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FACULDADE UNYLEYA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA LINDO JORGE MANHIQUE Avaliação dos factores de risco e protetores da COVID-19 em Médicos Dentista e auxiliar no exercício Odontológico: Os desafios das fronteiras sanitárias no Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Moçambique Brasília, DF 2023 LINDO JORGE MANHIQUE Avaliação dos factores de risco e protetores da COVID-19 em Médicos Dentista e auxiliar no exercício Odontológico: Os desafios das fronteiras sanitárias no Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Moçambique Dissertação apresentado ao departamento de ciências de saúde na Faculdade Unyleya, como requisito parcial de para obtenção de grau de mestre em Saúde Pública. A Supervisora: _________________________________ Chennyfer Dobbins Abi Rached i LINDO JORGE MANHIQUE Avaliação dos factores de risco e protetores da COVID-19 em Médicos Dentista e auxiliar no exercício Odontológico: os desafios das fronteiras sanitárias no Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Moçambique Dissertação apresentado ao departamento de ciências de saúde na Faculdade Unyleya, como requisito parcial de para obtenção de grau de mestre em Saúde Pública. Aprovado em: ____/____/_____ BANCA EXAMINADORA __________________________________ Nome, titulação, assinatura e instituição a que Pertence ___________________________________ Nome, titulação, assinatura e instituição a que Pertence ____________________________________ Nome, titulação, assinatura e instituição a que pertence ii iii DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a Deus, Pai, Criador do universo porque nada seria possível sem Ele; a minha família e especial a minha esposa. iv AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar direciono o meu agradecimento a Deus, pela saúde, sabedoria e energias suficientes para superar todos os obstáculos e momentos mais tristes ao longo do curso. A Universidade Unyleya, ao corpo docente pela maneira sábia que transmitiram seus conhecimentos e pelo apoio incondicional e motivação demonstrados de forma a garantir que este sonho se tornasse numa realidade, em especial a minha tutora pela paciência, apoio árduo e vontade que prestou a quanto da supervisão desta monografia científica. E em segundo lugar, agradeço a minha esposa e companheiro Leveja Teresa Alide Mário, pela forma serena, paciência e compreensão, que com todo o afeto e carinho me tratou nos momentos em que mais apoio físico e moral precisei, aos meus pais Jorge Laquiço Manhique (em memória) e Anita Macuhane Mutondo por terem me gerado e pela educação que me deram; aos meus filhos Tarcísia Leveja Manhique, Gérsio Arlindo Manhique e Eliane Arlindo Manhique, aos meus irmãos Arcanjo Jorge Manhique; Afonso Jorge Manhique, Dulce Anita Manhique, aos meus cunhados Viegas Mario, Loise Mário, Nora Mário, Neusa Mário. Aos meus colegas do curso de 2022, que na integração grupal dentro das divergências e concordâncias contribuíram de diferentes formas em suas visões científicas. A todos o meu muito obrigado. v EPÍGRAFE - A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê. De: Arthur Schopenhauer - Parerga und Paralipomena (1851). vi RESUMO Introdução: O presente trabalho possui o tema avaliação dos factores de risco e protetores da COVID-19 em médicos dentista e auxiliar no exercício odontológico: os desafios das fronteiras sanitárias no sistema nacional de saúde SNS) de Moçambique. Dentro deste tema se pretende principalmente avaliar o grau de associação do COVID-19 em relação ao padrão da atenção odontológico em Unidades Sanitárias, num contexto problemático que acidentes ocupacionais que ocorrem em hospitais estão relacionados a diversos fatores e frequência de procedimentos realizados também é um dos fatores que contribui para a exposição desses profissionais. Os riscos gerados podem afetar também o paciente, as barreiras utilizadas na prevenção de riscos são Equipamentos de Proteção Individual (EPI) adoção de medidas preventivas e imunização. O risco de transmissão de infecção para o trabalhador de área de saúde. A questão que grita é, Será que estas barreiras são suficientemente significativas no contexto do novo coronavírus no sector estomatológico? Metodologia: Para responder os objectivos foi desenhado este estudo do tipo retrospectivo Caso-controle, com dados individuais analítico. O estudo em campo foi aplicado na cidade de Nampula em quatro unidades sanitárias com as amostras definidas o HCN, HMN, HGM, CS25S e PS1M, com amostragem por conveniência. Dessa forma, se buscam, em geral com aplicação de um questionário apartir de google forms, as informações referentes aos fatores de risco e protetores aos quais os indivíduos, foram depois processados pelos softwares Excel e de seguida por SPSS para obter informações frequências e cruzamentos de variáveis. Resultados: nenhuma variável corresponde ao pressuposto definido como factor de risco ou protetores, esta sentença corrobora a aceitar a hipótese alternativa, a qual se estabeleceu que as barreiras protetoras e factores de riscos conhecidas não são suficientemente significativas no contexto do novo coronavírus no sector estomatológico, ou seja, os factores de riscos e protetores face ao COVID-19 embora cumpridas não mostra diferenças com aqueles que não cumprem. Conclusão: O que se pode compreender que a frequência do uso dos EPI's é um factor protetor em relação a outras infecções durante as actividades estomatológico e não para o COVID-19. Entretanto, tais fatores, na medida em que se relacionam com condições de trabalho. Chegando ao ponto que se pode dizer com certeza que com COVID-19, quebra todas as fronteiras sanitárias do sistema sanitário Moçambicano (SNS), uma vez que em sete factores umas protetoras e outras de riscos não se mostraram significante em relação as suas funções importância. PALAVRAS-CHAVES: Factores; Riscos; Protetoras, COVID-19; Estomatologia. vii ABSTRACT Introduction: The present work has the theme evaluation of risk factors and protectors of COVID-19 in dentists and assist in dental practice: the challenges of health borders in the national health system SNS) of Mozambique. Within this theme, it is mainly intended to evaluate the degree of association of COVID-19 in relation to the pattern of dental care in Health Units, in a problematic context that occupational accidents that occur in hospitals are related to several factors and frequency of procedures performed is also one of the factors that contributes to the exposure of these professionals. The risks generated can also affect the patient, the barriers used in risk prevention are Personal Protective Equipment (PPE) adoption of preventive measures and immunization. The risk of transmission of infection to the health worker. The question that screams is, are these barriers significant enough in the context of the new coronavirus in the stomatological sector? Methodology: To answer the objectives, this retrospective case-control study was designed, with individual analytical data. The field study was applied in the city of Nampula in four sanitary units with the samples defined the HCN, HMN, HGM, CS25S and PS1M, with convenience sampling. Thus, information referring to the risk factors and protectors to which individuals are generally sought with the application of a questionnaire from google forms, were sought by the application of a questionnaire to obtain frequency information and crossings of variables. Results: no variablecorresponds to the assumption defined as risk or protective factor, this sentence corroborates to accept the alternative hypothesis, which established that the protective barriers and known risk factors are not sufficiently significant in the context of the new coronavirus in the stomatological sector, that is, the risk factors and protectors against COVID-19 although fulfilled do not show differences with those that do not comply. Conclusion: What can be understood that the frequency of use of PPE is a protective factor in relation to other infections during stomatological activities and not for COVID-19. However, such factors, as they relate to working conditions. Reaching the point that it can be said with certainty that with COVID-19, it breaks all the sanitary boundaries of the Mozambican sanitary system (SNS), since in seven factors some protective and others of risks were not significant in relation to its important functions. KEYWORDS: Factors; Risks; Protectors, COVID-19; Stomatology. viii LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS Pág. Figura 1. Mecanismo de agressão directa do Coronavírus _________________________ 25 Figura 2. Mecanismos potenciais de lesão miocárdica na COVID-19 ________________ 26 Figura 3. Algoritmo de testagem usando TDR-antígeno SARS-CoV-2 em Moçambique_ 29 QUADROS Pág. Quadro 1. Critério de inclusão de variáveis na pesquisa __________________________ 38 Quadro 2. Definição das variáveis do estudo ___________________________________ 39 Quadro 3. Codificação das questões a serem analisadas __________________________ 39 Quadro 4. Levantamento dos factores de riscos e protectoras da COVID-19 __________ 44 Quadro 5. Súmulas dos resultados de significância e valor, Pearson e Cramer respectivamente _________________________________________________________ 68 GRÁFICOS Pág. Gráfico 1. Frequência obtida do sexo dos participantes da pesquisa _________________ 46 Gráfico 2. Frequência obtida das idades dos participantes da pesquisa _______________ 46 Gráfico 3. Frequência obtida das Unidades Sanitárias envolvidas na pesquisa _________ 47 Gráfico 4. Frequência obtida das funções desempenhadas pelo dos participantes da pesquisa nas suas US _____________________________________________________________ 47 Gráfico 5. Frequência obtida das formações académicas dos participantes da pesquisa __ 48 Gráfico 6. Itens de EPI’s utilizadas nos exercícios das funções dos participantes da pesquisa ______________________________________________________________________ 49 Gráfico 7. Frequência obtida das infecções pelo COVID-19 nos participantes da pesquisa ______________________________________________________________________ 49 Gráfico 8. Frequência obtida dos participantes da pesquisa imunizados contra o COVID-19 ______________________________________________________________________ 49 file:///E:/tcc%20finally.docx%23_Toc128494123 file:///E:/tcc%20finally.docx%23_Toc128494124 ix Gráfico 9. Frequência obtida de outras doenças que os participantes da pesquisa se sujeitaram fora do COVID-19 ______________________________________________ 49 ANEXOS Pág. Anexo 1. Base de dado bruto obtido do google forms ____________________________ 84 Anexo 2. Definição de valores na Base de dados filtrado no SPSS __________________ 85 Anexo 3. Entradas dos resultados no software SPSS _____________________________ 86 Anexo 4. Entrada do Hospital central de Nampula no coração da cidade de Nampula ___ 87 Anexo 5. Entrada do Hospital Geral do Marrere no bairro do Marrere posto administrativo de Natikire _____________________________________________________________ 87 Anexo 6. Entrada do Centro de Saúde 25 de setembro na Nampula _________________ 88 x LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1. Pontos focais onde estão localizados os as Unidades Sanitárias na cidade de Nampula _______________________________________________________________ 37 Tabela 2. Estatística geral da pesquisa apresentada ______________________________ 45 Tabela 3. Frequência obtida de utilização de EPI’s dos exercícios das funções dos participantes da pesquisa __________________________________________________ 48 Tabela 4. Sumário dos casos processados na associação de variáveis por cruzamento de tabelas _________________________________________________________________ 50 Tabela 5. Cruzamento de tabelas entre as variáveis estar infectado e a área de formação em saúde __________________________________________________________________ 51 Tabela 6. Teste Q-Quadrado entre as variáveis estar infectado e a área de formação em saúde ______________________________________________________________________ 52 Tabela 7. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer entre as variáveis estar infectado e a área de formação em saúde ___________________ 52 Tabela 8. Cruzamento de tabelas entre as variáveis estar infectado e a unidade sanitária o participante está inserido __________________________________________________ 53 Tabela 9. Teste Q-Quadrado entre as variáveis estar infectado e a unidade sanitária o participante está inserido __________________________________________________ 54 Tabela 10. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer entre as variáveis estar infectado e a unidade sanitária o participante está inserido _____ 54 Tabela 11. Cruzamento de tabelas entre as variáveis estar infectado e a principal função no sector estomatológico _____________________________________________________ 55 Tabela 12. Teste Q-Quadrado entre as variáveis estar infectado e a principal função no sector estomatológico __________________________________________________________ 56 Tabela 13. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer entre as variáveis estar infectado e a principal função no sector estomatológico _______ 56 Tabela 14. Cruzamento de tabelas entre as variáveis estar infectado e a frequência dos dias/semana que trabalha na US _____________________________________________ 57 Tabela 15. Teste Q-Quadrado entre as variáveis estar infectado e a frequência dos dias/semana que trabalha na US _____________________________________________ 58 Tabela 16. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer as variáveis estar infectado e a frequência dos dias/semana que trabalha na US ________ 58 file:///E:/tcc%20finally.docx%23_Toc128493402 file:///E:/tcc%20finally.docx%23_Toc128493402 xi Tabela 17. Cruzamento de tabelas entre as variáveis estar infectado e o conhecimento da importância destes EPI’s na prevenção de doenças de transmissão nasofaringica ______ 59 Tabela 18. Teste Q-Quadrado entre as variáveis estar infectado e o conhecimento da importância destes EPI’s na prevenção de doenças de transmissão nasofaringica ______ 60 Tabela 19. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer entre as variáveis estar infectado e o conhecimento da importância destes EPI’s na prevenção de doenças de transmissão nasofaringica ______________________________________ 60 Tabela 20. Cruzamento de tabelas entre as variáveis estar infectado e a frequência do uso destes EPI’s_____________________________________________________________ 61 Tabela 21. Teste Q-Quadrado entre as variáveis estar infectado e a frequência do uso destes EPI’s __________________________________________________________________ 62 Tabela 22. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer entre as variáveis estar infectado e a frequência do uso destes EPI’s ________________ 62 Tabela 23. Estimativa de risco entre as variáveis estar infectado e a frequência do uso destes EPI’s __________________________________________________________________ 62 Tabela 24. Cruzamento de tabelasentre as variáveis estar infectado e estar imunizado com a vacina contra Covid-19 antes de ser infectado pelo vírus _________________________ 63 Tabela 25. Teste Q-Quadrado entre as variáveis estar infectado e estar imunizado com a vacina contra Covid-19 antes de ser infectado pelo vírus _________________________ 64 Tabela 26. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer entre as variáveis estar infectado e estar imunizado com a vacina contra Covid-19 antes de ser infectado pelo vírus ____________________________________________________ 64 Tabela 27. Estimativa de risco entre as variáveis estar infectado e estar imunizado com a vacina contra Covid-19 antes de ser infectado pelo vírus _________________________ 64 Tabela 28. Cruzamento de tabelas entre as variáveis estar infectado e outras infeções durante o atendimento/desempenho da tua função _____________________________________ 65 Tabela 29. Resultado do coeficiente de contingência e dos coeficientes Phi e V de Cramer entre as variáveis estar infectado e outras infeções durante o atendimento/desempenho da tua função ______________________________________________________________ 66 Tabela 30. Estimativa de risco entre as variáveis estar infectado e outras infeções durante o atendimento/desempenho da tua função _______________________________________ 66 xii ABREVIAÇÃO, ACRÓNIMOS E SIGLAS CIP Centro de Integridade Pública CRM Constituição da Republica de Moçambique CS Caso CS25S Centro de Saude 25 de Setembro CT Controlo EPC Equipamentos de Proteção Coletiva EPI Equipamentos de Proteção Individual HCM Hospital Central de Maputo HCN Hospital Central de Nampula HE Histórico de Exposição HGM Hospital Geral do Marrere HMN Hospital Militar de Nampula e MZN New Mozambique Metical nCoV-2019 Coronavirus Disease 2019 PS1M Posto de Saude 1º De Maio SARS-CoV-2 Síndrome Respiratória Aguda Grave e Coronavírus SHE Sem Histórico de Exposição SNS Sistema Nacional de Saúde TAS Trabalhador de Área de Saúde US Unidade Sanitária ÍNDICE GERAL Pág. I. INTRODUÇÃO ______________________________________________________ 1 1.1. Contextualização _______________________________________________ 1 1.2. Apresentação do tema e título do projeto _____________________________ 3 1.3. Problema ______________________________________________________ 3 1.4. Hipóteses _____________________________________________________ 6 1.5. Objectivos _____________________________________________________ 7 1.5.1. Objectivo geral _______________________________________________ 7 1.5.2. Objectivo específico ___________________________________________ 7 1.6. Justificativa ____________________________________________________ 8 CAPÍTULO I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ___________________________ 10 Subcapítulo 1. Generalidades ___________________________________________ 11 Subcapítulo 2. Acidentes ocupacional ____________________________________ 13 1.1. Tipo de transmissão ____________________________________________ 16 1.2. Risco de exposição ocupacional ___________________________________ 16 Subcapítulo 3. Relevância e estudos similares ______________________________ 19 Subcapítulo 4. A Covid-19 _____________________________________________ 22 1.1. Prospecção ___________________________________________________ 24 1.2. Fisiopatologia _________________________________________________ 25 1.2.1. SARS-CoV-2 e o mecanismo de agressão celular direta ______________ 25 1.2.2. Mecanismos da lesão miocárdica e COVID-19 _____________________ 26 1.2.3. Lesão miocárdica secundária ao desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio _________________________________________________________ 27 1.2.4. Lesão microvascular __________________________________________ 27 1.2.5. Resposta inflamatória sistêmica _________________________________ 28 1.3. Diagnósticos e síndromes associados _______________________________ 28 1.4. Medidas de Prevenção e Controle _________________________________ 30 Subcapítulo 5. Contexto Actual em Odontologia ____________________________ 31 14 CAPÍTULO II. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ___________________ 34 Subcapítulo 6. Tipo de estudo e delineamento prévio ________________________ 35 Subcapítulo 7. Descrição do local do estudo e Unidade de observação ___________ 37 Subcapítulo 8. Amostra e variáveis do estudo ______________________________ 38 1.1. Critérios de seleção dos participantes _______________________________ 38 1.2. Definição das Variáveis _________________________________________ 38 1.3. Codificação das variáveis ________________________________________ 39 Subcapítulo 9. Instrumentos de intervenção e medida ________________________ 41 Subcapítulo 10. Questões éticas no contexto do campo ________________________ 42 CAPÍTULO III. RESULTADOS & DISCUSSÃO ___________________________ 43 Subcapítulo 11. Resultados achados _______________________________________ 44 1.1. Levantamento dos factores de riscos e protectoras ____________________ 44 1.2. Analise dos dados ______________________________________________ 45 1.2.1. Frequência das variáveis _______________________________________ 46 1.2.2. Associações entre variáveis ____________________________________ 50 1.3. Interpretação dos achados ________________________________________ 67 1.3.1. Base do entendimento _________________________________________ 67 1.3.2. Abordagens interpretativas _____________________________________ 67 Subcapítulo 12. Discussão de resultados ___________________________________ 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________________ 73 LIMITAÇÕES & NOVAS LINHAS DE PESQUISA ____________________________ 75 REFERÊNCIAS CITADAS ________________________________________________ 76 ANEXOS ______________________________________________________________ 82 1 I. INTRODUÇÃO 1.1. Contextualização As ciências naturais e as ciências humanas tratam de objetos que não se parecem nem de longe. Com efeito, seus objetos são muito diferentes, por seu grau de complexidade e por sua facilidade de serem identificados e observados com precisão. Os fatos humanos são, por outro lado, mais complexes que os fatos da natureza (Laville & Dionne, 1999). Esta complexidade parte do dia-a-dia como individuo até no profissional. Doenças infecciosas emergentes e reemergentes são constantes desafios para a saúde pública mundial (Gonçalves & Belasco, 2020). O mais recente e assustador vírus que captou a atenção horrorizada do mundo, causou o isolamento de 56 milhões de pessoas na China, interrompeu os planos de viagem ao redor do mundo e provocou uma corrida por máscaras de proteção é conhecido provisoriamente como “nCoV-2019”. É um apelido desajeitado para uma ameaça sinistra (Quammen, 2020). A saúde é muitas vezes definida como a ausência de doença ou lesão, mas esta é uma explicação incompleta porque o foco está no que a saúde não é, e não no que é a saúde. Algumas definições de saúde tentam se concentrar na essência da saúde, enfatizando a saúde como a capacidade de realizar atividades diárias normais (Jacobsen, 2019). A pandemia de Covid-19 tem provocado diversos impactos tanto na sociedade quanto na área da saúde, em particular, evidenciando uma crise sanitária que envolve os processos ambientais, econômicos, sociais, culturais e políticos e suas inextricáveis interdependências (Diniz et al., 2021). O campo da saúde ocupacional, também chamado de segurança e saúde ocupacional e saúde e segurança no local de trabalho, concentra-se na prevenção primária de lesões e outros problemas de saúde relacionados ao trabalho. A saúde ocupacional foi um dos primeiros campos de especialidade em saúde pública. Em 1713, Bernardino Ramazzini publicou Diseases of Workers, um livro que detalhou os riscos ambientaisencontrados em 52 ocupações, listando envenenamento, doenças respiratórias, problemas relacionados a posturas prolongadas e tarefas 2 repetitivas e estresse psicológico como algumas das muitas ameaças à saúde no trabalho (Jacobsen, 2019). Em 1753, James Lind publicou os resultados de um experimento que apoiava a hipótese de que os marinheiros poderiam prevenir o escorbuto se carregassem frutas cítricas com eles em longas viagens. (Após essa descoberta, os marinheiros às vezes eram chamados de "limões" para as frutas cítricas transportadas em navios.) Em 1775, Percivall Pott identificou a fuligem da chaminé como a causa de taxas elevadas de câncer escrotal em varreduras de chaminés, que era o resultado da exposição constante ao alcatrão de carvão devido a varreduras raramente tomando banho ou trocando de calças. Novos riscos ocupacionais continuam a ser identificados hoje. Muitos trabalhadores estão expostos a uma mistura de desafios biológicos, químicos, físicos, mecânicos e psicossociais no trabalho. Algumas ocupações acarretam riscos específicos (Jacobsen, 2019). Para Viegas, (2022) o atual sistema de declaração de emergências internacionais de saúde como insipiente e opaco, buscamos investigar as dinâmicas de produção, negligências e vulnerabilidades na actividade odontológica situar a análise crítica da COVID-19 na perspectiva das outras doenças com fluxo semelhante, com o fim de destacar aspectos teóricos, empíricos e normativos pouco mencionados no debate acadêmico. para compreender por que alguns problemas de saúde são elevados à condição de ESPIIs e outros são mantidos na condição de negligência, identificando-se os pontos de tensão, exclusão e desigualdade que permeiam a construção dessas emergências. O trabalho que agora se apresenta possuí uma organização bem versátil constituído pelos pré-textuais, textuais e pós-textuais, de forma sistemática este é composto por 12 subcapítulo em 3 capítulos bases, onde o primeiro capítulo envolve todos os quesitos teórico geral e específicos com cinco subcapítulos, no segundo capítulo possui igualmente cinco subcapítulos e no último capítulo com dois subcapítulos. No primeiro capítulo se encontra todos conceitos gerais em relação ao tema, descrição do COVID-19 e seu subsídio informacional em Moçambique e o mundo, e igualmente está lá apetrechada toda questão da problemática do SNS. 3 No segundo capítulo se apresenta a forma metódica de como foram conduzidas as investigações mo campo e no escritório de análise dos dados, quais dados captar, como foi captada entre outros aspectos afim. No último capítulo em três palavras resume a analise, a interpretação e discussão de resultados que de forma mais detalhada deu-se vida aos sim/não em informações de acordo com as metas pré-estabelecidas. E no final, a conclusão e referências bibliográficas que são testemunhas que presenciaram toda abordagem montada. 1.2. Apresentação do tema e título do projeto De antemão a escolha do tema é o assunto a escolha do tema é o assunto que se deseja estudar e pesquisar, de acordo com as inclinações, as possibilidades e aptidões de um trabalho científico, e o que se deseja explorar. O assunto escolhido deve ser exequível adequado aos factores externos e internos (tempo, interesse, utilização) (Lakatos & Marconi, 2003). ASSIM, O TRABALHO TEM COMO, TÍTULO DO PROJETO: Avaliação dos factores de risco e protetores da COVID-19 em médicos dentista e auxiliar no exercício odontológico: OS DESAFIOS DAS FRONTEIRAS SANITÁRIAS NO SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE SNS) DE MOÇAMBIQUE. 1.3. Problema Um dia Bauman, (2007) escreveu: "Se você quer a paz, cuide da justiça", advertia a sabedoria antiga e, diferentemente do conhecimento, a sabedoria não envelhece. A citação trazida pelo celebre autor compreende que o que não escasseia no mundo actual é o conhecimento, mas para ele este conhecimento sem reflexão, aplicação e solidificação esta desmancha e perde validade. Ora no contexto da saúde Araújo, 1989 citado por (Guindani & Júnio, 2000) vê que os Hospitais têm sido erroneamente entendidos como lugares saudáveis para trabalhar. Tradicionalmente, as atenções estão voltadas aos cuidados com os pacientes, sendo a saúde dos profissionais envolvidos nestes cuidados relegada a segundo plano. Os serviços de cuidado à saúde humana são constituídos por pessoas que também ficam doentes, muitas vezes em decorrência de sua atividade. Paradoxalmente, ao estarem direta ou 4 indiretamente envolvidos no atendimento da saúde dos outros, estes trabalhadores descuidam- se da sua própria, entretanto, os médicos, enfermeiros e pessoal de limpeza estão sujeitos a se infectar quando entram em contato com sangue ou líquidos contaminados dos doentes (Atlas, 1999 citado por (Guindani & Júnio, 2000). A frequência de procedimentos realizados também é um dos fatores que contribui para a exposição desses profissionais. Os riscos gerados podem afetar também o paciente, portanto, as ações de saúde profissional devem estar integradas com a saúde do cliente (Lacerda et al., 2015). Os serviços de medicina e segurança no trabalho, constituem um importante componente de controle de infecções (Guindani & Júnio, 2000). O serviço de medicina e segurança do trabalho deve ter protocolos para funcionários que foram expostos a doenças contagiosas. Os acidentes ocupacionais que ocorrem em hospitais estão relacionados a diversos fatores e, portanto, seu controle depende de ações em várias áreas, priorizando-se o desenvolvimento de divulgação de informações, além da adoção de procedimentos correspondentes às boas práticas de segurança para profissionais, pacientes e meio ambiente (Cabral & Silva, 2013). As barreiras utilizadas na prevenção de riscos são Equipamentos de Proteção Individual (EPI), Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC), adoção de medidas preventivas e imunização. O risco de transmissão de infecção para o trabalhador de área de saúde (TAS) depende da hierarquização e complexidade da atividade que desenvolve (hospital terciário ou unidade primária de saúde), do tipo de atendimento prestado às pessoas (imunodeprimido) e função que desempenha (hospital, endoscopia, patologia, odontologia, terapia intensiva, lavanderia, patologia clínica, enfermagem, limpeza, entre outros) (Cabral & Silva, 2013). Enquanto existirem condições no ambiente de trabalho capazes de provocar danos à saúde ou à integridade física do trabalhador, considera-se, então, que há riscos ocupacionais. Os riscos são variáveis e dependem também de problemas administrativos, financeiros, treinamento, educação continuada, normas e rotinas, existência de EPI, EPC e outros (Cabral & Silva, 2013). Uma boa pesquisa científica depende de uma formulação adequada do problema, pois é ele quem define as soluções que deverão ser buscadas (Silva & Menezes, 2005), ora, a saúde oral é parte integrante e indissociável da saúde geral do ser humano enquanto indivíduo (Barroso, 2015). Com uma resistência à passagem do ar aproximadamente duas vezes maior que a boca, 5 a cavidade nasal é responsável por quase dois terços da resistência total de VAs (Ortenzi et al., 2018). A frequência e a escala das doenças Infecciosas emergentes com potencial pandêmico aumentaram nas últimas duas décadas, e como ficou claro com a COVID- 19, são uma ameaça crescente para a saúde pública mundial (Bambra et al., 2022 citado por Miguel et al., 2022). Face ao exponencial crescimento de casos e a sobrecarga que isto representa nos sistemas de saúde, vários países do mundo tomaram medidas protocolares para reduzir os riscos de contaminação massiva pelo coronavírus (Fazenda et al., 2019). A classe dos profissionais de saúde apresenta um risco acrescido de contaminação pela COVID-19 relacionado com a alta exposição a que estão expostos no seu ambientede trabalho. Nos últimos meses, o país tem assistido a um crescimento do número de casos da COVID-19 entre profissionais de saúde. Só no hospital de referência do país, o Hospital Central de Maputo (HCM), foram reportados 375 casos de COVID-19 dos quais 29% (110) ocorreram na classe médica, o que remete imediatamente ao início do isolamento que culmina com uma redução em 28% de pronto-socorro das equipes médicas para o atendimento aos pacientes. Com a estrutura de saúde sobrecarregada, “Profissionais de saúde encontram-se doentes e os que continuam em exercício da actividade exaustos”. Esta situação coloca em causa a capacidade de resposta dos hospitais ao fornecimento de serviços de saúde, deteriorando cada vez mais a situação de ineficiência estrutural do sector (CIP, 2020). Se assistiu em Kwazulu Natal, na vizinha África do Sul, na Espanha, na Franca, em Portugal, e um pouco por todo o mundo, onde se verificou nos hospitais públicos a terrível escassez de equipas médicas, um dos factores que pode ter contribuído para esta contaminação dos profissionais de saúde nesses países, pode ter sido o uso de máscaras cirúrgicas por uma semana ou mais, ao invés de trocá-las a cada 8h horas diárias de trabalho, como é recomendado (CIP, 2020). Esperava-se que Moçambique aprendesse com a experiência desses países. Entretanto, esta é a situação que se observa nas Unidades Sanitárias (US) em todo o país, onde, aos profissionais de saúde são disponibilizados os EPI’s, mediante requisições, semanais, quinzenais ou mensais, em quantidades reduzidas os quais são obrigados a reciclar e reusar. 6 A falta de EPI’s para os profissionais deste sector, que estão na linha da frente, constitui um enorme perigo na medida em que lidam directamente com diferentes doentes que podem estar contaminados pelo SARS-CoV-2, com ou sem sintomas (CIP, 2020). O porta-voz da associação médica de Moçambique, Napoleão Viola, reportou que: “As condições de trabalho no sistema nacional de saúde permanecem bastante precárias e tendem a deteriorar-se ao longo dos últimos anos, incluindo o fornecimento atempado do EPI4” (CIP, 2020). O estudo realizado em Kwazulo Natal aponta a compra de EPI’s de baixa qualidade e em quantidades insuficientes como um dos factores que contribuiu para maior contaminação dos profissionais de saúde e que culminou com a perda de vida de profissionais com factores de risco (outras comorbidades). O mesmo aplica-se a Moçambique, onde a classe de profissionais de saúde também se queixa de estar a receber equipamento de baixa qualidade e em números reduzidos para fazer face à pandemia (CIP, 2020). Em cada dia temos de olhar directamente para a boca, nariz e cara de muitos pacientes com conhecimentos sólidos de que vários deles estejam infectados pelo novo Corona vírus, dando sim a possibilidade de nos contaminarmos. As técnicas são enumeras vezes repetidas com equipamentos de protecção individual inadequados/incompletos, tristemente cumprindo o nosso dever como profissionais de saúde (CIP, 2020). A questão de partida é, será que estas barreiras protectoras e factores de riscos conhecidas são suficientemente significativas no contexto do novo coronavírus no sector estomatológico? 1.4. Hipóteses Hipóteses são respostas provável ao problema formulado, indagações a serem verificadas na investigação, afirmações provisórias a respeito de um determinado problema (Reis & Frota, 1999). NULA: As barreiras protectoras e factores de riscos conhecidas são suficientemente significativas no contexto do novo coronavírus no sector estomatológico. ALTERNATIVA: As barreiras protectoras e factores de riscos conhecidas não são suficientemente significativas no contexto do novo coronavírus no sector estomatológico. 7 1.5. Objectivos A objetividade, relacionada mais ao sujeito pesquisador e seu procedimento do que ao objeto de pesquisa (Laville & Dionne, 1999). Nesta fase é necessário definir objetivos claros para saber o que pesquisar e analisar (Perdigão et al., 2012). Neste sentido, o pressuposto que desencadeou a realização deste estudo, foi construído a partir de uma preocupação e análise deste tema, entretanto dimensão mais ampla pretendida com a pesquisa é: 1.5.1. Objectivo geral Avaliar o grau de associação do COVID-19 em relação ao padrão da atenção odontológico em Unidades Sanitárias. 1.5.2. Objectivo específico Neste ponto objectivo a ideia é planejar, nada mais é do que encadear em ordem lógica todas as etapas, ações e necessidades para se atingir determinado objetivo (Perdigão et al., 2012). Especificamente pretende-se: Conhecer padrão de atenção odontológico em Unidades Sanitárias; Levantar os factores de risco e protetores predispostos no exercício odontológico em indivíduos integrados em Unidades Sanitárias; Diligenciar dados epidemiológicos da COVID-19 no sector odontológico em Unidades Sanitárias; Analisar os factores riscos e protectores associados ao contágio do COVID-19 em Unidades Sanitárias no sector odontológico. 8 1.6. Justificativa Em seu trabalho sobre a história da Saúde Pública, George Rosen defende a ideia de que os problemas de saúde vividos pelo homem durante toda a sua história vinculam-se à organização comunitária e à estrutura social desenvolvida (Rocha et al., 2013). Entretanto, a saúde humana depende de água limpa, ar puro e outras características de um ambiente saudável. Famílias, locais de trabalho, comunidades e cidades podem tomar medidas para promover o acesso sustentável a serviços públicos, prevenir exposições perigosas a toxinas, apoiar a vitalidade do ecossistema e construir resiliência para resistir a desastres naturais. Combater as mudanças climáticas e outras ameaças em larga escala à saúde planetária requer cooperação global (Jacobsen, 2019). Os acidentes ocupacionais que ocorrem em hospitais estão relacionados a diversos fatores e, portanto, seu controle depende de ações em várias áreas, priorizando-se o desenvolvimento de divulgação de informações, além da adoção de procedimentos correspondentes às boas práticas de segurança para profissionais, pacientes e meio ambiente (Cabral & Silva, 2013). Se, uma justificativa consiste em uma exposição sucinta, porém completa, das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que tornam importante a realização da pesquisa (Prodanov & Freitas, 2013). Então, porquê não se fazer prevenção da doença, àqueles que zelam pala saúde e reestabelecimento do seu semelhante? Um dia, talvez, atinjamos a excelência da prevenção. A prevenção e remediação dos acidentes de trabalho em hospitais constitui uma preocupação cada vez mais frequente na Medicina do Trabalho, devido ao grande número de trabalhadores da saúde que se acidentam em suas atividades profissionais. A precariedade do sistema de saúde do país contribui com o problema, uma vez que não investe no preparo desses trabalhadores, nem no ambiente de trabalho, no sentido de qualificá-los para a prevenção dos acidentes. O contato diário dos trabalhadores da saúde com substâncias de risco, representa um perigo para a saúde dos mesmos que pode ser evitado, desde que sejam tomadas certas precauções do tipo. O investimento do sistema de saúde em treinamento dos trabalhadores do ramo, em vacinação e em medicamentos para os mesmos, consiste em uma medida necessária e de suma importância, não só para controlar as infecções e promover a saúde dos trabalhadores de hospitais, mas também de interesse direto da sociedade, que se beneficia dos serviços prestados 9 por essas entidades e por esses profissionais. Contudo, em ciências humanas, os fatos dificilmente podem ser considerados como coisas, uma vez que os objetos de estudo pensam, agem e reagem, que são atores podendo orientar a situação de diversas maneiras,e igualmente o caso do pesquisador: ele também e um ator agindo e exercendo sua influência. Os estudos epidemiológicos da Covid-19 vêm buscando entender melhor a doença, suas características e seu comportamento, no que se refere aos seus determinantes biológicos, sociais e ambientais. Os estudos podem ser direcionados para a compreensão dos aspectos qualitativos, quantitativos ou ambos (OECC, 2023). Recomenda-se a realização de inquéritos sero-epidemiológicos regulares para a geração de evidência científica que permita a identificação dos locais de maior transmissão e as populações mais expostas ao novo coronavírus (INS, 2021). CAPÍTULO I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 11 Subcapítulo 1. Generalidades A epidemiologia estuda os aspectos e as dimensões relativos ao comportamento e à evolução de problemas de saúde coletiva, com destaque para sua incidência, distribuição, e possível controle dos determinantes das próprias doenças e de seus fatores (Capp & Nienov, 2021). A expansão do conceito de saúde com seus determinantes e a crescente complexidade epidemiológica da situação das populações estimulam a diversificação de responsabilidade nos serviços de saúde. A intensificação das atividades de promoção da saúde soma-se a expansão da vigilância, prevenção e controle de problemas de saúde, que incluem não só as doenças transmissíveis, mas também os estilos de vida, fatores de risco e desordens genéticas, eventos de saúde ocupacional, riscos ambientais, deficiências e doenças crônicas, entre outros (OPAS, 2010). Os aspectos cobertos pelos estudos epidemiológicos quantitativos relativos à Covid-19 podem compreender assuntos como quantidade de casos de acordo com: existência da doença na população; nível de gravidade; faixa etária; sexo; etnia; condições socioeconômicas; nível educacional; regiões geográficas: países, cidades, etc.; capacidade de contágio e alastramento; doenças coexistentes (comorbidade); mortalidade e outros fatores (OECC, 2023). Essas quantificações são estudadas em relação aos casos novos e aos acumulados, em cada período de tempo da evolução da doença na população. Podem também associar mais de um aspecto acima mencionado. Os estudos epidemiológicos abordam também aspectos relativos a fatores de risco e causalidade, e à utilização de recursos e medidas de tratamento e prevenção (OECC, 2023). As ciências naturais e as ciências humanas tratam de objetos que não se parecem nem de longe. Com efeito, seus objetos são muito diferentes, por seu grau de complexidade e por sua facilidade de serem identificados e observados com precisão. Os fatos humanos são, por outro lado, mais complexes que os fatos da natureza (Laville & Dionne, 1999). Esta complexidade parte do dia-a-dia como individuo até no profissional. 12 Atualmente estamos inseridos num contexto em que, ora beneficia, ora promove a inadequação das condições que assegurem à manutenção da vida. Tal situação contribui para a cadeia epidemiológica das doenças infecciosas (do Prado et al., 2004). A saúde ocupacional foi um dos primeiros campos de especialidade em saúde pública. Em 1713, Bernardino Ramazzini publicou Diseases of Workers, um livro que detalhou os riscos ambientais encontrados em 52 ocupações, listando envenenamento, doenças respiratórias, problemas relacionados a posturas prolongadas e tarefas repetitivas e estresse psicológico como algumas das muitas ameaças à saúde no trabalho (Jacobsen, 2019). Em 1753, James Lind publicou os resultados de um experimento que apoiava a hipótese de que os marinheiros poderiam prevenir o escorbuto se carregassem frutas cítricas com eles em longas viagens. (Após essa descoberta, os marinheiros às vezes eram chamados de "limões" para as frutas cítricas transportadas em navios.) Em 1775, Percivall Pott identificou a fuligem da chaminé como a causa de taxas elevadas de câncer escrotal em varreduras de chaminés, que era o resultado da exposição constante ao alcatrão de carvão devido a varreduras raramente tomando banho ou trocando de calças. Novos riscos ocupacionais continuam a ser identificados hoje. Muitos trabalhadores estão expostos a uma mistura de desafios biológicos, químicos, físicos, mecânicos e psicossociais no trabalho. Algumas ocupações acarretam riscos específicos (Jacobsen, 2019). O (Viegas, 2022) o atual sistema de declaração de emergências internacionais de saúde como insipiente e opaco, buscamos investigar as dinâmicas de produção, negligências e vulnerabilidades na actividade odontológica situar a análise crítica da COVID-19 na perspectiva das outras doenças com fluxo semelhante, com o fim de destacar aspectos teóricos, empíricos e normativos pouco mencionados no debate acadêmico. para compreender por que alguns problemas de saúde são elevados à condição de ESPIIs e outros são mantidos na condição de negligência, identificando-se os pontos de tensão, exclusão e desigualdade que permeiam a construção dessas emergências. 13 Subcapítulo 2. Acidentes ocupacional O EPI é qualquer meio ou dispositivo destinado ao uso por uma pessoa contra possíveis riscos que ameaçam a sua saúde ou segurança durante a execução de uma determinada atividade. Ele é um dos itens de segurança do trabalho e tem seu uso banalizado por falta de conhecimento das legislações. Não são todas as pessoas que percebem a complexidade que envolve a escolha de EPI, assim sendo, ocasionam a não aceitação por parte dos trabalhadores o seu uso (Cunha, 2006 citado por (Oliveira et al., 2020). A segurança do trabalho é a ciência que estuda as possíveis causas dos acidentes e incidentes originados durante a atividade laboral do trabalhador. Tem como principal objetivo a prevenção de acidentes, doenças ocupacionais e outras formas de agravos à saúde do profissional. Ela atinge sua finalidade quando consegue proporcionar a ambos (empregado e empregador) um ambiente de trabalho saudável e seguro, garantindo a certeza de que vão laborar num ambiente agradável, seguro e retornar para a família após terem cumprido mais uma jornada de trabalho em sua vida profissional (BARSANO; BARBOSA, 2012 citado por (Oliveira et al., 2020). A saúde humana depende de água limpa, ar puro e outras características de um ambiente saudável. Famílias, locais de trabalho, comunidades e cidades podem tomar medidas para promover o acesso sustentável a serviços públicos, prevenir exposições perigosas a toxinas, apoiar a vitalidade do ecossistema e construir resiliência para resistir a desastres naturais. Combater as mudanças climáticas e outras ameaças em larga escala à saúde planetária requer cooperação global (Jacobsen, 2019). Os acidentes ocupacionais que ocorrem em hospitais estão relacionados a diversos fatores e, portanto, seu controle depende de ações em várias áreas, priorizando-se o desenvolvimento de divulgação de informações, além da adoção de procedimentos correspondentes às boas práticas de segurança para profissionais, pacientes e meio ambiente (Cabral & Silva, 2013). 14 A prevenção e remediação dos acidentes de trabalho em hospitais constitui uma preocupação cada vez mais frequente na Medicina do Trabalho, devido ao grande número de trabalhadores da saúde que se acidentam em suas atividades profissionais (Guindani & Júnio, 2000). A precariedade do sistema de saúde do país contribui com o problema, uma vez que não investe no preparo desses trabalhadores, nem no ambiente de trabalho, no sentido de qualificá-los para a prevenção dos acidentes. O contato diário dos trabalhadores da saúde com substâncias de risco, representa um perigo para a saúde dos mesmos que pode ser evitado, desde que sejam tomadas certas precauções do tipo (Guindani & Júnio, 2000). O investimento do sistema de saúde em treinamentodos trabalhadores do ramo, em vacinação e em medicamentos para os mesmos, consiste em uma medida necessária e de suma importância, não só para controlar as infecções e promover a saúde dos trabalhadores de hospitais, mas também de interesse direto da sociedade, que se beneficia dos serviços prestados por essas entidades e por esses profissionais (Guindani & Júnio, 2000). Contudo, em ciências humanas, os fatos dificilmente podem ser considerados como coisas, uma vez que os objetos de estudo pensam, agem e reagem, que são atores podendo orientar a situação de diversas maneiras, e igualmente o caso do pesquisador: ele também e um ator agindo e exercendo sua influência. As Precauções-Padrão (PP) são consideradas como as principais medidas de prevenção à exposição com material biológico potencialmente contaminado e a adesão as PP contribui significativamente para reduzir esses riscos (Malaguti-Toffano et al., 2012). A exposição ocupacional a agentes biológicos decorre da presença desses agentes no ambiente de trabalho, podendo-se distinguir duas categorias de exposição: 1. Exposição derivada da atividade laboral que implique na utilização ou manipulação do agente biológico, que constitui o objeto principal do trabalho. É conhecida também como exposição com intenção deliberada (Malaguti-Toffano et al., 2012). 15 Nesses casos, na maioria das vezes, a presença do agente já está estabelecida e determinada. O reconhecimento dos riscos será relativamente simples, pois as características do agente são conhecidas e os procedimentos de manipulação estão bem determinados, assim como os riscos de exposição (Malaguti-Toffano et al., 2012). Na área de saúde, alguns exemplos poderiam ser: atividades de pesquisa ou desenvolvimento que envolva a manipulação direta de agentes biológicos, atividades realizadas em laboratórios de diagnóstico microbiológico, atividades relacionadas à biotecnologia (desenvolvimento de antibióticos, enzimas e vacinas, entre outros) (Malaguti- Toffano et al., 2012). Exposição que decorre da atividade laboral sem que essa implique na manipulação direta deliberada do agente biológico como objeto principal do trabalho. Nesses casos a exposição é considerada não deliberada (Malaguti-Toffano et al., 2012). O meio hospitalar é considerado o ambiente dos movimentos, das trocas, dos acontecimentos de permanecer em situações que amparam a saúde e no mesmo momento, apresentando condições naturais e sociais de convivência com as doenças, mostrado como espaço destinado especificamente para doentes (Erdmann; Lentz, 2004 citado por Santos et al., 2021). Nesse sentido, existe uma preocupação que acomete os hospitais que é a Infecção Hospitalar (IH), sendo decorrente de várias causas como a presença, em meio hospitalar, de microorganismos, tais como, bactérias, fungos, vírus, entre outros, e também pacientes, os profissionais e as interações feitas entre a instituição e o meio ambiente (Erdmann; Lentz, 2004 citado por (Santos et al., 2021). 16 1.1. Tipo de transmissão Segundo Brasil (2008a, p.19) citado por Malaguti-Toffano et al., (2012) a transmissão pode ocorrer das seguintes formas: DIRETA - transmissão do agente biológico sem a intermediação de veículos ou vetores. Exemplos: transmissão aérea por bioaerossóis, transmissão por gotículas e contato com a mucosa dos olhos; INDIRETA - transmissão do agente biológico por meio de veículos ou vetores. Exemplos: transmissão por meio de mãos, perfurocortantes, luvas, roupas, instrumentos, vetores, água, alimentos e superfícies. Neste sentido, vias de entrada são os tecidos ou órgãos por onde um agente penetra em um organismo, podendo ocasionar uma doença. A entrada pode ser por via cutânea (por contato direto com a pele), parenteral (por inoculação intravenosa, intramuscular, subcutânea), por contato direto com as mucosas, por via respiratória (por inalação) e por via oral (por ingestão). A identificação das vias de transmissão e de entrada determina quais medidas de proteção que devem ser adotadas. Se a via de transmissão for sanguínea, devem ser adotadas medidas que evitem o contato do trabalhador com sangue. No caso de transmissão via aérea, gotículas ou aerossóis, as medidas de proteção consistem na utilização de barreiras ou obstáculos entre a fonte de exposição e o trabalhador (exemplos: adoção de sistema de ar com pressão negativa, isolamento do paciente e uso de máscaras). 1.2. Risco de exposição ocupacional Surtos de doenças como essa, desconhecidas ou não, de origem infecciosa, que passam a ter uma incidência crescente em seres humanos, em um período de tempo recente e que apresentam riscos de aumento progressivo no futuro próximo, introduzem o conceito de doenças emergentes e reemergentes, também de- nominadas de novas doenças infecciosas (Marques, 1995). 17 As precauções baseadas na via de transmissão são para cuidados com pacientes com suspeita ou confirmação de infecção ou colonização por agentes infecciosos, incluindo alguns patógenos de importância epidemiológica, que requerem medidas adicionais de controle para a prevenção efetiva de sua transmissão. Uma vez que freqüentemente a presença de agentes infecciosos é desconhecida na admissão na instituição de saúde, as precauções baseadas na via de transmissão são utilizadas empiricamente de acordo com a síndrome clínica e a probabilidade de agentes etiológicos neste momento e modifica-se quando o agente é identificado ou a presença de agente infeccioso é excluída (Siegel, et al., 2007 citado por Felício, 2012). Os serviços de cuidado à saúde humana são constituídos por pessoas que também ficam doentes, muitas vezes em decorrência de sua atividade. Paradoxalmente, ao estarem direta ou indiretamente envolvidos no atendimento da saúde dos outros, estes trabalhadores descuidam-se da sua própria, entretanto, os médicos, enfermeiros e pessoal de limpeza estão sujeitos a se infectar quando entram em contato com sangue ou líquidos contaminados dos doentes (Atlas, 1999 citado por (Guindani & Júnio, 2000). A frequência de procedimentos realizados também é um dos fatores que contribui para a exposição desses profissionais. Os riscos gerados podem afetar também o paciente, portanto, as ações de saúde profissional devem estar integradas com a saúde do cliente (Lacerda et al., 2015). Os serviços de medicina e segurança no trabalho, constituem um importante componente de controle de infecções (Guindani & Júnio, 2000). O serviço de medicina e segurança do trabalho deve ter protocolos para funcionários que foram expostos a doenças contagiosas. Os acidentes ocupacionais que ocorrem em hospitais estão relacionados a diversos fatores e, portanto, seu controle depende de ações em várias áreas, priorizando-se o desenvolvimento de divulgação de informações, além da adoção de procedimentos correspondentes às boas práticas de segurança para profissionais, pacientes e meio ambiente (Cabral & Silva, 2013). 18 As barreiras utilizadas na prevenção de riscos são Equipamentos de Proteção Individual (EPI), Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC), adoção de medidas preventivas e imunização. O risco de transmissão de infecção para o trabalhador de área de saúde (TAS) depende da hierarquização e complexidade da atividade que desenvolve (hospital terciário ou unidade primária de saúde), do tipo de atendimento prestado às pessoas (imunodeprimido) e função que desempenha (hospital, endoscopia, patologia, odontologia, terapia intensiva, lavanderia, patologia clínica, enfermagem, limpeza, entre outros) (Cabral & Silva, 2013). Enquanto existirem condições no ambiente de trabalho capazes de provocar danos à saúde ou à integridade física do trabalhador, considera-se, então, que há riscos ocupacionais. Os riscos são variáveis edependem também de problemas administrativos, financeiros, treinamento, educação continuada, normas e rotinas, existência de EPI, EPC e outros (Cabral & Silva, 2013). 19 Subcapítulo 3. Relevância e estudos similares Os estudos caso-controle (ECC) têm tido utilização crescente nas últimas décadas, com variadas formas de aplicação no campo da Epidemiologia e da Saúde Pública (Rêgo, 2010). Observa-se um grande avanço na produção científica abordando a questão da exposição ocupacional com material biológico de profissionais da área de saúde, principalmente (Malaguti-Toffano et al., 2012). Em uma pesquisa realizada no hospital de ensino, cenário do presente estudo, enfermeiros com cargos de chefia citaram que os principais motivos que determinam a ocorrência de acidente com material biológico nas unidades de trabalho foram: a resistência do profissional em utilizar os EPI; o ato de reencapar agulhas e o descarte incorreto de materiais contaminados (Malaguti et al., 2008 citado por Malaguti-Toffano et al., 2012). Estes aspectos foram os principais determinantes para a ocorrência de acidentes relatados em outras pesquisas também realizadas na instituição (Canini et al., 2002; Loureiro et al.; 2009; Gomes et al., 2008 citado por Malaguti-Toffano et al., 2012). Canini et al. (2008) citado por Malaguti-Toffano et al., (2012) apontaram que os maiores fatores de riscos associados a ocorrência de acidentes com profissionais de enfermagem desse mesmo hospital foram: o reencape de agulhas, tempo de experiência profissional menor que cinco anos e a carga de trabalho semanal acima de 40 horas semanais. Para explicar a adesão às PP, Gershon et al. (1995) elaboraram um modelo de estudo que pudesse refletir o comportamento dos profissionais de saúde. Este modelo contemplou fatores ligados ao indivíduo e características sociodemográficas; fatores psicossociais, como o medo e o estresse relacionado ao trabalho e fatores ligados à instituição, que incluiu o clima de segurança organizacional e a participação em treinamentos de forma a refletir o comportamento de adesão às PP (Malaguti-Toffano et al., 2012). Diversos estudos apontaram que a problemática da exposição ocupacional envolve vários outros aspectos além daqueles relacionados ao profissional, como a demanda de profissionais, a dupla jornada de trabalho e a disponibilidade dos equipamentos de proteção individual (EPI) para pronto uso (Malaguti-Toffano et al., 2012). 20 Um estudo americano, retrospectivo e do tipo caso-controle, envolvendo trabalhadores da saúde que sofreram exposição percutânea, apontou que o risco de transmissão do HIV é considerado elevado em exposições que envolvem grande quantidade de sangue; sangue visível no dispositivo contaminado com o sangue do paciente-fonte; agulhas previamente utilizadas em veias ou artérias do paciente-fonte ou quando ocorrer uma lesão profunda (CARDO et al., 1997 citado por Malaguti-Toffano et al., 2012). Michelin e Henderson (2010) citado por Malaguti-Toffano et al., (2012) apontam que vários fatores influenciam o risco de infecção pelo VHB entre profissionais de saúde, como: prevalência da doença entre a população atendida, carga viral circulante na pessoa atendida, virulência dos vírus, tipo e frequência de exposição e se o profissional foi imunizado ou não. (La-Rotta et al., 2013) com 208 profissionais foram avaliados o conhecimento do NR-32, biossegurança e as precauções Padrão, pelos médicos em o Hospital Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (HCUFMG), resultando O conhecimento sobre a NR- 32 é baixo e sobre a biossegurança é um conhecimento adequado e para as precações padrão é moderado. (Stanganelli et al., 2015) Observação de 201 procedimentos no Centro Cirúrgico Identificar a utilização dos equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores de enfermagem, durante procedimentos que os exponham aos fluidos biológicos. Resultando dos 201 procedimentos observados no Centro Cirúrgico, Central de Material e Esterilização, Unidade de Terapia Intensiva I e II e Pronto Socorro, os trabalhadores de enfermagem investigados não utilizam corretamente todos os EPIs necessários para os procedimentos realizados, os quais são preconizados pela legislação brasileira. Nos achados de (Nouetchognou et al., 2016) conduzem uma pesquisa com 150 profissionais da área de saúde, a qual se pretendiam “determinar a frequência e o gerenciamento pós-exposição das exposições acidentais ao sangue e ao fluido corporal entre os profissionais de saúde do Hospital Universitário da Universidade de Yaoundé”. Como resultado A exposição acidental ao sangue ocorre globalmente devido a falta de uso de luvas 21 no momento da exposição, juntamente com lesões com agulhas e corte, falta de uso de escudo facial ou protetor de olhos nos procedimentos de maior risco. (Rodrigues et al., 2017) conduzi uma pesquisa 75 profissionais da saúde, com objectivo de Identificar a prevalência de acidentes ocupacionais entre profissionais de enfermagem atuantes em setores críticos de um pronto-socorro e apreender a vivência profissional dentre os acidentados. A entrevista foi dividida em três classes, 1vivenciando o acidente ocupacional, 2 condutas pós-exposição e 3 prevenção do acidente ocupacional, nesta última classe os profissionais reconheceram como medida mais importante de prevenção de acidentes ocupacionais do uso de EPI No entanto, o reconhecimento de sua importância não pareceu influenciar diretamente em seu uso. 22 Subcapítulo 4. A Covid-19 A saúde é muitas vezes definida como a ausência de doença ou lesão, mas esta é uma explicação incompleta porque o foco está no que a saúde não é, e não no que é a saúde. Algumas definições de saúde tentam se concentrar na essência da saúde, enfatizando a saúde como a capacidade de realizar atividades diárias normais (Jacobsen, 2019). Coronavírus é um vírus zoonótico, um RNA vírus da ordem Nidovirales, da família Coronaviridae. Os tipos de coronavírus conhecidos até o momento são: alfa coronavírus HCoV-229E e alfa coronavírus HCoV-NL63, beta coronavírus HCoV-OC43 e beta coronavírus HCoV-HKU1, SARS-CoV (causador da síndrome respiratória aguda grave ou SARS), MERS-CoV (causador da síndrome respiratória do Oriente Médio ou MERS) e SARSCoV-2, um novo coronavírus (Lima, 2020). Doenças infecciosas emergentes e reemergentes são constantes desafios para a saúde pública mundial (Gonçalves & Belasco, 2020). O mais recente e assustador vírus que captou a atenção horrorizada do mundo, causou o isolamento de 56 milhões de pessoas na China “nCoV-2019” (Quammen, 2020). Desde que foram registrados os primeiros contágios, a infecção pelo coronavírus (Covid- 19) se deu de maneira bastante rápida e, em poucas semanas, passou a ser considerada uma pandemia, uma doença disseminada por vários países. Conforme os casos aumentaram e com eles o número de mortes, alguns itens, que até então eram ignorados por grande parte da nossa população, ganharam notoriedade (Franco et al., 2020). A covid-19 é uma doença respiratória aguda causada pela infecção por SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global (Ministério da Saúde, 2022), associada inicialmente a casos de pneumonia viral registados em finais de Dezembro de 2019, em Wuhan, na República Popular da China (Marques, 1995). 23 Desde então, ocorreu uma rápida disseminação mundial, tendo a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarado Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional a 30 de Janeiro de 2020 e Pandemia a 11 de Março de 2020. A disseminação global do SARS-CoV-2 decorre a um ritmo veloz. Menos de um ano após a sua detecção pela primeira vez na China, já foram notificadas mais de32 milhões de pessoas infectadas em cerca de 200 países e territórios (Jani, 2020). Devido às proporções tomadas pela contaminação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou como pandêmico o surto de COVID-19, em 11 de março de 2020 OMS, 2020 citado por (Santana et al., 2020). A alta prevalência dos coronavírus, e a ampla distribuição no mundo, está associado à sua diversidade genética e recombinação genética, em locais com intensa interação entre o homem e animais, facilita o surgimento periódico de novas cepas de coronavírus (Sáfadi, 2020 citado por (Santana et al., 2020). A pandemia de Covid-19 tem provocado diversos impactos tanto na sociedade quanto na área da saúde, em particular, evidenciando uma crise sanitária que envolve os processos ambientais, econômicos, sociais, culturais e políticos e suas inextricáveis interdependências (Diniz et al., 2021). A pandemia de COVID-19 constituiu uma oportunidade para melhorar as FESP, sobretudo as relacionadas à preparação e resposta a emergências de saúde pública (Sanit & Pan-americana, 2022). A pandemia confirmou que a saúde universal é sumamente necessária e demonstrou de forma clara que estratégia de APS e o uso de todos os recursos da rede de serviços de saúde, incluído o primeiro nível de tenção, são essenciais para uma resposta efetiva (Sanit & Pan- americana, 2022). 24 1.1. Prospecção Em 2021, o 59º Conselho Diretor aprovou a Estratégia para a construção de sistemas de saúde resilientes e recuperação pós-pandemia de COVID-19 para manter e proteger os ganhos em saúde pública (Documento CD59/11), com as seguintes linhas estratégicas de ação: a) transformar os sistemas de saúde, com base em um enfoque de atenção primária à saúde, para acelerar a recuperação da pandemia, recuperar e sustentar os ganhos em saúde pública e retomar o rumo da saúde universal; b) fortalecer a liderança, boa administração e governança mediante um foco renovado nas funções essenciais da saúde pública; c) fortalecer a capacidade das redes de serviços de saúde para expandir o acesso e melhorar a preparação e resposta a emergências de saúde pública; d) aumentar e sustentar o financiamento público em saúde e proteção social, inclusive para ações que abordem os determinantes sociais, ambientais e econômicos da saúde (Sanit & Pan-americana, 2022). O campo da saúde ocupacional, também chamado de segurança e saúde ocupacional e saúde e segurança no local de trabalho, concentra-se na prevenção primária de lesões e outros problemas de saúde relacionados ao trabalho. Em Moçambique, a COVID-19 parece ter, pelo menos por enquanto, um menor impacto directo na morbi-mortalidade. Uma grande proporção das infecções por SARS-CoV-2 é assintomática ou apresenta-se com sintomas ligeiros, e o número de pessoas com COVID- 19 que necessita de hospitalização tem permanecido relativamente baixo desde o início da pandemia. Mesmo assim, os efeitos negativos da pandemia no sistema de saúde, na sociedade e na economia são devastadores, e têm sido alvo de investigação científica e de debate público (Jani, 2020). 25 1.2. Fisiopatologia 1.2.1. SARS-CoV-2 e o mecanismo de agressão celular direta A infecção por SARS-CoV-2 é causada pela ligação da proteína spike da superfície viral ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA-2) humana após a ativação da proteína spike pela protease serina 2 transmembrana (TMPRSS2). A ECA-2 é expressa no pulmão, principalmente nas células alveolares do tipo II, e parece ser o portal de entrada predominante (Zhao, et. al 2020; Turner, Hiscox & Hooper, 2004 citado por Neto et al., 2020). Ao se ligar à ECA-2, SARS-CoV-2 gera downregulation desta enzima e determina aumento dos níveis de angiotensina II, o que pode levar aos efeitos deletérios da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, tais como vaso constrição, alteração de permeabilidade vascular, remodelamento miocárdico e injúria pulmonar aguda; isto pode justificar, em parte, os sintomas pulmonares frequentes na síndrome (Imai, et. al 2005; Costa, 2020 citado por Neto et al., 2020). Fonte: (Neto et al., 2020) Figura 1. Mecanismo de agressão directa do Coronavírus 26 O SARS-CoV-2 liga-se por meio da proteína spike da superfície viral ao receptor da ECA-2 humana após a ativação da proteína spike pela TMPRSS2. SARS-CoV: coronavírus da síndrome respiratória aguda grave; SARS-COV-2: coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2; COVID-19: doença do coronavírus 2019; ECA-2: enzima conversora de angiotensina-2; TMPRSS2: serina protease transmembrana-2 (Costa et al., 2020 Neto et al., 2020). A ECA-2 também é altamente expressa no coração, neutralizando os efeitos da angiotensina II em estados com ativação excessiva do sistema renina-angiotensina, como hipertensão arterial sistêmica (HAS), insuficiência cardíaca (IC) e aterosclerose, por converter angiotensina II em angiotensina I-VII, que tem efeito cardioprotetor. Além do coração e do pulmão, a ECA-2 é expressa no epitélio intestinal, endotélio vascular e rins, fornecendo um mecanismo para a disfunção de múltiplos órgãos que pode ser observada na infecção por SARS-CoV-2 (Neto et al., 2020). 1.2.2. Mecanismos da lesão miocárdica e COVID-19 Os mecanismos da lesão miocárdica não estão bem estabelecidos, mas provavelmente envolvem aumento do estresse cardíaco devido à insuficiência respiratória e hipoxemia, síndrome coronariana aguda (SCA), lesão indireta da resposta inflamatória sistêmica, infecção miocárdica direta por SARS-CoV-2, entre outros fatores (Sarkisian, 2016 citado por Neto et al., 2020). Figura 2. Mecanismos potenciais de lesão miocárdica na COVID-19 27 1.2.3. Lesão miocárdica secundária ao desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio Situações de grave estresse fisiológico como sepse e insuficiência respiratória presentes em pacientes com COVID-19 estão associadas a elevações de biomarcadores de lesão miocárdica, determinando pior prognostico em alguns pacientes (Sarkisian et. al., 2016 citado por Neto et al., 2020). O mecanismo mais provável é um desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio, sem ruptura da placa ateromatosa e consistente com o diagnóstico de infarto do miocárdio tipo 2 (Libby et. al, 2018; Thygesen et. al., 2018 (Chapman et. al., citado por Neto et al., 2020). Estes pacientes têm taxas de mortalidade mais altas, quando comparados com os que apresentam infarto domiocárdio tipo 1, provavelmente decorrente de um maior número de comorbidades (Chapman et. al., citado por Neto et al., 2020). Devido à idade e ao perfil de comorbidades dos pacientes hospitalizados com COVID-19 grave, pode-se supor que essa população tenha um maior risco de DAC não obstrutiva subjacente e que a ocorrência de infarto do miocárdio tipo 2 contribui para a elevação da troponina e para piores desfechos (Shi et. al,. 2020 citado por Neto et al., 2020). 1.2.4. Lesão microvascular O provável mecanismo da lesão miocárdica decorre da formação de microtrombos na vasculatura do miocárdio, na presença de um estado de hipercoagulabilidade como na coagulação intravascular disseminada (CIVD). Alterações nos sistemas de coagulação e fibrinolítico estão presentes de maneira importante em pacientes com COVID-19, observando-se CIVD na maioria dos pacientes que faleceram (Tang Wang & Sun, 2020 citado por Neto et al., 2020). Os mecanismos da CIVD no contexto de sepse e síndrome do desconforto respiratório agudo presente nestes pacientes são complexos, mas acredita-se que esteja relacionado a uma exaustão dos sistemas de coagulação e fibrinolítico determinando sangramento e trombose no mesmo paciente (Simmons & Pittet, 2015 citado por Neto et al., 2020). 28 O aumento das citocinas inflamatórias, como IL-6 e fator de necrose tumoral-alfa(TNF- α), bem como a lesão endotelial, aumentam a expressão do fator tecidual, determinado um estado pró-trombótico. Por outro lado, a desregulação da antitrombina III, do inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1 (PAI-1) e da proteína C em situações de inflamação e sepse significativas promove um estado de anticoagulação (Levi M, Van der Poll & Buller, 2004; Green et. al,. 2022 citado por Neto et al., 2020). Além disso, a ativação plaquetária também ocorre no contexto de sepse e inflamação, alterando o delicado equilíbrio do sistema de coagulação (Cox, Kerrigan & Watson, 2011 citado por Neto et al., 2020). Desta forma, a presença de inflamação e da ativação imune presentes na infecção grave por COVID-19 podem determinar CIVD, disfunção microvascular e lesão miocárdica (Neto et al., 2020). 1.2.5. Resposta inflamatória sistêmica Um dos prováveis mecanismos relacionados à lesão cardíaca em pacientes com COVID- 19 grave envolve a intensa resposta inflamatória sistêmica. Relatos iniciais demonstraram que níveis extremamente elevados de biomarcadores inflamatórios e citocinas, incluindo IL- 6, proteína C-reativa , TNF-α, interleucina-2R (IL-2R) e ferritina estiveram associados a manifestações mais graves de COVID-19 e a piores desfechos ( Qin et. al., 2020 citado por Neto et al., 2020). Vários estudos já demonstraram que a cardiomiopatia na sepse é parcialmente mediada por citocinas inflamatórias como TNF-α, IL-6, IL-1β, INF-γ e IL-2.21, (Neto et al., 2020). 1.3. Diagnósticos e síndromes associados O diagnóstico definitivo do novo coronavírus é feito com a coleta de materiais respiratórios (aspiração de vias aéreas ou indução de escarro). O diagnóstico laboratorial para identificação do vírus é realizado por meio das técnicas de proteína C reativa em tempo real e sequenciamento parcial ou total do genoma viral. Orienta-se a coleta de aspirado de nasofaringe ou swabs combinado (nasal/oral) ou também amostra de secreção respiratória inferior (escarro ou lavado traqueal ou lavado broncoalveolar) (Lima, 2020). 29 Para confirmar a doença é necessário realizar exames de biologia molecular que detecte o RNA viral. Os casos graves devem ser encaminhados a um hospital de referência para isolamento e tratamento. Os casos leves devem ser acompanhados pela atenção primária em saúde e instituídas medidas de precaução domiciliar (Ministério de Saúde, 2020 citado por Lima, 2020). Figura 3. Algoritmo de testagem usando TDR-antígeno SARS-CoV-2 em Moçambique Fonte: (Sitoe & INS, 2020) O espectro clínico da infecção por coronavírus é muito amplo, podendo variar de um simples resfriado até uma pneumonia grave. O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como uma síndrome gripal. As pessoas com COVID-19 geralmente desenvolvem sinais e sintomas, incluindo problemas respiratórios leves e febre persistente, em média de 5 a 6 dias após a infecção (período médio de incubação de 5 a 6 dias, intervalo de 1 a 14 dias). A febre é persistente, ao contrário do descenso observado nos casos de influenza (Lima, 2020). Entretanto, segundo Lima, (2020) os principais sintomas foram febre (83%), tosse (82%), dispneia (31%), mialgia (11%), confusão mental (9%), cefaleia (8%), dor de garganta (5%), 30 rinorreia (4%), dor torácica (2%), diarreia (2%) e náuseas e vômitos (1%). Também houve registros de linfopenia em outro estudo realizado com 41 pacientes diagnosticados com COVID-19. 1.4. Medidas de Prevenção e Controle A implementação de precauções padrão, contato e respiratória constituem a principal medida de prevenção da transmissão entre pacientes e profissionais de saúde e deve ser adotada no cuidado de todos os pacientes (antes da chegada ao serviço de saúde, na chegada, triagem, espera e durante toda assistência prestada), independentemente dos fatores de risco ou doença de base, garantindo que as políticas e práticas internas minimizem a exposição a patógenos respiratórios, incluindo o SARS-CoV-2 (Ministério da Saúde, 2020). 31 Subcapítulo 5. Contexto Actual em Odontologia Um dia Bauman, (2007) escreveu: "Se você quer a paz, cuide da justiça", advertia a sabedoria antiga e, diferentemente do conhecimento, a sabedoria não envelhece. A citação trazida pelo celebre autor compreende que o que não escasseia no mundo actual é o conhecimento, mas para ele este conhecimento sem reflexão, aplicação e solidificação esta desmancha e perde validade. Ora no contexto da saúde Araújo, 1989 citado por (Guindani & Júnio, 2000) vê que os Hospitais têm sido erroneamente entendidos como lugares saudáveis para trabalhar. Tradicionalmente, as atenções estão voltadas aos cuidados com os pacientes, sendo a saúde dos profissionais envolvidos nestes cuidados relegada a segundo plano. A saúde oral é parte integrante e indissociável da saúde geral do ser humano enquanto indivíduo (Barroso, 2015). Com uma resistência à passagem do ar aproximadamente duas vezes maior que a boca, a cavidade nasal é responsável por quase dois terços da resistência total de VAs (Ortenzi et al., 2018). A frequência e a escala das doenças Infecciosas emergentes com potencial pandêmico aumentaram nas últimas duas décadas, e como ficou claro com a COVID- 19, são uma ameaça crescente para a saúde pública mundial (Bambra et al., 2022 citado por Miguel et al., 2022). Face ao exponencial crescimento de casos e a sobrecarga que isto representa nos sistemas de saúde, vários países do mundo tomaram medidas protocolares para reduzir os riscos de contaminação massiva pelo coronavírus (Fazenda et al., 2019). A classe dos profissionais de saúde apresenta um risco acrescido de contaminação pela COVID-19 relacionado com a alta exposição a que estão expostos no seu ambiente de trabalho. Nos últimos meses, o país tem assistido a um crescimento do número de casos da COVID-19 entre profissionais de saúde. Só no hospital de referência do país, o Hospital Central de Maputo (HCM), foram reportados 375 casos de COVID-19 dos quais 29% (110) ocorreram na classe médica, o que remete imediatamente ao início do isolamento que culmina com uma redução em 28% de pronto-socorro das equipes médicas para o atendimento aos pacientes. 32 Com a estrutura de saúde sobrecarregada, “Profissionais de saúde encontram-se doentes e os que continuam em exercício da actividade exaustos”. Esta situação coloca em causa a capacidade de resposta dos hospitais ao fornecimento de serviços de saúde, deteriorando cada vez mais a situação de ineficiência estrutural do sector (CIP, 2020). Se assistiu em Kwazulu Natal, na vizinha África do Sul, na Espanha, na Franca, em Portugal, e um pouco por todo o mundo, onde se verificou nos hospitais públicos a terrível escassez de equipas médicas, um dos factores que pode ter contribuído para esta contaminação dos profissionais de saúde nesses países, pode ter sido o uso de máscaras cirúrgicas por uma semana ou mais, ao invés de trocá-las a cada 8h horas diárias de trabalho, como é recomendado (CIP, 2020). Esperava-se que Moçambique aprendesse com a experiência desses países. Entretanto, esta é a situação que se observa nas Unidades Sanitárias (US) em todo o país, onde, aos profissionais de saúde são disponibilizados os EPI’s, mediante requisições, semanais, quinzenais ou mensais, em quantidades reduzidas os quais são obrigados a reciclar e reusar. A falta de EPI’s para os profissionais deste sector, que estão na linha da frente, constitui um enorme perigo na medida em que lidam directamente com diferentes doentes que podem estar contaminados pelo SARS-CoV-2, com ou sem sintomas (CIP, 2020). O porta-voz da associação médica de Moçambique, Napoleão Viola, reportou que: “As condições de trabalho no sistema nacional de saúde permanecem bastante precárias