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Introdução à psicolinguística e neurociência da linguagem - Semana 1

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Intro à Psicolinguística e neurolinguística Quadrimestre 2023-1 Aula 1 
 
i n t r o d u ç ã o 
 
Prof. Katerina Lukasova 
 
 
A aula de hoje é uma breve recapitulação de assuntos gerais 
da neurociência que serão necessários para o melhor entendimento da 
disciplina. 
Primeiro iremos estudar a anatomia e fisiologia do neurônio, 
depois as estruturas subcorticais (parte mais antiga do encéfalo) e, por 
fim, o córtex (região mais recente, responsável pelos processos de alta 
ordem, incluindo a linguagem). 
 
 
A imagem ao lado é clássica. Dos 
autores Santiago Ramón y Cajal, são células 
cerebrais, os neurônios, após serem marcados 
por uma técnica histológica desenvolvida por 
Camilo Golgi. 
Esses dois cientistas tinham visões 
opostas sobre a arquitetura neuronal. Golgi 
acreditava na hipótese de uma rede 
articulada, com células interconectadas por todo o nosso cérebro. Ramón 
y Cajal, por sua vez, acreditava que isso era equivocado e que os 
neurônios seriam unidades discretas; e inferiram 3 características (que 
estavam corretas) sobre os neurônios (1) que eles se conectam em 
pontos específicos do corpo celular, (2) que essas conexões não ocorrem 
ao acaso e (3) que os sinais elétricos transmitidos pelos neurônios, 
viajam pelo corpo neuronal em uma direção única. A confirmação de 
Ramon y Cajal ocorreu na década de 1950, com a invenção do 
microscópio eletrônico que permitiu visualizar a separação entre os 
neurônios. 
Apesar da inimizade entre os cientistas, ironicamente, ambos 
foram fundamentais para o desenvolvimento da neurociência. E em 1906 
compartilharam o prêmio Nobel. 
 
Estrutura 
 Na imagem temos 
uma representação de um 
neurônio. Ele é composto 
basicamente de 3 partes: 
a Dendritos que 
recebem os sinais vindo de outros 
neurônios; 
b Corpo celular que possui núcleo e organelas celular para o 
funcionamento da célula; 
c Axônios, que são projeções alongadas que partem do corpo 
celular e se estendem por uma distância que pode variar de milímetros 
a metros. É por ele que os sinais viajam até os botões sinápticos ou 
terminais axônicos (fim do axônio), onde, então, o neurônio fará uma 
conexão com outra célula. A sinapse é, portanto, o espaço que existe 
entre os terminais axônicos de uma célula e os dendritos de outras. 
Uma técnica evolutiva que ocorreu para aumentar a 
velocidade da transmissão do sinal pelo axônio, foi o surgimento da 
bainha de mielina, um invólucro adiposo que, como uma dita isolante 
em um fio elétrico, isola o axônio, facilitando a propagação de sinal. A 
bainha é descontínua, e os espaços entre uma bainha e outra é chamada 
de nódulo de Ranvier, local onde o sinal elétrico se renova (condução 
ativa – a ocorrência de potenciais de ação nos nódulos de Ranvier, 
permitindo que o sinal percorra todo o axônio sem dissipar). 
 
Como ocorre a transmissão de sinal? 
A palavra-chave é 
“eletricidade”. Na imagem, 
vemos que os dendritos dos 
neurônios recebem centenas ou 
milhares de terminais axônicos 
de outras células. 
Essa carga elétrica 
viaja de forma passiva até o 
corpo celular (fluxo passivo de correntes elétricas dos dendritos até o 
corpo celular), onde ocorre uma somação de todas essas descargas. Se 
o valor dessa soma ultrapassa um limiar, temos o disparo de um 
potencial de ação (mudança elétrica abrupta no neurônio, que passa a 
ter uma carga positiva dentro do axônio), dando início à uma fantástica 
cadeia de transformações químicas dentro desse neurônio. Há uma troca 
de íons (partículas elétricas presentes dentro e fora das células), por 
meio de diversos canais iônicos presentes na membrana celular, de tal 
forma que a voltagem intracelular passa rapidamente de negativa, para 
positiva, isto é, a célula despolariza. Em seguida, outros canais iônicos 
se abrem, permitindo a saída de 
íons positivos de dentro, para 
fora da célula, fazendo com que 
o potencial interno volte a ficar 
negativo; em um primeiro 
momento, negativo o até 
demais, fenômeno chamado de 
hiperpolarização, que impede que o neurônio despolarize novamente 
logo em seguida, fazendo, assim, com que o sinal elétrico viaje em 
direção ao terminal axonal, ao invés de retornar ao corpo celular. Após 
Relembrando... 
O neurônio 
Introdução 
 
todos esses processos, a célula volta ao seu ponto inicial, chamado de 
potencial de repouso. 
Quando o pulso elétrico chega ao terminal axonal, para que 
ele possa ser transmitido ao dendrito da célula seguinte, na maioria das 
vezes, o impulso induz o lançamento de neurotransmissores nas 
sinapses (substâncias químicas que “carregam o sinal” através das 
sinapses). Essas substâncias químicas se ligam a receptores específicos 
dos dendritos, como um mecanismos chave-fechadura, gerando uma 
pequena carga elétrica, que novamente, passa a viajar passivamente até 
o corpo celular deste novo neurônio, reiniciando o ciclo. 
Algumas das técnicas de neurociências são capazes de medir 
essas variações elétricas que ocorrem no cérebro, afim de dizer, de forma 
direta ou indireta, se o neurônio ou conjunto deles em determinada área 
estão “ativos”, ou seja, despolarizando e trocando informações com 
outros neurônios. 
Um parênteses importante é que nem todos neurônios e 
neurotransmissores são excitatórios (capazes de aumentar a 
probabilidade do próximo neurônio disparar), alguns são inibitórios, 
fazendo com que a substancia lançada na fenda sináptica seja um 
neurotransmissor inibitório, que irá se ligar aos receptores do próximo 
neurônio, tornando menos provável o disparo de um potencial de ação. 
 
Fonte de energia 
Essa atividade 
neuronal toda tem um custo 
energético alto. Apesar de ter 
um tamanho relativamente 
pequeno, representando de 
2-3% do nosso peso 
corporal, o cérebro consome 
20% do sangue oxigenado. 
As hemoglobinas carregadas de oxigênio chegam através das artérias 
(vasos que levam sangue oxigenado do coração ao resto do corpo, 
incluindo o cérebro), representadas em vermelho na imagem. Essas 
artérias se ramificam em arteríolas (artérias pequenas) e, depois em 
capilares, que são vasos sanguíneos extremamente finos (não muito mais 
largos que uma hemoglobina) de onde o oxigênio é extraído, e assim, 
conseguem chegar em partes mais escondidas do tecido cerebral. 
Depois de fornecer oxigênio, as hemoglobinas, agora 
desoxigenadas, voltam ao coração pelas veias, representado em preto na 
imagem. 
Outras técnicas em neurociência são capazes de monitorar o 
nível de hemoglobina oxigenadas e desoxigenadas e no informar, de 
forma indireta, se aquela região esta “ativa” ou não, a depender da 
quantidade de energia consumida em função do tempo. 
 
 
Tronco encefálico e tálamo 
Agora que vimos a unidade básica do SNC, veremos as 
principais estruturas encefálicas e suas principais funções. 
Por definição, o encéfalo se inicia ao final da medula espinal, 
com o conjunto de três estruturas verticais sequenciais, que formam o 
tronco encefálico: (1) bulbo ou medula oblongata (tem forma de um 
cone e é o ponto de conexão da medula espinal com o encéfalo); (2) 
ponte e (3) mesencéfalo. Juntas, essas três estruturas controlam as 
funções básicas vitais do nosso corpo, como a taxa cardíaca, pressão 
arterial, respiração, sono, deglutição etc. 
 
O tronco encefálico também é a porta de entrada dos nervos 
cranianos, com exceção dos nervos olfatórios e ópticos. Ele recebe 
informações sensoriais e envia comandos motores à cabeça e ao pescoço. 
Alguns desses nervos são essenciais para a percepção e para a produção 
da fala. 
Logo acima do tronco encefálico, temos o tálamo. Ele é 
conhecido como a porta de entrada dos sinais sensoriais ao córtex, a 
região desenvolvida mais recentemente no nosso cérebro. Toda a 
informação sensorial (visual, auditiva etc.), com a exceção da informação 
olfativa, chega nos núcleos do tálamo, antes de seguir parasua respectiva 
área cortical de processamento. Mas além de encaminhar esses sinais 
aos respectivos alvos corticais, o tálamo recebe informações/feedback de 
todo o córtex. Lembrando que a informação a que nos referimos são 
sinais elétricos, que chegam por meio dos potenciais de ação, portanto 
essa atividade elétrica recíproca, gera reverberações, os chamados 
potenciais de campo, que são capazes de sincronizar a atividade neural 
de áreas distintas e muitas vezes, afastadas umas das outras, facilitando 
o processo de atenção, memória de curto prazo e a coordenação dessas 
áreas distintas durante representações mentais multifacetadas. 
 
Hipocampo e amígdala 
 
Tanto o hipocampo como a amigdala são pares, ou seja, 
presentes em ambos os hemisférios. O hipocampo ganhou esse nome 
por lembrar o formato de um cavalo marinho. Junto com outras 
estruturas próximas como o fórnix e os corpos mamilares, ele é 
fundamental para a formação de memórias declarativas de longo prazo. 
Essas memórias se referem a informações que podem ser facilmente 
lembradas e verbalizadas, como fatos sobre o mundo, qual a maior 
cidade do Brasil, ou ainda informações sobre você mesmo (informações 
bibliográficas), como qual a cor dos seus olhos ou em qual universidade 
você estuda. 
Um conjunto enorme de informações de várias partes 
distintas do córtex é enviado ao hipocampo que faz uma classificação e 
organização espaço-tempo dessas informações inicialmente desconexas, 
formando nossos episódios de experiencias. 
Anatomia do cérebro 
 
Ele mantem estes padrões complexos e relacionais e, 
gradualmente, no período que pode chegar a anos, os envia de volta ao 
córtex, onde permanece de forma praticamente permanente 
representados por fortes conexões sinápticas em uma população 
neuronal. Esse processe é chamado de consolidação da memória. 
Essas descobertas foram feitas por neuropsicólogos que 
investigaram pacientes com lesões cerebrais nessas estruturas. O que 
observaram é que pacientes que tiveram lesões hipocampais, eram 
incapazes de formar novas memórias e não são capazes de recordar 
informações em um período próximo que antecedeu o acidente, 
portanto o processo de consolidação da memória é impedido sem o 
correto funcionamento do hipocampo. 
 
Já a amigdala (ou amigdalas, uma em cada hemisfério), é um 
conjunto de neurônios que formam uma estrutura que lembra uma 
amêndoa, e está diretamente envolvida no processamento emocional. 
Em particular, é importante para a avaliação rápida e constante da 
saliência e importância dos diversos estímulos que encontramos no dia-
a-dia, nos dando indicações ágeis sobre o quão potencialmente nocivos 
cada um pode ser ao nosso bem-estar. Com relação à linguagem, há 
evidências de que a amigdala contribui para a nossa percepção de 
prosódia emocional. 
 
Núcleos da base e cerebelo 
Próximo ao tálamo e a amígdala, há uma série de estruturas 
que formam os núcleos da base. Elas incluem o núcleo caudado e 
putâmen, conhecidos coletivamente como estriado, além do globo pálido 
interno e externo, dentre outros. 
O estriado, em particular, recebe sinais da maior parte do 
córtex e realiza o reconhecimento de situações familiares através desses 
sinais, como por exemplo, se deparar com uma luz amarela no semáforo. 
Ele, então, envia as informações a outras estruturas do núcleo da base 
por duas vias paralelas, a via direta e indireta. 
A via direta, basicamente, facilita a realização de uma ação 
motora julgada apropriada para aquela situação, segundo a história de 
aprendizagem do organismo. Como por exemplo, frear ao se deparar 
com uma luz amarela do semáforo. 
A via indireta, por sua vez, inibe uma ação motora julgada 
como inapropriada para aquela situação, por exemplo, não acelerar na 
situação do farol amarelo. 
O resultado dessa operação, portanto, são recomendações do 
que fazer e do que não fazer, que são enviadas a áreas frontais do córtex, 
através do tálamo, para outras considerações. 
Assim, os núcleos da base são importantes para aquisição, 
seleção, inicio e término dos chamados comportamentos habituais e/ou 
habilidades de procedimento; que envolvem não somente 
comportamentos manifestos (over-behavior), mas também aqueles 
inobserváveis (cover-behavior), com os pensamentos participando tanto 
da produção quanto da compreensão da linguagem. 
 
Já o cerebelo ocupa um grande espaço atras do bulbo e ponte, 
contendo mais de 2/3 de todos os neurônios do cérebro, sendo que 
alguns tipos, como os neurônios de Purkinje, têm arvores dendríticas 
prodigiosas que recebem sinais de até 200 mil outras células. O cerebelo 
contribui com a regulação do tônus muscular para garantir que os 
movimentos sejam executados de forma fluida, no momento correto e 
coordenado com outros movimentos do corpo. 
Além de causar problemas de equilíbrio, lesões no cerebelo 
decorrentes de doenças degenerativas como o Parkinson, prejudicam o 
controle articulatório e pode levar à um quadro de disartria, que é a 
perda da capacidade de articular palavras de uma forma normal. 
 
Córtex 
Lobos 
Agora veremos o córtex, a parte mais evoluída do cérebro 
humano. Trata-se do revestimento exterior do cérebro, sendo todo 
dobrado para caber na caixa craniana. Com a espessura de aproximada 
de 2-4 mm. 
Há cerca de 30 bilhões de neurônios no córtex e cada um se 
conecta, ao menos, com outros mil neurônios do próprio córtex, criando 
uma grande rede de troca de informações que suporta os nossos 
processos mentais mais sofisticados, como o processamento da 
linguagem. 
O córtex é dividido em 4 principais lobos que são visíveis 
internamente (frontal, parietal, occipital e temporal) e um lobo 
escondido (ínsula ou córtex insular), abaixo da fissura Sylviana. 
 
 
 
 
Giros e sulcos 
Uma forma adicional de se referir a diferentes partes do 
córtex é por giros e sulcos, que são os picos e vales, respectivamente, da 
conformação cortical. 
a Giros: protuberâncias elevadas do córtex cerebral; 
b Sulcos: ranhuras profundas do córtex cerebral. 
 
 
 
Citoarquitetura 
Uma característica marcante do 
córtex é sua organização neuronal por 
camadas bem definidas. Há 6 camadas 
celulares, cada uma definida, não só pelo 
tipo de neurônio que a compõe, mas 
também de acordo com as conexões que 
esses neurônios fazem. por exemplo, 
neurônios nas camadas I, II e III, 
geralmente se projetam, ou seja, enviam 
axônios para outras áreas corticais. A camada IV, tipicamente recebe 
inputs do tálamo. A camada V faz projeções para estruturas motoras 
subcorticais. E neurônios da camada VI enviam sinais ao tálamo. 
 
Áreas de Brodmann 
Com base na localização e tipo de neurônio há uma série de 
propostas de divisões das subáreas do córtex. A proposta mais famosa e 
mais utilizada é de Brodmann. Nesse mapa há 47 áreas corticais 
distintas. Não há um consenso sobre quantas áreas distintas o córtex 
possui e onde estão localizadas, mas para propósitos dessa área 
introdutória, suficiente dizer que as áreas de Brodmann são ainda muito 
utilizadas para se referir a regiões especificas do cérebro e estabelecer 
paralelos com áreas corticais de espécies não humanas. 
 
Conexões 
As diferentes áreas corticais não funcionam isoladas, pelo 
contrário, são massivamente interconectadas. A maioria dos processos 
complexos mentais requer o trabalho em conjunto e orquestrado de 
regiões corticais distintas. Essa comunicação ocorre por feixes ou tratos 
(por onde axônios passam – lembrando que axônios são estruturas de 
matéria branca). A maior e mais densa é o corpo caloso, pelo qual 
passam mais de 100 milhões de axônios interconectando os dois 
hemisférios. Já os tratos que conectam diferentes áreas corticais do 
mesmo hemisfério são chamados de fascículos. 
A imagem abaixo mostra o fascículo arqueado, que conecta 
importante regiões envolvidas com a linguagem, como a área de Broca 
ea área de Wernick. 
 
 
Organização funcional 
Depois de rapidamente revisar alguns aspectos importantes 
sobre a estrutura básica do córtex, veremos agora sobre sua organização 
funcional. 
 
A informação que chega dos olhos, ou seja, a informação 
visual captada pela retina, viaja até o tálamo e de lá é retransmitida ao 
lobo occipital, para a região do córtex visual primário ou área de 
Brodmann 17. Já a informação que chega dos órgãos internos, é 
retransmitida pelo tálamo até o córtex somatossensorial primário, no 
lobo parietal. E assim que ocorrem aos diversos sinais que chegam até 
nós. 
 
 
Uma característica interessante de algumas áreas corticais, 
como a área visual primária motora e somatossensorial é a precisa 
organização sequencial da informação no tecido cortical. A figura abaixo 
mostra como áreas distintas do corpo são representados nos córtices 
motor (direita) e somatossensorial (esquerda). 
 
 
Note na esquerda que há uma área desproporcionalmente no 
córtex somatossensorial dedicado às partes mais sensíveis do corpo, 
como mãos, pés, lábios, língua e órgãos genitais. 
Um fato interessante é que as áreas somatossensoriais, 
principalmente o córtex motor, participam também da linguagem, 
principalmente com palavras relacionadas a movimento. Por exemplo, 
palavras como chutar ou andar ativam a região correspondente aos pés; 
o que mostra que o funcionamento neural é integrado em ambos 
circuitos, envolvendo diversas áreas. 
 
 
 
 
Agora veremos sobre algumas regiões importantes para a 
linguagem. 
No geral, o cérebro 
humano tem uma forte 
especialização do cérebro 
esquerdo para a linguagem, 
com duas regiões de destaque: 
A área de Broca, localizada 
aproximadamente nas áreas 44 
e 45 de Brodmann; e a área de 
Wernick, no giro temporal e regiões adjacentes. 
O model clássico de entendimento dessas áreas dizia que a 
área de Broca representa imagens motoras das palavras e é essencial 
para a produção da fala. Já a área de Wernick representa imagens 
auditivas das palavras e é essencial para a percepção de fala. Ambas 
regiões se comunicam pelo fascículo arqueado. 
Hoje em dia, sabemos que o papel de cada área não é tão 
simples e delimitado assim. Ambas são consideradas epicentros 
multifuncionais que se comunicam com outras regiões frontais, 
temporais, parietais e occipitais no hemisfério esquerdo, assim como em 
várias regiões do hemisfério direito. assim, produzir e compreender 
sentenças envolve ter ações sinergéticas entre comunidades inteiras de 
áreas corticais. 
Abaixo temos o modelo proposto por uma neurocientista da 
linguagem, com base em uma extensa revisão de estudos da área, e nos 
dá uma ideia do tamanho e complexidade da rede neural envolvida na 
linguagem. 
 
 
Já o neurocirurgião Wilder Penfield, em 1930, testava a 
localização da linguagem em um grande número de pacientes por meio 
de pulsos elétricos aplicados no córtex do paciente acordado antes de 
cirurgias. Em tarefas de linguagem, uma grande região do córtex 
perisilviano (ou peri-sylviana), no hemisfério esquerdo, esteve envolvido 
na produção e na compreensão da linguagem, porem com o dado de 
117 pacientes mostrou que há uma grande variabilidade nessa resposta. 
 
O número dentro dos círculos indica a porcentagem de 
pacientes que, em reposta à estimulação daquele local, mostraram 
interferências da linguagem. A cobertura desses números vai além da 
área de Broca e Wernick (marcados em roxo e azul). 
Criticas poderiam ser feitas porque estudos neurocirúrgicos 
lidam com pacientes com alterações neurológicas, sendo assim, estudo 
de imagem em sujeitos saudáveis poderiam trazer mais dados por meio 
de imagens neurais não invasiva. 
 
 
Atualmente, após quase 100 anos dos estudos de Penfield, 
podemos concluir que as técnicas de imagem nos permitiram avançar, 
mas pouco em relação ao refinamento funcional e citoarquitetônico 
relevante para a nossa compreensão detalhada do complexo 
processamento da linguagem. 
As dificuldades desses estudos se deve a: 
- Baixa resolução espacial das técnicas de imagem; 
- Variação anatômica entre as pessoas – enquanto as áreas 
primarias tem suas localizações bem definidas anatomicamente por 
sulcos e giros, as regiões associativas com variação citoarquitetônica 
maior não têm associações boas como marcadores anatômicos, sendo 
que microgiros variam muito entre pessoas; 
- Dificuldade na definição das fronteiras anatômicas e 
funcionais; 
- Falta de mapas 3D referente a localização e extensão das 
regiões relevantes (desconsideração das camadas citoarquitetônicas). 
 
Áreas corticais importantes 
para linguagem 
Área de Broca e Wernick 
Arquitetura neural da linguagem 
 
O atual consenso sobre a área de Wernick é que ela engloba 
diversas regiões de córtex temporal e parietal inferior. No córtex 
temporal encontra-se o giro temporal superior, com uma região restrita 
chamada de giro de Herschel, que é a área 41 de Brodmann, indicado 
pela seta azul na imagem abaixo. Essa é a região auditiva primária e 
continua na área 42 de Brodmann, sendo a região auditiva secundária, 
englobando também uma porção do giro temporal médio, que é a área 
21 de Brodmann. Além disso, regiões do córtex parietal inferior, 
indicado pela seta vermelha, fazem parte da área de Wernick; 
especificamente o supramarginal (área 40 de Brodmann) e angular (área 
39 de Brodmann); esse conjunto de regiões tem papel essencial no 
processamento de sons relacionados ou não com a linguagem e 
conectam-se ao córtex frontal inferior, com a região de Broca, e outras 
regiões de suporte, tais como o córtex parietal e áreas motoras. Lesões 
nessas regiões levam ao grave comprometimento de compreensão. 
 
---- 
O que se sabe sobre a região do córtex frontal inferior, na 
Área de Broca? Como citado anteriormente, essa região é composta por 
duas demarcações de Brodmann, a 44 e 45, sendo que a citoarquitetura 
diferencia essas regiões vizinhas, pela presença de grandes células 
piramidais na camada III, que se projetam para outras regiões do mesmo 
hemisfério e para o hemisfério contralateral, formando circuitos 
robustos, o que é característico de sistemas similares responsáveis pela 
função tão complexas que é a linguagem. 
Analises histológicas da área 44 e 45 de Brodmann em 
humanos, mostrou diferenças na camada IV, que é bem definida na 45, 
mas indistinta na 44 – que é invadida pelas células piramidais da camada 
III e V. essa característica está presente também na região vizinha à área 
de Brodmann 6, que conecta a área de Broca com o córtex motor 
primário, o que sugere um forte envolvimento da área de Brodmann 44 
na articulação da linguagem. 
 
---- 
A localização anatômica da área 44 de Brodmann coincide 
com a parte opercular, indicado pela seta azul na imagem abaixo. E a 
área 45 com a parte triangular, indicado pela seta vermelho, no giro 
frontal inferior. Essa localização não é precisa e sabe-se que a 
variabilidade interpessoal nesse giro é alta, fazendo com que os 
marcadores anatômicos falhem, como o ramo ascendente da fissura 
lateral. 
 
Em resumo, a variação no tamanho, formato e porção 
citoarquitetônica da área 44 e 45 de Brodmann faz a localização 
anatômica ser apenas aproximada. Além disso, a figura anterior mostra 
que a região ainda pode ser subdividida quando se analisa que tipo de 
receptor predomina na região. 
---- 
 
Em termos de conectividade, as áreas 44 e 45 se conectam 
com a área auditiva primaria, no giro de Herschel, no giro temporal 
superior, e outras áreas no giro temporal superior e médio, como a área 
vermelha (área de Wernick). 
 
Essa conexão direta possibilita um mapeamento sensório-
motor com a informação fonológica, o que é essencial durante o 
desenvolvimento e aprendizagem da linguagem. A região 45 mostra 
assimetria funcional, já em criança acima de 5 anos; já a assimetria na 
44 tem sidoidentificado somente aos 11 anos; essa diferença se deve a 
diferenças funcionais, uma vez que a área 45 está ligada aos processos 
semânticos precoces, enquanto a área 44 responde pela aprendizagem 
da gramatica universal e estrutura hierárquicas complexas, tais como os 
processos sintáticos. 
---- 
A conexão do giro temporal com o córtex frontal se dá pela 
via dorsal da linguagem (feixes roxos), sendo em humanos, a principal 
conexão entre essas regiões; e pela via ventral, que são os feixes laranjas. 
 
A via dorsal dá o suporte na transformação de aspectos 
motores e sensoriais da linguagem e está parcialmente estabelecida após 
o nascimento, onde estudos mostram que é isso que dá suporte 
estrutural para bebês transformar o balbucio em uma espécie de 
 
comunicação precoce, direcionada ao ambiente linguístico presente. 
Outra parte dessa via se fortalece mais tarde, com processamento das 
formulações linguísticas cada vez mais complexas. 
Já a via ventral, que é o feixe laranja, conecta o córtex 
temporal com a área 45 de Brodmann e o córtex orbital. Estudos de 
conectividade mostram que essa via dá suporte para o processamento e 
aprendizagem em sequencias linguísticas mais simples, presentes na 
comunicação de outras espécies, dais como chipanzé ou macaco. Em 
resumo, a via ventral é mais antiga e pode ser encontrada em diversas 
espécies. O aumento na complexidade linguística da espécie coincide 
com a presença da via dorsal mais robusta. 
----- 
 
Considerando os estudos funcionais, há consenso de que 
diversas regiões participam nas tarefas de linguagem. Apenas para 
listarmos essas complexidades nos padrões de ativação neural avaliada 
pelas técnicas de ressonância magnética funcional, apresentamos abaixo, 
resultados de um estudo com adultos saudáveis. 
Quando os participantes realizam tarefas que envolvem 
visualização passiva da palavra, a ativação envolvia principalmente a 
região de reconhecimento visual das palavras, na região occipito-
temporal. Quando os participantes escutavam passivamente as palavras, 
a ativação se situou em uma grande parcela do córtex temporal e frontal 
inferior, como temos abaixo. 
 
 
Quando os participantes falavam as palavras, áreas motoras e 
sensoriais foram ativadas. Já quando os participantes faziam uma tarefa 
de associação de palavras, um diferente conjunto de ativação do giro 
temporal posterior e frontal inferior foi observado, como temos abaixo. 
 
Em resumo, a linguagem é uma função cognitiva 
extremamente complexa e como tal, além das tradicionais áreas de Broca 
e Wernick, as demais regiões corticais e subcorticais primarias e de 
associação participam na realização de tarefas de linguagem. 
 
Por fim, entendemos que a complexidade relacionada ao 
sistema da linguagem ao nível neural apenas reflete a variedade e riqueza 
da linguagem no nível comportamental. A linguagem e a língua são 
vivas, se transformando a curto e longo prazo.