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TASK119898

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ORIENTAÇÕES PARA A PRÁTICA 
PROFISSIONAL
ESTRATÉGIAS PARA A PRÁTICA 
PROFISSIONAL
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Compreender os termos e as condições para a construção da estratégia de ação profissional, considerando o
contexto institucional que viabiliza e condiciona a prática do Serviço Social;
2. Estabelecer a relação da estratégia de ação com os três níveis de competência exigidos do assistente social.
Relembrando...
Vimos na 2ª aula – na qual tratou-se de questões envolvidas na análise institucional - que a sociedade é um
tecido de instituições que se interpenetram e se articulam entre si, com o objetivo de regular, controlar, criar,
manter e reproduzir as relações sociais e as condições de convívio entre os sujeitos.
É nessa medida que dizemos que a vida em sociedade está submetida a regras, a um ordenamento
frequentemente denominado de Ordem Social, Ordem Dominante ou Ordem Societária.
- Mas, afinal, que “ordem” é esta que esse conjunto articulado de instituições se propõe a manter e
reproduzir?
Para compreendê-la em sua essência, é preciso ultrapassar a aparência das coisas, daquilo que está visível. É
preciso buscar, lá nos fundamentos dessa sociedade, o que está invisível, o que não é dito, o que é mascarado
pelas ideologias, pelo discurso dominante. E só através da análise crítica é possível desnaturalizar aquilo que, pela
simples razão de estar instituído, aparece como natural, como autêntico, imutável.
Só a crítica permite desnaturalizar a desigualdade social, a pobreza, a dramática situação da saúde, da educação e
dos serviços públicos em geral, a conversão dos Direitos Sociais em mercadoria cara, para poucos, além dos
rebatimentos de tudo isso na vida das pessoas, das famílias, enfim, da maioria da população excluída do sistema
de cidadania, e que só tem acesso a ele, e mesmo assim limitado como “clientela” dos Serviços Sociais.
A esses rebatimentos damos o nome de manifestações da Questão Social.
E é sobre eles que o assistente social é chamado a intervir; é seu objeto
de intervenção.
Os Serviços Sociais, apresentados como benesses, como concessões do Estado Provedor, são o suporte material
da atuação profissional do assistente social.
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E as entidades (instituições) são a base organizacional que condiciona e viabiliza esta atuação.
Vamos relembrar o que Marilda Iamamoto comenta sobre isso no livro Renovação e Conservadorismo no serviço
Social – Ensaios Críticos:
“O Assistente Social realiza sua ação a partir das manifestações imediatas das relações sociais no
cotidiano da vida dos indivíduos. É no cotidiano que se dá a reprodução das relações sociais”.
(IAMAMOTO, 1994, p. 102)
“Do ponto de vista da demanda, o Assistente Social é chamado a constituir-se em agente intelectual que
estabelece a relação entre instituição e população, entre solicitação de serviços e prestação dos mesmos.
Portanto, dispõe de poder atribuído institucionalmente de incluir e excluir os que têm ou não direito a
participar dos programas propostos, dada a incapacidade da rede de equipamentos sociais em atender a
demanda”.
(IAMAMOTO, 1994, p. 101)
Perceberam o tamanho do problema?
Voltemos a Marilda para que isso fique mais claro:
“O Serviço Social como profissão situa-se no processo de reprodução das relações sociais,
fundamentalmente como atividade subsidiária no exercício do controle social e na difusão da ideologia
da classe dominante, na criação das bases políticas para o exercício do poder de classe”. (IAMAMOTO,
1994, p. 102)
Ao longo da sua história, o Serviço Social teve que lidar com essa contradição.
Por um lado, a pressão das demandas institucionais no sentido de fazer do assistente social um agente do
controle social e da adesão obediente dos indivíduos à ordem estabelecida.
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Por outro, o compromisso com um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem
societária, bem como com os demais princípios que fundamentam a profissão. (Código de Ética Profissional).
Chegamos ao ponto:
A construção da estratégia de ação profissional é um dos momentos privilegiados no enfrentamento dessa
contradição. Porém, somente se for construída a partir do entendimento de que o campo institucional é um
espaço vivo de oposições múltiplas, de polarizações, eminentemente contraditório. Esse entendimento permite
ao profissional explorar um campo de possibilidades e alternativas de ação, em maior ou menor grau,
dependendo da correlação de forças presentes em cada conjuntura.
A s
considerações
de Faleiros:
As estratégias são sempre relacionais e situacionais, oriundas do confronto aberto
ou fechado de forças, dos recursos disponíveis, da organização dos enfrentamentos.
(FALEIROS, 2008, p. 30)
Para Faleiros (2008), as estratégias de ação em Serviço Social são construções teórico-metodológicas nascidas
do movimento fecundo que vai da teoria para a prática e da prática para a teoria.
A construção da estratégia de ação, entretanto, é uma atividade ligada à competência técnico-operativa do
assistente social, na medida em que corresponde ao instrumento por meio do qual ele vai operacionalizar a ação.
Conforme Martinelli e Koumroiyan (1994) citadas por Souza (2008), “Instrumental é o conjunto articulado de
instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional. Nessa ideia, o instrumento é
estratégia ou tática por meio da qual se realiza ação; a técnica é a habilidade no uso do instrumento”.
Todos nós sabemos que instrumento é o meio, o método através do qual se chega a algum lugar. Assim, quando
definimos uma estratégia, antes, precisamos saber qual o objetivo a alcançar.
Estratégia é, nesse sentido, uma escolha, uma opção que pressupõe uma tomada de decisão acerca do que se
pretende fazer. Antes, é preciso saber o que fazer; depois, como fazer.
Portanto, a competência técnico-operativa, ou seja, a habilidade que o profissional vai desenvolver na
apropriação e no uso do instrumental, depende do desenvolvimento de outras duas competências:
• A competência teórico-metodológica A : competência teórico-metodológicaqualifica o profissional 
para conhecer a realidade social na qual está inserido e com a qual trabalha, para perceber sua dinâmica, 
suas contradições e avaliar as possibilidades de novas estratégias profissionais.
• Acompetência ético-política A dita a direção social da sua prática, a partir da compreensão de que não :
há neutralidade na atuação profissional, de que ela se realiza nas relações institucionais de poder e saber, 
o que significa tomar posição, assumir os valores ético-morais expressos no Código de Ética e uma 
postura claramente vinculada aos interesses dos setores minoritários da sociedade.
Para ajudar a concretizar essa discussão, vou dar um exemplo prático:
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Eu recém chegava à Vara da Infância e Juventude do Rio, quando o Juiz Titular decidiu que os Processos de
Habilitação para Adoção passariam a ser atendidos em Grupo e não através do Estudo de Caso como vinha sendo
praticado há anos.
Uma das etapas do Processo de Habilitação para Adoção é o Estudo Social e Psicológico, atribuído à Equipe
Técnica do Tribunal de Justiça, através do qual se avalia quais pretendentes à adoção estão capacitados naquele
momento a assumir uma criança como filho, passando a compor o cadastro de adotantes.
Possivelmente, o Juiz tomou esta posição para agilizar os procedimentos de habilitação, já que o número de
pretendentes à adoção havia crescido muito. Como era de se esperar, houve alguma resistência na equipe,
sobretudo porque antes, no Estudo de Caso, cada profissional fazia seu trabalho de forma independente, muito
mais cômoda do que o trabalho em equipe.
Além do mais, no atendimento grupal proposto pelo Juiz, o trabalho seria realizado em equipe interdisciplinar,
com assistentes sociais e psicólogos juntos, o que também gerava resistências, pelo menos naquele momento, no
Tribunal de justiça do Rio, segundo minha observação.Outros, entretanto, viram nisso uma oportunidade de construir um trabalho mais eficaz do ponto de vista de
direcionar o trabalho da Vara para o que deveria ser prioritário: restabelecer o direito à convivência familiar das
muitas crianças abrigadas que esperam por uma família. Uma análise do Cadastro de Adotantes revelava que
algo em torno de 90% dos pretendentes preferiam bebês recém-nascidos, principalmente meninas brancas.
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Em contrapartida, o perfil do Cadastro de Adotandos revelava o oposto: as crianças reais, que estavam abrigadas
à espera de uma família, eram, em sua maioria, negras, pardas, do sexo masculino, tinham irmãos também
abrigados e idades acima de 5 anos. Ou seja, havia uma incompatibilidade gritante entre os dois cadastros.
O que significava que todo o esforço profissional, as horas de trabalho envolvidas na habilitação para adoção não
estavam servindo ao objetivo fundamental da Vara da Infância e Juventude, que é o de atender às necessidades
das crianças deslocadas do convívio familiar. E mais, que o Serviço Social tinha grande parcela de
responsabilidade nessa distorção.
O interessante a se observar é que ninguém da equipe desconhecia o problema. Toda hora alguém comentava
que estávamos trabalhando para os adotantes e não para as crianças abrigadas; que aquela trabalheira toda não
servia para nada... Sabe quando, dia após dia, todo mundo reclama, mas ninguém toma a iniciativa de propor algo
diferente?
Os adotantes ligando o tempo todo cobrando o bebê que nunca chegava; e as crianças abrigadas, a cada dia,
perdendo as esperanças de ganhar uma família.
Então, culpávamos a cultura do brasileiro, que não se abria para adoção de crianças maiores, que queria através
da adoção reproduzir a gravidez biológica. Reclamávamos do preconceito, dos medos e fantasias que
impregnavam a mentalidade dos adotantes, enfim, agíamos como se as coisas não pudessem ser mudadas, como
se nossa ação não fosse capaz de produzir algo novo, de transformar realidades.
Isso, aliás, é um dos efeitos das práticas reificadas, mergulhadas na rotina e no fluxo incessante de papéis e
procedimentos instituídos: a paralisia e a indolência. Dizendo isso, não estou fazendo nenhum julgamento moral.
Ao contrário, estou dizendo que todos nós, individualmente ou em equipe, estamos sujeitos a isso. Até porque a
rotina institucional favorece essas posturas.
A maneira mais eficaz de prevenir esse tipo de alienação é criar mecanismos que, sistematicamente, submetam
as práticas profissionais ao olhar crítico. Nosso próprio olhar, mas crítico, referenciado na teoria. O tempo todo
devemos refletir sobre o que estamos fazendo, sobre como estamos fazendo e sobre os resultados do nosso fazer
profissional.
Crise serve para isso, chacoalhar, sacudir a poeira, mexer, criar coisa nova. E foi isso o que a equipe fez.
Assistentes Sociais e Psicólogos se reuniram, pensaram juntos, pesquisaram, estudaram, e, ao final de um
pequeno período, conseguiram construir um projeto de ação específico para a habilitação que redirecionou todo
o trabalho de adoção da Vara, a partir da clarificação dos objetivos e da reformulação e criação de novas
estratégias.
Os grupos, conduzidos por um assistente social e um psicólogo, reuniam cerca de 20 pretendentes à adoção,
casais ou indivíduos. Cada grupo participava de 4 reuniões, cada qual voltada para um objetivo. A primeira, era
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de esclarecimentos sobre o processo de adoção: o encontro da criança, a guarda provisória, o estágio de
convivência, a possibilidade de contestação por parte da família biológica etc.
A segunda, objetivava desconstruir os mitos e fantasias que cercam a adoção. As idealizações, a questão da
revelação, vínculo afetivo e vínculo biológico na constituição familiar, adoção tardia, multirracial. Na terceira,
convidávamos alguém que já tivesse vivido a experiência da adoção para dar seu depoimento. Normalmente,
convidávamos alguém que tivesse adotado uma criança maior, de três anos para cima, ou grupo de irmãos,
criança de cor diferente da sua própria.
A quarta era reservada a falar das crianças reais disponíveis para adoção. Antes de entregarmos a lista dos
abrigos, informávamos que eles poderiam ser chamados a visitar uma criança abrigada, mesmo fora do perfil
desejado, mas que a recusa não implicaria a retirada do cadastro.
Agíamos com total transparência, dizendo claramente que o objetivo do nosso trabalho era inserir as
crianças que haviam perdido o vínculo com a família de origem numa família substituta. Não escondíamos
que nossa pretensão ao convidá-los a visitar uma criança abrigada era a de que eles pudessem se abrir para
outras possibilidades.
Esse redirecionamento das ações, essa nova estratégia de intervenção, trouxe surpresas animadoras em termos
do objetivo assumido: alguns adotaram crianças abrigadas, fora do perfil inicialmente definido, e o cadastro de
adotantes foi aos poucos se diversificando, embora não no nível desejado.
Num outro momento, cerca de dois anos depois desse trabalho, a equipe de Serviço Social deu um novo passo em
direção ao mesmo objetivo: escreveu um documento direcionado ao Juiz Titular, fundamentado por dados
obtidos em nova análise do cadastro de adotantes, e sugeriu que fosse dada preferência, na convocação para os
Grupos de Habilitação, àqueles que desejassem adotar crianças não recém-nascidas, sem preferência de cor, com
problemas de saúde.
Nenhum de nós acreditava que tal sugestão pudesse ser aceita. Fizemos porque julgamos que era nosso dever
profissional, mas foi aceita e implementada durante pouco mais de um ano.
Esta e outras experiências importantes aconteceram na Vara da Infância do Rio de 2000 a 2004. Algumas delas
foram adotadas por todas as varas de infância do TJ. Entretanto, com a substituição do Juiz, outras lógicas
passaram a determinar seu funcionamento e sua cultura.
Tudo mudou, outra correlação de forças se estabeleceu. São os fluxos e refluxos da história, um componente
decisivo da definição das estratégias de ação profissional.
Desse exemplo, podemos concluir:
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A estratégia de ação compreendeu o trabalho com grupos, a definição do número de participantes e de
reuniões, a escolha dos temas Embora o Juiz tenha imposto o trabalho com grupos. , toda essa estratégia foi
elaborada pela equipe a partir da clarificação do objetivo que se pretendia atingir.
Se não tivéssemos nos proposto a incidir sobre medos e preconceitos para mudar o perfil do cadastro,
provavelmente escolheríamos, sem qualquer critério, as pessoas para dar depoimentos de suas experiências.
Provavelmente, não faríamos a quarta reunião com aquele conteúdo. Ou, talvez, nem a fizéssemos, já que a
pressão do Juiz ia no sentido de agilizar os processos.
As técnicas usadas nas dinâmicas de grupo, na condução das reuniões, no encaminhamento das entrevistas
individuais, na visita domiciliar também foram escolhidas e articuladas à estratégia de modo a facilitar a
realização dos objetivos.
O trabalho interdisciplinar potencializou toda essa elaboração, na medida em que produziu um saber superior,
resultado da troca de conhecimentos.
A equipe de assistentes sociais e psicólogos soube produzir um discurso, que é ao mesmo tempo saber e ato, e
que por isso foi capaz de imprimir mudanças nas práticas institucionais.
A equipe de assistentes sociais e psicólogos teve competência e habilidade para explorar e ampliar o campo de
possibilidades de atuação profissional porque soube avaliar e incidir na correlação de forças em presença.
O que vem na próxima aula
• Iremos abordar a importância da observação como um importante instrumento de coleta de dados na 
atuação do assistente social, bem como os aspectos que devem orientar as visitas realizadas pelo 
assistente social.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu que a elaboração da estratégia de ação está condicionada e é gestada na dinâmica das 
práticas institucionais e da correlação de forças;
• Compreendeu que a construçãoda estratégia de ação está intimamente ligada à relação teórico-prática, 
porque é dessa relação que se consegue compreender as dimensões da realidade sobre a qual o 
profissional irá intervir por meio da estratégia;
• Compreendeu que a estratégia de ação, embora seja inerente à competência técnico-operativa, já que é 
um instrumento, só pode ser pensada a partir da articulação com as competências teórico-metodológicas 
e ético-políticas.
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	Olá!
	
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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