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Autora: Profa. Eva Cristina de Carvalho Souza Mendes Colaboradores: Prof. Nonato Assis de Miranda Profa. Silmara Maria Machado Orientação em Supervisão Escolar e Orientação Educacional Professora conteudista: Eva Cristina de Carvalho Souza Mendes Natural de Niterói–RJ, é graduada em Letras, pela Universidade Santa Úrsula – RJ, e Pedagogia, pela Universidade Católica de Santos - SP, Psicopedagoga, pela Faculdade Claretiana–SP, e especialista em Educação Infantil e Processo de Ensino e Aprendizagem do Ensino Fundamental – séries iniciais pela Faculdade São Luís-SP, e Educação a Distância pela Faculdade Senac–RJ, aperfeiçoamento em Gestão de Processos Avaliativos de Sistemas Educacionais – PUC/SP, Mestra em Educação, subárea Formação do Educador: dimensão político-pedagógica pela Universidade Católica de Santos-SP e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento, subárea Multidisciplinar em Saúde-Educação-Psicologia, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Supervisora de Ensino da Prefeitura Municipal de Santos, Coordenadora Local e Docente do Curso de Pedagogia - Universidade Paulista (campus Santos). Experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação, Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Profissional, Educação a Distância, Processo Ensino-aprendizagem, Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar, Psicopedagogia e Pedagogia. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M538o Mendes, Eva Cristina de Carvalho Souza Orientação em supervisão escolar e orientação educacional / Eva Cristina de Carvalho Souza. – São Paulo, 2024. 184 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Supervisão escolar. 2. Planejamento. 3. Pedagogia I. Título. CDU 37.014 U519.05 – 24 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Revisão: Prof. Alexandre Ponzetto Geraldo Teixeira Jr Amanda Casale Sumário Orientação em Supervisão Escolar e Orientação Educacional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO E LUGAR DE ENSINO-APRENDIZAGEM ...9 1.1 Conhecendo a unidade escolar ...................................................................................................... 10 1.2 A pesquisa como instrumento de conhecimento da escola ............................................... 15 1.3 Unidades escolares como organizações aprendentes: aspectos culturais e organizacionais ......................................................................................................................................... 17 2 SISTEMAS DE ENSINO E ESCOLAS PARTICULARES ............................................................................ 21 2.1 Sistema Federal de Ensino ................................................................................................................ 23 2.2 Sistema Estadual de Ensino ............................................................................................................. 24 2.2.1 Diretoria Regional de Ensino no Sistema Estadual de Ensino .............................................. 24 2.3 Sistema Municipal de Ensino .......................................................................................................... 25 3 A ESCOLA E SUA FUNÇÃO SOCIAL ........................................................................................................... 27 4 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NA ESCOLA E A AÇÃO DO PEDAGOGO .................................. 29 4.1 Planejamento: tipos e níveis e suas relações ............................................................................ 38 4.2 Projeto político-pedagógico e/ou proposta pedagógica e plano de desenvolvimento da escola ...................................................................................................................... 41 4.2.1 Projeto Político-Pedagógico/Proposta Pedagógica ................................................................... 42 4.2.2 Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola) .................................................................. 47 Unidade II 5 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E SUPERVISÃO ESCOLAR NA CONTEMPORANEIDADE .......... 56 5.1 Orientação educacional: a prática cotidiana ............................................................................ 56 5.2 Orientação educacional em relação à Direção da escola..................................................... 61 5.3 Orientação educacional em relação aos funcionários da escola e corpo docente ... 61 5.4 Orientação educacional: relacionamento família-escola / escola-comunidade ........ 63 5.5 Orientação educacional e o trabalho com os alunos ............................................................ 69 5.6 Orientação educacional: relação escola-saúde ........................................................................ 75 5.7 Orientação Educacional e relações interpessoais.................................................................... 77 5.8 Orientação para o trabalho e qualidade de vida ..................................................................... 84 5.9 Orientação educacional e o lazer .................................................................................................. 85 5.10 Orientação para a escolha profissional e a vida do trabalho ........................................... 93 6 AÇÃO SUPERVISORA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: A PRÁTICA.............................................106 7 PROFESSOR-COORDENADOR E SUAS ATIVIDADES NO PROCESSO EDUCACIONAL ...........124 8 AÇÃO SUPERVISORA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA CONTEMPORANEIDADE ............142 8.1 Supervisão escolar e orientação educacional: os espaços de atuação coletiva .......145 8.1.1 Conselho de Escola .............................................................................................................................. 145 8.1.2 Conselho de Classe .............................................................................................................................. 145 8.1.3 Reunião de pais ou responsáveis .................................................................................................. 147 8.1.4 Reunião de formação com professor .......................................................................................... 147 8.1.5 Outras reuniões .....................................................................................................................................148 8.2 Evasão repetência e fracasso na escola: inclusão e o papel do pedagogo .................150 8.2.1 Teorias sobre a questão do fracasso escolar ............................................................................. 150 8.2.2 Progressão Continuada e Avaliação ............................................................................................. 155 8.3 Organizando o serviço ......................................................................................................................158 8.4 Orientação Educacional e Supervisão Escolar: técnicas ...................................................162 8.4.1 Observação ............................................................................................................................................. 162 8.4.2 Questionários ......................................................................................................................................... 162 8.4.3 Entrevista ................................................................................................................................................ 164 8.4.4 Autobiografia ......................................................................................................................................... 165 8.4.5 Anedotário .............................................................................................................................................. 166 8.4.6 Estudo de caso ...................................................................................................................................... 166 8.4.7 Sociometria ............................................................................................................................................ 167 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), Na disciplina Orientação em Supervisão Escolar e Orientação Educacional, você terá possibilidades de compreender, a partir do estudo da Unidade Escolar, a ação integradora e formadora do trabalho do pedagogo mediando ações com relação à família, trabalho, saúde, lazer do discente e o desenvolvimento das potencialidades humanas. A importância do pedagogo para alunos e professores no processo de ensino-aprendizagem e no trabalho de conscientização de alunos sobre valores. O desenvolvimento das relações interpessoais e a formação do aluno integral, bem como o desempenho da ação supervisora e orientação educacional nos variados contextos e instâncias de atuação rumo à promoção de um ensino de qualidade. Quanto aos objetivos específicos, estes têm o propósito de levá-lo a: 1. reconhecer as contribuições do pedagogo frente às áreas de trabalho (escola, família, comunidade e saúde, lazer e trabalho); 2. identificar as atribuições e o trabalho do supervisor escolar dentro de uma proposta de supervisão de sistema e de escola; 3. identificar e analisar a realidade escolar, a comunidade na qual está inserida e seus problemas, bem como articular com a ação supervisora; 4. discutir propostas de organização e gestão na perspectiva de uma escola democrática; 5. analisar e discutir situações e práticas pertinentes ao papel do supervisor escolar/coordenador pedagógico dentro da escola; 6. elaborar planejamento educacional no âmbito escolar e não escolar em seus diversos níveis e relações; 7. identificar fatores que podem promover relações interpessoais saudáveis na escola; 8. analisar o fracasso escolar e a atuação do pedagogo na identificação de problemas que podem gerar o fracasso escolar; 9. conhecer tendências atuais que promovam o autoconhecimento do aluno e a reflexão sobre os valores humanos. E, para finalizar, você será convidado a refletir acerca das questões pertinentes à Supervisão Escolar e Orientação Educacional na contemporaneidade. 8 INTRODUÇÃO Olá aluno(a), Nosso estudo terá início com a temática “A escola como organização de trabalho e lugar de ensino e aprendizagem”, na qual serão tratados os assuntos pertinentes ao conhecimento da unidade escolar e o papel do pedagogo na cultura organizacional de seu local de trabalho. Continuando, encontramos as questões sobre “Planejamento Educacional na escola em processo de gestão democrática participativa” na perspectiva desenvolvida pelo orientador educacional e pelo supervisor escolar. Por fim, chegaremos às práticas relativas à Orientação Educacional e Supervisão Escolar na contemporaneidade. Deixo para sua reflexão sobre a atividade a ser exercida pelo pedagogo em função de orientação educacional e supervisão escolar, o pensamento de Paulo Freire (1996, p. 77): [...] Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptar a ela. [...] Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade. Vamos lá? 9 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Unidade I 1 A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO DE TRABALHO E LUGAR DE ENSINO‑APRENDIZAGEM Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura... Fernando Pessoa Há um ver-por-ver, sem ato intencional do olhar, e há um ver como resultado obtido a partir de um olhar ativo... Alfredo Bosi A construção de um saber tecido na relação entre teoria e prática de organizações educacionais em que a escola seja vista como organização de trabalho e lugar de ensino e aprendizagem inicia-se no ato de compreender o que acontece concretamente na unidade escolar, até porque pensar a instituição educacional a partir de um ponto de vista amplo leva à compreensão dos fenômenos educativos em toda a sua complexidade, seja humana, técnica ou científica. O mundo contemporâneo tem passado por transformações das mais diversas, sejam econômicas, políticas, sociais e culturais, em virtude dos avanços tecnológicos, reestruturação do sistema de produção e desenvolvimento, da compreensão do papel do Estado, em suma da globalização. A escola, instituição social, tem sido inquirida de qual seria seu papel frente a essas transformações. Portanto, refletir sobre organizações escolares sugere olhar o percurso das ideias acerca das unidades de educação ao longo das últimas décadas. Alguns autores as viram centradas nos alunos, segundo uma abordagem individual, ou seja, como máquinas de aprendizagem; outros, de acordo com uma perspectiva institucional, como organismos preocupados com a racionalização e a eficácia do ensino; hoje em dia, as unidades escolares são vistas como lugares de interação social, dotadas de cultura e caracterizadas por valores, crenças e ideologias. De acordo com Libâneo (2004, p. 30), existem minimamente duas formas de ver a gestão centrada na escola: 10 Unidade I • na perspectiva do ideário neoliberal, colocar a escola como centro das políticas significa liberar boa parte das responsabilidades do Estado, dentro da lógica do mercado, deixando às comunidades e às escolas a iniciativa de planejar, organizar e avaliar os serviços educacionais. • na perspectiva sociocrítica, a escola é vista como espaço educativo, uma comunidade de aprendizagem construída por seus atores. A gestão e a organização da escola são entendidas como práticas educativas, afinal passam valores, atitudes, modos de agir, influenciando as aprendizagens de professores e alunos, ou seja, significa valorizar as ações concretas dos profissionais na escola, decorrentes de sua iniciativa, de seus interesses, de sua participação, dentro do contexto sociocultural da escola, em função do interesse público dos serviços educacionais prestados sem, com isso, desobrigar o Estado de suas responsabilidades. Assim, Lima (2002b, p. 33) afirma, ao conceituar a escola,que esta é simultaneamente “locus de reprodução e locus de produção de políticas, orientações e regras [...] porque, finalmente, as organizações são sempre as pessoas em interação social, e porque os atores escolares dispõem sempre de margens de autonomia relativa”. Certo é que a unidade escolar, organização social, inserida em um contexto, adquire características que a refletem em seu cotidiano. Sua prática realiza-se em condições historicamente delineadas de modo que o atendimento das necessidades e interesses diversos ocorra. Para tanto, à luz do pensamento de Militão Silva (2001, p. 42), refletir sobre a autonomia da unidade escolar supõe, para além do conhecimento das características do sistema no qual se insere a escola, conhecer a própria escola e, assim, verificar os problemas e as perspectivas que dela decorrem tendo em vista a implantação de um funcionamento autônomo. 1.1 Conhecendo a unidade escolar A escola, organização social, é o lugar em que se concretiza o objetivo do sistema escolar, ou seja, o atendimento dos alunos nas relações de ensino e aprendizagem. Segundo Militão Silva (2001, p. 43), há três modos de encarar a escola que poderão produzir formas diferenciadas para a abordagem das questões concretas e que, consequentemente, levarão a soluções também diferentes. São eles: 11 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • centrado na sala de aula: quando o ponto central da realidade escolar encontra-se na sala de aula, local em que se dá a chave para mudanças, a relação professor-aluno; • pautado nas formas de organização da sociedade: nesta abordagem, as mudanças na escola somente ocorrerão quando já estiverem concretizadas na sociedade como um todo. As ações de professores e alunos são reflexos do contexto social em que a escola está inserida; • nível intermediário: não se detém apenas à sala de aula nem apenas ao contexto social. Para que se entenda o funcionamento da escola, é necessária a compreensão da unidade escolar como uma organização social. Decerto uma unidade de educação pode ser vista de variadas formas, mas “seria na escola que as crianças aprenderiam, de modo sistemático, a se submeter a uma autoridade impessoal?” (Enguita, 2004, p. 29). Lembrete A escola deve ser vista como espaço de interação entre sujeitos que ensinam e sujeitos que aprendem, isto é, espaço no qual sujeitos estabelecem relações com o saber. Com o correr do tempo, as organizações educacionais classificaram-se de formas diversas. Assim, olhar a unidade educacional como organização é vê-la contextualizada em suas várias dimensões, pois, na esteira do pensamento de Nóvoa (1992, p. 20), trata-se de um enfoque particular sobre a realidade educativa que valoriza as dimensões contextuais e ecológicas, procurando que as perspectivas mais gerais e mais particulares sejam vistas pelo prisma do trabalho interno das organizações escolares. Partindo do pressuposto da relação existente entre organização e ambiente, a organização escolar é considerada um sistema aberto, não excludente, que se relaciona com seu meio, captando informações para orientar seus objetivos, e, de acordo com essa perspectiva, a escola pode ser vista como instituição social, pois é constituída da convivência e da realização de trabalho, uma construção social que “leva a pôr ênfase na ação dos indivíduos, nos seus interesses, nas suas estratégias, nos seus sistemas de ação concreta” (Barroso, 1996, p. 10). Desse modo, “as organizações escolares, ainda que estejam integradas num contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores (ou os ideais sociais) e as crenças de que os membros da organização partilham” (Brunet, 1988 apud Nóvoa, 1992, p. 29). A partir do exposto, vê-se que há uma cultura interna na organização escolar composta pelos significados individuais dos atores e que são partilhados, assim como há um conjunto de variáveis exógenas que interferem na definição identitária da organização, o qual podemos chamar de cultura externa da organização. 12 Unidade I De tal sorte que é possível caracterizar o funcionamento de uma organização escolar como fruto de um compromisso entre a estrutura formal e as interações entre grupos com interesses distintos, bem como identificar sua abrangência sob três grandes áreas: a) estrutura física da escola; b) estrutura administrativa da escola; c) estrutura social da escola. Como afirma Militão Silva (2001, p. 49), procurar compreender a escola como uma cultura com identidade própria supõe descobrir os valores, as atitudes, as imagens de realidade, as manifestações verbais e não verbais que constituem seu processo de comunicação interna e externa. Mas, principalmente, significa conhecer seu projeto de ação. Para tanto, tem sido a cada dia mais importante a compreensão da escola como lugar de construção e reconstrução da cultura, não somente do modo científico, mas a cultura em seu modo social, a cultura dos alunos, dos atores constitutivos da organização, a cultura da escola. De acordo com Pérez Gómez (apud Libâneo, 2004, p. 32), a escola, e o sistema educativo em seu conjunto, pode ser considerada como uma instância de mediação cultural entre os significados, sentimentos e as condutas da comunidade social e o desenvolvimento humano das novas Gerações. Assim, não conhecemos a escola apenas pelo que se vê, é preciso captar os significados, valores, atitudes, modos de agir e de resolução de problemas que definem uma cultura própria de cada unidade escolar. População-alvo • aluno • classe Meio - escolar - comunidade Professor e demais funcionários - pessoa - profissional Conhecimento da realidade da unidade escolar Sondagem Diagnóstico Figura 1 – Representação gráfica do conhecimento da unidade escolar Fonte: Turra et al. (1975, p. 43). 13 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Olhar a unidade educacional como organização é vê-la contextualizada em suas várias dimensões. É necessário atentar-se sobre a natureza do trabalho em educação, “na escola, as relações de produção e transmissão de conhecimento se dão entre sujeitos que interagem e se transformam através desta interação” (Alves, 2006, p. 161). Também cabe atenção ao âmbito da categoria de trabalho não material, esclarecido por Saviani (apud Alves, 2006), “ao relacioná-la à produção de ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, ou seja, à produção do saber, que não se separa do produtor” (Alves, 2006, p. 159), o que é distinto da natureza de produção de uma mercadoria, ou seja, um trabalho material. Nesse prisma, minimamente duas perspectivas são observáveis para o trabalho do pedagogo atuando como orientador educacional, supervisor escolar, coordenador pedagógico, gestor ou docente. Por um lado, no qual os princípios pautam-se no mercado, nos ideais capitalistas, e por outro, os princípios podem corroborar para garantia do processo de tomada de decisões coletivas, encarando o direito à educação para todos. O estudo da Pedagogia nos remete ao estudo da escola. Tanto uma como a outra demandam, além do exame da história, a reflexão sobre os aspectos filosóficos, sociais, políticos e pedagógicos da educação. Quando se pensa na função da educação escolar, não podemos deixar de responder a certas perguntas como: • em que concepção de mundo acreditamos? • que homem queremos formar? Que valores iremos trabalhar? • quem é o meu aluno hoje? • em que realidade o aluno com quem trabalho está inserido? • que tipo de cidadão desejo formar? • que currículo poderá contribuir para a formação desse aluno? Que metodologia? Que tipo de avaliação? Tais perguntas estão diretamente relacionadas às dimensões filosófica, social e política do trabalho do pedagogo. Por exemplo, quando se pensa na concepção de mundo e na visão de homem que se tem, a dimensão filosófica da educação está sendo evidenciada e o pedagogo, na função de orientador educacional,ao responder essas questões, juntamente com os demais membros da escola, deve relacioná-las ao tipo de conhecimento e aos valores que se quer construir com os alunos, à formação integral do indivíduo, às tendências educacionais e práticas cotidianas de sala de aula. Esses conceitos devem, sempre que possível, ser revistos com o coletivo de educadores da escola para que não se percam de vista as finalidades do trabalho educativo. 14 Unidade I Verifica-se, dessa forma, que ao refletir sobre a dimensão política de sua atuação, o profissional da Educação deve promover situações e atividades (grêmios, representações de alunos, trabalhos em grupo) que permitam aos alunos tomar decisões e vivenciarem as consequências de seus atos. Com relação à dimensão social da escola, o pedagogo atuante nas diversas áreas tem o papel fundamental de conhecer, interpretar e divulgar aos demais elementos da escola a realidade socioeconômica e psicológica do aluno, bem como da comunidade na qual está inserido, identificando suas necessidades a fim de superar as dificuldades encontradas. A dimensão pedagógica da escola traduz-se pelas questões relativas ao currículo, como a seleção dos objetivos, conteúdos, metodologia e formas de avaliação. O profissional da Educação auxiliará no planejamento desses aspectos ao lembrar, sempre que possível, aos educadores, do universo social, cultural, afetivo e cognitivo do aluno. De acordo com Placco (1998, p. 115) cabe ao pedagogo, atuando como orientador, formar o cidadão responsável e transformador: o papel básico do orientador educacional será o de auxiliar o educando a tornar-se consciente, autônomo e atuante nessa tarefa, auxiliando também o aluno, na identificação de seu processo de consciência, dos fatores socioeconômico-político-ideológico que o permeiam e dos mecanismos que lhe possibilitem superar a alienação decorrente desses processos, tornando-se assim, um homem-coletivo: responsável e transformador. O pedagogo busca meios emancipatórios para atingir seus objetivos, assumindo um compromisso com o momento social e histórico e contribuindo para a formação de homens mais críticos, conscientes e participativos na sociedade. Essa tarefa não é nada simples, pois muitas vezes os educadores entram em conflito, porque os aspectos idealizados de uma escola desejada não condizem com a realidade concreta. A escola está inserida na sociedade, vivenciando os problemas oriundos dessa, como a violência, a pobreza, o desemprego, a fome, a falta de moradia, os problemas de saúde, as drogas, entre outros, que têm reflexos explícitos no interior dessa instituição. Além disso, os profissionais da escola, não raramente, sentem-se frustrados por terem dificuldade em operacionalizar os objetivos e metas educacionais, ora por falta de conhecimento, ora por falta de recursos. Ao pedagogo que atua na coordenação pedagógica, orientação educacional, supervisão escolar e gestão, cabe, a todo o momento, auxiliar os educadores a relembrarem tais objetivos e finalidades e buscar soluções pedagógicas e metodológicas, redescobrindo o papel da escola na formação do sujeito e na construção de cidadão. Nesse sentido, é na escola que o aluno aprende a conviver com o outro, a aceitar a diversidade cultural, a participar e a lutar pelo bem comum, a conviver com dificuldades e contradições, a trabalhar com o diálogo, a defender seus direitos e a dialogar. 15 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Para Grinspun (2006), a escola é um espaço de conhecimento, crenças, mitos, razões e emoções. O grande segredo é descobrir o que é verdadeiro para escola, como instituição e para seus protagonistas, como cidadãos. Para tanto, é importante conhecer a realidade da sala de aula, o que possibilitará ao pedagogo caminhar junto com seus protagonistas. As dimensões sociais, filosóficas, políticas e pedagógicas também estão contidas na questão da educação para trabalho, tanto em relação à orientação vocacional, mas principalmente no que se refere à discussão da relação trabalho/emprego. Dimensão política Escola Dimensão social Dimensão filosófica Dimensão pedagógica Profissional da educação Figura 2 – Profissional da educação em suas diversas dimensões Desse modo, ressalta-se, todavia, que a gestão da organização, bem como a organização da gestão, têm como fatores determinantes: a criação, recriação e manutenção de um ambiente de aprendizagem que leve à inovação. Essa mudança requer dos atores envolvidos na organização uma mobilização constante visando ao combate à inércia, ou seja, “um conjunto de alterações deliberadas e planificadas que poderão afetar significativamente os padrões e as relações de trabalho estabelecidos, bem como os autoconceitos dos indivíduos e dos grupos” (Glatter, 1992, p. 145). 1.2 A pesquisa como instrumento de conhecimento da escola Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade Paulo Freire A importância da pesquisa para a ação do pedagogo, atuando em supervisão escolar/coordenação pedagógica e orientação educacional dá-se na proporção em que os profissionais iniciam suas observações, formulam questões ou hipóteses de pesquisa, bem como a selecionar dados e instrumentos que possam elucidar tais questões. Para tanto André (1999, p. 353) adverte que a pesquisa deve obedecer a critérios, tais como: 16 Unidade I em primeiro lugar, propiciar o acesso aos conhecimentos científicos – trazer aos professores (consumidores da pesquisa) as novas conquistas no campo específico de conhecimentos. Deve, além disso, levar o aluno professor a assumir um papel ativo no seu próprio processo de formação, e mais, a incorporar uma postura investigativa que acompanhe continuamente sua prática profissional. De sorte que a autora apoia sua visão nas chamadas pedagogias ativas, razão pela qual defende que os programas de formação e aperfeiçoamento docente incluam entre seus objetivos o desenvolvimento das habilidades básicas de investigação. Parafraseando ainda André (1999), cabe ao pedagogo o papel de planejar e orientar o processo de ensino ao professor e de aprendizagem para o aluno, e junto com ambos, avaliar os resultados alcançados, tanto no decorrer da ação quanto na fase final do processo. Como o professor tem relevante papel no processo de ensino e aprendizagem, supervisor escolar e orientador educacional têm um papel importante no planejamento, no acompanhamento e avaliação das atividades realizadas na escola, cabendo-lhe, mais especificamente, de acordo com a referida autora, as seguintes tarefas: • coordenar todo o processo; • dar os estímulos iniciais; • orientar os docentes na busca de fontes, escolha de métodos e seleção de informações relevantes; • propor aos professores modos de sistematizar, interpretar e relatar os dados. Daí, considerar como André (1999, p. 354) que a finalidade do processo de ensino-aprendizagem “é a formação de sujeitos autônomos, capazes de compreender a realidade que os cerca e de agirem sobre ela”. Para tanto, propõe a utilização da metodologia como elemento formador, de modo a desenvolver habilidades como: • observar; • formular questões; • formular hipóteses; • selecionar dados; • selecionar instrumentais; • elucidar questões e hipóteses; • expressar suas descobertas; • expressar suas novas dúvidas. 17 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL A pesquisa possibilita, assim, um processo significativo da construção da prática da supervisão. E isto é possível, como bem diz André (1999, p. 354), porque é na problematização da realidade que se originam as questões a serem perseguidas e é a partir delas que são escolhidos métodos de trabalho e técnicas de coleta de dados – o que requer um aprendizadode observação e análise da realidade e um conhecimento de instrumentais para sua apreensão. À luz dessa perspectiva, exige-se um envolvimento ativo de todos os atores, de modo que seja possível haver o compartilhar de experiências e, caso necessário, reelaborá-las, por meio de estudo e reflexão. Além disso, André (1999) destaca o papel fundamental das interações sociais no processo de formação do profissional da educação investigador, por meio do diálogo e da partilha de saberes e experiências. A interação é necessária “tanto na definição dos temas e problemas de interesse comum quanto na busca conjunta de alternativas para seu equacionamento” (1999, p. 355). Desse modo, para buscar melhores resultados, o pedagogo deverá analisar os dados pertinentes ao desempenho de professores e alunos nos dois primeiros bimestres e, ao lado da Direção, propor ações efetivas para melhorar esse desempenho. Será necessário discutir esses resultados, tanto em grupo, como individualmente, com os professores. Essa conversa e troca de informações com os docentes envolvidos mostram-se imprescindíveis, a fim de que se conheçam, em profundidade, as características desses profissionais da escola. Saiba mais Para saber mais sobre pesquisa como instrumento de conhecimento da escola, leia: ANDRÉ, M. E. D. A. Autores ou atores? O papel do sujeito na pesquisa. In: LINHARES et al. Os lugares dos sujeitos na pesquisa educacional. Campo Grande: UFMS, 1999. 1.3 Unidades escolares como organizações aprendentes: aspectos culturais e organizacionais A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos e relações que um grupo estabeleceu enquanto sistema social. Assim também o é na escola, os contextos organizacionais são estabelecidos, desenvolvidos pelos atores de determinada organização em suas inter-relações para aprender a lidar com os problemas de adaptação e integração do grupo. De acordo com Nóvoa (1995), as organizações escolares, mesmo integradas em um contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que é válida na expressão dos valores e crenças de que o grupo partilha. 18 Unidade I Portanto, o desenvolvimento de ações que proporcionem a integração dos membros do grupo no processo é de grande importância para que essa cultura organizacional seja estabelecida a fim de estabelecer o processo de reflexão educativa. Assim, a cultura da escola é: ativamente construída pelos atores, mesmo que inconscientemente. Trata-se, enfim, de um processo dinâmico, evolutivo, de um processo de aprendizado que se desenvolve através das soluções que um grupo encontrou para problemas surgidos. O conteúdo de uma cultura pode ser definido [...] como soma das soluções que funcionaram suficientemente bem para que se tornem evidentes e sejam transmitidas aos recém-chegados como formas corretas de captar, de pensar, de sentir e de agir (Schein apud Thurler, 1998, p. 183). A cultura organizacional corresponde, de certo modo, a clima organizacional, ambiente, clima, entretanto a utilização do termo cultura sugere uma abordagem antropológica, como expõe Libâneo (2003). O conhecimento cultural dos atores pertencentes à escola contribui sobremaneira para a definição de cultura organizacional da instituição de que fazem parte, o que pode significar a formação de uma cultura própria. Daí dizer-se que essa cultura pode ser modificada, discutida, avaliada, planejada em um rumo que responda aos interesses e anseios do grupo, e, então, falar em organização aprendente, na qual, segundo Thurler (2007, p. 178), raciocínio construtivo e argumentativo decorrente leva os atores individuais e coletivos a defenderem suas posições, a empreenderem avaliações, a emitirem atribuições, buscando sistematicamente explicar seus propósitos, confrontar seus raciocínios e testar a validade destes últimos. [...] A organização passa, então, a ser um sistema em que a aprendizagem em dupla espiral (pela reflexão em ação) pode intervir de modo duradouro: ela se habitua a interrogar e a explicitar as representações sociais. Assim, cultura organizacional pode ser definida como: o conjunto de fatores sociais, culturais e psicológicos que influenciam os modos de agir da organização como um todo e o comportamento das pessoas em particular. Isso significa que, além daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais e rotinas administrativas que identificam as escolas, há aspectos de natureza cultural que as diferenciam uma das outras, não sendo a maior parte deles nem claramente perceptíveis nem explícitos. [...]. A cultura organizacional aparece de duas formas: como cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura instituída refere-se às normas legais, à estrutura organizacional definida pelos órgãos oficiais, às rotinas, à grade curricular, aos horários, às normas disciplinares etc. A cultura instituinte é aquela que os membros da escola criam, recriam, em suas relações e na vivência cotidiana (Libâneo, 2003, p. 320). 19 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Para tanto, a unidade escolar como organização aprendente, discute, reflete, avalia e planeja de modo que as respostas às necessidades correspondam aos almejos e aspirações da comunidade de aprendizagem. A cultura organizacional como ponto de ligação com as áreas de atuação dos atores da organização aprendente, logo a ação pedagógica constitui-se fator de grande importância para a tomada de decisão, seja no âmbito da escola ou no âmbito do sistema. Cultura organizacional Gestão Currículo Avaliação Processo pedagógico Desenvolvimento profissional Ação pedagógica Ação pedagógica Figura 3 Adaptada de: Libâneo (2003, p. 321). Certo é que, para o desenvolvimento escolar como processo contínuo e espiralado, dentro do qual as mudanças individuais ocorram em benefício do coletivo, é necessário que a cultura organizacional seja elo entre os atores. É preciso que a unidade escolar torne-se uma organização aprendente, na qual o ambiente seja de aprendizagem coletiva, como disposto na espiral do desenvolvimento escolar de Thurler (2007, p. 180). Análise das práticas Definição de um projeto comum Exploração cooperativa Contextualização do plano de estudos Trocas sobre as finalidades da escola Avaliação e regulação internas Identificação das necessidades de formação Esclarecimento das abordagens didáticas Desenvolvimento escolar Figura 4 – Espiral do desenvolvimento escolar 20 Unidade I Sob esse enfoque, a cultura organizacional está associada à ideia de que as organizações indicam interações sociais entre as pessoas e que podem ser influenciadas em seu modo de agir conforme os fatores sociais, culturais e econômicos que as permeiam. As organizações escolares são constituintes de uma cultura sob a égide de determinado modelo de sociedade, o que denota que, atualmente, as tendências organizacionais apontam para uma gestão educacional que se caracteriza fundamentalmente por reconhecer a necessidade da participação dos atores que fazem parte, direta ou indiretamente, da organização escolar. Para isso, é preciso conhecer bem os objetivos e o funcionamento de uma unidade escolar, suas condições sociais, organizacionais, administrativas e pedagógico-didáticas. Interação com a comunidade Bases conceituais e pressupostos invisíveis • Valores • Crenças • Ideologias Manifestações verbais e conceituais Manifestações visuais e simbólicas Manifestações comportamentais • Fins e objetivos • Currículo • Linguagem • Metáforas • Histórias • Heróis • Estruturas • Etc. • Arquitetura e equipamentos • Artefatos e logotipos • Lemas e divisas • Uniformes • Imagem exterior • Etc. • Rituais • Cerimônias • Ensino e aprendizagem • Normas e regulamentos • Procedimentos operacionais • Etc.Interação com a comunidade Figura 5 – Elementos da cultura organizacional Fonte: Nóvoa (1992, p. 30). O desenvolvimento profissional de cada um dos envolvidos, sejam professores, diretor, supervisor, orientador, requer certos saberes e competências, entre outros: • elaboração e execução do planejamento escolar: projeto pedagógico-curricular, planos de ensino, planos de aula; • organização e distribuição do espaço físico, qualidade e adequação dos equipamentos da escola e das demais condições materiais e didáticas; • estrutura organizacional e normas regimentais e disciplinares; • habilidades de participação e intervenção em reuniões de professores, conselho de classe, encontros, e em outras ações de formação continuada no trabalho; 21 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • atitudes necessárias à participação solidária e responsável na gestão da escola como cooperação, solidariedade, responsabilidade, respeito mútuo, diálogo; • habilidades para obter informação em várias fontes, inclusive nos meios de comunicação e informática; • elaboração e desenvolvimento de projetos de investigação; • princípios e práticas de avaliação institucional e avaliação da aprendizagem dos alunos; • noções sobre funcionamento da educação e controles contábeis, assim como formas de participação na utilização e controle dos recursos financeiros recebidos pela escola (Libâneo, 2004, p. 37). Saiba mais Para aprofundar o estudo da organização aprendente, leia: O estabelecimento escolar como organização aprendente. In: THURLER, M. Inovar no interior da escola. Porto Alegre: Artmed, 2001. 2 SISTEMAS DE ENSINO E ESCOLAS PARTICULARES A legislação educacional vigente, qual seja, LDBEN 9.394/1996, ao definir as competências e responsabilidades de cada ente federado (União, estados, Distrito Federal e municípios) com relação à oferta da educação, em seus diferentes níveis e modalidades, destaca que estes deverão organizar, em regime de colaboração, seus respectivos sistemas de ensino. Assim, esta Lei, em seu artigo 8º, diz que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino”. Portanto, de acordo com essa mesma legislação educacional em vigência, é competência dos municípios atuarem prioritariamente na Educação Infantil e Ensino Fundamental, enquanto cabe aos estados assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, prioritariamente, o Ensino Médio. No tocante ao Distrito Federal, a lei define que este ente deverá desenvolver as competências referentes aos estados e municípios, ou seja, oferecer toda a educação básica. Quanto ao papel da União, a LDBEN 9.394/1996 diz que a esta cabe a organização do sistema de educação superior e o apoio técnico e financeiro aos demais entes federados. O sistema de ensino é um sistema aberto que objetiva proporcionar educação, especialmente do aspecto escolarização. De acordo com Toschi (2003), sistema de ensino tende a ser considerado como o conjunto de escolas das redes, ou seja, o sistema de ensino compreende uma rede de escolas e sua estrutura de sustentação. Se tomarmos o significado da palavra, sistema supõe um conjunto de elementos ou unidades relacionadas, que são coordenadas entre si e constituem um todo. Afirma a mesma autora que embora o sistema escolar se estruture em um conjunto de organizações de ensino, as escolas não perdem sua 22 Unidade I especificidade de estabelecimentos pautados em regulamentos e leis que regulam sua organização e o funcionamento como unidade escolar. Todavia, como bem afirma Toschi (2003, p. 228), ao se organizarem em um sistema, esses elementos materiais (conjunto das instituições de ensino) e ideais (conjunto das leis e normas que regem as instituições educacionais) passam a formar uma unidade, no caso, um sistema de ensino. Ainda segundo Toschi (2003, p. 235), entende-se sistema de ensino “como o conjunto de instituições de ensino que, sem constituírem uma unidade ou primarem por seu caráter coletivo, são interligadas por normas, por leis educacionais, e não por uma intencionalidade”, no sentido administrativo, ao qual a legislação educacional se refere. Cabe ressaltar que o sistema de ensino é composto por três partes: • as instituições de ensino; • o órgão de administração (ministério ou departamento da educação, ou órgão equivalente); • o conselho de educação. No instrumento da legislação educacional, qual seja, LDBEN 9.394/1996, em seu art. 8º, estabelece-se que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem organizar, em regime de colaboração, seus respectivos sistemas de ensino, cabendo à União a coordenação da Política Nacional de Educação, articulando os diferentes níveis e sistemas. Segundo Dias (2004, p. 95-96), o: sistema de ensino compreende: a) uma rede de escolas; b) uma estrutura de sustentação sendo que rede de escolas é o subsistema que se dedica à atividade-fim do sistema e tem duas dimensões: a) Dimensão Vertical que abrange os graus de ensino; b) Dimensão Horizontal que abarca as modalidades de ensino. 23 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Na esteira dos estudos de Dias (2004, p. 96), há a estrutura de sustentação do sistema de ensino que: constitui a estrutura administrativa do sistema de ensino e apresenta: a) elementos não materiais: - normas (disposições legais, disposições regulamentares e disposições consuetudinárias); - metodologia de ensino; - conteúdo do ensino: currículos e programas. b) entidades mantenedoras: - instituições escolares mantidas pelo Poder Público federal, estadual e municipal; - instituições escolares particulares – leigas ou confessionais; - entidades mistas: autarquias etc. c) administração: compreende os organismos que têm por finalidade a gestão do sistema de ensino. Diante do exposto, para melhor elucidar, apresentamos o Sistema de Ensino em representação gráfica da seguinte forma: Unidades escolares Sistema de ensino Organização administrativo-executiva (secretarias, diretorias...) Organização normativa (conselhos) Figura 6 – Sistema de ensino 2.1 Sistema Federal de Ensino De acordo com o artigo 16 da LDBEN 9.394, o sistema federal de ensino diz respeito às instituições, aos órgãos, às leis e às normas que são de responsabilidade da União, do governo federal e são realizadas nos estados e municípios. Assim, além da responsabilidade pela manutenção das instituições federais, por meio do Ministério da Educação, supervisiona e inspeciona as diversas instituições de ensino superior particulares. A normatização deste sistema é realizada pelo órgão colegiado, Conselho Nacional de Educação (CNE). 24 Unidade I 2.2 Sistema Estadual de Ensino Conforme disposto na Constituição Federal de 1988, em seu art. 24, cabe à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar sobre educação, cultura, ensino e desporto. Assim, no artigo 17 da referida lei educacional vigente, fazem parte do sistema estadual de ensino as instituições de ensino estaduais. Entretanto, além da manutenção de suas escolas, cabe a este sistema a função de disciplinar e controlar a educação particular, fundamental e média, ensino supletivo e cursos livres que acontecem fora do âmbito escolar, por meio da Secretaria Estadual de Educação e do Conselho Estadual de Educação (CEE), que exerce função normativa, deliberativa, consultiva e fiscalizadora da rede oficial e particular. A Secretaria Estadual de Educação possui, em sua estrutura, as Diretorias Regionais de Ensino que têm como função precípua “implementar as políticas públicas estaduais dentro de sua área de abrangência” (Lanza, 2003). 2.2.1 Diretoria Regional de Ensino no Sistema Estadual de Ensino A Diretoria Regional de Ensino é uma unidade administrativa da Secretaria de Estado da Educação instituída como medida de descentralização para promoção e fortalecimento da gestão local na implantação da política educacional. Trata-se, portantode um órgão público que responde pela educação em determinada região de um estado. As Diretorias de Ensino respondem pela coordenação, supervisão, planejamento e execução das atividades administrativo-pedagógicas nas escolas de responsabilidade do estado, assim como pela supervisão e assistência técnica para as unidades de ensino da rede particular, e das unidades municipais quando o Município não possui supervisão escolar e sistema próprios. No estado de São Paulo, as Diretorias Regionais de Ensino têm entre suas atribuições: • executar a política educacional da Secretaria da Educação; • acompanhar o desenvolvimento do ensino; • prestar assistência técnico-administrativa aos diretores de escola de sua área de atuação; • controlar e avaliar as atividades administrativas da sua área de jurisdição; • supervisionar atividades pedagógicas e de orientação educacional; • colaborar na difusão e implementação das normas pedagógicas emanadas dos órgãos superiores; • avaliar os resultados do processo ensino-aprendizagem; • analisar dados relativos à Diretoria e elaborar alternativas de solução para os problemas específicos de cada nível e modalidade de ensino; • assegurar a retroinformação ao planejamento curricular; • sugerir oportunidades de formação para os recursos humanos da diretoria de acordo com a necessidade; • dar pareceres, realizar estudos e desenvolver outras atividades relacionadas com as suas atribuições. 25 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 2.3 Sistema Municipal de Ensino Do sistema municipal de ensino, fazem parte as unidades escolares municipais, o órgão administrativo da Secretaria Municipal de Educação e as instituições de ensino particulares de Educação Infantil, também compõe o sistema municipal de ensino, o Conselho Municipal de Educação que, em conformidade com a legislação educacional estadual e federal, exerce função normativa, deliberativa, consultiva e fiscalizadora da rede municipal de ensino e das escolas particulares de Educação Infantil. Saiba mais Para aprofundamento sobre o tema Sistemas de Ensino, leia o capítulo 5, nas páginas 89-98: Sistema Nacional de Ensino. In: MENESES, J. G. et al. Educação básica: políticas, legislação e gestão – leituras. São Paulo: Thomson, 2004. No que tange às escolas particulares, em seu art. 20, a referida lei estabelece que as instituições privadas de ensino enquadrar-se-ão nas seguintes categorias: I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as características dos incisos abaixo; II – comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de pais, professores e alunos, que incluam em sua entidade mantenedora representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei n. 11.183, de 2005); III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; IV - filantrópicas, na forma da lei. A necessidade de conhecimento dos preceitos legais e estruturais da educação é de suma importância para a formação do pedagogo, visto que o modelo econômico neoliberalista estabelecido no Brasil, bem como as transformações que ocorrem mundialmente em nível tecnológico, informacional, mudanças nos processos de produção e organização do trabalho, atingem o sistema educacional, exigindo adequações aos interesses de mercado e investimentos na formação de profissionais mais preparados para tais modificações. 26 Unidade I Certo é que a escola de hoje não pode se limitar a passar informação sobre as matérias, a transmitir o conhecimento do livro didático. Na escola, por meio dos conhecimentos e pelo desenvolvimento das competências cognitivas, torna-se possível analisar e criticar a informação. De acordo com Mendes (2007, p. 49), a gestão educacional deve trazer em seu bojo ideias dinâmicas e integralizadoras das dimensões sociais e políticas, não sendo possível, de certa forma, admitir princípios orientadores pautados numa administração de cunho legalista, burocrático e centralizador. Uma construção gradativa vem sendo proposta de acordo com preceitos de administração/gestão com perspectivas formativas, socializadoras, comunicativas e participativas, estando em consonância com uma visão democrática de sociedade. No que diz respeito à gestão educacional, as questões administrativas e pedagógicas entrelaçam-se em um ato coordenado e coletivo e, tomando de empréstimo as palavras de Lima (2002a, p.42): a construção da escola democrática constitui, assim, um projeto que não é sequer pensável sem a participação ativa de professores e de alunos, mas cuja realização pressupõe a participação democrática de outros setores e o exercício da cidadania crítica de outros atores, não sendo, portanto, obra que possa ser edificada sem ser em co-construção. Por isso, torna-se necessário que a unidade escolar, seja ela pública ou privada, proporcione a capacidade de articular a recepção e a interpretação da informação, com a de produção de informações, considerando-se desse modo, o aluno como sujeito de seu próprio conhecimento. Segundo Libâneo (2004, p. 53), para que a escola exercite seu papel na construção da democracia social e política, são propostos cinco objetivos: • promover o desenvolvimento de capacidades cognitivas, operativas e sociais dos alunos (processos mentais, estratégias de aprendizagem, competências do pensar, pensamento crítico), por meio dos conteúdos escolares; • promover as condições para o fortalecimento da subjetividade e da identidade cultural dos alunos, incluindo o desenvolvimento da criatividade, da sensibilidade, da imaginação; • preparar para o trabalho e para a sociedade tecnológica e comunicacional, implicando preparação tecnológica (saber tomar decisões, fazer análises globalizantes, interpretar informações de toda natureza, ter atitude de pesquisa, saber trabalhar junto etc.); • formar para a cidadania crítica, isto é, forma um cidadão-trabalhador capaz de interferir criticamente na realidade para transformá-la e não apenas formar para integrar o mercado de trabalho; • desenvolver a formação para valores éticos, isto é, formação de qualidades morais, traços de caráter, atitudes, convicções humanistas e humanitárias. Os sistemas de ensino e as escolas devem prestar mais atenção à qualidade cognitiva das aprendizagens, colocada como foco primordial do projeto pedagógico e de gestão escolar. 27 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Assim, a escola necessária para nosso tempo tem funções que não são providas por nenhuma outra instância, ou a de prover formação geral básica – capacidade de ler, escrever, formação científica, estética, ética, desenvolvimento de capacidades cognitivas e operativas. Uma escola de qualidade é aquela que inclui, uma escola não excludente, ou seja, contra a exclusão econômica, política, cultural, pedagógica. Há que se atentar para a educação para a igualdade, educação ambiental e intercultural, acolhedora da diversidade, isto é, reconhecedora dos outros como sujeitos de sua individualidade, portadores de identidade cultural própria. Trata-se de uma transformação das formas de pensar, de sentir, de comportar-se em relação aos outros com respeito. 3 A ESCOLA E SUA FUNÇÃO SOCIAL A partir deste ponto, vamos refletir sobre a escola e sua função social... ações pedagógicas desenvolvidas na escola hoje, bem como acerca do papel que a escola vem cumprindo na atualidade. Vejamos. A organização educacional, escola, é uma instituição social que tem objetivo claro de propiciar o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades,procedimentos, atitudes, e valores) de maneira contextualizada, a fim de tornar seus alunos cidadãos participativos na sociedade em que vivem. Portanto, o grande desafio que os profissionais da educação têm é fazer do ambiente escolar um meio favorecedor da aprendizagem, uma aprendizagem significativa, rumo ao encontro do saber. Como explicita Libâneo (2005, p. 117): Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove, para todos, os domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos. De acordo com Penin e Vieira (2002, p. 26), faz-se necessário que a escola repense sua organização, sua gestão, seus processos formadores, sua maneira de definir os tempos, os espaços, os meios e as formas de ensinar, ou seja, o seu jeito de fazer escola! É hora de jogar fora as roupas velhas e tornar a vestir a escola, a partir da essência, sua função social que permanece: ensinar bem e preparar os indivíduos para exercer a cidadania e o trabalho no contexto de uma sociedade complexa, enquanto se realizam como pessoas. Portanto, ter claro a função social da escola é imprescindível para a realização de uma prática pedagógica competente e socialmente comprometida. Como explicita Mendes (2007, p. 43), com a magnitude das questões e transformações dos processos de informação e comunicação que vêm ocorrendo, as exigências da sociedade, a necessidade de um novo olhar para as relações sociais, os processos de administração e gestão em unidades escolares apresentam-se cada vez mais complexos; consequentemente, as tarefas, a diversidade de objetivos, a falta de fluidez dos recursos e o número de 28 Unidade I trabalhadores demonstram a necessidade de novas competências, a capacidade de solucionar problemas, liderança e tomada de decisões para adaptação de situações vindouras. Desse modo, a partir do pressuposto da relação existente entre organização e ambiente, a organização escolar é considerada um sistema aberto, não exclutório, que se relaciona com seu meio, captando informações para orientar seus objetivos, e, de acordo com essa perspectiva, a escola pode ser vista como instituição social, pois é constituída da convivência e da realização de trabalho, uma construção social que “leva a pôr ênfase na ação dos indivíduos, nos seus interesses, nas suas estratégias, nos seus sistemas de ação concreta” (Barroso, 1996, p. 10). A escola, assim, para cumprir sua função social, precisa considerar as práticas existentes em nossa sociedade, considerando, também, as relações diretas e indiretas dessas práticas com a realidade específica da comunidade local a que presta seus serviços. É importante ressaltar, como afirma Gracindo (2007, p. 45) que: a escola ao assumir a qualidade social, está atenta ao desenvolvimento do ser social em todas as suas dimensões: no econômico (inserção no mundo do trabalho); no cultural (apropriação, desenvolvimento e sistematização da cultura popular e cultura universal); no político (emancipação do cidadão). Necessita-se: “olhar o mundo de um ponto de vista extraposto, totalmente diverso da percepção centrada num único ponto, para melhor captar o movimento dos fenômenos em sua pluralidade e diversidade” (Machado, 1997, p. 141); de uma discussão centrada em torno de toda a sua problemática, conduzida por meio de estudo e pesquisa com base sociocultural, histórica e epistemológica. Não se pode pensar em função social da escola, pensando-se educação inclusiva com políticas educacionais excludentes. É fundamental o estabelecimento pelo poder público de uma política educacional clara, com objetivos definidos e que garanta o atendimento escolar de qualidade a toda a população, bem como, serem abertos canais de participação das escolas e da população na definição ou reorientação dessa política. A função social da escola já, desde a década de 30 dos anos 1900, era defendida por educadores como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo entre outros, e pode ser verificada nos trechos extraídos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Novo, como bem aponta Penin (2001, p. 27): O papel da escola na vida e a sua função social A escola, campo específico de educação, não é um elemento estranho à sociedade humana, um elemento separado, mas “uma instituição social, um órgão feliz e vivo, no conjunto de instituições necessárias à vida, o lugar onde vivem a criança, a adolescência e a mocidade, de conformidade com os interesses e as alegrias profundas de sua natureza 29 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL [...] Dessa concepção positiva da escola, como uma instituição social, limitada na sua ação educativa, pela pluralidade e diversidade das forças que concorrem ao movimento das sociedades, resulta a necessidade de reorganizá-la, como um organismo maleável e vivo, aparelhado de um sistema de instituições suscetíveis de lhe alargar os limites e o raio de ação [...]. Cada escola, seja qual for o seu grão, dos jardins às universidades, deve, pois, reunir em torno de si as famílias dos alunos, estimulando as iniciativas dos pais em favor da educação; constituindo sociedades de ex-alunos que mantenham relação constante com as escolas; utilizando, em seu proveito, os valiosos e múltiplos elementos materiais e espirituais da coletividade e despertando e desenvolvendo o poder de iniciativa e o espírito de cooperação social entre os pais, os professores, a imprensa e todas as demais instituições diretamente interessadas na obra da educação. 4 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NA ESCOLA E A AÇÃO DO PEDAGOGO Ao planejar suas ações, o pedagogo deve ter em mente o que é planejamento. Para tanto, apresentamos o conceito de planejamento em formato de diagrama: Planejar é Levantar a situação atual Maior eficiência Estabelecer o que se deseja mudar Maior exatidão e determinação a fim de se obter Organizar a ação futura Maiores e melhores resultados Maximização dos esforços e gastos Figura 7 – Conceito de planejamento Fonte: Lück (1991, p. 25). A prática dos profissionais da educação, por meio de projetos, pesquisas, e planos de ação poderá oferecer ao aluno a possibilidade de desvelar sua própria história cultural/social, propiciando, assim, a formação da cidadania, bem como contribuir na prática docente para que os almejos sejam atingidos, de tal sorte que somente com uma ação contextualizada, planejada e organizada seja possível detectar a importância da parceria para o desenvolvimento das ações. 30 Unidade I Lembrete Ações sem direcionamento claro e objetivo de nada adiantam, senão para estabelecer um vazio pedagógico. Assim, por meio de uma prática planejada, o pedagogo poderá: 1. construir e estabelecer a relevância do seu trabalho; 2. garantir a natureza peculiar da prática do pedagogo; 3. estabelecer uma imagem positiva; 4. dar à prática profissional um caráter sistemático e contínuo; 5. demonstrar a importância e relevância do pedagogo para o desenvolvimento da prática pedagógica da escola como um todo (Lück, 1991, p. 25). Planejar significa estar com a mente aberta ao processo educativo, estar atento à sua amplitude, dinamicidade e continuidade. Segundo Lück (1991), planejar é pensar analítica e objetivamente sobre a realidade e sobre a sua transformação. Assim, ao pensar o planejamento, é preciso: Quadro 1 • o quê • identificar • por quê • para quê • analisar • como • se quer promover • quando • prever • onde • com quem • decidir • para quem 31 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Para planejar, é preciso Identificar o problema (situação atual) Estabelecer os objetivos (situação futura desejada) Caracterizada a situação de fato, deve-se Caracterizada a situação de fato, deve-se que se pretendem atingir Levantar Estabelecendo Resultados Mudanças Acrécimos Correções Melhorias1. O quê 1. O campo de ação 4. Quando 4. Limites de tempo para a realização da ação 2. Por quê 2. Os recursos a serem utilizados 5. Como 5. Atividade físicos financeiros humanos materiais 3. Para quê 3. As restrições existentes (obstáculos) 6. Onde 6. Métodos 7. Para quem 7. Recursos das atividades 8. Com quem Cronogramas de atividades Instrumentos e critérios de avaliação Montar Figura 8 – Passos do planejamento Fonte: Lück (1991, p. 79). 32 Unidade I Esboça Situação futura a partir de Situação atual Prevê Garante O planejamento se quer realizar da ação o quê objetividade como operacionalidade onde funcionalidade quando exequibilidade por quê prudutividade continuidade Figura 9 – Funções do planejamento Fonte: Lück (1991, p. 80). Assim, a escola, organização social, que corrobora para o desenvolvimento cognitivo é o lugar central do processo educativo, local em que se dá a formação da cidadania (entendida como exercício pleno pautado na democracia, por parte da sociedade, de seus direitos e deveres) e a mudança na unidade escolar, ou seja, lugar onde se concretiza o esforço de ensino-aprendizagem, conforme Silva apud Padilha (2002). A seguir, serão apresentados, de acordo com Padilha (2002, p. 57-59), quadros-síntese contendo algumas distinções que podem facilitar a definição de certas visões de planejamento educacional combinadas com as características e os fundamentos das diferentes teorias de administração/gestão: 33 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Quadro 2 – Características do planejamento educacional Categorias Tipos Características Níveis 1. Global ou de conjunto Para todo o sistema 2. Por setores Graus do sistema escolar 3. Regional Por divisões geográficas 4. Local Por escola Como processo 1. Técnico Por utilizar metodologia de análise, previsão, programação e avaliação 2. Político Por permitir a tomada de decisão 3. Administrativo Por coordenar as atividades administrativas 4. Sistêmico ou estratégico Visão total do sistema educacional, sentido amplo (recursos x oportunidades) 5. Tático Abrange todos os projetos e ações detalhadas e subordina-se ao Planejamento Estratégico Quanto ao prazo 1. Curto prazo 1 a 2 anos 2. Médio prazo 2 a 5 anos 3. Longo prazo 5 a 15 anos Como método 1. Demanda Com base nas demandas individuais de educação 2. Mão de obra Com base nas necessidades de mercado, voltado para o desenvolvimento do país 3. Custo e benefício Com base nos recursos disponíveis visando a maiores benefícios Fonte: Padilha (2002, p. 57). Quadro 3 Concepções Características Clássica Divisão pormenorizada, hierarquizada verticalmente, com ênfase na organização e pragmática Transitiva Planejamento seguindo procedimentos de trabalho, com ênfase na liderança Mayoista Visão horizontal, com ênfase nas relações humanas, na dinâmica interpessoal e grupal, na delegação de autoridade e na autonomia Neoclássica/Por objetivos Pragmática, racionalidade no processo decisório, particitipativa, com ênfase nos resultados e estratégia de corporação Tradição funcionalista Características(do consenso/positivista/evolucionista ) Burocrático Cumprimento de leis e normas. Visa à eficácia institucional do sistema, enfatiza a dimensão institucional ou objetiva Idiossincrático Enfatiza a eficiência individual de todos os que participam do sistema, portanto, a dimensão subjetiva Integradora Clima organizacional pragmático. Visa ao equilíbrio entre eficácia institucional e eficiência individual, com ênfase na dimensão grupal ou holística 34 Unidade I Tradição interacionista Características(conflito/teorias críticas e libertárias) Estruturalista Ênfase nas condições estruturais de natureza econômica do sistema. Enfatiza a dimensão institucional ou objetiva. Orientação determinista Interpretativa Ênfase na subjetividade e na dimensão individual. O sistema é uma criação do ser humano. A gestão é mediadora reflexiva entre o indivíduo e o seu meio Dialógica Ênfase na dimensão grupal ou holística e nos princípios de totalidade, contradição, práxis e transformação do sistema educacional Enfoques Características Jurídico Práticas normativas e legalistas/sistema fechado Tecnocrático Predomínio dos quadros técnicos/especialistas Comportamental Resgate da dimensão humana, ênfase psicológica Desenvolvimentista Ênfase para atingir objetivos econômicos e sociais Sociológico Ênfase nos valores culturais e políticos, contextualizados. Visão interdisciplinar Fonte: Padilha (2002, p. 58). Quadro 4 Concepções Tradição Funcionalista Enfoques Clássica Burocrática Jurídico e Tecnocrático Transitiva Idiossincrática e integradora Tecnocrático e comportamental Mayoista Integradora Comportamental Neoclássica/Por objetivos Burocrática e integradora Desenvolvimentista Fonte: Padilha (2002, p. 59). Quadro 5 Tradição interacionista Enfoques Estruturalista Jurídico e tecnocrático Interpretativa Comportamental Dialógica Sociológico Fonte: Padilha (2002, p. 59). Partindo-se dessa reflexão, organizar e planejar as atividades no âmbito escolar e educacional significa compreender as relações institucionais, interpessoais e profissionais que ocorrem na escola, ampliando e avaliando a participação dos diferentes segmentos em sua administração e gestão. Daí falar-se em planejamento na escola cidadã, essa questão associa-se diretamente à questão da Gestão Democrática do Ensino Público, de acordo com o exposto por Romão (apud Padilha, 2002). De sorte que planejar é um processo que visa a responder uma questão, estabelecendo fins e meios que apontem 35 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL para sua solução e superação, ou seja, atingir objetivos propostos anteriormente que levem em conta a historicidade e a prospecção futura. Tomando as palavras de Padilha (2002, p. 30) é possível afirmar que: O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação, processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir do resultado das avaliações. Assim, realizar os diversos planos e planejamentos educacionais e escolares significa exercer uma atividade engajada, comprometida e intencional. Saiba mais Para se aprofundar no tema, leia: Concepções de planejamento e planejamento educacional na perspectiva da escola cidadã. In: PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire, 2002, p. 45-71. Continuando nossa conversa sobre o planejamento, pergunto: “qual é o seu pensamento sobre planejamento?” Bem, aprofundemos um pouco mais a questão... Vamos lá? O planejamento é uma ação inerente ao ser humano em suas atividades cotidianas. No que diz respeito à atividade escolar, o ato de planejar é de extrema importância para o dia a dia. O planejamento escolar é importante momento de elaboração teórica do processo de organização pedagógica em ambientes escolares e não escolares, nos quais a reflexão sobre o acompanhamento e avaliação do processo ensino e aprendizagem podem sugerir uma possível intervenção na realidade escolar dos alunos de uma comunidade, seja ela no âmbito escolar ou não. Lembrete “O planejamento organiza, sistematiza, disciplina a liberdade: em nível individual e coletivo. Ele dá os paradigmas para o exercício da prática pedagógica” (Freire, 1997, p. 56). 36 Unidade I De sorte que o planejamento escolar constitui uma forma de ação que busca organizar coletivamente os espaços educativos em organizações escolares e não escolares. Entretanto, a ideia de planejar a organização pedagógica ainda encontra-se arraigada pela “experiência de elaboração de planos burocráticos, formais e controladores” (Vasconcellos, 1995, p. 25). É necessário lembrar que, como descrito por Vasconcellos (p. 25-26,grifos nossos): os autores mais progressistas, ao abordarem a problemática do planejamento, lembram que ele, antes de ser uma questão meramente técnica, é uma questão política, já que envolve posicionamento, opções, jogo de poder, compromisso com a reprodução ou com a transformação etc. Isto é um avanço, mas ainda não dá conta de uma questão mais elementar hoje colocada, que é a valorização do planejamento, o estar mobilizado para fazê-lo, entendê-lo realmente como uma necessidade. [...] O planejamento é político, é hora de tomada de decisões, de resgate dos princípios que embasam a prática pedagógica. Mas para chegar a isso, é preciso atribuir-lhe valor, acreditar nele, sentir que planejar faz sentido, que é preciso. [...] O desafio fundamental, portanto, está em resgatar a confiança nas possibilidades de êxito do sujeito, num sentido de invenção e criação, portanto de libertação. Planejar implica, pois, acreditar na possibilidade de mudança e na necessidade da mediação teórico-metodológica. O planejamento escolar, entendido como explicitado anteriormente, como processo político para a possível intervenção das condições cotidianas de nossas organizações escolares, exige que haja a participação, compromisso e comprometimento dos diversos segmentos que compõem a comunidade escolar. Assim, o plano construído não deve ser encarado apenas como instrumento que a unidade escolar faz para cumprimento de exigências do sistema ao qual está integrada, deixando-o de lado após concluí-lo. O planejamento escolar visto como parte integrante do processo organizacional: consiste numa atividade de previsão da ação a ser realizada, implicando definição de necessidades a atender, objetivos a atingir dentro das possibilidades, procedimentos e recursos a serem empregados, tempo de execução e formas de avaliação. O processo e o exercício de planejar referem-se a uma antecipação da prática, de modo a prever e programar as ações e os resultados desejados, constituindo-se numa atividade necessária à tomada de decisões. [...] Sem planejamento, a gestão corre ao sabor das circunstâncias, as ações são improvisadas, os resultados não são avaliados (Libâneo, 2004, p. 149). No momento de planejamento em ambientes escolares e não escolares, o que se pretende planejar são atividades de ensino e de aprendizagem determinadas por uma intenção educativa e que envolvem objetivos, valores, atitudes, conteúdos. Diante disso, vê-se que o planejamento não é de um indivíduo, 37 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL mas, sim, uma prática de elaboração conjunta e coletiva realizada por meio de discussões e reflexões interpessoais. O planejamento constitui, então, uma forma de ação que busca organizar coletivamente as comunidades, tendo neste processo a participação do supervisor escolar/coordenador pedagógico e do orientador educacional como grandes articuladores do processo de reflexão, participação e organização de meios para que se possa cumprir a tarefa de propiciar aprendizagem, seja em ambiente escolar ou não. Para tanto, cabe ao pedagogo na função de supervisão/coordenação e orientação educacional “a sistematização e integração do trabalho no conjunto, caminhando na linha da interdisciplinaridade” (Vasconcellos, 2007, p. 87). O supervisor escolar, em função do espaço em que atua, “tem tanto a interface com o “chão da sala de aula” (por meio do contato com os professores e alunos), quanto com a administração, podendo ajudar uns e outros a se aproximarem criticamente” (Vasconcellos, p. 89). Desse modo, é possível ampliar o conceito da supervisão: “líder de comunidades formativas” (Alarcão apud Vasconcellos, 2007, p. 90). Assim, toda atividade e relação educativa, seja em espaço escolar ou não escolar, implica um vínculo com o conhecimento, ou seja, epistemológico, o qual será objeto da ação supervisora. É como afirma Paulo Freire (apud Vasconcellos, 2007, p. 90): A educação, não importando o grau em que se dá, é sempre uma teoria do conhecimento que se põe em prática. [...] O supervisor é um educador e, se ele é um educador, ela não escapa na sua prática a esta natureza epistemológica da educação. Tem a ver com o conhecimento, com a teoria do conhecimento. O que se pode perguntar é: qual o objeto de conhecimento que interessa diretamente ao supervisor? Aí talvez a gente pudesse dizer: é o próprio ato de conhecimento que está se dando na relação educador/educando. Portanto, é possível afirmar que a ação supervisora, de coordenação pedagógica, bem como de orientação educacional são delineadas pelos processos de ensino e aprendizagem, onde quer que ocorram. Pode-se dizer então que o planejamento educacional tem como objetivos gerais: • estabelecer condições necessárias à eficiência do sistema educacional; • conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do sistema educacional; • alcançar maior coerência nos objetivos específicos e nos meios mais adequados para atingi-los. Lembre-se de que o pedagogo ao pensar em planejamento deverá centrar sua atenção em: 38 Unidade I Questões centrais no processo de planejamento: Meus educandos já sabem o quê? (zona real) Ainda não conhecem o quê? [...] Devo ensinar o quê? Como ensinar? Quando ensinar? Onde ensinar? (Freire, 1997, p. 56). 4.1 Planejamento: tipos e níveis e suas relações Tomando o significado dos verbetes planejamento e planejar, conforme o Dicionário Aurélio, vê-se que: • planejamento é o ato ou efeito de planejar. Trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados; • planejar designa fazer o plano de; projetar; traçar; fazer o planejamento de [...]. Logo, planejar, em sentido amplo, é um processo que visa a dar respostas a um problema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua superação, de modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem desconsiderar as condições do presente e as experiências do passado, levando em conta os contextos e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e de com quem se planeja (Padilha, 2002, p. 63). Planejamento é um processo contínuo e sistematizado de previsão de necessidades, de reflexão e análise crítica para tomada de decisão. Desse modo, planejamento como processo é permanente, já o produto desse planejamento, o plano, é provisório. A didática, por meio de estudos de diferentes autores faz distinção entre os tipos e/ou níveis de abrangência de planejamento, ressaltando-se, como bem afirma Gandin (2001, p. 83), que “[...] é impossível enumerar todos os tipos e níveis de planejamento necessários à atividade humana”. Planejamento educacional: significa a elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série de operações interdependentes, [...] com determinação de objetivos e de recursos disponíveis, a análise das consequências que advirão das diversas atuações, a determinação de metas a atingir em prazos bem definidos e o desenvolvimento dos meios mais eficazes para implantação da política escolhida (Menegolla; Sant’Anna apud Padilha, 2002, p. 32) ou Planejamento de Sistema de Educação: aquele que se refere às políticas educacionais em nível nacional, estadual e municipal (Vasconcellos, 1995). 39 ORIENTAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Planejamento escolar ou projeto educativo: aquele que pode ser concebido como processo que envolve a prática docente no cotidiano escolar, fruto do exercício contínuo da ação-reflexão-ação (Fusari apud Padilha, 2002, p. 34). O planejamento geral da escola é o processo de tomada de decisão quanto aos objetivos a serem atingidos e a previsão das ações pedagógicas e administrativas, o resultado desse tipo de planejamento é o plano escolar (Haydt, 2008, p. 95). O planejamento escolar atende, em geral, às seguintes funções: • diagnóstico e análise da realidade da escola: busca de informações reais e atualizadas que permitam identificar as dificuldades
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