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Autora: Profa. Eva Cristina de Carvalho Souza Mendes Colaboradores: Prof. Nonato Assis de Miranda Profa. Silmara Maria Machado Orientação em Supervisão Escolar e Orientação Educacional Professora conteudista: Eva Cristina de Carvalho Souza Mendes Natural de Niterói–RJ, é graduada em Letras, pela Universidade Santa Úrsula – RJ, e Pedagogia, pela Universidade Católica de Santos - SP, Psicopedagoga, pela Faculdade Claretiana–SP, e especialista em Educação Infantil e Processo de Ensino e Aprendizagem do Ensino Fundamental – séries iniciais pela Faculdade São Luís-SP, e Educação a Distância pela Faculdade Senac–RJ, aperfeiçoamento em Gestão de Processos Avaliativos de Sistemas Educacionais – PUC/SP, Mestra em Educação, subárea Formação do Educador: dimensão político-pedagógica pela Universidade Católica de Santos-SP e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento, subárea Multidisciplinar em Saúde-Educação-Psicologia, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Supervisora de Ensino da Prefeitura Municipal de Santos, Coordenadora Local e Docente do Curso de Pedagogia - Universidade Paulista (campus Santos). Experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação, Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Profissional, Educação a Distância, Processo Ensino-aprendizagem, Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar, Psicopedagogia e Pedagogia. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M538o Mendes, Eva Cristina de Carvalho Souza Orientação em supervisão escolar e orientação educacional / Eva Cristina de Carvalho Souza. – São Paulo, 2013. 188 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-075/13, ISSN 1517-9230. 1. Supervisão escolar. 2. Planejamento. 3. Pedagogia I. Título. CDU 37.014 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Geraldo Teixeira Jr Amanda Casale Sumário Orientação em Supervisão Escolar e Orientação Educacional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO E LUGAR DE ENSINO-APRENDIZAGEM ..............9 1.1 Conhecendo a unidade escolar ...................................................................................................... 10 1.2 A pesquisa como instrumento de conhecimento da escola ............................................... 15 2 UNIDADES ESCOLARES COMO ORGANIZAÇÕES APRENDENTES: ASPECTOS CULTURAIS E ORGANIZACIONAIS ................................................................................................................ 17 3 SISTEMAS DE ENSINO E ESCOLAS PARTICULARES ............................................................................ 21 3.1 Sistema Federal de Ensino ................................................................................................................ 23 3.2 Sistema Estadual de Ensino ............................................................................................................. 23 3.2.1 Diretoria Regional de Ensino no Sistema Estadual de Ensino .............................................. 24 3.3 Sistema Municipal de Ensino .......................................................................................................... 25 4 A ESCOLA E SUA FUNÇÃO SOCIAL ........................................................................................................... 27 Unidade II 5 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NA ESCOLA E A AÇÃO DO PEDAGOGO .................................. 32 5.1 Planejamento: tipos e níveis e suas relações ............................................................................ 41 6 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E/OU PROPOSTA PEDAGÓGICA E PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA ................................................................................................................... 44 6.1 Projeto Político-Pedagógico/Proposta Pedagógica ................................................................ 45 6.2 Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola) ............................................................... 50 Unidade III 7 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E SUPERVISÃO ESCOLAR NA CONTEMPORANEIDADE .......... 57 7.1 Orientação educacional: a prática cotidiana ............................................................................ 57 7.2 A orientação educacional em relação à Direção da escola ................................................. 61 7.3 A orientação educacional em relação aos funcionários da escola e corpo docente ............. 62 7.4 Orientação educacional: relacionamento família-escola / escola-comunidade ........ 64 7.5 Orientação educacional e o trabalho com os alunos ............................................................ 70 7.6 Orientação educacional: relação escola-saúde ........................................................................ 76 7.7 Orientação Educacional e relações interpessoais.................................................................... 78 7.8 Orientação para o trabalho e qualidade de vida ..................................................................... 85 7.9 Orientação educacional e o lazer .................................................................................................. 86 7.10 Orientação para a escolha profissional e a vida do trabalho ........................................... 94 8 AÇÃO SUPERVISORA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: A PRÁTICA ............................................ 107 8.1 Professor-coordenador e suas atividades no processo educacional .............................125 8.2 Ação Supervisora e Orientação Educacional na contemporaneidade ..........................143 8.2.1 Supervisão escolar e orientação educacional: os espaços de atuação coletiva ........ 146 8.2.2 Evasão repetência e fracasso na escola: inclusão e o papel do pedagogo .................. 150 8.2.3 Organizando o serviço ....................................................................................................................... 159 8.2.4 Orientação Educacional e Supervisão Escolar: Técnicas ...................................................... 163 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), Na disciplina Orientação em Supervisão Escolar e Orientação Educacional, você terá possibilidades de compreender, a partir do estudo da Unidade Escolar, a ação integradora e formadora do trabalho do pedagogo mediando ações com relação à família, trabalho, saúde, lazer do discente e o desenvolvimento das potencialidades humanas. A importância do pedagogo para alunos e professores no processo de ensino-aprendizagem e no trabalho de conscientizaçãode alunos sobre valores. O desenvolvimento das relações interpessoais e a formação do aluno integral, bem como o desempenho da ação supervisora e orientação educacional nos variados contextos e instâncias de atuação rumo à promoção de um ensino de qualidade. Quanto aos objetivos específicos, estes têm o propósito de levá-lo a: 1. reconhecer as contribuições do pedagogo frente às áreas de trabalho (escola, família, comunidade e saúde, lazer e trabalho); 2. identificar as atribuições e o trabalho do supervisor escolar dentro de uma proposta de supervisão de sistema e de escola; 3. identificar e analisar a realidade escolar, a comunidade na qual está inserida e seus problemas, bem como articular com a ação supervisora; 4. discutir propostas de organização e gestão na perspectiva de uma escola democrática; 5. analisar e discutir situações e práticas pertinentes ao papel do supervisor escolar/coordenador pedagógico dentro da escola; 6. elaborar planejamento educacional no âmbito escolar e não escolar em seus diversos níveis e relações; 7. identificar fatores que podem promover relações interpessoais saudáveis na escola; 8. analisar o fracasso escolar e a atuação do pedagogo na identificação de problemas que podem gerar o fracasso escolar; 9. conhecer tendências atuais que promovam o autoconhecimento do aluno e a reflexão sobre os valores humanos. E, para finalizar, você será convidado a refletir acerca das questões pertinentes à Supervisão Escolar e Orientação Educacional na contemporaneidade. 8 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a INTRODUÇÃO Olá aluno(a), Nosso estudo terá início na Unidade I com a temática “A escola como organização de trabalho e lugar de ensino e aprendizagem”, na qual serão tratados os assuntos pertinentes ao conhecimento da unidade escolar e o papel do pedagogo na cultura organizacional de seu local de trabalho. Continuando na Unidade II, encontramos as questões sobre “Planejamento Educacional na escola em processo de gestão democrática participativa” na perspectiva desenvolvida pelo orientador educacional e pelo supervisor escolar. Por fim, chegaremos às práticas relativas à Orientação Educacional e Supervisão Escolar na contemporaneidade. Deixo para sua reflexão sobre a atividade a ser exercida pelo pedagogo em função de orientação educacional e supervisão escolar, o pensamento de Paulo Freire (1996, p. 77): [...] Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptar a ela. [...] Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade. Vamos lá? 9 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Unidade I 1 A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO E LUGAR DE ENSINO‑APRENDIZAGEM “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura...” Fernando Pessoa “Há um ver-por-ver, sem ato intencional do olhar, e há um ver como resultado obtido a partir de um olhar ativo...” Alfredo Bosi A construção de um saber tecido na relação entre teoria e prática de organizações educacionais em que a escola seja vista como organização de trabalho e lugar de ensino e aprendizagem inicia-se no ato de compreender o que acontece concretamente na unidade escolar, até porque pensar a instituição educacional a partir de um ponto de vista amplo leva à compreensão dos fenômenos educativos em toda a sua complexidade, seja humana, técnica ou científica. O mundo contemporâneo tem passado por transformações das mais diversas, sejam econômicas, políticas, sociais e culturais, em virtude dos avanços tecnológicos, reestruturação do sistema de produção e desenvolvimento, da compreensão do papel do Estado, em suma da globalização. A escola, instituição social, tem sido inquirida de qual seria seu papel frente a essas transformações. Portanto, refletir sobre organizações escolares sugere olhar o percurso das ideias acerca das unidades de educação ao longo das últimas décadas. Alguns autores as viram centradas nos alunos, segundo uma abordagem individual, ou seja, como máquinas de aprendizagem; outros, de acordo com uma perspectiva institucional, como organismos preocupados com a racionalização e a eficácia do ensino; hoje em dia, as unidades escolares são vistas como lugares de interação social, dotadas de cultura e caracterizadas por valores, crenças e ideologias. De acordo com Libâneo (2004, p. 30), existem minimamente duas formas de ver a gestão centrada na escola: 10 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a • na perspectiva do ideário neoliberal, colocar a escola como centro das políticas significa liberar boa parte das responsabilidades do Estado, dentro da lógica do mercado, deixando às comunidades e às escolas a iniciativa de planejar, organizar e avaliar os serviços educacionais. • na perspectiva sociocrítica, a escola é vista como espaço educativo, uma comunidade de aprendizagem construída por seus atores. A gestão e a organização da escola são entendidas como práticas educativas, afinal passam valores, atitudes, modos de agir, influenciando as aprendizagens de professores e alunos, ou seja, significa valorizar as ações concretas dos profissionais na escola, decorrentes de sua iniciativa, de seus interesses, de sua participação, dentro do contexto sociocultural da escola, em função do interesse público dos serviços educacionais prestados sem, com isso, desobrigar o Estado de suas responsabilidades. Assim, Lima (2002b, p. 33) afirma, ao conceituar a escola, que esta é simultaneamente “locus de reprodução e locus de produção de políticas, orientações e regras [...] porque, finalmente, as organizações são sempre as pessoas em interação social, e porque os atores escolares dispõem sempre de margens de autonomia relativa”. Certo é que a unidade escolar, organização social, inserida em um contexto, adquire características que a refletem em seu cotidiano. Sua prática realiza-se em condições historicamente delineadas de modo que o atendimento das necessidades e interesses diversos ocorra. Para tanto, à luz do pensamento de Militão Silva (2001, p. 42), refletir sobre a autonomia da unidade escolar supõe, para além do conhecimento das características do sistema no qual se insere a escola, conhecer a própria escola e, assim, verificar os problemas e as perspectivas que dela decorrem tendo em vista a implantação de um funcionamento autônomo. 1.1 Conhecendo a unidade escolar A escola, organização social, é o lugar em que se concretiza o objetivo do sistema escolar, ou seja, o atendimento dos alunos nas relações de ensino e aprendizagem. Segundo Militão Silva (2001, p. 43), há três modos de encarar a escola que poderão produzir formas diferenciadas para a abordagem das questões concretas e que, consequentemente, levarão a soluções também diferentes. São eles: 11 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • centrado na sala de aula: quando o ponto central da realidade escolar encontra-se na sala de aula, local em que se dá a chave para mudanças, a relação professor-aluno; • pautado nas formas de organização da sociedade: nesta abordagem, as mudanças na escola somente ocorrerão quando já estiverem concretizadas na sociedade como um todo. As ações deprofessores e alunos são reflexos do contexto social em que a escola está inserida; • nível intermediário: não se detém apenas à sala de aula nem apenas ao contexto social. Para que se entenda o funcionamento da escola, é necessária a compreensão da unidade escolar como uma organização social. Decerto uma unidade de educação pode ser vista de variadas formas, mas “seria na escola que as crianças aprenderiam, de modo sistemático, a se submeter a uma autoridade impessoal?” (ENGUITA, 2004, p. 29). Lembrete A escola deve ser vista como espaço de interação entre sujeitos que ensinam e sujeitos que aprendem, isto é, espaço no qual sujeitos estabelecem relações com o saber. Com o correr do tempo, as organizações educacionais classificaram-se de formas diversas. Assim, olhar a unidade educacional como organização é vê-la contextualizada em suas várias dimensões, pois, na esteira do pensamento de Nóvoa (1992, p. 20), trata-se de um enfoque particular sobre a realidade educativa que valoriza as dimensões contextuais e ecológicas, procurando que as perspectivas mais gerais e mais particulares sejam vistas pelo prisma do trabalho interno das organizações escolares. Partindo do pressuposto da relação existente entre organização e ambiente, a organização escolar é considerada um sistema aberto, não excludente, que se relaciona com seu meio, captando informações para orientar seus objetivos, e, de acordo com essa perspectiva, a escola pode ser vista como instituição social, pois é constituída da convivência e da realização de trabalho, uma construção social que “leva a pôr ênfase na ação dos indivíduos, nos seus interesses, nas suas estratégias, nos seus sistemas de ação concreta” (BARROSO, 1996, p. 10). Desse modo, “as organizações escolares, ainda que estejam integradas num contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores (ou os ideais sociais) e as crenças de que os membros da organização partilham” (BRUNET, 1988 apud NÓVOA, 1992, p. 29). A partir do exposto, vê-se que há uma cultura interna na organização escolar composta pelos significados individuais dos atores e que são partilhados, assim como há um conjunto de variáveis exógenas que interferem na definição identitária da organização, o qual podemos chamar de cultura externa da organização. 12 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a De tal sorte que é possível caracterizar o funcionamento de uma organização escolar como fruto de um compromisso entre a estrutura formal e as interações entre grupos com interesses distintos, bem como identificar sua abrangência sob três grandes áreas: a) estrutura física da escola; b) estrutura administrativa da escola; c) estrutura social da escola. Como afirma Militão Silva (2001, p. 49), procurar compreender a escola como uma cultura com identidade própria supõe descobrir os valores, as atitudes, as imagens de realidade, as manifestações verbais e não verbais que constituem seu processo de comunicação interna e externa. Mas, principalmente, significa conhecer seu projeto de ação. Para tanto, tem sido a cada dia mais importante a compreensão da escola como lugar de construção e reconstrução da cultura, não somente do modo científico, mas a cultura em seu modo social, a cultura dos alunos, dos atores constitutivos da organização, a cultura da escola. De acordo com Pérez Gómez (apud LIBÂNEO, 2004, p. 32), a escola, e o sistema educativo em seu conjunto, pode ser considerada como uma instância de mediação cultural entre os significados, sentimentos e as condutas da comunidade social e o desenvolvimento humano das novas gerações. Assim, não conhecemos a escola apenas pelo que se vê, é preciso captar os significados, valores, atitudes, modos de agir e de resolução de problemas que definem uma cultura própria de cada unidade escolar. População-alvo • aluno • classe Meio - escolar - comunidade Professor e demais funcionários - pessoa - profissional Conhecimento da realidade da unidade escolar Sondagem Diagnóstico Figura 1 – Representação gráfica do conhecimento da Unidade Escolar 13 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Olhar a unidade educacional como organização é vê-la contextualizada em suas várias dimensões. É necessário atentar-se sobre a natureza do trabalho em educação, “na escola, as relações de produção e transmissão de conhecimento se dão entre sujeitos que interagem e se transformam através desta interação” (ALVES e GARCIA, 2006, p. 161). Também cabe atenção ao âmbito da categoria de trabalho não material, esclarecido por Saviani (apud Alves e Garcia, 2006), “ao relacioná-la à produção de ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, ou seja, à produção do saber, que não se separa do produtor” (ALVES e GARCIA, 2006, p. 159), o que é distinto da natureza de produção de uma mercadoria, ou seja, um trabalho material. Nesse prisma, minimamente duas perspectivas são observáveis para o trabalho do pedagogo atuando como orientador educacional, supervisor escolar, coordenador pedagógico, gestor ou docente. Por um lado, no qual os princípios pautam-se no mercado, nos ideais capitalistas, e por outro, os princípios podem corroborar para garantia do processo de tomada de decisões coletivas, encarando o direito à educação para todos. O estudo da Pedagogia nos remete ao estudo da escola. Tanto uma como a outra demandam, além do exame da história, a reflexão sobre os aspectos filosóficos, sociais, políticos e pedagógicos da educação. Quando se pensa na função da educação escolar, não podemos deixar de responder a certas perguntas como: • em que concepção de mundo acreditamos? • que homem queremos formar? Que valores iremos trabalhar? • quem é o meu aluno hoje? • em que realidade o aluno com quem trabalho está inserido? • que tipo de cidadão desejo formar? • que currículo poderá contribuir para a formação desse aluno? Que metodologia? Que tipo de avaliação? Tais perguntas estão diretamente relacionadas às dimensões filosófica, social e política do trabalho do pedagogo. Por exemplo, quando se pensa na concepção de mundo e na visão de homem que se tem, a dimensão filosófica da educação está sendo evidenciada e o pedagogo, na função de orientador educacional, ao responder essas questões, juntamente com os demais membros da escola, deve relacioná-las ao tipo de conhecimento e aos valores que se quer construir com os alunos, à formação integral do indivíduo, às tendências educacionais e práticas cotidianas de sala de aula. Esses conceitos devem, sempre que possível, ser revistos com o coletivo de educadores da escola para que não se percam de vista as finalidades do trabalho educativo. 14 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Verifica-se, dessa forma, que ao refletir sobre a dimensão política de sua atuação, o profissional da Educação deve promover situações e atividades (grêmios, representações de alunos, trabalhos em grupo) que permitam aos alunos tomar decisões e vivenciarem as consequências de seus atos. Com relação à dimensão social da escola, o pedagogo atuante nas diversas áreas tem o papel fundamental de conhecer, interpretar e divulgar aos demais elementos da escola a realidade socioeconômica e psicológica do aluno, bem como da comunidade na qual está inserido, identificando suas necessidades a fim de superar as dificuldades encontradas. A dimensão pedagógica da escola traduz-se pelas questões relativas ao currículo, como a seleção dos objetivos, conteúdos, metodologia e formas de avaliação. O profissional da Educação auxiliará no planejamento desses aspectos ao lembrar, sempre que possível, aos educadores, do universo social, cultural,afetivo e cognitivo do aluno. De acordo com Placco (1998, p. 115) cabe ao pedagogo, atuando como orientador, formar o cidadão responsável e transformador: o papel básico do orientador educacional será o de auxiliar o educando a tornar-se consciente, autônomo e atuante nessa tarefa, auxiliando também o aluno, na identificação de seu processo de consciência, dos fatores socioeconômico-político-ideológico que o permeiam e dos mecanismos que lhe possibilitem superar a alienação decorrente desses processos, tornando-se assim, um homem-coletivo: responsável e transformador. O pedagogo busca meios emancipatórios para atingir seus objetivos, assumindo um compromisso com o momento social e histórico e contribuindo para a formação de homens mais críticos, conscientes e participativos na sociedade. Essa tarefa não é nada simples, pois muitas vezes os educadores entram em conflito, porque os aspectos idealizados de uma escola desejada não condizem com a realidade concreta. A escola está inserida na sociedade, vivenciando os problemas oriundos dessa, como a violência, a pobreza, o desemprego, a fome, a falta de moradia, os problemas de saúde, as drogas, entre outros, que têm reflexos explícitos no interior dessa instituição. Além disso, os profissionais da escola, não raramente, sentem-se frustrados por terem dificuldade em operacionalizar os objetivos e metas educacionais, ora por falta de conhecimento, ora por falta de recursos. Ao pedagogo que atua na coordenação pedagógica, orientação educacional, supervisão escolar e gestão, cabe, a todo o momento, auxiliar os educadores a relembrarem tais objetivos e finalidades e buscar soluções pedagógicas e metodológicas, redescobrindo o papel da escola na formação do sujeito e na construção de cidadão. Nesse sentido, é na escola que o aluno aprende a conviver com o outro, a aceitar a diversidade cultural, a participar e a lutar pelo bem comum, a conviver com dificuldades e contradições, a trabalhar com o diálogo, a defender seus direitos e a dialogar. 15 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Para Grinspun (2006), a escola é um espaço de conhecimento, crenças, mitos, razões e emoções. O grande segredo é descobrir o que é verdadeiro para escola, como instituição e para seus protagonistas, como cidadãos. Para tanto, é importante conhecer a realidade da sala de aula, o que possibilitará ao pedagogo caminhar junto com seus protagonistas. As dimensões sociais, filosóficas, políticas e pedagógicas também estão contidas na questão da educação para trabalho, tanto em relação à orientação vocacional, mas principalmente no que se refere à discussão da relação trabalho/emprego. Dimensão política Escola Dimensão social Dimensão filosófica Dimensão pedagógica Profissional da Educação Figura 2 – Profissional da educação em suas diversas dimensões Desse modo, ressalta-se, todavia, que a gestão da organização, bem como a organização da gestão, têm como fatores determinantes: a criação, recriação e manutenção de um ambiente de aprendizagem que leve à inovação. Essa mudança requer dos atores envolvidos na organização uma mobilização constante visando ao combate à inércia, ou seja, “um conjunto de alterações deliberadas e planificadas que poderão afetar significativamente os padrões e as relações de trabalho estabelecidos, bem como os autoconceitos dos indivíduos e dos grupos” (GLATTER, 1992, p.145). 1.2 A pesquisa como instrumento de conhecimento da escola “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”. Paulo Freire A importância da pesquisa para a ação do pedagogo, atuando em supervisão escolar/coordenação pedagógica e orientação educacional dá-se na proporção em que os profissionais iniciam suas observações, formulam questões ou hipóteses de pesquisa, bem como a selecionar dados e instrumentos que possam elucidar tais questões. Para tanto André (1999, p.353) adverte que a pesquisa deve obedecer a critérios, tais como: 16 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a em primeiro lugar, propiciar o acesso aos conhecimentos científicos – trazer aos professores (consumidores da pesquisa) as novas conquistas no campo específico de conhecimentos. Deve, além disso, levar o aluno professor a assumir um papel ativo no seu próprio processo de formação, e mais, a incorporar uma postura investigativa que acompanhe continuamente sua prática profissional. De sorte que a autora apoia sua visão nas chamadas pedagogias ativas, razão pela qual defende que os programas de formação e aperfeiçoamento docente incluam entre seus objetivos o desenvolvimento das habilidades básicas de investigação. Parafraseando ainda André (1999), cabe ao pedagogo o papel de planejar e orientar o processo de ensino ao professor e de aprendizagem para o aluno, e junto com ambos, avaliar os resultados alcançados, tanto no decorrer da ação quanto na fase final do processo. Como o professor tem relevante papel no processo de ensino e aprendizagem, supervisor escolar e orientador educacional têm um papel importante no planejamento, no acompanhamento e avaliação das atividades realizadas na escola, cabendo-lhe, mais especificamente, de acordo com a referida autora, as seguintes tarefas: • coordenar todo o processo; • dar os estímulos iniciais; • orientar os docentes na busca de fontes, escolha de métodos e seleção de informações relevantes; • propor aos professores modos de sistematizar, interpretar e relatar os dados. Daí, considerar como André (1999, p. 354) que a finalidade do processo de ensino-aprendizagem “é a formação de sujeitos autônomos, capazes de compreender a realidade que os cerca e de agirem sobre ela”. Para tanto, propõe a utilização da metodologia como elemento formador, de modo a desenvolver habilidades como: • observar; • formular questões; • formular hipóteses; • selecionar dados; • selecionar instrumentais; • elucidar questões e hipóteses; • expressar suas descobertas; • expressar suas novas dúvidas. 17 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL A pesquisa possibilita, assim, um processo significativo da construção da prática da supervisão. E isto é possível, como bem diz André (1999, p. 354), porque é na problematização da realidade que se originam as questões a serem perseguidas e é a partir delas que são escolhidos métodos de trabalho e técnicas de coleta de dados – o que requer um aprendizado de observação e análise da realidade e um conhecimento de instrumentais para sua apreensão. À luz dessa perspectiva, exige-se um envolvimento ativo de todos os atores, de modo que seja possível haver o compartilhar de experiências e, caso necessário, reelaborá-las, por meio de estudo e reflexão. Além disso, André (ibidem) destaca o papel fundamental das interações sociais no processo de formação do profissional da educação investigador, por meio do diálogo e da partilha de saberes e experiências. A interação é necessária “tanto na definição dos temas e problemas de interesse comum quanto na busca conjunta de alternativas para seu equacionamento” (ibidem, p. 355). Desse modo, para buscar melhores resultados, o pedagogo deverá analisar os dados pertinentes ao desempenho de professores e alunos nos dois primeiros bimestres e, ao lado da Direção, propor ações efetivas para melhorar esse desempenho. Será necessário discutir esses resultados, tanto em grupo, como individualmente, com os professores. Essa conversa e troca de informaçõescom os docentes envolvidos mostram-se imprescindíveis, a fim de que se conheçam, em profundidade, as características desses profissionais da escola. Saiba mais Para saber mais sobre pesquisa como instrumento de conhecimento da escola, leia: ANDRÉ, M. E. D. A. Autores ou atores? O papel do sujeito na pesquisa. In: LINHARES et. all. Os lugares dos sujeitos na pesquisa educacional. Campo Grande: UFMS, 1999. 2 UNIDADES ESCOLARES COMO ORGANIZAÇÕES APRENDENTES: ASPECTOS CULTURAIS E ORGANIZACIONAIS A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos e relações que um grupo estabeleceu enquanto sistema social. Assim também o é na escola, os contextos organizacionais são estabelecidos, desenvolvidos pelos atores de determinada organização em suas inter-relações para aprender a lidar com os problemas de adaptação e integração do grupo. De acordo com Nóvoa (1995), as organizações escolares, mesmo integradas em um contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que é válida na expressão dos valores e crenças de que o grupo partilha. 18 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Portanto, o desenvolvimento de ações que proporcionem a integração dos membros do grupo no processo é de grande importância para que essa cultura organizacional seja estabelecida a fim de estabelecer o processo de reflexão educativa. Assim, a cultura da escola é: ativamente construída pelos atores, mesmo que inconscientemente. Trata-se, enfim, de um processo dinâmico, evolutivo, de um processo de aprendizado que se desenvolve através das soluções que um grupo encontrou para problemas surgidos. O conteúdo de uma cultura pode ser definido [...] como soma das soluções que funcionaram suficientemente bem para que se tornem evidentes e sejam transmitidas aos recém-chegados como formas corretas de captar, de pensar, de sentir e de agir (SCHEIN, apud THURLER, 1998, p. 183). A cultura organizacional corresponde, de certo modo, a clima organizacional, ambiente, clima, entretanto a utilização do termo cultura sugere uma abordagem antropológica, como expõe Libâneo (2003). O conhecimento cultural dos atores pertencentes à escola contribui sobremaneira para a definição de cultura organizacional da instituição de que fazem parte, o que pode significar a formação de uma cultura própria. Daí dizer-se que essa cultura pode ser modificada, discutida, avaliada, planejada em um rumo que responda aos interesses e anseios do grupo, e, então, falar em organização aprendente, na qual, segundo Thurler (2007, p. 178), raciocínio construtivo e argumentativo decorrente leva os atores individuais e coletivos a defenderem suas posições, a empreenderem avaliações, a emitirem atribuições, buscando sistematicamente explicar seus propósitos, confrontar seus raciocínios e testar a validade destes últimos. [...] A organização passa, então, a ser um sistema em que a aprendizagem em dupla espiral (pela reflexão em ação) pode intervir de modo duradouro: ela se habitua a interrogar e a explicitar as representações sociais. Assim, cultura organizacional pode ser definida como: o conjunto de fatores sociais, culturais e psicológicos que influenciam os modos de agir da organização como um todo e o comportamento das pessoas em particular. Isso significa que, além daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais e rotinas administrativas que identificam as escolas, há aspectos de natureza cultural que as diferenciam uma das outras, não sendo a maior parte deles nem claramente perceptíveis nem explícitos. [...]. A cultura organizacional aparece de duas formas: como cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura instituída refere-se às normas legais, à estrutura organizacional definida pelos órgãos oficiais, às rotinas, à grade curricular, aos horários, às normas disciplinares etc. A cultura instituinte é aquela que os membros da escola criam, recriam, em suas relações e na vivência cotidiana (LIBÂNEO, 2003, p. 320). 19 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Para tanto, a unidade escolar como organização aprendente, discute, reflete, avalia e planeja de modo que as respostas às necessidades correspondam aos almejos e aspirações da comunidade de aprendizagem. A cultura organizacional como ponto de ligação com as áreas de atuação dos atores da organização aprendente, logo a ação pedagógica constitui-se fator de grande importância para a tomada de decisão, seja no âmbito da escola ou no âmbito do sistema. Cultura organizacional Gestão Currículo Avaliação Processo pedagógico Desenvolvimento profissional Ação pedagógica Ação pedagógica Figura 3 Certo é que, para o desenvolvimento escolar como processo contínuo e espiralado, dentro do qual as mudanças individuais ocorram em benefício do coletivo, é necessário que a cultura organizacional seja elo entre os atores. É preciso que a unidade escolar torne-se uma organização aprendente, na qual o ambiente seja de aprendizagem coletiva, como disposto na espiral do desenvolvimento escolar de Thurler (2007, p. 180). Análise das práticas Definição de um projeto comum Exploração cooperativa Contextualização do plano de estudos Trocas sobre as finalidades da escola Avaliação e regulação internas Identificação das necessidades de formação Esclarecimento das abordagens didáticas Desenvolvimento escolar Figura 4 – Espiral do desenvolvimento escolar 20 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Sob esse enfoque, a cultura organizacional está associada à ideia de que as organizações indicam interações sociais entre as pessoas e que podem ser influenciadas em seu modo de agir conforme os fatores sociais, culturais e econômicos que as permeiam. As organizações escolares são constituintes de uma cultura sob a égide de determinado modelo de sociedade, o que denota que, atualmente, as tendências organizacionais apontam para uma gestão educacional que se caracteriza fundamentalmente por reconhecer a necessidade da participação dos atores que fazem parte, direta ou indiretamente, da organização escolar. Para isso, é preciso conhecer bem os objetivos e o funcionamento de uma unidade escolar, suas condições sociais, organizacionais, administrativas e pedagógico-didáticas. Interação com a comunidade Bases conceituais e pressupostos invisíveis • Valores • Crenças • Ideologias Manifestações verbais e conceituais Manifestações visuais e simbólicas Manifestações comportamentais • Fins e objetivos • Currículo • Linguagem • Metáforas • Histórias • Heróis • Estruturas • Etc. • Arquitetura e equipamentos • Artefatos e logotipos • Lemas e divisas • Uniformes • Imagem exterior • Etc. • Rituais • Cerimônias • Ensino e Aprendizagem • Normas e regulamentos • Procedimentos operacionais • Etc. Interação com a comunidade Figura 5 – Elementos da cultura organizacional O desenvolvimento profissional de cada um dos envolvidos, sejam professores, diretor, supervisor, orientador, requer certos saberes e competências, entre outros: • elaboração e execução do planejamento escolar: projeto pedagógico-curricular, planos de ensino, planos de aula; • organização e distribuição do espaço físico, qualidade e adequação dos equipamentos da escola e das demais condições materiais e didáticas; • estrutura organizacional e normas regimentais e disciplinares; • habilidades de participação e intervenção em reuniões de professores, conselho de classe, encontros, e em outras ações de formação continuada no trabalho;21 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • atitudes necessárias à participação solidária e responsável na gestão da escola como cooperação, solidariedade, responsabilidade, respeito mútuo, diálogo; • habilidades para obter informação em várias fontes, inclusive nos meios de comunicação e informática; • elaboração e desenvolvimento de projetos de investigação; • princípios e práticas de avaliação institucional e avaliação da aprendizagem dos alunos; • noções sobre funcionamento da educação e controles contábeis, assim como formas de participação na utilização e controle dos recursos financeiros recebidos pela escola (LIBÂNEO, 2004, p. 37). Saiba mais Para aprofundar o estudo da organização aprendente, leia: O estabelecimento escolar como organização aprendente. In: THURLER, M. Inovar no interior da escola. Porto Alegre: Artmed, 2001. 3 SISTEMAS DE ENSINO E ESCOLAS PARTICULARES A legislação educacional vigente, qual seja, LDBEN 9.394/1996, ao definir as competências e responsabilidades de cada ente federado (União, estados, Distrito Federal e municípios) com relação à oferta da educação, em seus diferentes níveis e modalidades, destaca que estes deverão organizar, em regime de colaboração, seus respectivos sistemas de ensino. Assim, esta Lei, em seu artigo 8º, diz que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino”. Portanto, de acordo com essa mesma legislação educacional em vigência, é competência dos municípios atuarem prioritariamente na Educação Infantil e Ensino Fundamental, enquanto cabe aos estados assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, prioritariamente, o Ensino Médio. No tocante ao Distrito Federal, a lei define que este ente deverá desenvolver as competências referentes aos estados e municípios, ou seja, oferecer toda a educação básica. Quanto ao papel da União, a LDBEN 9.394/1996 diz que a esta cabe a organização do sistema de educação superior e o apoio técnico e financeiro aos demais entes federados. O sistema de ensino é um sistema aberto que objetiva proporcionar educação, especialmente do aspecto escolarização. De acordo com Toschi (2003), sistema de ensino tende a ser considerado como o conjunto de escolas das redes, ou seja, o sistema de ensino compreende uma rede de escolas e sua estrutura de sustentação. Se tomarmos o significado da palavra, sistema supõe um conjunto de elementos ou unidades relacionadas, que são coordenadas entre si e constituem um todo. Afirma a mesma autora que embora 22 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a o sistema escolar se estruture em um conjunto de organizações de ensino, as escolas não perdem sua especificidade de estabelecimentos pautados em regulamentos e leis que regulam sua organização e o funcionamento como unidade escolar. Todavia, como bem afirma Toschi (2003, p. 228), ao se organizarem em um sistema, esses elementos materiais (conjunto das instituições de ensino) e ideais (conjunto das leis e normas que regem as instituições educacionais) passam a formar uma unidade, no caso, um sistema de ensino. Ainda segundo Toschi (ibidem, p. 235), entende-se sistema de ensino “como o conjunto de instituições de ensino que, sem constituírem uma unidade ou primarem por seu caráter coletivo, são interligadas por normas, por leis educacionais, e não por uma intencionalidade”, no sentido administrativo, ao qual a legislação educacional se refere. Cabe ressaltar que o sistema de ensino é composto por três partes: • as instituições de ensino; • o órgão de administração (ministério ou departamento da educação, ou órgão equivalente); • o conselho de educação. No instrumento da legislação educacional, qual seja, LDBEN 9.394/1996, em seu art. 8º, estabelece-se que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem organizar, em regime de colaboração, seus respectivos sistemas de ensino, cabendo à União a coordenação da Política Nacional de Educação, articulando os diferentes níveis e sistemas. Segundo Dias (2004, p. 95-96), o: sistema de ensino compreende: a) uma rede de escolas; b) uma estrutura de sustentação sendo que rede de escolas é o subsistema que se dedica à atividade-fim do sistema e tem duas dimensões: a) Dimensão Vertical que abrange os graus de ensino; b) Dimensão Horizontal que abarca as modalidades de ensino. Na esteira dos estudos de Dias (2004, p.96), há a estrutura de sustentação do sistema de ensino que: 23 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL constitui a estrutura administrativa do sistema de ensino e apresenta: a) elementos não materiais: - normas (disposições legais, disposições regulamentares e disposições consuetudinárias); - metodologia de ensino; - conteúdo do ensino: currículos e programas. b) entidades mantenedoras: - instituições escolares mantidas pelo Poder Público federal, estadual e municipal; - instituições escolares particulares – leigas ou confessionais; - entidades mistas: autarquias etc. c) administração: compreende os organismos que têm por finalidade a gestão do sistema de ensino. Diante do exposto, para melhor elucidar, apresentamos o Sistema de Ensino em representação gráfica da seguinte forma: Unidades escolares Sistema de ensino Organização administrativo‑executiva (secretarias, diretorias...) Organização normativa (conselhos) Figura 6 – Sistema de ensino 3.1 Sistema Federal de Ensino De acordo com o artigo 16 da LDBEN 9.394, o sistema federal de ensino diz respeito às instituições, aos órgãos, às leis e às normas que são de responsabilidade da União, do governo federal e são realizadas nos estados e municípios. Assim, além da responsabilidade pela manutenção das instituições federais, por meio do Ministério da Educação, supervisiona e inspeciona as diversas instituições de ensino superior particulares. A normatização deste sistema é realizada pelo órgão colegiado, Conselho Nacional de Educação (CNE). 3.2 Sistema Estadual de Ensino Conforme disposto na Constituição Federal de 1988, em seu art. 24, cabe à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar sobre educação, cultura, ensino e desporto. Assim, no artigo 17 da 24 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a referida lei educacional vigente, fazem parte do sistema estadual de ensino as instituições de ensino estaduais. Entretanto, além da manutenção de suas escolas, cabe a este sistema a função de disciplinar e controlar a educação particular, fundamental e média, ensino supletivo e cursos livres que acontecem fora do âmbito escolar, por meio da Secretaria Estadual de Educação e do Conselho Estadual de Educação (CEE), que exerce função normativa, deliberativa, consultiva e fiscalizadora da rede oficial e particular. A Secretaria Estadual de Educação possui, em sua estrutura, as Diretorias Regionais de Ensino que têm como função precípua “implementar as políticas públicas estaduais dentro de sua área de abrangência” (LANZA, 2003). 3.2.1 Diretoria Regional de Ensino no Sistema Estadual de Ensino A Diretoria Regional de Ensino é uma unidade administrativa da Secretaria de Estado da Educação instituída como medida de descentralização para promoção e fortalecimento da gestão local na implantação da política educacional. Trata-se, portanto de um órgão público que responde pela educação em determinada região de um estado. As Diretorias de Ensino respondem pela coordenação, supervisão, planejamento e execução das atividades administrativo-pedagógicas nas escolas de responsabilidade do estado, assim como pela supervisãoe assistência técnica para as unidades de ensino da rede particular, e das unidades municipais quando o Município não possui supervisão escolar e sistema próprios. No estado de São Paulo, as Diretorias Regionais de Ensino têm entre suas atribuições: • executar a política educacional da Secretaria da Educação; • acompanhar o desenvolvimento do ensino; • prestar assistência técnico-administrativa aos diretores de escola de sua área de atuação; • controlar e avaliar as atividades administrativas da sua área de jurisdição; • supervisionar atividades pedagógicas e de orientação educacional; • colaborar na difusão e implementação das normas pedagógicas emanadas dos órgãos superiores; • avaliar os resultados do processo ensino-aprendizagem; • analisar dados relativos à Diretoria e elaborar alternativas de solução para os problemas específicos de cada nível e modalidade de ensino; • assegurar a retroinformação ao planejamento curricular; • sugerir oportunidades de formação para os recursos humanos da diretoria de acordo com a necessidade; • dar pareceres, realizar estudos e desenvolver outras atividades relacionadas com as suas atribuições. 25 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 3.3 Sistema Municipal de Ensino Do sistema municipal de ensino, fazem parte as unidades escolares municipais, o órgão administrativo da Secretaria Municipal de Educação e as instituições de ensino particulares de Educação Infantil, também compõe o sistema municipal de ensino, o Conselho Municipal de Educação que, em conformidade com a legislação educacional estadual e federal, exerce função normativa, deliberativa, consultiva e fiscalizadora da rede municipal de ensino e das escolas particulares de Educação Infantil. Saiba mais Para aprofundamento sobre o tema Sistemas de Ensino, leia: Sistema Nacional de Ensino. In: MENESES, J. G, et. all. Educação básica: políticas, legislação e gestão – leituras. São Paulo: Pioneira/Thomson, 2004. cap 5. pp. 89-98. No que tange às escolas particulares, em seu art. 20, a referida lei estabelece que as instituições privadas de ensino enquadrar-se-ão nas seguintes categorias: I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as características dos incisos abaixo; II – comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de pais, professores e alunos, que incluam em sua entidade mantenedora representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº 11.183, de 2005) III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; IV - filantrópicas, na forma da lei. A necessidade de conhecimento dos preceitos legais e estruturais da educação é de suma importância para a formação do pedagogo, visto que o modelo econômico neoliberalista estabelecido no Brasil, bem como as transformações que ocorrem mundialmente em nível tecnológico, informacional, mudanças nos processos de produção e organização do trabalho, atingem o sistema educacional, exigindo adequações aos interesses de mercado e investimentos na formação de profissionais mais preparados para tais modificações. 26 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Certo é que a escola de hoje não pode se limitar a passar informação sobre as matérias, a transmitir o conhecimento do livro didático. Na escola, por meio dos conhecimentos e pelo desenvolvimento das competências cognitivas, torna-se possível analisar e criticar a informação. De acordo com Mendes (2007, p. 49), a gestão educacional deve trazer em seu bojo ideias dinâmicas e integralizadoras das dimensões sociais e políticas, não sendo possível, de certa forma, admitir princípios orientadores pautados numa administração de cunho legalista, burocrático e centralizador. Uma construção gradativa vem sendo proposta de acordo com preceitos de administração/gestão com perspectivas formativas, socializadoras, comunicativas e participativas, estando em consonância com uma visão democrática de sociedade. No que diz respeito à gestão educacional, as questões administrativas e pedagógicas entrelaçam-se em um ato coordenado e coletivo e, tomando de empréstimo as palavras de Lima (2002a, p.42): a construção da escola democrática constitui, assim, um projeto que não é sequer pensável sem a participação ativa de professores e de alunos, mas cuja realização pressupõe a participação democrática de outros setores e o exercício da cidadania crítica de outros atores, não sendo, portanto, obra que possa ser edificada sem ser em co-construção. Por isso, torna-se necessário que a unidade escolar, seja ela pública ou privada, proporcione a capacidade de articular a recepção e a interpretação da informação, com a de produção de informações, considerando-se desse modo, o aluno como sujeito de seu próprio conhecimento. Segundo Libâneo (2004, p. 53), para que a escola exercite seu papel na construção da democracia social e política, são propostos cinco objetivos: • promover o desenvolvimento de capacidades cognitivas, operativas e sociais dos alunos (processos mentais, estratégias de aprendizagem, competências do pensar, pensamento crítico), por meio dos conteúdos escolares; • promover as condições para o fortalecimento da subjetividade e da identidade cultural dos alunos, incluindo o desenvolvimento da criatividade, da sensibilidade, da imaginação; • preparar para o trabalho e para a sociedade tecnológica e comunicacional, implicando preparação tecnológica (saber tomar decisões, fazer análises globalizantes, interpretar informações de toda natureza, ter atitude de pesquisa, saber trabalhar junto etc.); • formar para a cidadania crítica, isto é, forma um cidadão-trabalhador capaz de interferir criticamente na realidade para transformá-la e não apenas formar para integrar o mercado de trabalho; • desenvolver a formação para valores éticos, isto é, formação de qualidades morais, traços de caráter, atitudes, convicções humanistas e humanitárias. Os sistemas de ensino e as escolas devem prestar mais atenção à qualidade cognitiva das aprendizagens, colocada como foco primordial do projeto pedagógico e de gestão escolar. 27 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Assim, a escola necessária para nosso tempo tem funções que não são providas por nenhuma outra instância, ou a de prover formação geral básica – capacidade de ler, escrever, formação científica, estética, ética, desenvolvimento de capacidades cognitivas e operativas. Uma escola de qualidade é aquela que inclui, uma escola não excludente, ou seja, contra a exclusão econômica, política, cultural, pedagógica. Há que se atentar para a educação para a igualdade, educação ambiental e intercultural, acolhedora da diversidade, isto é, reconhecedora dos outros como sujeitos de sua individualidade, portadores de identidade cultural própria. Trata-se de uma transformação das formas de pensar, de sentir, de comportar-se em relação aos outros com respeito. 4 A ESCOLA E SUA FUNÇÃO SOCIAL A partir deste ponto, vamos refletir sobre a escola e sua função social... ações pedagógicas desenvolvidas na escola hoje, bem como acerca do papel que a escola vem cumprindo na atualidade. Vejamos. A organização educacional, escola, é uma instituição social que tem objetivo claro de propiciar o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meioda aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes, e valores) de maneira contextualizada, a fim de tornar seus alunos cidadãos participativos na sociedade em que vivem. Portanto, o grande desafio que os profissionais da educação têm é fazer do ambiente escolar um meio favorecedor da aprendizagem, uma aprendizagem significativa, rumo ao encontro do saber. Como explicita Libâneo (2005, p. 117): Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove, para todos, os domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos. De acordo com Penin e Vieira (2002, p. 26), faz-se necessário que a escola repense sua organização, sua gestão, seus processos formadores, sua maneira de definir os tempos, os espaços, os meios e as formas de ensinar, ou seja, o seu jeito de fazer escola! É hora de jogar fora as roupas velhas e tornar a vestir a escola, a partir da essência, sua função social que permanece: ensinar bem e preparar os indivíduos para exercer a cidadania e o trabalho no contexto de uma sociedade complexa, enquanto se realizam como pessoas. Portanto, ter claro a função social da escola é imprescindível para a realização de uma prática pedagógica competente e socialmente comprometida. Como explicita Mendes (2007, p. 43), com a magnitude das questões e transformações dos processos de informação e comunicação que vêm ocorrendo, as exigências da sociedade, a necessidade de um novo olhar para as relações sociais, os processos de administração e gestão em unidades escolares apresentam-se cada vez mais complexos; 28 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a consequentemente, as tarefas, a diversidade de objetivos, a falta de fluidez dos recursos e o número de trabalhadores demonstram a necessidade de novas competências, a capacidade de solucionar problemas, liderança e tomada de decisões para adaptação de situações vindouras. Desse modo, a partir do pressuposto da relação existente entre organização e ambiente, a organização escolar é considerada um sistema aberto, não exclutório, que se relaciona com seu meio, captando informações para orientar seus objetivos, e, de acordo com essa perspectiva, a escola pode ser vista como instituição social, pois é constituída da convivência e da realização de trabalho, uma construção social que “leva a pôr ênfase na ação dos indivíduos, nos seus interesses, nas suas estratégias, nos seus sistemas de ação concreta” (BARROSO, 1996, p. 10). A escola, assim, para cumprir sua função social, precisa considerar as práticas existentes em nossa sociedade, considerando, também, as relações diretas e indiretas dessas práticas com a realidade específica da comunidade local a que presta seus serviços. É importante ressaltar, como afirma Gracindo (2007, p. 45) que: a escola ao assumir a qualidade social, está atenta ao desenvolvimento do ser social em todas as suas dimensões: no econômico (inserção no mundo do trabalho); no cultural (apropriação, desenvolvimento e sistematização da cultura popular e cultura universal); no político (emancipação do cidadão). Necessita-se: “olhar o mundo de um ponto de vista extraposto, totalmente diverso da percepção centrada num único ponto, para melhor captar o movimento dos fenômenos em sua pluralidade e diversidade” (MACHADO, 1997, p.141); de uma discussão centrada em torno de toda a sua problemática, conduzida por meio de estudo e pesquisa com base sociocultural, histórica e epistemológica. Não se pode pensar em função social da escola, pensando-se educação inclusiva com políticas educacionais excludentes. É fundamental o estabelecimento pelo poder público de uma política educacional clara, com objetivos definidos e que garanta o atendimento escolar de qualidade a toda a população, bem como, serem abertos canais de participação das escolas e da população na definição ou reorientação dessa política. A função social da escola já, desde a década de 30 dos anos 1900, era defendida por educadores como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo entre outros, e pode ser verificada nos trechos extraídos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Novo, como bem aponta Penin (2001, p. 27): O papel da escola na vida e a sua função social A escola, campo específico de educação, não é um elemento estranho à sociedade humana, um elemento separado, mas “uma instituição 29 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL social, um órgão feliz e vivo, no conjunto de instituições necessárias à vida, o lugar onde vivem a criança, a adolescência e a mocidade, de conformidade com os interesses e as alegrias profundas de sua natureza [...] Dessa concepção positiva da escola, como uma instituição social, limitada na sua ação educativa, pela pluralidade e diversidade das forças que concorrem ao movimento das sociedades, resulta a necessidade de reorganizá-la, como um organismo maleável e vivo, aparelhado de um sistema de instituições suscetíveis de lhe alargar os limites e o raio de ação [...]. Cada escola, seja qual for o seu grão, dos jardins às universidades, deve, pois, reunir em torno de si as famílias dos alunos, estimulando as iniciativas dos pais em favor da educação; constituindo sociedades de ex-alunos que mantenham relação constante com as escolas; utilizando, em seu proveito, os valiosos e múltiplos elementos materiais e espirituais da coletividade e despertando e desenvolvendo o poder de iniciativa e o espírito de cooperação social entre os pais, os professores, a imprensa e todas as demais instituições diretamente interessadas na obra da educação. Resumo Nesta unidade, pudemos perceber o quão importante é o trabalho do pedagogo na organização social escola, principalmente por se tratar de organização de trabalho e lugar de ensino-aprendizagem, composta por uma cultura organizacional. Cabe ressaltar a necessidade de conhecimento da unidade escolar em que o pedagogo atua, seja no exercício da função de supervisão escolar/coordenação pedagógica, orientação educacional ou mesmo na gestão, para então, perceber-se o profissional da educação como um pesquisador/investigador. Também foi apresentada a organização do sistema de ensino conforme prevista na legislação, bem como se mostrou o papel da escola em sua função social. Exercícios Questão 1 (Enade 2005). Ser professor significa desenvolver atividades pedagógicas e projetos político-pedagógicos, questionar a própria prática e refletir sobre o fazer profissional. Na proposta de formação do professor-pesquisador entende-se que o docente deve: A) vivenciar a atividade de pesquisa em disciplinas teóricas. B) modificar regularmente seus pressupostos teóricos. 30 Unidade I Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a C) organizar a sua ação a partir da articulação prática-teoria-prática. D) trabalhar a teoria como um suporte complementar cuja finalidade é a prática. E) condicionar sua prática no sentido de observar e alterar seu fazer pedagógico. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a atividade de pesquisa não pode ser vivenciada em disciplinas teóricas, pois é necessária a reflexão sobre a prática, ou seja, sobre as atividades de campo. B) Alternativa incorreta. Justificativa: os pressupostos teóricos de uma pesquisa norteiam a sua prática e só devem ser modificados se a realidade dos dados assim necessitar, e não regularmente. C) Alternativa correta. Justificativa: existe uma relação dialética entre teoria e prática, e as ações do educador-pesquisador são sempre o resultadoda articulação entre teoria e prática. D) Alternativa incorreta. Justificativa: numa atividade de pesquisa a teoria não é um suporte complementar, e sim um elemento norteador da prática. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a alteração do fazer pedagógico não está condicionada somente à prática, mas também em função do avanço do conhecimento, dos novos conceitos e das teorias aprendidos na pesquisa. Questão 2 (Enade 2005). Durante todo o curso de Pedagogia, Júlia teve a oportunidade de conhecer as diferentes tendências, concepções ou teorias educacionais que dão suporte à organização do trabalho da escola e à prática educativa. Com isso, percebeu a necessidade de se contrapor à fragmentação, à rotina, ao autoritarismo e à centralização do poder. Um dos caminhos a serem trilhados é a construção do projeto político-pedagógico como um instrumento de luta em busca da qualidade e da almejada cidadania. 31 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Qual é a ação fundamental para que uma escola tenha o projeto político-pedagógico pretendido? A) Planejamento de metas pela equipe gestora para os segmentos e áreas do conhecimento. B) Diagnóstico permanente da realidade escolar com registro dos dados e das discussões. C) Elaboração do projeto por uma coordenação administrativo-pedagógica especializada. D) Utilização de técnica e de metodologias específicas para a elaboração de projetos. E) Divulgação de dados de desempenho para uma classificação das turmas. Resolução desta questão na plataforma. 32 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 5 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NA ESCOLA E A AÇÃO DO PEDAGOGO Ao planejar suas ações, o pedagogo deve ter em mente o que é planejamento. Para tanto, apresentamos o conceito de planejamento em formato de diagrama: Planejar é Levantar a situação atual Maior eficiência Estabelecer o que se deseja mudar Maior exatidão e determinação a fim de se obter Organizar a ação futura Maiores e melhores resultados Maximização dos esforços e gastos Figura 7 – Conceito de planejamento A prática dos profissionais da educação, por meio de projetos, pesquisas, e planos de ação poderá oferecer ao aluno a possibilidade de desvelar sua própria história cultural/social, propiciando, assim, a formação da cidadania, bem como contribuir na prática docente para que os almejos sejam atingidos, de tal sorte que somente com uma ação contextualizada, planejada e organizada seja possível detectar a importância da parceria para o desenvolvimento das ações. Lembrete Ações sem direcionamento claro e objetivo de nada adiantam, senão para estabelecer um vazio pedagógico. Assim, por meio de uma prática planejada, o pedagogo poderá: 1. construir e estabelecer a relevância do seu trabalho; 2. garantir a natureza peculiar da prática do pedagogo; 33 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 3. estabelecer uma imagem positiva; 4. dar à prática profissional um caráter sistemático e contínuo; 5. demonstrar a importância e relevância do pedagogo para o desenvolvimento da prática pedagógica da escola como um todo (LUCK, 1991, p.25). Planejar significa estar com a mente aberta ao processo educativo, estar atento à sua amplitude, dinamicidade e continuidade. Segundo Luck (1991), planejar é pensar analítica e objetivamente sobre a realidade e sobre a sua transformação. Assim, ao pensar o planejamento, é preciso: Quadro 1 • o quê • identificar • por quê • para quê • analisar • como • se quer promover • quando • prever • onde • com quem • decidir • para quem 34 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Para planejar, é preciso Identificar o problema (situação atual) Estabelecer os objetivos (situação futura desejada) Caracterizada a situação de fato, deve-se Caracterizada a situação de fato, deve-se que se pretendem atingir Levantar Estabelecendo Resultados Mudanças Acrécimos Correções Melhorias 1. O quê 1. O campo de ação 4. Quando 4. Limites de tempo para a realização da ação 2. Por quê 2. Os recursos a serem utilizados 5. Como 5. Atividade físicos financeiros humanos materiais 3. Para quê 3. As restrições existentes (obstáculos) 6. Onde 6. Métodos 7. Para quem 7. Recursos das atividades 8. Com quem Cronogramas de atividades Instrumentos e critérios de avaliação Montar Figura 8 – Passos do Planejamento 35 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Esboça Situação futura a partir de Situação atual Prevê Garante O planejamento se quer realizar da ação o quê objetividade como operacionalidade onde funcionalidade quando exequibilidade por quê prudutividade continuidade Figura 9 – Funções do Planejamento Assim, a escola, organização social, que corrobora para o desenvolvimento cognitivo é o lugar central do processo educativo, local em que se dá a formação da cidadania (entendida como exercício pleno pautado na democracia, por parte da sociedade, de seus direitos e deveres) e a mudança na unidade escolar, ou seja, lugar onde se concretiza o esforço de ensino-aprendizagem, conforme Silva apud Padilha (2002). A seguir, serão apresentados, de acordo com Padilha (2002, pp.57-59), quadros-síntese contendo algumas distinções que podem facilitar a definição de certas visões de planejamento educacional combinadas com as características e os fundamentos das diferentes teorias de administração/ gestão: 36 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 2 – Características do planejamento educacional Categorias Tipos Características Níveis 1.Global ou de conjunto Para todo o sistema 2. Por setores Graus do sistema escolar 3. Regional Por divisões geográficas 4. Local Por escola Como processo 1. Técnico Por utilizar metodologia de análise, previsão, programação e avaliação 2. Político Por permitir a tomada de decisão 3. Administrativo Por coordenar as atividades administrativas 4. Sistêmico ou estratégico Visão total do sistema educacional, sentido amplo (recursos x oportunidades) 5. Tático Abrange todos os projetos e ações detalhadas e subordina-se ao Planejamento Estratégico Quanto ao Prazo 1. Curto prazo 1 a 2 anos 2. Médio prazo 2 a 5 anos 3. Longo prazo 5 a 15 anos Como método 1. Demanda Com base nas demandas individuais de educação 2. Mão de obra Com base nas necessidades de mercado, voltado para o desenvolvimento do país 3. Custo e Benefício Com base nos recursos disponíveis visando a maiores benefícios Fonte: Padilha, P. R. Planejamento dialógico: como construir o projeto pedagógico da escola. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire, 2002, p. 57. Quadro 3 Concepções Características Clássica Divisão pormenorizada, hierarquizada verticalmente, com ênfase na organização e pragmática Transitiva Planejamento seguindo procedimentos de trabalho, com ênfase na liderança Mayoista Visão horizontal, com ênfase nas relações humanas, na dinâmica interpessoal e grupal, na delegação de autoridade e na autonomia Neoclássica/Por objetivos Pragmática, racionalidade no processo decisório, particitipativa, com ênfase nos resultados e estratégia de corporação Tradição funcionalista Características(do consenso/positivista/evolucionista ) Burocrático Cumprimento de leis e normas. Visa à eficácia institucional do sistema, enfatiza a dimensão institucional ou objetiva Idiossincrático Enfatiza a eficiência individualde todos os que participam do sistema, portanto, a dimensão subjetiva Integradora Clima organizacional pragmático. Visa ao equilíbrio entre eficácia institucional e eficiência individual, com ênfase na dimensão grupal ou holística 37 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Tradição interacionista Características(conflito/teorias críticas e libertárias) Estruturalista Ênfase nas condições estruturais de natureza econômica do sistema. Enfatiza a dimensão institucional ou objetiva. Orientação determinista Interpretativa Ênfase na subjetividade e na dimensão individual. O sistema é uma criação do ser humano. A gestão é mediadora reflexiva entre o indivíduo e o seu meio Dialógica Ênfase na dimensão grupal ou holística e nos princípios de totalidade, contradição, práxis e transformação do sistema educacional Enfoques Características Jurídico Práticas normativas e legalistas/sistema fechado Tecnocrático Predomínio dos quadros técnicos/especialistas Comportamental Resgate da dimensão humana, ênfase psicológica Desenvolvimentista Ênfase para atingir objetivos econômicos e sociais Sociológico Ênfase nos valores culturais e políticos, contextualizados. Visão interdisciplinar. Fonte: Padilha, P. R. Planejamento dialógico: como construir o projeto pedagógico da escola. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002, p. 58 Quadro 4 Concepções Tradição Funcionalista Enfoques Clássica Burocrática Jurídico e Tecnocrático Transitiva Idiossincrática e integradora Tecnocrático e comportamental Mayoista Integradora Comportamental Neoclássica/Por objetivos Burocrática e Integradora Desenvolvimentista Fonte: Padilha, P. R. Planejamento dialógico: como construir o projeto pedagógico da escola. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002, p. 59 Quadro 5 Tradição interacionista Enfoques Estruturalista Jurídico e Tecnocrático Interpretativa Comportamental Dialógica Sociológico Fonte: ibidem Partindo-se dessa reflexão, organizar e planejar as atividades no âmbito escolar e educacional significa compreender as relações institucionais, interpessoais e profissionais que ocorrem na escola, ampliando e avaliando a participação dos diferentes segmentos em sua administração e gestão. Daí falar-se em planejamento na escola cidadã, essa questão associa-se diretamente à questão da Gestão Democrática do Ensino Público, de acordo com o exposto por Romão (apud Padilha, 2002). De sorte que planejar é um processo que visa a responder uma questão, estabelecendo fins e meios que apontem 38 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a para sua solução e superação, ou seja, atingir objetivos propostos anteriormente que levem em conta a historicidade e a prospecção futura. Tomando as palavras de Padilha (2002, p. 30) é possível afirmar que: O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação, processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir do resultado das avaliações. Assim, realizar os diversos planos e planejamentos educacionais e escolares significa exercer uma atividade engajada, comprometida e intencional. Saiba mais Para se aprofundar no tema, leia: Concepções de planejamento e planejamento educacional na perspectiva da escola cidadã. In: PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire, 2002, pp. 45-71. Continuando nossa conversa sobre o planejamento, pergunto: “qual é o seu pensamento sobre planejamento?” Bem, aprofundemos um pouco mais a questão... Vamos lá? O planejamento é uma ação inerente ao ser humano em suas atividades cotidianas. No que diz respeito à atividade escolar, o ato de planejar é de extrema importância para o dia a dia. O planejamento escolar é importante momento de elaboração teórica do processo de organização pedagógica em ambientes escolares e não escolares, nos quais a reflexão sobre o acompanhamento e avaliação do processo ensino e aprendizagem podem sugerir uma possível intervenção na realidade escolar dos alunos de uma comunidade, seja ela no âmbito escolar ou não. Lembrete “O planejamento organiza, sistematiza, disciplina a liberdade: em nível individual e coletivo. Ele dá os paradigmas para o exercício da prática pedagógica” (FREIRE, 1997, p. 56). 39 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL De sorte que o planejamento escolar constitui uma forma de ação que busca organizar coletivamente os espaços educativos em organizações escolares e não escolares. Entretanto, a ideia de planejar a organização pedagógica ainda encontra-se arraigada pela “experiência de elaboração de planos burocráticos, formais e controladores” (VASCONCELLOS, 1995, p. 25). É necessário lembrar que, como descrito por Vasconcellos (ibidem, pp. 25-26, grifos nossos): os autores mais progressistas, ao abordarem a problemática do planejamento, lembram que ele, antes de ser uma questão meramente técnica, é uma questão política, já que envolve posicionamento, opções, jogo de poder, compromisso com a reprodução ou com a transformação etc. Isto é um avanço, mas ainda não dá conta de uma questão mais elementar hoje colocada, que é a valorização do planejamento, o estar mobilizado para fazê-lo, entendê-lo realmente como uma necessidade. [...] O planejamento é político, é hora de tomada de decisões, de resgate dos princípios que embasam a prática pedagógica. Mas para chegar a isso, é preciso atribuir- lhe valor, acreditar nele, sentir que planejar faz sentido, que é preciso. [...] O desafio fundamental, portanto, está em resgatar a confiança nas possibilidades de êxito do sujeito, num sentido de invenção e criação, portanto de libertação. Planejar implica, pois, acreditar na possibilidade de mudança e na necessidade da mediação teórico-metodológica. O planejamento escolar, entendido como explicitado anteriormente, como processo político para a possível intervenção das condições cotidianas de nossas organizações escolares, exige que haja a participação, compromisso e comprometimento dos diversos segmentos que compõem a comunidade escolar. Assim, o plano construído não deve ser encarado apenas como instrumento que a unidade escolar faz para cumprimento de exigências do sistema ao qual está integrada, deixando-o de lado após concluí-lo. O planejamento escolar visto como parte integrante do processo organizacional: consiste numa atividade de previsão da ação a ser realizada, implicando definição de necessidades a atender, objetivos a atingir dentro das possibilidades, procedimentos e recursos a serem empregados, tempo de execução e formas de avaliação. O processo e o exercício de planejar referem-se a uma antecipação da prática, de modo a prever e programar as ações e os resultados desejados, constituindo-se numa atividade necessária à tomada de decisões. [...] Sem planejamento, a gestão corre ao sabor das circunstâncias, as ações são improvisadas, os resultados não são avaliados (LIBÂNEO, 2004, p. 149). No momento de planejamento em ambientes escolares e não escolares, o que se pretende planejar são atividades de ensino e de aprendizagem determinadas por uma intenção educativa e que envolvem objetivos, valores, atitudes, conteúdos. Diante disso, vê-se que o planejamento não é de um indivíduo, 40 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a mas, sim, uma prática de elaboração conjunta e coletiva realizada por meio de discussões e reflexõesinterpessoais. O planejamento constitui, então, uma forma de ação que busca organizar coletivamente as comunidades, tendo neste processo a participação do supervisor escolar/coordenador pedagógico e do orientador educacional como grandes articuladores do processo de reflexão, participação e organização de meios para que se possa cumprir a tarefa de propiciar aprendizagem, seja em ambiente escolar ou não. Para tanto, cabe ao pedagogo na função de supervisão/coordenação e orientação educacional “a sistematização e integração do trabalho no conjunto, caminhando na linha da interdisciplinaridade” (VASCONCELLOS, 2007, p. 87). O supervisor escolar, em função do espaço em que atua, “tem tanto a interface com o “chão da sala de aula” (por meio do contato com os professores e alunos), quanto com a administração, podendo ajudar uns e outros a se aproximarem criticamente” (ibidem, p.89). Desse modo, é possível ampliar o conceito da supervisão: “líder de comunidades formativas” (ALARCÃO apud VASCONCELLOS, 2007, p. 90). Assim, toda atividade e relação educativa, seja em espaço escolar ou não escolar, implica um vínculo com o conhecimento, ou seja, epistemológico, o qual será objeto da ação supervisora. É como afirma Paulo Freire (apud VASCONCELLOS, 2007, p. 90): A educação, não importando o grau em que se dá, é sempre uma teoria do conhecimento que se põe em prática. [...] O supervisor é um educador e, se ele é um educador, ela não escapa na sua prática a esta natureza epistemológica da educação. Tem a ver com o conhecimento, com a teoria do conhecimento. O que se pode perguntar é: qual o objeto de conhecimento que interessa diretamente ao supervisor? Aí talvez a gente pudesse dizer: é o próprio ato de conhecimento que está se dando na relação educador/educando. Portanto, é possível afirmar que a ação supervisora, de coordenação pedagógica, bem como de orientação educacional são delineadas pelos processos de ensino e aprendizagem, onde quer que ocorram. Pode-se dizer então que o planejamento educacional tem como objetivos gerais: • estabelecer condições necessárias à eficiência do sistema educacional; • conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do sistema educacional; • alcançar maior coerência nos objetivos específicos e nos meios mais adequados para atingi-los. Lembre-se de que o pedagogo ao pensar em planejamento deverá centrar sua atenção em: Questões centrais no processo de planejamento: Meus educandos já sabem o quê? (zona real) 41 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Ainda não conhecem o quê? [...] Devo ensinar o quê? Como ensinar? Quando ensinar? Onde ensinar? (FREIRE, 1997, p. 56). 5.1 Planejamento: tipos e níveis e suas relações Tomando o significado dos verbetes planejamento e planejar, conforme o Dicionário Aurélio, vê-se que: • planejamento é o ato ou efeito de planejar. Trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados; • planejar designa fazer o plano de; projetar; traçar; fazer o planejamento de [...]. Logo, planejar, em sentido amplo, é um processo que visa a dar respostas a um problema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua superação, de modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem desconsiderar as condições do presente e as experiências do passado, levando em conta os contextos e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e de com quem se planeja (PADILHA, 2002, p. 63). Planejamento é um processo contínuo e sistematizado de previsão de necessidades, de reflexão e análise crítica para tomada de decisão. Desse modo, planejamento como processo é permanente, já o produto desse planejamento, o plano, é provisório. A didática, por meio de estudos de diferentes autores faz distinção entre os tipos e/ou níveis de abrangência de planejamento, ressaltando-se, como bem afirma Gandin (2001, p. 83), que “[...] é impossível enumerar todos os tipos e níveis de planejamento necessários à atividade humana”. Planejamento educacional: significa a elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série de operações interdependentes, [...] com determinação de objetivos e de recursos disponíveis, a análise das consequências que advirão das diversas atuações, a determinação de metas a atingir em prazos bem definidos e o desenvolvimento dos meios mais eficazes para implantação da política escolhida (MENEGOLLA; SANT’ANNA apud PADILHA, 2002, p. 32) ou Planejamento de Sistema de Educação: aquele que se refere às políticas educacionais em nível nacional, estadual e municipal (VASCONCELLOS, 1995). 42 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Planejamento escolar ou projeto educativo: aquele que pode ser concebido como processo que envolve a prática docente no cotidiano escolar, fruto do exercício contínuo da ação-reflexão-ação (FUSARI apud PADILHA, 2002, p. 34). O planejamento geral da escola é o processo de tomada de decisão quanto aos objetivos a serem atingidos e a previsão das ações pedagógicas e administrativas, o resultado desse tipo de planejamento é o plano escolar (HAYDT, 2008, p. 95). O planejamento escolar atende, em geral, às seguintes funções: • diagnóstico e análise da realidade da escola: busca de informações reais e atualizadas que permitam identificar as dificuldades existentes, causas que as originam, em relação aos resultados obtidos até então; • definição de objetivos e metas compatibilizando a política e as diretrizes do sistema escolar com as intenções, expectativas e decisões da equipe da escola; • determinação de atividades e tarefas a serem desenvolvidas em função de prioridades postas pelas condições concretas e compatibilização com os recursos disponíveis (elementos humanos e recursos materiais e financeiros). O processo de planejamento inclui, também, a avaliação dos processos e resultados previstos no projeto, tendo em vista a análise crítica e profunda do trabalho realizado e a reordenação de rumos (LIBÂNEO, 2004, pp. 150-151). Planejamento curricular: aquele que define e expressa a filosofia de ação da escola, seus objetivos e toda a dinâmica escolar, os quais estão fundamentados na filosofia da educação nacional, sendo a partir dele planejada e elaborada toda a ação escolar de modo sistemático e global (MENEGOLLA; SANT’ANNA apud PADILHA, 2002, p. 37), ou de acordo com Gimeno Sacristán (1998), tem a função de ir formando, progressivamente ou por meio das instâncias que o decidem e moldam, o currículo em diferentes etapas, fases. “O Planejamento Curricular envolve os fundamentos das áreas que serão estudadas, a proposta metodológica escolhida e a forma como se dará a avaliação” (MEC, 2006, p. 30). Planejamento de ensino-aprendizagem: que é o processo que envolve a atuação concreta da prática do professor no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações (FUSARI apud PADILHA, 2002, p. 33) ou segundo Vasconcellos (1995, p. 54), aquele que diz respeito ao aspecto didático e é subdividido em Plano de Curso, Plano de Ensino e Plano de Aula. 43 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Plano de curso: “é a organização do conjunto de matérias que vão ser ensinadas e desenvolvidas durante o período de duração de um curso/ano/ série” (MEC, 2006, p. 31). Este plano serve para sistematizar a proposta de trabalho do professor. Plano de Ensino: “é o plano de disciplinas, de unidades e experiências propostas pela escola, professores, alunos ou pela comunidade, é específico e concreto” (ibidem). Plano de Aula: é o plano mais próximo da prática do professor e da salade aula. Refere-se totalmente ao aspecto didático” (ibidem). De acordo com Libâneo (apud PADILHA, 2002, p. 37), “o plano de aula é a previsão do desenvolvimento do conteúdo para uma aula ou conjunto de aulas e tem um caráter bastante específico”. Para melhor visualização do planejamento de ensino e sua relação entre os planos, observe o fluxograma a seguir: Conhecimento da realidade Replanejamento ensino Fase de preparação ensino Fase de aperfeiçoamento ensino Fase de desenvolvimento Feedback ensino Plano de ação ensino Estruturação do plano de ensino Avaliação ensino Determinação dos objetivos Seleção e organização dos conteúdos Seleção e organização dos procedimentos de ensino Seleção dos procedimentos de avaliação Seleção dos recursos Figura 10 44 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Sugestão de organização de Plano de Ensino Escola XXXX Curso: Ensino Fundamental Disciplina: Língua Portuguesa Ano: 200x Carga horária semanal: 5 horas Período: Diurno Série: 4ª Objetivos gerais: competências Objetivos específicos: habilidades Conteúdo programático Estratégia Tema das aulas e materiais que serão utilizados Aula 1 – Aula 2 – Sugestão de organização de Plano de Aula Data Pauta Tempo Desenvolvimento Intencionalidade Desafios e Tarefas Materiais Figura 11 Saiba mais Para saber mais, leia: • Concepções de planejamento e planejamento educacional na perspectiva da escola cidadã. In: PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire, 2002, pp. 45-71. • O Sistema de organização e gestão da escola e o planejamento escolar e o projeto pedagógico-curricular. In: LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2004, pp.119- 133; 149-202. 6 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E/OU PROPOSTA PEDAGÓGICA E PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA O planejamento escolar, principalmente nas escolas da rede pública, deve ser pautado na legislação que rege a educação nacional vigente, destacando-se a garantia da função social da escola, a gestão democrática, e a construção participativa da proposta pedagógica. 45 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL De sorte que a equipe gestora da unidade escolar, como articuladora, coordenadora e implementadora dos princípios democráticos referendados pela Constituição Federal de 1988 e pela LDBEN nº 9394/96, deve organizar o planejamento escolar em um processo de ação participativa dos diferentes segmentos da comunidade escolar e seu entorno na construção documental da proposta pedagógica e do projeto político-pedagógico. 6.1 Projeto Político-Pedagógico/Proposta Pedagógica Assim, a proposta pedagógica é o documento-guia para a elaboração de todos os outros documentos escolares como: Regimento Escolar, Projeto Político-Pedagógico, Plano de Gestão, Plano de Curso, Plano de Ensino e Plano de Aula entre outros. Para tanto, no processo de gestão democrática dos sistemas e da unidade escolar, há necessidade de se desenvolver possibilidades para propiciar a participação de todos os segmentos da comunidade escolar no processo decisório que cada um desses níveis (sistema ou escola) precisa deliberar. De acordo com Mendes (2007) a dimensão pedagógica do processo educacional é função específica da organização social escolar, mas não se restringe a ela. Fato é que cabe aos órgãos gestores em todas as instâncias administrativas de governo explicitar diretrizes orientadoras e de acompanhamento do ensino. Contudo, ao mesmo tempo em que as escolas, em caráter autônomo, envidam esforços para a construção do projeto pedagógico identitário da organização, este também permite e aponta formas de controle e acompanhamento do trabalho educacional pelo órgão central. Condição sine qua non para que o projeto seja reconhecido é que sua elaboração seja reflexo de um amplo processo de participação dos atores sociais envolvidos. Um modo de organização e de planejamento dos sistemas educacionais concretiza-se nos Planos de Educação (Nacional, Estadual e Municipal). No âmbito da unidade escolar, é o projeto político-pedagógico que viabiliza a concretização das ações do Plano Escolar (pedagógico, político e administrativo). Mas afinal, o que é projeto político-pedagógico? Como aponta Gracindo (2007, p. 55), projeto político-pedagógico: É um documento teórico-prático que pressupõe relações de interdependência e reciprocidade entre os dois polos, elaborado coletivamente pelos sujeitos da escola e que aglutina os fundamentos políticos e filosóficos em que a comunidade acredita e os quais deseja praticar; que define os valores humanitários, princípios e comportamentos. Assim, o projeto pedagógico tem por função organizar o trabalho da unidade escolar, ou seja, perscrutar caminhos para que os objetivos sejam delineados e realizados num processo coletivo, como apontado na LDB 9.394/96 em seu artigo 2º que estabelece as finalidades da educação nacional que são: 46 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a o desenvolvimento pleno do educando, sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O projeto político-pedagógico tem como fundamentos esses mesmos objetivos institucionais (GRACINDO, 2007, p. 55). Sua construção requer uma análise minuciosa das questões a serem consideradas em todos os prismas da gestão: aspectos administrativos, pedagógicos e financeiros. Diógenes e Carneiro (2005, p.146), argumentam que: o Projeto Pedagógico não pode ser encarado, apenas, como modismo ou exigência das instâncias centrais de decisão, mas, acima de tudo, como tomada de consciência por parte da escola, diante da sua missão e função social no atual contexto histórico em que vivemos. Sendo assim, o projeto pedagógico é componente estabelecido na forma da Lei como garantia da gestão democrática nas escolas públicas. Para tanto, Gadotti (2001, p. 35) enfatiza que, para que realmente haja gestão democrática, é preciso “que a comunidade, os usuários da escola sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou, menos ainda, os meros receptores dos serviços educacionais”. De sorte que falar em do projeto pedagógico é falar de planejamento no contexto de um processo participativo, onde o passo inicial é a elaboração do marco referencial, sendo este a luz que deverá iluminar o fazer das demais etapas. Até porque projeto é também um produto documental do planejamento. Projeto Pedagógico, de acordo com Vasconcellos (1995, p. 143) “é um instrumento teórico-metodológico que visa a ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita ressignificar a ação de todos os agentes da instituição”. Tomando as palavras de Romão e Gadotti (apud PADILHA, 2002, p. 44) é preciso entender o projeto político pedagógico da escola como um situar-se num horizonte de possibilidades na caminhada, no cotidiano, imprimindo uma direção que se deriva de respostas a um feixe de indagações tais como: que educação se quer e que tipo de cidadão se deseja, para que projeto de sociedade? A direção se fará ao se entender e propor uma organização que se funda no entendimento compartilhado dos professores, dos alunos e demais interessados em educação. Deste modo, pode-se dizer, como Mendes (2007), que a importância do projeto pedagógico para o processo de gestão educacional ocorre por ser ele um norteador das ações da organização e da educação. Trata-se de uma ação intencional definida coletivamente que expressa asatividades pedagógicas e que leva ao alcance dos objetivos educacionais propostos e no dizer de Veiga (2004, p. 15): 47 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. E, por isso, todo projeto pedagógico da escola é também um projeto político, por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. Para Veiga (2001a, p. 11), o projeto pedagógico deve apresentar as seguintes características: • ser processo participativo de decisões; • preocupar-se em instaurar uma forma de organização de trabalho pedagógico que desvele os conflitos e as contradições; • explicitar princípios baseados na autonomia da escola, na solidariedade entre os agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto comum e coletivo; • conter opções explícitas na direção de superar problemas no decorrer do trabalho educativo voltado para uma realidade específica; • explicitar o compromisso com a formação do cidadão; • nascer da própria realidade , tendo como suporte a explicitação das causas dos problemas e das situações nas quais tais problemas aparecem; • ser exequível e prever as condições necessárias ao desenvolvimento e à avaliação; • ser uma ação articulada de todos os envolvidos com a realidade da escola; • ser construído continuamente, pois como produto, é também processo. A seguir, mostra-se um quadro sintético dos diferentes significados e concepções de Projeto Pedagógico: Quadro 6 – Concepções de projeto de escola Itens de análise Estratégico-empresarial Educação emancipadora Escola • Bancária, cartorial e padronizada por ser: • mercoescola, submissa aos valores do mercado; • voltada para formar “clientes e consumidores”; • privatista; • excludente. • Emancipadora e cidadã por ser: • estatal quanto ao funcionamento; • democrática quanto à gestão; • pública quanto à destinação; • inclusiva. Desafio Garantir qualidade formal, a fim de aumentar o desempenho da escola por meio do planejamento eficaz. Garantir qualidade técnica e política para todos. 48 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Pressupostos • pensamento separado da ação; • estratégia separada do operacional; • os pensadores separados dos concretizadores; • os estrategistas separados das estratégias. • unicidade da teoria e da prática; • ação consciente e organizada; • participação efetiva da comunidade escolar e trabalho coletivo; • articulação da escola, da família e da comunidade. Gestão • processo autoritário de tomada de decisões; • construída numa obrigação política vertical professores – direção – Estado; • baseada na separação, no tempo e na posição funcional dos professores; • autonomia decretada, palavra de ordem é vazia de significado. • processo democrático para constituir um caminho real de melhoria da qualidade do ensino; • construída numa “colaboração voluntária cidadão-cidadão fundadora de uma verdadeira federação de esforços participativos”(GOMES, 1996, p. 106); • construída com base em um projeto coletivo gestado com a presença efetiva de outros protagonistas: alunos, família, professores, funcionários e demais forças sociais; • autonomia construída, social e politicamente, pela interação dos diferentes protagonistas. Currículo e conhecimento Currículo homogêneo é uma estratégia para a padronização que consolida a exclusão. Conhecimento como produto pronto e acabado, podendo ser transmitido e arquivado por meio da repetição e da memorização. Currículo como instrumento de compreensão do mundo, de transformação social e de cunho político-pedagógico. Conhecimento como um processo de construção permanente; interdisciplinar e contextualizado; fruto da ação individual e coletiva dos sujeitos. Avaliação Visa aferir e controlar a qualidade por meio de instrumentos técnico -burocráticos e aplicados por grupos estratégicos articulados em diferentes níveis da esfera administrativa. Visa à emancipação, voltada para a construção do sucesso escolar e a inclusão, como princípio e compromisso social. Fonte: Veiga, I. Projeto político-pedagógico: novas trilhas para a escola. In: VEIGA, I.; FONSECA, M. (orgs.). As dimensões do projeto político-pedagógico: novos estudos para a escola. Campinas: Papirus, 2001, pp.63-64. De acordo com Padilha (2003), seguir-se-ão algumas indicações que orientam a elaboração do projeto político-pedagógico em suas etapas, lembrando que não se trata de um modelo acabado, admitindo-se outros tipos de percursos que expressem os saberes locais, que vão sendo construídos no cotidiano da escola sobre as melhores estratégias e metodologias de elaboração. Neste sentido, cabe lembrar que flexibilidade, objetividade e coerência são características a serem observadas no planejamento, uma vez que é necessário que considere, reflita e revele o contexto real para o qual é pensado, visando à sua transformação. 49 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Assim, o planejamento do projeto político-pedagógico compreende três etapas que seguem alguns passos que facilitam a sua elaboração: 1ª Etapa marco referencial • como entendemos o mundo? 1. Como compreendemos, vemos, sentimos o mundo atual? 2. Quais são os seus principais problemas e suas maiores necessidades? 3. Quais são as causas da situação atual em termos sociais, políticos e econômicos? 4. Quais são os efeitos da globalização sobre a qualidade de vida no mundo de hoje? 5. Quais são as utopias que nos movem neste mundo? 6. Qual a escola dos nossos sonhos? Nesta etapa, o grupo poderá apresentar respostas a possíveis perguntas relacionadas a como resolveriam, em termos ideais, os problemas mais próximos, que atingem diretamente a escola, no que diz respeito às dimensões pedagógica, comunitária, administrativa e financeira (PADILHA, 2003, p. 81). 2ª Etapa conhecimento da realidade • qual o retrato da escola que temos? 3ª Etapa propostas de ação • o que faremos na nossa escola? Conforme Padilha (2003, pp. 87-88), nesta etapa tomam corpo as propostas de ação, formuladas a partir do levantamento preliminar sobre os dados da realidade escolar, sendo o momento de programar as atividades e documentá-las, atividades estas que possam ser assumidas como compromisso de todos, considerando critérios de viabilidade e exequibilidade. O autor sugere, apoiado em Vasconcellos (apud PADILHA, 2003, pp. 88-89), que sejam classificados os diferentes tipos de ações para que sirvam de orientação à apresentação de soluções que correspondam aos diferentes tipos a seguir relacionados: Tipo1 – Ações concretas (proposta com caráter de terminalidade): • o quê? para quê? 50 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Tipo 2 – Linhas de ação (orientação geral, princípios); Tipo 3 – Atividades permanentes (rotinas, propostas que se repetem, com determinada frequência); Tipo 4 – Determinações (normas; ações de caráter obrigatório que atingem a todos). A redação final do projeto político-pedagógico, de acordo com prescrições de Padilha (2003, pp. 90-93), a qual, reafirmamos, admite variações pelo caráter processual e contextual da construção do projeto: 1. Identificação do projeto. 2. Histórico e justificativa. 3. Objetivos Gerais e Específicos. 4. Metas. 5. Desenvolvimento metodológico. 6. Recursos. 7. Cronograma. 8. Avaliação. 9. Conclusão. 6.2 Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola) Uma escola voltada parao pleno desenvolvimento do educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas também enfatiza outros aspectos: as formas de convivência entre as pessoas, o respeito às diferenças, a cultura escolar (PROGESTÃO, 2001, p. 45). O Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola), lançado por iniciativa do Governo Federal, trata-se de um plano estratégico de trabalho para definição de diretrizes, objetivos e metas estabelecidas pela Unidade Escolar. De acordo com a Mensagem do Presidente ao Congresso Nacional (2008), o PDE-Escola é um dos referenciais de execução das políticas educacionais implantadas por meio do Plano de Desenvolvimento da Educação, instituído em 2007, cujo objetivo é responder ao desafio de reduzir desigualdades sociais e regionais na educação, por meio de uma estratégia de ação que contemple as dimensões: educacional e territorial. Formam a base de sustentação do Plano de Desenvolvimento da Educação os seguintes pilares: 51 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • visão sistêmica da educação; • territorialidade; desenvolvimento; • regime de colaboração; • responsabilização e mobilização social. Assim, por meio de Portaria Normativa MEC nº 27/2007, o Ministério da Educação instituiu o Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE-Escola, antiga ação do Ministério da Educação que, de abrangência restrita, ganhou escala nacional. O Plano de Desenvolvimento da Escola instituído em 2007 tem a finalidade de diagnosticar problemas, metas e planos de ação para as escolas das redes públicas de educação básica. Anteriormente, o Plano de Desenvolvimento da Escola fazia parte do Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola) que é um programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/ MEC), com a interface das secretarias estaduais e municipais de Educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e financiamento proveniente do Banco Mundial (BIRD). Seu objetivo era promover um conjunto de ações para a melhoria da qualidade das escolas do Ensino Fundamental, ampliando a permanência das crianças nas escolas públicas, assim como a escolaridade nessas regiões do país. Atualmente, o PDE-Escola tem por objetivo fortalecer a autonomia da gestão escolar a partir de um diagnóstico dos desafios de cada unidade educacional, bem como a definição de um plano de gestão para melhoria dos seus resultados tendo como foco principal a aprendizagem dos alunos. O Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola) é um processo gerencial de planejamento estratégico desenvolvido pela unidade escolar participante e, de acordo com o artigo 2º da referida Portaria, sua execução será realizada por meio de processos gerenciais de: • autoavaliação da escola; • definição de sua visão estratégica; • elaboração de plano de ação. Lembrete O PDE é uma ferramenta gerencial utilizada com o propósito de auxiliar a escola a realizar melhor o seu trabalho: • focalizar sua energia; • assegurar que sua equipe esteja trabalhando para atingir os mesmos objetivos; 52 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a • avaliar e adequar sua direção em resposta a um ambiente em constante mudança (Fundescola/ Dipro/FNDE/MEC, 2006, p. 20). Tendo em vista que o processo de planejamento da escola, como mecanismo de fortalecimento de sua autonomia, deve ser conduzido pela equipe escolar, a partir de sua realidade, fundamentado em fatos e dados e tendo como foco a aprendizagem dos alunos, o PDE-Escola pode representar, no momento de seu planejamento, um processo de autoavaliação e de definição de sua visão. Diante dessa perspectiva, pode-se afirmar que o PDE-Escola não é um substituto da proposta pedagógica ou projeto político-pedagógico e com ele não se confunde. Até porque o PDE-Escola deve ver a escola como um todo em sua dimensão estratégica, não observando apenas sua dimensão pedagógica. Portanto, o Plano de Desenvolvimento da Escola é uma ferramenta gerencial que auxilia a unidade escolar pública a definir suas prioridades estratégicas, a converter tais prioridades em metas educacionais e outras concretas, a decidir o que fazer para alcançar as metas de aprendizagem e outras estabelecidas, a medir se os resultados foram atingidos e a avaliar o próprio desempenho, conforme descrito no documento Como elaborar o Plano de Desenvolvimento da Escola: aumentando o desempenho da escola por meio do planejamento eficaz (2006). Ainda segundo o mesmo documento, o Plano de Desenvolvimento da Escola está estruturado em duas partes: • visão estratégica; • plano de suporte estratégico. Na visão estratégica, a escola identifica os valores que defende; a sua visão de futuro, ou o perfil de sucesso que deseja alcançar no futuro; sua missão, que constitui a sua razão de ser; e seus objetivos estratégicos. No plano de suporte estratégico a escola define, a partir de seus objetivos estratégicos, o conjunto de estratégias, metas e planos de ação que transformarão a visão estratégica em realidade. Sendo o Plano de Desenvolvimento da Escola definido como um processo gerencial de planejamento estratégico é coordenado pela liderança da escola (equipe composta de diretor, assistente de direção, coordenação/supervisão escolar e orientador educacional) e elaborado de maneira participativa pela comunidade escolar. Assim, para melhor compreensão da estrutura do Plano de Desenvolvimento da Escola, apresentamos a seguir uma representação gráfica: 53 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PDE Plano de suporte estratégico Visão estratégica Missão Valores Objetivos estratégicos Visão de produto Estratégias Metas Planos de ação Figura 12 – Estrutura do Plano de Desenvolvimento da Escola Visto que o PDE-Escola apresenta em seus objetivos a melhoria da qualidade de ensino, a busca da eficiência e eficácia no sistema de ensino, o exercício da autonomia da escola na resolução de seus problemas e realização de suas aspirações, suas metas devem sempre apresentar as seguintes características, de acordo o documento Como elaborar o Plano de Desenvolvimento da Escola: aumentando o desempenho da escola por meio do planejamento eficaz (2006): • estar relacionada claramente a um problema que se quer resolver, identificado na análise situacional; • atender às necessidades/expectativas dos beneficiários, principalmente do aluno; • ser específica, ou seja, sem ambiguidade; • ser mensurável, isto é, ser quantificável; • ser realista, isto é, estar na esfera de possibilidades da escola, em termos humanos e materiais; • ter um responsável; • ter um prazo de execução. O Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola) para que seja desenvolvido percorre etapas em sua elaboração a fim de que o planejamento estratégico possa registrar uma ação exitosa. 1ª Etapa Preparação 2ª Etapa Análise sustentável 4ª Etapa Execução PDE 5ª Etapa Acompanhamento e controle3ª Etapa Definição da visão estratégica e do plano de suporte estratégico Figura 13 – Demonstrativo das etapas de elaboração do Plano de Desenvolvimento da Escola 54 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Ao chegarmos ao final desta unidade, pense e reflita sobre o desafio que ora se apresenta, veja o que afirma Madalena Freire (1997, p. 57) O desafio, portanto, é viver o planejamento sem deixar de correr o risco de possíveis improvisações... Neste sentido, o educador trabalha sua flexibilidade planejando. O desafio de todo educador na construção do planejamento é conhecer o que planeja – [...] esse é o estudo. Para isso precisa estruturar os objetivos de sua prática que nortearãoa organização de sua ação. Ação organizada não significa ação estática, mas ato constante de reflexão, de intervenção na realidade. Resumo Nesta segunda unidade, você teve a oportunidade de verificar a importância do planejamento para o desenvolvimento do trabalho do pedagogo. Também teve contato com os diversos modos de planejamento, desde o Plano de Aula até o Projeto Político-Pedagógico da Escola, bem como o Plano de Desenvolvimento da Escola, o chamado PDE-Escola. Exercícios Questão 1 (Enade 2008). A elaboração do projeto político-pedagógico é um processo de consolidação da democracia e da autonomia da escola, com vistas à construção de sua identidade. É uma ação intencional, com um compromisso definido coletivamente, que reflete a realidade, busca a superação do presente e aponta as possibilidades para o futuro. O projeto político-pedagógico é um documento que não se reduz à dimensão didático-pedagógica. Nesse texto, o projeto político-pedagógico se constitui como: A) instrumento legitimador das ações normativas da equipe gestora. B) desenvolvimento de ações espontâneas da comunidade escolar. C) definição de princípios e diretrizes que projetam o vir a ser da escola. D) incorporação de múltiplas teorias pedagógicas, produzidas na contemporaneidade. E) implementação de estrutura organizacional visando à administração interna da escola. Resposta correta: alternativa C. 55 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o projeto político pedagógico é justamente um instrumento criado para viabilizar a gestão democrática da escola, e não pode ser ferramenta de manobra ou legitimação das deliberações unilaterais de apenas um grupo ligado à comunidade escolar, muito menos da equipe gestora, que tradicionalmente já possui prerrogativas que lhe dão mais autonomia e poder do ponto de vista hierárquico. B) Alternativa incorreta. Justificativa: em termos de ações da comunidade escolar, muito dificilmente as iniciativas ocorrem espontaneamente. É necessário um trabalho que gere debate, identidade e um trabalho conjunto entre os envolvidos nessa comunidade. C) Alternativa correta. Justificativa: a alternativa é correta porque se relaciona ao foco principal do projeto político pedagógico – os valores e os objetivos da educação, que devem ser norteadores desde a legislação educacional, assim como das políticas públicas em educação, do PPP e do planejamento dos professores. Dessa maneira, é possível projetar o vir a ser da escola, aquilo que se espera em termos de conteúdo, tanto do ponto de vista teórico quanto de valores como ética e cidadania. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa não é correta, pois traz um argumento perigoso em se tratando de questões relativas à escola e à educação: os “modismos” pedagógicos. Nenhum projeto pedagógico, seja ele de uma unidade escolar ou de um professor, tem condições de incorporar a multiplicidade das teorias pedagógicas, pois antes de adotar qualquer uma delas é necessária uma reflexão crítica sobre a possibilidade de coerência da teoria proposta com a realidade da unidade escolar e da comunidade em questão. Além disso, simplesmente aderir ao novo, sem critérios, pode resultar em ações desastrosas ou na defasagem entre o discurso e a prática. E) Alternativa incorreta. Justificativa: respeitados teóricos na área de projeto político-pedagógico e gestão escolar são unânimes em afirmar que o PPP não pode se burocratizar, não pode e não deve ser um instrumento de caráter meramente administrativo, e sim um tratado amplo que envolve o pedagógico, o político e os interesses e necessidades da comunidade escolar como um todo (alunos, professores, equipe gestora, pais etc.). Questão 2 (Enade 2005). A implementação do projeto político-pedagógico é uma das condições para que se afirme a identidade da escola como espaço necessário à construção do conhecimento e da 56 Unidade II Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a cidadania. Sabe-se que o currículo é parte integrante desse processo e deve contemplar a formação de identidade cultural. Nessa perspectiva, o currículo deverá ter como diretriz: A) promover narrativas sobre o outro numa ótica universalista. B) valorizar o enfoque prescritivo e auto-referenciado do conhecimento. C) organizar conteúdos, disciplinas, métodos, experiências e objetivos. D) estabelecer pautas de conduta visando à classificação de identidades. E) privilegiar os processos de subjetivação coletiva e o saber sistematizado. Resolução desta questão na plataforma. 57 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Unidade III 7 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E SUPERVISÃO ESCOLAR NA CONTEMPORANEIDADE 7.1 Orientação educacional: a prática cotidiana Para além da mera orientação vocacional e das obrigações da lei, hoje, o orientador educacional está, cada vez mais, consciente de seu papel profissional, trabalhando de forma interdisciplinar, com todos os elementos que fazem parte do processo educativo: alunos, professores, funcionários, pais ou responsáveis, demais técnicos e comunidade do entorno em que a escola está situada. Observação Interdisciplinaridade diz respeito à integração de todos os saberes/ disciplinas/atividades. Demanda do educador uma nova atitude diante da questão do conhecimento, sendo que a prática interdisciplinar necessita de humildade, coerência, espera, respeito e desapego. O orientador educacional deve comprometer-se com: 1. a realidade concreta dos alunos, percebendo-os como sujeitos de sua própria história e não como meros indivíduos que devem ser ajustados à sociedade; 2. a formação de cidadãos críticos, que possuem desejos e anseios; 3. uma prática educativa que é, ao mesmo tempo, coletiva e individual e que tem na diversidade de seus atores um campo fértil de aprendizado sobre os valores pessoais e sociais; 4. a discussão coletiva e efetivação do projeto político-pedagógico da escola, articulando-o às ações cotidianas. Os ramos de atuação do orientador educacional podem ser distribuídos em: a) Orientação escolar; b) Relação família-escola; c) Relação escola-comunidade d) Orientação em relação à saúde; 58 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a e) Relações humanas; f) Orientação para o lazer; orientação vocacional e para o trabalho; h) Acompanhamento pós-escolar. Acompanhamento pós-escolar Relações humanas Vocacional e para o trabalho Lazer Relação família- escola Relação escola- comunidade Acompanhamento escolar Acompanhamento escolar e saúde Figura 14 O papel da orientação educacional pode, ainda, ultrapassar o âmbito da instituição escolar convencional, contribuindo com outros setores condizentes com a sua formação. Collares (2006) ressalta o papel de liderança e mediação exercido pela função e menciona a necessidade de atuação do orientador educacional em hospitais, empresas, ONGs, consultorias, escolas de informática ou línguas, academias, conselhos tutelares e penitenciárias, trabalhando na área de reabilitação profissional, relações interpessoais, recursos humanos entre outros serviços. Contudo, não devemos perder de vista o trabalho do orientador educacional no âmbito escolar e como partícipe da organização do currículo da escola. Podemos, dessa forma, elencar alguns dos fazeres do orientador educacional na escola: • contribuir para disseminar um clima harmonioso na escola e nas relações interpessoais de seus integrantes, difundindo valores como a solidariedade; • responsabilizar-se, juntamente com os demais profissionaisda escola, pela elaboração e acompanhamento do desenvolvimento da proposta pedagógica da escola; • articular com a Equipe Técnica e professores a elaboração dos planos de trabalho, acompanhando sua implantação; • investigar, orientar e acompanhar o processo de recuperação dos alunos com baixo rendimento escolar; 59 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • informar pais sobre o rendimento escolar; • acompanhar e encaminhar, quando necessário, os alunos com necessidades educativas especiais; • elaborar, com os demais integrantes da equipe técnica, suporte pedagógico e atividades de formação continuada. Essas são algumas das competências do orientador educacional. Sabe-se que a escola não foi sempre do jeito que estamos acostumados a encontrar. Antes da Revolução Industrial, no século XIX, e da formação da sociedade capitalista, a escola era destinada a sacerdotes e membros da elite. Com o advento da indústria, a sociedade precisou de outro tipo de homem, um cidadão, preparado para “vender” sua mão de obra, ou seja, a força de trabalho transforma-se em mercadoria. Esse homem deveria ter o tipo de formação adequado para as especificidades da vida e do trabalho. Contudo, esse foi um processo lento, mas que, aos poucos, foi gerando a forma escolar que temos hoje. Segundo Milet (2002, p. 43), interessou à sociedade capitalista promover a improdutividade da escola, para que se reproduzisse a força de trabalho, ou seja, o excedente de mão de obra barata, o chamado exército industrial de reserva. A autora acrescenta: A linguagem escolar expressa nos programas curriculares, no conteúdo dos livros didáticos, na fala do professor, nas normas disciplinares, nas regras de convivência reflete ideias, sentimentos e modelos de comportamento próprios da classe dominante... Temos hoje, um grupo de profissionais que atua na instituição escolar e está subordinado a uma estrutura de tipos e níveis de ensino, acompanhando o que determina a legislação vigente, fruto de negociações e interesse políticos. Contudo, a organização da escola está, ainda, subordinada às relações sociais internas (professor-aluno, professor-professor, aluno-aluno, professor-funcionário, funcionário-aluno) e externas (com a comunidade por meio de comunicação de massa), fazendo da escola um dos espaços da sociedade complexa integrante de uma totalidade dinâmica. Estando a sociedade em conflito e em mudança constante, a escola não poderia deixar de sofrer tais influências. Podemos dizer, ainda, que a instituição escola possui uma forma peculiar que se reproduz de maneira regular em instituições semelhantes mesmo que nas situações mais precárias e adversas. Pérez Góméz (2001, p. 15) afirma que a escola não é um simples agrupamento de pessoas. Trata-se de uma distribuição geográfica, social, política, temporal de profissionais e sujeitos, de espaços e tempos, isto é, uma distribuição cultural típica dessa instituição, que compõe uma rede de significados compartilhados determinados pelos mecanismos de interação e intercâmbios. 60 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a A organização interna da escola constitui-se de referenciais emanados tanto da esfera administrativa como da esfera pedagógica, que se inter-relacionam e se complementam. Segundo Derouet: [...] Um estabelecimento de ensino não é apenas uma unidade pedagógica, é também uma pequena empresa de restauração que pode servir mais de um milhar de refeições; é também uma pequena empresa de limpeza e de manutenção, se considerarmos que os efetivos em pessoal auxiliar e administrativo representam, mais ou menos, metade do número de professores (1996, p. 75). Nessa organização administrativa e pedagógica, também se manifestam questões essenciais como a estruturação do tempo e do espaço, fazendo florescer uma cultura própria, produzida no seu interior, demarcada por relações de poder na e da escola. São questões constitutivas de uma cultura própria, que, apesar da semelhança em alguns casos à uma empresa no que tange aos aspectos administrativos, apresenta especificidades que nenhuma outra instituição possui. Segundo Pérez Gómez (2001, p.17), a escola, ao mesmo tempo em que propicia a mediação reflexiva dos valores e das relações sociais de uma determinada sociedade, também desenvolve e reproduz sua própria cultura, gerando um conjunto de significados e comportamentos próprios. Assim, ao se pensar na diferenciação da instituição escola em relação a outras instituições, faz-se necessário ainda descrever como a forma escolar constituiu-se social e historicamente, e, ainda, como essa forma influencia a sociedade como um todo e vice-versa. A forma escolar, como resultado histórico de um processo de socialização da infância e da juventude, padronizou os saberes para existirem dentro de determinada organização. A escola é o espaço de tempo que tenta sistematizar e socializar as informações contidas na sociedade. À essa formatação dos saberes dá-se o nome de currículo, o qual dialeticamente acaba conformando a organização de toda a escola. Ressalta-se que os saberes estão espalhados por toda a sociedade, mas a escola tem uma forma tão poderosa que quase tudo relacionado a ensino, aprendizagem, socialização, disciplina, avaliação, entre outros, mesmo quando aparece noutros lugares na sociedade, funcionam tendo por referência a forma que a escola dá à organização dos saberes e que predomina sobre outras formas. Segundo Pérez Gómez (2001), além do currículo, os rituais e costumes, as relações existentes, a organização comportamental dos estudantes, são elementos típicos de uma cultura escolar que tanto condiciona como pressiona os comportamentos de todos os envolvidos no processo, constituindo-se outro entendimento da forma escolar. Contudo, essa forma escolar pode e deve ser refletida e está em permanente reorganização. O orientador educacional é o profissional que pode contribuir decisivamente para estar constantemente 61 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL repensando essa organização escolar, pelo fato de atuar com os diversos segmentos do contexto escolar e estar diretamente relacionado com questões que tem gerado polêmica no contexto escolar como avaliação, evasão e repetência, disciplina, cidadania, valores humanos, problemas de aprendizagem entre outros. É preciso pensar na atuação do especialista para que ele não se torne um profissional sem função ou desnecessário. Seu trabalho não pode estar centrado na ação de cobrir faltas e falhas de outros técnicos ou profissionais. A função primordial de qualquer técnico está em mobilizar o coletivo da escola, para a reflexão crítica sobre prática educativa com o objetivo de transformá-la, lembrando aos profissionais a presença de um projeto pedagógico mais abrangente do que os projetos individuais de cada um. O especialista deve estar bem qualificado, auxiliando o grupo na tomada de consciência do que está se vivendo no momento para juntos fazerem ajustes necessários visando ao bom andamento do processo ensino-aprendizagem. O orientador educacional pode ser um desses especialistas quando assume uma postura de transformação, ou seja, quando acredita que o homem pode mudar seu destino, que as situações não são completamente determinadas e que todos nós temos uma possibilidade de tomada de decisão e/ou ação, por menor ou mais complexa que seja a situação. Como ressalta Paulo Freire (1996), educador comprometido com a educação das classes populares, o homem e a mulher devem ser conscientes de que são seres inacabados e, a partir dessa consciência de si, devem buscar um processo permanente de aprendizado.Esse profissional comprometido com a mudança, que deve assumir o papel de mediador do processo educativo, parte da análise da realidade do sujeito para iniciar seu trabalho . No entanto, Vasconcellos (2002, p. 75) adverte que ao voltar o “olhar” para a realidade do aluno e da comunidade em que a escola está inserida, não se deve fazer uma: análise moralista, de acusação, como se a pessoa tivesse o tipo de prática que tem por ter decidido livre e conscientemente. Ter clareza, no entanto, que partir de onde está não é ficar lá. Entender não para justificar, mas para ajudar a mudar. As ações do orientador educacional tornam-se abrangentes, à medida que este assumiu o papel de elemento mediador das relações e da transformação da escola. Ele atua junto à formação continuada dos professores, tecendo as relações interpessoais entre funcionários, professores, membros da equipe, alunos e pais, orientando e organizando os alunos para atividades de representatividade e liderança entre outras atividades. 7.2 A orientação educacional em relação à Direção da escola A Direção da escola, geralmente é composta pelo setor administrativo, diretor e assistente de direção ou vice-diretor e pelo setor pedagógico, composto por orientador ou coordenador pedagógico e pelo 62 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a próprio orientador educacional. Sendo parte da equipe, ou corpo técnico, o orientador irá colaborar com a direção quando: • participar das decisões tomadas e contribuir para o bom encaminhamento das questões administrativas; • auxiliar na organização das classes, horários (da escolha de turmas pelos professores, das atividades complementares, estudo do meio, festas, reuniões), enfim, quando auxiliar na organização técnico-pedagógica do trabalho educativo; • propor assuntos de comum interesse educacional para serem debatidos e concluídos em reuniões; • realizar programações comuns e distribuir responsabilidades pela execução e avaliação das mesmas (CP/OE). 7.3 A orientação educacional em relação aos funcionários da escola e corpo docente Cozinheiros, inspetores de alunos, bibliotecários, pessoal de limpeza, secretários, enfim todos os profissionais que exercem funções auxiliares do processo educativo devem ser considerados educadores e conscientizados de sua importante tarefa para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de maneira saudável e organizada. Para tanto, o orientador educacional tem a função de manter um bom clima, entre esses profissionais, trabalhando questões como relacionamento interpessoal, diálogo, respeito, resgate da autoestima e atribuições para o bom funcionamento da escola, por meio de reuniões sistemáticas, ouvindo críticas e propostas para o trabalho, fornecendo subsídios teórico-práticos. Ao reunir-se com inspetores de alunos, por exemplo, é importante discutir sobre o comportamento dos estudantes, evidenciando o que é natural da idade e o que deve ser observado. Pode-se ainda orientar o profissional com propostas de trabalho para o desenvolvimento de atividades no recreio ou quando necessitar tomar conta de uma sala de aula, em um possível atraso do professor. O orientador educacional pode auxiliar o corpo docente quando: • procura evidenciar a realidade socioeconômica que a escola está inserida e as dimensões psico-biológico-emocionais dos alunos, auxiliando o professor a interpretar e enfrentar as várias manifestações destes, por vezes complexas e contraditórias, ocorridas em sala de aula; • reflete coletivamente sobre formas de avaliar o aluno e as consequências da repetência e da evasão escolar; • estudos sobre os rendimentos dos alunos e tarefas educativas conjuntas, que levem ao alcance de objetivos comuns tais como: estudos de recuperação, atividades complementares às aulas, tarefas relacionadas à orientação vocacional; 63 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • coordena estudos sobre problemas de natureza pedagógica, tais como: disciplina escolar, organização de classe juntamente com o administrativo, relacionamento com os alunos e dos alunos entre si e desenvolvimento infantil e do adolescente; • averigua as queixas apontadas pelo professor em relação aos alunos, no que se refere a problemas de saúde, comportamento e dificuldades de aprendizagem, orientando o professor a como proceder e, se necessário, encaminhando o aluno para diagnóstico e tratamento. Sempre que possível, procura dar devolutiva dos casos encaminhados ao professor; • auxilia o professor na busca de sua identidade profissional e complementação de sua formação humana de uma opção consciente pelo magistério. Com relação ao último item, Celso Vasconcelos (2002, p. 76) afirma que muitos professores buscam o magistério pela baixa procura dos cursos de formação e disponibilidade de postos de trabalho para professores, o que considera muito sério, já que a profissão exige da pessoa do professor um trabalho formativo constante e uma escolha profissional comprometida com o contexto social e humano do educando. A orientação educacional, na sua prática, precisa a todo momento auxiliar aos educadores na busca de soluções pedagógicas e metodológicas, redescobrindo o papel da escola na formação do sujeito e na construção de cidadão. Nesse sentido, é na escola que o aluno aprende a conviver com o outro, a aceitar a diversidade cultural, a participar e lutar pelo bem comum, a conviver com dificuldades e contradições, a trabalhar com o diálogo, a defender seus direitos e a dialogar. Todo o trabalho a ser desenvolvido pelo orientador educacional deve ter como base certos princípios norteadores: • respeito e encorajamento do papel ativo do aluno; • valorização do processo, do ato de fazer, e não apenas do resultado, produto final; • valorização das competências; • valorização dos conhecimentos prévios dos alunos; • valorização dos interesses individuais e de grupo; • planejamento da ação, estabelecendo objetivos, executando e avaliando a ação, revendo e refazendo, quando necessário; • percepção de momentos adequados para a introdução de desafios; • integrar-se ao trabalho de profissionais de outras áreas; • valorização da pesquisa e investigação para desenvolvimento das atividades pertinentes. 64 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a 7.4 Orientação educacional: relacionamento família-escola / escola- comunidade A escola e a família são instituições que têm em comum a preparação dos jovens para o envolvimento social, sendo ambos os grupos pontos de referência nos quais vivemos e atuamos. É função da escola, além de educar os jovens, ensinar os conteúdos específicos dos diversos ramos do conhecimento, o que faz com que se diferencie da função da família, que tem uma ação educativa voltada para a construção de valores, sentimentos e emoções (SZYMANSKY, 1997). Fazer o elo entre a escola e os pais ou responsáveis e a comunidade é uma das funções mais importantes do orientador educacional. Ao se pensar no trabalho do orientador educacional com a comunidade próxima da escola, é importante realizar o levantamento de recursos existentes e parcerias, visando a manter contato contínuo com o mercado de trabalho para o entrosamento escola-comunidade, bem como a usar os serviços da comunidade em benefício das programações curriculares, fazendo-os sentir que alguns objetivos das instituições devem apresentar elementos comuns, pois servem à mesma coletividade. Com relação à família dos alunos, é essencial ouvir e identificar seus valores e modos de conceber a vida, detectando o que esta espera da escola e convidando-a a participar não só das atividades e festejos da escola, mas do planejamento e da tomada de decisões.Como, então, conviver com tal realidade? O que esperar da família, principalmente da mãe que é, também, chefe de família? Que tipo de contato poderá ser estabelecido para que a escola não se sinta isolada da família e a família possa participar sem sentir-se pressionada? A família deve sentir-se acolhida e compreendida para que se construa um elo de confiança e parceria. Tais questionamentos trazem em si uma complexidade que necessita de um “olhar diferenciado” dos educadores a respeito dos modos de educação e do conceito de família que se transforma à medida que a sociedade também sofre mudanças. Nas sociedades ditas primitivas, por exemplo, a educação das crianças e jovens era feita por todos da comunidade de maneira informal e relacionava-se à vida prática. As crianças aprendiam a vida por meio da vida. Mais tarde, a forma de educar as crianças mudou. O conceito de família extensa, incluindo parentes e agregados, era o que prevalecia. Neste ambiente não existia lugar para o sentimento de infância. As crianças eram geralmente amadas e cuidadas, mas viviam misturadas com o mundo adulto, vestindo-se como eles, participando de festas e dos mesmos jogos. Era comum as famílias mandarem seus filhos para prestarem serviços e educarem-se em outras famílias, a educação, segundo Carvalho (2004) distinguia-se em popular (oral e prática), para os filhos das classes populares, e erudita (letrada, formal, sinônimo de cultura), concedida apenas para os nascidos no topo da escada social. Aos poucos, com o 65 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL surgimento gradativo das sociedades urbano-industriais, as famílias foram perdendo a característica de externas e transformando-se em nucleares, restritas a pais, mães e filhos. Além disso, perderam o controle sobre sua produção econômica, necessitando sair de casa para vender sua força de trabalho e dessa forma garantir o sustento dos seus membros. Como consequência, precisou delegar os cuidados e educação dos mais novos a organizações especializadas com a escola. Esta gradativamente tornou-se “lócus” de educação pública que tinha por objetivo a transmissão do legado cultural e dos valores sociais e políticos da classe dominante, bem como a qualificação para o trabalho. A transferência da educação da criança da instância privada que era a família, para a instância pública (instituição escola), ressalta Carvalho (2004), tinha por finalidade: atender às necessidades de cuidado, instrução e liberação das crianças - uma solução tanto para o lazer dos privilegiados quanto para a exploração dos numerosos pobres – à medida que o trabalho infantil era erradicado, o ingresso dos jovens no mercado de trabalho era crescentemente adiado, e o trabalho das mães, além daquele dos pais, afastava-as da casa (CARVALHO, 2004)1 Tal situação gerou uma suposta responsabilização da família pelo sucesso ou fracasso escolar de seu filho, pois o acompanhamento da educação doméstica ao auxílio escolar, via dever de casa, modelo utilizado pela classe média, formalizava a interação da escola com a família. Essa política de envolvimento dos pais na escola é inviável para as condições atuais das famílias de classes menos favorecidas, pois pressupõe condições como tempo, familiaridade com os conteúdos escolares e com a linguagem acadêmica e, ainda propriedade para ensinar os deveres de casa. Portanto, se o sistema educacional adotar um único modelo de relação família-escola para indivíduos de origens socioculturais diversas contando com a contribuição sistemática da família para organizar o processo ensino-aprendizagem, poderá incorrer no erro de produzir o fracasso escolar dos sujeitos menos privilegiados, ressaltando sua origem social e as diferenças materiais, culturais e familiares. Segundo Milet (2002, p. 44), interessa à sociedade capitalista promover a improdutividade da escola, para que se reproduza a força de trabalho, o excedente de mão de obra barato, o chamado exército industrial de reserva. Diante do exposto, voltamos à pergunta inicial do texto. Como incentivar a participação da família na educação formal de seus filhos? Em primeiro lugar, é urgente a escola reconhecer e trabalhar com as diferenças socioeconômicas e a diversidade cultural das famílias, tendo uma visão crítica da relação família-escola e das suas implicações para a produção do fracasso/sucesso escolar do aluno. As relações entre a família e a escola somente 1 Aqui no Brasil, assim como em outros países mais desfavorecidos economicamente, esse movimento de democratização do ensino, iniciou-se mais tarde, quase no fim do século XX. 66 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a podem ser construtivas se estiverem baseadas no respeito mútuo, na confiança e na aceitação das peculiaridades de cada um. Não existem duas famílias iguais e convém não ter esquemas rígidos sobre “como deve ser” uma família. Carvalho (2004) argumenta que a escola deve tratar de realizar práticas pedagógicas efetivas e que auxiliem o aluno a produzir conhecimento, independente do envolvimento da família com o trabalho extraescolar. É preciso produzir outro tipo de envolvimento dos pais na educação escolar de seus filhos. Tal experiência é desejável à medida que os pais puderem enriquecer os assuntos curriculares com novidades trazidas por eles e que possam ser compartilhadas com todos os alunos da classe. O contato entre família e educador é uma questão importante quando se pretende proporcionar abertura da instituição para que a família compreenda, aceite e valorize a tarefa educativa da escola, ao mesmo tempo, que é ouvida, entendida e aceita pela escola, sem julgamento de valor. Assim, na esteira desse pensamento, é possível tomar o exposto por Bassedas e Sole (1998, p. 296), no que se refere à relação benéfica entre família e escola pelos seguintes motivos: aproxima os dois mundos – o da família e o do centro – favorecendo aprendizagens mútuas, nas quais cada pessoa pode trazer uma experiência, um saber, uma maneira de fazer diferente e enriquecedora. Em qualquer caso, a pertinência, o tipo e a magnitude da participação deve ser cuidadosamente analisada e discutida pelo conjunto dos professores, ao mesmo tempo que convenientemente enquadrada no projeto pedagógico da escola. Essa participação nunca deve gerar confusão sobre as responsabilidades, as funções e as respectivas implicações; sempre deverá ser um meio, entre outros, para garantir o que queremos deixar evidente a proximidade entre os dois contextos primordiais. Nessa perspectiva, o chamamento individual, quando necessário, torna-se otimista e baseado na troca de experiências e informações sobre o aluno, que possibilitem o repensar de posturas e atitudes tanto da família, como da escola. Outra forma de participação ativa e efetiva da família diz respeito à maneira como o Conselho de Escola é conduzido, trazendo a oportunidade de a família sentir-se mais próxima da escola, participando de decisões. Esse instrumento democrático de atuação será discutido posteriormente quando apresentaremos os espaços mediação do orientador educacional. Além da parceria com a família, a escola e o orientador educacional têm um papel fundamental no estreitamento dos laços entre escola e comunidade, principalmente, se refletirmos sobre a educação da classe trabalhadora e sobre a democratização do ensino. Na experiência relatada por Milet (2002, p. 47) a respeito do debate sobre o papel da orientação educacional e a educação do filho do trabalhador, profissionais orientadores educacionais levantaram as proposições para ampliar a participação coletiva, tanto das famílias como da comunidade, no processo educativo. Ente as propostas, estavam: 67 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Diag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • promover a discussão coletiva sobre o papel da escola na comunidade onde se situa e na sociedade em que vivemos; • levantar as expectativas da comunidade sobre suas aspirações em relação à escola; • propor a realização de um diagnóstico dinâmico e participativo tanto da realidade interna da escola, como da realidade da comunidade onde vivem os alunos; • valorizar a realidade do aluno na definição dos projetos escolares; • rediscutir o currículo escolar com a participação dos envolvidos no processo educativo, inclusive o aluno e a comunidade; • estimular e referendar a participação dos pais e da comunidade na elaboração dos projetos escolares, buscando opiniões, sugestões e críticas; • estabelecer contato com o local de trabalho do aluno, buscando a garantia de que seu horário de estudo seja respeitado; • enfatizar a necessidade de incluir no currículo a discussão sobre trabalho. Portanto, para que a família e a comunidade participem da escola, faz-se necessário o encorajamento ao exercício de debater, criticar, apreciar. Por outro lado, os profissionais da escola precisam estar abertos a “ouvir” o que esses segmentos têm a dizer. As relações devem ser transparentes, sendo que é somente na ação conjunta de todos que a escola cumprirá seu papel social. É somente com uma atitude de abertura que poderemos repensar valores e procedimentos, gerenciando as “crises”, diagnosticando a origem, propondo soluções e criando mecanismos de manejo e prevenção de possíveis situações-problema. Dessa forma, será possível, a partir do confronto de saberes, produzir novos saberes e parcerias, capazes de preencher as necessidades dos alunos. Diante desse panorama pergunta-se: como incentivar a participação da família na educação escolar dos filhos? De acordo com as ideias de Carvalho (2004, p. 20) que estudou a relação escola-família, pensando também nas questões de gênero: se há concordância acerca do conteúdo, método e da qualidade do ensino oferecido pela escola, isto é, apoio tácito dos pais/mães, e aprendizagem satisfatória dos filhos/as, isto é, convergência positiva do aproveitamento individual e da eficácia escolar, tudo vai bem nas relações família-escola. Mas se os resultados são insatisfatórios ou deficientes... então há problemas. Portanto, a relação família-escola basicamente depende de consenso sobre filosofia e currículo (adesão dos pais/mães ao projeto político-pedagógico da escola), e de coincidência entre, de um lado, concepções e possibilidades educacionais da família e, de outro, objetivos e práticas escolares. A relação 68 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a família-escola também será variavelmente afetada pela satisfação ou insatisfação de professoras e de mães/pais, e pelo sucesso ou fracasso do/a estudante. A afirmação da autora resume bem o desejo dos educadores em relação a um envolvimento da família do aluno a cerca da educação formal que é dada na escola. Fica claro que o educador não quer que a família interfira no seu trabalho pedagógico ou na sua autoridade profissional. Tal participação, quase sempre, significa o comparecimento às reuniões de pais, monitoramento do dever de casa, assistência a trabalhos em grupo, providências quanto à aquisição de materiais especiais para projetos, disponibilidade para realizar programas culturais e de lazer com a criança etc. Contudo, sabemos que esse tipo de “disposição especial” por parte da família, para participar da vida escolar de seu filho, faz parte de uma visão de modelo tradicional de família, geralmente da classe média que hoje em dia quase não existe mais. Além disso, como lembra bem Carvalho (2004), em nossa sociedade, quando se menciona a participação dos pais na escola, estamos nos referindo, na maioria das vezes, ao envolvimento da mãe que, no contexto da divisão sexual do trabalho, é considerada a responsável por mais esse encargo que muitas vezes assume, também, toda a responsabilidade e a chefia de sua família. Se concordarmos que a participação dos pais na escola está diretamente relacionada ao desempenho escolar do estudante ou, ainda, se acreditarmos que quanto maior o envolvimento da família na educação formal de seus filhos, maior será seu rendimento, teremos de considerar as condições materiais e culturais dessas famílias e a disponibilidade de seus responsáveis. Não podemos negar que, embora haja exceções, o fracasso escolar atinge, principalmente, as crianças das famílias mais pobres das escolas públicas mais carentes. O orientador educacional deve ter seu plano de trabalho contextualizado com todos os segmentos da escola, incluindo-se, principalmente, a família e a comunidade. As transformações da sociedade moderna levam a uma nova concepção de família, que possui seus papéis ressignificados. Essas modificações de papéis, a serem desempenhados na família, advêm das características econômicas e sociais que se impõem na atualidade. De sorte que é necessário ao orientador educacional compreender as transformações e suas consequências no processo relacional família-escola-comunidade. Certo é que família e escola têm objetivo comum: propiciar condições favoráveis ao desenvolvimento integral das crianças, adolescentes, jovens e adultos. Desta forma, é importante desenvolver as seguintes ações: • caracterização do entorno da escola: — recursos econômicos; — clubes – associações; 69 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL — igrejas; — comércio; — indústrias; — transportadoras; — acessos; — pontos turísticos; — principais vias; — mapeamento; — serviços médicos e farmácia. Esse levantamento implica uma relação de visita real, quando necessário, objetivando recursos e parcerias com a escola, verificando-se quando a comunidade participa e se a escola é tida como pertencente à comunidade. • caracterização do grupo de pais: — elaborar previamente a documentação com informes dos pais, previne possíveis situações constrangedoras; — o orientador educacional deve apropriar-se por intermédio de questionário informativo, elaborado quando da matrícula, com dados pertinentes, tais como: renda familiar, situação econômica, membros da família, profissão dos responsáveis, cultura familiar, nível educacional. Com base nesse levantamento, os temas a serem abordados nas futuras reuniões terão mais relevância e encaminhamentos adequados. Outro levantamento importante junto aos pais deve ser sobre “as preocupações” deles em relação aos filhos e a si próprios: drogas, sexo, emprego, violência etc. Após mapear as características, o orientador educacional deverá viabilizar as ações suscitadas em sua análise. Também é de grande valia a garantia das proposições do plano do orientador educacional, o conhecimento dos professores e alunos para fundamentar sua interlocução com pais. A atuação junto aos pais deverá ser pautada em três momentos: I – com o grupo da comunidade: discutindo as possíveis colaborações e implicações, desenvolve-se um sentimento de responsabilidade e participação da comunidade junto à escola. 70 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a II – com todo o coletivo de pais da escola (por período, por classe): a multiplicidade de opiniões, situações, concepções, exigem do orientador educacional a delimitação de temas necessariamente abordados em seus encontros com pais. As pautas das reuniões deverão ter boa estruturação, para que haja implicação dos pais e participação e, consequentemente, atendimento às expectativas. Em geral, são temas reais (reformas da escola, uniformes, passeios etc.) com abordagensconjuntas com a direção (horários, festas) e temas associados ao processo de desenvolvimento do aluno na escola e na sociedade (novas tecnologias, sexo, violência, hábitos de leitura etc.). III – com todo o coletivo de pais. 7.5 Orientação educacional e o trabalho com os alunos A seguir, leia uma experiência relatada por Arroyo (2004, p. 34) em uma reunião de formação de professores: Era um sábado. Nos reunimos na escola para um dia de estudo. Todos nós estranhamos o silêncio. A diretora comentou: “a escola sem os alunos não é a mesma”. “Parece uma casa sem filhos. Desabitada”, comentou uma professora. Chamou-me a atenção: a escola sem os alunos não é a mesma, parece uma casa desabitada. Não sabemos viver sem eles e elas. Sentimos sua ausência. Até seu incômodo. Sugeri que começássemos o dia de estudo por aí: sempre os alunos habitaram a escola? Estaríamos em tempo em que sentimos mais sua presença? Presença cômoda ou incômoda... O que mudou na escola? A resposta de muitas(os) professoras(es) coincidia: “os alunos não são os mesmos”. Seria um motivo suficiente para preocupar-nos. Uma professora nos levou para o núcleo de nossas inquietações: “quando os alunos não são os mesmos a escola poderia ser a mesma? Nós podemos fingir ser os mesmos?”... Estaria chegando a hora de repensarmos? Condenaremos e expulsaremos as(os) alunas(os), por não serem os mesmos? Desta vez, os alunos nos obrigam a repensar as imagens com que os representamos. Essas imagens terão de ser outras se os alunos são outros... Os alunos não são outros por serem indisciplinados, mas por serem outros como sujeitos sociais, culturais, humanos. Porque a infância, adolescência e juventude que são forçados a viver são outras. Os variados depoimentos dados pelos(as) professores(as) pareciam revelar que o desencanto docente não é tanto com as condutas indisciplinadas dos alunos (sempre houve indisciplina nas salas de aula). O desencanto é com a perda das imagens que povoam nossa docência, a educação e as escolas. Colocamos a pergunta: que olhares projetamos sobre os alunos? Com que imagens os representamos? Que imagens carregamos da infância, adolescência e juventude? Os(as) alunos(as) “que não são mais os mesmos” cabem nessas imagens? Não nos incomodam exatamente porque quebraram essas imagens? Vivenciar essas inseguranças pode ser positivamente amedrontador”. 71 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL O depoimento nos leva a pensar quais “olhares” temos do aluno e da escola. Com certeza, quando pensamos em criança, reafirmamos as ideias românticas, cheias de pureza, beleza e bondade (que guardamos de uma infância que nem sempre foi a nossa), como única imagem de aluno, ou seja, crianças são sempre adoráveis, bonitas, cheirosas e não têm maldade. No que se refere à educação, ainda temos uma imagem divulgadas por pedagogos românticos que acreditavam que iriam fazer florescer as plantinhas (alunos) nos jardins escolares. Assim, nossa imagem de infância e da educação é falsa, construída pela modernidade, no âmbito social e cultural e reforçada pela pedagogia moderna. Tais ideias não correspondem mais (será que um dia corresponderam?) à realidade de várias crianças e adolescentes, principalmente daqueles que vivem nas favelas, nas ruas, no campo ou na cidade. Então, é preciso repensar essa imagem e buscar apreender o aluno real. Para tanto, é urgente voltarmos nosso “olhar” para os alunos. Isso significa reexaminarmos os conhecimentos que temos dos alunos, tanto no que se refere aos aspectos do desenvolvimento emocional, físico e intelectual, como em relação aos aspectos sociais e econômicos. Significa, ainda, “ouvir” o educando, sua história de vida, expectativas com relação à escola, os colegas, a professora etc. Precisamos tomar cuidado, pois durante anos, um ramo da Psicologia apoderou-se dos estudos sobre as fases do desenvolvimento humano e de outras pesquisas, direcionando nosso pensamento para a busca do conceito de “normalidade”, ou seja, quando a criança não faz determinada ação que estaria dentro do nível de desenvolvimento em que se encontra, tais pesquisas dizem que esta tem um atraso no seu desenvolvimento. Há de se enfatizar que é de extrema importância estudarmos as fases do desenvolvimento da criança e do adolescente para tomarmos tais reflexões como indicadores e ponto de partida para o conhecimento e a tomada de decisão com relação ao que será trabalhado com os alunos. Contudo, faz-se necessário conhecer os alunos em outros aspectos como a suas experiências familiares e pessoais, condições de moradia, emprego dos familiares, formas de sobrevivência experiências de exclusão, vivências da infância, trajetória escolar entre outras tantas questões. Arroyo (2004, p. 61) afirma que para conhecer os alunos é importante estudar as trajetórias humanas e entender as especificidades do contexto atual de vida deste. O autor adverte: Para chegarmos a ter outra sensibilidade pedagógica para com os conteúdos da docência, ou para novas didáticas ou para com os tempos de formação e socialização, teremos de começar por termos sensibilidade humana para com os(as) educandos(as) como sujeitos sociais e culturais, éticos e cognitivos. Plenos. Rever nosso olhar sobre os alunos sempre nos surpreende. Em dois sentidos: de um lado estranhamos a visão tão negativa que refletem os termos com que os nomeamos, de outro lado nos surpreende a riqueza de seus itinerários humanos, frequentemente tão tortuosos. Com isso, necessitamos encontrar formas de “olhar e ouvir” os alunos e conhecê-los. Ainda é raro encontrarmos escolas que, para conhecer seus alunos planejam os primeiros dias de aula com situações 72 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a que propiciem a “escuta” do aluno e construção da imagem real deste. A esse período costuma-se dar o nome de período exploratório. Após esse momento, professores reúnem-se novamente para, diante desses dados, repensar e replanejar o trabalho com seu grupo de alunos, os objetivos, conteúdos e estratégias de ensino. O orientador educacional pode auxiliar nesse processo trazendo informações do contexto social e econômico em que os discentes estão inseridos, buscando informações sobre suas famílias e modos de vida, observamos os alunos, chamando a atenção para julgamentos preconceituosos e unificadores do estilo: os alunos dessa escola são oriundos de famílias desestruturadas ou por estarem inseridos num contexto social violento, a maioria dos alunos têm posturas indisciplinadas. O julgamento generalizante e apressado gera visões simplificadas, fragmentadas e excludentes. O profissional da orientação deve ajudar também os educadores a constantemente reverem seus padrões morais. Sabe-se que existem valores éticos que são universais, como o amor e o respeito humano. Contudo, há questões que hoje em dia devem ser revistas e reconstruídas. A formação ética passa por um processo permanente de reconstrução. Tomando como exemplo questões de adolescência e mídia, condutas em relação à mulher, à raça entre outras, verificamos que os valores e condutas estão mudando e que muitas vezes, os padrões que temos precisam ser repensados e por vezes superados. Segundo Arroyo (2004), à medida que avançamos e compreendemos a construção de valores na sociedade até em relação à sua história, podemos compreender e aprender a lidar com os percursos morais dos alunos, respeitando e dialogando com o ponto de vista do outro para encontrar formas de convivência saudáveis. O exercício da escuta e da liberdade pode ser um caminho possível para essas relações. O trabalho de orientação educacional junto ao escolar objetiva auxiliar aos alunos no seu pleno desenvolvimento e na sua formação humana, ou seja, o orientador educacionaldeve buscar formar o aluno como pessoa capaz de pensar, de estudar e de desenvolver seu sentido de cidadania. Outro aspecto a ser observado pelo orientador educacional, em relação ao discente, é instrumentalizá- lo para a organização eficiente do trabalho escolar, tornando a aprendizagem mais eficaz, bem como realizar sessões de orientação de estudos, previamente agendadas em calendário, onde o orientador educacional utilizará estratégias diversificadas (textos, trabalhos em grupo, vídeo, informática, debates, atividades extraclasse etc.) que vão ao encontro dos objetivos propostos e às necessidades e interesses da faixa etária a ser trabalhada. O orientador educacional, também necessita estabelecer um vínculo de confiança e cooperação aluno/aluno, aluno/orientador, ouvindo-o com paciência e atenção. O aluno é o elemento central do processo educativo e deve ser visto como um sujeito social e concreto, que tem uma história de vida que deve ser levada em consideração pelos membros da escola. É tarefa do orientador educacional fazer a mediação entre o aluno e aspectos do processo ensino- aprendizagem, evidenciando aos educadores quem é esse sujeito e preservando seu direito de participar da vida da escola, dentro e fora da sala de aula, construindo sua identidade pessoal e grupal e criando possibilidades de refletir sobre seus valores e os valores culturais vigentes na sociedade. 73 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL O orientador pode, ainda, estimular os alunos ao protagonismo juvenil, organizando a eleição e formação dos representantes de classe e de membros dos grêmios estudantis. Tal aspecto proporciona o exercício da prática da cidadania e liderança pelos alunos. Deve propiciar também, a integração de alunos novos, em cooperação com grêmio estudantil e outros participantes. Há a possibilidade de um trabalho sistemático com alunos antigos, por exemplo: uma associação de ex-alunos, que pode cooperar para a realização de grupos de estudos entre ex-alunos e alunos mais novos ou, ainda, a promoção de palestras sobre diversos assuntos de interesse dos alunos. A orientação vocacional ou profissional, como já sabemos, é um dos campos clássicos do trabalho da orientação. Contudo, tratar desse assunto hoje, na escola, significa imbuir-se de uma dose de esperança mostrando a importância de se estabelecer novos valores como a solidariedade, justiça, liberdade e paz, para além da competição e do individualismo. Significa ainda, ajudar nossos alunos a se conhecerem, a entenderem estas circunstâncias históricas complicadíssimas em que estão envolvidos, a acompanharem o movimento das profissões e a se capacitarem para encontrar alternativas dignas de sobrevivência – portanto, sem abrirem mão do compromisso com este horizonte mais geral de mudança (VASCONCELOS, 2006). Para isso, o orientador educacional pode lançar mão de grupos de orientação coletiva que podem ser formados espontaneamente, ou de sessão coletivas em classe, caso haja possibilidade, dentro do horário de aula. O orientador educacional atua ainda no sentido de possibilitar o encaminhamento, o diagnóstico e o tratamento de alunos com algumas necessidades educativas especiais, que podem ser desde um problema simples de visão ou audição, dificuldades de aprendizagem até problemas neurológicos e psiquiátricos. Nesta perspectiva, orientador atua junto com o professor, observando o aluno, solicitando relatório do educador, entrevistando os pais ou responsáveis e buscando informações que possam auxiliar o trabalho pedagógico em sala de aula. Infelizmente, em quase todos os municípios, há poucos serviços de saúde gratuitos que realizam o diagnóstico e o tratamento desses alunos gratuitamente. Este é um dos principais aspectos conflituosos do trabalho do orientador educacional que está relacionado, também, à questão do preconceito e da inclusão. Outra questão que merece destaque é que existem profissionais que confundem essa atribuição do orientador e as próprias limitações em trabalhar com problemas exclusivamente educacionais, que não fazem parte da dimensão da saúde. Esses educadores encaminham todo e qualquer aluno com dificuldade ao serviço de orientação educacional, gerando desgaste para alunos, familiares e para o próprio orientador. Vasconcelos (2002, p. 80) denomina tal prática de “síndrome de encaminhamento” ou seja, manda-se o aluno para que “se dê um jeito”, por conseguinte, provoca-se a “síndrome do chamamento” convocando os pais ou responsáveis para comunicar que o filho “tem ou é um problema”. 74 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Esse fato nos remete a outro problema bem comum na escola: o da indisciplina. Não é incomum ouvirmos relatos de professores declarando que os alunos de hoje, não são como eram os de antigamente e que, atualmente, a desestrutura familiar gera sujeitos que têm dificuldades em aceitar limites, são desrespeitosos, dispersivos e têm comportamentos agressivos. Essas situações, na opinião dos professores, os impedem de ministrar uma boa aula, pois muitas vezes, precisam trabalhar outros conteúdos como questões relacionadas a valores e saúde. Mas, será que esse é o verdadeiro ou único motivo da indisciplina na escola? Como explicar tal problemática? O fato é que a sociedade mudou e a escola mudou também ao se abrir para a escolarização dos filhos das camadas populares. Contudo, guardamos uma herança pedagógica alheia aos dias atuais, tratando o aluno, no que se refere aos condicionantes sociais e históricos e aos aspectos psicológicos, como se fossem iguais e tivessem as mesmas oportunidades dos alunos das classes mais favorecidas. Dessa forma, a indisciplina é um sintoma da inadequação do aluno real à escola idealizada, gerando a confrontação do novo sujeito histórico a velhos modelos autoritários, elitistas e conservadores de ensino. Se por um lado, o autoritarismo, as arbitrariedades e os preconceitos provocam mais revolta e violência por parte do aluno, por outro lado, a complacência, o paternalismo e o protecionismo, não auxiliam o aluno no desenvolvimento de atitudes de reflexão e autonomia moral2. Sendo assim, tais situações de conflito só serão resolvidas se forem enfrentadas sem culpabilizar os elementos envolvidos ou tratar o caso como um problema isolado. Enfrentar o conflito significa dialogar sobre o ocorrido, tentando evidenciar as questões que o provocaram e restabelecendo os vínculos e relações quase sempre rompidos, principalmente no que se refere à relação professor-aluno. Aquino (1999) afirma que tal atitude exige uma postura de construção negociada com relação às estratégias de ensino e avaliação, sendo que para isso o educador deve saber quem é o seu aluno e a realidade em que vive, investindo na construção coletiva das regras do grupo e no constante relembrar das mesmas, bem como, no renovar cotidiano de suas práticas em sala de aula. À luz desse enfoque, é importante que orientador educacional mantenha contatos contínuos de natureza informal (visitas à sala de aula e conversas no recreio) com os alunos, possibilitando um relacionamento cordial e levando-os a aceitar naturalmente a sua presença durante as atividades desenvolvidas pelos professores. Além disso, deve auxiliar o professor a procurar formas de estabelecer vínculos de confiança e afetividade com seus alunos, motivando-os às condutas de diálogo e reflexão sobre seu trabalho educativo. 2 Autonomia Moral – termo utilizado por Jean Piaget (1978) para se referir ao sujeito que tem a capacidade de autogovernar-se. A autonomia virá da compreensão da reciprocidade e do respeito nas relações entre as pessoas. 75 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d ata ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL O trabalho de orientação educacional junto ao escolar objetiva auxiliar aos alunos no seu pleno desenvolvimento e na sua formação humana, ou seja, o orientador educacional deve buscar formar o aluno como pessoa capaz de pensar, de estudar e de desenvolver seu sentido de cidadania. Outro aspecto a ser observado pelo orientador educacional, em relação ao discente, é instrumentalizá-lo para a organização eficiente do trabalho escolar, tornando a aprendizagem mais eficaz, bem como realizar sessões de orientação de estudos, previamente agendadas em calendário, onde o orientador educacional utilizará estratégias diversificadas (textos, trabalhos em grupo, vídeo, informática, debates, atividades extraclasse etc.) que vão ao encontro dos objetivos propostos e às necessidades e interesses da faixa etária a ser trabalhada. O orientador educacional, também precisa estabelecer um vínculo de confiança e cooperação aluno/aluno, aluno/orientador, ouvindo-o com paciência e atenção. Assim, entre as atribuições do orientador educacional está a orientação para o estudo, como sugestão de itens para reflexão em sessões de orientação de estudo, cita-se: a) Plano pessoal de estudos; b) Observação de local apropriado para hora de estudo; c) Organização dos afazeres e sequencial de trabalhos, elencando prioridades; d) Realização de resumos e quadros pertinentes ao conteúdo estudado. O setor de orientação educacional pode estimular o alunado na eficiência de seu estudo, como apontado por Martins (1994, p. 136). A eficiência no estudo Um dos objetivos educacionais mais importantes e mais difíceis de serem conseguidos é o desenvolvimento de hábitos e técnicas eficientes de estudo. O orientador educacional não pode prescindir de um bom conhecimento dos hábitos de estudo de seus educandos, a fim de poder orientá-los convenientemente. Assim, sugerem-se algumas perguntas que podem fazer parte de um questionário de averiguação de problemas escolares: - É capaz de permanecer estudando sem interrupção? - Concentra-se bem nos estudos ou é distraído? - Tem dificuldade em aprender o que estuda? - Tem bronca de algum professor? - Dá opiniões nas aulas? 76 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a - Pergunta quando tem dúvidas? - Falta muito às aulas? - Tem medo de ser reprovado? - Estuda diariamente as matérias dadas em aulas? - Procura decorar as lições? - Lê o todo e depois estuda por partes? - Faz revisões do assunto estudado, reproduzindo com suas palavras? - Faz resumos e exercícios para fixar o que estudou? - Pesquisa em outros livros o assunto em estudo? - Procura anotar tudo o que o professor fala em aula? - Estuda porque gosta? 7.6 Orientação educacional: relação escola-saúde O orientador educacional em suas atribuições deverá entender que seu aluno é um ser integral, constituído de aspectos físicos, psicológicos, mentais, emocionais entre outros. Dessa forma, muitas vezes, as “falhas” de aprendizagem podem ser advindas de privação cultural, falta de estímulo do ambiente familiar e até mesmo de fatores orgânicos. Cabe a este profissional encaminhar o educando aos setores competentes, visando a proporcionar o bem estar do mesmo. Contudo, o papel da escola não para por aí. Paralelamente, os educadores precisam ser sensibilizados para terem uma atitude de acolhimento para com esse sujeito, otimizando recursos educacionais escolares para atendê-lo da melhor forma possível. Tais dificuldades que extrapolam os limites das possibilidades da escola, denominadas de orgânicas, identificadas inicialmente, pelo professor e analisadas pelo orientador educacional por meio do desempenho do aluno, em relação à classe e a ele próprio, deverão ser encaminhadas para os profissionais e/ou técnicos da Saúde, ou ainda, para o setor competente. Este procedimento deverá ser realizado após análise e avaliação de todos os aspectos cognitivos, sociais, culturais e sempre com a participação e informação dos familiares. A informação dos pais objetiva não apenas as interações, mas permite a identificação de fatores que afetam o processo educativo. Como ponto de referência, na área da Saúde, o encaminhamento inicial deverá ser ao médico. Posteriormente, aos demais profissionais. É uma tarefa difícil e que exige do orientador educacional discernimento, competência e perspicácia. O orientador educacional, além de analisar o relatório do professor e a entrevista com os pais, deverá observar sistematicamente o aluno nas atividades desenvolvidas individualmente e em grupo, estando sempre atento aos aspectos emocionais. As anotações dessa observação contribuirão para a imparcialidade do relato e deverão compor a documentação para encaminhamento do aluno aos setores competentes. 77 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Exemplificando: o aluno que em um grupo classe (de acordo com a faixa etária), após ter passado por várias experiências de aprendizagem, não possuir habilidades de audição, leitura oral, composição escrita, interpretação de ordens orais, trocas de fonemas, entre outros, deverá, após a sistematização da observação e dos relatos da situação (relatório), ser encaminhado pelo orientador educacional a um médico ou, dependendo do caso, diretamente ao fonoaudiólogo, psicólogo ou psicopedagogo. Alguns alunos podem apresentar alguma característica genética (síndromes), que se manifestam no desenvolvimento, em geral na escola. Por outro lado: quadro de anemias, deficiências, doenças congênitas, nem sempre são percebidas até mesmo pelos pais. O importante é não apenas encaminhar, mas assumir o compromisso de acompanhar o desenvolvimento do aluno trabalhando em parceira com profissionais como: fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos, terapeuta ocupacional, médicos (em todas as suas especialidades), dentistas e outros, conforme a necessidade do aluno. Tal acompanhamento deverá ser feito por meio do trabalho compartilhado. Não se pode compreender o trabalho do outro de forma isolada. O trabalho da orientação educacional implica ações individuais e coletivas. Assim, as ações coletivas fundamentam-se na ideia de vários profissionais trabalharem com o educando, trocando informações e saberes para melhor atendê-lo. As interlocuções que ocorrem após o encaminhamento do aluno devem ocorrer não só com o orientador, mas com o professor, a família e o profissional ou profissionais da saúde envolvidos, visando à compreensão integral do educando, seus comportamentos e formas de aprender. A partir daí, pode-se traçar um plano de apoio na resolução de seus problemas ou dificuldades. Ao realizar tal parceria, os envolvidos estarão realizando um trabalho em rede, numa perspectiva multidisciplinar que irá trazer benefícios positivos aos alunos. Práticas como essas proporcionam à criança com necessidades educacionais especiais o que chamamos de processo de inclusão, que renega o princípio da “normalização”, já explicitado anteriormente, e procura propiciar um ambiente saudável e com suporte técnico para que o aluno possa permanecer em uma sala de aula comum, com outras crianças, aprendendo e se socializando. A orientação educacional deve ter um caráter investigativo. A ação investigativa do orientador educacional possibilita o conhecimento do aluno tanto no funcionamento do sujeito quanto de seu organismo. As observações realizadas na escola pelo orientador educacional podem facilitar os profissionais da área de saúde no rumo de uma possível intervenção nessa área. Trabalhos atuais nas diversas áreas do conhecimento têm sido desenvolvidos de modo que seja construído um projeto de prevenção à vulnerabilidade e risco. Atitudes de prevenção adequadas à proteção da vida, numa propostade construção do ser estabelecida, por meio das interfaces da área de saúde com a área da educação, espaço privilegiado para prevenir agravos múltiplos. De acordo com Saito (2001), pedagogos e profissionais da saúde serão transformados em educadores, preocupados com o bem estar do educando. Ainda conforme o exposto, eis alguns princípios norteadores: 78 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a • considerar a criança/adolescente como um todo indivisível biopsicossocial; • capacitar-se para escutar, ouvir, apoiar e acolher antes de julgamentos e ordenações; • perceber, mesmo que por meio da doença ou limitação, a presença do ser em construção, seja criança ou adolescente; • exercer a atenção integral ao ser humano, dentro de princípios éticos, de autonomia e respeito; • não permitir a presença de preconceito e estereótipos na relação educador-educando. Saúde não é apenas processo de intervenção na doença, mas processos de intervenção para que o indivíduo e a coletividade disponham de meios para a manutenção ou recuperação do seu estado de saúde, no qual estão relacionados os fatores orgânicos, psicológicos, socioeconômicos e espirituais. Educar não significa simplesmente transmitir ou adquirir conhecimentos, por isso o orientador educacional tem entre suas atribuições mediar a relação saúde-escola. Torna-se importante, desse modo, a percepção de que não poderá haver cobrança no futuro se para as crianças e adolescentes não for oferecido um presente pautado na cidadania e na proteção ao projeto de vida. Diante disso, construir-se-á a cidadania da criança hoje e do adulto amanhã. 7.7 Orientação Educacional e relações interpessoais Relacionamentos interpessoais somente acontecem se houver comunicação entre pessoas. A comunicação é a base para toda interação humana, uma atividade dinâmica e contínua de troca de experiências, instruções e informações com o objetivo de informar e influenciar mutuamente atitudes e pensamentos. No cotidiano escolar, o processo de comunicação pode encontrar barreiras que dificultarão ou até mesmo impossibilitarão que o processo seja concluído de modo exitoso. Uma das funções mais importantes da orientação educacional é fazer o elo, a ligação entre a escola e a comunidade discente. É essencial ouvir o alunado e identificar seus valores, expectativas em relação à vida. Mostrar a importância das relações interpessoais a todos os atores da escola, valorizando as diferenças. Estar atento para o desenvolvimento das relações em favor do clima favorável à resolução de situações é uma das dimensões da prática diária do orientador educacional. Ruth Rocha (1986, pp. 3-10) em seu texto “Quando a escola é de vidro” assim escreve: [...] Naquele tempo eu até achava natural que as coisas fossem daquele jeito. Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes... Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. 79 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL [...] O vidro dependia da classe em que a gente estudava. E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano. Se não passasse de ano, era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado. Coubesse ou não coubesse. Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. [...] A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava... A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física. [...] Tinha menino que tinha até que sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros. [...] — Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. [...] Seu Hermenegildo não conversou mais. Começou a pegar os meninos um por um e enfiar à força dentro dos vidros. [...] E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais e dona Demência já estava na janela gritando – Socorro! Vândalos! A orientação educacional, como processo dinâmico e contínuo, favorece o processo de relações interpessoais. Imagine, então, o papel do orientador educacional como articulador das relações interpessoais em uma escola. Veja, saber ouvir, ver a totalidade e as partes e falar são atitudes que favorecem o desenvolvimento das relações interpessoais saudáveis. Por meio da comunicação interpessoal saudável, o orientador educacional e o grupo de alunos, professores e demais atores chegam a um entendimento mútuo, constroem uma relação de confiança e coordenam suas ações para atingirem os seus objetivos. 80 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Por outro lado, faz-se necessário observar os valores éticos que mais se destacam nas ações de todos os envolvidos no processo educativo. Muitas vezes, ao analisar uma situação de indisciplina ou violência na escola, por exemplo, julgamos os alunos a partir de nossos padrões e valores, esquecendo- nos que tais valores podem não ser os mesmos devido às diferentes circunstâncias sociais e vivências. Qual deveria ser nossa conduta? Será que devemos aceitar os valores dos outros sem discuti-los? Será que devemos impor nossos valores e rejeitando todos que os transgridam? Haveria um meio termo para tal situação? É claro que há outros caminhos para que o aluno aprenda e saiba distinguir os valores universais daqueles que são transitórios ou discriminatórios. Segundo Inoue, Migliori e D`Ambrosio (1999), saber o que é solidariedade, por exemplo, é uma coisa, outra bem diferente é saber como se é solidário, ou ainda, valorizar a solidariedade e justiça. Assim, ao pensar no trabalho com valores humanos na escola, é preciso pensar em três características importantes: saber, fazer e ser. Para tanto, é fundamental que na escola: [...] os alunos possam aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pedir ajuda, a aproveitar críticas, explicar um ponto de vista, coordenar ações. É essencial aprender procedimentos dessa natureza e valorizá-los como forma de convívio escolar e social (PCN, v.1, p. 97). Essas atitudes não podem ser simplesmente transmitidas, mas vivenciadas no dia a dia da sala de aula e nos outros ambientes da escola. Os sujeitos se comportam de acordo com o que conhecem e esse conhecimento é gerado pela realidade que informa, motiva, dá exemplos e oferece respostas ao indivíduo. A construção de uma visão solidária de relações humanas a partir da sala de aula contribuirá para que os alunos superem o individualismo e valorizem a interação e a troca, percebendo que as pessoas se complementam e dependem umas das outras (PCN, v.3, p. 32). Segundo Aquino (1997), a conduta de diálogo por parte do educador, o estabelecimento de um contrato pedagógico com os alunos, ou seja, construção negociada por parâmetros e regras para o trabalho educacional e a predisposição para aceitação da mudança e da invenção são os fatores mais importantes para uma nova ordem pedagógica na escola. Dessa forma, os professores e funcionários, ou seja, os educadores, para adotar tais condutas dentro e fora da sala de aula, precisam também vivenciar situações como essas em suas esferas de atuação. O papel do orientador educacional, nesse sentido, é o de incentivar a reflexão sobre as atitudes de todos, oferecendo, juntamente com os demais membros da equipe, espaços de diálogo e atuação coletiva, evidenciando a importância do trabalho de cada um para o sucesso da ação educacional. Para tanto, pode-se lançar mão de textos, vivências ou jogos em grupo quepossibilitem aos educadores terem a possibilidade de construir o espírito de grupo, aprofundar o conhecimento de si 81 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL mesmo e do outro, exercitar a crítica e a autocrítica, colocar-se no lugar do outro, vivenciar a confiança mútua, entre outros objetivos. Ao se constituir na escola um espaço seguro, participativo e comunicativo, torna-se possível o estabelecimento de laços fraternos, o desenvolvimento da autonomia e a construção da cidadania, tão almejada nos pressupostos da educação. E para tanto, é de grande importância respeitar os saberes dos alunos como bem diz Paulo Freire em sua Pedagogia da Autonomia: Respeito aos saberes dos educandos Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os ricos que oferecem à saúde das gentes? Por que não há lixões no coração dos bairros ricos e mesmo puramente remediados dos centros urbanos? Essa pergunta é considerada em si demagógica e reveladora da má vontade de quem a faz. É pergunta de subversivo, dizem certos defensores da democracia. Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e em que a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? [...] Por que, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada a ver com isso. A escola não é partido. Ele tem que ensinar conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, eles operam por si mesmos (FREIRE, apud INOUE, 1999, p. 65). Diante disso, não é possível esquecer que o poder transformador da escola se dá também pelo exemplo obtido na convivência diária, tornando-se: O efeito multiplicador do exemplo A escola é um local privilegiado para a semeadura dos valores fundamentais que garantem a tessitura e a articulação da sociedade como um todo. É 82 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a fundamental restabelecer a dignidade da função docente bem como de todas as ações praticadas no interior da escola. A transformação e o deslocamento das expectativas de sucesso através do simples jogo, ou de levar-se vantagem sobre alguém, para o valor do esforço pessoal, da semeadura, do trabalho, constitui uma tarefa ingente em cuja realização os professores têm muito a contribuir. Valores morais, espirituais, intelectuais, estéticos, religiosos entre outros, não se podem estabelecer por decreto, ou por meio da força. A convivência e o exemplo diário têm um efeito multiplicador impressionante, muitas vezes subestimado (MACHADO apud INOUE, 1999, p. 75). Martins (1992) lembra que o orientador educacional precisa possuir alguns requisitos pessoais, pela responsabilidade que tem no processo das relações interpessoais. Ainda segundo o autor, estas condições pessoais são: • equilíbrio emocional e de personalidade a fim de que não sofra influência pelos problemas do educando nem permita que seus problemas pessoais interfiram em seu trabalho; • empatia para ser capaz de colocar-se no lugar do outro, seja aluno ou colega de trabalho, objetivando melhor compreender os problemas do mesmo; • iniciativa e liderança a fim de transmitir segurança e confiança aos alunos e seus responsáveis; • entusiasmo para contagiar de otimismo as ações a serem desenvolvidas na escola; • estímulo às relações entre as pessoas, nas comunidades a que pertencem e nas instituições da sociedade. Das muitas funções do orientador educacional, a mais desafiadora é a de acreditar que é possível viver, conviver e aprender com as diferenças, nas mais diversas situações. Nada é mais gratificante que contribuir para transformações por meio da construção do conhecimento. Conforme destaca Moscovici (2001), o processo de interação humana supõe comunicação, mesmo havendo intenção contrária, pois o ser humano está sempre comunicando algo, seja por palavras ou por meios não verbais (gestos, postura corporal). O fato de estar na presença de outros modifica a percepção individual e, desta forma, promove interação comunicacional. No dia a dia das atividades pessoais e profissionais, a relação com outras pessoas requer uma busca constante, porém que difere de indivíduo para indivíduo. No contexto educacional, é possível perceber um componente significativo e interessante: a afetividade. Essa questão exige uma maior qualificação das relações humanas nas unidades educacionais e, em consequência, nas relações produtivas. 83 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Certo é que no momento em que se vive, é de fundamental importância tomar as palavras de Delors (1999), aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a conviver, aprender a fazer. Ademais, diante destas situações relacionais e comunicacionais é possível a compreensão da importância do trabalho do orientador educacional como mediador no processo educativo. Assim, na prática, o orientador educacional tem possibilidade de administrar e compreender conflitos, estabelecendo unidade entre o grupo e dialogicidade, criando um clima favorável. À luz do exposto por Antunes (2003, pp. 9-10): [...] cada pessoa é, e sempre será, um verdadeiro universo de individualidade; suas ações, seus motivos, seus sentimentos constituem paradigma único. [...] cada um é portador de um código biológico, uma história particular de vida e um volume imenso de circunstâncias que evoluíram e evoluem de forma dinâmica, tornando absolutamente incomparável . [...] ninguém pode jamais sentir a saudade que sentimos, experimentar a felicidade que vivemos, sofrer a angústia da perda que sofremos e, porque assim somos, constituímos figura ímpar, ser singular no imenso espaço que emoldura nossa passagem pelo tempo. Sabendo uma das dificuldades comunicacionais no processo das relações humanas. Placco (1994, p. 30) expõe que: [...] O orientador educacional, um dos educadores da escola deverá participar de uma ação educacional coletiva, assessorando o corpo docente no desencadeamento de processo em que a sincronicidade é desvelada, torna- se consciente, autônoma e direcionada para um compromisso consciente uma ação pedagógica competente e significativa para os objetivos propostos no projeto pedagógico da escola. As relações humanas podem facilitar o crescimento do grupo. Mas, o que é grupo? Para Weil (1991), grupo é toda reunião de indivíduos em torno de um objetivo comum. Um grupo pode formar-se espontaneamente, por exemplo, um grupo de crianças nos primeiros dias de aula, que se junta para brincar no horário do recreio. Também a formação de um grupo pode ser planejada, como turmas de alunos, de professores, que se pode chamar de grupo organizado. Um grupo é composto por indivíduos, e o seu êxito depende das atitudes dos seus integrantes. Há inúmeras condições para que um grupo seja exitoso em sua produção, eis algumas: a) Simpatia. b) Interesse. 84 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a c) Comprometimento. d) Respeito. Destarte, a formação de um grupo é um processo que tem como mola propulsora a decisão objetiva, em torno da qual os indivíduosse agregam e criam seus compromissos, obrigações e modos de interação, ou seja há um sentido único, que é conhecido e partilhado por todos. Essa direção, sentido único inclui a interdependência, ou seja, a visão de que sozinho nenhum membro consegue realizar o objetivo. De modo geral, a participação em um grupo é espontânea, conquistada ou desenvolvida. De sorte que, ao orientador educacional, cabe articular suas ações sempre estimulando a cooperação, pois com o partilhar de sua autoridade com seus colaboradores se fortalece e adquire legitimidade em suas funções. Assim, compartilhar liderança implica em confiar nas pessoas, acreditando em suas potencialidades. Parafraseando Fullan e Hargreaves (2000), liderança compartilhada não significa perder poder, mas promover envolvimento e aprendizagem de todos os atores, propiciando, assim, transformações necessárias ao processo educativo do século XXI. As pessoas necessitam fazer parte de um contexto, de um grupo, querem ser ouvidas, ser vistas, querem relacionar-se. Um bom relacionamento entre pessoas ajuda na constituição e formação pessoal do ser. O trabalho da orientação educacional faz parte de um todo da escola, sendo, portanto, a mediação, o seu papel principal. Nessa perspectiva, o profissional da orientação articula a reflexão necessária entre a realidade e as representações que se fazem dela, entre o contexto e a cultura escolar, entre o concreto e o simbólico. Dessa forma, para Grinspun (2006, p. 71) “esta gama de aspectos que se entrecruzam [...], na verdade são dados, [...] para que possamos promover os meios, disponibilizar as condições para uma qualificação na construção da subjetividade”. Sua atuação faz-se sempre em consonância com o trabalho dos demais membros da equipe técnica, que podem ser o diretor, vice-diretor ou assistente de direção, coordenador pedagógico ou outros. Cada um desses profissionais desenvolve determinadas tarefas para que a escola possa desempenhar seu papel de socializadora da cultura e construtora de conceitos, competências e atitudes comprometidos com a formação do sujeito. Você já ouviu dizer que num lugar onde não se sabe para onde se quer ir, as coisas parecem não sair do lugar? Pois é, parece um barco sem leme. Para que essa situação não aconteça na escola, é preciso que a equipe técnica tenha coesão e coerência em suas atitudes e trabalhe para atingir os mesmos objetivos. O orientador educacional é um desses elementos constituintes da equipe técnica. 85 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL O orientador educacional, somente poderá ser considerado um líder em seu grupo de trabalho se, por sua personalidade, dirige o grupo, e mobiliza a participação espontânea dos atores. Observe a seguir algumas sugestões de pistas para se obter a cooperação do grupo: 1. valorize o esforço pessoal, identificando qualidades individuais nos membros do grupo; 2. compreenda as possíveis limitações e dificuldades dos membros do grupo; 3. respeite o ser humano com quem se trabalha no grupo, seu posicionamento; 4. leve em consideração os interesses, gostos e aptidões pessoais de cada membro do grupo; 5. antes de agir, explique o que será feito e por quê. 7.8 Orientação para o trabalho e qualidade de vida Por que tratar qualidade de vida no trabalho do orientador educacional? A importância da qualidade de vida e o trabalho estão no fato de que se permanece em ambiente de trabalho mais de 8 horas por dia, durante pelo menos 35 anos da vida de um ser humano. De sorte que é um assunto importante a ser discutido e merece reflexão por parte dos orientadores educacionais, tanto em relação ao exercício de sua atividade, como em relação ao trabalho de orientação que realizam com alunos e educadores. Pode-se entender qualidade de vida e trabalho como um programa que visa a facilitar e satisfazer as necessidades do trabalhador ao desenvolver suas atividades na organização, tendo como ideia básica o fato de que as pessoas são mais produtivas quanto mais estiverem satisfeitas e envolvidas com o próprio trabalho. Assim, partindo-se da premissa do desenvolvimento do ser humano como ser multidisciplinar, que traz consigo sentimentos, ambições, expectativas, a qualidade de vida no trabalho pode resultar maior possibilidade de se obter qualidade de vida pessoal, social e familiar, em que pese sejam dimensões diferentes e nelas o ser humano desempenhe papéis diferentes. Segundo Bittencourt, em seu artigo Qualidade de vida e organização do trabalho, qualquer profissional estabelece uma escala de prioridade e expõe que a organização do conjunto de ações, atividades e responsabilidades é modo de qualidade no trabalho, de sorte que a gestão do tempo deve estar junto com a organização do trabalho. Na esteira do mesmo autor: a língua grega tem duas palavras ligadas à noção de tempo: chronos e kairos. Para a pessoa chronos, tempo tem a ver apenas com horários, atrasos, prazos 86 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a e duração de eventos e atividades, enquanto para a pessoa kairos, tempo tem a ver com valores e qualidade em seu uso3. Esta questão do tempo vai trazer qualidade, consequentemente fará do profissional um novo homem, sua organização pessoal vai lhe trazer crescimento e, com essa organização, ele ganhará tempo para si, logo haverá espaço para aumentar sua taxa de felicidade e de realização. Enfim, qualidade de vida denota (significa) viver bem, viver de modo equilibrado em todas as áreas: social, afetiva, profissional, saúde entre outras. É interessante pensar sobre a questão do tempo, acredita-se que o dia tem somente 24 horas e que o tempo transcorre de forma linear, mas ao se pensar no tempo em situações de intensa diversão e alegria e poucos minutos de intensa dor, passa-se a pensar que o tempo é relativo. Ao modificar-se a consciência sobre o tempo, o ser humano pode melhorar sua maneira de empregá-lo. Segundo Seiwert (2004), o segredo do sucesso pessoal consiste em procurar maneiras de manter um equilíbrio entre trabalho e diversão. A renovação que provém desses valores enche-nos de energia para novas tarefas. Ainda de acordo com o mesmo autor, tem ocorrido mudança de valores acerca do tempo: em vez de aprender a utilizar melhor o tempo, cresce o desejo por uma qualidade de tempo, ou seja, uma organização melhor do tempo, dispondo tempo para si, para a família, para a criatividade, para o lazer e o ócio. Domenico Di Masi (2000) afirma que aquele que souber liberar-se da ideia de trabalho como obrigação ou fardo, e agregar ao trabalho aprendizagem e diversão ao mesmo tempo, estará praticando o que chama de “ócio criativo”. Tal vivência, se realizada em benefício de todos e com criatividade, pode levar o homem a atingir uma melhor qualidade de vida. 7.9 Orientação educacional e o lazer Não se pode mais aceitar a ideia do lazer como uma compensação do trabalho. Há toda uma espécie de reivindicação, de contestação humana que está sob o lazer. Há toda uma promoção de valores novos, paralela a uma contestação de certas formas de trabalho e de obrigações sociais. (Dumazedier) A orientação educacional às novas gerações é realizada a fim de que sejam desenvolvidas as potencialidades do homem para que se torne pessoa capaz de adaptar-se às exigências sociais contemporâneas, como salienta Penteado (1996) sobre a necessidade de orientação educacional decorrente da complexidade do processo educativo. 3 BITTENCOURT, F. Qualidade de vida e organização do trabalho. Disponível em: <http://www.institutomvc.com.br/costacurta/artfb10qualidade_vida_organizacao.htm>. Acesso em: 15 jan. 2008. 87 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃOESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL A palavra lazer derivada do latim quer dizer: licere, ser lícito, ser permitido. Pode-se definir lazer, como uma forma de utilizacão do tempo, dedicando-se a uma atividade que se goste de fazer. Segundo Rolim (1989), o ser humano ao participar das atividades de lazer, coletivamente, estabelece uma relação afetiva com outros seres humanos, ou seja, com as pessoas e com o mundo, contribuindo desse modo para melhoria de sua saúde, de seu nível de sociabilização e do interesse pela vida. “O lazer é um modelo cultural de prática social que interfere no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos”, segundo Camargo (1986, p. 71). O lazer abre um campo educativo não para aprendizagem, mas para o exercício equilibrado de possibilidades de participação social lúdica. Orientar o aluno para o lazer é despertar discussões e reflexões sobre as peculiaridades e diferenças entre o lazer positivo e negativo existente em um grupo de amigos. O tempo de lazer é um tempo em que o adolescente/jovem poderá afirmar-se de seu estilo de comportamento, seja no vestir-se, nos gestos, no falar, nas atitudes. Orientar o adolescente sobre seus momentos de lazer é esclarecer o que é prejudicial à sua qualidade de vida e o que favorece a qualidade de vida. O orientador educacional deve aproveitar esse momento oferecendo ao grupo de adolescentes/jovens informações precisas sobre o lazer, incluindo as questões da sexualidade humana e seu valor. Conforme Cardoso (apud BRUHNS, 2000), os momentos de lazer precisam ser vistos como conscientização, como parte essencial de poder dar ao homem uma dimensão de liberdade, de vivenciar momentos de descanso, divertimento e desenvolvimento tanto pessoal como social de forma “desinteressada”, mas não vistos como momentos de alienação. É momento de propor novas opções de escolha para o desenvolvimento das ações educativas de lazer dentro e fora da escola, pois conforme Andrade (2001 apud IUBEL, s/d, p. 5): as opções individuais por tipos, formas e modos de lazer procedem de motivações e conveniências internas e externas, que dependem da formação de cada indivíduo, e variam de acordo com suas habilidades, ideias a respeito da vida e seus conceitos de tempo de trabalho e de tempo livre, de diversão e dos graus pretendidos para recuperação de energias, em repouso, distração ou entretenimento. Com isso, tamanha a responsabilidade do profissional que atua na escola. O orientador educacional atento às mudanças de valores, discute, questiona, analisa e procura atuar de modo a satisfazer as demandas do cotidiano, até porque como salienta Brandão (1988, p. 7): ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: 88 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a para aprender, para ensinar, aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Assim, pode-se observar na “Carta Internacional de Educação para o lazer”, aprovada no Seminário Internacional de Educação para o lazer da Associação Mundial de Recreação e Lazer (WLRA), realizado em Israel, no ano de 1993, e ratificada pelo conselho desta Associação em Jaipur, na Índia, no mesmo ano, que um dos objetivos em relação à educação para o lazer é ajudar os alunos, em seus diversos níveis, a alcançar uma qualidade de vida desejável por meio da ampliação e promoção de valores, atitudes, conhecimentos e aptidões de lazer através do desenvolvimento pessoal, social, físico, emocional e intelectual, e esta é tarefa imprescindível dentro das ações do orientador educacional. Cunha (1987) destaca que o ócio e o tempo livre realizam-se conforme as vivências culturais, os hábitos adquiridos, o processo de socialização. O modo como é desfrutado o tempo livre segue a estrutura social à qual pertence a pessoa, ou seja, subordina-se à sua conjuntura social, cultural, econômica, ideológica e física. Nessa perspectiva, o uso que o adolescente/jovem faz do tempo livre pode gerar consequências positivas ou negativas para seu desenvolvimento integral. Até porque os interesses e as atividades praticadas pelos adolescentes/jovens nessa etapa de suas vidas sofrem alterações com relação aos momentos de lazer. O adolescente quer sair sozinho com os amigos, frequentar lugares diferentes, ter horários diversificados para praticar atividades. Vários estudos e pesquisas têm demonstrado a importância dos adolescentes/jovens participarem de uma variedade de atividades de lazer, bem como chamam a atenção para a conversão do tempo livre, tempo de lazer, em tempo nocivo ao adolescente à medida que não for bem aproveitado, podendo até levar o adolescente a comportamentos de risco, como o envolvimento com drogas lícitas e ilícitas, violência, brigas e enfrentamentos. Destaca-se a pesquisa Lazer e Uso de Substâncias Psicoativas na Adolescência: Possíveis Relações, recentemente publicada, que assim trata do assunto: o uso de substâncias psicoativas na atualidade é algo complexo que se relaciona a uma imensa gama de fatores e merece atenção diferenciada tanto por parte dos pesquisadores da área quanto pela comunidade em geral. Os dados levantados neste estudo apresentam alguns aspectos que precisam ser evidenciados quando se aborda a temática do uso de substâncias psicoativas na adolescência e suas possíveis associações com atividades de lazer realizadas pelos adolescentes. Os dados evidenciam uma variedade considerável de atividades realizadas pelos adolescentes no momento de lazer. 89 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Entre os adolescentes usuários as atividades de lazer que apresentaram as maiores frequências foram “ouvir música”, “assistir televisão” e “sair com amigos”, enquanto para o grupo de adolescentes não usuários as atividades mais frequentes foram “ouvir música” e “assistir televisão”, “praticar esportes” e “sair com a família”. As diferenças significativas entre os dois grupos de adolescentes considerados para o estudo apareceram em atividades específicas. Assim, “ir à Igreja ou serviço religioso”, “praticar esportes” e “sair com a família” foram mais frequentes entre os adolescentes não usuários, enquanto atividades como “frequentar clubes/ praias”, “sair com amigos” e “frequentar bares” foram pontuadas como sendo mais comumente realizadas por adolescentes usuários. Em relação ao álcool, os achados deste estudo evidenciam que, como fatores facilitadores do uso na vida desta substância, foram identificados “assistir televisão”, “sair com amigos”, “namorar” e “frequentar bares”. Já em relação ao tabaco, fatores como “sair com os amigos” e “não praticar esportes” foram relacionados a uma maior probabilidade de uso desta substância na vida. As diferenças verificadas entre os dois grupos (usuários e não usuários) em relação ao tipo de atividade realizada pelos mesmos são informações importantes para a elaboração de programas de prevenção ao uso de substâncias psicoativas entre os adolescentes, uma vez que os dados observados levam-nos a refletir sobre as opções de lazer disponíveis para os adolescentes na atualidade. Sendo assim, há a necessidade de novos estudos buscando lançar luz sobre este aspecto. Isso porque, segundo Schenker e Minayo (2005), o incentivo à participação nas atividades escolares, da comunidade e de movimentos sociais ou de solidariedade pode funcionar como um intenso fator protetor, aspecto este que passa pelas atividades de lazer, foco do presente estudo. Além disso, os dados obtidos no presente estudo permitem evidenciar a necessidade de uma reflexão sobre novas atividades de lazer que podem ser oferecidas aos adolescentes incentivando, principalmente,a questão esportiva e cultural, não apenas como forma de preencher o tempo do adolescente e sim como forma de oferecer oportunidades de crescimento pessoal, de excitação, desafio e alívio do tédio (SANCEVERINO; ABREU, 2004) por meio de atividades que tragam prazer e que despertem o interesse do adolescente (PRATTA; SANTOS, 2007, p. 48). Desde a Antiguidade, é apontada a importância da mente sã num corpo sadio. A educação escolar tem, ao longo do tempo, esquecido da necessidade do ser humano quanto aos valores do tempo livre, das atividades esportivas ou de lazer. 90 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Portanto, os pais devem preocupar-se com os limites, a adequação e a qualidade das atividades realizadas por seus filhos, sejam elas esportivas, culturais ou de lazer. Muitos são os casos de crianças que possuem uma agenda de atividades mais lotada e carregada que de um adulto. Outro motivo de preocupação está na fascinação exercida pelos videogames e computadores, que podem diminuir a intensidade da vida social da criança. Para tanto, é necessário que se observem as reais demandas das crianças, adolescentes e jovens a fim de que o orientador educacional exerça suas atividades de orientação, seja aos pais, às crianças, aos professores e a quem mais possa contribuir para as relações transformadoras da educação. É através das práticas do tempo livre, das crianças e dos adolescentes que poderemos compreender seu modo de inserção social, suas dificuldades, seus desejos, suas aspirações ou suas confusões (DUMAZEDIER, 1994, p. 76). O lazer é um veículo privilegiado de educação, mas sua prática demanda aprendizado e estímulo. O lazer ao mesmo tempo como veículo educacional é objeto do processo educativo. A questão do lazer é bem mais complexa do que se pode imaginar, até porque a educação para o lazer ocorre nos diversos ambientes como na família, na rua, em clubes, praças entre outros espaços. Na prática do orientador educacional é desejável que realize levantamentos em relação às áreas de esportes, cultural e de lazer, com a finalidade de orientar pais, alunos e professores por meio de palestras, debates, rodas de conversa. Também poderá sugerir ao coletivo visitas a museus, exposições, espetáculos de dança, peças teatrais. Pode-se afirmar que a manutenção do equilíbrio entre atividades desenvolvidas no decorrer de um dia e os períodos de lazer são fundamentais para a aprendizagem do uso do tempo livre. Refletir sobre a relação lazer e educação não é tarefa fácil, pois a diversidade de possibilidades para intervenção sócio-educativa nas vivências lúdicas estão inseridas nas práticas inter e extraescolares. Assim, para uma reflexão mais acurada, pode-se observar a “Carta Internacional de Educação para o lazer”, aprovada no Seminário Internacional de Educação para o lazer da Associação Mundial de Recreação e Lazer (WLRA), realizado em Israel, no ano de 1993, e, ratificada pelo conselho desta Associação em Jaipur, na Índia, no mesmo ano: a finalidade básica da educação é desenvolver os valores e atitudes das pessoas e provê-las com o conhecimento e aptidões que lhes permitirão sentir-se mais seguras e obter mais prazer e satisfação na vida. Essa perspectiva subentende que a educação, além de ser importante para o trabalho e para a economia, é igualmente importante para o desenvolvimento do indivíduo como um membro plenamente participativo da sociedade e para a melhoria da qualidade de vida. 91 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL O objetivo principal desse documento é disseminar junto aos governos, às instituições de ensino, entre outros, os conteúdos, significados e benefícios do lazer e da educação para e pelo lazer. Saiba mais Para se aprofundar no tema lazer, leia: Carta Internacional de educação para o lazer. Disponível em: <http://www.saudeemmovimento.com.br/ conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_noticia=195>. O lazer ao ser idealizado como caminho leva o ser humano ao desenvolvimento pessoal, social e econômico, como elemento imprescindível à qualidade de vida melhor, de sorte que vários fatores possuem relação direta com o lazer, podendo ampliá-lo ou dificultá-lo. Portanto, por meio das diversas atividades vivenciadas no âmbito do lazer, pode-se favorecer ao ser humano aquisição ou aprimoramento dos aspectos relacionados à saúde e bem-estar. Assim, uma das metas estabelecidas pela WLRA em relação à educação para o lazer é ajudar os alunos, em seus diversos níveis, a alcançar uma qualidade de vida desejável por meio da ampliação e promoção de valores, atitudes, conhecimentos e aptidões de lazer através do desenvolvimento pessoal, social, físico, emocional e intelectual. Esse fato poderá causar impactos, na família, na comunidade escolar e na sociedade. Marques (1998) entende que o objetivo da educação para o lazer é formar o indivíduo para que viva o seu tempo disponível da forma mais positiva. Para tanto, o orientador educacional poderá em seu plano de trabalho constituir espaços para discussão e reflexão em relação ao lazer do estudante, por meio da realização de dinâmicas, tratar conteúdos que versem sobre a qualidade de vida do adolescente/jovem no sentido de aprimorá-la rumo à sua felicidade e desenvolvimento de valores humanos. O orientador educacional diante dessa perspectiva poderá, em sua prática, mobilizar esforços no sentido de que todas as disciplinas possam buscar a reflexão sobre a educação para e pelo lazer, deixando de ser algo apenas para as disciplinas de Educação Física e Educação Artística. Com esse olhar, o orientador educacional, poderá de modo interdisciplinar alertar os alunos que a qualidade de vida inclui a saúde física e mental. Dessa forma, levar o aluno a conhecer causas e consequências do uso de drogas lícitas (álcool, fumo, medicamentos de uso controlado, anabolizantes entre outros) e ilícitas. 92 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 7 –Sugestão de questionário para levantamento de informações sobre as atividades de lazer do aluno Dados da Unidade Educacional_________________________ Data: ___/___/_____ Nome do aluno:________________________________________ Sexo:________ Série:____________ Período: ( ) manhã ( ) tarde ( ) noite ( ) integral 1. O aluno lê livros, jornais ou revistas ( ) em geral ( ) quadrinhos? Quais? ___________________________________________________________________ 2. Período de tempo livre em horas por dia _______________ O que faz nessas horas livres?__________________________________________________ 3. Nos finais de semana, o que faz? 4. Pratica esportes? ( ) sim ( ) não Quais? _________________________________________ Quantas horas por semana? ____________________ 5. Assiste a competições ou participa de competições, jogos? Quais? _______________________ ________________________________________________________________________ 6. O aluno anda, corre, pula, brinca normalmente ou realiza pouca atividade física? Por quê? ________________________________________________________________________ 7. O que faz no período de férias?________________________________________________ 8. O aluno realiza algum curso de arte ou música ou língua estrangeira fora do período escolar? Qual?____________________________________________________________________ 9. Traz tarefas para casa desses cursos?___________________________________________ 10. O aluno participa de atividades programadas pela escola? ( ) sim ( ) não Caso não participe, por quê? ___________________________________________________ 11. Assiste apresentações de teatro, cinema, música? ( ) sim ( ) não Quais?____________________________________________________________________12. O que mais gosta de fazer nos horários livres? _______________________ Fonte: Adaptado de GIACAGLIA, L; PENTEADO, W. M. A. Orientação educacional na prática. São Paulo: Pioneira, 1997. 93 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Quadro 8 – Sugestões de dinâmicas para reflexões sobre o lazer e qualidade de vida do aluno 1 – Caixinha de Perguntas Objetivos: 1) Motivar o estudo de um texto ou tema. 2) Estimular a participação de todos no grupo. 3) Proporcionar intercâmbio de informações, comunicação e integração do grupo. Procedimento: 1) Encaminhada à sessão, o facilitador apresenta rapidamente o tema. 2) É distribuído ao grupo um texto sobre o tema a ser estudado e discutido. 3) Avalia-se que em seguida passará uma caixinha com algumas perguntas. Por exemplo, é dado um tempo “X” (determinado) para leitura do texto. 4) Passa-se ao jogo “jogo da caixinha”. Liga-se uma música. A caixinha vai passando por todos. Quan- do parar a música, quem estiver com a caixinha extrai um bilhete. Tem um minuto para responder, servindo-se do texto. Se não responder perde pontos ou paga prenda. 5) A caixinha prossegue e, se parar na mão de alguém que já respondeu, quem responderá é o colega que o antecede. O valor da técnica está em que todos são intensamente envolvidos em cada resposta. Enquanto o sorteado busca a resposta, todo mundo pensa, procura no texto, e deve ficar atento para resultados. Para dificultar, pode-se introduzir a regra que a cada parada de música, sorteia-se uma nova per- gunta mas antes o participante deverá responder também à pergunta de seu colega anterior (para forçar a atenção de todos). Fonte: <http://www.gruposer.com.br/index.asp?sec=projetos&idjogo=10&proj=jogos>. Acesso em: 28 jan. 2008. Quadro 9 – Troca de palavras Objetivo Encontrar soluções para os problemas trazidos pelo grupo: sexualidade, drogas e diversão. Número de participantes O jogo pode ser compartilhado em duplas, trios, quartetos ou quintetos. Não há um número mínimo de grupos, podendo ser recriado conforme a necessidade. Duração O jogo pode ter vinte minutos para a etapa dentro dos grupos e mais vinte para os relatos. Mas pode ser modificado de acordo com o interesse dos participantes. 94 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Descrição As tiras de papel são previamente preparadas com palavras-solução de questão ambiental, por exemplo. Outras tiras com palavras-problema - poluição, desmatamento, miséria, entre outras. Os participantes são divididos em grupos e recebem as palavras problema. São distribuídas até que todas acabem. Em seguida, os grupos recebem as palavras-solução, da mesma maneira. O objetivo é que cada grupo disponha as palavras-problema em ordem de prioridade a serem solucionadas. Usarão, então, depois as palavras-solução. Em seguida, o grupo escolherá um relator que comentará a experiência. Há possibilidade dos grupos trocarem palavras-solução para melhor adequação e resolução do problema. Dicas Este é um jogo de reflexão que pode ter inúmeras variantes de acordo com o grupo. Para grupos em que haja conflitos, por exemplo, o facilitador pode dispor das palavras-problema de maneira que possam proporcionar a discussão destes conflitos e suas causas. Outra possibilidade, em se tratando de um Jogo Cooperativo, é a troca de palavras ou mesmo de participantes que funcionarão como conciliadores, podendo experimentar outra situação. O importante é o exercício da discussão, da reflexão e da cooperação para a solução de conflitos. Material Tiras de papel e canetas. Procedimento Pensar, juntos, sobre a importância de soluções viáveis para as questões ambientais e sociais, trabalhar os valores humanos e a cooperação intra e intergrupal. Alguns valores humanos trabalhados: • respeito para com a opinião do outro; • comunicação para a resolução dos conflitos; • flexibilidade e abertura para ouvir o outro e entendê-lo; • não violência para que os conflitos possam ser resolvidos de maneira pacífica; • ética para encontrar a solução melhor para o grupo e não só para si. Fonte: <http://www.gruposer.com.br/index.asp?sec=projetos&idjogo=10&proj=jogos>. Acesso em: 28 jan. 2008. 7.10 Orientação para a escolha profissional e a vida do trabalho Ao refletir sobre as questões relativas ao lazer percebe-se como é importante aliar trabalho com o que se gosta de fazer e com aprendizagem. Segundo De Masi (2000), aquele que sabe viver não distingue tempo livre e trabalho, bem como educação e recreação. 95 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL De sorte que, para que isso ocorra, se faz necessário que os adolescentes/jovens tenham conhecimento de si e do que se pretende realizar como futuros cidadãos. O trabalho do orientador educacional, nesse sentido pode ser o de auxiliar no conhecimento de várias profissões, bem como no despertar de seus interesses por meio do autoconhecimento. A orientação vocacional ou profissional é um dos campos clássicos do trabalho da orientação educacional. Contudo, tratar desse assunto no cotidiano escolar significa estar imbuído na esperança de se mostrar a importância do estabelecimento de novos valores como a solidariedade, justiça, liberdade e paz, para além da competição e do individualismo. Significa ainda, ajudar nossos alunos a se conhecerem, a entenderem essas circunstâncias históricas complicadíssimas em que estão envolvidos, a acompanharem o movimento das profissões e a se capacitarem para encontrar alternativas dignas de sobrevivência, compreendendo-se como um ser sócio-histórico (portanto, sem abrirem mão do compromisso com este horizonte mais geral de mudança (VASCONCELOS, 2002, p. 79). Pode-se dizer que o ser humano desde o início do mundo realiza ações para sua manutenção, assim, é possível dizer que o trabalho tem seu surgimento com o nascimento da humanidade. Desde a Antiguidade, encontram-se registros da organização do trabalho nos grupos sociais, nesses grupos havia distribuição de ocupações e tarefas. Assim, segundo Konder (apud FRIGOTTO, 1997, p. 113): o sujeito humano se contrapõe e se afirma como sujeito, num movimento realizado para dominar a realidade objetiva: modifica o mundo e se modifica a si mesmo. Produz objetos e, paralelamente, altera sua própria maneira de estar na realidade objetiva e de percebê-la. E – o que é fundamental – faz a sua própria história. Toda a chamada história mundial – assegura Marx – não é senão a produção do homem pelo trabalho humano. De sorte que o trabalho humano objetiva satisfazer as necessidades do homem. O trabalho trata-se de uma atividade realizada pelo homem não só para suprir suas necessidades, mas também tem utilidade para ele, pois usa instrumentos para produzir resultados, bem como é capaz de produzir objetos artesanalmente ou de modo industrial e serviços. Partindo-se da organização do trabalho ao longo do tempo, ou seja, em um processo histórico-social, a caracterização das profissões na atualidade necessita verificar os conhecimentos e habilidades que servem de parâmetro para o desenvolvimento do trabalho na profissão, de modo a atender às exigências da contemporaneidade. Assim sendo, as mudanças tecnológicas e organizacionais do trabalho nos últimos anos do século XX e anos iniciais deste século XXI têm configurado o mundo produtivo com características diversas: flexibilização da produção, consequentemente, reestruturação das ocupações com novos perfis profissionais, integração de setores da produção, multifuncionalidade dos trabalhadores, entre outras. 96 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or -d at a Enguita (2004) alerta sobre a diferença entre uma profissão e um simples grupo de trabalhadores: é que aquela se distingue por seu nível de qualificação e, sobretudo, por sua autonomia de trabalho. Assim, importantes mudanças, tanto no emprego como no trabalho, põem em questão a funcionalidade da organização escolar tradicional para os requisitos, as necessidades, as oportunidades e os desafios do mercado de trabalho e da organização da produção. Ainda segundo o mesmo autor, ao educar na sociedade do conhecimento, é necessário compreender o peso que adquire a informação, o conhecimento, a qualificação e a educação nas coordenadas da nova economia e da nova sociedade. O mundo da educação e do trabalho vem exigindo reformulações radicais em seus formatos tradicionais de funcionamento. Com as transformações que se sucedem ao desenvolvimento tecnológico, acredita-se que este seja um novo momento de reestruturação da relação homem-trabalho. Diante disso, de acordo com Enguita (2004, pp. 41-42,59), a educação redobra sua importância. [...] não se trata apenas de mudanças no conhecimento a partilhar ou a adquirir que se deslocaria do concreto para o abstrato e do prático para o simbólico, mas também de mudanças nas atitudes a favorecer a desenvolver. A atitude que se espera de um operário é a submissão, isto é, a capacidade de seguir instruções; e também, talvez, certa indiferença em relação ao conteúdo do trabalho, isto é, a capacidade de trabalhar em algo que não suscite seu interesse. O que se espera de um profissional, ao contrário, é sua confiabilidade, a tranquilidade para o cliente ou usuário ou o consumidor final de que o trabalhador atinge o nível de competência que o estado da técnica permite (é o que esperamos, por exemplo, do médico que acompanha o paciente: que ele esteja atualizado e que aplique isso, e não que invente ou seja habilidoso), e também um certo grau de compromisso com os objetivos de seu trabalho. O que se requer, finalmente, de um cientista ou de um profissional de alto nível é a crítica e a criatividade, necessárias para resolver problemas novos ou encontrar novas soluções para velhos problemas. [...] Certamente, a escola não vai criar nem substituir as instituições globais das quais carecemos, mas pode desempenhar um papel muito importante no desenvolvimento e consolidação da comunidade moral que deve lutar por elas e servir-lhes de apoio, pois essa comunidade moral não é senão a agregação de muitas consciências morais conscientes do que as une. A função dos educadores não é predicar nem vociferar contra a globalização, e sim potencializar os valores morais que são necessários para corrigi-la e orientá- la, isto é, governá-la com a finalidade de distribuir melhor seus benefícios e seus custos e proteger os mais fracos contra seus riscos. De sorte que é necessário para o processo de orientação para o trabalho a ser realizado por orientadores educacionais que se considerem as relações entre educação e trabalho de modo redimensionado, como afirma Arroyo (1999): Consequentemente, situar a relação escola-trabalho-formação do trabalhador no âmbito das relações sociais na escola e na produção, significa ver a 97 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL educação como prática social e cultural, como relação humana de sujeitos, como produção e reprodução consciente e intencional de um protótipo de ser humano, e, como ação-intervenção política e cultural que mexe com aspirações, valores, pensamentos, enfim com sujeitos humanos que pensam e têm suas aspirações. De acordo com Neiva (1995), a orientação profissional, em conjunto com a informação profissional, é um processo que auxilia o adolescente/jovem a conhecer fatores que podem interferir em sua escolha profissional, ou seja, possibilitá-lo definir-se com autonomia. É caracterizada como serviço, e seu campo de atuação acompanha as tendências das demais práticas educacionais, os avanços comunicacionais e tecnológicos de se trabalhar no contexto educacional. Bohoslavsky (1977, p. 53) salienta que a orientação profissional procura orientar o ser humano para o futuro. Ainda à luz do mesmo autor, escolher uma profissão “não é somente definir o que fazer, mas, fundamentalmente, definir quem ser”. O que o adolescente vai buscar com a orientação vocacional é “algo que se relaciona com a realização pessoal, a felicidade, a alegria de viver” (ibidem, p. 49). Hoje em dia, tal decisão não é fácil para um adolescente, pois além da complexidade da sociedade capitalista em que vivemos, que acaba por quase obrigar a pessoa a escolher profissões mais rentáveis e com maiores vagas no mercado de trabalho, existe o fato de que a grande característica da idade adolescente é a de experimentar grandes mudanças. Segundo o autor, diante dessa crise contínua, é de se surpreender que o jovem consiga tomar alguma decisão. Ademais, deve-se considerar que grande parte da população brasileira não vislumbra perspectiva de futuro, pois seus valores, ambições e desejos chocam-se com a realidade. Diante desse panorama, qual pode ser a atuação do orientador educacional? O orientador educacional, atuando na escola, deve lançar mão do trabalho de grupos de orientação coletiva que podem ser formados espontaneamente, ou de sessão coletivas em classe, caso haja possibilidade, dentro do horário de aula, entre outras ações. Este trabalho tem como proposta inicial a escuta do aluno, seus medos, desejos e dificuldades, identificando seus valores e interesses, para reflexão conjunta de alternativas e possibilidades. Observação Como a Orientação Vocacional e para trabalho pode ser feita? • Grupos espontâneos de orientação coletiva. • Sessões coletivas em classe. • Palestras com profissionais de diversas áreas. • Reflexões por meio de filmes ou documentários. 98 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Além disso, com a inserção do jovem no mercado de trabalho, o orientador educacional pode atuar no sentido de orientar suas posturas, comportamentos de forma que o jovem tenha uma atitude ética frente ao trabalho e aos colegas. É comum, em classes mais desfavorecidas, percebermos o desinteresse dos alunos por profissões assalariadas ou com carteira assinada, já que por vezes, os jovens têm exemplos na comunidade de pessoas que ganham mais “fazendo bicos” ou guardando carro. Diante de tal situação, o trabalho de orientação estará direcionado à reflexão sobre o valor do trabalho e aos valores humanos universais. Diante disso, é de grande importância que o orientador educacional observe a evolução da organização do trabalho nas diversas áreas do conhecimento. É preciso ter claro que o modo de definição das profissões é dinâmico e marcado pelas características sociais, históricas e econômicas de determinada época, incluindo a relação entre as diversas profissões que atuam em uma mesma área, ou até mesmo entre diferentes áreas de conhecimento. Assim, a princípio as áreas de conhecimento eram organizadas de modo abrangente: Quadro 10 • Ciências Humanas Administração Arquitetura e Urbanismo Arquivologia Artes Biblioteconomia Ciências Econômicas Ciências Sociais Cinema Direito Jornalismo Pedagogia Psicologia Publicidade e Propaganda • Ciências Exatas Astronomia Ciências Contábeis Desenho Industrial Engenharia Informática 99 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • Ciências Biológicas Agronomia Ciências Biológicas Ciências Biomédicas Ecologia Educação Física Enfermagem e Obstetrícia Farmácia e Bioquímica Fisioterapia Fonoaudiologia Medicina Medicina VeterináriaOdontologia Atualmente, de acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os cursos de formação são divididos nas seguintes áreas: Economia e Gestão, Ciências Agrárias e Veterinária, Ciências da Natureza, Ciências da Saúde, Ciências do Bem-estar, Matemática e Informática, Ciências da Sociedade, Serviços, Comunicação e Informação, Artes e Design, Ciências dos Materiais, Elétrica e Mecânica e Arquitetura e Construção. Também podem ser divididas, além das tradicionais áreas humanas, exatas e biológicas, em: Quadro 11 Ciências Agrárias Ciências Sociais Aplicadas Agronomia Administração Engenharia Agrícola Arquitetura Engenharia de Alimentos Ciências Atuariais Engenharia Florestal Ciências Contábeis Engenharia de Pesca Ciências Econômicas Medicina Veterinária Ciências da Informação Zootecnia Desenho Industrial Direito Ciências biológicas e da saúde Economia Doméstica Hotelaria Ciências Biológicas Museologia Educação Física Relações Internacionais Enfermagem Secretariado Executivo Esporte Turismo Farmácia 100 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Fisioterapia Engenharia Engenharia AeronáuticaFonoaudiologia Medicina Engenharia de Agrimensura Microbiologia e Imunologia Engenharia Ambiental Musicoterapia Engenharia Cartográfica Nutrição Engenharia Civil Odontologia Engenharia de Controle e Automação Terapia Ocupacional Engenharia Elétrica Engenharia Hídrica CIências exatas e da terra Engenharia de Materiais Engenharia Mecânica Astronomia Engenharia Metalúrgica Ciências Aeronáuticas Engenharia de Minas Computação Engenharia Naval Ecologia Engenharia Química Estatístico Engenharia Sanitária Física Engenharia Têxtil Geofísica Geologia Letras e artes Matemática Meteorologia Artes Cênicas Oceanografia Artes Plásticas Química Cinema e Vídeo Dança Ciências Humanas Decoração Fotografia Biblioteconomia Letras Ciências Sociais Moda Educação Música Filosofia Produção Cultural Geografia História Comunicação Pedagogia Psicologia Jornalismo Publicidade e Propaganda Rádio e TV Relações Públicas Fonte: <http://www.portaldeensino.com.br/profissoes.php>. Acesso em: 10 fev. 2008. Portanto, o orientador educacional de posse das informações sobre as profissões, cursos e mundo do trabalho precisa atentar para não se tornar apenas um reprodutor do sistema vigente. Ajudar o orientando no reconhecimento de onde está inserido é oportunizar-lhe a possibilidade de ser cidadão. 101 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Assim, a orientação educacional possibilita aos adolescentes/jovens a compreensão de seu próprio desenvolvimento. Tal desenvolvimento está relacionado à compreensão de si, suas atitudes, seus interesses, suas aptidões, seus desejos. Para tanto, diversas ações podem ser realizadas com a finalidade de atingir os objetivos da orientação profissional e orientação para o trabalho. Mas, que ações podem ser realizadas? • Criação de grupo de adolescentes/jovens para rodas de conversa sobre temáticas relacionadas às questões da escolha vocacional e o trabalho; as transformações provocadas pela globalização e o avanço tecnológico e suas influências no mercado de trabalho. • Dinâmicas ou jogos para autoconhecimento. • Seminários sobre profissões, entre outras. • Orientação para o trabalho: o processo decisório e informação sobre profissões. Ao se pensar em como os adolescentes/jovens escolhem suas profissões e considerando-se sua constante construção, é possível verificar que as escolhas, em geral, estão associadas à história de vida de cada um, pois as representações e imagens que foram construídas ao longo do tempo por meio dos contatos pessoais, exposição à mídia, leituras e vivências influenciam nesse processo doloroso de decisão quanto à profissão futura. Para esse importante processo decisório, quanto mais informações sobre as mais variadas profissões, melhor, portanto o orientador educacional poderá sugerir aos alunos a montagem de um álbum de profissões de acordo com o seu interesse. Enfim, o aluno necessita ter clareza de sua situação de vida, dos fatores que interferem em suas decisões para com autonomia e consciência exercer o seu poder decisório. Uma orientação educacional para o trabalho comprometida com a vida do aluno não deve ser caótica, mas deve procurar enxergar a realidade para superar dificuldades e encontrar uma síntese frente à complexidade de vida do aluno/orientando. Indique ao aluno, na hora de escolher a profissão, leve em conta a situação do mercado de trabalho, mas lembre-se que de muita importância são seus gostos e habilidades pessoais. Saiba mais Para saber mais, leia: GIACAGLIA, L. A. Orientação vocacional por atividades: uma nova teoria para uma nova prática. São Paulo: Pioneira, 2000. ___. GIACAGLIA, L. A. Atividades para orientação vocacional. São Paulo. Pioneira Thomson Learning, 2003. 102 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 12 – Sugestão de informativo de orientação vocacional – Aluno Prezado Aluno, O objetivo deste questionário é levantar informações para sua orientação profissional. Procure responder a todas as questões. Identificação: Nome:_____________________________________Idade:____Sexo:_______ Série:_______________________ Endereço:__________________________________Bairro: Profissão do Pai:____________________ Profissão da Mãe:_______________ 1- Você pretende: ( ) continuar só estudando ( ) continuar só trabalhando ( ) continuar estudando e trabalhando 2- Continuando a estudar, que curso gostaria de fazer?_______________________________ 3- Nas horas livres, o que você gosta de fazer? _____________________________________ 4- Você trabalha? ( ) sim ( ) não 5- Cite, em ordem de preferência, três profissões que você mais gostaria de exercer: 1º______________________ 2º______________________ 3º______________________ 6- Cite o porquê dessa preferência em cada profissão: 1ª_______________________________________________________________________ 2ª_______________________________________________________________________ 3ª_______________________________________________________________________ 7- Quais as duas matérias de que você mais gosta? a)___________________________b)____________________________ 8- E as de que menos gosta? a)___________________________b)____________________________ 9- Em quais você tem mais facilidade? a)___________________________b)____________________________ 10- Tem dificuldade em alguma? a)___________________________b)____________________________ 11- Já pensou em alguma profissão para você? Qual?_________________________________ 12- Entre as pessoas que você conhece, com quem gostaria de se parecer? Por quê?__________________________________________________________________ 103 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 13- Qual pessoa que em sua opinião maior influência exerceu na sua vida? ________________________________________________________________________ Que profissão ela exerce?_______________________________________ 14- Escreva três profissões que você não gostaria de exercer de jeito nenhum. ______________ ________________________________________________________________________ 15- Qual a carreira que seus pais gostariam que você seguisse? ________________________________________________________________________ 16- Suponha que na carreira que você gostaria de seguir se ganhasse pouco dinheiro, embora o suficiente para viver: se você tivesse possibilidade de seguiroutra carreira da qual não gosta, mas na qual ganharia muito dinheiro, você seria capaz de escolher a profissão na qual você ganharia pouco dinheiro? ( ) sim ( ) não data:____/_____/_____ Quadro 13 – Sugestão de Questionário Sondagem Prezado Aluno, Isto não é um teste. É uma relação de problemas que podem ser preocupação para você. Você encontrará nesta lista de problemas alguns dos quais não dará muita importância e outros com os quais você terá certa preocupação. Leia atentamente e assinale conforme sua preocupação no momento. Maior preocupação Menor preocupação 1- Não posso seguir a profissão desejada. 2- Tenho dúvidas sobre minha escolha profissional. 3- Necessito de dinheiro para minha formação superior. 4- Não sei se começo a me preparar para uma faculdade ou não. 5- Tenho dúvidas sobre o mercado de trabalho em qualquer profissão. 6- Estou frustrado com o tipo de estudos que estou fazendo. 7- Percebo que tenho que me decidir diante de uma profissão. 8- Gostaria de maiores informações sobre as profissões. 9- Não vejo claramente para que servem meus estudos para o futuro. 10- Preocupa-me pensar no desemprego depois de formado. 11- Não conheço minhas aptidões para desempenhar uma profissão. 12- Não consigo me ver em nenhuma profissão no futuro. 13- Necessito prever e me planejar para o futuro. 14- Sinto oposição de meus pais e meus irmãos com relação aos meus planos. 15- Tenho poucas oportunidades de seguir uma profissão que goste. 16- O que me interessa é ganhar muito dinheiro na minha profissão. 17- Sobre minha profissão ainda não me decidi. 18- Gosto de todas as profissões, mas não sei o que fazer. Nome: Série: Data: 104 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 14 – Sugestão para sondagens Prezado Aluno, responda com sinceridade: Nome:___________________________________________________Data:____________ 1) Quais as matérias de que você mais gosta? ________________________________________________________________________ 2) Assinale as formas de estudo de um tema que mais lhe agradam: ( ) exposição oral ( ) estudo dirigido ( ) pesquisas ( ) estudo de casos ( ) trabalho em grupo ( ) seminário ( ) painel ( ) outras técnicas 3) Quais as matérias em que você encontra maiores dificuldades? ________________________________________________________________________ 4) Qual profissão você gostaria de seguir? ________________________________________________________________________ 5) Seus pais têm preferência por alguma profissão? Em caso afirmativo, cite qual profissão. ________________________________________________________________________ Quadro 15 – Sugestão para levantamento de interesses Nome:_________________________________________________Data:______________ Assinale com (x) suas preferências: ( ) Gosto de resolver problemas matemáticos. ( ) Gostaria de trabalhar num laboratório. ( ) Gostaria de conhecer o mecanismo das máquinas. ( ) Gostaria de conhecer bem o corpo humano. ( ) Gosto de participar de debates. ( ) Gostaria de organizar um arquivo de documentos. ( ) Acho interessante visitar pessoas. ( ) Gostaria de cuidar, atender ou curar pessoas. ( ) Gostaria de interpretar papéis num palco. ( ) Interesso-me por escultura, pintura. ( ) Gostaria de compor músicas. 105 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ( ) Gostaria de trabalhar numa escola. ( ) Gostaria de me comunicar em várias línguas. ( ) Gosto de atividades ao ar livre. ( ) Prefiro administrar. ( ) Gosto de ficar pensando sobre coisas novas que poderia criar. ( ) Prefiro lidar com números. ( ) Gosto de realizar experiências científicas. ( ) Gosto de convencer pessoas. ( ) Prefiro as atividades que envolvam contato direto com as pessoas. ( ) Gosto de ouvir música. ( ) Gostaria de orientar alunos numa escola. ( ) Gosto de imaginar coisas novas. ( ) Prefiro lidar com pessoas. ( ) Gosto de lidar com números. ( ) Prefiro trabalhar num escritório, sossegado, sem precisar de muito contato com pessoas. ( ) Gostaria de uma profissão em que pudesse ajudar os outros. ( ) Gosto de desenhar. ( ) Gostaria de tocar um instrumento musical. ( ) Gosto de praticar esportes. ( ) Prefiro atividades práticas. Quadro 16 – Sugestão de inventário de atividades profissionais Nome:__________________________________________________ Data:_____________ Prezado Aluno, Imagine alguns tipos de atividades profissionais que gostaria de desempenhar... Assinale quais destas atividades você poderia desempenhar sentindo-se bem: 1- atendimento a pessoas 2- movimentação em ambientes fechados 3- trabalho com as mãos 4- trabalho em equipe 5- ligado à instituição 6- que envolva instrumento de precisão 7- organização e sistematização de publicações 8- pequenos movimentos manuais precisos 106 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a 9- que permita trabalhar em mais de um lugar 10- que exija compreensão verbal 11- horário fixo 12- que envolva desenho à mão livre 13- desenvolvida em ambientes fechados 14- que exija estar bem vestido 15- convencer pessoas 16- atendimento a pessoas necessitadas 17- trabalhar sozinho 18- execução gráfica rica em detalhes 19- por conta própria - autônomo 20- manipulação de substâncias 21- uniformizado 22- horário livre 23- que permita traje informal 24- imaginar coisas novas 25- ajudar pessoas 26- que auxilie a transformação de mundo 27- ao ar livre 28- ligado à construção 29- direto com a natureza 30- que exija responsabilidade e decisão Liste, para cada item assinalado, aquelas profissões que, você acha, que envolveriam esse tipo de requisito. Coloque todas que lhe vierem à cabeça. Escolha três requisitos que você mais gostaria de desenvolver, e explique por que você se sentiria bem atuando dessa forma. Fonte: LUCCHIARI, D. H. P. S. Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus, 1993. Quadro 17 – Estereótipos de profissões Objetivo Trabalhar os estereótipos das profissões de maneira lúdica. Atividade Vamos imaginar que aqui temos um baú mágico. Dentro dele, existem inúmeras roupas, para todos os tipos de gostos e preferências. Você vai procurar no baú diferentes roupas, e à medida que for encontrando vai explicando para seus colegas como elas são: - a roupa da profissão que você gostaria de exercer; - a roupa da profissão que seu pais gostariam que você exercesse; - a roupa da profissão que você detestaria exercer. 107 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Saiba mais Sugestões de sites para pesquisa: • <http://guiadoestudante.abril.com.br/profissoes/> • <http://guiadoestudante.sites.uol.com.br/> Quadro 18 - Dicas para a prática Como agir no trabalho? A rede de relacionamentos no seu trabalho deve ser amistosa, porém sem intimidades. Sugestões práticas de etiquetas de trabalho: 1 - Cumprimente a todos no seu local de trabalho. 2 - Nunca passe por cima da autoridade do seu chefe. Dentro de toda empresa existe uma hierarquia. 3 - Se o seu relacionamento com o seu chefe for informal, comporte-se de modo a não colocá-lo em situações embaraçosas. 4 - Evite falar mal de colegas ou da empresa em que trabalha. 5 - Se alguém falou algo negativo do chefe, não passe para frente. Incentive a pessoa a conversar com o chefe e esclarecer a pendência. 6 - Ligações telefônicas efetuadas no local de trabalho devem ser rápidas e tratar de assuntos profissionais. 7 - Mantenha-se informado sobre o que se passa na sua empresa. 8 - Seja organizado.Se cometer um erro, peça desculpas e não repita mais. 9 - Evite ouvir conversas telefônicas, ler contas, e-mails alheios ou usar o material do colega sem permissão. 10 - Mantenha-se sempre bem humorado. Trabalho não é local para discutir problemas pessoais. 11 - Seja solicito para ajudar os seus colegas. 12 - Seja discreto ao mudar de empresa. Fonte: <http://www.igenesis.org.br/como-agir-no-trabalho.html> 8 AÇÃO SUPERVISORA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: A PRÁTICA Na atualidade, cada vez mais se tem acentuada a consciência de que mudanças no âmbito econômico têm repercutido em alterações nos padrões de produção e organização social, ou seja, a ordem mundial globalizada tem exigido da educação a desafiadora tarefa de preparar o cidadão para uma sociedade do conhecimento, da tecnologia e da comunicação, demandando mudanças no sistema educacional brasileiro. Assim, no plano educacional brasileiro observa-se cada vez mais a impregnação dessas ideias, deixando-se à deriva o foco da organização do trabalho na escola, tanto na esfera pública quanto na privada. Nessa perspectiva, as políticas governamentais propostas também têm adotado a filosofia 108 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a da qualidade total, bem como a disseminação de medidas de descentralização e desconcentração administrativas, por força do financiamento da educação e intervenção de agências internacionais. De sorte que é possível perceber que em diferentes contextos e momentos históricos, o debate sobre a organização das escolas e sobre a relação destas com a comunidade, com os governos a que estão vinculadas, implica diversas concepções sobre as organização do espaço público como também, as responsabilidades do Estado, da sociedade e dos profissionais da educação no que diz respeito à efetivação do trabalho coletivo na construção da gestão na educação escolar (OLIVEIRA; FERREIRA, p. 3). À luz do pensamento de Nérici (1981), a ideia de supervisão teve sua origem na indústria, visando à melhoria em qualidade e quantidade na produção, ou seja, o modelo de supervisão escolar teve sua origem relacionada ao modo de produção capitalista, que objetivava a racionalização do trabalho, visando ao aumento da produtividade. Segundo Medeiros (1985), o modelo de supervisão escolar brasileira é originário do norte-americano e foi instaurado com a função de controlar a produtividade do ensino e de aperfeiçoar as técnicas existentes. De acordo com Saviani (2003, p. 24), em sua história, no Brasil, a supervisão de ensino passou a englobar aspectos políticos e administrativos, de fiscalização, coordenação e orientação de ensino: [...] a organização dos serviços educacionais na forma de um sistema nacional propunha dois requisitos que impulsionavam a ideia de supervisão na direção indicada: a) a organização administrativa e pedagógica do sistema como um todo, o que implicava a criação de órgãos centrais e intermediários de formulação de diretrizes e normas pedagógicas, bem como de inspeção, controle e coordenação, isto é, supervisão das atividades educativas. [...] emergindo, assim, a questão da coordenação dessas atividades, isto é, de um serviço de supervisão pedagógica no âmbito das unidades escolares. Ainda segundo a autora, a partir de 1930, a supervisão passa a assumir um caráter de liderança, de esforço cooperativo rumo ao alcance dos objetivos, com a valorização dos processos de grupo na tomada de decisões. Entre os anos de 1940 a 1960, a supervisão procurou sensibilizar o professor para a pesquisa e, a partir dos anos de 1960, de acordo com Nérici (1981), a supervisão incorporou as seguintes preocupações: eficiência, cooperação e pesquisa e desenvolvimento profissional. Tomando as reflexões de Bueno (2003), em meados dos anos 1960, a figura do inspetor escolar, que se fazia presente, atuava como agente fiscalizador e controlador no âmbito das unidades escolares, local em que era temido e respeitado em função do conhecimento, uso e aplicação que fazia da legislação. 109 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Ao aproximar-se dos anos 1970 desse mesmo século, o inspetor escolar, embora agora chamado supervisor de ensino, não apresenta mudanças em seu perfil, visto que uma administração e uma supervisão estruturada nas bases do modelo empresarial taylorista-fordista continuava permeando sua atuação. Ao supervisor de ensino competia o papel de assessoria entre o polo da administração e as unidades de execução nas quais os professores desenvolviam currículos e programas detalhados, padronizados, metodologicamente homogêneos, atuando como meros instrutores. Portanto, o saber, a decisão e o controle de toda a ação pedagógica concentravam-se nas divisões de ensino que representavam o ponto mais alto na escala hierárquica. Competia, assim, ao supervisor controlar toda essa execução. Aponta Bueno (2003) que a evolução da teoria da administração que acompanhou a flexibilização da organização e a gestão da produção dos países capitalistas centrais foi sendo absorvida e sucessivamente incorporada. O clima de abertura a partir dos anos de 1980 trouxe a intenção de estabelecer um padrão de relacionamento mais democrático com o magistério, introduzindo os cursos de relações interpessoais. Entretanto, não houve mudanças significativas da ação supervisora, pois restou apenas a intenção. Na prática, o que se teve foi uma pseudodemocratização administrativa, porque não é possível mudar a prática sem que a estrutura se modifique. Continuando na esteira do pensamento de Bueno (2003), a figura do supervisor se vê, então, extremamente comprometida perante este cenário educacional que questiona a consistência de suas funções meramente burocráticas e de controle, chegando à constatação de que a supervisão exercida nestes moldes pouco afeta os aspectos substantivos das unidades escolares. Assim, a partir da década de 1990, ainda segundo Bueno (2003), nesse contexto de retomada do modelo empresarial em suas novas formas de apresentação, a idoneidade técnica do profissional da supervisão é recolocada, em seu papel, na organização e funcionamento do ensino. O supervisor de ensino, que vinha com uma imagem desgastada e uma função esvaziada, resultado dos efeitos dos períodos anteriores, passa a ser visto como um dos principais agentes no desencadeamento dessa nova proposta de gestão, ao ponto de ter sido apontado pelo Banco Mundial como representante potencial das lideranças educacionais e grande facilitador na elaboração e na concretização dos projetos escolares em busca da qualidade e da eficiência na educação. Silva (2004, p. 27) expõe quanto à compreensão e à caracterização da função supervisora no contexto educacional brasileiro que essas não ocorrem independentemente ou de forma neutra. Ao contrário, essa função decorre do sistema social, econômico e político e está intimamente relacionada a todos os determinantes que configuram a realidade brasileira ou por eles condicionada. A relação se estabelece como um processo dinâmico, com seus elementos interagindo, evidenciando contradições e comportando-se ao mesmo tempo como condicionante e condicionada do contexto em que está inserida. Tal relação se refere a dois aspectos inerentes àquela função: ao mesmo tempo em que decorre do sistema 110 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a social, econômico e político, ela está em sua função. Em outras palavras: explícita ou implicitamente, ela é reflexo de uma política e está a serviço de uma política. Pautada numa análise dos diversos pontos de vista, é possível conceituar supervisão escolar como: Processo que tem por objetivo prestar ajuda técnica no planejamento, desenvolvimentoe avaliação das atividades educacionais em nível de sistema ou de unidade escolar, tendo em vista o resultado das ações pedagógicas, o melhor desempenho e o aprimoramento permanente do pessoal envolvido na situação ensino-aprendizagem (PRZYBYLSKI, s/d, p. 16). Busca-se, desse modo, operacionalizar um modelo de supervisão que leve à superação das dificuldades encontradas na ação supervisora, que fortaleça a autonomia das escolas e a melhoria do desempenho discente e docente, bem como o fortalecimento da participação da comunidade escolar nos processos de gestão da organização escolar. Na administração pública, em geral nos estados e municípios, a atuação do supervisor escolar, chamado supervisor de ensino, acontece em nível de sistema, contemplando as dimensões administrativas e pedagógicas da educação. A ação supervisora realizada no interior da escola pode ser relacionada às funções de coordenação pedagógica. Tomando as palavras de Vasconcellos (2007, p. 87), a coordenação pedagógica é a articuladora do Projeto Político Pedagógico da instituição no campo pedagógico, organizando a reflexão, a participação e os meios para a concretização do mesmo, de tal forma que a escola possa cumprir sua tarefa de propiciar que todos alunos aprendam e se desenvolvam como seres humanos plenos. A prática supervisora vem nos últimos tempos passando por transformações, assim como a cada dia, no mundo em que vivemos, torna-se mais necessária a conscientização de que se vivem mudanças significativas nas mais diversas áreas, sejam econômicas, políticas, sociais e culturais. De tal modo têm ocorrido tais transformações que múltiplos desafios precisam ser vencidos a fim de que se cumpram as funções sociais na contemporaneidade, principalmente no espaço da escola como campo de atuação em prol da socialização de saberes instituídos, na construção de saberes em um processo criativo e inovador de compreensão dos fenômenos educativos em toda a sua complexidade, seja humana, técnica ou científica. Nesse sentido, trazer para a prática da supervisão escolar o esclarecimento da importância da pesquisa como ação mobilizadora de reflexão sobre as perspectivas educacionais, o conhecimento das normas legais que organizam e estruturam o funcionamento das organizações escolares, o significado das políticas e do trabalho pedagógico, proporcionando subsídios teóricos e práticos que propiciem a reflexão sobre a dimensão da ação supervisora é de fato fundamental à formação do profissional 111 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL que atua na supervisão escolar em nível de sistema de ensino, bem como em instituições escolares únicas. Para tanto, como nos diz Ferreira (2008, pp. 89-99), são conteúdos do trabalho profissional da supervisão: • à política – coordenação da interpretação/implementação e da “coleta” de subsídios para o desenvolvimento de novas políticas mais comprometidas com as realidades educacionais; • ao planejamento – coordenação, construção e elaboração coletiva do projeto acadêmico/educacional, implementação coletiva, coordenação da “vigilância” sobre seu desenvolvimento e necessárias reconstruções; • à gestão – coordenação, propriamente dita, de todo o desenvolvimento das políticas, do planejamento e da avaliação – projeto acadêmico/educacional, construído e desenvolvido coletivamente; • à avaliação – análise e julgamento das práticas educacionais em desenvolvimento com base em uma construção coletiva de padrões que se alicercem em três princípios/posturas intimamente relacionados: a avaliação democrática, a crítica institucional e a criação coletiva e a investigação participante e contínua; • a todos esses elementos – estudar muito e continuamente, individual e coletivamente, discutindo conceitos e formas de elaboração prática de estratégias de ação pedagógica. [...] Faz-se necessária uma educação de novo tipo, estando em curso a construção de uma nova pedagogia e, portanto, de outro perfil de professor, de supervisor, de orientador. O controle necessário é o que se fará na construção coletiva do projeto acadêmico/educacional à luz dos princípios e elementos mencionados e do saber científico na sua forma mais elaborada, que possibilite o domínio de conteúdos e de habilidades cognitivas superiores, que devem ser estudados, discutidos, rediscutidos e incorporados à prática supervisora que o profissional da educação deverá exercer no âmbito educacional/escolar. Diante das diversas concepções e práticas de supervisão escolar, a abordagem reflexiva de supervisão, desenvolvida sob a ótica de Schön e Zeichner, explicitada por Alarcão (2008, p.18), “alicerça a metodologia formativa da reflexão como forma de desenvolver um conhecimento profissional contextualizado e sistematizado numa permanente dinâmica interativa entre a ação e o pensamento”; Assim, no quadro demonstrado por Alarcão (2008, p. 51), serão explicitadas as características fundamentais da supervisão numa escola reflexiva: 112 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 19 Dimensões Estratégia 1.Realidade profissional 2. Acesso à realidade saber feito de saberes mobilizados na profissão em contato direto com a realidade, 3. Objeto de formação 4. Metodologia de formação no exercício das funções educativas, por meio da investigação-ação, 5. Interação pessoa/grupo 6. Local privilegiado de formação para que os professores se desenvolvam numa escola em aprendizagem, 7. Função supervisora 8. Avaliação em que o supervisor lidera e coavalia formativamente. Fonte: ALARCÃO, I. Do olhar supervisivo ao olhar sobre a supervisão. In: RANGEL, M. (Org.) Supervisão pedagógica: princípios e práticas. São Paulo: Papirus, 2001, pp.11-56. Nessa perspectiva, o supervisor escolar exerce sua ação em dois âmbitos: • no âmbito escolar, modalidade em que a supervisão escolar desenvolve-se em uma unidade escolar articulando, acompanhando e orientando as atividades educativas de integrantes da equipe de trabalho escolar, principalmente a do professor, ou seja, atua na coordenação pedagógica da escola; • no âmbito de sistema de ensino, modalidade em que a supervisão escolar articula, acompanha, orienta ou assessora as organizações escolares que integram os órgãos gestores da educação, atua na implementação das políticas educacionais no espaço interescolar desse sistema. Observando-se o objeto da ação supervisora, a qualidade do ensino e da aprendizagem deve ser vista em sua completude, não só no contexto da sala de aula, mas na totalidade da escola como organização aprendente para todos (alunos, professores, funcionários, equipe gestora). Na atualidade, a democratização da educação traz, para o ambiente escolar, traços de uma sociedade globalizada, em virtude dos avanços tecnológicos, reestruturação do sistema de produção e desenvolvimento, o que exige da escola para além de transmissora do saber, que seja cada vez mais um local de orientação ao escolar e contributiva da construção do conhecimento do ser humano. A multiplicação de funções exercida pela escola contribui para que cada vez mais se conheça em profundidade essa unidade escolar em que se atua, onde não se pode ver uma turma isoladamente, mas é preciso que a unidade escolar seja vista como um todo, como uma organização que trata do ensino e da aprendizagem. Diante disso, de acordo com Alarcão (2008, p. 35), a ação supervisora deve ter seu objeto redefinido como o: desenvolvimento qualitativo da organização escolar e dos que nela realizam seu trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa por meio 113 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL de aprendizagensindividuais e coletivas, incluindo a formação dos novos agentes. [...] Considero ainda que as instituições, à semelhança das pessoas, são sistemas abertos e complexos em permanente interação com o ambiente que as rodeia, que as estimula ou condiciona, que lhes cria contextos de aprendizagem. A compreensão do fenômeno desenvolvimento, em ambos os casos, poderá ganhar uma dimensão explicativa se a enquadramos na perspectiva ecológica do desenvolvimento humano. De sorte que o conhecimento da realidade escolar impõe-se como primordial. O conhecimento da realidade não significa apenas coletar dados e informações, mas por meio de diversos instrumentos é possível aproximar-se da realidade e, assim, detectar quais são efetivamente as necessidades, as perspectivas e as possíveis alternativas e soluções para determinada organização escolar. André (1995, p. 111), afirma com veemência que: conhecer a escola mais de perto significa colocar uma lente de aumento na dinâmica das relações e interações que constituem seu dia a dia, apreendendo as forças que a impulsionam ou que a retêm, identificando as estruturas de poder e os modos de organização do trabalho escolar, analisando a dinâmica de cada sujeito nesse complexo interacional. Nessa perspectiva, a caracterização de uma escola como possível avaliação denota ir além do que a instituição já sabe sobre seu desempenho, características de seu cotidiano. Refletir sobre a escola aponta na busca para caracterizá-la, explicitando suas concepções internas, visto que a diversidade de identidades na construção coletiva busca indicadores nem sempre perceptíveis. Diante dessa premissa, o conhecimento da realidade da escola é importante para a ação supervisora. Padilha (2003, p. 83) expõe que esta fase de conhecimento da realidade exige os seguintes passos: 1. avaliação dos resultados do ano anterior; 2. definição do autorretrato da escola (leitura de mundo); 3. definição dos compromissos a serem assumidos para mudar, ou aperfeiçoar, aquele retrato. Também é possível perceber o quão importante a articulação teoria-prática tem sido um desafio nos cursos e programas de formação docente, pelo pouco uso, entre outras razões, de procedimentos teórico-metodológicos que captem os processos e a dinâmica das práticas da forma como acontecem no cotidiano escolar, atribuindo-lhes significado, no vai-e-vem entre saberes de referência e saberes da prática. No artigo sobre o papel do sujeito na pesquisa, André (1999, p. 357) enfatiza que uma das contribuições da pesquisa de tipo etnográfico foi ter aproximado o professor das situações concretas da escola, rompendo com certo abstracionismo com que as questões escolares costumavam ser tratadas pela pesquisa educacional. 114 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Tal metodologia de pesquisa, além de poder focalizar a prática pedagógica na sua totalidade e complexidade, e em seu caráter nem sempre negativo, é de extrema importância para que os problemas do dia a dia sejam tomados como objeto de reflexão e estudo pelos profissionais da educação, de forma contextualizada, para que seja possível compreender as suas raízes, condição para a sua superação. André (1999) dá destaque para o lugar que a teoria deve ocupar quando se pretende utilizar o enfoque etnográfico de pesquisa na área educacional. Neste sentido, propõe um “garimpo teórico”, ou seja, “tomar a pesquisa como ponto de partida para um esforço de reflexão, de garimpagem dos aspectos críticos da realidade que precisam ser aprofundados” (ibidem, p. 359).Trata-se de inverter a relação com o saber, buscando na literatura educacional e em outras áreas do conhecimento, as explicações para os fenômenos ou problemas encontrados na “garimpagem” dos aspectos críticos da realidade. De tal sorte que analisar uma situação é conhecê-la a fundo, é uma fase essencial para a identificação e caracterização da unidade escolar e isto implica observação e reflexão coletiva a respeito da escola e seu contexto em uma prática refletida. De acordo com Perrenoud (apud ANDRÉ, 1999, p. 359), prática refletida diz respeito à disposição e competência dos professores para a análise individual ou coletiva de suas práticas, para um olhar introspectivo, para pensar, decidir e agir, tirando conclusões. Diz respeito, ainda, à capacidade de antecipar os resultados de determinados processos ou atitudes. Em outras palavras, concordando com o autor (ibidem), trata-se da capacidade de pensar o próprio trabalho. Para tanto a fim de que isso seja possível, apresenta as seguintes indicações: • no início, usar a metodologia investigativa através do desenvolvimento de projetos coletivos, centrados em temas relacionados à prática docente cotidiana; • iniciar com observação e coleta de dados de campo; • na fase mais adiantada do estágio, os projetos podem evoluir para o exercício da reflexão sobre a prática. É necessário, também, caracterizar a ação para que se possa ter clareza sobre o que se busca e o que se pode esperar do fato. Assim, pode ser problematizado da seguinte forma: 1. Que tipo de ação será desenvolvida? 2. Quais seus propósitos? 3. A quem beneficiará? 4. Em que medida se constitui uma atividade de pesquisa ou extensão? Que indicadores podem ser úteis para tal conhecimento? Sem dúvida, dados gerais da escola, condições de seu prédio, materiais e recursos disponíveis, dados sobre seus alunos (relação idade/série, evasão e repetência, dificuldades de aprendizagem apresentadas 115 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL nos vários componentes curriculares etc.), dados sobre os educadores, situação de transporte e habitação, trabalho das famílias... Os indicadores escolhidos possibilitam uma visão global da situação da escola em seu contexto, analisá-los poderá facilitar a detecção de pontos fortes, pontos fracos e pontos medianos que carecem de melhoria. A seguir, apresenta-se conforme os Subsídios à Ação Supervisora (2004, p. 33) um quadro síntese de identificação escolar e organização das ações de supervisão: Quadro 20 Escola • aspectos descritivos: nome/endereço/ caracterização; • comunicação: telefone/fax/endereço eletrônico/ sítio na rede; • atos legais • períodos de funcionamento Grupo de Gestão da Unidade • nome/ situação funcional do Diretor, Assistente de Direção/ Secretário da Escola/ Coordenador Pedagógico/ Orientador Educacional/ Professores Funcionamento da Escola • número de alunos da U.E. • cursos/habilitações • classes (inclusivas/aceleração entre outras) • horário administrativo • horários de reuniões de trabalho (equipe/ professores: funcionários) Supervisão • nome / situação funcional do supervisor escolar • comunicação: telefone/fax/endereço eletrônico Visitas Espaço para registro das visitas do Supervisor Escolar • data:________ tema tratado:____ • data:________ tema tratado:____ • data:________ tema tratado:____ • data:________ tema tratado:____ Tomando por base o Comunicado SEE/SP de 30/07/2002, documento emitido pela Secretaria de Estado da Educação, que traça o perfil necessário ao desenvolvimento das atividades na função do exercício de supervisor de ensino, é possível caracterizá-lo como propositor e executor partícipe de políticas educacionais e, ao mesmo tempo, elemento de articulação e mediação entre essas políticas e as propostas pedagógicas desenvolvidas em cada uma das escolas das redes pública e privada, exercendo, no sistema de ensino, as funções de: • assessorar, acompanhar, orientar, avaliar e controlar os processos educacionais implementados nos diferentes níveis desse sistema; • retroinformar aos órgãos centrais as condições de funcionamento e demandas das escolas, bem como os efeitos da implantação das políticas. 116 Unidade III Re visã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a O documento apregoa que o supervisor de ensino, como membro de equipe de Supervisão, compõe a estrutura básica da instância regional (Diretoria de Ensino), portanto, é partícipe da definição de políticas públicas educacionais referentes à educação básica e à educação profissional. Esse profissional deve atuar junto aos órgãos formuladores das políticas, em nível central, regional e local para: • assegurar diretrizes e procedimentos que garantam o cumprimento dos princípios e objetivos da educação escolar estabelecidos constitucional e politicamente; • favorecer, como mediadores, a construção da identidade escolar por meio de propostas pedagógicas genuínas e de qualidade. No que se refere às atividades do supervisor de ensino como membro de equipe de supervisão na instância regional, o documento diz que o profissional: 1. atua como parte de um grupo, articulando-se com a Oficina Pedagógica e os demais setores da Diretoria; 2. realiza estudos e pesquisas, trocando experiências profissionais, aprendendo e ensinando em atitude participativa e de trabalho coletivo e compartilhado; 3. participa da construção do plano de trabalho da Diretoria de Ensino, visando a: 3.1 promover o fortalecimento da autonomia escolar; 3.2 realizar processos de avaliação institucional que permitam verificar a qualidade do ensino oferecido pelas escolas; 3.3 formular propostas, a partir de indicadores, inclusive os resultantes de avaliações institucionais, para: • melhoria do processo ensino-aprendizagem; • desenvolvimento de programas de educação continuada para o conjunto das escolas; • aprimoramento da gestão pedagógica e administrativa, com especial atenção para a valorização dos agentes organizacionais e para a adequada utilização dos recursos financeiros e materiais disponíveis em cada escola, de modo a atender às necessidades pedagógicas e aos princípios éticos que norteiam o gerenciamento das verbas públicas; • fortalecimento de canais de participação da comunidade. 1. participa de Comissões Sindicantes, visando a apurar possíveis ilícitos administrativos. Como agente de supervisão junto às unidades escolares atua, numa relação de parceria e companheirismo, como articulador e elemento de apoio à formulação das propostas pedagógicas das 117 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL escolas, orientando, acompanhando e avaliando a sua execução, prevenindo falhas, redirecionando rumos, quando necessário, e orientando as equipes escolares na organização dos colegiados e envolvimento da comunidade, com ênfase na avaliação educacional e na adoção de programas de formação continuada. Quanto às suas responsabilidades e aos seus compromissos, como agente de supervisão, corresponsável pela qualidade do ensino oferecido pelas escolas e resultante da implementação das políticas educacionais centrais, regionais e locais, o documento aborda ainda que o supervisor de ensino deva: • identificar os pontos possíveis de aperfeiçoamento ou de revisão encontrados nos processos de formulação e ou execução das diretrizes e procedimentos decorrentes dessas políticas; • avaliar os impactos dos programas e das medidas implementadas; • propor alternativas de melhoria, superação ou correção dos desajustes detectados às respectivas instâncias; • buscar, em conjunto com as equipes escolares, soluções e formas adequadas ao aprimoramento do trabalho pedagógico e à consolidação da identidade da escola. O mesmo documento também trata das competências exigidas ao supervisor de ensino: • Competências Específicas: 1 - Conhecimento: a) da educação geral escolar e suas relações com o contexto histórico-social e com o desenvolvimento humano; b) da natureza, organização e funcionamento da educação escolar; c) do ensino como um processo articulado à aprendizagem e à construção de conhecimento; d) de gestão/administração do sistema escolar a serviço da qualidade do ensino. 2 - Capacidade de relacionar e aplicar princípios, teorias e normas legais a situações particulares e reais. 3 - Aptidão para identificar os impactos das medidas educacionais, na construção da melhoria do ensino. 4 - Disposição para estimular e promover o desenvolvimento da autonomia da escola, delineada em sua proposta pedagógica, envolvendo toda a comunidade escolar. 118 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a • Competências de Gestão: 1. Compreensão e valorização do trabalho coletivo no exercício profissional. 2. Disponibilidade para trabalhar em grupo, reconhecendo e respeitando as diferentes contribuições dos participantes. 3. Tolerância às divergências pessoais. 4. Capacidade de articular ações, de interpretar situações reais e de mediar conflitos. 5. Condução democrática de suas práticas. • Competências Básicas: 1. Consciência crítica da interferência das estruturas institucionais no cotidiano social. 2. Clareza de comunicação com diferentes interlocutores e em diferentes situações. 3. Empenho na socialização de informações e conhecimentos. 4. Interesse na atualização pessoal, buscando e produzindo conhecimentos. Em 2008, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, por meio das Instruções Especiais SE/ SP nº 3, de 11-4-2008, publicada em Diário Oficial do Estado, explicita as atribuições do Supervisor de Ensino: 1. Analisar os indicadores educacionais das unidades escolares e da Diretoria de Ensino buscando alternativas para a solução dos problemas específicos de cada nível/etapa e modalidade de ensino, propostas para melhoria do processo ensino-aprendizagem e da gestão das escolas e Diretoria. 2. Participar da construção e implementação do plano de trabalho da Diretoria de Ensino. 3. Compatibilizar os programas e projetos das diferentes áreas no âmbito das escolas da Diretoria de Ensino. 4. Efetuar regularmente visitas às unidades escolares e participar de reuniões com os membros da Equipe Escolar, buscando, em parceria com os mesmos, as formas mais adequadas de aprimoramento do trabalho escolar e a consolidação da identidade escolar. 5. Identificar as necessidades de formação continuada da Equipe Escolar das escolas estaduais, procurando, de forma articulada, subsidiar o trabalho desenvolvido pela oficina pedagógica e professores/ coordenadores. 119 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 6. Manter as unidades escolares devidamente informadas sobre as diretrizes e orientações dos órgãos centrais da Secretaria da Educação. 7. Acompanhar e subsidiar o diretor da escola na identificação das necessidades gerais da escola. 8. Acompanhar o funcionamento das escolas, verificando a observância das normas legais pertinentes. Diante do exposto, é possível dizer que as atribuições do supervisor de ensino são abrangentes e redefinem o papel fundamental que exerce, como educador, na avaliação de qualidade das instituições escolares, públicas e privadas, devendo ser o responsável direto pela assessoria, acompanhamento e apoio para uma gestão democrática, comunicativa e de sucesso. Uma retrospectiva do contexto político-social da educação é de grande importância ao se refletir sobre o supervisor escolar como profissional que atua como elo no desenvolvimento da aprendizagem e da qualidade de ensino. Ao refletirmos acerca da educação não podemos fazê-la de modo alheio a sua contextualização e às relações sociais que hoje são determinadas pela sociedade local ou nacional, além da dependência dos processos de globalização. De acordo com Xavier (apud RAPHAEL, 2003, p. 8), a consciência pedagógica fica desvinculada das relaçõesinternas de dominação que “explicam a aparente distância entre os ideais projetados e a prática educacional nacional”. Diante disso, o entendimento da dependência econômica dentro da sociedade é necessário para que se entenda como o pensamento e a prática pedagógica se produzem e se desenvolvem dentro dessa mesma sociedade, dependente de elementos externos. Assim, como aponta Raphael (2003, p.8): o pensamento liberal, hoje retomado com todas as suas premissas na política do Estado brasileiro, surge [...] associado à arrancada capitalista nos meios de produção; [...] é a formação concreta, com sua singularidade, o determinante das ideologias que se originam a partir daí. E essa concretude é que condiciona os efeitos do liberalismo na educação, de modo a articular ou não a consciência pedagógica com as necessidades nacionais. [...] A escola nova é então a autêntica representante do liberalismo educacional que se infiltra e se consolida no sistema de ensino brasileiro. De tal sorte que as práticas pedagógicas transformam-se radicalmente, transmitindo um discurso pedagógico afinado com a nova ordem ideológica. Observa-se que qualquer prática pedagógica tem, portanto, um forte determinante político. A escola, de acordo com a mesma autora, sofre hoje uma forte inadequação perante as demandas sociais, quando ainda trata a todos 120 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a de forma homogênea, desrespeitando as diferenças culturais, familiares e sociais, necessitando de uma mudança paradigmática, isto é, a escola necessita quebrar paradigmas, abrindo-se para a visão da diferença, tornando-se inclusiva numa sociedade multicultural. Portanto, o projeto pedagógico da escola, como instrumento base que integra e articula toda a prática pedagógica, não fica alheio a esses determinantes e tem refletido toda a questão política, ideológica e social da educação. Veja a seguir a síntese do exposto: Escola sofre podendo gerar Influências Econômicas dos períodos históricos não atendimento às demandas IdeológicasSociais Figura 15 Destaca-se ainda, que sendo a supervisão um processo dinâmico, realizado por meio da interação entre indivíduos e grupos, pressupõe ação, implementação e acompanhamento do processo pedagógico e administrativo de unidades escolares ou sistema de ensino. Dessa forma, a ação supervisora alcança dimensões significativas, necessitando trabalhar como coautora na elaboração, execução e acompanhamento do projeto pedagógico, ampliando as possibilidades e os limites de sua ação para a realização de um trabalho pedagógico eficaz no sistema de ensino e na unidade escolar. Não se trata de tarefa simples e fácil, mas que pode e deve ser articulada quando da construção do projeto pedagógico da escola a ser colocado em prática. 121 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Ação supervisora Supervisor escolar Conhecimento teórico Relacionar conhecimentos Crie/inove Documentar possibilite a Pesquisar Ensinar Gerenciar Planejar teóricos líder ético pesquisador flexível responsável comprometido tomada de decisão construção coletiva troca de experiências profissional práticos Saiba Seja que deve ter de com na no Capacidade Monitorar conhecimentos Metodologia de ensino Escola Sistema Figura 16 – Mapa conceitual – ação supervisora e supervisor escolar Na realidade, os supervisores têm atuado prioritariamente na área curricular ou administrativa, entretanto dentre suas funções está prevista sua atuação tanto na área pedagógica quanto na área administrativa. Assim, segundo Raphael (2003), o desafio é assumir a atuação na área curricular como elemento de transformação da escola, levando sua atuação a ser conjunta, em um processo de parceria com professores e demais segmentos da unidade escolar, ou seja, assumir a parte pedagógica numa atuação conjunta com os professores, intervindo no âmbito da escola por meio de processo de capacitação permanente de caráter técnico-político, dimensão pela qual torna possível a intervenção supervisora necessária à construção, articulação e avaliação do projeto pedagógico, que dessa forma passa a ser de fato instrumento norteador das ações pedagógicas implementadas. Silva Jr. (apud RAPHAEL, 2003, p. 10) aponta o distanciamento entre os supervisores e professores, criado pela própria Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, à medida que a supervisão deixou de ser desejável à renovação, por se constituir em uma instância representativa do poder, passando a ser vista, e até a atuar, como fiscalizador e controlador do trabalho docente. 122 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Como relata Raphael (2003), o supervisor escolar, como membro da equipe, reúne condições para proceder às intervenções necessárias, dada sua visão não apenas pedagógica, como também da política educacional a ser exercida, visão esta que foge, muitas vezes, do domínio do professor que se mantém mais ligado ao seu fazer pedagógico, que exige dele soluções práticas e imediatas, tendendo ao pragmatismo, desvinculando-se da reflexão consciente. Assim, como diz Alarcão (apud AMARAL; MOREIRA; RIBEIRO, 1996, p. 92-93), o supervisor tem como meta facilitar o desenvolvimento do professor mas, ao fazê-lo (ao ajudar a ensinar), também o supervisor se desenvolve porque, tal como o professor, aprende ensinando. Por outro lado, o desenvolvimento profissional do professor tem por objetivo a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos. [...] o supervisor surge como alguém que deve ajudar, monitorar, criar condições de sucesso, desenvolver aptidões e capacidades no professor, tornando-se por isso numa personagem semelhante ao treinador de um atleta. Ainda na esteira de exposto por Raphael (2003), esse caráter praticista leva o professor, muitas vezes, a ignorar o projeto pedagógico como forma de planejamento prévio da ação a ser desenvolvida em sala de aula, esquecendo-se de que uma ação realmente pedagógica precisa ser antes intencional e reflexiva. Dessa forma, para existir de fato, o projeto deve-se concretizar no cotidiano, sendo construído conforme as intenções, passando por ratificações e transformações percebidas necessárias, garantindo assim a flexibilidade pertinente à sua execução, sem perder de vista sua diretriz básica e seu aspecto de totalidade. Na figura, é possível perceber o processo de supervisão escolar rumo à construção do projeto pedagógico: Ação supervisora Ação supervisoraMundo Sociedade Supervisor Escola Professor Aluno Figura 17 123 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Também acrescenta Raphael (2003) que o trabalho conjunto com a equipe escolar garante a inserção do supervisor numa relação dialética entre a escola e a sociedade, adequando a escola às exigências que mudam constantemente por parte de sua demanda e da sociedade em geral, criando uma interação entre as diferentes instâncias da educação, desde a sala de aula até a administração central. “Considerando o projeto pedagógico como uma descrição da realidade, não se pode cumprir uma parte dele sem que as outras sejam envolvidas, numa montagem que demonstre coerência lógica e visão integrada da questão” (RAPHAEL, 2003, p. 13). Sugere alguns pressupostos, como: • o trabalho docente é, essencialmente, voltado para a prática, muitas vezes desprezando as teorias e caindo num pragmatismo que se recusa a incorporar a visão teórica como parte do fazer pedagógico; • neste pragmatismo tecnicista é que ocorre a fragmentação do trabalho docente, perdendo de vista a totalidadedo conhecimento. Como consequência, a avaliação fica atrelada a conteúdos específicos que, muitas vezes, perdem sua significação por não convergirem para uma proposta educacional, mediados por um projeto pedagógico; • o conhecimento ministrado pela escola não deve ser mensurado pelo simples processo de reprodução do aluno. O conhecimento contém um elemento político, cuja avaliação extrapola instrumentos formais usados em sala de aula e que, via de regra, não é considerado na aferição de rendimento escolar; • o plano diretor deve constituir-se de uma diretriz para a escola e representar, tanto na esfera administrativa quanto na pedagógica, a intencionalidade dos educadores. Significativa contribuição para educação Raphael (2003) apresenta em sua experiência no exercício da função supervisora em uma escola pública do Estado de São Paulo, pela qual ela explica como é fundamental o entendimento desses quatro pressupostos básicos, na construção do projeto, conforme expõe: • Praticismo: — o ato humano, entendido em sua totalidade como ação refletida e intencional, tem como antecedente a tomada de posição diante de novos conhecimentos, que transforma em prática. Por outro lado, é a prática que vai ratificar ou negar a verdade desses conhecimentos. O conhecimento é uma instância teórica, mas que se torna de grande utilidade na racionalização e humanização da prática, para que esta não repita erros passados e colabore para a construção histórica da educação (RAPHAEL, 2003, p. 14). Até porque, segundo Severino (apud RAPHAEL, 2003 p. 14): “[...] muito embora a prática seja o que caracteriza o cotidiano do ser humano, o agir já traz em si o conhecimento, como instrumental que se origina na acumulação histórica e modifica as formas práticas de atuação do próprio homem.” Também em nosso cotidiano, de acordo com a autora, ao rejeitar a teoria com base na prática, o professor nega sua própria história e a participação na construção do conhecimento. O que na verdade, em seu dia a dia, em sua rotina escolar diária acaba por transformar os professores em apenas cumpridores de tarefas, dificultando a reflexão da prática, sendo necessário, portanto, 124 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a uma postura por parte destes, senão teórica, pelo menos prática, com justificativas racionais, a fim de superar este praticismo alienante. • Fragmentação: — A questão da falta de integridade do projeto da escola, para a mesma autora, pode resultar numa visão fragmentada do saber historicamente acumulado, fruto de posturas tradicionais presentes no dia a dia das unidades escolares, por exemplo, a ausência de um trabalho coletivo. O distanciamento entre a escola e a sociedade, o saber e a realidade e o fazer e pensar dificultando a interação entre as disciplinas e os segmentos citados. Como proposta de solução para este contexto fragmentado, coloca-se a interdisciplinaridade, que somente será viável constituindo-se em prática pedagógica mediante adesão de posturas unificadas dos professores para garantia de uma coerência interna e externa. • Reprodução: — A reprodução está relacionada à fragmentação do saber. A partir do fracionamento do conhecimento, é difícil vislumbrar a concepção de conjunto como algo refletido e construído, constituindo-se em obstáculo à formação de inter-relações que permitem trabalhar a informação sem apenas consumi-la. De acordo com Raphael (2003), o conhecimento sob a perspectiva da reprodução é trabalhado como um produto acabado remetendo a educação ao passado, deixando, assim, de construir o futuro por meio da ação do presente. Esta visão passiva, que desconsidera o aluno como ser ativo e construtivo, infelizmente tem predominado no ensino brasileiro, pois as mudanças já envidadas não têm sido suficientes para dissociar a aprendizagem da inculcação, da assimilação sem questionamento, por vezes impossibilitando ou dificultando a formação do espírito crítico e da inteligência ativa do aluno no ato de sua educação. A ação supervisora tem atuação importante neste contexto, desde que entenda os processos ideológicos que atravessam o sistema escolar e busque alternativas de mudança e inovação para este cenário. Mudanças essas que deverão ter embasamento numa reflexão crítica de cada um dos elementos constituintes do processo de ensino e aprendizagem, que deverão ter como foco o professor por ser elemento primordial ao rompimento desse processo reprodutivo que traz o caminho de uma via só, ou seja, em sentido único do ato educativo: do professor para o aluno. • Intencionalidade pedagógico-administrativa: — Para atender às necessidades da escola, o supervisor escolar deve estar imbuído da intenção pedagógica, que está ligada à construção do conhecimento, essência da escola, consequentemente do processo ensino-aprendizagem. Entretanto, este fazer pedagógico está na dependência direta da organização do ensino, que, associada ao administrativo, exige do 125 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL supervisor amplo conhecimento da administração escolar, pois, dominando os critérios de organização escolar, garantirá o bom funcionamento pedagógico. Diante do exposto, é possível afirmar que a supervisão escolar tem muito a contribuir com o desenvolvimento da unidade escolar, à medida que se põe como parceira na construção, desenvolvimento e acompanhamento do projeto pedagógico da unidade, passando, dessa forma, a se constituir como parte integrante da equipe escolar. Outra questão fulcral e fundamental diz respeito à construção do projeto pedagógico e à sua intrínseca relação com a autonomia, condição básica para que a escola o elabore e o realize, o que lhe permitirá atuar dentro da sua realidade e mais próximo de suas próprias e reais necessidades. 8.1 Professor-coordenador e suas atividades no processo educacional Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. (Paulo Freire) Tomando a epígrafe por base, é possível dizer que a palavra e a ação-reflexão são de essencial importância para o fazer do coordenador pedagógico, visto ser ele o articulador entre o fazer pedagógico e a reflexão teórica para a tomada de consciência das atribuições deste ator do processo educacional. De acordo com a Resolução SE-SP-88/2007, o professor-coordenador terá como atribuições: • acompanhar e avaliar o ensino e o processo de aprendizagem, bem como os resultados do desempenho dos alunos; • atuar no sentido de tornar as ações de coordenação pedagógica espaço coletivo de construção permanente da prática docente; • assumir o trabalho de formação continuada, a partir do diagnóstico dos saberes dos professores para garantir situações de estudo e de reflexão sobre a prática pedagógica, estimulando os professores a investirem em seu desenvolvimento profissional; • assegurar a participação ativa de todos os professores do segmento/nível objeto da coordenação, garantindo a realização de um trabalho produtivo e integrador; • organizar e selecionar materiais adequados às diferentes situações de ensino e de aprendizagem; • conhecer os recentes referenciais teóricos relativos aos processos de ensino e aprendizagem, para orientar os professores; • divulgar práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis. Assim, o supervisor escolar/coordenador pedagógico no exercício de sua função integradora e articuladora deve manter uma constante relação com professores, pais, alunos, equipe técnica, ou seja, com todos os atores do processo de gestão escolar. Diante disso, é possível perceber a escola como 126 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a espaço privilegiado para a formaçãode profissionais que reflitam sobre sua ação por meio de ações individuais e do diálogo coletivo. Alarcão (2004) expõe acerca da ação reflexiva que tanto a escola como os que organizam as situações de diálogo entre professores têm necessidade de compreensão do que é ser professor e como se pode e deve formar tal profissional. De sorte que é importante para o supervisor escolar/coordenador pedagógico ter conhecimento das fontes de aquisição do saber do profissional da educação e seus modos de integração no trabalho docente, como disposto por Tardif (2002, p. 63): Quadro 21 – Os saberes dos professores Saberes dos professores Fontes sociais de aquisição Modos de integração no trabalho docente Saberes pessoais dos professores A família, o ambiente de vida, a educação no sentido lato etc. Pela história de vida e pela socialização primária Saberes provenientes da formação escolar anterior A escola primária e secundária, os estudos pós-secundários não especializados etc. Pela formação e pela socialização pré-profissionais Saberes provenientes da formação profissional para o magistério Os estabelecimentos de formação de professores, os estágios, os cursos de reciclagem etc. Pela formação e pela socialização profissionais nas instituições de formação de professores Saberes provenientes de programas e livros didáticos usados no trabalho A utilização das “ferramentas” dos professores: programas, livros didáticos, cadernos de exercícios, fichas etc. Pela utilização das “ferramentas” de trabalho, sua adaptação às tarefas Saberes provenientes de sua própria experiência na profissão, na sala de aula e na escola A prática do ofício na escola e na sala de aula, a experiência dos pares etc. Pela prática do trabalho e pela socialização profissional Fonte: TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 63. O professor coordenador como responsável pela formação continuada dos professores precisa sensibilizar-se em seu saber-fazer de modo a estimular a resolução de conflitos e a tomada de decisões para os encaminhamentos pedagógicos da escola, ou seja, possibilitar a compreensão da realidade da unidade escolar, problematizar e analisar a realidade e elaborar e propor formas de intervenção de ação coletiva. O papel da coordenação pedagógica é nortear propostas que visem ao aprimoramento do docente, possibilitando-lhe a aquisição de saberes fundamentais para a sua prática, a fim de que haja a transformação da realidade escolar. Para tanto, Placo (2006, p. 95) salienta: assim, como o professor é responsável, na sala de aula, pela mediação aluno/conhecimento, a parceria entre coordenador pedagógico e professor concretiza as mediações necessárias para o aperfeiçoamento do trabalho pedagógico na escola. Essa parceria se traduz em um processo formativo contínuo, em que a reflexão e os questionamentos do professor quanto à sua prática pedagógica encontram e se confrontam com os questionamentos e fundamentos teóricos evocados pelo coordenador pedagógico, num movimento em que ambos se formam e se transformam. 127 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL De acordo com matéria publicada na Revista Nova Escola (2003), fala-se sobre o papel do coordenador pedagógico Ele faz a transposição da teoria para a prática escolar e é o maior responsável pela formação dos docentes. Ajuda a elaborar e aplicar o projeto da escola, dá orientação em questões pedagógicas e, principalmente, atua na formação contínua dos professores. Essas são as funções do coordenador pedagógico (também conhecido em algumas regiões do país como supervisor ou orientador pedagógico), um especialista em refletir sobre o trabalho em sala de aula. Seu papel é estudar e usar as teorias para fundamentar o fazer e o pensar dos docentes [...]. Assim, é necessário que ele antecipe conhecimentos para o grupo. Para isso, é preciso ler muito, não só sobre conteúdos específicos, mas também livros de literatura, jornais e revistas. Um bom coordenador é também um apreciador das diferentes manifestações culturais. Visita regularmente museus e exposições e vai ao cinema e ao teatro. Em muitas escolas, cabe a esse profissional fazer ainda o atendimento aos pais e ajudar a resolver problemas de disciplina dos estudantes. Por tudo isso, o coordenador pedagógico só vai desempenhar bem seu ofício se for um líder e tiver apoio da direção em suas ações e reivindicações, como infraestrutura de trabalho e tempo de estudo para todos os professores. O que ele faz: • Ajuda a elaborar a proposta pedagógica da escola e garante que ela seja posta em prática. • Orienta pedagogicamente pais e responsáveis, alunos, educadores e demais funcionários da instituição. • Responde pela formação dos docentes. Fonte: Revista Nova Escola – Edição nº 161 – abr. 2003. In: <http://www.uol.com.br/novaescola>. Também é papel do supervisor escolar e coordenador pedagógico auxiliar na construção do projeto político-pedagógico da escola. 128 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a À luz dos significados atribuídos ao termo planejamento apresentados por Padilha (2003, pp. 30-31), percebe-se que, embora existam algumas diferenças de visão e o reconhecimento de que seu significado não é tão preciso e até mesmo ambíguo, há uma concordância quanto ao caráter processual e reflexivo do planejamento, processo este de análise da realidade, de tomada de decisões quanto às finalidades do trabalho e quanto às ações e meios a serem empreendidos para superação dos problemas detectados. Os conceitos por ele referidos levam-nos a apontar o caráter dinâmico do planejamento. Trata-se de um movimento de reflexão-ação-reflexão, contínuo e sistemático, que implica imensa atividade mental dos sujeitos, para projetar uma realidade que ainda não existe, mas que se deseja existir, razão pela qual é necessário sair do âmbito da reflexão para ações concretas, pois as ideias não mudam a realidade, mas, sim, uma ação efetiva, orientada por finalidades traçadas a partir de um balanço das condições concretas em que se vai atuar, em um esforço de conjugar o ideal com o real. Certo é que diante de uma concepção dialógica de planejamento, a construção do projeto político-pedagógico deve: a) Relacionar as ações para elaboração do projeto aos princípios norteadores do planejamento dialógico, relativos à garantia de participação de todos os segmentos escolares e à participação de alguns membros nos demais níveis de planificação educacional. b) Partir da avaliação objetiva das necessidades e expectativas de todos os segmentos escolares, processo inconcluso, sujeito a mudanças. c) Proporcionar a melhoria da organização administrativa, pedagógica e financeira da escola; modificar a coordenação dos serviços, sua própria estrutura formal e o estabelecimento de novas relações pessoais, interpessoais e institucionais. d) Definir ações de médio e longo prazos e prioridades em curto prazo, de acordo com as necessidades reais. e) Considerar a reflexão sobre a prática pedagógica dos professores e as teorias que as embasam como prática contínua na escola. f) Garantir a avaliação periódica da ação para redimensionamento das propostas. Cabe destacar que, sob uma perspectiva dialógica de trabalho coletivo, é necessário garantir a participação de todos os segmentos escolares e comunitários, já que a construção do projeto implica decisões de diferentes dimensões, não só de cunho administrativo-pedagógico e curricular, mas, também, de caráter financeiro/orçamentário. Assim considerando, é preciso ter regras “claras” para a participação efetiva dos professores, de pais, alunos, associações de bairro, entidades comunitárias, ONGs, diretor da escola e seu vice, professor-coordenador, assistentetécnico-pedagógico, supervisor de ensino. Quanto a este último, afirma Padilha (2003, p. 75): O supervisor de ensino tem a responsabilidade de apresentar aos demais segmentos as diretrizes gerais, sobretudo pedagógicas, da DE e dar-lhes conhecimento sobre o próprio plano de trabalho da equipe de supervisão. 129 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Cabe-lhe, ainda, criar as condições institucionais da realização do projeto de cada escola e participar ativamente do processo de construção e desenvolvimento deste. Portanto, uma das principais atribuições do supervisor escolar envolve a ação de apoio à escola na elaboração do projeto pedagógico como instrumento de melhoria da qualidade de ensino como direito de todos. Assim, para a elaboração do projeto político-pedagógico, Padilha (ibidem, p. 77) sugere “uma metodologia dialógica e problematizadora, baseada na formulação de perguntas que procuram verificar as causas remotas e próximas dos problemas sobre os quais os participantes se pronunciarão”. Em seguida, de acordo com este mesmo autor, podem-se discutir as respostas individualmente, ou em grupos, realizando sínteses em sessões plenárias, que possibilitem o debate e a superação de contradições e equívocos. Recomenda-se a elaboração de relatórios-síntese dos grupos de trabalho ou relatório final de plenária para que se considere e se explicite o nível de complexidade das respostas, elaborando-se sínteses objetivas dos resultados. Diante do exposto, é possível afirmar que o diálogo com a prática permite ressignificar o conhecimento, em um constante vai-e-vem entre reflexão e ação, que deve ser característico dos processos de supervisão e de formação os quais serão tanto mais produtivos quanto mais dotados de unidade entre teoria e prática. Segundo Vasconcellos (2007), para se dar conta ao desafio da ação supervisora, o profissional deverá ser capacitado em três dimensões básicas da formação humana: conceitual, procedimental e atitudinal. • Dimensão atitudinal: esta dimensão envolve valores, interesses, sentimentos, disposição interior, convicções. Assim, o supervisor escolar deve basear-se na relação humana autêntica, acreditando na possibilidade do outro. Acreditar que o outro pode mudar. Princípios orientadores para a prática: a) criticidade (envolve o pesquisar e a investigação do porquê as coisas estão acontecendo de determinada maneira. Criticar é ser capaz de ver e resgatar os aspectos positivos, valorizar o saber do outro. b) totalidade (trata-se da percepção das múltiplas relações, das várias partes envolvidas); c) historicidade: diz respeito à localização no movimento histórico de determinada questão, ou seja, saber a história do profissional, do grupo, da instituição entre outros conhecimentos. • Dimensão procedimental: trata-se do saber fazer, encontrar caminhos para realização do que se busca (métodos, técnicas, procedimentos, habilidades). 130 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Categorias de intervenção: a) práxis – é preciso mudar a prática, transformar ideias em ações concretas. O que se visa é o estabelecimento na escola de uma dinâmica constante de ação-reflexão, para isto o acompanhamento individual e o trabalho coletivo constante são de grande valia. b) método – é preciso metodologia para se construir a práxis e atingir os objetivos, assim para a qualificação da ação mediadora do supervisor escolar é preciso: • compreender a realidade, construir a rede de relações, conhecer, mapear, aprender o que está por detrás dos limites das práticas ou das queixas; • ter clareza de objetivos, saber a serviço de que e de quem se coloca; ganhar clareza em relação à intencionalidade do trabalho; • estabelecer o plano de ação, a partir da tensão entre a realidade e o desejo; • agir de acordo com o planejado; • avaliar a prática. c) diálogo problematizador – o supervisor deve ter a preocupação de legitimar as falas, as perguntas, as dúvidas, aprender a escutar, saber problematizar as questões para que haja sentido nas ações a serem realizadas. Certo é que o supervisor escolar possibilita um desencadear de ações que devem estar pautadas em certas categorias como: ética, visão do processo, avaliação e participação. • Dimensão Conceitual: é preciso buscar clareza conceitual, conhecer, discernir e elaborar a síntese das diversas concepções acerca das temáticas da educação. Saiba mais Para se aprofundar no tema do papel da supervisão educacional/ coordenação pedagógica, faça a leitura do texto: VASCONCELLOS, C. S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2007. Cap.4. pp. 85-118. Tomando as palavras de Boas (2006), a supervisão é: uma atividade essencialmente cooperativa. Não basta que se preveja a articulação de ações. Isso de nada valerá se as pessoas a quem essas ações estão confiadas não se articularem também, porque é dividindo tarefas por todos e somando os esforços de cada um que se diminui o dispêndio de 131 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL energias e se multiplica o resultado final. Esta é, a fórmula que viabiliza a prática efetiva da Supervisão em Educação (BOAS apud ALVES, 2006, p. 70). Diante disso, é possível afirmar que uma dentre as funções e papéis exercidos pelo supervisor escolar é contribuir para a melhoria do processo educacional, considerando-se o processo relacional existente entre professor-supervisor, professor-gestor, professor-professor e, sobretudo, entre professor-aluno. Cabe ao supervisor escolar desenvolver uma visão crítica do trabalho pedagógico a fim de viabilizar ações educativas mais produtivas. Para tanto, deve o supervisor planejar, avaliar e aperfeiçoar o andamento das questões pedagógicas, com vistas a garantir a eficiência do processo educacional, a eficácia e a efetividade de seus resultados. As atribuições da supervisão escolar estão distribuídas em duas áreas: a curricular e a administrativa. Ao mesmo tempo, suas atribuições devem estar atentas para as questões genéricas da escola, também deve atentar-se para as questões pedagógicas em todo seu planejamento e execução. A comunicação entre os atores é de grande importância para o desenvolvimento da cultura organizacional, visto que muitas organizações escolares não têm uma cultura que leve em consideração as diferentes vozes, pontos de vista distintos, ou mesmo diversidade de ações e atitudes. Segue sugestão de instrumento para observação das relações de comunicação na escola que podem ser realizadas pelo coordenador pedagógico/supervisor escolar: Quadro 22 Questões Sim Não Precisa melhorar Há painéis informativos atualizados em locais de grande circulação de pessoas? Há informações atualizadas, à disposição da comunidade escolar, sobre a Proposta Pedagógica e o Plano de Escola? Há comunicação das expectativas de aprendizagem para alunos e pais? Há divulgação pública do índice de absenteísmo e atraso dos professores, diretores e funcionários? Há divulgação pública dos processos, datas e horários de avaliação e recuperação dos alunos? Há informações públicas sobre matrículas dos alunos, transferências, remanejamentos e históricos? Há respeito ao código de conduta pela comunidade escolar? Há normas disciplinares aplicadas para todos da mesma forma sempre que o código de conduta é desrespeitado? Há normas disciplinares públicas de caráter educativo e preventivo? Há estímulo positivo para as ações realizadas pela comunidade escolar? Há Diário Oficial disponível na sala dos professores? Fonte: Adaptado de SEE-SP. Caderno do Gestor. Vol. 1. 2008. 132 UnidadeIII Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a O coordenador/professor-coordenador precisa constantemente analisar as avaliações que serão aplicadas aos alunos, portanto é interessante solicitar aos professores não só modelos de avaliação, mas a matriz avaliativa contendo os critérios, instrumentos a serem utilizados, de modo que o coordenador possa também avaliar e conjuntamente com o docente estabelecer um diálogo de observação dos propósitos do instrumento que avaliará o aluno. O professor-coordenador/coordenador pedagógico deve oferecer material para a leitura do grupo, principalmente aqueles relacionados ao dia-a-dia dos professores nas diferentes áreas do conhecimento de modo que as reflexões oriundas realmente cheguem à sala de aula, entretanto para que surta efeito, é necessário que o coordenador acompanhe a aplicação dos resultados do processo dos debates para a melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Reconhecer que a função do professor-coordenador/coordenador pedagógico tem natureza processual de análise crítica, visando à gestão pedagógica das atividades escolares é de grande importância para seu desempenho nas ações supervisoras. Conforme APASE (2004) em seus subsídios para ação supervisora os processos de supervisão da gestão pedagógica caracterizam-se como descrito na síntese a seguir: Quadro 23 Área de gestão Temas Fatores de eficácia (a partir dos quais as equipes poderão criar instrumentos específicos para acompanhamento, controle e avaliação) Visto Data Em andamento data: Não iniciado data: Observações Supervisão da gestão pedagógica Rotinas integradas Equipe Técnica e professores Proposta de Capacitação Número de alunos da U.E. Organização dos períodos Duração da hora-aula Fluxo (entrada e saída) de alunos Recreio Horário dos professores Organização de turmas de recuperação paralela Projeto de flexibilização curricular ou sistema semestral Classes de educação especial inclusiva Classes de aceleração (se houver) Organização do trabalho coletivo – Reuniões prof. Plano de estudo das propostas curriculares Programação e controle das HTPC (Reuniões) Orientações didáticas/metodológicas Registro/diagnóstico de alunos em defasagem idade/série e medidas de correção de fluxo 133 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Usos da Avaliação Regulamentação do fluxo escolar Registro de diagnóstico dos alunos com defasagem de aprendizagem do ano/bimestre anteriores a partir de critérios usados na seleção de alunos para recuperação Livro de comunicados e informações Atendimento da demanda – organização da matrícula Formação de classes Organização das salas de aula Uso de recursos e materiais pedagógicos Tecnologias na escola e na sala de aula Reposição de aulas/compensação de ausências Avaliação das aprendizagens Controle de frequência Evasão – abandono escolar Trabalho diversificado Atividades extraclasse Quadro 24 Sugestão de roteiro de observação de classe Componente Curricular:______________________________Série:_________ Assunto ou atividade:________________________________ Nº de alunos:___ Professor:_________________________________________ Data:_________ 1- Organização física da classe ( ) círculos ( ) duplas ( ) pequenos grupos ( ) fileiras 2- Relação entre os alunos: a) Sabem ouvir e esperam sua vez de falar? b) Estabelecem uma boa relação de amizade entre si, com respeito e colaboração? c) Demonstram interesse e participam ativamente da atividade proposta? d) Trazem os materiais combinados? e) Apresentam segurança na realização das atividades ou requisitam constantemente a in- tervenção do professor? 3- Relação Professor/aluno a) O professor preocupa-se com a participação de todos? b) Planeja com os alunos as etapas do trabalho? 134 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a c) Permite questionamento e a troca de experiências? d) Percorre os grupos ou mesas, orientando e estimulando a participação na atividade? e) Coloca limites estabelecendo organização e disciplina? f) Desenvolve a atividade de maneira que o aluno possa pensar, analisar, comparar, criticar, formular noções de conceitos e propor soluções? g) Os recursos didáticos utilizados pelo professor tornam a aula interessante para o grupo/ classe? ____________________________ __________________________ Professor Supervisor/Coordenador Alarcão (2001, pp.11,12) afirma que o supervisor é considerado instrumento de execução das políticas centralmente decididas, “designado muitas vezes como responsável pelo funcionamento geral da escola em todos os setores: administrativo, burocrático, financeiro, cultural e de serviços”. Assim, consta em suas atribuições a área de supervisão da gestão da informação, na qual irá identificar temas pertinentes à organização, registro, arquivo e divulgação das informações, como visto no quadro: Quadro 25 Área de gestão Temas Fatores de eficácia (a partir dos quais as equipes poderão criar instrumentos específicos para acompanhamento, controle e avaliação) Visto Data Em andamento data: Não iniciado data: Observações Supervisão da gestão da informação Organização, registro, Arquivo e socialização das informações Fluxo Atendimento Protocolo - atendimento à comunidade interna e externa e encaminhamento de alternativas de solução aos órgãos competentes - atendimento e fornecimento de informações para instituições e órgãos públicos - fornecimento de informações referentes à vida escolar dos alunos - controle de documentos e arquivo de legislação de ensino - arquivo de informações e processos - Reuniões de Pais e Mestres - Livro de comunicados - Livro de Reclamações - Jornais da Escola - Editais (APM – Conselho de Escola entre outros) Quadro de Avisos Fonte: APASE. Subsídios à ação supervisora. 2004, p.33. 135 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Com a finalidade de atingir os objetivos propostos em relação à observação e verificação da vida escolar do aluno, no cotidiano da supervisão escolar são necessárias ações como: orientar funcionários sobre o cadastro de alunos, aproveitamento escolar, registro de ocorrências, entre outras. No quadro abaixo, é possível observar tais ações supervisoras na dimensão da gestão da vida escolar: Quadro 26 Área de gestão Temas Fatores de eficácia (a partir dos quais as equipes poderão criar instrumentos específicos para acompanhamento, controle e avaliação) Visto Data Em andamento data: Não iniciado data: Observações Supervisão da gestão da vida escolar Registros: entrada, permanência e saída de alunos Arquivo Emissão de documentos Processos de Informatização Organização documental - cadastramento de alunos - processamento de dados sobre matrículas, dados pessoais e faixa etária dos alunos - fechamento mensal/bimestral/anual - controle de frequência dos alunos - aproveitamento escolar - adaptações - equivalência de estudos - classificação/reclassificação de alunos - dispensa de frequência em educação física - atrasos e saídas antecipadas - ocorrências - organização dos prontuários dos alunos - livros de assentamentos - fichas individuais - certificados de conclusão de curso - históricos escolares - transferências - diários de classe - atas de resultados finais - situação no sistema informatizado de gerenciamento de dados, se houver - atas assinadas dos Conselhos de Classe/ série/ciclo/termo – bimestrale final - registro de comunicações ao Conselho Tutelar - fichas de acompanhamento dos alunos - arquivo morto - organização e atualização de arquivos Fonte: APASE. Subsídios à ação supervisora. 2004, p. 36. 136 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a A função da supervisão escolar é, no contexto de sistema estadual ou municipal, articular o grupo gestor na implementação das políticas educacionais nacionais, estaduais, regionais e locais, identificando aspectos possíveis de aperfeiçoamento, revisão ou inovação encontrados nos processos de aplicação de tais políticas. Em sua ação supervisora, está incluído o processo de avaliação nos variados aspectos educacionais. Para tanto, sua análise não deve ser realizada de modo estagnado, desvinculada do contexto escolar real. Para, então, sugerir uma proposta de mudança, pode-se tomar os estudos de Glatter (1992, p. 146) sobre o processo de mudança. O autor divide o processo de mudança em três fases: • iniciação: que trata da introdução de novas ideias e práticas e procurar o apoio institucional; • implementação: que operacionaliza as ideias, tentativa de colocação das inovações em prática; • institucionalização (ou estabilização): quando as inovações são constituídas em processos de rotina e normas, ou seja, tornem-se parte integrante da vida cotidiana da escola. Nessa perspectiva, para que o processo de acompanhamento e mudança seja instituído, o supervisor escolar necessita de elaborar um planejamento a fim de motivar os profissionais da unidade a encararem a mudança a partir da análise pessoal, em seguida do grupo e por fim, desenvolver uma cultura organizacional desafiadora e rumo ao sucesso escolar. Isso significa que é recomendável a elaboração de um planejamento de gestão estratégica para o grupo. O supervisor escolar, para isso, precisa atentar que, em todo trabalho em grupo, há aspectos que precisam ser cuidados, como: • conteúdo: relaciona-se às ideias e ideais, aos conceitos, às informações e opiniões trazidas nas individualidades de cada membro do grupo; • processo: diz respeito à forma, aos passos e procedimentos pelos quais segue a reflexão e discussão; • interação: o que ocorre entre as pessoas, as relações, o ambiente do grupo. Assim, Silva (2003, p. 32) afirma que: Os três aspectos – conteúdo, interação e processo – acontecem ao mesmo tempo no trabalho em grupo, influenciando-se mutuamente. Não é possível, na prática, isolá-los – é preciso reconhecer sua existência e desenvolver a capacidade de lidar com os três simultaneamente. Num processo de planejamento, a arte consiste em manter-se consciente de cada um deles e de tomar as providências certas para tratá-los de forma eficaz. O esquecimento ou a pouca atenção a apenas um desses elementos pode comprometer todo o esforço anterior e a melhor das intenções. A prática da supervisão escolar, além do planejamento de suas ações, exige uma constante avaliação de seu próprio desempenho. Desse modo, é possível haver um aperfeiçoamento como 137 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL técnico e como pessoa. É necessário, desde o processo de planejamento, conhecer a natureza, a organização, a cultura e o funcionamento da educação escolar, suas relações com o contexto situacional da escola. Para melhor elucidação das ações do supervisor escolar em relação ao planejamento de seu cotidiano, demonstra-se a seguir, por meio de um diagrama, as etapas de um planejamento: Por que isso agora? A que pre- cisamos dar atenção? Quais são as implicações? Que mudanças serão necessárias? O que temos conseguido? Por quê? Como vamos fazer? Quais são as ideias? O que queremos conseguir? O que vamos fazer? Quais são as correções? Organização Orientação Direcionamento Plano de ação Avaliação Figura 18 Ainda segundo Silva (2003), há cuidados e riscos nas etapas do planejamento, como demonstrado no quadro: Quadro 27 - Utilizando o planejamento como ferramenta de aprendizagem Fase O que é importante nesta etapa? O que ela pode gerar nas pessoas? O que pode pôr tudo a perder? Organização Iniciativa e coragem Checar como cada um está Acordos, consenso Prazos Realismo Corresponsabilidade Precipitação Imposição de regras Rigidez teórica Ignorar conflitos Excesso de otimismo quanto a tempo e custos Esquecer pessoas importantes Manter segredos 138 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Orientação Fazer perguntas Examinar situações em detalhes Formular claramente os problemas Procurar causas para os problemas Ouvir ideias e informações que cada um tem Checar se houve entendimento Trazer experiências de fora Clareza Basear-se em preconceitos Informações duvidosas, vagas Ignorar partes da realidade Ficar só no que já se sabe Basear-se somente no senso comum Reprimir ideias Domínio de poucos Só a autoridade se expressa Direcionamento Fazer perguntas sem resposta rápida Reconhecer que nenhuma resposta satisfaz ainda Estabelecer critérios Procurar referenciais comuns Discutir baseando-se em argumentos Ordenar, sintetizar, resumir Registrar, colocar no papel Esclarecer dúvidas Ter todos de acordo Focar no essencial Manter os pés no chão Confiança Ignorar sentimentos e intuições Evitar questões polêmicas Adiar escolhas indefinidamente Só fazer perguntas e críticas Somente parte do grupo participa Excessiva pressão de tempo Ambiente dispersivo Transformar-se em genérico, superficial Plano de ação Ouvir quem está na prática Ouvir quem não está na rotina Quantificar prazos, quantidades e valores Precisão Nomear responsáveis Estimar custos Comparar planos parciais Perguntar a especialistas Colocar síntese no papel Compromisso Basear-se em hipóteses ou chutes Barganhas Medo de assumir Resistência a orçamentos Deixar buracos abertos Planos genéricos demais Dar a quem não entende Avaliação Ter informações disponíveis Encontro entre as pessoas Focar com perguntas Abertura Pensar novas formas de fazer Examinar causas e consequências Consciência, aprendizado Dedicar tempo demais Dedicar tempo “de menos” Olhar só o que está bom/ruim Só fazer críticas Desviar de assuntos delicados Punir erros Misturar poder e aprendizagem Alterar só o assunto dos outros Fonte: SILVA, 2003, p. 55. 139 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Assim, pode-se perceber que o planejamento da ação supervisora, bem como o planejamento educacional é uma proposta de construção conjunta que abrange vários segmentos da unidade escolar, e tem como objetivo conquistar melhores resultados. Serão apresentadas a seguir, as atividades desenvolvidas pelo Supervisor Escolar com atuação em órgãos centrais de Sistemas de Ensino (Diretorias de Ensino/Secretarias de Educação), conforme Subsídios à Ação Supervisora (2004), no que se refere à supervisão da gestão estratégica e gestão de resultados. Quadro 28 – Síntese das ações da supervisão escolar na gestão estratégica e de resultados Área de gestão Temas Fatores de eficácia (a partir dos quais as equipes poderão criar instrumentos específicos para acompanhamento, controle e avaliação) Visto Data Em andamento data: Não iniciado data: Observações Supervisão da gestão estratégica Projeto Pedagógico - organização de indicadores - organização da escola/atendimento à demanda Planejamento - proposta pedagógica - plano de gestão Avaliação interna/externa - plano de desenvolvimento da escola - planos de ensino - planos anuais de trabalho Regimento Escolar - compatibilização dasnormas com a prática - calendário escolar homologado Normas de convivência - projetos de acompanhamento escolar – recuperação paralela entre outros Democratização das relações participação e trabalho coletivo - projetos de inclusão - projetos da escola (especificados/ responsáveis / alunos participantes/ cronograma/ parcerias) Fonte: APASE. Subsídios à ação supervisora. 2004, p.34. 140 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 29 Área de gestão Temas Fatores de eficácia (a partir dos quais as equipes poderão criar instrumentos específicos para acompanhamento, controle e avaliação) Visto Data Em andamento data: Não iniciado data: Observações - instrumentos de registro da escola e análise de indicadores sobre a clientela a ser atendida Avaliação Institucional - instrumentos de registro da escola e análise de indicadores sobre desempenho dos sistemas (macro e micro) Supervisão da gestão de resultados - instrumentos de registro da escola e análise de indicadores sobre processos de aprendizagem dos alunos Avaliação de desempenho - criação, aplicação e análise de instrumentos de avaliação - organização de análise do censo escolar (movimentação ) - organização das informações prestadas para o censo escolar e outras demandas de órgãos superiores Indicadores - organização de dados e análise comparativa de resultados ao longo dos último 4 anos - organização da avaliação de desempenho de professores e funcionários - instrumentos e procedimentos para a divulgação dos resultados e indicadores da escola ( quadros, gráficos, textos, ...) Fonte: APASE. Subsídios à ação supervisora. 2004, p. 38. Diante do exposto, o supervisor escolar deve organizar seu plano de trabalho observando as necessidades da Unidade Escolar ou do conjunto de escolas em que atua, distribuindo no decorrer do ano em um cronograma suas atividades a serem realizadas na prática cotidiana. Em uma escola participativa, a ação do supervisor escolar/coordenador pedagógico tem como objeto de trabalho a síntese da relação professor/aluno no que se refere aos processos de ensino e aprendizagem. De acordo com a pesquisa de Medina (1997, pp. 11-12), dentre as ações, incluem-se as seguintes atividades: • elaboração de plano do setor de supervisão, a documentação do referido (regimento, leis, pareceres, regulamentos, normas e instruções), cronograma de atividades para a escola, instrumentos de observação em sala de aula, pautas de reuniões; • controle do cumprimento da carga horária dos professores e aulas dadas e previstas na matriz curricular; 141 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • levantamentos estatísticos de rendimento dos alunos; • confecção de material didático para professores; • planejamento de calendário escolar; • planejamento de eventos culturais e recreativos em conjunto com os demais membros da equipe técnica da escola; • planejamento de reuniões de formação e organização do trabalho pedagógico. Para que se realizem as ações da supervisão escolar, seja em uma única escola, atuando como coordenador pedagógico, ou em um grupo setorial de escolas, o supervisor escolar deve aparecer como elemento integrante e integrador do trabalho que é realizado na(s) escola(s). Como agente integrante e integrador do trabalho grupal, deve procurar manter uma dinâmica no trabalho da escola como instituição formal e social. Visualizar, refletir e agir na e com a totalidade da produção do processo de ensino e aprendizagem da escola. Assim, em suas ações, o supervisor por meio de observação, diálogo e formas próprias deve realizar intervenção na qualidade do trabalho realizado na unidade escolar, quando necessário. Decerto, para que tal intervenção aconteça, é necessário que o supervisor tenha formação pedagógica, bem como conhecimentos de outras áreas, como: filosofia, sociologia, psicologia, linguística entre outras e variadas temáticas. Ainda de acordo com o exposto por Medina (1997, p. 29) supervisão é entendida como ação (ação compreendida como um fazer coletivo envolvendo reação) pensada com base na prática cotidiana da escola. Assim, para elaboração da ação supervisora, é necessária uma concepção clara sobre: • da escola como instituição social fincada numa sociedade que tem sua base no sistema capitalista; • do sentido que têm a educação e o ensino para este país; • da posição que o sistema de ensino atribui para o supervisor como um dos agentes educacionais; • da posição que o próprio supervisor se atribui como agente do ensino e da educação; • do objeto específico de trabalho do supervisor escolar e da capacidade de observar o cotidiano para, através dele, transformar sua ação. A escola é lugar de estudo e trabalho coletivo. Portanto, o supervisor escolar deverá atuar em parceria com todos os segmentos e profissionais da escola e participar das ações educativas desenvolvidas na escola, sempre com atuação que incentive e fortaleça a participação coletiva da comunidade escolar na tomada de decisões da unidade escolar. Portanto, o supervisor escolar atua dentro de uma escola em processo de ensino e aprendizagem escolar específico (coordenador pedagógico) ou num conjunto de escolas articuladas, ação essa exercida em três dimensões: articuladora, formadora e transformadora. 142 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Articuladora Preocupação em articular ações de formação e capacitação Formadora Preocupação com a organização da ação formativa em reuniões de trabalho Transformadora Preocupação com o estabelecimento de pautas para reuniões em que haja reflexão sobre as ações do cotidiano escolar e suas necessidades reais e possíveis revisões do percurso Dimensões Figura 19 Assim, nesse contexto caberá ao supervisor: planejar, coordenar, avaliar e aperfeiçoar a trajetória das ações pedagógicas com vistas a propiciar e, quiçá, garantir a eficiência do processo educacional e a eficácia de seus resultados. Em outras palavras: o papel do supervisor escolar se constitui, em última análise, na somatória de esforços e ações desencadeados com o sentido de promover a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Esse esforço voltou-se constantemente ao professor, num processo de assistência aos mesmos e coordenação de sua ação (LUCK, 1981, p. 20). Em uma escola participativa que desenvolve um trabalho coletivo, torna-se necessário ao supervisor escolar uma nova visão de seu trabalho, cabendo, assim, a este profissional conhecer a natureza, a organização e o funcionamento da educação escola, por meio de estudos, pesquisas, conhecimento da legislação pertinente, dos fundamentos e teorias de ensino e aprendizagem, relacionando-os com sua realidade e identificando modos para promoção do desenvolvimento da autonomia da escola e o envolvimento da comunidade escolar no processo de gestão da unidade escolar. A democratização da escola pública é um desafio que há muito se tenta alcançar, porém passa da hora sua concretização no cotidiano escolar, sendo prescindível determinação, comprometimento e competência para que não sejam desperdiçadas mais décadas e décadas de lutas sem que resultados práticos se consolidem. Dessa forma, alcançar-se-ia a tão almejada e necessária transformação da escola de práticas evasivas, com poucos resultados eficazes, para uma escola democrática, plural e com qualidade social. 143 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Para isso, deve-se buscar construir uma escola que contribua significativamente para a democratização social, que somenteserá viável por meio da gestão democrática. Assim, a supervisão escolar, no contexto que temos no cotidiano, precisa analisar as propostas de renovação, buscando sentido para sua realidade escolar, pois: o trabalho dos profissionais da educação... em especial da supervisão educacional – é traduzir o novo processo pedagógico em curso na sociedade mundial, elucidar a quem ele serve, explicitar suas contradições e, com base nas condições concretas dadas, promover necessárias articulações para construir alternativas que ponham a educação a serviço do desenvolvimento de relações verdadeiramente democráticas (FERREIRA apud RANGEL, 2008, p. 9). 8.2 Ação Supervisora e Orientação Educacional na contemporaneidade O cenário em que estamos inseridos pressupõe mudanças políticas, sociais e econômicas que provocam inúmeras transformações no sistema educacional, o que sugere, portanto, a necessidade de uma análise acerca da organização do sistema educacional brasileiro do qual faz parte a gestão escolar. A ação supervisora e de orientação educacional frente à contemporaneidade é atingida por questões que permeiam o ambiente escolar e, de certa maneira, emergem de um contexto amplo que estampa o cenário social, político, econômico e educacional. Para tanto, Maia (2003) vem elucidar a questão, pois apresenta uma reflexão sobre a organização do sistema educacional brasileiro, colocando a gestão escolar como parte importante nas organizações escolares no mundo globalizado, isto é, assina a sua relevância no processo de interligação crescente das economias das nações industrializadas. A mesma autora acrescenta as considerações de Enguita: [...] desde as declarações dos organismos internacionais até as conversas de bar, passando pelas manifestações das autoridades educacionais, as organizações de professores, as centrais sindicais, as associações de pais, a organizações de alunos, os porta-vozes do empresariado e uma boa parte dos especialistas, todos coincidem em aceitar a qualidade da educação ou do ensino como objetivo prioritário ou como um dos muito poucos que merecem consideração (ENGUITA apud MAIA, 2003, p. 85). Diante do exposto, é possível perceber que todos se preocupam com a qualidade de ensino, pois ela é concebida como mola propulsora para a promoção e o desenvolvimento do ser humano. Maia (2003) lembra que a melhoria do processo de qualidade do ensino, que aposta na apropriação do conhecimento, tem sido o enfoque das políticas educacionais, que têm procurado 144 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a formas de gestão que visam à organização do ensino, a práticas pedagógicas eficazes, a fim de atingir o objetivo de instrumentar melhor os que vão atuar na realidade social, que se mostra cada vez mais diversificada. Assim, a autora remete-nos à importante reflexão acerca da gestão escolar quando destaca que estudos brasileiros mais antigos tratam as escolas como estabelecimentos de ensino fazendo parte de uma organização burocrática, em que o controle e a regulação do trabalho são realizados de forma que as leis e normas sejam obedecidas, valorizando a racionalidade e, por isso, o diretor era aquele a quem se incumbia de garantir a execução, limitando seu poder à aplicação de regras. A nova abordagem dos estudos traz uma visão diferenciada sobre a forma de gerir as unidades escolares, valorizando o trabalho coletivo, os agentes sociais da escola e o alcance de um bom ambiente de trabalho. Em relação à contribuição do clima de trabalho para maior ou menor qualidade do ensino, é possível inferir, à luz do exposto por Maia (2003), que o clima pode ser fechado quando o ambiente é autoritário e não valoriza os indivíduos e sua participação; ao contrário, pode ser aberto ou participativo, quando o indivíduo tem reconhecimento próprio. Portanto, é possível perceber que o clima de trabalho tem efeito direto sobre a satisfação e o rendimento dos membros de uma organização escolar. Na perspectiva de clima participativo, a escola é considerada o centro da ação pedagógica, em que se insere o projeto pedagógico, instrumentando a gestão para o importante papel de atingir a globalidade da organização e buscar o comprometimento de todos os seus elementos na construção de consensos na identificação de princípios, valores e políticas que serão orientadas para a resolução de problemas e, consequentemente, em prol da qualidade de ensino, como afirma Barroso (apud MAIA, 2003, p. 90): O projeto de escola pode tornar-se um instrumento importante para a melhoria do estabelecimento de ensino, facilitando a inovação e aumentando a sua eficácia e qualidade. O direcionamento de esforços à melhoria da qualidade em educação não é novidade e tem recebido cada vez mais atenção das autoridades dos sistemas de ensino, bem como das organizações escolares. De acordo com Zabalza (1998, pp. 31-32), é possível identificar uma série de eixos semânticos para conceituar qualidade e aplicá-la para uma análise de diferentes realidades sociais; entretanto, destaca três dimensões: a) A qualidade vinculada aos valores. Atribui-se qualidade àquilo que represente algum dos valores vigentes. [...] b) A qualidade vinculada à efetividade. Esta perspectiva atribui qualidade àquele tipo de instituição ou processo que alcança bons resultados. c) A qualidade vinculada à satisfação dos participantes no processo e dos usuários do mesmo. [...] 145 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Mas além dessas três dimensões de qualidade, seria conveniente levar em consideração um outro aspecto que é muito importante para dar uma dimensão dinâmica à ideia de qualidade: • a qualidade, pelo menos no que se refere às escolas, não é tanto um repertório de traços que se possuem¸ mas sim algo que vai sendo alcançado. A qualidade é algo dinâmico [...] algo que se constrói dia a dia e de maneira permanente. Assim, o pedagogo em sua ação poderá estabelecer aspectos para analisar e aperfeiçoar as organizações escolares em que atua, visto que a cultura da organização influenciará a questão de qual enfoque no gerenciamento pode ser eficaz e qual poderá ser modificado a fim de melhorar as práticas de gerenciamento de recursos e de estratégias. Ainda segundo Zabalza (1998), podem ser destacados os seguintes vetores de qualidade para análise na ação do pedagogo: • função do projeto: a qualidade do projeto está ligada ao custo e às condições materiais (material empregado, equipamentos, entre outros) e funcionais (pessoal, sistemas de controle etc.); • produto ou resultados do processo: refere-se à obtenção efetiva dos objetivos propostos e à sua permanência nos efeitos da aprendizagem; • processo ou função por meio do qual se desenvolvem os resultados: refere-se aos procedimentos por meio dos quais se desenvolve a intervenção, que metodologia é utilizada para as situações de aprendizagem; • desenvolvimento organizacional como processo diferenciado: refere-se às intervenções que objetivam o aperfeiçoamento institucional. De tal sorte que a organização do sistema educacional ou da escola, gerenciada com base na qualidade, deve apresentar as seguintes características: • foco centrado nos seus alunos; • todos os seus objetivos claros, bem definidos e compartilhados por todos; • todos os seus processos documentados e otimizados; • todos os funcionários e setores conhecendo suas atribuições; • todos os funcionários capacitados para executar as suas tarefas; • ampla participação de todos os funcionários nos processos, ações e soluções que os envolvam; • informações circulando rápida e corretamente entre todos os setores e funcionários, para permitir a avaliação constante dos processos e sua melhoria; • preocupação com a inovação e a mudança. 146 Unidade III Revi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a 8.2.1 Supervisão escolar e orientação educacional: os espaços de atuação coletiva O antigo modelo de trabalho do pedagogo, que propiciava os atendimentos individualizados e muitas vezes na orientação educacional como terapêutico, hoje dá lugar a novos espaços de sistematização de um trabalho coletivo no interior da escola, conduzidos por uma prática democrática e mediadora. Espaços como reuniões sistemáticas com os professores, reuniões de conselho de classe, conselho de escola, reuniões de pais entre outros, propiciam momentos de reflexão coletiva sobre o trabalho pedagógico e troca de informação sobre os alunos. A seguir, vamos examinar atentamente cada um desses momentos. Conselho de Escola O Conselho de Escola, por exemplo, é um espaço democrático que propicia a participação, a articulação e o diálogo entre os diversos segmentos, como professores, pais, alunos, direção e funcionários. O Conselho de Escola deveria se constituir em um momento de reflexão e de experiência coletiva de trabalho orientado para a prática pedagógica. Com relação à sua composição, em geral, a legislação prevê que deve ter no mínimo 20 componentes e no máximo 40, sendo que 40% devem ser docentes, 25% funcionários, 25% pais e alunos (da Educação de Jovens e Adultos), 25% alunos e 5% membros da Equipe Técnica, com exceção do Diretor da Escola, que é o presidente com direito a voz e voto. Os membros do Conselho são representantes eleitos, sendo que a eleição deve ser feita no primeiro mês letivo em assembleias distintas para cada segmento, ou seja, docente vota em docente, pais votam em pais etc. Geralmente, o Diretor chama a realização de duas reuniões por semestre, mas pode convocar mais, caso seja necessário. O Conselho de Escola confere transparência às ações da Direção, impedindo o seu isolamento, colabora para o esclarecimento de dificuldades vividas pela escola e permite a distribuição de tarefas, sem descaracterizar o trabalho do corpo diretivo da escola. O pedagogo em ação na supervisão escolar ou orientação educacional pode atuar como um investigador das necessidades do grupo, mediando as diferentes opiniões das pessoas e despertando a cooperação e a comunicação a partir dos relacionamentos interpessoais, auxiliando, assim, o diretor no processo de gestão participativa da escola. Conselho de Classe O Conselho de Classe segue a legislação educacional, bem como o regimento das escolas, mas de modo geral é mais uma das instâncias da escola em que as adversas condições de trabalho (especialmente a falta de tempo dos educadores), bem como as exigências burocráticas a que se têm de atender acabam por impedir a realização satisfatória dos objetivos proclamados. Este deve ser integrado pelo diretor (que é o presidente), pelo orientador educacional e pelo coordenador pedagógico/supervisor escolar, assim como pelos docentes da classe a que se refere o Conselho e um funcionário da secretaria, que faz as anotações. 147 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Suas reuniões ocorrem ao final de cada bimestre/trimestre, têm a duração de dois ou quatro dias, dependendo da realidade da escola. Durante a realização do Conselho, os demais alunos devem continuar com atividades em sala de aula, sob a responsabilidade do aluno monitor e supervisão de alguns funcionários da escola ou de acordo com a organização da escola. A reunião de Conselho de Classe não deixa de constituir um espaço de encontro de posições diversificadas relativas ao desempenho do aluno, que não fica, assim, restrito à avaliação de apenas uma pessoa. Entre tanto, esse momento tão rico precisa ser explorado em todas suas potencialidades, para que as atividades do Conselho de Classe não fiquem restritas ao mero cumpri mento de uma rotina burocrática. Paro (1996) adverte que o Conselho de Classe, em grande parte das escolas, reduziu-se a um conjunto de procedimentos mais ou menos ritualizados, que muito longe ficam de apresentar toda a riqueza de um trabalho conjunto de pessoas empenhadas em atingir objetivos sociais. Caso não se tome cuidado, tal instrumento torna-se apenas um documento burocrático, sem propósitos pedagógicos. Na prática, há alguns entraves para se realizar um Conselho de Classe que realmente seja eficaz e contribua para o processo de ensino-aprendizagem do aluno. Um desses entraves é a dificuldade de reunir todos os docentes, ocorrendo algumas vezes a eleição de um professor “conselheiro” de cada classe, escolhido pelos alunos em cada turma, para cuidarem das atividades concernentes ao Conselho de Classe e para atenderem os pais nas chamadas reuniões bimestrais de pais. Geralmente, são objeto de exame e discussão no Conselho de Classe apenas os casos de alunos que têm conceitos muito baixos. Os professores discutem entre si e com a diretora a razão que levou cada aluno a ter conceito insuficiente no bimestre. O registro do Conselho de Classe é muito importante. Além de anotar as causas do mau aproveitamento, deve-se discutir e sugerir propostas de solução e auxílio ao aluno. Os documentos, que oferecem os indicadores para realização do Conselho, são o consolidado, com o rendimento escolar geral da classe, boletim, que apresenta os resultados de aproveitamento e os índices de frequência percentual por disciplina e geral e, quando há, a ficha de acompanhamento individual do aluno. Esse procedimento de análise permite que a equipe procure novos caminhos e estabeleça outras ações, para que todos tenham oportunidade de aprender, garantindo o direito do aluno a um ensino de qualidade e o cumprimento da função social da escola. O Conselho de Classe terá significado se possibilitar a análise do desempenho da própria escola, de forma conjunta e cooperativa, pelos que integram a organização escolar (professores e outros profissionais, alunos e pais), como também se auxiliar na proposição de ações, rompendo-se com as finalidades classificatórias. A preocupação deve ser com o resgate da autoestima do aluno, tornando-o consciente, crítico, criativo e interessado. O orientador educacional tem a função de mediar os trabalhos, juntamente com o diretor e o coordenador pedagógico, possibilitado verificar a coerência entre prática pedagógica e a proposta da escola e, ainda, coesão entre critérios de avaliação adotados pelos diferentes professores. Também, 148 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a proporciona ao orientador educacional analisar e explicitar o ponto de vista do aluno, auxiliando os professores na reflexão e descoberta de alternativas para a recuperação de possíveis “deficiências” no processo ensino-aprendizagem. Reunião de pais ou responsáveis A reunião de pais ou responsáveis é o espaço que se tem para explicarmos sobre a importância e a validade do trabalho que é feito na escola. Contudo, muitas vezes, nas reuniões dá-se ênfase aos informes ou, o que é pior, à discussão de casos individuais de aluno. Não podemos esquecer que a parte mais importante é a explicação de trabalho educativo e, até, a discussão de temas pertinentes a cada grupo, por exemplo, o namoro, drogas, uso da internet e da televisão entre outros assuntos. Algumas questões importantes que podem ser levadas em consideração ao se elaborar uma reunião de pais são: • qualquer reunião precisa satisfazer às expectativas e necessidades dos participantes de reconhecimento, liberdade de expressão, de compreensão e de contato. Dessa forma, procurar fazer perguntas sobre o tema, ouvindo as opiniões dos pais e exemplificar as situações provocará nos participantes uma identificação e um sentimento de segurança: — é essencial alcançar uma atmosfera descontraída para que ospais ou responsáveis possam se sentir bem. A disposição das cadeiras e forma amigável de boas-vindas aos pais pode proporcionar tal ambiente. — a reunião deve estar relacionada com o contexto de vida dos participantes, ou seja, é importante pensar qual tema está relacionado às particularidades do grupo de pais em questão. Assim, procure utilizar vocabulário simples, adequado ao público. Tais atitudes criam um clima de parceria entre a escola e a família. O orientador educacional e o supervisor escolar/coordenador pedagógico podem participar das reuniões, contudo se as mesmas ocorrerem em todas as classes, individualmente, ao mesmo tempo, tal proposta torna-se inviável. Dessa forma, o profissional pode preparar previamente subsídios para os professores e discutir a pauta da reunião com cada um deles. Reunião de formação com professor Trabalhar a formação dos professores é uma das atividades mais importantes, que deve ser realizada em conjunto coordenador pedagógico/orientador educacional/supervisor escolar da escola. os professores, muitas vezes, têm dúvidas em como trabalhar este ou aquele conteúdo ou ainda, com uma determinada dificuldade de um aluno ou com sua família. É no estudo de textos, na troca de experiências e no diálogo sem constrangimento que o professor se fortalece e constrói subsídios para sua prática. O orientador educacional e o supervisor escolar podem contribuir aplicando dinâmicas de grupo, que fortaleçam a autoestima de cada profissional e a união do grupo, trazendo estudos 149 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL de caso (reais ou fictícios) de crianças com necessidades especiais ou problemas de aprendizagem para discutir no grupo e encaminhar possíveis soluções ou, ainda, propiciando a leitura de textos que tragam informações sobre a realidade e os aspectos do desenvolvimento dos alunos. O profissional também pode trabalhar a formação de maneira individual, quando percebe que o professor necessita de auxílio para lidar com um determinado aluno ou com um grupo de alunos. Sabe-se que os momentos dedicados para a formação dos professores são raros. Por isso, o orientador educacional e o coordenador pedagógico devem trabalhar de forma integrada e buscar alternativas para estimular o professor a ler e pesquisar. Nesse sentido, recursos como colocar mensagens de educadores famosos no painel da sala dos professores, montar uma pasta com textos interessantes e organizar uma estante com livros, são estratégias interessantes e que podem dar bons resultados. Torna-se imprescindível que o orientador educacional auxilie o coordenador pedagógico nessa tarefa. Outras reuniões Entendemos como equipe da escola todos os educadores que contribuem para o dia a dia das atividades escolares. Dessa forma, funcionários da cozinha, da secretaria, ajudantes gerais, faxineiros, inspetores de alunos e equipe técnica devem ter momentos de reflexão sobre seu trabalho e de integração com outros setores. Ninguém na escola pode trabalhar de forma isolada, há uma interligação entre todos os setores. Quando um setor não se compromete com o seu trabalho, todos os demais ficam prejudicados e quem sofre é o aluno. O orientador educacional, juntamente com o diretor ou assistente de direção (ou vice-diretor), deve planejar e realizar reuniões sistemáticas , trabalhando, além de questões administrativas de rotina, situações que envolvam a discussão de aspectos como respeito, diálogo e cooperação. Até aqui, nos preocupamos com o trabalho coletivo que é o mais importante espaço de atuação do pedagogo. Contudo, há momentos que tais canais não são suficientes, sendo necessário propiciar um momento em que as exceções sejam tratadas individualmente. Há diversos canais de comunicação, alguns mais informais e outros mais formais e estruturados, como: entrevistas de entrada do aluno, entrevistas de avaliação individual do aluno ou da família, atuações de formação e de informação aos pais, entre outras situações. Cada escola deve tomar um conjunto de decisões em torno dessas ferramentas, tornando-as úteis, consensuais, flexíveis e respeitadas por todos. Para tanto as reuniões pedagógicas de trabalho “ocupam um espaço de destaque no cenário das relações, não só por sua ocorrência, mas também por sua sistematização e seu tempo de duração” (TORRES, 2006, p. 45). Essas reuniões também são espaços para a reflexão dos professores, momento de avisos, informativo de diretrizes, discussão de situações-problema, aprendizagem. É relevante para o coordenador organizar, previamente, a pauta das reuniões de trabalho coletivo, tornado-as, assim, mais produtivas. 150 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Dicas para se alcançar o sucesso nas reuniões de trabalho: • reveja os fatos que motivaram a reunião e certifique-se de que você está “por dentro” dos assuntos a serem tratados; • não esqueça de munir-se de todas as informações necessárias para fundamentar decisões, deve-se decidir objetivamente e não a partir de impressões ou opiniões; • tenha uma noção antecipada do perfil das pessoas que vão participar: se são tímidas, expansivas, desconfiadas, receptivas, a fim de prever reações, preparar respostas e argumentos; • reveja seus conceitos de liderança e autoridade. Lembre-se de que as pessoas produzem melhor quando respeitadas na sua individualidade, estimuladas na sua capacidade e orientadas nas suas falhas e limitações; • esquematize uma forma de conduzir a reunião, que crie oportunidades para a participação efetiva de todos; • comece fazendo perguntas que estimulem o diálogo - O quê? Onde? Por quê? De que modo? – evitando aquelas que possam ser respondidas com sim e não; • não demonstre impaciência nos momentos de silêncio posteriores a uma pergunta. Deixe que o pessoal decida quem vai responder. Alguém sempre acaba falando para diminuir a tensão; • quando a reunião estiver fugindo dos temas propostos, sugira o resgate do assunto com as expressões: “Você pode nos indicar qual a relação desse assunto com o que estamos tratando?”, “Bem, onde estávamos mesmo?” • observe a expressão de cada membro do grupo para perceber se os tópicos da reunião estão sendo entendidos e estão mantendo o interesse na reunião. Esse cuidado permite que você note quando alguém tem ideias sobre o assunto, podendo encorajá-lo a expô-las. Também fica mais fácil selecionar informações das quais o grupo tem necessidade; • evite que duas pessoas travem conversas paralelas que possam perturbar o andamento da reunião; • observe que reuniões muito longas e sem resultados desestimulam o grupo; • não deixe a sensação de que nada foi decidido, reserve algum tempo ao final da reunião para resumir as conclusões atingidas; • oriente a definição de responsabilidades. Não deixe que elas sejam concentradas e que certas pessoas fiquem sobrecarregadas e outras sem nenhuma responsabilidade; • se promete que vai tomar providências e não cumprir, o grupo perde a confiança e passa a acreditar que as reuniões são inúteis (GESTÃO EM REDE, apud UDEMO, 2001, p. 19). 8.2.2 Evasão repetência e fracasso na escola: inclusão e o papel do pedagogo A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus 151 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL próprios recursos e tampouco, arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso e com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. Hanna Arendt Refletir sobre o papel do pedagogo frente às questões que levam ao fracasso escolar, demanda analisaras diferentes teorias produzidas através dos tempos e as suas consequências ao processo de ensino-aprendizagem do aluno. Contudo, mesmo sabendo que hoje a abordagem do trabalho no intuito de minimizar as questões de fracasso escolar, repetência e evasão, tem como foco central os aspectos políticos, estruturais e funcionais do sistema de ensino, há no interior da escola, uma “mistura” de práticas e teorias educativas que ora culpabilizam a escola e o professor e ora responsabilizam o aluno e sua família. Para além do jogo de “empurra-empurra”, cabe ao pedagogo, assim como aos demais professores, garantir ao aluno possibilidade de permanência na escola, com aprendizado significativo. Para tanto, examinemos, pois, as diversas abordagens teóricas a respeito do assunto e, a seguir, a contribuição do pedagogo para o processo de ensino e aprendizagem. Teorias sobre a questão do fracasso escolar Grinspun (2006) descreve brevemente teorias produzidas por pesquisadores ao longo da história da educação do século XX, que tentam explicar a origem do fracasso dos alunos na escola e contextualizar o trabalho do pedagogo. Vejamos algumas dessas pesquisas. A teoria psicológica tenta explicar as diferenças individuais por meio da mensuração de aptidões intelectuais, utilizando questionários de interesses e os famosos testes de coeficiente de inteligência (Q.I.) que tentavam provar que havia pessoas mais inteligentes e capazes de aprender que outras. A função da orientação educacional era terapêutica, cuidando individualmente do educando a fim de ajustá-lo à escola e à sociedade, segundo suas aptidões naturais. O que valia em termos de desenvolvimento e aprendizagem era o padrão de normalidade utilizado na psicologia e na saúde. O que fugia ou interferia no que era conhecido como “normal” era utilizado para explicar o fracasso escolar. Dessa forma, se o aluno tivesse um rendimento ruim, seria única e exclusivamente por sua incapacidade. Com a Teoria da Privação Cultural predominante nos anos de 1960 e 1970, os alunos passaram a ser tratados como crianças que tinham uma deficiência, uma defasagem de cultura, por isso não conseguiam acompanhar os estudos. Cabia à escola, e, por sua vez, ao orientador educacional a responsabilidade de se adequar a esse aluno das classes mais desfavorecidas, comparando suas carências, sejam quais forem (saúde, emocional, aprendizagem etc.). 152 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Aos poucos, percebeu-se que nenhuma classe social possui uma cultura mais pobre que outras. As culturas são igualmente estruturadas e coerentes, porém diferentes. Como a escola transmite os conteúdos culturais familiares à classe dominante, a criança, quando se depara com essa cultura não reconhece e tem dificuldade para incorporá-la, sofrendo uma marginalização cultural. Aqui, o papel da orientação educacional é o de resgatar a cultura dos alunos trabalhando a partir da realidade e dos valores destes. O enfoque do trabalho não é mais o individual e terapêutico. O trabalho era realizado com o grupo de alunos, sendo que a função do orientador educacional/supervisor escolar é ajudar os alunos a sentirem-se partícipes do seu contexto escolar e educacional, independente das diferenças culturais existentes na escola. A pesquisa sobre as causas do fracasso escolar, afirma Grinspun (2006), intensificou-se a partir de 1971 com as teorias crítico-reprodutivas de Bourdieu, Passeron, Althusser, Establet e Baudelot. Tais teorias chamavam a atenção para o papel da escola como reprodutora das relações de poder e dominação cultural existentes na sociedade. Ao constatar a não neutralidade ideológica da escola, abriram-se caminhos para se pensar na não neutralidade da atuação dos professores e dos demais membros da escola. Surgiram pesquisas apontando para os fatores intraescolares e sua relação com a exclusão social. Alguns autores perceberam na escola um local de confrontação de forças progressistas e conservadoras, onde educação e política se articulam, podendo contribuir para problematizar a realidade, discuti-la e ultrapassá-la. Assim, o pedagogo deve estar comprometido com essa reflexão, evidenciando, sempre que necessário, práticas discriminatórias com o objetivo de superar o fracasso escolar. Como relata Grinspun (2006, p. 84), a questão do fracasso é um problema de concepção de estrutura que tem sido tratado tanto pelos setores que ditam as políticas públicas como pelos acadêmicos e pelos profissionais da escola, de forma fragmentada, com dificuldade de operacionalizar ações e sem efetivo envolvimento de todos. O número de crianças encaminhadas com “queixa da escola” de algum tipo de “anormalidade” tem aumentado a cada dia, mas muitas vezes esta necessita apenas de uma metodologia diferenciada, capaz de proporcionar-lhes uma aprendizagem eficaz. Sabedor desses condicionantes, o papel do orientador educacional/supervisor escolar pode ser o de discutir sobre o fracasso escolar com o coletivo da escola, contribuindo para: • investigar práticas educativas adequadas ao aluno real; • discutir os mecanismos que a escola tem para superar questões como evasão e repetência, garantindo a permanência do aluno na escola; • procurar garantir o encaminhamento dos alunos que necessitam de atendimento especifico. A seguir, abordaremos cada um desses aspectos separadamente, mas antes, faremos uma análise das relações entre inclusão, dificuldades, queixas e expectativas que supõem observação, 153 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL avaliação ou diagnóstico contínuo dos diferentes fatores constituintes da questão, o que implica intervenções, redirecionamentos ou redefinições que favoreçam os objetivos buscados individualmente ou institucionalmente. No contexto escolar, a inclusão de alunos com deficiência e altas habilidades/superdotação depende de variados fatores: plano de ensino com projetos específicos, adequações metodológicas (libras, Braille) e especialmente da quebra de estereótipos e preconceitos. A necessidade de construir-se um sistema educacional de qualidade para todos impõe uma atuação diferenciada daqueles que atuam no campo da educação, principalmente uma educação inclusiva. A sociedade e a organização social escolar devem promover o processo de educação inclusiva. Diante da perspectiva de a inclusão ter sucesso, as escolas devem ser comunidades conscientes; assim expõe Sergiovanni (apud O’BRIEN, 2007, p. 51): A comunidade é o vínculo que une os alunos e os professores de maneira especial, a algo mais importante do que eles próprios, valores e ideais compartilhados. Eleva tanto os professores quanto os alunos a níveis mais elevados de autoconhecimento, compromisso e de desempenho – além do alcance dos fracassos e das dificuldades que enfrentam em suas vidas cotidianas. A comunidade pode ajudar os professores e os alunos a serem transformados de uma coleção de ‘eus’ em um ‘nós’ coletivo, proporcionando-lhes, assim, um sentido singular da identidade, de pertencer ao grupo e à comunidade. Sem este sentido de comunidade, o esforço para atingir a inclusão torna-se muito difícil, e a ação do pedagogo, por certo, inócua. Infelizmente, ainda paira no meio do profissional de educação o desconhecimento sobre como trabalhar com a educação inclusiva, o que torna difícil a contribuição do pedagogo para o sucesso de processos inclusivos na educação. Para tanto, cabe ao pedagogo, atuando como supervisor escolar/coordenador pedagógico ou orientador educacional envolvimento, apropriação da legislação vigente, comprometimento e, sem dúvida, um aprofundamento sobre questões pertinentes à inclusão. Assim, a visão do pedagogo requer uma percepção do sistema escolar como um todo unificado. Para melhor elucidar a questão,é fundamental ao pedagogo, seja em âmbito de sistema ou em âmbito local, uma liderança proativa, na qual suas estratégias serão pluralistas e focadas no desenvolvimento do processo de aprendizagem de todos os alunos, até porque aprender o que se ensina na escola é necessidade ou exigência de todos (MEIRIEU, 2005). Se isso não acontece em nível minimamente satisfatório, todos saem perdendo e ficam insatisfeitos. O papel do supervisor escolar/orientador educacional deve ter sua atenção voltada para remoção das barreiras que existem na escola quando se trata do acolhimento do aluno com deficiência e altas habilidades/superdotação. 154 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Em seu plano de ação, precisam constar assuntos como: • acessibilidade: observar a acessibilidade física, se as tecnologias assistivas, a sinalética, a circulação e a segurança estão de acordo com a legislação pertinente; • organização da escola: verificar horários, instalações, serviços de apoio, biblioteca e outros aspectos que possam constituir-se em empecilhos e barreiras para o aluno com dificuldades; • estimular a qualificação profissional: propor programa de formação em serviço que propicie aos professores conhecimento aprofundado sobre a educação inclusiva; • observar a pertinência dos serviços de apoio e parcerias. De acordo com Pontes (2008, p. 48), “é tempo de mudar as escolas, as atitudes, os pensamentos, o ambiente como um todo. Inclusão significa transformação no atual panorama escolar. [...] esse desafio é de todos!”. Avaliação, erro e repetência: questões que influenciam na evasão escolar Como vimos anteriormente, a escola e os educadores precisam mudar sua maneira de encarar o aluno, partindo do pressuposto de que este sujeito está inserido numa realidade e que para aprender necessita encontrar significado entre o que está sendo ensinado e sua vida. Muitas vezes, o erro ou fracasso acontece não porque o aluno tem problemas pessoais, psicológicos ou de saúde, mas porque não entende o que o professor explica ou ainda, o conteúdo “não quer dizer nada” para ele. Dessa forma, a escola de modo geral torna-se incapaz de estabelecer conexão entre o conhecimento formal e o conhecimento prático do qual a criança já dispõe. Diante da situação há a necessidade de reavaliar-se o processo de ensino-aprendizagem e suas relações com o erro, a avaliação, o êxito e o fracasso escolar. Quanto mais essas questões forem claras para o orientador educacional/supervisor escolar, mas esse profissional poderá auxiliar o professor a garantir aprendizagens significativas evidenciando e construindo estratégias de ensino que contemplem as diferenças individuais e diversidade de culturas. Se a escola existe para promover aprendizagem e não para produzir fracasso, o erro, por exemplo, deve ser visto como uma oportunidade de ensino, já que a partir da sua análise crítica, propicia que o aluno crie procedimentos, critérios e discernimento para o confronto com os possíveis problemas, a fim de solucioná-los. É pensando nisso que devemos refletir sobre como a escola tem encarado o erro e o aluno que erra. Qual a relação entre erro e fracasso? O aluno que erra tem um problema que é só seu e que deve ser tratado isoladamente? Como revela Aquino (1997), quando a escola apresenta uma quantidade acima do aceitável de encaminhamentos de alunos à saúde ou tratamentos psicopedagógicos, ou ainda tem um alto índice de reprovações ou evasões, o que pode estar errado não é o rendimento ou nível de inteligência dos alunos, 155 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL mas o modo como esta e seus educadores estão ensinando e avaliando seus educandos. Não é mais possível deslocar o eixo de uma discussão pedagógica, para questões médicas ou psicológicas, como se os alunos fossem inadequados para a instituição escolar, devendo ser “enquadrados”. Diante de tal situação: qual seria a melhor forma de enfrentar, dentro da própria escola, a problemática do fracasso escolar? Pode-se dizer que a prática da avaliação é um dos eixos para a concretização de um projeto educacional e social. Este aspecto revela o grau de compromisso que se tem com a permanência dos alunos na escola e o seu processo de desenvolvimentos, além de evidenciar as relações de poder e o quanto se dá importância ao trabalho coletivo e cooperativo na escola. Nesta perspectiva, os erros, êxitos, dificuldades e dúvidas dos alunos tornam-se as evidências de como o educando está construindo seu conhecimento. Contudo, a avaliação durante muito tempo foi, e ainda hoje é, confundida com procedimentos de medida e verificação do rendimento escolar, Outro uso bastante comum da avaliação é no sentido de punição e ajuste de condutas inconvenientes, como aquela dos “bagunceiros”. Ainda, existem pessoas que utilizam a avaliação como premiação. Assim, conceitos e notas ficam sendo o foco das atenções dos alunos, que não se preocupam com o aprendizado, mas sim, em “passar” de ano. Há outros professores que acreditam que o importante da prova é o resultado, utilizando uma linguagem formal, muito diferente da linguagem usada nos exercícios e no dia a dia da sala de aula e não aproveitando o erro para ser explorado no sentido construtivo. Na opinião do Aquino (1997, p. 106) é preciso reinventar os processos de avaliação, pois eles produzem erro e fracasso escolar. Propõe que o ensino centre-se no conhecimento, na relação professor-aluno e no contrato pedagógico, que são as regras construídas com os alunos para o bom andamento do processo de ensino-aprendizagem em sala de aula. Souza (1997, p. 129) relata que dentre as funções da avaliação, a menos significativa é a de classificação. Para a autora avaliar é: • diagnosticar: caracterizar o aluno no que diz respeito a interesses, necessidades, conhecimentos e/ou habilidades, previstos pelos objetivos educacionais propostos, e identificar causas de dificuldades de aprendizagem; • retroinformar: evidenciar os resultados alcançados no processo ensino- aprendizagem, apoiando o replanejamento do trabalho com base nas informações obtidas; • favorecer o desenvolvimento individual: atuar como atividade que estimula o crescimento do aluno, no sentido de que se conheça melhor e de que desenvolva a capacidade de auto-avaliar-se. 156 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Outro ponto relevante na busca da transformação dessa relação com a avaliação diz respeito à observação do aluno e a importância do registro, pois o registro dessas observações, embora não obrigatório, é muito eficaz e traz elementos importantes ao educador, visto que contribui para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, garantindo um fazer pedagógico compatível com as necessidades das crianças com as quais se está trabalhando. Progressão Continuada e Avaliação A Progressão Continuada foi instituída pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN nº 9.394/1996, em seu artigo 32, alterado pela Lei nº 11.274/2006, parágrafo 2º, conforme descrito: Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006) [...] § 1º - É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos. § 2º - Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de Progressão Continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. A referida legislação aponta como proposta a aprendizagem em ProgressãoContinuada na forma de ciclos, por meio de mecanismos como ampliação da jornada escolar, a recuperação paralela e contínua dos alunos com dificuldades de aprendizagem, horas de trabalho coletivo remunerado do professor para avaliação e capacitação, proposta de esquemas de aceleração de aprendizagem para alunos retidos por várias vezes e com grande defasagem idade/série, além da reclassificação de estudos. Buscava-se provocar mudanças no sistema educacional brasileiro, à medida que criassem condições de acesso ao conhecimento para toda a população, o que até então não tinha ocorrido. Portanto, a presença da Progressão Continuada leva os professores a analisar suas concepções sobre o papel e as finalidades do Ensino Fundamental na sociedade brasileira contemporânea e o significado do processo de aprendizagem de seus alunos. Menezes e Santos (2002) apontam que a LDB propõe o regime de Progressão Continuada considerando o conhecimento como processo e vivência que não admitem a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que o/a aluno/a está continuamente se formando, construindo significados a partir das relações dos homens com o mundo e entre si. A estratégia de adoção do regime de Progressão Continuada, de acordo com a LDB, “contribui para viabilizar a universalização da educação básica, que é o impulso para as nações se projetarem e competirem mundialmente, e também é um meio de garantir o acesso e principalmente a permanência 157 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL do aluno na escola.” Dessa forma, o objetivo da Progressão Continuada, além de aumentar a qualidade de ensino, é eliminar a defasagem idade/série, combater a evasão e evitar múltiplas repetências4. Assim, com a possibilidade outorgada pela Legislação, a Progressão Continuada é implantada nas unidades escolares do estado de São Paulo, por meio da Deliberação 9/97 do Conselho Estadual de Educação de São Paulo. Rossi (2003), deixa claro como o tema da política da inclusão social do aluno é polêmico na América Latina, que ainda não conseguiu resolver seus graves problemas socioeconômicos, que acabam por refletir no sistema educacional dos países em desenvolvimento. A autora alerta para um ponto importante a ressaltar, pois sempre que se fala de inclusão do aluno, pensa-se logo em atendimento da quantidade da demanda, isto é, número de vagas suficientes para atendimento a toda a população. Ultimamente, surgiu a preocupação entre os profissionais da educação em atender à demanda, sim, mas com qualidade. Na tentativa de melhor elucidar tais diferenças entre o que se escreve em textos e o que prevê a legislação, é necessário lembrar que mudanças como as propostas na Progressão Continuada são necessárias, de fato, mas trazem consigo conflitos, que demandam o comprometimento de toda a sociedade e exigem tempo para que se realizem as adaptações necessárias, pois as raízes do regime de educação seriada e da avaliação por resultados, que tem perdurado por tanto tempo, ainda são profundas na mente das pessoas. Ainda à luz do exposto por Rossi (2003), na verdade, a escola permaneceu com uma estrutura rígida apegada aos ideais tradicionais da escolástica. Ao estabelecer a relação de dicotomia sujeito-professor e objeto-aluno, a avaliação tornou- se instrumento de dominação, que, aceito no meio educacional, classificou os alunos e excluiu os menos favorecidos intelectualmente. Trata-se de um tipo de avaliação que sempre levou em conta a homogeneização dos alunos, sem se preocupar com as diferenças individuais e os diferentes tempos de aprendizagem e tampouco colocar o erro a serviço desta, aproveitando-o como mais um instrumento na construção do conhecimento. Nesta perspectiva, a avaliação transforma-se em um instrumento essencial para a observação do progresso do aluno em seu percurso escolar, apontando as diferenças na aquisição do conhecimento do aluno e orientando o trabalho do professor em sua ação docente. A avaliação passa a nortear e estimular o processo de ensino e aprendizagem. O enfoque passa a centrar-se no aluno e não apenas no ensino e no currículo. Vale lembrar que a escola pública, em geral, recebe os alunos das classes menos favorecidas sem ter se preparado para atender a essa clientela que respondeu em massa ao chamado do Estado para ingressar nas novas vagas abertas, quando da democratização do ensino. Portanto, pode-se afirmar que a quantidade de alunos aumentou, sem a contrapartida da qualidade de atendimento, pois tanto a parte 4 Citação extraída do Dicionário Educativo da Educação Brasileira, disponível no endereço: <http://www.educabrasil. com.br>. 158 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a administrativa quanto os professores não estavam preparados para receber alunos que tinham uma linguagem social tão diferente do professor oriundo, geralmente, da classe média. O comportamento social desses alunos também sempre foi um entrave, uma vez que o professor tinha uma ideia formada de imagem social, espelhada nas classes dominantes. Dessa forma, ainda lembra-nos Rossi (2003) que, de acordo com a demanda, foi necessário abrir as portas para todas as classes sociais; os professores formados sob os moldes da classe dominante não conseguiram uma prática de entrosamento com esses alunos. Todos esses problemas, somados às políticas educacionais desencontradas da realidade que se tinha, trouxeram essa inadequação que ainda se observa no sistema educacional. É certo que algumas categorias como tempo, espaço e ação são necessárias para que a dinâmica escolar se efetue concretamente, sendo relevante, portanto, abordá-las. Ainda Rossi (2003) expõe que o tempo pode ser concebido de diferentes formas, como divisão dos horários das turmas, tempo das aulas, da aprendizagem dos alunos, do ensino do professor e até dos intervalos entre as aulas. No que se refere ao espaço, este se visualiza no todo da escola, como as salas de aulas com todos os seus equipamentos necessários, corredores, jardins, diretoria, sanitários, laboratórios, biblioteca. Quanto à ação, esta se desenvolve no cotidiano das diversas atividades escolares, como a ação da aula do professor, disciplina ou indisciplina dos alunos, apoio pedagógico dos diretores e coordenadores, recreio, intervalos informais e demais atividades. Entretanto, estando dispostas as categorias, estas não bastam para dar vida à escola, faltando o que é muito importante para dar sincronia no desenvolvimento das atividades, o projeto pedagógico. Nada acontece sem ele, que, para se concretizar de fato, precisa do comprometimento de todos, incluindo pais, professores, alunos e direção, garantindo, dessa forma, a identificação da identidade da escola e suas necessidades sociais, bem como seu processo avaliativo. A avaliação tem sido constantemente discutida nos meios educacionais mais sob a ótica técnica do que sob a vertente do comprometimento político. Para tanto, a Progressão Continuada vem na tentativa de desfazer a contradição entre a técnica e a política. O próprio termo Progressão Continuada é redundante, uma vez que progressão remete à ação continuada, ou seja, aquilo que não sofre interrupção. A combinação dos vocábulos não é aleatória, mas tem a intenção de reforçar a ideia de Progressão Continuada, isto é, organização do percurso escolar e avaliação do ensino de forma contínua. Sob este olhar, o ritmo diferenciado de cada aluno deve ser respeitado, levando em consideração os diferentes ritmos de aprendizagem. De fato, o mundo vem-se acelerando, vive-se correndo atrás do tempo, não sendo mais possível pensar em sedimentar a aprendizagem e o conhecimento adquirido em séculos num ano letivo apenas, 159 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om edo d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL o que nos leva a pensar que a Progressão Continuada representa mais possibilidades no que se refere à avaliação, como avaliação da instituição escolar e rendimento do aluno e do trabalho do professor, ampliando as chances de aprendizagem. É possível afirmar, segundo Rossi (2003), que a Progressão Continuada mudou radicalmente as perspectivas dos objetivos da avaliação escolar e os meios de realizá-la, sendo fundamental o envolvimento e a participação da família, dos alunos, dos professores e de toda a equipe escolar, para, em uma ação conjunta, enfrentar os desafios da sociedade contemporânea, visto a importância social que a escola assume perante a comunidade na qual está inserida. Para tanto, o diagnóstico dos dados dos alunos, dos professores e da instituição escolar deve ser analisado em conjunto, sem buscar culpados pelos insucessos e falhas, mas corrigi-los rumo à melhoria da aprendizagem. Ao se falar em avaliação do processo ensino-aprendizagem, pensa-se em verificação do nível do que o aluno aprendeu. A avaliação apresenta três funções, de acordo com Haydt (2007, p. 16), são elas: “diagnosticar, controlar e classificar”. 8.2.3 Organizando o serviço No intuito de tornar o setor de supervisão escolar e orientação educacional eficiente e organizado, facilitando, desse modo, a tomada de decisões, faz-se necessária a manutenção dos diferentes tipos de informações coletadas e registradas, permanecendo sempre atualizadas. Entre as informações e documentações de interesse do pedagogo há dados sigilosos (resultados de testes, diagnósticos, anamneses, entre outros) e dados informativos abertos (informações essenciais sobre os membros do processo educativo, fichas cumulativas etc.) de modo que o prontuário (pasta onde são armazenadas todas informações e documentos) esteja completo e organizado. O setor deverá manter informações sobre alunos, ex-alunos, professores, funcionários e técnicos. É interessante também, manter informações de profissionais de interesse para o desenvolvimento do trabalho. Para funcionamento organizacional e eficiente, é bom que o setor dê uma pasta contendo modelos de instrumentos (questionários e fichas) para agilizar as atividades, bem como textos e informações úteis. Para tanto, seguem sugestões desses instrumentos para que sejam selecionados e adequados, quando necessária sua utilização. O arquivo, fichários e pastas são indispensáveis para guardar o material sigiloso e informações coletadas pelo profissional e demais elementos da equipe de trabalho. É conveniente que o seu manuseio seja fácil e de utilidade. Em geral, arquivam-se nesses fichários: 1. Correspondência recebida; 2. Correspondência expedida; 160 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a 3. Material informativo; 4. Material de Divulgação; 5. Material diverso; 6. Pesquisas e estudos; 7. Planejamentos; 8. Avaliação; 9. Relação de alunado; 10. Relação de telefones úteis ao serviço de coordenação pedagógica/supervisão escolar e orientação educacional; 11. Legislação; 12. Prontuário: ficha informativa, questionários e informes, ficha médica (elaborada pelo próprio profissional diante das necessidades existentes na escola), “carômetro”, registro de entrevistas, regimento e normas da escola. 13. Livros, textos, revistas relacionadas à temática educacional, lista indicativa de sites. Seguem sugestões de fichas: Quadro 30 Ficha Emergencial Nome do aluno:_____________________________________________________________ Data de Nascimento:_________________________________________________________ Nome dos responsáveis:_______________________________________________________ Endereço:__________________________________________ Bairro:__________________ Telefone de contato:______________________ Em caso de não encontrar o responsável, outro telefone para contato:_____________________ Responsáveis pela retirada da criança na Unidade:____________________________________ Alérgico: ( ) alimento ( ) medicamento Qual?_____________________________________ ( ) outros Quais?_______________________________________ Obs.: esta ficha será preenchida no ato da matrícula e deverá ficar em local de fácil acesso e em ordem alfabética. 161 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Quadro 31 Comunicação de Ocorrência Aluno:____________________________________________________________________ Série:_____________________________________________________________________ 1-Descrição do fato corrido:___________________________________________________ ________________________________________________________________________ 2- Participação de outros alunos na ocorrência? Quais? Como?_________________________ 3- O que foi feito a respeito na ocasião? 4- É reincidente? 5- O que foi feito em ocasiões anteriores? Professor: ________________________________________Data:____________________ Quadro 32 Registro de Reunião Data:________________________ Horário:______________ Período:______________________________ 1-Pauta: 2- Desenvolvimento/encaminhamentos: 162 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 33 Roteiro de observação e encaminhamento – Professor para orientador educacional Professor: Identificação do Aluno: Nome: Data de Nascimento: Idade: Série/Ano atual: Séries repetidas: Frequência e Assiduidade: 1. Motivos do Encaminhamento: 2. Rendimento Escolar: citar a disciplina e as dificuldades encontradas pelo aluno (objetivos essenciais não atingidos/desenvolvimento infantil) 3. Como se encontra o aluno em relação à: sociabilidade – relação professor/aluno, aluno/aluno, participação em atividades. - Organização para o trabalho – iniciativa, cooperação, trabalho em grupo, cumprimento das regras: - Observações relevantes – aspectos positivos observados: - Anexar uma produção do aluno que o professor considere importante para ilustrar a dificuldade do mesmo. - Anexar dados colhidos durante entrevista realizada com os responsáveis pelo aluno. - Como você percebe o desenvolvimento do aluno. Data: Quadro 34 Aos Senhores Pais Sabemos da dificuldade de educar nossos filhos nos dias atuais, pois às vezes apresentam certos comportamentos estranhos e difíceis de lidar ou corresponder. Com a intenção de ajudá-los a refletir sobre a melhor forma conjunta de atuar com seus filhos, o Setor de Orientação Educacional está aberto ao diálogo e a informações que contribuam para a eficiência no atendimento. O atendimento no setor é feito diariamente de forma individualizada ou coletiva. Basta agendar um horário para nossa conversa. Cordialmente, Setor de Orientação Educacional 163 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 8.2.4 Orientação Educacional e Supervisão Escolar: Técnicas Para que o trabalho seja realizado de modo que atenda aos objetivos propostos e às necessidades da demanda, são utilizadas técnicas de orientação individual e de orientação em grupo. Eis algumas das técnicas utilizadas pelo pedagogo em suas atividades: Observação A observação é uma das técnicas fundamentais para o trabalho do pedagogo, seja na orientação educacional ou supervisão escolar, por meio desse recurso é possível recolher dados sobre o aluno, professor, ações grupais, entre outros. A observação é um meio direto de estudar os fenômenos tais como se apresentam, possibilita o registro de dados, simultaneamente com a ocorrência. Ela pode ser sistemática, quando decorre de uma intencionalidade definida,ou seja, quando procura seguir um roteiro preparado antecipadamente, bem como pode ser assistemática ou ocasional, quando o observador registra ocorrências que vão acontecendo, são apreendidos fatos significativos não previstos anteriormente. Os conteúdos observados devem ser registrados pelo Orientador Educacional de imediato, a fim de que não se percam aspectos importantes. Questionários A técnica do questionário consiste na coleta de informações por meio de perguntas a respeito de um indivíduo ou um grupo de indivíduos. Segundo Junqueira Schmidt (apud NÉRICI, 1974, p.115), o “questionário é processo prático de grande valor para investigar a conduta e o comportamento do aluno. É usado para obter considerável volume de informações sobre grande número de alunos”. Na elaboração de um questionário, é necessário pensar em questões claras, diretas, concisas e escritas de maneira simples. As perguntas de um questionário podem ser: • informativas: para coleta de dados objetivos (ex.: qual a sua idade?, onde você nasceu?...); • opinativas: quando solicitam posições, conceituações ou julgamentos pessoais (ex.: o que você acha sobre determinado assunto?, qual a sua opinião sobre o estudo em grupo?,...); • específicas: quando solicitam respostas bem precisas, baseadas em respostas com sim ou não, certo ou errado, concordo ou não concordo,...; • explicativas: quando solicitam justificativas ( ex.: qual ou quais áreas de estudo você mais aprecia? Por quê?). Sugestões de perguntas para questionário: 164 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 35 Questionário informativo Nome do aluno:_____________________________________________________________ Data de Nascimento:______________________________________________ Filiação:___________________________________________________________________ e __________________________________________________________________ Frequentou: ( ) Creche ( ) Pré-escola Em que ano? __________ Tipo de parto: ( ) Normal ( ) Cesárea ( ) Fórceps ( ) outros Em que idade começou a: Engatinhar __________ Andar: ______________ Falar:_______________ É alérgico? ( ) Alimento – Qual?__________________________ ( ) Medicamento – Qual? __________________________ ( ) Picadas de inseto – Qual? _______________________ ( ) Outros Dados para situação de emergência: Endereço residencial:_________________________________________________________ Telefone:_______________________________________________________ Local de trabalho do Pai: ___________________________________________ Endereço: ______________________________________________________ Telefone: _____________________ Ramal:____________________________ Local de trabalho da Mãe: __________________________________________ Endereço: ______________________________________________________ Telefone: _____________________ Ramal:____________________________ Outro responsável – Nome :_________________________________________ Grau de parentesco:_______________________________________________ Endereço: _______________________________________________________ Telefone: _____________________ Ramal:____________________________ Possui amigos fora do ambiente da escola: ( ) sim ( ) não Brincadeiras preferidas: __________________________________________ Frequenta: ( ) natação ( ) judô ( ) ballet ( ) outros Costuma passear junto com a família? ( ) sim ( ) não Onde?________________________________________________________ Tem irmão(s)?__________ Na sua opinião, como a escola pode favorecer o desenvolvimento de seu filho? 165 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Entrevista A entrevista é uma conversa, diálogo estabelecido entre duas pessoas (orientador e orientando), na qual uma procura ajudar outra na compreensão de si ou na resolução de problema que a esteja a afligir. São tipos de entrevista: • de investigação: procura reunir dados para elaboração de um diagnóstico e verificar as informações já coletadas; • diagnóstica: recolhe dados que possibilitem caracterizar atitudes, opiniões, possíveis problemáticas; • de aconselhamento: propõe-se a conduzir o orientando à escolha adequada de recursos e meios indispensáveis a respeito de uma situação, levando o orientando à reflexão e possível conclusão. Para que o resultado da entrevista seja profícuo ao profissional, é necessário que o entrevistador seja capaz de conseguir as informações que deseja, sem deixar a impressão de que as mesmas serão interpretadas. Depois de ouvir com atenção, o pedagogo deve utilizar-se de todas as informações obtidas, a fim de focalizar o aspecto principal do assunto tratado. É fundamental que os dados sejam registrados, para evitar a perda de elementos significativos. As anotações sobre as entrevistas devem ser objetivas, sucintas, claras e devem retratar os pontos mais relevantes nas reações e atitudes do entrevistado (gestos, expressões, alteração de voz, lacunas...). A seguir, sugere-se uma ficha para registro de entrevista: 166 Unidade III Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Quadro 36 Registro de entrevista Identificação do Aluno: Nome: Data de Nascimento: Idade: Série/Ano atual: Data da entrevista: Local: Entrevista: (aluno, pai, mãe, responsável, professor) Vinda: Espontânea Agendada Enviado Motivo da Entrevista Razões para a entrevista segundo o entrevistado Assunto Principal: Aspectos mais significativos: Observações: Assinatura do Pedagogo Autobiografia A autobiografia é a técnica destinada a possibilitar um melhor conhecimento do aluno por meio do relato de sua própria vida. As modalidades da autobiografia podem ser: • espontânea: aquela em que não é estabelecido roteiro ao aluno. Ele pode reconstruir sua história de vida com fatos que julgar mais significativos; 167 Re vi sã o: N om e do r ev iso r - Di ag ra m aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • dirigida: a autobiografia é elaborada por meio de roteiro fornecido ao aluno (ex: divisão por faixas etárias, escolaridade, gostos); • do futuro: nesta modalidade, convida-se o aluno a projetar-se para o futuro e escrever como vai ser sua vida na perspectiva do que vai acontecer; • projeção para daqui a tantos anos: esta autobiografia consiste no estabelecimento de um prazo para o futuro e de que maneira o aluno se vê lá. Anedotário O anedotário representa a coleta de amostras de comportamento do aluno, ou seja, o registro de um fato peculiar ou acontecimento inusitado que envolva o aluno, dentro ou fora da escola, e anotações sobre suas composições, cadernos, desenhos e trabalhos mais significativos. A seguir, sugestão de ficha de anedotário: Quadro 37 Ficha de anedotário Identificação do Aluno: Nome: Data de Nascimento: Idade: Série/Ano atual: Relato: Situação ocorrida durante o recreio do período da manhã. Hoje, João não brincou com seus colegas. Quando perguntei o motivo, respondeu: “Eles não querem brincar comigo”. Tentei conversar com ele, mas não deu continuidade ao assunto Data: Observador: Estudo de caso O estudo de caso visa ao estudo individualizado e minucioso a respeito de um aluno, grupo de alunos ou classe. Segundo Junqueira e Pereira (apud NÉRICI, 1994, p.143), o estudo de caso “permite ao orientador obter o quadro mais completo possível do aluno, abrangendo o histórico do crescimento com seus êxitos e fracassos”. Para tanto, o estudo de caso relaciona-se