamos a atuação do psicopedagogo diante das dificuldades, transtornos de aprendizagem e outras alterações do desenvolvimento. Nesta Unidade VIII fizemos reflexões sobre as formas de avaliação e intervenção psicopedagógica. Vamos conferir o Resumo do que aqui foi apresentado? Os processos de aprendizagem e a forma de aprender são diferentes em cada um dos Transtornos e das Síndromes; Mesmo que considerem crianças dentro da mesma Síndrome e do mesmo Transtorno, a forma de cada um aprender é individual e construída com base na sua história de vida, no seu diagnóstico, prognóstico, nas intervenções e tratamentos que realiza, no envolvimento a família e principalmente no sujeito; 160 Cada criança, adolescente, adulto e idoso possui potencial dentro de si para aprender e cabe ao psicopedagogo conhecer cada sujeito e identificar como nele, nas suas relações familiares, no seu convívio social e profissional o aprender e o não aprender foram sendo construídos e estruturados; A atuação do Psicopedagogo é a de resgatar a individualidade de aprendizagem de cada paciente, de trabalhar de forma conjunta com os demais terapeutas e profissionais envolvidos em cada tratamento visando trocar informações e refletir sobre como todos em conjunto podem contribuir para um melhor aprendizado daquele sujeito; A avaliação e intervenção psicopedagógica tem como objetivo identificar os “problemas e dificuldades” em relação a aprendizagem de cada pessoa para direcionar e descobrir qual a maneira mais adequada e contextualiza de intervir em cada caso para que aquele paciente avance nos processos de aprendizagem; A avaliação envolve o: motivo da consulta; história da criança; antecedentes pré-natais, perinatais e neonatais; doenças; desenvolvimento: motor, linguagem e hábitos; como ela aprende; provas psicométricas, testes e provas padronizados e estruturados e a devolutiva com base e sua hipótese diagnóstica; O tratamento psicopedagógico, também conhecido como intervenção psicopedagógica, tem como objetivo então diminuir ou desaparecer com os sintomas do não aprender, visando retornar o sujeito aos padrões ‘normais’ de aprendizagem de acordo com a crianças da mesma idade e ano escolar; A intervenção psicopedagógica será construída então com base nos aspectos e dificuldades encontradas na avaliação e será alinhada com a família e demais profissionais envolvidos com objetivo de oferecer o melhor e mais adequado tratamento para cada caso. Esperamos que você tenha apreciado os conteúdos desta disciplina e que se sinta mais preparado(a) para o próximo passo em sua formação como psicopedagogo(a). Lembramos que não existe uma “receita de bolo”, um remédio ou tratamento eficaz em nossa profissão. Cada caso é um caso e assim deve ser analisado: o cliente, a família, a escola, o professor, os profissionais da equipe multidisciplinar são seres únicos e assim deve ser feita sua análise, OK? Até uma próxima! 161 162 REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014. ARDILA, A.; OSTROSKY-SOLÍS, F. Diagnóstico del daño cerebral: enfoque neuropsicológico. México: Editorial Trilhas, 1996. BOLSONI-SILVA, A.; DEL PRETTE, A. Problemas de comportamento: um panorama da área. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 2, p. 91-103, 11, 2003. BRASIL, Ministério da Educação. 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