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Indaial – 2022 da Natação Prof. Alcides Pereira de Brito 1a Edição Prescrição e treiNameNto Elaboração: Prof. Alcides Pereira de Brito Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. BRITO, Alcides Pereira de. Prescrição e Treinamento da Natação. Alcides Pereira de Brito. Indaial - SC: Arqué, 2022. 189p. ISBN 978-65-5466-208-6 ISBN Digital 978-65-5466-205-5 “Graduação - EaD”. 1. Treinamento 2. Natação 3. Brasil CDD 797.21 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 O ato de nadar nada mais é do que ação de se locomover no meio líquido, com alavancas do nosso próprio corpo. Sendo assim, a natação está muito além do esporte e dos quatro estilos de nado, ou seja, a natação é multifatorial, e vai estar inserida em diversos ambientes, com diversos públicos. Então, o conhecimento sobre o ensino, desempenho e outras diversas áreas onde a natação pode atuar é de extrema importância, e não apenas um conteúdo isolado. Por isso, deve ser desenvolvida nos profissionais de Educação Física uma variedade de conhecimentos e experiência sobre a natação. Na Unidade 1, abordaremos o conhecimento-base para desenvolvimento de todo o conteúdo trabalhado neste livro didático, como estratégias para introdução ao meio líquido, conhecendo partes da hidrodinâmica dos nados e conceitos de aprendizagem, o desenvolvimento da técnica e hidrodinâmica de cada nado em específico, conhecendo sequências pedagógicas para aprendizagem de cada estilo de nado, além de propormos exercícios educativos específicos para cada nado. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos aspectos fisiológicos no desempenho da natação, relacionados com o sistema muscular, sistema cardiorrespiratório e metabolismo energético, e aplicaremos esse conhecimento fisiológico no princípio de treinamento, avaliação e controle para planejamento de treino para nadadores, conhecendo riscos como overtraining e overreaching. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos natação e suas diversidades, no patamar do lazer, propondo o ambiente aquático como promotor da saúde, fazendo um papel importante na prevenção e tratamento de doenças. Olhando para natação como o promotor de lazer, trazendo dimensões e definições relacionado o lazer com a natação nesse contexto. Compreendendo como a natação é agente de saúde, atendendo nosso corpo com a promoção e o tratamento de doenças crônicas não transmissíveis. Apresentaremos a paranatação como ferramenta de inclusão no esporte, analisando a classificação de atletas e tipos provas. Por último, mais não menos importante, devemos sempre tentar compreender e questionar com um olhar clínico todo conteúdo disponibilizado, pois sabemos que a ciência está em constante movimento. Prof. Alcides Pereira de Brito APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - HIDRODINÂMICAS DA NATAÇÃO, NADOS E VIRADAS ................................... 1 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS E DE APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO ..................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 INTRODUÇÃO ÀS CARATERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DA NATAÇÃO ..........................3 3 INTRODUÇÃO À APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO ...............................................................5 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 13 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................14 TÓPICO 2 - CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DOS NADOS ..................................... 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17 2 CARACTERÍSTICA HIDRODINÂMICAS DO NADO CRAWL ............................................... 17 2.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO CRAWL ....................................................................................................................................... 18 2.1.1 Posicionamento do corpo no nado crawl ............................................................................ 18 2.1.2 Braçada do nado crawl ........................................................................................................... 18 2.1.3 Pernada do nado crawl .............................................................................................................212.1.4 Coordenação de braços e pernas do nado crawl .............................................................21 2.1.5 Respiração do nado crawl ......................................................................................................22 3 CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DO NADO COSTAS ......................................... 23 3.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO COSTAS .................................................................................................................................................23 3.1.1 Posicionamento do corpo no nado costas .........................................................................23 3.1.2 Braçada do nado costas .........................................................................................................24 3.1.3 Pernada do nado costas ......................................................................................................... 27 3.1.4 Coordenação de braços e pernas no nado costas ...........................................................28 3.1.5 Respiração no nado costas ...................................................................................................28 4 CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DO NADO BORBOLETA .................................. 28 4.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO BORBOLETA ..........................................................................................................................................29 4.1.1 Posicionamento do corpo no nado borboleta .....................................................................29 4.1.2 Braçada do nado borboleta ....................................................................................................29 4.1.3 Pernada do nado borboleta ....................................................................................................33 4.1.4 Coordenação de braços e pernas no nado borboleta ......................................................34 4.1.5 Respiração no nado borboleta ...............................................................................................34 5 CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DO NADO PEITO ............................................. 35 5.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO PEITO ..........35 5.1.1 Posicionamento do corpo no nado peito .............................................................................36 5.1.2 Braçada do nado peito .............................................................................................................36 5.1.3 Pernada do nado peito ............................................................................................................. 37 5.1.4 Coordenação de braços e respiração do nado peito ......................................................38 5.1.5 Coordenação de pernas e respiração do nado peito .......................................................38 5.1.6 Filipina do nado peito ..............................................................................................................39 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 40 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 41 TÓPICO 3 - APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DOS NADOS, SAÍDAS E VIRADAS ......... 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 43 2 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO CRAWL ......................................... 44 2.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA DO NADO CRAWL .......................................................................................................................................44 2.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA DO NADO CRAWL .....................................................................................................................................45 2.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA RESPIRAÇÃO DO NADO CRAWL ....................................................................................................................................46 2.4 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO NO NADO CRAWL ....................................................................................................46 3 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO COSTAS ........................................47 3.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA NO NADO COSTAS .................................................................................................................................. 48 3.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA NO NADO COSTAS ................................................................................................................................. 48 3.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO NO NADO COSTAS ...........................................................................................................................49 4 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO BORBOLETA ................................. 50 4.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA DO NADO BORBOLETA .............................................................................................................................50 4.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA NO NADO BORBOLETA ..............................................................................................................................51 4.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA RESPIRAÇÃO NO NADO BORBOLETA .............................................................................................................................51 4.4 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO NO NADO BORBOLETA ............................................................................................51 5 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO PEITO ............................................ 52 5.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA NO NADO PEITO .........................................................................................................................................52 5.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA NO NADO PEITO .........................................................................................................................................53 5.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA RESPIRAÇÃO NO NADO PEITO ........................................................................................................................................54 5.4 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO DO NADO PEITO .......................................................................................................54 6 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DAS SAÍDAS E VIRADAS .............................. 55 6.1 SAÍDAS NO NADO CRAWL, PEITO E BORBOLETA .......................................................................55 6.2 SAÍDAS DO NADO COSTAS ...............................................................................................................55 6.3 VIRADAS E CHEGADAS ....................................................................................................................55 6.3.1 Virada do nado crawl e costas ...............................................................................................56 6.3.2 Virada do nado peito e borboleta ........................................................................................56 6.3.3 Chegadas ..................................................................................................................................56LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................57 RESUMO DO TÓPICO 3 ......................................................................................................... 61 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 62 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 63 UNIDADE 2 — CONCEITOS FISIOLÓGICOS E PLANEJAMENTO PARA DESEMPENHO DA NATAÇÃO ................................................................................................ 65 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS FISIOLÓGICOS E PLANEJAMENTO PARA DESEMPENHO DA NATAÇÃO ................................................................67 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................67 2 CONCEITOS FISIOLÓGICOS E METABÓLICOS LIGADO AO EXERCÍCIO ........................67 3 CONCEITOS DE PLANEJAMENTO E PRESCRIÇÃO LIGADOS AO EXERCÍCIO .............. 69 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................72 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................73 TÓPICO 2 - RESPOSTAS FISIOLÓGICAS NO DESEMPENHO DA NATAÇÃO ......................75 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................75 2 SISTEMA MUSCULAR .......................................................................................................75 2.1 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS MÚSCULOS .............................................................. 76 2.2 FIBRAS MUSCULARES DO TIPO 1 E TIPO 2 .................................................................................78 2.3 SUBDIVISÃO DE FIBRAS MUSCULARES DO TIPO 2 .................................................................. 79 2.3.1 Relação de tipos de fibras musculares com o desempenho ......................................... 80 3 SISTEMA CIRCULATÓRIO ................................................................................................81 3.1 FREQUÊNCIA CARDÍACA .................................................................................................................83 3.1.1 Frequência cardíaca de repouso ...........................................................................................83 3.1.2 Frequência cardíaca máxima ............................................................................................... 84 3.2 VOLUME SISTÓLICO .........................................................................................................................85 3.3 DÉBITO CARDÍACO ..........................................................................................................................85 3.3.1 Volume sanguíneo e glóbulos vermelhos ..........................................................................86 3.3.2 Capilares ....................................................................................................................................87 3.3.3 Distinção de oxigênio arterial e venoso .............................................................................87 3.4 PRESSÃO SANGUÍNEA ..................................................................................................................... 88 4 SISTEMA RESPIRATÓRIO ............................................................................................... 88 4.1 CONSUMO DE OXIGÊNIO E RENDIMENTO NA NATAÇÃO ............................................................90 4.2 CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO OU VO 2MÁX ...........................................................................90 4.2.1 Métodos de aferição do VO2máx .......................................................................................... 91 5 METABOLISMO ENERGÉTICO NA NATAÇÃO .................................................................. 93 5.1 POTENCIAL ENERGÉTICO E SUAS FONTES .................................................................................93 5.2 ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO CORPO ..............................................................................94 5.2.1 Adenosina trifosfato ................................................................................................................94 5.2.2 Fosfato de creatina .................................................................................................................95 5.2.3 Glicose ........................................................................................................................................96 5.2.4 Gordura ......................................................................................................................................96 5.2.5 Proteínas ..................................................................................................................................... 97 5.3 SISTEMAS BIOQUÍMICOS DO METABOLISMO ENERGÉTICO ................................................... 97 5.3.1 Sistema imediato ou ATP-CP ................................................................................................. 97 5.3.2 Sistema anaeróbico ou glicolítico .......................................................................................98 5.3.3 Sistema aeróbico ......................................................................................................................99 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 101 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................102 TÓPICO 3 - PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO, AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DO TREINAMENTO DA NATAÇÃO ..................................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................105 2 PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO ....................................................................................105 2.1 PRINCÍPIO DA ADAPTAÇÃO ...........................................................................................................105 2.2 PRINCÍPIO DA SOBRECARGA ........................................................................................................106 2.3 PRINCÍPIO DA PROGRESSÃO ........................................................................................................106 2.4 PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE .................................................................................................106 2.5 PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE ............................................................................................... 107 2.6 PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE ............................................................................................. 107 3 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE NADADORES .....................................................108 3.1 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE PARÂMETROS SANGUÍNEOS .....................................108 3.2 MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO COM RELÓGIO ............108 3.3 MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO COM A FREQUÊNCIA CARDÍACA ..........................................................................................................................................109 3.4 MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO COM PERCEPÇÃO SUBJETIVAS DE ESFORÇO ...........................................................................................................109 4 PLANEJAMENTO DE TREINAMENTO PARA NADADORES............................................110 4.1 MACROCICLOS, MESOCICLOS, MICROCICLOS E COMPONENTES TREINÁVEIS ..................110 5 OVERTRAINING E OVERREACHING ............................................................................... 112 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 113 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 119 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................120 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 121 UNIDADE 3 — NATAÇÃO NAS SUAS DIVERSIDADES: LAZER, SAÚDE E BEM-ESTAR E PARADESPORTO ..................................................................................... 127 TÓPICO 1 — NATAÇÃO PARALÍMPICA E ADAPTADA ........................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................129 2 INCLUSÃO AO ESPORTE ................................................................................................129 3 INTRODUÇÃO À NATAÇÃO PARALÍMPICA ..................................................................... 131 3.1 NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................ 132 3.1.1 Classificação funcional para pessoas com deficiência visual ....................................... 135 3.1.2 Recursos adaptativos ao treinamento e às provas ........................................................ 136 3.2 NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ...............................................138 3.2.1 Classificação funcional para pessoas com deficiência Intelectual ..............................141 3.2.2 Recursos adaptativos ao treinamento e às provas ........................................................141 3.3 NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICO-MOTORAS ....................................... 142 3.3.1 Amputação ................................................................................................................................ 143 3.3.2 Paralisia cerebral ....................................................................................................................144 3.3.3 Lesados medulares ................................................................................................................144 3.3.4 Classificação funcional para pessoas com deficiências físico-motoras ..................146 3.3.5 Recursos adaptativos ao treinamento e às provas ....................................................... 147 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................150 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 151 TÓPICO 2 - A PRÁTICA DA NATAÇÃO COMO SAÚDE E BEM-ESTAR ...............................155 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................155 2 A IMPORTÂNCIA DA NATAÇÃO PARA A SAÚDE .............................................................155 2.1 O QUE É SAÚDE? .............................................................................................................................. 155 2.2 RECOMENDAÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA ................................................................................... 156 2.2.1 Crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade) .............................................................. 156 2.2.2 Adultos (18 a 64 anos de idade) .......................................................................................... 157 2.2.3 Idosos (65 anos de idade ou mais) ..................................................................................... 159 2.2.4 Mulheres grávidas e no pós-parto ......................................................................................161 2.3 A NATAÇÃO COMO ALTERNATIVA DE MELHORA DA SAÚDE ................................................. 163 2.3.1 Natação como alternativa de melhora da saúde para crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade) ............................................................................................................ 163 2.3.2 Natação como alternativa de melhora da saúde para adultos (18 a 64 anos de idade) .........................................................................................................164 2.3.3 Natação como alternativa de melhora da saúde para idosos (65 anos de idade ou mais) .................................................................................................164 2.3.4 Natação como alternativa de melhora da saúde para mulheres grávidas e no pós-parto ............................................................................................................................ 165 3 A IMPORTÂNCIA DA NATAÇÃO PARA PREVENÇÃO E AUXÍLIO EM DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) ...................................................................165 3.1 EVIDÊNCIAS DA NATAÇÃO NO COMBATE ÀS DCNTS ............................................................... 166 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................168 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................169 TÓPICO 3 - PRÁTICA DA NATAÇÃO COMO LAZER ........................................................... 173 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 173 2 A IMPORTÂNCIA DO LAZER ........................................................................................... 173 2.1 LAZER COMO NECESSIDADE HUMANA E PERSPECTIVA CULTURAL ................................. 175 2.1.1 Lazer e ludicidade ....................................................................................................................176 2.1.2 Lazer e manifestações culturais .........................................................................................177 2.1.3 Lazer no ambiente social........................................................................................................177 3 A NATAÇÃO COMO LAZER .............................................................................................178 3.1 A NATAÇÃO COMO DIMENSÃO DE LAZER EM UM AMBIENTE SOCIAL ................................ 178 3.1.1 Natação e lazer em uma concepção lúdica ...................................................................... 178 3.1.2 Natação e lazer nas manifestações culturais .................................................................. 179 3.1.3 Natação e lazer em um ambiente social .......................................................................... 179 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 181 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................185 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................186 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................187 1 UNIDADE 1 - HIDRODINÂMICAS DA NATAÇÃO, NADOS E VIRADAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer caraterísticas específi cas do meio aquático e questões hidrodinâmicas dos nados crawl, costas, peito e borboleta; • elaborar sequências pedagógicas de aprendizagem dos nados crawl, costas, peito, borboleta e saídas e viradas;• utilizar sequências pedagógicas dos nados crawl, costas, peito, borboleta e saídas e viradas; • conhecer exercícios de aperfeiçoamento dos nados crawl, costas, peito, borboleta e saídas e viradas; • aplicar sequências específi cas de aperfeiçoamento dos nados crawl, costas, peito, borboleta e saídas e viradas. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS E DE APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DOS NADOS TÓPICO 3 – APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DOS NADOS, SAÍDAS E VIRADAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 INTRODUÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS E DE APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos caraterísticas hidrodinâmicas e de aprendizagem da natação, conhecendo definições da hidrodinâmica e correlacionado com a natação, formas de aprendizagem e adaptação ao meio líquido, sempre partindo do mais simples para o mais complexo. A natação se diferencia pelo seu ambiente de prática, por seu ambiente líquido, pois a água chega a ser 800 vezes mais densa do que o ar. Portanto, as caraterísticas da hidrodinâmica se referem à natação com clareza, pois se trata de um corpo submerso em meio líquido. A hidrodinâmica, conhecida também como dinâmica dos fluidos, refere-se ao corpo com seu posicionamento e suas alavancas (pernas e braços) se locomovendo submerso ao fluido (água), considerando conceitos da física como força, velocidade e aceleração. A hidrodinâmica conceitua totalmente a natação ou ato de nadar, pois sua definição é conhecida como o ato de se locomover dentro do meio líquido sustentando- se sobre ele usando membros do seu próprio corpo. A aprendizagem é um fenômeno que ocorre com estímulo e resposta a esse estí- mulo que foi dado. Segundo Vygotsky, a aprendizagem são experiências que conduzem a um comportamento diferente do indivíduo, tendo, assim, uma concepção de que o indiví- duo deve ter um contato com outros indivíduos e com o meio (FERRACIOLI, 1999). Na na- tação, a aprendizagem ocorre por meio da interação entre professor, aluno e o meio, que é totalmente diferente do tradicional, pois esse meio é líquido, e para nos locomovermos dentro desse meio, precisamos de certas habilidades que devem ser aprendidas por meio de experiências, tendo uma sequência pedagógica para uma aprendizagem favorável. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 2 INTRODUÇÃO ÀS CARATERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DA NATAÇÃO O aprimoramento da técnica de nado tem como objetivo principal o aumento do nível de aproveitamento de velocidade do nadador e melhora do gasto de recurso energético pela diminuição da resistência oposta ao deslocamento determinado pelo meio líquido, chamado de arrasto, pela melhora da capacidade propulsiva e maior deslocamento com menos ciclos de gesto motor. 4 A progressão no meio líquido se dá por interação de forças propulsivas e restivas. O desempenho de um indivíduo na natação pode ser melhorado com aumento de forças propulsivas ou diminuído forças resistivas que atuam no corpo com uma determinada velocidade. A capacidade propulsiva consiste em uma das habilidades essenciais do nadador, na qual se conectam com as capacidades técnicas e fisiológicas que sustentam o aspecto mecânico da força. Ainda assim, a capacidade de minimizar o arrasto hidrodinâmico não é menos importante, ainda que se considere que o arrasto hidrodinâmico relacionado à propulsão é menos dependente da técnica e mais relacionado aos parâmetros morfológicos e antropométricos, sendo, assim, mais estável. O arrasto hidrodinâmico é caraterizado por ser uma força externa que age sobre o corpo do nadador, com a mesma direção, porém com sentidos diferentes do vetor de deslocamento. Assim, quanto menor for a sua intensidade, maior a velocidade de deslocamento se as outras variáveis se mantiverem constantes. Nesse contexto, a diminuição do arrasto hidrodinâmico deve ter uma atenção primária em programas de treinamento para nadadores. Uma variedade de fatores pode afetar a intensidade do arrasto hidrodinâmica, como fatores morfológicos do nadador, materiais esportivos, caraterísticas do meio e técnica do nado. Normalmente, o arrasto hidrodinâmico aumenta quando o nadador se encontra mais na posição vertical e faz movimentos laterais. Por isso, os nadadores devem manter uma posição horizontal ao se deslocar no meio líquido, tendo, assim, uma quantidade menor de correntes de fluido. Os nadadores, durante o nado, encaram três tipos de arrasto: arrasto de fricção, arrasto de onda e arrasto de pressão. O arrasto de fricção corresponde ao arrasto hidrodinâmico gerado como produto da fricção da água com a superfície do corpo do nadador em movimento. Quanto maior sua velocidade, maior o arrasto de fricção. O arrasto de onda é causado pela oscilação das partículas de água quando o nadador se desloca na superfície da água, e de ar – dois meios fluidos com densidades diferentes causado oscilação no meio líquido. O arrasto de pressão é causado com a separação da camada-limite, tendo como fator um distúrbio no fluido potencial, o que gera uma conversão de velocidade de deslocamento em pressão. Então, a velocidade de nado é o fator principal para esses componentes de arrasto. Os estilos de nado têm suas técnicas específicas, e em cada estilo tem-se uma posição corporal e uma sequência de movimento diferentes. Esse posicionamento hidrodinâmico é de difícil definição, pois temos nados simultâneos e descontínuos (borboleta e peito) e nados alternados e contínuos (crawl e costas), com cada um desses nados com sua especificidade de técnica e fases de ciclos gestual, tanto de membros superiores quanto inferiores. 5 3 INTRODUÇÃO À APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO Antes de falarmos de processo de aprendizagem, temos que entender a memória. O processamento da memória acontece desde a infância, e para o andamento desse mecanismo, temos a plasticidade cerebral como essencial para o desenvolvimento. O ser humano, chegando na fase adulta, tem na memória uma função importante, permitindo a obtenção de habilidades, criando memórias para responder a mudanças ao meio em que está inserido. Ao analisarmos a plasticidade durante a vida, não há mudanças significativas nos neurônios, pois eles são responsáveis por guardar as informações por meio das sinapses. Fisiologicamente, as sinapses são produzidas por uma modificação no meio, podendo ser um acontecimento externo que conduz essas informações obtidas, podendo fornecer outros meios de transmissão, ou um meio prévio de transmissão facilitador dos circuitos neurais do encéfalo. Sendo assim, uma vez criados esses meios, eles podem ser usados para reproduzir a memória (ANDRADE et al., 2021). A organização da memória envolve estágios de aquisição, armazenamento e evocação. No estágio de aquisição, acontece uma escolha, levando em consideração o que realmente chama sua atenção, o que é relevante e o que provoca reações emocionas no indivíduo. O desempenho da memória envolve variados componentes neurais que intervêm no dia a dia do indivíduo. Dentro desse processo, chega uma variedade de informações ao encéfalo, impulsionado redes neurais e favorecendo, como consequência da repetição, um maior acúmulo de informações. A evocação é quando adquirimos a memória e já a temos armazenada, e agora precisamos usá-la. O uso dessas memórias já guardadas pode ser voluntário ou involuntário. O fator emocional pode interferir no processo de evocação das memórias. Por exemplo, as memórias adquiridas em situações com fatores emocionais dentro de uma aula de natação, sendo elas boas ou ruins, tornarão a evocação mais rápida quando o aluno estiver em situações parecidas.A existência de memórias de longo prazo e de curto prazo tem diferenças neurofisiológicas distintas. As memórias de curto prazo são consequência dos sinais elétricos gerados e dissipados pelos neurônios por meio das sinapses. Por isso, têm caraterística rápida, sendo a informação perdida após a utilização. Já as memórias de longo prazo produzem mudanças estáveis nas estruturas morfológicas do sistema neural, o que possibilita que a memória se mantenha por um longo período. As memórias de longo prazo incluem as memórias declarativas ou explícitas, que se referem à habilidade de guardar acontecimentos, pronunciar palavras, cenas, histórias, dentre outros estímulos. A memória explícita é fragmentada em episódica e 6 semântica. A episódica se refere à memória específica de cada indivíduo, e a semântica é um saber sobre acontecimentos universais, em que o contexto sociocultural pode ser fator determinante. Outro tipo de memórias de longo prazo são as memórias não declarativas ou implícitas que, diferentemente das anteriores, são manifestadas na execução, não de palavras, mas, sim, de movimentos. É dividida em: memória de representação, referindo- se uma apresentação, antes mesmo da sua compreensão; memórias de procedimentos, definidas por hábito e habilidades de uma forma geral; memória associativa e não associativa, relacionadas à manifestação de alguns comportamentos. A relação existente entre a memória e aprendizagem é complexa e fundamental para compreensão de ambas. A memória é uma das funções cognitivas mais importantes para a aprendizagem de novos assuntos, tendo impacto positivo no sistema nervoso, sendo esses dois processos envolvidos no desenvolvimento do indivíduo, já que ele é caraterizado por aquilo que aprende e por suas lembranças (BATISTA DE SOUSA; MISKINIS SALGADO, 2015). Dessa maneira, entendemos que a relação entre memória e aprendizagem é existente, sustentando a concepção de que ambos os processos atuam simultaneamente. No processo de aprendizagem da natação, devemos ter todas essas concepções, vistas até aqui como bem distintas, pois esse novo meio onde o indivíduo será inserido é, nada mais, nada menos do que mil vezes mais denso do que o ar. Dentro da aprendizagem da natação, os primeiros passos são os mais importantes, pois é dentro dessa iniciação que o aluno escolhe se vai prosseguir ou não. Olhando para o aprendizado da natação, vamos observar três movimentos diferentes de ensino, que são: idealização global, analítica e sintética. A concepção global não tem como objetivo a abordagem de sequências estruturais, mas, sim, visa ao instinto de sobrevivência e necessidade de experiência com esse novo meio. A concepção analítica tem como objetivo desestruturar os movimentos, transmitindo-o em parcelas até chegar ao seu todo. Olhando, agora, para concepção sintética, ela traz sua coerência do todo para as partes, ou seja, traz sequências mais objetivas (ZULIETTI; LUCIANA; SOUSA, 2002). A natação, como qualquer outra disciplina ou qualquer conteúdo a ser aprendido, deve sempre partir do mais simples para o mais complexo. Seguindo uma sequência evidente, primeiro vem a adaptação ao meio líquido, em segundo lugar, flutuação, terceiro, respiração, quarto, propulsão e mergulho elementar. Na adaptação ao meio líquido, o aluno deve sentir o meio em que está inserido, tentando, assim, se sentir mais adaptado a esse meio. Atividades que podem ser desenvolvidas para essa adaptação incluem locomoção pela borda da piscina, imersão com bloqueio da respiração e movimentação com auxílio de materiais flutuantes. 7 Figura 1 – Deslocamento na borda da piscina Figura 2 – Flutuação em decúbito dorsal com auxílio Figura 3 – Flutuação em decúbito ventral com auxílio Fonte: o autor Fonte: o autor Fonte: o autor A flutuação é uma das habilidades mais difíceis de serem desenvolvidas, pois o aluno deve estar com sua musculatura bem relaxada para que ela aconteça. A flutuação é a capacidade de permanecer com o corpo na superfície da água. Atividades que podem ser elaboradas, tendo como objetivo a flutuação, incluem ficar em decúbito dorsal com auxílio do professor ou colega. O mesmo pode ser proposto em decúbito ventral e, ainda, a flutuação com uma diversidade de materiais que flutuam. 8 Figura 4 – Flutuação com auxílio de materiais Figura 5 – Soltar o ar pela boca Fonte: o autor Fonte: o autor A respiração no meio líquido é essencial para que o aluno consiga se desenvolver dentro do aprendizado, pois ela consegue dar uma sensação de bem-estar. Porém a respiração no meio líquido é diferente da respiração desenvolvida no dia a dia, pois os seus orifícios para inspirar e expirar (boca e nariz) encontrão a água como barreira. No meio líquido, a inspiração é feita pela boca, pois tem uma maior capacidade de captação de oxigênio. A expiração é feita tanto pelo nariz como pela boca, ou ambos, porém preferencialmente pelo nariz, pois se tem, assim, um controle maior da respiração. A respiração é primordial para que se dê início aos estilos de nados. Atividades que podem ser desenvolvidas tendo como objetivo a respiração são: soprar a água como se fosse uma vela, aproximar a boca o mais próximo da água e expirar o ar, expirar com a boca com a face submersa, depois, o nariz e, finalmente, ambos. 9 Figura 6 – Soltar o ar pela boca e nariz Figura 7 – Soltar o ar pela boca e nariz com o rosto submerso Fonte: o autor Fonte: o autor A propulsão, que é a capacidade de se locomover no meio líquido com alavancas do próprio corpo, envolve ação simultânea de membros inferiores e superiores. Essa habilidade é essencial no aprendizado dos nados posteriormente. A noção de propulsão deve ser iniciada com noções básicas de impulso com progressões simples. Quando focada em membro inferiores, devem ser inseridos deslocamentos específicos de movimentos com esses membros. Da mesma forma, nos membros superiores, com objetivo específico nesses membros, pois a maior propulsão de nado vem deles. Atividades que podem ser desenvolvidas incluem deslizar com impulso da parede da piscina, gerando propulsão de ambos os membros com materiais, e travessia de obstáculos submersos. 10 Figura 8 – Propulsão simultânea dos membros Figura 9 – Travessia de obstáculos submersos Fonte: o autor Fonte: o autor O mergulho elementar envolve a compreensão das várias formas de entrada no meio líquido. Atividades que podem ser desenvolvidas: mergulho em pé, mergulho sentado apontando a cabeça para o fundo da piscina, mergulho com os joelhos na borda apontando a cabeça para o fundo da piscina, mergulho com um dos joelhos na borda e outro sem flexionado com o pé na borda apontando a cabeça para o fundo da piscina, mergulho em pé com os pés juntos apontando a cabeça para o fundo da piscina, mergulho em pé com os pés alternados apontando a cabeça para o fundo da piscina, podendo utilizar uma estratégia de alvo com algum material. 11 Figura 10 – Mergulho em pé na posição vertical Figura 11 – Mergulho sentado Figura 12 – Mergulho de joelhos com mãos unidas e braços estendidos Fonte: o autor Fonte: o autor Fonte: o autor 12 Figura 13 – Mergulho em pé com mãos unidas e braços estendidos Fonte: o autor A variedade de intervenções de ensino e aprendizagem será abordada nos próximos tópicos, onde entraremos no conceito dos quatro estilos: crawl, costa, peito e borboleta. Porém entendemos que nadar é muito mais do que apenas executar esses quatro estilos, pois sabemos que sua prática não é datada, se perde no próprio conceito de humanidade, muitas vezes sendo uma questão de sobrevivência. Nadar também tinha sua questão com a sociedade, com a formação do cidadão. O filósofo Platão falava que todo homem culto deve saber ler, escrever e nadar. Devido a sua função primordial, a natação deve ser explorada desde essa fase de adaptação ao meio líquido. 13 Neste tópico, você aprendeu: • A física, especificamente a hidrodinâmica, influenciao corpo inserido no meio líquido. Assim, conhecemos o arrasto hidrodinâmico e conceituamos suas caraterísticas, entendendo que a hidrodinâmica deve ser trabalhada dentro do ambiente da natação para um melhor desempenho. • A compreensão do posicionamento hidrodinâmico dos nados é de suma relevância, pois todo nado tem suas técnicas específicas, e em cada estilo se tem uma posição corporal e uma sequência de movimentos diferentes, com nados simultâneos e descontínuos (borboleta e peito) e nados alternados e contínuos (crawl e costas). • Estratégias de aprendizagem como recursos que permitem exercitar e vivenciar experiências que proporcionam a evocação, repetição e possível consolidação da memória. Dessa maneira, tal associação depende da inter-relação de células neuronais e a maturação do indivíduo, assim como de suas vivências com o meio, em conjunto com habilidades como sensação e percepção, relacionadas à memória, que contribuem para o desenvolvimento integral da aprendizagem. • A natação, como qualquer outra disciplina ou qualquer conteúdo a ser aprendido, deve sempre partir do mais simples para o mais complexo, seguindo uma sequência evidente: primeiro, adaptação ao meio líquido, depois, flutuação, respiração, propulsão e mergulho elementar. RESUMO DO TÓPICO 1 14 AUTOATIVIDADE 1 Para que o deslocamento do nadador aconteça no meio aquático, é necessário que, a cada movimento dos membros, produza uma força propulsiva igual ou maior do que a força de arrasto hidrodinâmico. Os nadadores, durante o percurso de nado, enfrentam três tipos de arrasto hidrodinâmicos. Assinale a alternativa CORRETA que os apresenta: a) ( ) Arrasto de fricção, arrasto de onda e arrasto de pressão. b) ( ) Arrasto de fração, arrasto de pêndulo e arrasto de pressão. c) ( ) Arrasto de fricção, arrasto de pêndulo e arrasto de palmar. d) ( ) Arrasto de onda, arrasto de volta e arrasto de pressão. 2 Todo estilo de nado tem suas técnicas específicas, e em cada estilo se tem uma posição corporal diferente e uma sequência de movimentos diferenciados, por isso esse posicionamento hidrodinâmico é de difícil definição. Temos nados simultâneos e descontínuos e nados alternados e contínuos. Quais estilos de nados são simultâneos e descontínuos e quais são alternados e simultâneos? a) ( ) Os nados simultâneos e descontínuos são crawl e peito, e os nados alternados e contínuos são borboleta e costas. b) ( ) Os nados simultâneos e descontínuos são costas e crawl, e os nados alternados e contínuos são borboleta e peito. c) ( ) Os nados simultâneos e descontínuos são borboleta e peito, e os nados alternados e contínuos são crawl e costas. d) ( ) Os nados simultâneos e descontínuos são cachorrinho e peito, e os nados alternados e contínuos são crawl e borboleta. 3 A relação existente entre a memória e aprendizagem é complexa e fundamental para a compreensão de ambas. A memória é uma das funções cognitivas mais importantes para a aprendizagem de novos assuntos, tendo impacto positivo no sistema nervoso. A organização da memória envolve três estágios. Quais são esses estágios? a) ( ) Memória de curto prazo, memória de longo prazo e evocação. b) ( ) Aquisição, armazenamento e evocação. c) ( ) Aquisição, memória de curto prazo e memória de longo prazo. d) ( ) Memória de curto prazo, memória de médio prazo e memória de longo prazo. 4 O aprendizado da natação é de extrema complexidade, pois o indivíduo vai ser imerso em um ambiente não comum, mil vezes mais denso do que o ar, e para nos locomovermos nesse meio, precisamos de habilidades não desenvolvidas durante o cotidiano de um indivíduo que não pratica natação. Dentro dessa adaptação a esse 15 meio líquido e desenvolvimento dessas habilidades não convencionais, devemos entender que essa aprendizagem deve sempre partir do mais simples para o mais complexo. Nesse contexto, disserte sobre as principais estratégias para que possam ser desenvolvidas essas habilidades. 5 Há uma sequência de fatores com mudanças moleculares que incluem estágios de obtenção e estabelecimento da aprendizagem. Tais mudanças acontecem de maneira definitiva a partir de estímulos e experiências deferidas. Porém, antes de falarmos sobre o processo de aprendizagem, temos que entender a memória. O processamento da memória acontece desde a infância, quando há a existência de memórias de longo prazo e de curto prazo. Dentro desse contexto, disserte sobre as principais caraterística de memórias de longo prazo e de curto prazo. 16 17 CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DOS NADOS 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 2, trataremos dos aspectos hidrodinâmicos dos nados, em cada nado, separadamente, conhecendo os posicionamentos do corpo em cada fase e entendendo cada gesto motor especificamente. Abordaremos o nado crawl, pois é quase sempre o primeiro nado a se aprender e o mais veloz dentre os quatro estilos. O significado do seu nome é “rastejar”. Conheceremos sua posição corporal, principais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos. Fundamentaremos o nado costas, quase sempre o segundo nado a se aprender, uma sequência bem parecida com a do nado crawl, porém o nadador fica em decúbito dorsal (por isso o nome do nado é costas). Conheceremos sua posição corporal, principais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos. Desenvolveremos o nado peito, de alta complexidade de movimentos, contendo movimentos simultâneos e particularidades que apenas esse estilo tem. Já foi chamado de nado clássico, e hoje, no processo de aprendizagem, é sempre o terceiro ou quarto nado a ser aprendido. Conheceremos sua posição corporal, principais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos. Trataremos, finalmente, do nado borboleta, um nado considerado, por muitos, de alta complexidade de aprendizagem. O seu nome faz jus às caraterísticas do nado, pois seus movimentos são muito parecidos com os de uma borboleta. Conheceremos sua posição corporal, principais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 CARACTERÍSTICA HIDRODINÂMICAS DO NADO CRAWL O nado crawl tem uma origem inglesa, com a característica de executar braçadas alternadas com movimentos circulares sobre os ombros. O crawl também e conhecido como nado livre, porque há uma preferência entre os nadadores em executar o nado crawl nas provas de nado livre, pois ele é o mais rápido dos quatro. O nado 18 Crawl é realizado na superfície da água, por movimentos alternados dos membros superiores, de maneira que o nadador possa respirar enquanto os membros superiores se movimentam alternadamente. Consequentemente, há uma variedade de trabalhos existentes sobre o nado crawl na contemporaneidade, a maior parte reproduzindo o nado de forma semelhante e complementar, para que o entendimento da sua execução possa ser ideal (VAN HOUWELINGEN et al., 2017). O nado Crawl é constituído por seus principais movimentos: braçada, pernada e respiração. Esses movimentos serão bem detalhados, particularmente fundamentados nos relatos da literatura pertinente ao posicionamento do corpo, ações dos braços, ação das pernas, sincronização de movimentos de braços e pernas e a respiração. 2.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO CRAWL A localização do nadador na água, com um olhar da hidrodinâmica no nado crawl, consiste na melhora do desempenho do nado, ou seja, melhora de deslize ou menos arrasto na água, com o objetivo de reduzir a força de arrasto hidrodinâmico. Durante os movimentos de membros inferiores, o objetivo é propulsão e estabilidade, e durante os movimentos de membros superiores, o objetivo é de propulsão, dividido em três parte principais: tração recuperação e finalização. Olhado para força de propulsão, a literatura nos afirma que os membros superiores geram75% mais força propulsiva do que membros inferiores (GONJO et al., 2021; SAMSON et al., 2017). 2.1.1 Posicionamento do corpo no nado crawl O posicionamento do corpo referente ao nado crawl consiste no corpo do nadador em decúbito ventral na superfície da água em posicionamento horizontal, com a cabeça em extensão, com a coluna voltada para o fundo da piscina, evitando movimentos laterais com a cabeça e o tronco (VAN HOUWELINGEN et al., 2017). 2.1.2 Braçada do nado crawl A braçada no nado crawl é dividida em duas fases: aérea e aquática. Durante a fase aquática, tem-se uma subdivisão: entrada e alongamento. A entrada da mão na água é feita adiante da cabeça, ofertando sempre as ponta dos dedos para entrar na água. O alongamento representa a extensão do cotovelo, já embaixo da água (GUIGNARD et al., 2017; NARITA; NAKASHIMA; TAKAGI, 2017). 19 Figura 14 – Entrada da mão e alongamento Figura 15 – Varredura para baixo Figura 16 – Varredura para dentro Fonte: o autor Fonte: o autor Fonte: o autor A partir da posição do alongamento, acontecem a varredura para baixo, onde acontecem os movimentos pra trás, para baixo e para dentro, até a posição de agarre. O posicionamento de agarre, representa na flexão parcial do cotovelo, tendo como principal caraterística o cotovelo acima da mão. A partir da posição de agarre, acontece a varredura para dentro, que é constituída pelos movimentos para trás, para dentro e para cima. Corresponde a um movimento circular chegando em um posicionamento inferior ao corpo do nadador, e que deve estar na linha média ou ultrapassada até que chegue a uma inclinação para dentro e para cima. 20 Ao final da varredura para dentro, inicia-se a varredura para cima, que é constituída pelos movimentos para trás, para fora e para cima, que corresponde ao segundo movimento propulsivo da braçada do nado crawl. O movimento é um deslocamento semicircular da mão, apartado do momento final da varredura para dentro, até perto da superfície da água. Figura 17 – Varredura pra cima Figura 18 – Liberação Fonte: o autor Fonte: o autor A segunda parte da braçada do nado crawl, chamada de fase aérea, é subdividida em duas partes: liberação e recuperação. O movimento de liberação condiz com o rompimento da superfície da água por meio do cotovelo antes da mão. A palma da mão deve estar voltada para dentro, de maneira que possa se mover até a superfície. O cotovelo rompe a superfície da água. Sequencialmente, vem o antebraço e a palma da mão, finalizando o movimento de rompimento com a mão próxima à coxa. O movimento de recuperação consiste em direcionar o braço por cima da água após o movimento de liberação, sustentando-o relaxado e posicionando-o para o próximo movimento de entrada na água. A recuperação ocorre em ritmo único, sendo flexionada a articulação do cotovelo, com movimento leve por cima da água. 21 Figura 19 – Recuperação Figura 20 – Movimentos das pernas Fonte: o autor Fonte: o autor 2.1.3 Pernada do nado crawl A pernada do nado crawl é fundamentada em movimentos para cima e para baixo, alternado os movimentos de ambas as pernas. O movimento da primeira perna começa durante a recuperação da outra perna, tendo uma flexão do quadril e, em seguida, uma extensão do joelho. O movimento da segunda perna deve ser para cima, com a extensão do quadril. 2.1.4 Coordenação de braços e pernas do nado crawl A sincronização de braços e pernas é de extrema importância para o desenvolvimento do nado crawl, pois temos que pensar no nado com ambas as alavancas propulsoras, tendo em mente uma coordenação com gestos rítmicos entre essas alavancas, em que se tem um ritmo entre os membros inferiores e superiores intimamente relacionados, ou seja, uma complexa sinfonia de movimentos para o nado. O ritmo de pernada consiste nos números de movimento das pernas por ciclo de braçadas. Contemporaneamente, os nadadores utilizam diversos ritmos de pernadas, ten- do, como exemplo, pernadas de seis, quatro e dois tempos, dependendo do estilo da prova. Há nadadores capazes de utilizar variados ritmos de pernadas em uma mesma prova. 22 No que se refere à sincronização de braço direito e esquerdo, os dois mantêm uma ligação necessária um com o outro, sendo fundamentada pela coordenação do ciclo dos braços e passagens discretas de uma fase de braçada para outra. A coordenação dos braços no nado crawl pode ser calculada pela diferença de tempo do começo da ação propulsora de um dos braços e o final da ação propulsora do outro braço, intitulada de índice de coordenação. Esse índice de coordenação é subdivido em três padrões com caraterísticas bem diferenciadas, que são: coordenação por oposição, coordenação por deslizamento e coordenação por sobreposição (NARITA; NAKASHIMA; TAKAGI, 2017; TAKAGI et al., 2016). A caraterística da coordenação por oposição é ter uma ação propulsiva constante entre os braços, sendo conhecida como braçada alternada. Quanto à coordenação por deslizamento, a sua principal característica é o atraso entre a ação propulsiva entre os braços. Já a coordenação por sobreposição tem como caraterística principal a ação propulsiva de ambos os braços. Tais estilos de índices de coordenação variam em função da velocidade do nado, se é um atleta de fundo ou de raso, distância da prova e nível técnico de habilidades do nadador, tendo como padrões: iniciante, intermediário e avançado. Figura 21 – Início da respiração e finalização da respiração Fonte: o autor 2.1.5 Respiração do nado crawl A respiração no nado crawl acontece entre a coordenação dos braços, funda- menta-se na realização da inspiração no decorrer da segunda varredura propulsiva, em seguida, o retorno do rosto do nadador à água antes da segunda fase de recuperação. A expiração deve ser feita ao longo do período restante de ciclo de braçada. O movimento da cabeça na respiração é realizado em conjunto com a propulsão, devendo ser realiza- do pela boca e nariz num tempo indefinido. Inicialmente, a inspiração é realizada de forma padronizada pela boca e, logo em seguida, a expiração pela boca e nariz. O ciclo respiratório conclui-se com a expiração severa do ar pela boca ou nariz no instante que a boca se libera da água para iniciar uma nova inspiração. O padrão mais comum da respiração é unilateral, no qual se inspira apenas de um lado, e há o bilateral, no qual se inspira em ambos os lados. 23 O uso da respiração bilateral se dá quando se tem a partir de três ou mais braçadas, em um número ímpar, para uma respiração, que é usada para melhora da simetria dos braços durante o nado. Além disso, é uma estratégia para que o nadador possa olhar seus adversários em ambos os lados. 3 CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DO NADO COSTAS O nado costas progrediu do nado peito, como todos os nados, sofrendo modificações, como cachorrinho de costas, nado de peito invertido, nado de costas com a braçada dupla, nado para salvamento e outras maneiras de se sustentar na água em decúbito dorsal ao longo da história. Considerado o terceiro nado mais rápido, atrás apenas do crawl e borboleta, tem um tom energético bem parecido com o nado crawl, quando nadado em alta velocidade. O nado costas tem um papel significativo na saúde, sendo recomendado por profissionais da área da saúde para correções posturais e tratamento e prevenções de patologias. Recomenda-se nadar o estilo costa para contribuição na recuperação de músculos e tendões, introduzido entre séries grandes dos estilos crawl e borboleta. Dentro da literatura científica encontram-se variedades de definições sobre o nado costas. Nosso intuito é apresentar a maior parte dessa literatura para compreensão de cada fase do nado e utilização das técnicas, independentemente do nome dado a cada movimento em meio ao material científico que futuramente se venha a ter contato. 3.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO COSTAS O posicionamento do nadador na água, com um olharda hidrodinâmica no nado costas, consiste na melhora do desempenho do nado, ou seja, melhora de deslize ou menos arrasto na água, com o objetivo de reduzir a força de arrasto hidrodinâmico. Durante os movimentos de membros inferiores, o objetivo é propulsão e estabilidade, e durante os movimentos de membros superiores, o objetivo é propulsão. O nado costas pode ser caraterizado por posição corporal, respiração, braçada, sincronia dos braços, sentido do movimento das pernas e sincronização de braços e pernas. 3.1.1 Posicionamento do corpo no nado costas O posicionamento no nado costas consiste no corpo do nadador em decúbito dorsal e em relação à superfície da água em posicionamento horizontal. Os ombros servem de referência para que o quadril e membros inferiores fiquem dentro de uma 24 linha imaginária no decorrer de todo o nado. A cabeça deve ficar dentro da água e a face deve ficar fora da água, e o olhar deve se manter fixo para trás e para cima (VAN HOUWELINGEN et al., 2017). A movimentação dos braços no nado costas é alternada – enquanto um braço se movimenta para baixo, o outro se movimenta para cima, fazendo com que o nadador tenha deslocamentos laterais. Para que o corpo não perca seu alinhamento, é necessário o rolamento: o nadador tem que rolar seu corpo no mesmo sentido em que o braço está se movimentando. O rolamento tem que ter cerca de 45° para ambos os lados, e a cabeça é a única que não se move durante o nado (GUIGNARD et al., 2017). 3.1.2 Braçada do nado costas Os movimentos dos braços são alternados, com a fase propulsiva semelhante à letra “S”, que também é chamada de fase aquática, na qual os braços se movimentam submersos. Temos também a fase de recuperação, com os cotovelos estendidos e alinhados com os ombros, e que também é chamada de fase aérea, na qual os braços se movimentam fora da água. A sequência da braçada do nado costas iniciam-se pela fase aquática, quando a primeira varredura para baixo acontece. O braço penetra na água com o cotovelo estendido e à frente do ombro, com a palma da mão virada para a mão que está com o sentido para fora. No momento da penetração, há uma rotação até ficar pendente para baixo e para trás, viabilizando o início do agarre. Figura 22 – Primeira varredura para baixo e início do agarre Fonte: o autor Os cotovelos têm de flexionar aos poucos no decorrer de toda a varredura para baixo. Essa primeira fase é relevante para o posicionamento do nadador, porém não é a fase mais propulsiva. A primeira varredura para cima é uma fase significativamente propulsiva da parte aquática da braçada, que começa no momento que acontece o agarre. O cotovelo segue a se flexionar no decorrer de toda essa fase da braçada, tendo como sequência a 25 Figura 23 – Primeira varredura para cima Figura 24 – Segunda varredura para baixo Fonte: o autor Fonte: o autor palma da mão virada pra cima até que se encontre inclinada para cima e para dentro, até concluir o movimento, no qual a mão deve ficar alinhada com o antebraço no decorrer de toda a movimentação. Essa fase se encontra totalmente relacionada com o movimento de rolamento de ombro. A segunda varredura para baixo é iniciada quando a primeira varredura para cima está chegando a sua finalização. No momento que a mão passa pelo seu ponto máximo da varredura para cima, ou seja, a linha do ombro, o braço faz tração para baixo e para trás, até que o cotovelo esteja estendido com a mão na parte inferior da coxa. A palma da mão deve estar voltada para baixo, na direção do fundo da piscina, na finalização do movimento. A segunda varredura para cima é iniciada após a finalização da segunda varredura para baixo, quando a mão se movimenta para trás, para dentro e para cima, partindo no sentido da superfície. Essa varredura para cima é finalizada quando a mão fica próxima à parte posterior da coxa, tendo que permanecer com o cotovelo estendido no decorrer de todo o movimento. 26 Figura 25 – Segunda varredura para cima Fonte: o autor A fase aérea se inicia quando termina a última fase aquática, quando a primeira parte de recuperação acontece, conhecida como liberação. Na liberação, a palma da mão deve ficar voltada para dentro, na direção do corpo do nadador, e movimentar-se para a superfície, rompendo a água com a mão, tendo o polegar voltado para cima, para reduzir a área de contato com a água. A fase de recuperação é iniciada após a finalização da liberação. A movimentação do ombro ajuda a elevar o braço para a superfície da água com o mínimo de gasto energético. Na recuperação, deve-se manter o cotovelo estendido e bem próximo da linha medial do corpo, reduzindo, assim, qualquer predisposição da braçada, de desalinhar o quadril e as pernas do nadador. Na primeira parte da recuperação, o nadador deve manter a palma da mão voltada para dentro e, na segunda parte, a palma da mão deve estar voltada para fora. O nadador deve usufruir dessa fase para poupar energia, executando-a com velocidade, mas sem uso de força excessiva. Figura 26 – Liberação e recuperação Fonte: o autor A fase de entrada é iniciada após a finalização da recuperação, quando a palma da mão deve estar voltada para fora e a frente do ombro, com o cotovelo estendido. O braço e o antebraço chegam à água antes da mão, ofertando o dedo mínimo para penetração da superfície da água. 27 Figura 28 – Pernada Fonte: o autor Figura 27 – Entrada Fonte: o autor A coordenação dos braços é intercalada com as fases aquática e aérea: quando um dos braços está na fase de recuperação e entra na água, o outro braço está terminado a fase propulsiva e saindo na superfície da água. Sendo assim, os braços não se encontram. 3.1.3 Pernada do nado costas A pernada no nado costas corresponde a impulsos alternados diagonais das pernas, chamados de pernadas para cima e pernadas para baixo. A pernada para cima é iniciada quando o pé atravessa a parte de baixo da linha do corpo do nadador simultaneamente a uma flexão do quadril, flexão do joelho, com os pés em flexão plantar e inversão. Em continuação, com extensão do joelho, e finalizando com a flexão segmentária dos pés. Tendo em vista a pernada para baixo, que é iniciada quando a finalização da pernada para cima está próxima, uma modesta extensão do quadril conserva a perna em movimento até que obtenha um plano inferior à linha do corpo. Nesse momento, é possível que a perna não gere propulsão. 28 A pernada do nado costas desempenha papéis importantes, como propulsão e alinhamentos lateral e horizontal do nadador por meio de seus movimentos diagonais. Esses movimentos propulsivos e diagonais das pernas são conhecidos, também, como pernadas de adejamento. 3.1.4 Coordenação de braços e pernas no nado costas A coordenação de braços e pernas no nado costas, em sua maior parte, usa uma sincronização de seis tempos de batimentos de perna para um ciclo de braçada. Essa cadência de pernas tem como razão o fato de as provas do nado costa serem curtas, tendo como maior distância 200 metros. No entanto, não há regra para isso. O nadador pode usar ritmos diferentes de pernadas para cada ciclo de braçada. 3.1.5 Respiração no nado costas A respiração é dividida em inspiração e expiração. A inspiração deve ser realizada pela boca, pois é o orifício maior, tendo uma maior captação de oxigênio e uma menor probabilidade de entrada da água nas cavidades do nariz. Já expiração deve ser feita ou pelo nariz ou pela boca. É mais recomendado pelo nariz, pois no momento de expiração pela boca, pode-se expelir gotículas de água que entram na cavidade nasal. É orientado que a inspiração aconteça no decorrer da recuperação de um dos braços e a expiração no decorrer da recuperação do outro. 4 CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DO NADO BORBOLETA O nado borboleta é o mais novo nado dentre os quatro estilos. Esse estilo nasceu em decorrência de falhas nas regras da Federação Internacional de Natação (Fina). A Fina não tinhauma definição clara das regras do nado peito, deixando uma lacuna para saída dos braços fora da água, sem que nenhuma regra fosse desrespeitada. Sendo o segundo nado mais rápido, só fica atrás do nado crawl. É o nado com maior gasto energético. O nado borboleta é bem parecido com o nado crawl, tendo como principal diferença a ação simultânea e descontínua. No decorrer do nado, há uma fase de pernada, na qual o movimento é realizado somente pelas pernas, e outra fase com braçadas e pernadas ao mesmo tempo. Assim, realizam-se duas pernadas para uma braçada (OPTIMIZATION; COE, 2000). Dentro da literatura científica, encontram-se variedades de definições sobre o nado borboleta. O intuito é apresentarmos a maior parte dessa literatura para compreensão de cada fase do nado e utilização das técnicas, independentemente do nome dado a cada movimento em meio ao material científico com o qual, futuramente, você venha a ter contato. 29 4.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO BORBOLETA O posicionamento do nadador na água, com um olhar da hidrodinâmica no nado borboleta, consiste na melhora do desempenho do nado, ou seja, melhora de deslize ou menos arrasto na água, com o objetivo de reduzir a força de arrasto hidrodinâmico (OPTIMIZATION; COE, 2000). Durante os movimentos de membros inferiores, o objetivo é propulsão e estabilidade, e durante os movimentos de membros superiores, o objetivo é de propulsão. O nado borboleta pode ser caraterizado por ter um maior tempo de propulsão, pois ocorrem braçadas e pernadas simultâneas. Conhecido também como nado golfinho, pois tem uma movimentação ondulante do corpo semelhante à do animal. 4.1.1 Posicionamento do corpo no nado borboleta O posicionamento do corpo referente ao nado borboleta consiste no corpo do nadador em decúbito ventral, com movimentos ondulantes, sem rolamentos, cabeça submersa e queixo perto do peito, olhando para baixo e para a frente. A posição do corpo no nado borboleta é modificada durante o nado. Há três po- sições que o corpo do nadador manifesta no decorrer de cada ciclo de braçadas, que têm função importante no desempenho do nado. A primeira posição é de alinhamento, na qual o corpo tem que ficar o mais alinhado possível durante as fases de propulsão do braço. A segunda posição é do quadril para cima, na qual o quadril do nadador deve se mover para cima e para frente por cima da água durante a primeira pernada para baixo. A terceira posição é quadril para baixo, na qual o quadril não deve subir à superfície da água na segunda pernada para não atrapalhar a fase de recuperação (TAÏAR et al., 1999). Figura 29 – Posição de alinhamento, quadril para cima e quadril para baixo Fonte: o autor 4.1.2 Braçada do nado borboleta Os movimentos dos braços no nado borboleta são em circundação simultânea, com movimentos de propulsão e recuperação bem parecidos com o do nado crawl, com duas fases bem distintas: fase aérea e fase aquática. Na fase aérea, os braços estão fora 30 da água. Isso significa que, nesse momento, não há propulsão com participação dos bra- ços. Na fase aquática, os braços estão submersos na água. Isso significa que, nesse mo- mento, há propulsão gerada pelos braços (OPTIMIZATION; COE, 2000; TAÏAR et al., 1999). A sequência de braçadas no nado borboleta vai ser abordada inicialmente pelo ataque, movimento não propulsivo que tem início com os braços fora da água, ou seja, fase aérea, tendo partida da linha do ombro até o momento da entrada da mão na água, com as mãos próximas à medida dos ombros. É realizado com os cotovelos estendidos e com os dedos polegares apontando para baixo. O ataque pode ser dividido em entrada e deslize (TAÏAR et al., 1999). Na entrada, as mãos devem atingir a água à frente da cabeça do nadador, com os braços na largura do ombro e com os cotovelos estendidos. No deslize, os cotovelos ficam estendidos, deslocando-se para baixo e à frente da cabeça, a 30 cm de começar a varredura para fora. Figura 30 – Ataque, entrada e deslize Figura 31 – Varredura para fora Fonte: o autor Fonte: o autor A varredura para fora é considerada um movimento menos propulsivo, com início logo ao término do ataque. As mãos se deslocam para frente e para fora até que se encontrem longe do alinhamento dos ombros, quando as palmas das mãos devem virar para fora e para trás quando os braços chegarem próximos do final da varredura para fora. Essa fase é denominada momento “Y”, em razão de que os braços do nadador, no final dessa fase, se parecem com a letra Y. 31 Figura 32 – Agarre Figura 33 – Varredura para dentro Fonte: o autor Fonte: o autor O agarre, também chamado de catch, é constituído por uma flexão palmar de 45°. Durante a braçada submersa, tem início a propulsão e chega-se ao final da varredura para fora. A varredura para dentro é iniciada logo após o agarre, quando o nadador sai da posição Y e impõe força sobre a água para baixo e para dentro, aumentando a velocidade do braço, tendo uma flexão gradativa dos braços com início, aproximadamente, em 50°, até uma flexão perto de 90° a 100°, quando há uma proximidade das mãos abaixo do nadador, chegando em uma posição chamada “diamante”. A varredura para cima é iniciada logo após a varredura para dentro, sendo a fase mais propulsiva do nado, quando o desempenho máximo do nado acontece. Há uma extensão do cotovelo para dentro e para fora, a 45°, acontecendo movimentos semicirculares para fora, para trás e para cima no sentido da superfície da água. As mãos devem virar para fora e permanecer na posição até o final dessa fase. 32 Figura 34 – Varredura para cima Figura 35 – Liberação Fonte: o autor Fonte: o autor A liberação é iniciada logo após a varredura para cima, sendo uma fase não propulsiva, que deve ser executada antes que as mãos cheguem à superfície e os cotovelos estejam totalmente estendidos. O nadador deve virar as palmas das mãos para dentro, no sentido das pernas, para que as mãos possam deslizar para cima e para fora da superfície da água com pouca agitação. A recuperação é iniciada logo após a liberação, sendo uma fase não propulsiva, na qual os braços emergem e perdem o contato com a água, com o dedo mínimo apontado para cima, deslocando-se para cima e para frente, o mais perto da água possível, até que se encontram à frente dos ombros para dar início à fase de ataque. A recuperação pode ser executada de maneiras diferentes, como com os cotovelos estendidos ao decorrer de todo o movimento, com os cotovelos estendidos na primeira metade e flexionados na segunda metade ou flexionados no decorrer de toda a fase. 33 Figura 36 – Recuperação Fonte: o autor Durante toda a fase aquática, as mãos são apontadas sempre para a direção em que a água precisa ser deslocada. Melhor dizendo, se a água tem que ser movida para fora, a mão tem que estar voltada para fora. Se a água tem que ser movida para dentro, a mão tem que estar voltada para dentro. A mão tem ação dinâmica em toda a fase aquática do nado. 4.1.3 Pernada do nado borboleta A pernada do nado borboleta, também conhecida como golfinhada ou pernada do golfinho, fundamenta-se em uma pernada dupla para cima (fase ascendente) e uma pernada dupla para baixo (fase descendente). A pernada para baixo prove um movimento de flexão plantar e inversão dos pés, com joelhos pouco flexionados no começo do movimento. A água se desloca para trás com a parte de cima do pé, havendo uma extensão gradual dos joelhos, e também um afastamento entre os joelhos no começo da pernada. Em razão do posicionamento dos pés para dentro, logo se juntam novamente no final da extensão (TAÏAR et al., 1999). A movimentação é semelhante ao chute no caratê, porém realizada com as pernas unidas e simultaneamente. Figura 37 – Pernada para baixo Fonte: o autor 34 A pernada para cima é executada com extensão de joelhos e pernas unidas, com os pés bem próximos e sem estarem virados para dentro. A extensãoconstante dos quadris e dos joelhos permanece até que cheguem acima do nível do corpo do nadador, onde a musculatura anterior da coxa deve se manter relaxada, assim como os pés (TAÏAR et al., 1999). Figura 38 – Pernada para cima Fonte: o autor 4.1.4 Coordenação de braços e pernas no nado borboleta Durante a coordenação de braços e pernas no nado borboleta, são executados dois ciclos de pernada para um ciclo de braçada. A primeira pernada é para baixo e tem que ser executada no decorrer da entrada, e a varredura para fora, sendo a mais longa e com uma elevação maior do quadril. É vista como a pernada principal, pois tem o papel de gerar propulsão para o ganho de velocidade. A segunda pernada é para baixo e tem que ser simultânea com a varredura para cima. Também vista como pernada secundária, sendo mais curta e mais rápida, tem o papel de estabilizar o corpo durante o nado. 4.1.5 Respiração no nado borboleta A respiração no nado borboleta acontece de duas maneiras: frontal e lateral. Havendo a elevação da cabeça, haverá a respiração frontal. Havendo a rotação da cabeça, haverá a respiração lateral, com a boca o mais perto da água possível. O rosto deve romper a superfície da água no decorrer da varredura para cima (OPTIMIZATION; COE, 2000). A inspiração acontece entre a fase de propulsão dos braços, quando as mãos estão submersas. O retorno da face à água ocorre durante a segunda metade da fase de recuperação, ou seja, antes que as mãos do nadador retornem à água. 35 Figura 39 – Iniciação da respiração e finalização da respiração Fonte: o autor No momento em que não houver a respiração, a cabeça do nadador deve ser levada para a superfície, porém seu rosto deve permanecer submerso no decorrer de todo o ciclo de braçada. Algumas frequências de respiração são comuns para o nado borboleta: 1 por 1, na qual se tem um ciclo de braçada para uma respiração; 2 por 1, na qual se tem dois ciclos de braçadas para uma respiração; e 3 por 1, na qual se tem três ciclos de braçadas para uma respiração. 5 CARACTERÍSTICAS HIDRODINÂMICAS DO NADO PEITO O nado peito tem um papel importante para natação, pois os nados foram desenvolvidos a partir dele. Sendo assim, o primeiro nado a ser utilizado em competições, chamado de nado peito inglês ou nado clássico, era caraterizado pela movimentação muito ampla dos braços e das pernas e uma intercadência entre os membros. É o nado que mais teve alterações nas regras e técnicas e passou por várias fase e nomes. O nado peito, como o nado borboleta, tem ação simultânea e descontínua. O nado é caraterizado pela ação forte das pernas e um deslize de braço à frente, sendo obrigatória a saída da cabeça da água a cada ciclo de braçada. Dentro da literatura científica, encontram-se variedades de definições sobre o nado peito. O intuito é apresentar a maior parte dessa literatura para compreensão de cada fase do nado e utilização das técnicas, independentemente do nome dado a cada movimento na literatura disponível. 5.1 POSICIONAMENTO DO CORPO, MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES NO NADO PEITO O nado peito é considerado o mais lento em relação aos outros nados, pois o seu posicionamento oferece uma maior resistência da água. Sendo assim, é um nado simultâneo, porém o movimento das pernas é totalmente diferente do movimento dos outros nados, e os braços só têm fase aquática. 36 Dentro do nado peito, também temos o movimento de filipina, um deslize submerso nas saídas e viradas do nado peito. A regra contemporânea permite uma golfinhada antes do início do nado. A maioria dos atletas da atualidade está adotando movimentos mais ondulantes durante todo o nado (CHAINOK et al., 2021). 5.1.1 Posicionamento do corpo no nado peito O posicionamento do corpo no nado peito consiste em permanecer em decúbito ventral, tendo uma pequena inclinação em que a cabeça fica mais alta que as pernas. A cabeça deve ficar levemente submersa e inclinada. O posicionamento do corpo do nadador é radicalmente mudado no momento da respiração, quando se tem uma posição bem diagonal do corpo do nadador. 5.1.2 Braçada do nado peito Os movimentos dos braços no nado peito são simultâneos e submersos, havendo uma subdivisão em quatro etapas: pegada, puxada, finalização e recuperação. Na fase da pegada, com os cotovelos estendidos à frente dos ombros e com as mãos viradas para fora, há movimentos para a lateral e para baixo; na fase da puxada, os braços empurram a água para baixo e para as laterais; a fase finalização é o momento em que os cotovelos ficam perto da linha do ombro; na fase de recuperação, ocorre a extensão total dos cotovelos à frente da cabeça do nadador (CHAINOK et al., 2021; NAEMI; EASSON; SANDERS, 2010; SANDERS et al., 2015). Figura 40 – Pegada e puxada Fonte: o autor 37 Figura 41 – Finalização e recuperação Fonte: o autor 5.1.3 Pernada do nado peito O movimento das pernas no nado peito corresponde à ação simultânea das pernas, tendo um afastamento lateral e deslocando a água para trás, para baixo e lateralmente. É subdividido em três fases de pernada: fase de impulso, na qual as articulações coxofemorais se encontram flexionadas em um ângulo aproximado de 130°, as pernas ficam bem abaixo da superfície da água, os pés apontam para a lateral e os joelhos ficam separados, aproximadamente, a uma distância do tamanho da cintura pélvica; fase da deslize ou pausa, a qual tem início ao término do impulso, com a musculatura dos membros inferiores relaxada sobre a superfície da água, voltando à posição hidrodinâmica; e fase de apoio, que é a fase inicial do movimento, na qual as pernas e os pés em relaxamento vão em sentido da superfície da água, ficando próximos da pélvis. Após essa movimentação, os pés do nadador ficam apontados para a lateral e passam, agora, para o momento de impulso (CHAINOK et al., 2021; NAEMI; EASSON; SANDERS, 2010; SANDERS et al., 2015). Figura 42 – Impulso e pausa Fonte: o autor 38 Figura 43 – Apoio e volta para fase de impulso Fonte: o autor 5.1.4 Coordenação de braços e respiração do nado peito O nado peito, diferentemente dos outros nados, não tem uma ligação de movimentos entre braços e pernas. Porém essa coordenação se liga diretamente com a respiração. A inspiração do nado peito ocorre no momento em que houver elevação frontal da cabeça, feita pela boca, e a expiração é feita com a cabeça já submersa, com a boca, nariz ou ambos. A coordenação entre braços e respiração acontece quando a projeção da cabeça é feita para inspiração, no mesmo momento em que tem início a puxada. Ao concluir a inspiração, a cabeça volta para a água juntamente com os braços, acontecendo a expiração. Figura 44 – Sincronização de braços e respiração Fonte: o autor 5.1.5 Coordenação de pernas e respiração do nado peito A coordenação entre pernas e respiração ocorre quando se inicia a subida da cabeça, simultaneamente com a flexão dos joelhos. Com a propulsão gerada pela pernada do nado peito, a volta da cabeça para a água acontece com a expiração. A fases da coordenação do nado peito são: preparação, em que o corpo deve ficar em uma posição totalmente hidrodinâmica e, logo em seguida, a fase de execução, na qual se tem a elevação da cabeça simultaneamente com os calcanhares para cima, pés flexionados e virados lateralmente. No decorrer do movimento, a cabeça abaixa, as pernas se estendem e impulsionam o nadador para frente, quando acontece o deslize e a expiração. 39 Figura 45 – Sincronização de pernas e respiração Fonte: o autor 5.1.6 Filipina do nado peito A filipina é o nome dado a um conjunto de movimentos submersos que complementam o nado peito. Com esse movimento, se tem uma melhora na velocidade das provas de nado peito, pois sabemos que esse estilo não é o mais veloz. A filipina diminui a resistência da água sobre o nadador, pois o nado peito se trata de movimentos com alta resistência da água, até pelo seu posicionamento. A filipina pode ser dividida em três fasesde deslize: o primeiro deslize ocorre logo após a saída e virada, quando se tem o impulso do bloco de partida ou da borda da piscina; o segundo deslize ocorre após a puxada longa com os braços, acarretando uma grande propulsão; o terceiro deslize acontece quando se tem a recuperação dos braços e a pernada de finalização, onde se inicia o ciclo do nado peito (NAEMI; EASSON; SANDERS, 2010; SANDERS et al., 2015). Figura 46 – Primeiro, segundo e terceiro deslize Fonte: o autor 40 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Principais diferenças, técnicas e caraterísticas hidrodinâmicas de cada estilo de nado, como movimentação de membros inferiores e superiores, respiração e coordenação de ambos os nados sequencialmente. • A compreensão hidrodinâmica do nado crawl, como posicionamento corporal, principais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos, sendo também um dos primeiros nados a se aprender e o mais rápido entre os estilos. • A compreensão hidrodinâmica do nado costas, como posicionamento corporal, principais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos, sendo quase sempre o segundo nado a ser aprendido e o único nado em que o nadador fica em decúbito dorsal. • A compreensão hidrodinâmica do nado peito, como posicionamento corporal, prin- cipais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos, tendo uma complexidade de movimentos simultâneos e particulari- dades que apenas o estilo peito tem. • A compreensão hidrodinâmica do nado borboleta, como posicionamento corporal, principais técnicas de propulsão de braços e pernas e coordenação de sequência de movimentos, e que seu nome faz jus às caraterísticas do nado, com movimentos que são muitos parecidos com os de uma borboleta. 41 AUTOATIVIDADE 1 O estilo crawl é composto por braçada, pernada, posição corporal e respiração e pela interação entre esses componentes e subdivisões. Analisado a divisão e subdivisão das fases de braçada, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Fase terrena: entrada, alongamento, varredura para baixo, agarre, varredura pra dentro e varredura pra cima. Fase aérea: liberação e recuperação. b) ( ) Fase aérea: entrada, alongamento, varredura para baixo, agarre, varredura pra dentro e varredura pra cima. Fase aquática: liberação e recuperação. c) ( ) Fase aquática: entrada, alongamento, varredura para baixo, agarre, varredura pra dentro e varredura pra cima. Fase aérea: liberação e recuperação. d) ( ) Fase aquática: recuperação, liberação, varredura para baixo, agarre, varredura pra dentro e varredura pra cima. Fase aérea: entrada e alongamento. 2 O estilo costas é composto por braçada, pernada, posição corporal, respiração e a interação entre esses componentes e subdivisões. Analisando a divisão e subdivisão das fases da braçada, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Fase aérea: primeira varredura para baixo, primeira varredura para cima, segunda varredura para baixo e segunda varredura para cima. Fase aquática: recuperação e entrada. b) ( ) Fase aquática: primeira varredura para baixo, primeira varredura para cima, segunda varredura para baixo e segunda varredura para cima. Fase aérea: liberação, recuperação e entrada. c) ( ) Fase de entrada: primeira varredura para baixo, primeira varredura para cima, segunda varredura para baixo e segunda varredura para cima. Fase aquática: liberação, recuperação e aérea. d) ( ) Fase aquática: primeira varredura para baixo, liberação, segunda varredura para baixo e recuperação. Fase aérea: primeira varredura para cima, segunda varredura para cima e entrada. 3 O posicionamento referente ao nado borboleta consiste no corpo do nadador em decúbito ventral, com movimentos ondulantes, sem rolamentos, a cabeça submersa e queixo perto do peito, olhando para baixo e para frente. O posicionamento do corpo no nado borboleta é modificado durante o nado. Há três posições que o corpo do nadador manifesta no decorrer de cada ciclo de braçadas. Quais são essas três posições que o corpo assume no nado borboleta? a) ( ) Posição do corpo alinhado, posição do quadril para cima e posição do quadril para baixo. 42 b) ( ) Posição do quadril para lateral, posição do quadril para cima e posição do quadril para baixo. c) ( ) Posição do corpo desalinhado, posição do quadril para lateral e posição do quadril para baixo. d) ( ) Varredura para dentro, posição do corpo alinhado e posição do quadril para cima. 4 O nado peito tem um papel importante para a natação, pois os nados foram desenvolvidos a partir dele. Sendo assim, o primeiro nado a ser utilizado em competições, chamado de nado peito inglês ou nado clássico, era caraterizado pela movimentação muito ampla dos braços e das pernas e uma intercadência entre os membros. Foi o nado que mais teve alterações nas regras e técnicas e passou por várias fase e nomes. Tendo o entendimento dos movimentos utilizados, defina o estilo do nado peito. 5 Os movimentos dos braços no nado borboleta são de circundação simultânea, com movimentos de propulsão e recuperação bem parecidos com os do nado crawl, com duas fases bem distintas, fase aérea e fase aquática. Na fase aérea, os braços estão fora da água. Isso significa que, nesse momento, não há propulsão com participação dos braços. Na fase aquática, os braços estão submersos na água. Isso significa que, nesse momento, a propulsão é gerada pelos braços. Dentro de cada fase há subdivisões, e dentre as subdivisões, há uma que é o ápice do desempenho. Disserte sobre essa subdivisão, falando sobre suas caraterísticas. 43 TÓPICO 3 - APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DOS NADOS, SAÍDAS E VIRADAS 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 3, trataremos dos processos de aprendizagem referentes a cada estilo de nado, sequências pedagógicas específi cas para cada movimento e educativos para coordenação de cada valência e exercícios que podem ser utilizados dentro de uma aula. Abordaremos algumas sequências pedagógicas para o ensino do nado crawl, trazendo sugestões de educativos, tendo como objetivo a interação dos componentes desse nado. Apresentaremos variadas sequências pedagógicas para o ensino do nado costas, oferecendo orientações sobre educativos como forma de interação dos com- ponentes desse estilo. Trataremos de sequências pedagógicas para o ensino do nado borboleta, concebendo ideias de educativos com o intuito de começar ou aumentar a interação dos componentes desse nado. Desenvolveremos certas sequências pedagó- gicas para o ensino do nado peito, oferecendo ideias de educativos, tendo como propó- sito a interação dos componentes do estilo. Compreenderemos exercícios com o intuito de ajudar nos planejamentos das aulas, usando-os como estratégias de ensino e como forma de estimular os alunos a perceberem a execução de movimentos dos nados crawl, costas, borboleta e peito. Abordaremos, também, algumas sequências pedagógicas para ensino das saídas e viradas de cada nado, descrevendo educativos e mostrando exercícios a serem desenvolvidos, como proposta de aprendizado e melhora dessas saídas e viradas, tendo essas estratégias como forma de estimular os alunos a vivenciarem e perceberem a sequência de movimentos das saídas e viradas. UNIDADE 1 Existem diferentes metodologias para aprendizagem da natação, porém o objetivo é o mesmo: a possibilidade de o aluno aprender os quatro estilos, saídas e viradas. ATENÇÃO 44 2 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO CRAWL A comunicação entre diferentes gestos motores de membros inferiores e superiores e as variadas formas de respiração são capazes de gerar diversas formas complexas de deslocamento no meio líquido, tendo como exemplo o nado crawl. Com o objetivo de que todo esse processo de aprendizagem seja viável e tenha sentido, cabe uma atenção singular à comunicação e às variedades de componentes do nado crawl, em quese deve ter estímulo e conscientização dos gestos motores. 2.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA DO NADO CRAWL No período de aprendizagem do nado crawl, é de extrema importância destacar a propulsão das pernas, visto que a pernada não representa apenas propulsão, mas, também, equilíbrio e sustentação. Diversos nadadores aumentam o trabalho de pernas no final da prova, tendo uma maior sustentação do corpo e uma queda na resistência frontal que o nadador sofre em relação à água. No período de ensino da pernada do nado crawl, vários alunos apresentam dificuldades na propulsão das pernas, devido a esses movimentos serem muito específicos e somente desenvolvidos dentro da água (PALMER, 1990; MAGLISCHO, 1999). A seguir, vamos acompanhar exercícios para desenvolver essa coordenação e propulsão do nado crawl (SEIFERT; CHOLLET; BARDY, 2004; TOUSSAINT; BEEK, 1992). O primeiro exercício para aprendizagem da pernada no crawl é na posição vertical. O aluno segura na borda ou na raia fazendo movimentos alternados entre as pernas, iniciando com movimentos lentos e com maior amplitude entre as pernas e, pouco a pouco, aumenta a velocidade e diminui a amplitude. O segundo exercício para aprendizagem da pernada no crawl é na posição horizontal. O aluno, com os braços estendidos e uma mão sobre a outra, na posição de flecha ou foguete, faz movimentos de pernas alternados. Quando não consegue segurar mais a respiração, coloca os pés no chão da piscina e faz uma pausa para respirar. Prossegue com o exercício até completar o percurso estipulado. O terceiro exercício para aprendizagem da pernada no crawl também é feito na posição horizontal. O aluno usa a prancha ou espaguete para sustentar a parte superior do corpo, porém o rosto deve ficar fora da água, para que o aluno tenha consciência da perna naquele momento e não tenha necessidade de parar para respirar. 45 O quarto exercício é bem parecido com o terceiro, porém o aluno deve ficar com o rosto na água e, no momento que achar necessário, deve fazer uma respiração frontal, com o rosto voltado para a água, até o final do percurso. O quinto exercício segue o mesmo padrão do terceiro e do quarto, porém o aluno deve segurar a prancha com apenas um braço e deixar o outro estendido próximo ao corpo, fazendo uma respiração lateral. No final de cada percurso, ele faz a troca de braço. 2.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA DO NADO CRAWL A aprendizagem dos braços no nado crawl é sempre mais desenvolvida após a aprendizagem das pernas, pois tem uma complexidade mais elevada de movimentos, destacando que a propulsão dos braços é bem maior do que a das pernas. Atletas da na- tação fazem treinamento de foça nos membros superiores para melhoria de desempenho. No processo de ensino do braço do nado crawl, temos variedades de movimentos muito específicos, como o uso da mão com entrada e deslizes dentro da água, o ombro que faz o rolamento e possibilita um maior alcance da braçada e, até mesmo, uma melhor respiração. A seguir, vamos acompanhar exercícios para desenvolver essa coordenação e propulsão do nado crawl (GONJO et al., 2020; JERSZYNSKI et al., 2013). No primeiro exercício para aprendizagem da braçada do nado crawl, o aluno fica em posição diagonal com auxílio do espaguete, que deve ficar debaixo da axila. Deve realizar movimentos à frente com fases aéreas e aquáticas, porém sem a finalização da braçada do nado crawl. Esse exercício também é chamado de cachorrinho. No segundo exercício para aprendizado da braçada no crawl, o aluno deve ficar em pé na piscina, fazendo a movimentação do braço crawl parado e alternado, com a cabeça fora da água e com a cabeça dentro da água. No terceiro exercício para aprendizagem da braçada no crawl, o aluno usa uma prancha, segurando com apenas uma das mãos e girando a outra, trocando a mão a cada percurso concluído. Se necessário, o professor deve auxiliar o aluno durante o giro do braço e sustentação na água. No quarto exercício para a aprendizagem da braçada no crawl, o professor deve auxiliar o aluno fazendo a movimentação correta dos braços, e o aluno deve fazer a movimentação das pernas. O professor deve segurar na mão do aluno em todo o percurso. 46 2.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA RESPIRAÇÃO DO NADO CRAWL A aprendizagem da respiração no nado crawl é importantíssima, pois é o primeiro nado a ser aprendido e deve dar andamento aos outros estilos, já que a sequência é a mesma: inspiração pela boca e expiração pelo nariz e boca. A respiração é adaptada para que não se passe muito tempo sem respirar, pois a não inspiração de oxigênio faz com que a troca gasosa nos pulmões, ou hematose, não aconteça, fazendo com que o CO2 fique em uma concentração maior na corrente sanguínea, acarretando dores de cabeça na maioria das vezes (MEZÊNCIO et al., 2020). Adota-se estratégia para uma aprendizagem bilateral da respiração, em que o aluno tem uma consciência corporal, e estratégias de nados diferenciadas, pois a respiração bilateral pode auxiliar a ver o adversário durante as provas e, ainda, prevenir dores no pescoço. O primeiro exercício da respiração abordado, já pensando no nado crawl propriamente dito, deve ser executado com as mãos para trás do corpo do nadador, na posição vertical, com o tronco inclinado, os pés no fundo da piscina, rosto na água. Contando até três, faz-se um giro lateral e inspira-se ar pela boca. Voltando com o rosto para a água, solta-se o ar e repete-se o ciclo. O segundo exercício da respiração do nado crawl deve ser feito com o braço estendido, segurando na borda da piscina, com o tronco inclinado, tendo um giro lateral do pescoço para tirar o rosto da água, usando o braço estendido como escora da cabeça. 2.4 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO NO NADO CRAWL As sequências diversas de exercício de coordenação no nado crawl podem ser realizadas de forma específica para cada caso ou faixa etária, sempre respeitando o nível de habilidades do aluno e suas dificuldades. Essas sequências de exercícios devem ser executadas com aumento progressivo de suas complexidades, porém usando sempre a criatividade do professor. Dessa forma, esses educativos podem ser realizados com o braço direito e esquerdo, apenas com propulsão de pernas, apenas com propulsão de braços, com material ou sem material, com bloqueio da respiração, dentre outras variáveis. 47 Quadro 1 – Sugestões de exercícios com o objetivo de coordenação no nado crawl Fonte: o autor Capacidades ou valências Sugestões de exercício Força/respiração Nado cachorrinho com respiração lateral ou bilateral Braços/respiração Nadar crawl com propulsão apenas dos braços Braços/pernas/respiração Nadar crawl com um braço, havendo a troca a cada meia chegada Força/pernas/braços Nadar crawl com a cabeça fora da água Braços/pernas/respiração Nadar crawl fazendo a recuperação da braçada passando os dedos na água Força Nadar crawl com roupa Velocidade Nadar crawl em variadas velocidades Velocidade Nadar crawl em câmera lenta Força Nadar crawl submerso Força/braços Nadar crawl com palmar Força/braços Nadar crawl com flutuador Força/pernas Nadar crawl com prancha Força/pernas Nadar crawl com nadadeira Força/pernas/braços Nadar crawl com pernas rápidas e braços lentos Força/braço/pernas Nadar crawl com pernas lentas e braços rápidos Pernas Nadar crawl com uma perna havendo a troca a cada meia chegada Respiração Nadar crawl em apneia até o máximo que conseguir Braços Nadar crawl com um braço estendido e outro flexionado Braços/mãos Nadar crawl com a mão fechada Braços/mãos Nadar crawl abrindo e fechando as mãos Respiração Nadar o crawl variando a respiração, unilateral e bilateral 3 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO COSTAS O nado costas deve começar antes mesmo de se iniciar a nadar, pois a questão de o aluno fazer a flutuação na posição dorsal deveser trabalhada de imediato na adaptação ao meio líquido, como foi visto na primeira parte do material, tornando-o, assim, um nado confortável para o aluno. É um nado bem parecido com o nado crawl, porém em decúbito dorsal, com diferenciados gestos motores de membros superiores e inferiores (GONJO et al., 2020). Com o objetivo de que todo esse processo de aprendizagem seja viável e tenha sentido, cabe uma atenção singular à comunicação e às variedades de componentes do nado costas, em que se deve ter estímulo e conscientização dos gestos motores. 48 3.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA NO NADO COSTAS O domínio de movimentos de pernas é de suma importância, pois a sua propulsão faz com que seu corpo se mantenha em uma posição mais horizontal, além de aumentar a velocidade do nado. Por isso, sua aprendizagem deve ser desenvolvida logo no início do aprendizado do nado costas (PALMER, 1990; MAGLISCHO, 1999). O primeiro exercício para aprendizagem da pernada no costas é partindo do meio terrestre para o meio líquido, onde o aluno fica sentado na borda piscina, fazendo movimentos alternados de flexão e extensão do quadril com os joelhos estendidos. No segundo exercício a ser trabalhado como aprendizagem e desenvolvimento de propulsão das pernas, o aluno já deve estar inserido no meio líquido totalmente, em decúbito dorsal, com os braços estendidos ao longo do corpo, fazendo a movimentação das pernas do nado costas. O terceiro exercício segue a mesma linha do segundo: na mesma posição, o aluno deve estender os braços à frente da cabeça na posição de flecha. O quarto exercício a ser desenvolvido tem uma ação corretora de movimentos, pois o aluno, com os braços estendidos ao longo do corpo, segura a prancha em cima dos joelhos, tentando diminuir a flexão e extensão de joelhos. 3.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA NO NADO COSTAS O aprendizado da braçada para o nado costas é bem complexo porque, nesse nado, quando o aluno começa a fazer o braço, ele tende a afundar. Por isso o trabalho de pernas deve ser bem desenvolvido e trabalhado primeiro. O braço deve seguir uma linha de aprendizagem em que primeiro se faz uma pegada dupla, e depois, alternada, pois a pegada dupla é de mais fácil entendimento. Após isso, passamos para a pegada alternada, que, de fato, é a braçada do nado costas. A entrada na água é feita com o dedo mínimo e saída com o dedo polegar. O primeiro exercício a ser desenvolvido para aprendizagem do braço no nado costas deve ser feito apenas com movimentos dos braços, podendo ser em pé, dentro ou fora da piscina. Porém, como o aluno passou por todo um processo de adaptação até aqui, ele também pode ficar na horizontal, com os pés na raia ou na borda piscina, e ser auxiliado pelo professor. 49 No segundo exercício, o aluno vai nadar o costas propriamente dito, porém a movimentação do braço deve ser auxiliada pelo professor e corrigida durante a aprendizagem e execução da braçada. A respiração também deve ser desenvolvida no nado costas, lembrando que ela também é muito parecida com a dos outros nados, pois a inspiração é feita pela boca e a expiração pela boca e nariz, tentando sempre fazer a inspiração quando os braços estiverem na fase aquática, evitando inspirar água. 3.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO NO NADO COSTAS As sequências diversas de exercício de coordenação do nado costas podem ser realizadas de forma específica para cada caso ou faixa etária, sempre respeitando o nível de habilidades dos alunos e suas dificuldades. Essas sequências de exercícios devem ser executadas com aumento progressivo de suas complexidades, porém usando sempre a criatividade do professor. Dessa forma, esses educativos podem ser realizados com o braço direito e esquerdo, apenas com propulsão de pernas, apenas com propulsão de braços, com material ou sem material, com bloqueio da respiração, dentre outras variáveis. Quadro 2 – Sugestões de exercícios com o objetivo de coordenação no nado costas Capacidades ou valências Sugestões de exercício Força/braços Nadar costas apenas com a fase aquática da braçada Braços/pernas Nadar costas apenas com a fase aérea da braçada Braços/pernas/respiração Nadar costas girando os dois braços simultâneos (costas duplo) Força/pernas/braços Nadar costas com um braço, havendo a troca a cada meia chegada Braços/pernas/respiração Nadar costas alternado os braços, direito, esquerdo e duplo Braços/pernas Nadar costas com pegada dupla acima da cabeça em posição de flecha Velocidade Nadar costas o mais rápido possível Velocidade Nadar costas alternando a velocidade Velocidade Nadar costas em câmera lenta Força/pernas Pernas de costas com prancha acima da cabeça, causando resistência da água Força/braços Nadar costas com palmar Força/braços Nadar costas com flutuador Força/braços Nadar palmar e flutuador Força/pernas Nadar costas com nadadeira 50 Força/ombro/pernas Nadar costas apenas com o rolamento do ombro Pernas Nadar costas com uma perna, havendo a troca a cada meia chegada Equilíbrio/pernas/braços Nadar costas com objeto na testa Braços/mãos Nadar costas com as mãos fechadas Braços/mãos Nadar costas com uma mão fechada, havendo a troca a cada meia chegada Braços/mãos Nadar costas abrindo e fechando a mão Força/braço Nadar costas puxando a raia Fonte: o autor 4 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO BORBOLETA O aprendizado do nado borboleta é de alta complexidade e há uma demanda enorme de energia para desenvolvê-lo, sendo o segundo nado mais rápido. Porém, o professor deve ter sempre um olhar diferenciado, pois além de ser cansativo, ele também comove toda a estrutura da coluna vertebral (CHAINOK et al., 2021; CHOLLET et al., 2006; TOUSSAINT; BEEK, 1992). Com o objetivo de que todo esse processo de aprendizagem seja viável e tenha sentido, cabe uma atenção singular à comunicação e às variedades de componentes do nado borboleta, em que se deve ter estímulo e conscientização dos gestos motores. 4.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA DO NADO BORBOLETA No aprendizado do nado borboleta, devemos dar uma importância significativa para a propulsão das pernas, pois sua propulsão não só é necessária para alavancar o nadador para frente, mas também para a sustentação do corpo do nadador no momento da respiração. Durante o período de aprendizagem da pernada do nado borboleta, é preciso chamar a atenção para o relaxamento do quadril e concentração da força nos pés, pois são os pés que empurram a água. O primeiro exercício pode ser desenvolvido submerso ou na superfície da água. O aluno faz ondulação do corpo com os braços estendidos ao longo do corpo. Quando não conseguir segurar mais a respiração, coloca os pés no chão da piscina e faz uma pausa para respirar. Prossegue com o exercício até completar o percurso estipulado. O segundo exercício segue a mesma linha do primeiro, porém tem que ser executado na superfície da água, com os braços estendidos à frente da cabeça, com as mãos na posição de flecha. 51 O terceiro exercício deve ser feito com material flutuante. O aluno deve realizar ondulação segurando o material à frente da cabeça com os braços estendidos, podendo respirar frontalmente, sem necessidade de colocar os pés no chão da piscina. 4.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA NO NADO BORBOLETA O aprendizado da braçada no nado borboleta deve ser desenvolvido logo após a pernada. A propulsão gerada pelo braço do nadador é simultânea e se assemelha muito à braçada do nado crawl, porém o momento de propulsão do braço deve ser aproveitado para fazer a respiração, pois essa propulsão da braçada impulsiona o nadador para frente e para cima. O primeiro exercício para aprendizagem da braçada do nado borboleta deve ser desenvolvido da forma menos complexa possível, e pode ser feito dentro ou fora da piscina. O alunodeve ficar na posição vertical, com os pés no fundo piscina, e fazer todo o gesto motor da braçada do nado borboleta. O segundo exercício é bem parecido com o primeiro, porém o aluno deve fazer em deslocamento, ou seja, andando dentro da piscina e fazendo a respiração. 4.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA RESPIRAÇÃO NO NADO BORBOLETA A respiração no nado borboleta não é regulamentada em provas, mas ela é feita no momento mais propulsivo da braçada. Então, nos exercícios desenvolvidos para aprendizagem da braçada, deve ser incrementada a respiração, inspirando pela boca e expirando pelo nariz e boca, variando entre respiração frontal e lateral, sempre respeitando o estilo do nadador. 4.4 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO NO NADO BORBOLETA As sequências diversas de exercício de coordenação do nado peito podem ser realizadas de forma específica para cada caso ou faixa etária, sempre respeitando o nível de habilidades dos alunos e suas dificuldades. Essas sequências de exercícios devem ser executadas com aumento progressivo de suas complexidades, porém usando sempre a criatividade do professor. Dessa forma, esses educativos podem ser realizados com o braço direito e esquerdo, apenas com propulsão de pernas, apenas com propulsão de braços, com material ou sem material, com bloqueio da respiração, dentre outras variáveis. O aluno chega ao nado borboleta com um repertório bem maior de movimentos, pois já desenvolveu pelo menos o nado crawl e costas. 52 Quadro 3 – Sugestões de exercícios com o objetivo de coordenação no nado borboleta Fonte: o autor Capacidades ou valências Sugestões de exercício Força/braços Nadar borboleta apenas com a fase submersa da braçada Braços/pernas Nadar borboleta apenas coma fase aérea da braçada Braços/pernas Nadar borboleta alternado os braços Braços/pernas Nadar borboleta com braços alternados e simultâneos (direito, esquerdo e os dois) Braços/pernas Nadar borboleta em decúbito dorsal Braços/pernas Nadar com pernas de crawl e braçada de borboleta Velocidade Nadar borboleta o mais rápido possível Velocidade Nadar borboleta em câmera lenta Velocidade Nadar borboleta alternado os braços Força/pernas Nadar o borboleta com nadadeira Força/braços Nadar o borboleta com flutuador Força/braços Nadar borboleta com palmar Força/braços Nadar borboleta com flutuador e palmar Força/pernas/braços Nadar borboleta submerso Respiração Nadar borboleta em apneia Pernas Nadar borboleta com a prancha 5 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DO NADO PEITO O nado peito, com um alto índice de complexidade, é quase sempre o terceiro ou quarto nado a ser aprendido. Com movimentos simultâneos de braços e pernas bem parecidos com os de um sapo, deu origem ao nado costas e borboleta a partir do seu estilo. Há grande diversificação de movimentos e suas particularidades de gestos motores (SANDERS, 2007; TAKAGI et al., 2016; VAN HOUWELINGEN et al., 2017). Com o objetivo de que todo esse processo de aprendizagem seja viável e tenha sentido, cabe uma atenção singular à comunicação e às variedades de componentes do nado peito, com estímulo e conscientização dos gestos motores. 5.1 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA PERNADA NO NADO PEITO O desenvolvimento da pernada no nado peito tem um potencial muito importante, pois sabemos que o braço de todos os estilos de nados gera mais propulsão do que as pernas. Porém, o nado peito, diferentemente de todos os outros estilos, mostra-se com uma propulsão bem próxima do braço. Sendo assim, o aprendizado da sua técnica correta pode levar a um maior desempenho durante o nado (PALMER, 1990; MAGLISCHO, 1999). 53 O primeiro exercício a ser desenvolvido para aprendizagem da perna do nado peito deve ser desenvolvido fora do meio líquido com o intuito de conhecer o movimento que vai ser desenvolvido dentro da água. O professor segura o aluno pelo pé e faz todo o movimento com ele. O segundo exercício deve ser desenvolvido dentro da água, com o aluno segurando na borda da piscina ou raia. O professor segura o pé do aluno, ajudando-o a realizar todo o ciclo de pernada do nado peito. O terceiro exercício deve ser feito em movimento. O aluno faz uso da prancha, segurando-a com as duas mãos, e o professor pode auxiliá-lo ou não. O quarto exercício deve ser desenvolvido em decúbito dorsal, partindo do princípio de que o aluno já sabe nadar costas, fazendo, assim, a perna do nado peito, podendo visualizar o movimento. O quinto exercício a ser realizado, já na posição do nado peito, é feito com os braços na posição de flecha e ciclo completo da perna. 5.2 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA BRAÇADA NO NADO PEITO O aprendizado da braçada do nado peito deve ser desenvolvido sequencialmente após a perna. A propulsão gerada pelo braço do nadador não só o leva para frente, mas, também, leva o nadador para cima, com o intuito de que o nadador faça a respiração. É o único nado em que a braçada tem apenas fase aquática e, por isso, tem uma maior resistência a ser vencida pelo braço. O primeiro exercício pode ser desenvolvido na raia com auxílio do professor, na posição vertical, com os pés firmes no fundo da piscina. O professor segura no punho do aluno, desenvolvendo juntamente com ele o movimento da braçada do nado peito. No segundo exercício, é necessário o uso do espaguete, colocado embaixo das axilas. O aluno faz todo o movimento com o braço, ainda na posição vertical, porém com deslocamento, tendo sempre a orientação do professor. No terceiro exercício, ainda é necessário o uso do espaguete, porém na posição horizontal. Partimos do pressuposto de que o aluno já aprendeu a pernada do crawl, pois ele deve fazer esse movimento com o braço do nado peito, ainda com o espaguete embaixo das axilas, com o rosto na água. Após um ciclo completo da braçada do nado peito, o aluno faz a respiração. 54 5.3 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA DESENVOLVIMENTO DA RESPIRAÇÃO NO NADO PEITO A respiração nas provas de nado peito é obrigatória a cada ciclo de braçada e pernada, e deve ser desenvolvida sempre na parte propulsiva da braçada do estilo. Por isso, os exercícios desenvolvidos para aprendizagem da braçada devem incluir a respiração, sempre inspirando pela boca e expirando pelo nariz e boca. 5.4 ESTRATÉGIAS E EXERCÍCIOS PARA COORDENAÇÃO DE PERNA, BRAÇO E RESPIRAÇÃO DO NADO PEITO As sequências diversas de exercício de coordenação do nado peito podem ser realizadas de forma específica para cada caso ou faixa etária, sempre respeitando o nível de habilidades dos alunos e suas dificuldades. Essas sequências de exercícios devem ser executadas com aumento progressivo de suas complexidades, porém usando sempre a criatividade do professor. Dessa forma, esses educativos podem ser realizados com o braço direito e esquerdo, apenas com propulsão de pernas, apenas com propulsão de braços, com material ou sem material, com bloqueio da respiração, dentre outras variáveis. Quadro 4 – Sugestões de exercícios com o objetivo de coordenação no nado peito Fonte: o autor Capacidades ou valências Sugestões de exercício Braços/respiração Nadar com pernas de crawl e braço de peito Braços/respiração Nadar o peito com braços alternados Braços/pernas/respiração Nadar o peito com braços alternados e simultâneos (direito, esquerdo e os dois) Pernas/força Nadar com pernas de peito e braço de crawl Respiração Nadar peito em apneia Respiração Nadar peito fazendo duas braçadas para uma respiração Velocidade Nadar peito o mais rápido possível Velocidade Nadar peito em câmera lenta Velocidade Nadar peito alternado a velocidade Força/pernas Nadar com as pernas de peito e braço de crawl Força/braços Nadar peito com o palmar Força/braços Nadar peito com flutuador Força/braços Nadar peito com flutuador e palmar Força/pernas Nadar peito com as pernas alternadas Força/ombro/pernas Nadar com as pernas alternadas esimultâneas (direita, esquerda e as duas) Pernas Pernas com a prancha 55 6 APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO DAS SAÍDAS E VIRADAS As saídas e viradas são movimentos que dão início e continuidade aos nados. As saídas de provas de nado crawl, costas e borboleta são feitas no bloco ou borda piscina após o sinal de partida. No nado borboleta, o nadador deve fazer a saída de dentro da água, segurado na borda da piscina ou no bloco. As viradas e chegadas são o modo que cada nadador deve chegar e dar continuidade ao seu nado (PALMER, 1990; MAGLISCHO, 1999). 6.1 SAÍDAS NO NADO CRAWL, PEITO E BORBOLETA As saídas no nado crawl, peito e borboleta são feitas da mesma maneira, porém temos alguns métodos diferentes. Os métodos abordados serão saída de agarre e saída de atletismo, que passam pelas mesmas etapas: posição inicial, desequilíbrio, empurrada, voo e deslize. No nado peito, temos a filipina logo após a saída, e no nado borboleta, ondulação submersa, que pode ser feita a até quinze metros para começar o nado. Os exercícios que podem ser desenvolvidos para aprendizagem das saídas já foram vistos no Tópico 1. Na saída de agarre, o nadador coloca os pés paralelos e as mãos seguram no bloco de saída ou na borda da piscina. Os pés devem ficar de uma maneira que os dedos possam agarrar o bloco de partida, para evitar algum deslize durante a saída. Na saída de atletismo, os pés ficam alternados, assemelhando-se à saída de corridas de atletismo. O pé da frente é posicionado como na saída de agarre. Os dedos dos pés seguram o bloco, e os braços seguram o bloco exercendo força para trás e jogando o corpo do nadador diretamente para frente. 6.2 SAÍDAS DO NADO COSTAS A saída do nado costas é bem diferenciada, pois é a única efetuada de dentro da água. O nadador se posiciona em frente ao bloco, segurando na barra de saída ou na borda da piscina com a cabeça baixa, joelhos e cotovelos flexionados. Essa saída passa por etapas bem distintas: posição inicial, impulso, voo e deslize. 6.3 VIRADAS E CHEGADAS As viradas do nado crawl e costas são bem parecidas, pois em ambas há a execução de uma cambalhota para frente. Nos nados peito e borboleta, as viradas são idênticas, sempre com o intuito de mudar o sentido do nado, pois a distância da piscina já acabou e deve-se se continuar nadando. 56 6.3.1 Virada do nado crawl e costas A virada começa pela aproximação, quando o nadador está chegando próximo da borda, faltando aproximadamente uma braçada. Logo após, começa a fase da virada, quando acontece a cambalhota, jogando os braços para trás, perto do quadril, até que o giro seja finalizado e os pés toquem na parede da piscina, passando para a fase de impulso, em que a extensão dos joelhos acontece gerando impulso para o sentido do nado (no caso do crawl, girando para posição de decúbito ventral e indo para fase final de deslize). A diferença da virada no nado costas está na fase de aproximação, na qual acontece o giro para a posição de decúbito ventral, e na fase de deslize, na qual não acontece o giro, pois o nadador já está na posição de nado. 6.3.2 Virada do nado peito e borboleta Na virada do nado peito e borboleta, as mãos devem tocar a parede da piscina ao mesmo tempo e no mesmo nível. É a chamada fase de contato com as mãos. Após o contato com as mãos, acontece o contato com os pés e, sequencialmente, o impulso e o deslize. 6.3.3 Chegadas A chegada é o toque de finalização na parede da piscina, onde no nado crawl e costas é executado com apenas um dos braços estendidos deve tocar a borda da piscina, no nado peito e borboleta, a regra pede que, a chegada deve ser feita com ambas as mãos tocando a parede simultaneamente. Finalizando a Unidade 1, o aluno já consegue compreender a diversidade de movimentos desenvolvidos com o intuito de se locomover no meio líquido, entendendo a técnica e hidrodinâmica de cada nado, conhecendo processos de aprendizagem e exercícios para aperfeiçoamento dos nados. 57 APONTAMENTOS PARA O ENSINO DO NADO COSTAS Guilherme Tucher Daniel Oliveira Furlani Emerson Filipino Coelho O nado Costas é realizado em decúbito dorsal, com braçadas e pernadas alternadas no plano vertical, o que tende a garantir uma propulsão contínua durante o seu desenvolvimento (VILAS-BOAS, 1991). Devido à posição assumida durante o nado, em que o rosto se encontra fora da água, o ar é expirado naturalmente através da boca ou da boca e do nariz, de maneira meio explosiva, durante a recuperação de um dos braços, enquanto o outro braço se encontra em sua fase de tração (PALMER, 1990, p. 117). Para garantir um ritmo perfeito e harmônico do nado, é recomendado que para cada ciclo completo de braços (duas braçadas) sejam realizados cerca de seis batimentos de perna. Outra grande importância da pernada consiste em garantir um bom posicionamento corporal, facilitando assim o desenvolvimento do nado (MAGLISCHO, 1999). O nado costas, por ser realizado em decúbito dorsal, é o único que tem sua saída realizada já dentro da piscina. Dessa maneira, os competidores devem se colocar dentro da água, voltados para parede, com as mãos segurando nos suportes específicos localizados nos blocos de saída. Não é permitido que os pés se encontrem fora da água (PALMER, 1990, p. 176; CATTEAU; GAROFF, 1990 p. 89). Haljand (2002) apresenta as seguintes fases para o entendimento da saída do nado costas: (1) fase de reação e pré-flexão, (2) fase do empurrão, (3) fase de voo, (4) fase da entrada e deslize, (5) fase da pernada subaquática, (6) fase de saída para o nado, e (7) fase de nado após a saída. Ao sinal do apito realizado pelo juiz de partida, o atleta deve lançar as duas mãos para trás, por cima da cabeça ou pela lateral do corpo, buscando olhar para a borda oposta, o que irá facilitar o arqueamento do corpo e estender vigorosamente as pernas. Após o balanceio das mãos para trás, elas devem se encontrar e manter as palmas voltadas para cima, garantindo uma boa entrada na água (PALMER, 1990, p. 176; MAGLISCHO, 1999). LEITURA COMPLEMENTAR 58 O atleta deve tentar realizar a saída buscando um bom posicionamento corporal dentro da água de tal maneira que não aumente as resistências ao seu avanço. Antes mesmo do término do impulso gerado pela própria saída, devemos buscar o momento de saída para o nado, sabendo que ao se realizar a primeira braçada, o atleta ainda se encontra um pouco submerso, e ao término desta, deve se encontrar na superfície, pronto para a continuação do nado. Em piscinas onde a distância a ser nadada, supere sua metragem total, será necessário que o atleta realize o movimento de virada para a continuação do nado. A virada pode ser dividida, segundo Haljand (2002), em oito fases. Durante a aproximação, o atleta deve ter noção da sua distância exata da borda, e a virada deve ser realizado sem perda de velocidade. Esta noção pode ser adquirida através da referência das bandeirolas, que estão a 5 metros da borda (FERNANDES, 2000). A virada é semelhante à virada do nado crawl. Através de uma cambalhota, o atleta deve apoiar as duas pernas na parede e realizar a impulsão. Por ser um nado alternado, é até coerente que a chegada seja realizada com apenas uma das mãos. O corpo deve se manter em decúbito dorsal, ou até mesmo um pouco lateralmente. Porém, mais uma vez, se faz importante o domínio desta aproximação da borda, para que a chegada seja realizada com o braço estendido e no momento oportuno (DOMINGOS, 2004; MAGLISCHO, 1999). Nas provas de Medley individual, o costas é o nado que é realizado na segunda fase: borboleta, costas, peito e crawl. Nas provas de Medley revezamento, o costas é realizado na primeira fase: costas, peito, borboleta e crawl (PALMER, 1990, p. 167). Nesse tipo específico de prova, é necessário que se tenha o domínio das viradas de transição entre os nados, muito importante para o conjunto do estilo. Após a realização da saída, quando os dois braços se encontramunidos acima da cabeça, devemos dar início à realização da braçada. Um erro muito comum nesta fase é a realização de uma braçada dupla, principalmente se a da tiver sido realizada com grande profundidade. Devemos desencorajar esta ação nos principiantes. Por ser um nado com movimentação alternada dos membros superiores, a primeira braçada deve levar para frente e para a superfície (HALJAND, 2002a,c,d), enquanto a outra permanece em sua posição inicial, acima da cabeça. Quando este braço chegar próximo à coxa, o nadador deve ter alcançado a superfície e os braços devem buscar o início de sua movimentação alternada. Segundo Palmer (1990, p. 114), é durante a realização da braçada que os principais movimentos propulsivos serão desenvolvidos. Podemos dividi-la em fase subaquática ou movimento propulsivo e recuperação, quando os braços se encontram fora da água. Para uma análise mais detalhada, muitos autores dividem estes movimentos em fases. 59 Como nosso objetivo principal está no ensino da braçada, talvez uma menor divisão das fases facilite este processo. A realização da braçada deve estar em perfeita harmonia com todos os outros componentes técnicos do nado, ou seja, a pernada, a respiração e o rolamento do tronco (PUSSIELDI, 2005). Determinar o momento exato do ensino da braçada vai depender da evolução do aluno e do planejamento realizado pelo professor. Porém, devido à posição corporal assumida na água e o desconforto inicial que os aprendizes apresentam, principalmente por não terem noção visual do seu deslocamento, alguns componentes, principalmente de pernada, devem ter sido desenvolvidos. Para um entendimento geral do movimento, Pável (1994) caracteriza a braçada em uma fase funda – rasa – funda. Sabendo do movimento alternado da braçada, devemos ter a ideia da relativa oposição entre os braços. Enquanto um está entrando na água, com a palma da mão voltada para fora, o outro está iniciando sua saída da água, geralmente com o polegar para cima. Ou seja, durante a saída até o momento em que o braço entrar na água novamente, ele deve realizar uma leve rotação medial, voltando a palma da mão para fora, para que a mão entre na água com o dedo mínimo. A entrada da mão é funda e na linha do ombro (PÁVEL, 1994; BRANCACHO, 1995), podendo haver uma variação de 25 a 40 cm (MAKARENKO, 2001). Após a entrada do braço na água, alguns autores consideram crucial a fase denominada de agarre ou apoio (PALMER, 1990; VILAS-BOAS, 1991; PÁVEL, 1994; MAGLISCHO, 1999 e MAKARENKO, 2001). Nesse momento, o braço oposto já saiu da água em um movimento iniciado pelos ombros e auxiliado pelo rolamento do tronco. A sugestão geralmente utilizada para passar essa ideia aos alunos é a de utilizar este braço como se fosse uma espingarda e fazendo a mira. Uma vez que a mão e o antebraço tenham atingido este posicionamento ideal para o agarre, o ângulo de flexão no cotovelo aproxima-se do 90º a 100º no final do apoio, passando para a fase de impulso no instante que a mão chega à linha dos ombros (MAKARENKO, 2001). Durante essa fase de impulso, a mão e o antebraço continuam os movimentos de apoio até a extensão completa do braço na articulação do cotovelo (MAKARENKO, 2001). Esse movimento assemelha-se com uma queda de braços realizada contra o apoio da água. Ao final do movimento, com a extensão do braço em nível do cotovelo, a mão deverá estar abaixo da coxa, em aproximadamente 30 centímetros. Nesse momento, o braço oposto está iniciando sua entrada na água, com o rolamento do tronco tendendo para este lado (BRANCACHO, 1995; MAGLISCHO, 1999; PUSSIELDI, 2002; 2005). Esse braço que acabou de realizar sua fase propulsiva irá realizar a fase de recuperação. Durante essa fase, o cotovelo dever estar estendido – muitos aprendizes realizam esta flexão de forma indevida, em um movimento parecido com o de pentear os 60 cabelos –, e realizar uma transição polegar-dedo mínimo, geralmente quando a mão está apontada para cima, para realizar sua entrada novamente no prolongamento do ombro. A recuperação do braço deve respeitar o mesmo ritmo da ação do braço oposto, com o ímpeto de garantir sua movimentação alternada (MAGLISCHO, 1999; MAKARENKO, 2001). Fonte: https://www.faminasbh.edu.br/upload/downloads/200910151754188169.pdf. Acesso em: 30 jun. 2020. 61 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Sequência de aprendizagem do nado crawl, exercícios e estratégias que podem ser desenvolvidas para ensino de cada gesto motor específico e exercícios usados para aperfeiçoamento do estilo crawl. • Sequência de aprendizagem do nado costas, exercícios e estratégias que podem ser desenvolvidas para ensino de cada gesto motor específico e exercícios usados para aperfeiçoamento do estilo costas. • Sequência de aprendizagem do nado borboleta, exercícios e estratégias que podem ser desenvolvidas para ensino de cada gesto motor específico e exercícios usados para aperfeiçoamento do estilo borboleta. • Sequência de aprendizagem do nado peito, exercícios e estratégias que podem ser desenvolvidas para ensino de cada gesto motor específico e exercícios usados para aperfeiçoamento do estilo peito. • As viradas específicas de cada nado, entendendo a diferença de saídas do crawl, peito e borboleta do nado costas, compreendendo as chegadas do crawl, costas, peito e borboleta. 62 AUTOATIVIDADE 1 Todo estilo de nado tem suas caraterísticas específicas, porém a respiração de todos os nados tem uma caraterística em comum. Qual é essa caraterística? a) ( ) A caraterística em comum na respiração nos nados é que a inspiração é feita pela boca, e a expiração é feita pela boca e nariz. b) ( ) Em todos os nados, a respiração é feita frontalmente. c) ( ) A caraterística em comum na respiração nos nados é que a inspiração é feita pelo nariz, e a expiração, pela boca. d) ( ) Em todos os nados, a respiração é feita frontalmente. 2 Educativos podem ser realizados para melhora de braçada, propulsão de pernas, respiração e até mesmo a coordenação geral do nado, porém devemos respeitar alguns parâmetros para aplicação desses educativos. Quais são esses parâmetros? a) ( ) Propulsão de braços e pernas. b) ( ) Não devemos respeitar nenhum parâmetro. c) ( ) Respeito ao professor. d) ( ) Faixa etária, nível de habilidades e dificuldades. 3 A chegada dos nados crawl e costas tem uma diferença pontual em relação à chegada dos nados peito e borboleta. Qual é essa diferença? a) ( ) No crawl e costas, a chegada é feita com as duas mãos simultaneamente, e no peito e borboleta, é feita apenas com uma mão. b) ( ) No crawl e borboleta, a chegada é feita apenas com uma mão, e no costas e peito, é feita com as duas, simultaneamente. c) ( ) No crawl e costas, a chegada é feita apenas com uma mão, e no peito e borboleta, é feita com as duas, simultaneamente. d) ( ) No crawl e peito, a chegada é feita apenas com uma mão, e no costas e borboleta, é feita com as duas, simultaneamente. 4 Dentro do que abordamos até aqui, elabore uma aula específica para aprendizagem do nado crawl com o intuito de desenvolver movimentos de braço, pernas e respiração, lembrando que devemos sempre partir do mais simples para o mais complexo. 5 Dentro do que abordamos até aqui, elabore uma aula específica para aprendizagem do nado costas, com o intuito de desenvolver movimentos de braço, pernas e respiração, lembrando que devemos sempre partir do mais simples para o mais complexo. 63 REFERÊNCIAS ANDRADE, W. T. V. S. et al. A relação neurofisiológica existente entre memória e aprendizagem: uma revisão bibliográfica. Psicologia Cadernos de Graduação. Ciências Biológicas e de Saúde Unit., v. 6, n. 3, p. 66–73, 2021. BATISTA DE SOUSA, A.; MISKINIS SALGADO, T. D. Memória, aprendizagem, emoções e inteligência. Revista Liberato, v. 16, n. 26, p. 141–152, 2015. CHAINOK, P. et al. Backstroke to breaststroke turning performance in age-group swimmers: hydrodynamiccharacteristics and pull-out strategy. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 18, n. 4, p. 1–11, 2021. CHOLLET, D. et al. Arm to leg coordination in elite butterfly swimmers. International Journal of Sports Medicine, v. 27, n. 4, p. 322–329, 2006. FERRACIOLI, L. Aspectos da construção do conhecimento e da aprendizagem na obra de Piaget. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 16, n. 2, p. 180–194, 1999. GONJO, T. et al. Upper body kinematic differences between maximum front crawl and backstroke swimming. 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Revista Univap, v. 9, n. 17, p. 12–17, 2002. 65 CONCEITOS FISIOLÓGICOS E PLANEJAMENTO PARA DESEMPENHO DA NATAÇÃO UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer caraterísticas fi siológicas para o bom desempenho do treinamento da natação; • analisar predominâncias metabólicas durante o treinamento; • identifi car sistemas fi siológicos utilizados durante o treinamento da natação; • conhecer princípios do treinamento; • reconhecer o overtraining e overreaching; • aplicar avaliação, monitoramento e planejamento de treinamento para nadadores; A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS FISIOLÓGICOS E PLANEJAMENTO PARA DESEMPENHO DA NATAÇÃO TÓPICO 2 – RESPOSTAS FISIOLÓGICAS NO DESEMPENHO DA NATAÇÃO TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO, AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DO TREINAMENTO DA NATAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 66 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 67 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS FISIOLÓGICOS E PLANEJAMENTO PARA DESEMPENHO DA NATAÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos, inicialmente, as bases de respostas fisiológicas e metabolismo energético aplicados na natação, com a finalidade de fazê- los compreender os pilares científicos para atuais e futuras aplicações dos métodos de treinamento, avaliações e monitoramento de treinamento. Dentro da variedade de sistemas dentro da fisiologia, abordaremos o sistema muscular, em que conheceremos os tipos de músculos e suas funções. Apresentaremos o sistema circulatório e sistema respiratório, em que estão intimamente ligados, pois o sistema circulatório tem a função de transportar o sangue, oxigênio e nutrientes para todo o organismo, e o sistema respiratório a função de captar oxigênio e liberar o gás carbônico (CO2). Abordaremos o metabolismo energético, que é de suma importância, pois toda máquina precisa de um consumo de combustível. Dessa forma, o corpo também usa energia para se locomover, seja no meio terrestre ou no meio aquático. Todos esses fatores fisiológicos terão uma grande importância na hora de prescrever, avaliar e monitorar o treinamento de nadadores, pois a aplicabilidade dos conceitos fisiológicos no treinamento aumenta sua probabilidade de acertar no maior desempenho do nadador. 2 CONCEITOS FISIOLÓGICOS E METABÓLICOS LIGADO AO EXERCÍCIO A fisiologia do exercício pode ser compreendida como diversos processos fisiológicos que acontecem no organismo, no decorrer do esforço (GARBER et al., 2011). Esses processos fisiológicos necessitam de uma demanda energética cerca de 15 vezes a mais do valor de repouso. Não só apenas demanda energética, temos também mudanças na frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial e alterações metabólicos como parte desse processo. Dessa forma, o corpo humano deve ser adaptado ligeiramente ao aumento da demanda em pequeno período de tempo. 68 Essa necessidade em curto período de tempo faz com que o nosso organismo converta alguns desses mecanismos fisiológicos e bioquímicos mais competentes ao longo do tempo (HAWLEY et al., 2014). Tanto os efeitos agudos que são as respostas rápidas do exercício ao organismo quanto os efeitos crônicos que são os processos fisiológicos e bioquímico melhorado durante um período maior da prática do exercício estão relacionados ao tipo de esforço realizado. Dentro dessas categorias de esforços podemos definir três, atividade física, exercício e esporte. A atividade física é capaz de ser definida como qualquer contração muscular que eleve o gasto energético acima do nível de repouso. Desse modo, podemos entender que qualquer contração muscular que tenha movimento provoca gasto calórico acima do nível de repouso, tendo como exemplo atividades feitas dentro de casa, como limpar a casa, lavar roupa e cozinhar, exigindo uma demanda de energia acima do nível de repouso. Todavia, quando falamos em atividade física, constantemente a relacionamosao exercício. Apesar disso, mediante definição, exercícios são atividades programadas, sistematizadas com objetivos anteriormente estabelecidos. Já o esporte tem objetivos mais específicos em relação ao exercício, e um dos maiores interesses é o seu alto desempenho durante as provas (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016). A fim de sustentar a demanda energética apropriada para o movimento, seja atividade física, exercício ou esporte, o nosso organismo usa vários alimentos que fornecem nutrientes com funcionalidades biológicas que devem ser transformados em substratos energéticos para o desempenho celular (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Dessa maneira, conseguimos identificar o trabalho celular como o metabolismo de ambas as células em conjunto. O nosso organismo usufrui de material orgânico, como carboidratos, proteínas e gorduras e modifica ou metaboliza seus substratos, como glicose, aminoácidos e triacilglicerol, para que a energia química seja utilizada pela célula sempre que necessário, como para realizar contrações musculares no dia a dia, seja na atividade física, exercício ou esporte, ou simplesmente para manter funcionamento do nosso organismo durante o período de homeostase. Todos os alimentos que consumimos e seus substratos energéticos são modificados pelo nosso organismo em apenas uma moeda energética, chamada de adenosina trifosfato – ATP (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2016; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). O nosso organismo é muito complexo e simples ao mesmo tempo, pois o motivo para que o nosso corpo tenha apenas uma moeda energética é bem simples: se organismo tivesse uma variedade de moedas, ele seria muito lento, pois teria que processar uma diversidade de moedas energéticas. Podemos tomar como exemplo uma padaria, em que diversos estrangeiros viriam comprar pão, mas cada um quisesse pagar com a moeda do seu país. O padeiro teria que ter uma diversidade de moedas de vários países para devolver o troco correto. 69 3 CONCEITOS DE PLANEJAMENTO E PRESCRIÇÃO LIGADOS AO EXERCÍCIO Quando falamos em atingir metas e objetivos dos exercícios, seja para a melhora da saúde, ganho de força, emagrecimento, hipertrofia ou alto rendimento no esporte, estamos falando indiretamente da prescrição, que pode ser definida como utilização das variáveis de volume e intensidade a fim de atingir objetivos pré-estipulados. Por exemplo, temos um aluno que precisa nadar em uma prova de travessia em águas abertas, porém, esse indivíduo está acima do peso, e para que esse indivíduo possa ter um melhor desempenho na prova, é necessário reduzir o seu peso corporal. Assim, seu objetivo é reduzir 8 kg. Dessa forma, devemos manusear de maneira correta as variáveis de volume e intensidade para alcançarmos o objetivo do indivíduo. É aparente uma falsa facilidade na hora da prescrição do exercício, pois agora sabemos onde o aluno quer chegar, mas qual treino devemos passar? Com material ou sem material? A resposta parece ser bem simples: todos os treinos com ou sem material podem ser prescritos para chegar ao objetivo, a não ser por questões patológicas. A causa para essa resposta parece simples. É o fato de que todos os treinos podem ser prescritos, pois o importante nesse momento não é o tipo de material utilizado ou treino executado. O que determina a prescrição é a dose-resposta, e não o tipo de treino. A dose-resposta do treino pode ser determinada, como o manuseio das variáveis (volume, intensidade e frequência) para atingir um determinado objetivo (LOPES et al., 2017; SCHOENFELD et al., 2014; SCHOENFELD; OGBORN; KRIEGER, 2017). Por exemplo, quando um indivíduo vai até o médico e se queixa de dor no ouvido, o médico, ao examinar, percebe uma infecção no ouvido e prescreve o tratamento. Por exemplo, 250mg de antibiótico de 12 em 12 horas durante 14 dias. O médico acabou de realizar uma prescrição de dose-resposta a uma infecção, para a qual 250mg representa a intensidade do medicamento, 12 em 12 horas a frequência e 14 dias a duração do tratamento, ou seja, intensidade, frequência e volume (JOÃO; JUNIOR, 2019). Diante disso o Professor de Educação Física (treinador), quando um indivíduo está acima do peso corporal, deve então prescrever treinos, mas o treino em si não é o fator determinante para alcançar os objetivos estipulados. O fator determinante será a dose e a resposta que será aplicada ao aluno. Nesse contexto, os treinos podem ser diferentes com relação а sua execução, ao material utilizado e até ao seu objetivo, mas, por outro lado, podem estabelecer processos fisiológicas iguais. Por exemplo, nadar crawl, costas, peito ou borboleta, são estilos de nado com características de movimentos diferentes, mas geram ajustes fisiológicos semelhantes caso sejam realizados com a mesma dose e para os mesmos objetivos pré-estabelecidos. Portanto, quando falamos em treinos, temos que levar em conta suas variáveis de volume, frequência e intensidade (JOÃO; JUNIOR, 2019). 70 Dessa forma, um indivíduo pode perder peso realizando frequência de treinamento de três vezes na semana, nadado crawl а seis km/h durante uma hora, mas também pode realizar a mesma frequência semanal de três vezes por semana, mas, ao invés de nadar crawl, ele nadar borboleta а 12 km/h durante 30 minutos. A pergunta é: qual dessas prescrições podem levar o aluno a conquistar seus objetivos mais rapidamente? Obviamente, muitos devem pensar na segunda opção (nadar borboleta a 12km/h durante 30 minutos), comparando-a com a primeira opção (nadar crawl a seis km/h durante uma hora). Então, surpreendam-se, pois ambas as prescrições têm a mesma dose-resposta. Consequentemente, ambos os resultados serão de seis km percorridos e a longo prazo a relutância será a mesma relacionado à perda de peso e gasto calórico do aluno. Agora, é possível que ainda haja questionamentos: como podem duas prescrições tão diferentes relacionados à volume e intensidade apontarem os mesmos resultados? Da maneira que foi mencionado inicialmente, o importante não é o treinamento, nem o material, pois não devemos olhar para uma variável isolada, e sim a junção de todas as variáveis, apontando o produto final. Dessa forma, nadar a 6km/h durante uma hora ou nadar com o dobro de velocidade na metade do tempo trará os mesmos resultados. Qual o melhor exercício para melhorar a força muscular do ombro dos nadadores? A maioria vai responder que o melhor exercício é desenvolvimento de ombros. Então, qualquer pessoa fazendo o exercício de desenvolvimento de ombro sem nenhum peso, apenas com o peso da gravidade, desenvolverá a musculatura do ombro? A resposta é não, pois se faz necessária uma sobrecarga apropriada para tais adaptações nesse grupo muscular. Por consequência, o tipo de exercício não é o fator que determina o alcance do objetivo. O desempenho na natação ou em qualquer outo esporte é considerado multifatorial. Em outras palavras, o desempenho esportivo deriva de muitos aspectos técnicos (coordenação de gestos motores), táticos (estratégias adotadas dentro da competição), fisiológicos (força, velocidade e resistência), psicológicos (motivação, ansiedade e convívio com familiares e atletas) e fatores externos (clima, altitude e até o habitat da prova), que podem afetar todos os outros fatores já mencionados. Apesar de o desempenho físico ter uma forte relação com o aspecto genético, a prescrição e distribuição de treinamento ao decorrer de um período de tempo ou temporada também desempenha uma influência direta na atuação da performance do atleta. O planejamento de exercícios com objetivos tem um nome bem comum no esporte e na educação física, chamado de periodização. Assim, a periodização é vista como fundamental para potencializar a performance dos alunos e atletas, pois permite mudanças em determinados períodos de tempo, com mudanças das variáveis (sobrecarga, volume, frequência e recuperação), que proporciona adaptações fisiológicas em determinados momentos específicos de objetivosdo aluno e em temporadas competitivas do atleta. A periodização envolve o manejo e controle das cargas do treinamento, métodos e estratégias em períodos específicos, com metas bem definidas. 71 Dentro desse planejamento, encontramos, popularmente, dos tipos de periodização. Uma delas é a periodização tradicional, também conhecida como periodização linear, em que o professor ou treinador procura planejar as cargas de treinamento, com a intenção de que seu atleta alcance a melhor performance. A periodização linear começa com grande volume e pouca intensidade, e, no decorrer do planejamento, avança para um baixo volume e alta intensidade, sempre alternando períodos de descanso entre o treinamento. Vemos também a periodização não linear, também conhecida como como periodização ondulatória, em que existe a possibilidade de alterar diariamente ou semanalmente as cargas de treinamento. Ao inverso da periodização linear, a periodização ondulatória concede uma maior versatilidade na manipulação do volume e intensidade. Dessa forma, ocorre a distribuição do treinamento diária ou semanalmente, não seguindo um padrão linear. Assim, a periodização ondulatória aceita que a intensidade do treino possa aumentar no decorrer do tempo, ante que haja aumento no volume do treino. No entanto, a periodização linear ainda é a mais adotada dentro do âmbito da natação. 72 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Aspectos fisiológicos relacionados ao exercício e capacidades que podem ser trabalhadas com esses parâmetros. • Como funciona o metabolismo energético e a necessidade do corpo em manter uma moeda única para uso de energia. • A conveniência da prescrição objetiva a respeito do treinamento, sabendo que não podemos olhar apenas para uma variável isolada, mas sim para todo o contexto da prescrição. • A necessidade do planejamento do treinamento, seja para atleta ou não. 73 AUTOATIVIDADE 1 Tendo compreendido a fisiologia do exercício e a importância que ela traz para o desenvolvimento do treinamento, vemos que seu estudo é necessário para que posamos entender como aplicar e essa ciência ao treinamento. Dessa forma, qual é a definição correta da fisiologia do exercício? a) ( ) A fisiologia do exercício pode ser compreendida como um processo fisiológico que acontece no organismo no decorrer do esforço. b) ( ) A fisiologia do exercício não pode ser compreendida como diversos processos fisiológicos, pois ela apenas acontece em alguns órgãos. c) ( ) A fisiologia do exercício pode ser compreendida como diversos processos fisiológicos que acontecem no organismo no decorrer do esforço. d) ( ) A fisiologia do exercício não pode ser compreendida, pois ela não muda com o esforço físico. 2 Considerando o metabolismo energético, uma ação do nosso organismo é fornecer energia para nosso corpo realizar movimento em diversas atividades, inclusive nadar. O nosso organismo transforma todos os substratos energéticos em apenas uma moeda de troca de energia para ter uma maior facilidade na hora da utilização. Qual é essa moeda de troca? a) ( ) A moeda energética é chamada de dose-resposta – DR. b) ( ) A moeda energética é chamada de adenosina trifosfato – ATP. c) ( ) A moeda energética é chamada de glicose – ATG. d) ( ) A moeda energética é chamada aminoácidos – ATA 3 Na prescrição do exercício, temos uma diversidade de variáveis que podem ser manipuladas durante o período de treinamento. Sobre o exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O que determina a prescrição do treinamento é a dose-resposta. ( ) O desempenho na natação ou em qualquer outro esporte é considerado apenas por uma variável isolada. ( ) O que determina a prescrição do treinamento é o exercício realizado e o material que vai ser utilizado durante o treinamento. ( ) O desempenho na natação ou em qualquer outo esporte é considerado multifatorial. 74 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) V – F – V – V. c) ( ) F – V – F – V. d) ( ) F – F – V – F. 4 O Planejamento esportivo ou planejamento de exercícios é usado para aumento do desempenho ou até mesmo para melhorar de capacidades físicas, chamada de periodização. Acerca da periodização linear, que também é conhecida como periodização tradicional, disserte sobre quais as suas principais caraterísticas. 5 O planejamento deve ser realizado, seja para o atleta ou para o aluno iniciante, pois com objetivos preestabelecidos e planejamentos, conseguimos ter mais assertividade dentro da prescrição e alcançar as metas. Sabemos que esse planejamento é chamado de periodização, em que temos a periodização linear e ondulatória, ou seja, há uma diferença de caraterísticas entre esses dois tipos. Disserte sobre quais as principais diferenças entre essas periodizações. 75 RESPOSTAS FISIOLÓGICAS NO DESEMPENHO DA NATAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos as respostas fisiológicas acerca do de- sempenho, englobando todos os sistemas fisiológicos e relacionando esses sistemas em conjunto com parâmetros energéticos de respostas fisiológicas. Trataremos de con- ceitos do sistema muscular, principalmente do músculo estriado esquelético, que é de suma importância para o movimento. Apontaremos suas estruturas e funções, abor- dando as principais características dos tipos de fibras musculares e suas predominân- cias metabólicas. Vamos compreender o sistema circulatório e respiratório, pois ambos trabalham juntos e sequencialmente, visto que o sistema respiratório faz a captação de oxigênio e o sistema circulatório, além de levar uma variedade de nutrientes, também leva o oxigênio para células. Compreenderemos mais a fundo o metabolismo energético, pois é a forma de o corpo humano gerar trabalho. Aprofundaremos a moeda energética (ATP) e como o corpo a usa para produzir movimento e entenderemos como o nosso organismo transforma todo esse material orgânico (carboidratos, gorduras e proteínas) que consumimos em apenas uma moeda. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 2 SISTEMA MUSCULAR O corpo humano realiza vários movimentos, como contração e relaxamento, um papel importante realizado pelos músculos, em que desfrutamos de três músculos: o músculo liso, que está na maioria dos órgãos; músculo estriado cardíaco, encontrado no coração; e músculo estriado esquelético, que é ligado aos ossos e realiza contrações para movimentar essa estrutura. Vamos focar no músculo estriado esquelético, pois ele é fundamental na movimentação em qualquer esporte ou exercício, não sendo diferente na natação. A contração muscular gera força, possibilitando ao nadador realizar movimentos das suas várias alavancas dentro do meio líquido. Esse conhecimento é de suma importância para professores e treinadores de natação, pois apresenta o entendimento das funções e desenvolvimentos no que diz respeito ao esporte. 76 2.1 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS MÚSCULOS Para que a contração muscular aconteça, é necessário que a fibra muscular receba uma mensagem do sistema nervoso central. A mensagem chega no formato de impulso, que percorre as fibras nervosas em alta velocidade, até alcançarem o ponto de encontro da fibra muscular, fazendo com que essa fibra se contraia. Os músculos são conjuntos de fibras musculares lidados aos ossos, geralmente ligados a uma articulação. Assim, ao se contrair, acontece um encurtamento do músculo tracionado na inserção, em que o músculo está preso ao osso, na direção da origem em que a outra extremidade do músculo está ligada, preso a outro osso. Figura 1 – Estrutura funcional do músculo estriado esquelético Fonte: Mcardle, Katch e Katch (2016, p. 573) A maioria das vezes se fala em uma contração total dos músculos, porém, apenas algumas fibras se contraem em determinados momentos. Na ocasião de carga elevadas, uma grande quantidade de fibras deve ser acionada para vencer essa resistência. No entanto,quando a carga é menor, apenas uma pequena quantidade de fibras precisa ser acionada para vencer a resistência. Os músculos são compostos por várias células musculares, também chamadas de fibras musculares, tendo uma espessura aproximada de um fio de cabelo. A estrutura muscular é constituída por feixes de células musculares envolvidos por tecidos conjuntivos, em que encontramos miofilamentos na fibra muscular, que é composto principalmente das proteínas actina e miosina. Tendo um estímulo nervoso para reagir com a fibra muscular, com a liberação de agentes químicos para gerar energia, faz com que a cabeça da miosina se conecte com o filamento de actina, que é tracionado para dentro, fazendo com que aconteça a contração muscular. 77 Figura 2 – Fibra muscular e suas miofibrilas Fonte: Mcardle, Katch e Katch (2016, p. 573) Dentro de um músculo ficam dispostas várias fibras musculares em unidades motoras. Um nervo motor separado responde a uma unidade motora por ramificações que se destinam até todas as fibras existentes no interior da unidade. Consequentemente, toda fibra muscular tem uma terminação nervosa que conduz informações do sistema nervoso central até a fibra, dizendo quando deve contrair. Seja qual for o impulso transmitido por meio do nervo e seus ramos, este exercerá uma ação de contração de todas as fibras musculares que fazem parte dessa unidade motora, tendo como fenômeno chamado de lei do tudo ou nada. A quantidade de unidades motoras que realizarão a contração é determinada pela demanda de necessidade. Um nadador de fundo, por exemplo, necessita de um baixo re- crutamento de fibras, pois os seus movimentos não necessitam de uma grande quantidade de força, porém, em uma prova de 50 metros livre, se tem uma alta demanda de recruta- mento muscular e um maior uso de força. Assim, o sistema nervoso estimula a quantidade necessária de unidades motoras para que a atividade possa ser executada. A maioria dos pesquisadores dessa área acreditam que nunca conseguiremos recrutar todas as unidades motoras, pois o sistema nervoso central inibiria essa ação, uma vez que a força exercida nessa contração seria tão absurda que poderia quebrar algum osso. Vale lembrar que as fibras musculares devem ser usadas, pois, se não as usarmos, elas atrofiarão. Figura 3 – Unidade motora Fonte: Mcardle, Katch e Katch (2016, p. 605) 78 O nadador deve trabalhar o exercício de força de variadas intensidades, pois um padrão regular de recrutamentos de fi bras musculares pode desenvolver um melhor nado, e, consequentemente, um melhor desempenho, sendo trabalhado em cima do recrutamento necessário de fi bras musculares para desenvolver os gestos motores dos nados. O vídeo a seguir mostra a sequência bem detalhada da contração muscular. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BVcgO4p88AA. DICA 2.2 FIBRAS MUSCULARES DO TIPO 1 E TIPO 2 O músculo estriado esquelético possui dois tipos de fi bras musculares. As fi bras tipo 1, também é conhecida como fi bras vermelhas ou contração lenta. As de tipo 2, também conhecidas como fi bras brancas e contração rápida. No entanto, nestas argumentações, adotaremos os termos fi bras do tipo 1 e fi bras do tipo 2. As fi bras musculares do tipo 2 tem uma contração muito rápida, se contraindo 30 a 50 vezes por segundo, tendo um encurtamento das suas fi bras em alta velocidade e se reduzindo até seis vezes de comprimento de fi bra por segundo. Já as fi bras musculares do tipo 1 tem uma contração lenta, e se contraem de 10 a 15 vezes por segundo, tendo um encurtamento bem lento e se reduzindo apenas duas vezes de comprimento de fi bra por segundo. Outra caraterística bem diferente e importante entre os dois tipos fi bras musculares encontra-se na capacidade resistência e desempenho da potência. As fi bras do tipo 1 possuem uma demanda maior do metabolismo aeróbico, por isso ela tem mais resistência. O interior de dessas fi bras é rica em substâncias essenciais para o metabolismo aeróbico, além de possuírem mais estruturas onde esse metabolismo ocorre. Estas fi bras são ricas em mioglobinas, uma proteína que transporta oxigênio no músculo, por isso as fi bras do tipo 1 tem uma coloração avermelhada. Consequentemente, as fi bras do tipo 2, por não ter uma concentração tão grande de mioglobina, são chamadas de fi bras brancas, pois tem sua coloração menos avermelhada. Outra caraterística que deixa as fi bras do tipo 1 mais resistentes é o fato de terem um maior número de mitocôndrias, organelas presentes no interior das células musculares, local em que acontece o metabolismo aeróbico. Além disso, as fi bras do tipo 1 tem uma maior concentração de enzimas aeróbicas, que catalisam a liberação de energia no decorrer dos processos no metabolismo aeróbico. Independentemente das fi bras do tipo 1 terem uma maior capacidade de fornecer energia aeróbica, sua capacidade para fornecer energia anaeróbica é bem reduzida, pois elas possuem menos enzimas anaeróbicas, que desenvolvem energia quando não 79 há presença de oxigênio. Semelhantemente, quando recrutadas para o fornecimento de energia de forma anaeróbica, essas fibras não podem fazer com o mesmo desempenho das fibras do tipo 2. Olhado por outro lado, as fibras do tipo 2 tem uma menor capacidade para o metabolismo aeróbico, possuindo menos mioglobina, uma quantidade menor de mitocôndrias, menos acúmulo gorduras e enzimas aeróbicas. Tais fibras concebem uma maior quantidade de ácido lático do que as fibras do tipo 1, quando submetido a um esforço com necessidade do seu recrutamento, assim, entram em fadiga muito mais rápido e utilizam o seu glicogênio estocado aceleradamente. Em sua maioria, o músculo estriado esquelético contém ambas as fibras, porém, alguns músculos têm predominância de fibras do tipo 1 e em outros tem predominância de fibras do tipo 2. 2.3 SUBDIVISÃO DE FIBRAS MUSCULARES DO TIPO 2 Pesquisadores constataram uma subdivisão dentro do grupo das fibras de tipo 2 na musculatura dos seres humanos. No meio desse grupo, algumas fibras parecem ter um potencial com maior intensidade para o metabolismo aeróbico do que as demais, apesar de que a sua capacidade aeróbica não aconteça na mesma similaridade do que as fibras do tipo 1. A divisão desses subgrupos das fibras do tipo 2 ocorre quando as que tem maior capacidade aeróbica do que as demais são chamadas de tipo 2a, com contração rápida a glicolíticas oxidativas rápidas. O outro grupo é denominado de fibras do tipo 2b, por ter uma menor capacidade aeróbica do que as fibras do tipo 2a. Os termos comumente utilizados para identificação dessa subdivisão são: Fibra do tipo 2b, contração rápida b, glicolítica rápida. Ainda se fala em um terceiro subgrupo, chamado fibras do tipo 2c, ou podemos considerá-las como não classificadas, por não se encaixarem nos grupos de contração rápida nem de contração lenta. No entanto, alguns pesquisadores não aceitam esse termo, pois estudos longitudinais mostram que não há nem mesmo uma mudança de fibras. As propriedades dos grupos e subgrupos tem o seu potencial, e, considerando todos os tipos de fibras musculares, devemos notar que elas trabalham em conjunto. No entanto, não conseguimos usar apenas fibras do tipo 1 ou do tipo 2 se a uma predominância de uso de fibras e caraterísticas que são utilizadas ao decorrer são requisitadas. O Quadro 1 vai mostrar as propriedades dos grupos e dos subgrupos das fibras muscular. 80 Quadro 1 – Propriedades das fibras musculares do tipo 1 e tipo 2 Fonte: o autor Propriedades Fibras do tipo 1 Fibras do tipo 2a Fibras do tipo 2b Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida Metabolismo anaeróbico Menor Maior Maior Metabolismo aeróbico Maior Médio Menor Tamanho Menor Maior Maior Potência Menor Maior Maior Mitocôndrias Maior Médio Menor Capilares Maior Médio Menor ATPase Menos Mais Mais CPK Menos Mais Mais Gordura Mais Menos Menos Proteína Menos Mais Mais Glicose Sem alteração Sem alteraçãoSem alteração Mioglobina Mais Médio Menos 2.3.1 Relação de tipos de fibras musculares com o desempenho Os músculos estriados esqueléticos têm uma quantidade de fibras, tanto do tipo 1, quanto do tipo 2, proporcionalmente igual em humanos. Todavia, algumas pessoas têm uma maior quantidade de uma determinada fibra, podendo afetar o seu desempenho, tanto positiva, quanto negativamente, em provas de natação ou até exercícios do dia a dia. Olhando dessa perspectiva, podemos afirmar que a predominância da fibra muscular pode nos dizer que o aluno ou atleta vai se sair melhor em provas de velocidade ou de resistência. Alunos com predominância de fibras musculares do tipo 2 tendem a se sair melhores em provas ou exercícios de velocidade, pois sua contração é rápida e muito forte. Por outro lado, esses alunos se encontram em desigualdade quando são submetidos a provas e exercícios de resistência, pois possuem um número reduzido de fibras do tipo 1, assim, sua capacidade de energia aeróbica é muito baixa, levando à fadiga com a liberação de ácido lático no músculo. O contrário também acontece, quando um aluno tem uma quantidade elevada de fibras musculares do tipo 1, está bem amparado em provas e exercício de resistência, porém, para exercícios e provas de velocidade, terá mais dificuldade, visto que tem menor quantidade de fibras do tipo 2, e, por isso, quando necessita de energia de forma rápida, não consegue. Independentemente de as fibras musculares terem relação como tipo de prova, pesquisas evidenciaram que em nadadores isso não é predominante. Melhor dizendo, nadadores com uma predominância em fibras do tipo 2 nem sempre irão bem em provas 81 de velocidade, e nem sempre nadadores com um maior percentual de fibras do tipo 1 irão bem em provas de resistência. As caraterísticas de prova na natação são diferentes de outros esportes. Ao analisarmos um atleta que não tem uma predominância de fibras do tipo 1, porém, se sai bem em uma prova de resistência, deve-se levar em conta o fator técnico, que abrange uma série de pontos, como respiração, gesto motor correto, posicionamento hidrodinâmico, percepção do momento da prova, entre outros. Devemos analisar também que temos apenas uma predominância, pois o músculo se contrai em conjunto, não apenas as fibras musculares do tipo 1 ou tipo 2, e sim uma predominância em recrutamentos em cada exercício, prova ou treinamento. 3 SISTEMA CIRCULATÓRIO O desígnio do sistema circulatório é fazer o transporte de sangue por todo o organismo. Essa função é fundamental, pois o sangue faz o transporte de uma variedade de nutrientes, como glicose, aminoácidos e ácidos graxos, além de levar oxigênio para o interior de todos os tecidos, fazendo o transporte de ácido lático, dióxido de carbono e íons de hidrogênio para fora dos tecidos. Dessa forma, o sistema circulatório faz a entrega de nutrientes que o corpo precisa para desempenhar alguma atividade e retirará o que já não tem mais utilidade naquele momento. Fundamentalmente, o nosso corpo precisa de nutrientes e de oxigênio para manter-se, como também necessita de dispersar alguns substratos. Olhando para esse sistema, devemos pensar que o coração é a bomba que impulsiona o sangue, as artérias e veias são as tubulações, onde esse sangue impulsionado deve passar. O sangue, rico em oxigênio e nutrientes, é impulsionado e passa pelas tubulações chamadas de artérias. Quando a carga de nutrientes e oxigênio já chegou às células, devem ser recolhidos substratos que não vão servir naquele momento. Agora, as tubulações usadas para o transporte são as veias. 82 Figura 4 – Sistema circulatório Fonte: https://bit.ly/3g1yUsV. Acesso em: 14 jul. 2022. A banda esquerda do coração bombeia o sangue para os músculos e tecidos de todo corpo humano por meio das artérias e arteríolas. Elas são conjuntos de ramificações de tubos. Sua espessura vai ficando cada vez menor até chegar no seu objetivo, que é o tecido. As artérias são as primeiras ramificações com um diâmetro maior, já as arteríolas são as ramificações subsequentes da artéria com um diâmetro menor. Dando sequência, após as arteríolas, se tem os capilares, os menores elementos vasculares. Cada capilar envolve individualmente cada fibra muscular. O sangue transporta oxigênio, glicose e alguns outros nutrientes até chegar nos capilares. Nessa fase, o sangue fica mais próximo possível dos músculos, e algumas dessas substâncias necessárias para os músculos saem dos capilares, que estão envolvidos por estes vasos. No mesmo período, os subprodutos da contração muscular, ácido lático, dióxido de carbono e íons de hidrogênio se difundem, sendo levados para fora das células e sequencialmente para dentro dos capilares. Logo depois, o sangue sai dos tecidos por meio dos mesmos capilares, voltando por outro grupo de tubos sequencialmente maiores, tendo por nome vênulas e veias, voltando para banda direta do coração. Dando seguimento, o sangue é bombeado pelo coração para os pulmões, por meio de artérias e arteríolas pulmonares, chegando até os capilares pulmonares, que envolvem pequenas bolsas que existem nos pulmões, chamados de alvéolos pulmonares. Quando o sangue chega próximo aos alvéolos, é liberado o dióxido de carbono, sendo transportado para dentro dos alvéolos pulmonares, e assim sendo expirado. No mesmo período, o oxigênio é inspirado até chegar nos pulmões, passando pelos capilares, transportado pelo sangue até as vênulas e veias, chegando o sangue rico em oxigênio até a banda esquerdo coração. Com a chegada do sangue rico em oxigênio no coração, ele é bombeado para os músculos e tecidos, em que um novo ciclo se inicia. 83 O ácido lático, que é um subproduto do metabolismo, é coletado nos músculos e será destruído em diferentes lugares pelo percurso do sangue, até chegar ao coração. Será distribuído parte para outras fi bras musculares e no fígado, onde deve ser convertido em glicogênio para ser usado posteriormente como fonte de energia. Uma boa parte será absorvida pelo músculo estriado cardíaco, em que será utilizado como fonte de energia ou guardado como glicogênio para posteriormente. Os aspectos fundamentais de transporte de sangue para os tecidos no sistema respiratório são: frequência cardíaca, volume sistólico e débito cardíaco. Nos próximos tópicos, abordaremos mais a fundo cada um desses assuntos. A animação a seguir demostra uma sequência bem detalhada do sistema circulatório em funcionamento. Acesse: https://bit.ly/3eri7iQ. DICA 3.1 FREQUÊNCIA CARDÍACA A frequência cardíaca nada mais é do que a quantidade de contração do mús- culo estriado cardíaco por minutos. Tanto o ventrículo do lado de direito, quanto o do lado esquerdo, se contraem simultaneamente, sendo considerada essa contação si- multânea como um batimento. A cavidade esquerda, chamada de ventrículo esquerdo, se enche com o sangue rico em oxigênio vindo do pulmão no seu período de relaxa- mento. Quando acontece a contração, o sangue é bombeado para as artérias, mandan- do, assim, sangue para os tecidos e sistema muscular. A cavidade direita, chamada de ventrículo direito, se enche com sangue rico em dióxido de carbono, vindo do sistema muscular no seu período de relaxamento. Quando acontece a contração, o sangue é bombeado para os pulmões. 3.1.1 Frequência cardíaca de repouso A maioria das pessoas tem sua frequência cardíaca de repouso entre 60 e 80 batimentos por minuto. Isso para pessoas não treinadas. Em atletas, a frequência cardíaca de repouso fi ca em torno de 30 a 50 batimentos por minuto, tendo como fator primordial que ela diminui com o treinamento. Um dos benefícios do treinamento é que os músculos cardíacos aumentam e fi cam mais fortes, e podem contrair com uma maior precisão, bombeando mais sangue para os músculos em cada contração. Posteriormente, o coração necessitará de menos contrações para atingir a demanda de sangue do organismo. 84 Para uma maior exatidão, a frequência cardíacade repouso deve ser aferida em um período de 60 segundos. É viável executar a aferição tocando a artéria carótida do pescoço, no punho, na artéria radial, ou apenas colocando a mão sobre o coração. 3.1.2 Frequência cardíaca máxima A frequência cardíaca máxima é o máximo de vezes que o coração bate em um minuto, e cada indivíduo tem a sua frequência cardíaca máxima. Normalmente, a frequência cárdica fica em torno de 180 a 220 batimentos por minuto. É possível que a individualidade biológica do indivíduo possa ser determinante da sua frequência cardíaca máxima, independente do treinamento ou não. Com o passar do tempo, a frequência cardíaca máxima tende a declinar, com uma queda aproximada de um batimento por ano, tendo início aproximadamente aos 12 anos de idade, próximo à maturidade motora. Um dos procedimentos mais utilizados é o de subtrair a idade em um valor de 220, dando, assim, um valor aproximado da frequência cardíaca máxima. No entanto, a frequência cardíaca máxima varia muito com o envelhecimento. Na teoria, uma pessoa com 40 anos teria uma frequência cardíaca máxima de 180 batimentos por minuto, no entanto, para pessoas nessa faixa etária, o valor oscila entre 156 e 204 batimentos por minuto (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Consequentemente, essa estimativa de frequência cardíaca máxima não tem uma clareza considerável para aplicação nas aulas e nos treinamentos de natação. Ocasionalmente, a frequência cardíaca máxima deve ser estipulada individualmente para cada aluno ou atleta. Um método mais direto e assertivo para calcular esse parâmetro consiste em nadar uma distância de 100 metros algumas vezes com intervalos de 5 a 15 segundos. O aluno deve começar com uma velocidade moderada, para promover uma frequência cardíaca regular, e aumentar a velocidade do nado sequencialmente, até que atinja a frequência cardíaca máxima, sem que ele próprio tenha percebido. O seguinte método consiste em contar a frequência cardíaca no decorrer de inúmeros trajetos de exercícios de velocidade máxima no período de alguns dias. A maior frequência cardíaca será considerada. Com intuito de minimizar os erros desse teste, o aluno ou atleta deve ter atingido essa frequência cardíaca máxima mais de uma vez, pois essa frequência atingida apenas uma vez pode não ser o esforço máximo do aluno. Com toda a evolução do treinamento e tecnologias envolvidas com o exercício, temos disponibilidade de monitores cardíacos, que dão uma maior precisão na aferição da frequência cardíaca máxima do que métodos que aferem os batimentos segundos após o esforço. Em indivíduos bem treinados, a frequência cardíaca começa a baixar logo após o esforço máximo, então, a frequência tirada alguns segundos após o esforço será sempre menor do que valor real. 85 Não podendo usufruir de monitores cardíacos, a frequência cardíaca deve ser aferida o mais rápido possível após o esforço máximo, tendo o objetivo de chegar o mais próximo do valor real da frequência cardíaca máxima, contando apenas os batimentos ocorrentes em 10 segundos e multiplicando por 6, para ser o mais assertivo possível. 3.2 VOLUME SISTÓLICO A quantidade de sangue bombeado pelos ventrículos do coração é denominada de volume sistólico, tendo como valores normais de repouso uma zona entre 60 e 130 mL por batimento, podendo ser aumentado com o exercício para cerca de 150 a 180 por batimento. Os valores mencionados se referem apenas ao sangue bobeado pelo ventrículo esquerdo, assim, o ventrículo direito bombeia uma quantidade similar de sangue (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). O treinamento de resistência aumenta o volume sistólico, e uma série de fatores contribuem para isso, incluindo uma quantidade maior de força exercida pelo músculo estriado cardíaco, o aumento da cavidade cardíaca e a menor viscosidade sanguínea. Pessoas fisicamente ativas tem o volume sistólico maior após o treinamento do que valores iniciais. Isso evidencia uma menor frequência cardíaca em repouso. Dessa forma, o coração fornece a mesma quantidade de sangue com apenas um batimento, e sem uma necessidade de batimentos rápidos. Pelos mesmos motivos, a frequência cardíaca de diminui com o treinamento, entre 10 e 15 batimentos por minuto, durante esforços submáximos e aumento do volume sistólico máximo. Os valores máximos ficam em torno de 120 a 140 mL por batimento em uma pessoa não ativa, porém, após os períodos de treinamento, pode se ter um aumento significativo, entre 150 e 180 mL por batimento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). 3.3 DÉBITO CARDÍACO É considerado o débito cardíaco a quantidade de sangue bombeada em um período de um minuto pelo músculo estirado cardíaco. Além disso, para o débito cardíaco, é considerado apenas o volume de sangue bombeado pelo ventrículo esquerdo, porém, já sabemos que ventrículo direito bombeia a mesma quantidade de sangue ao mesmo tempo. Para calcular o débito cardíaco, devemos multiplicar o volume sistólico pela frequência cardíaca. Normalmente, o débito cardíaco de uma pessoa em repouso é cerca de 5 a 6 litros por minuto. O corpo humano tem em média 4 a 6 litros de sangue, consequentemente, em uma pessoa treinada em repouso, um glóbulo vermelho demora aproximadamente um minuto para dar uma volta completa no sistema circulatório, desde os pulmões até os músculos. Pessoas não treinadas podem aumentar quatro vezes mais o seu débito cardíaco no decorrer do exercício, cerca de 20 litros por minuto, o que é atingido pelo aumento da frequência cardíaca e o volume sistólico durante o esforço (MCARDLE; 86 KATCH; KATCH, 2016). Em indivíduos treinados, durante o exercício, se tem um aumento significativo referente a pessoas não treinadas, pois o volume sistólico em pessoas treinadas é bem maior. Indivíduos treinados em exercícios máximos podem aumentar o seu débito cardíaco seis ou sete vezes mais do que o débito cardíaco em repouso. Assim, o glóbulo vermelho, que demorava um minuto para fazer o percurso, agora vai fazer o percurso entre seis e sete vezes em um minuto. Esse aumento no débito cardíaco é fundamental, pois se tem um aumento significativo de oferta em oxigênio e glicose, e também eliminado uma maior quantidade de dióxido de carbono e lactato, em função dessa maior velocidade de transporte sanguíneo. No que se refere ao débito cardíaco em repouso, não se tem alteração com o treinamento, mas o músculo estriado cardíaco fica mais eficiente na tarefa de manter o organismo abastecido com sangue. Como já foi mencionado anteriormente, o volume sistólico aumenta e a frequência cardíaca diminui, dessa forma, quando o indivíduo está em repouso, o músculo estriado cardíaco tem que contrair uma menor quantidade de vezes para bombear o mesmo volume necessária para o organismo a cada minuto. Assim, o treinamento também não altera o débito cardíaco em indivíduos fisicamente ativos em esforços submáximos do mesmo modo, porque não se tem necessidade. A necessidade de oxigênio é a mesma em indivíduos treinados ou não treinados, assim, não há necessidade de um aumento no débito cardíaco. Já volume sistólico tem um aumento significativo em indivíduos fisicamente ativos, durante o esforço submáximo, pois o músculo estriado cardíaco não tem necessidade de se contrair tantas vezes por minuto. Por esse motivo, a frequência cárdica de indivíduos fisicamente ativo e menor em esforço submáximo. A ligação de volume sistólico, frequência cardíaca e débito cardíaco podem determinar com que velocidade o sangue circula pelo organismo. No entanto, outros aspectos da função circulatória são fundamentais para o abastecimento de oxigênio e nutrientes, para eliminação de dióxido de carbono e ácido lático durante o movimento, quantidade de sangue no organismo, quantidade de glóbulos vermelhos, quantidade de capilares em volta dos músculos e dos pulmões e distinção de natureza do oxigênio entre artéria e veias em volta das fibras musculares em atividade. 3.3.1 Volume sanguíneo e glóbulos vermelhosO sangue é composto de parte líquida, chamado de plasma, e substâncias sólidas, glóbulos vermelhos, glóbulos branco e plaquetas, sendo o plasma em sua maioria constituído por água, que representa mais de 50% do volume sanguíneo, o restante constituído por glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. A maior parte das substâncias sólidas do sangue é constituída pelos glóbulos vermelhos, sendo que os glóbulos brancos e plaquetas representam menos de 1% do seu valor absoluto. Os glóbulos vermelhos são de fundamental importância, pois contém hemoglobina, uma proteína composta por ferro que transporta o oxigênio no sangue. 87 3.3.2 Capilares O músculo estriado esquelético manda sangue através das artérias, que são ramificadas em tubulações menores, chamadas de arteríolas. No decorrer do trajeto, as arteríolas chegam em terminas chamadas capilares. Os capilares circundam tecidos do organismo, os que envolvem as fibras musculares são chamados de capilares musculares. Os mesmos capilares que trazem o oxigênio também recolhem o dióxido de carbono e ácido lático, transportando das células musculares para outros destinos. Os capilares que envolvem as bolsas aéreas, ou alvéolos, nos pulmões são chamados de capilares pulmonares, em que se tem a terminação dos brônquios, pelo meio que o ar e oxigênio entram nos pulmões. O oxigênio é difundido para fora dos alvéolos em sentido ao sangue, em seguida, mandado para o coração, para que ele o bombeie para os tecidos do organismo. Já o dióxido de carbono é mandado para fora dos capilares e disperso para os alvéolos, e posteriormente expelido. A prática de exercício pode aumentar a quantidade de capilares em volta das fibras musculares. Os capilares têm um tamanho bem reduzido, permitindo a passagem de apenas um nutriente de cada vez. Consequentemente, o aumento de capilares em volta das fibras musculares, possibilitará uma maior liberação de oxigênio e glicose, como também a remoção de dióxido de carbono e ácido lático existentes nas fibras musculares. 3.3.3 Distinção de oxigênio arterial e venoso De acordo com o que foi apontado, uma parte do oxigênio no sangue se dispersa durante o percurso para as fibras musculares, das arteríolas até as vênulas, por meio dos capilares que ficam envolta destas fibras. No momento que o sangue é bombeado pelo músculo estriado cardíaco, sua quantidade de oxigênio é de 20mL por 100 mL de sangue em situação de repouso. Normalmente, esse sangue perde 4 a 5 mL de oxigênio para as fibras musculares no percurso pelo organismo. Dessa maneira, o volume de oxigênio venoso fica apenas um pouco reduzido, com 15 a 16 mL por 100mL de sangue. Esse volume reserva que fica disponível no sangue pode ser requisitado pelo organismo à medida que for submetido ao esforço. O indivíduo submetido ao esforço pode usar até 15 mL de oxigênio, deixando sua reserva bem baixa, com apenas 5mL de oxigênio no sangue venoso. O exercício de resistência pode acarretar uma melhora promissora no oxigênio liberado para as fibras musculares. Os motivos para essa melhoria de desempenho abrangem tanto um aumento nos capilares musculares, como também uma maior demanda de volume de sangue rico em oxigênio para as fibras musculares recrutadas. 88 3.4 PRESSÃO SANGUÍNEA A pressão sanguínea, também chamada de pressão arterial, que acontece quando o sangue avança pelos vasos sanguíneos, exerce uma pressão pelas paredes desses vasos. A pressão pode ser aferida por milímetros de mercúrio. Se tem duas medidas de pressão, para que essa força desse fluxo seja identificada. A primeira é quando a contração do músculo estriado cardíaco e a segunda é quando músculo estriado cardíaco relaxa. A pressão nos vasos quando acontece a contração é chamada de pressão sistólica, porque o nome apropriado cientificamente para um batimento cardíaco é sístole. A pressão quando acontece o relaxamento é chamado de diastólica, pois o período de relaxamento do coração é chamado de diástole. A pressão considerada em níveis normais, tanto sistólica quanto diastólica em níveis de repouso, fica em torno de 120 sistólica e 80 diastólica em mmHg. Exercícios de resistência reduzem a pressão arterial tanto sistólica quanto diastólica. Essa redução acontece em níveis de repouso ou de esforço submáximo. Esta redução na pressão arterial certamente se dá pela elasticidade dos vasos sanguíneos, com o aumento de pressão durante o exercício. Apesar de ser uma variável importante para saúde, não tem sido de confiança para o exercício. A pressão arterial oscila muito de indivíduo para indivíduo, sendo assim, não tem revelado indicadores promissores para o desempenho. 4 SISTEMA RESPIRATÓRIO As principais funções da respiração são abastecer oxigênio e eliminar o dióxido de carbono do nosso organismo. O desenvolvimento desse processo proporciona a vida, pois o nosso organismo não consegue sobreviver sem oxigênio, é a função menos falada, mas de importância igual, da respiração e regulação do equilíbrio do ácido-base do corpo. O sistema respiratório fundamenta-se nos pulmões e em um grupo de tubos ramificados que movimentam ar e oxigênio do exterior do organismo até a corrente sanguínea. No decorrer da inspiração, pegamos o ar que está fora do organismo pelo nariz e boca. O ar prossegue pela faringe, chegando até os pulmões pelos tubos chamados brônquios. Dentro dos pulmões, o ar decorrer por tubulações cada vez menores e mais ramificada, chamados de bronquíolos. Chegando ao final dos tubos, se tem pequenas bolsas chamadas alvéolos, que são envolvidos por capilares. 89 Figura 5 – Anatomia do sistema respiratório Fonte: Mcardle, Katch e Katch (2016, p. 427) Na primeira fase de inspiração, o oxigênio é absorvido como parte do ar que é captado pelo organismo. Parte desse oxigênio fica no nosso organismo quando expiramos o ar. Na fase de expiração, o ar é expelido com dióxido de carbono e gotículas de água produzidas pelo organismo. Então, a sequência do ar inspirado pelo nariz e pela boca é: decorre pela faringe e pelos brônquios, bronquíolos e, chegando, finalmente, nos alvéolos, enchendo essas pequenas bolsas elásticas. Nesta localidade, uma parcela do oxigênio que está no ar inspirado dissemina dos alvéolos para a corrente sanguínea pelos capilares pulmonares. No mesmo momento, o dióxido de carbono produzido nas células musculares dissemina na direção contrária, ou seja, para o fora dos capilares e para dentro dos alvéolos. Logo em seguida, o dióxido de carbono é movimentado pelos bronquíolos, chegando, finalmente, à expiração, em que é expelido pela boca e nariz para o ambiente externo. O volume corrente é o volume de ar trocado por respiração, tendo também o volume minuto, que é o volume de ar trocado por minuto. O volume corrente tem uma média entre a faixa de 500 a 700 mL de ar por respiração, e se tem uma média de 12 a 15 respirações por minuto, assim, o volume minuto tem uma faixa de 6 a 10 L de ar. Os nadadores adotam como estratégia a frequência respiratória que lhes proporciona o maior volume minuto corrente com exercício submáximo. Os nadadores naturalmente se ajustam com relação sua frequência respiratória e o volume corrente com o exercício, dominam principalmente essa habilidade, porque necessitam ajustar sua respiração com o seu ritmo de braçadas. 90 A animação a seguir demostra anatomia do sistema circulatório e o seu funcionamento durante ciclo respiratório. Acesse: https://bit.ly/3T2ATMn. DICA 4.1 CONSUMO DE OXIGÊNIO E RENDIMENTO NA NATAÇÃO O consumo de oxigênio é a quantidade de oxigênio utilizada durante o exercício. Essa quantidade é igual ao volume de oxigênio inspirado durante o exercício, subtraindo o volume expirado. Normalmente, o consumo de oxigênio é composto por equivalências com o número de litros ou mililitros de oxigênio utilizados durante o exercício pelo organismo. Por exemplo, um nadador inspira 12 L de oxigênio e inspira 6L em um minuto, ou seja, o consumo de oxigêniofoi de 6 L por minuto. O volume de oxigênio gasto pelos músculos a cada minuto está intimamente ligado à intensidade do exercício, em que se chega a um pico desse consumo, que fica em torno de 2 e 3 L por minuto. Esse valor se refere a homens e mulheres não ativos, podendo chegar com esse valor entre 4 e 6 L por minuto para nadadores de alto nível. O nome dado para o volume máximo de oxigênio que uma pessoa utiliza durante um minuto de exercício é consumo máximo de oxigênio, comumente chamado de VO2máx. Os volumes do VO2máx são a representação sincera da capacidade individual de abastecimento de energia para contração muscular através do metabolismo aeróbico. A ligação entre consumo de oxigênio e performance em provas de resistência é tão fundamental que há necessidade de um aprofundamento maior sobre o assunto. 4.2 CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO OU VO2MÁX O VO2máx é calculado pela medição do consumo de oxigênio durante o exer- cício, com intervalos repetidos e velocidade gradativamente maiores, até que o atleta chegue a um limite, em que mesmo aumentando a velocidade, não haverá alteração no consumo de oxigênio. Neste momento, o atleta atingiu a sua capacidade máxima de consumo de oxigênio. A situação comum, tendo uma maior dificuldade de entendimento sobre o VO2máx, é que os atletas atingem esse platô quando nadam abaixo da sua velocidade máxima, mas continuam aumentando a sua velocidade de nado, mesmo após ter atingido a sua capacidade máxima de consumo de oxigênio, tendo como explicação a sua capacidade anaeróbica, na qual seu corpo continua a fornecer energia para os músculos, mesmo com baixa quantidade de oxigênio. No entanto, essa situação não pode ter um período extenso para esse fornecimento de energia, pois agentes químicos 91 que não foram metabolizados por completos, como ácido lático e íons de hidrogênio, acumulam no músculo essas substâncias, mudando assim drasticamente o pH. Como consequência, tem-se a queda da velocidade e da foça de contração muscular, perdendo velocidade e técnica do nado. Olhando para a Figura 6, vemos um padrão específico do consumo de oxigênio no decorrer do exercício. Iniciado o exercício, o volume de oxigênio consumido aumenta durante os primeiros minutos de atividade muscular até atingir um ponto que abasteça de uma quantidade ideal para que o atleta continue com a atividade muscular. A figura também apresenta o déficit de oxigênio que ocorreu no decorrer desses minutos. A reposição do déficit de oxigênio gerada durante o exercício está evidenciada, parcialmente, pelo volume adicional de consumido após o exercício, que por enquanto, corresponderá como dívida de oxigênio. Figura 6 – Déficit e dívida de oxigênio Fonte: https://bit.ly/3TdAiam. Acesso em: 20 set. 2022. 4.2.1 Métodos de aferição do VO2máx Para uma maior assertividade nos testes de VO2máx, eles devem ser realizados conforme a sua especificidade esportiva. Assim, nadadores devem fazer esse teste dentro da água, nadando. Testes que não são específicos podem dar falsas medidas do VO2máx. A aferição desse parâmetro não é simples para os nadadores, por terem que usar aparelhos dentro da água. O nadador usa uma máscara cobrindo a boca e o nariz. Essa máscara está acoplada a uma válvula de duas vias, de maneira que o nadador inspire o ar da atmosfera e o expire para um tubo coletor. Quando aplicado em uma piscina normal, o nadador perde alguns padrões de nados, como não poder virar a cabeça, nem fazer virada olímpica, viradas simples com pouco impulso, para que não saia os tubos, nem enrole as tubulações. 92 O vídeo a seguir mostra uma aplicação de teste de VO2máx em piscina. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=5r12YWbqO2Y. DICA Todavia, um método de mais fácil aplicabilidade, em que o equipamento e o nadador fi cam parados em um aparelho, é denominado swim fl ume, o que facilita muito a coleta do oxigênio durante o nado, mas é de difícil acesso por custo elevado. Figura 7 – Défi cit e dívida de oxigênio Fonte: https://in.pinterest.com/pin/803611127231897021/. Acesso em: 20 set. 2022. Outro método bem utilizado com menos interferência de toda essa aparelhagem durante o nado, é a coleta de oxigênio logo a após o término dele. Assim, esse método não tem necessidade de máscara ou tubos. Com isso, os nadadores podem manter padrões de respiração e de viradas durante todo o nado. Logo após o término do nado, o atleta coloca uma máscara no seu rosto, prendendo a respiração. Em seguida, expira em recipiente de coleta por 20 segundos. Esse teste pode ser repetido diversas vezes com uma variedade de velocidade de nados, até que possa determinar o consumo máximo de oxigênio do atleta. O VO2máx e a intensidade do exercício estão altamente relacionados, e, assim, têm uma aplicabilidade bem maior entre professores e treinadores de natação, dando como equivalência de comparação de VO2máx e sensação subjetiva de esforço. O Quadro 2 mostra essa relação entre os parâmetros. 93 Quadro 2 – Relação de esforço com VO2MÁX Fonte: o autor Percepção subjetiva de esforço Volume de oxigênio máximo 30 a 40% 50 a 60 % 60 a 80% 70 a 90 % 80 a 90% 100% 90 a 100% 110 a 130% Apesar de uma pessoa poder aumentar o seu VO2máx através do treinamento, investigações mostram que sucessivamente estabelece limites para esse volume alcançado. No entanto, durante anos, a capacidade máxima de oxigênio foi considerada a medida mais confiável da capacidade desempenho dos atletas de resistência. Entendia-se que um atleta que pudesse fornecer mais oxigênio ao seu organismo por minuto de exercício seria apto a fornecer mais energia subsequente do metabolismo aeróbico. Assim, ficaria um período bem maior para chegar à fadiga, tendo uma menor contribuição do metabolismo anaeróbico. É realidade que o aumento do VO2máx se tem um ganho no desempenho, porém, o VO2máx não é um fator isolado, mas se tem uma variedade de fatores fisiológicos que se desenvolvem em cima do desempenho do atleta. Outros fatores estão diretamente envolvidos e serão discutidos posteriormente. 5 METABOLISMO ENERGÉTICO NA NATAÇÃO O nosso corpo, para se locomover, seja ele no meio terrestre ou no meio líquido, necessita de contrações musculares. A disponibilização de energia existente em componentes químicos no interior das células musculares é o que proporciona a contração muscular. Essa energia possibilita ao nadador a competência de nadar. Não tendo a disponibilidade dessa energia, as fibras musculares não vão contrair. O emaranhado processo de fornecimento de energia no interior das células é cha- mado de metabolismo. No decorrer dos últimos anos, as investigações científicas sobre o metabolismo energético têm sido aprofundadas e relacionadas cada vez mais com os mé- todos de treinamento. Consequentemente, todos que estão relacionados com o treinamen- to e prescrição de exercício devem entender o processo do metabolismo energético. 5.1 POTENCIAL ENERGÉTICO E SUAS FONTES Popularmente, a energia é definida como a capacidade de realizar movimento mecânico ou biomecânico. Existem muitos tipos de energias distintas no universo. As fundamentais são a energia mecânica, a energia térmica, a energia radiante, a energia luminosa e a energia química. Como nada se perde, tudo se transforma, como é 94 conceituado para primeira lei da termodinâmica, isso também acontece com a energia, quando necessário a energia é transformada em outra forma de energia (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). A maior fonte de energia do nosso planeta é o Sol, que irradia sua energia para a Terra. No momento que essa energia chega até as plantas, para elas é atribuída e, logo após, armazenada como energia química por intermédio da fotossíntese. No momento em que comemos os vegetais ou animais que já comeram esses vegetais, retemos a energia no nosso corpo, estocando-a para uso futuro. Por tanto, animais e vegetais estocam energia em forma de carboidratos, gordura, proteínas e diversas substância químicas.A energia tem forte potencial para vários mecanismos fisiológicos ao se desligarem desses agentes químicos e são transformadas em outras formas. No organismo, acontece a transformação da energia química em energia elétrica para a transmissão de impulsos nervosos, acontecendo com que essa energia se transforma novamente em energia mecânica para que aconteça a contração muscular. A intensidade e volume de nado estão intimamente ligados à capacidade desse atleta liberar energia química e transformá-la em energia mecânica para realização de trabalho. Levando em conta que a velocidade e o ritmo dos nadadores dependem intimamente da disponibilidade de energia, a função do treinamento será a disponibilização de mais energia química às células musculares em um tempo menor e a reposição desses agentes químicos em uma maior velocidade. O treinamento é capaz de proporcionar isso por meio de um processo chamado adaptação. No momento em que os nadadores utilizam continuamente um grande volume de energia em altas intensidades no decorrer do treinamento, seus organismos estocam mais substâncias que contêm energia e a liberam mais rápido, quando há necessidade durante o esforço. Assim, o nosso organismo aprende a restituir a energia mais rapidamente, após o uso. Ou, melhor dizendo, os mecanismos fisiológicos sofrem adaptações com o treinamento para atender à demanda energética durante o esforço de maneira ideal. 5.2.1 Adenosina trifosfato O ATP equivale a uma molécula de proteína, denominada de adenosina, e três moléculas de fosfato. As ligações entre as moléculas de ATP são fontes de energia química a disposição para uso do organismo. 5.2 ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO CORPO O armazenamento de energia nos nossos corpos acontece com associação dos seguintes agentes químicos: adenosina trifosfato (ATP), fosfato de creatina (CP), carboidratos, gorduras e proteínas. Uma junção de moléculas compõe todas essas substâncias químicas. 95 Figura 8 – Estrutura química adenosina trifosfato Fonte: o autor As enzimas são pequenas proteínas com papel essencial no organismo. Cada enzi- ma está associada ao seu processo bioquímico que acontece no corpo. As enzimas acele- ram essas respostas químicas, sem serem modificadas ou consumidas durante o processo. O ATP não pode ser conduzido de outro lugar do organismo para as fibras musculares em atividade. Consequentemente, quando a quantidade de ATP nas fibras musculares declina na quantidade de energia e fosfato, é necessário que outras formas de energia no interior das células musculares reponha o ATP o mais rápido possível, ou a contração não será mais possível. A quantidade de ATP muscular é muito pequena, que podem sofrer depleção já nos primeiros segundos de esforço se essa substância não for reposta rapidamente. Todavia, a ressíntese de ADP para ATP tem dependência de outras formas de energia, para que posam doar o fosfato e energia, são eles: fosfato de creatina (CP), carboidratos, gordura e proteínas. 5.2.2 Fosfato de creatina A CP é a mais rápida fonte de energia e de fosfato para ressíntese do ATP. Olhando para o seu nome, já identificamos que a CP é formada por uma molécula de creatina e por um fosfato. A energia liga uma molécula a outra. A enzima creatina quinase (CK) quebra a molécula de CP, gerando energia. Logo após, a energia e o fosfato se ligam ao ADP para ressíntese do ATP. Todo o processo da ressíntese de do ATP por meio CP só depende de apenas duas etapas: a quebra do CP e a combinação de seu fosfato e energia com o ADP. Figura 10 – Estrutura química do fosfato de creatina Fonte: o autor 96 Figura 11 – Ressíntese de ATP por meio da quebra do fosfato de creatina Fonte: o autor Essas duas etapas podem ocorrer com tanta velocidade, que não haverá demora na liberação de energia do ATP. No entanto, os nadadores podem manter pelo curto período de tempo, enquanto houver CP no músculo, para que tenha restauração do ATP, relembrando que a as fibras de tipo 2 tem uma maior quantidade de CP do que as do tipo 1. 5.2.3 Glicose A glicose é proveniente da maioria de alimentos que comemos, e fornecem energia para o nosso organismo, funções cerebrais e até mesmo se exercitar. É o açúcar simples usado fundamentalmente para a ressíntese do ATP. A glicose, estando no organismo, pode ser usada rapidamente para aquisição de energia ou guardada no músculo ou no fígado para ser usada futuramente. A glicose guardada no músculo é chamada de glicogênio muscular, que formado por uma cadeia de moléculas de glicose, é essencial fonte de energia e de fosfato para a ressíntese de ATP na maioria das competições de natação, tendo ela disponível nas fibras musculares e não exige tempo de transporte pelo sangue. O fígado e o sangue têm estoques de glicose que podem ser movidas e transferidas até as fibras musculares quando estas necessitem de energia. No entanto, tanto o glicogênio hepático, que é a glicose do fígado, como a glicose sanguínea, podem fornecer quantidades limitadas de energia durante as provas de natação. 5.2.4 Gordura As gorduras são fontes de energia importantes para ressíntese de ATP durante a natação. Uma maior quantidade de ATP pode ser restituída com a gordura do que a glicose, uma molécula de gordura pode ressintetizar quase 13 vezes mais do que uma molécula 97 de glicose. Todavia, o processo de metabolização da gordura é integralmente aeróbico, ou seja, isso significa que a energia tem que ser liberada lentamente. Em consequência, praticamente, nenhum nadador usa energia do metabolismo da gordura durante as provas. 5.2.5 Proteínas As proteínas são elementos estruturais base do nosso organismo e estão intimamente envolvidos no reparo tecidual do nosso organismo. Inclusive, o nosso próprio músculo estriado esquelético é constituído de proteína, até mesmo componentes envolvidos no processo de metabolismo aeróbico, como as mitocôndrias, hemoglobinas e mioglobinas. As enzimas que aceleram processos metabólicos têm uma base proteica, não sendo diferente para os hormônios. As proteínas também têm papel fundamental no equilíbrio de alcalinidade e acidez dos fluidos corporais durante o nado. É coerente que os nadadores mantenham um estoque adequado de glicose e glicogênio muscular durante as provas e treinamento, para que não utilize em excesso as proteínas como fonte de energia. Caso, eventualmente, isso aconteça, seus músculos podem perder parte da sua estrutura proteica, assim, sua força e resistência diminuem. 5.3 SISTEMAS BIOQUÍMICOS DO METABOLISMO ENERGÉTICO Os principais sistemas do metabolismo energético para ressíntese de ATP no nosso organismo são: sistema ATP-CP, sistema anaeróbico e sistema aeróbico. Dois desses sistemas são anaeróbicos, pois não há necessidade de que o oxigênio esteja presente durante esse metabolismo, mas um produz ácido lático e outro não. O terceiro necessita de oxigênio e é chamado de metabolismo aeróbio. Cada um desses ciclos ressintetiza ATP em uma velocidade diferente. Esta velocidade de ressíntese pode ser determinada em parte pela quantidade de etapas que esse processo leva para restaurar o ATP. A sequência de velocidade de ressíntese é essa: primeiro, lugar ATP-CP, logo em seguida, a glicose anaeróbica, e o mais lento de todos, o metabolismo anaeróbico. 5.3.1 Sistema imediato ou ATP-CP O Sistema ATP-CP é o mais rápido, pois ele está disponível para ressintetizar o ATP no momento do uso, pela quebra do fosfato de creatina. No momento em que um impulso nervoso estimula a fibra muscular a se contrair, sucede combinações dos filamentos grossos e finos: actina e miosina. Esses filamentos ativam a enzima ATPase, fazendo com que o ATP perca o fosfato e libere a energia e transforme em energia mecânica, utilizando para contração muscular. Esse processo é muito veloz. As fibras musculares se contraem muito rápido com a maior força possível. 98 O vídeo, a seguir, apresenta a explicação do funcionamento do sistema imediato ATP-CP.Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=BhJtogLY0e4 DICA 5.3.2 Sistema anaeróbico ou glicolítico Cerca de cinco segundos após o começo de uma atividade muscular, o glicogênio passa a ser a principal fonte de energia para ressíntese de ATP. Um conjunto de enzimas catalisa a glicose e controla sua velocidade. O treinamento de alta velocidade pode otimizar a atividade enzimática, para que essa reação possa ser mais rápida. O processo se inicia com a conversão de glicogênio em glicose, em que se tem um procedimento por enzimas catalizadoras fosforilase. Após esta etapa inicial, o metabolismo da glicose passa por 10 reações bioquímicas, chegando até o ácido pirúvico. Nesta etapa, pode ser transformado em acetil-CoA e seguir para o metabolismo aeróbico ou ácido lático e depois lactato, mandando para corrente sanguínea. O sistema anaeróbico tem um saldo positivo de produção de 2 ATPs. Produzimos 4, mas são utilizados 2 ATPs para o metabolismo da glicose. O vídeo a seguir demonstra a sequência do sistema glicolítico, de maneira simples. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=uCmNQQWlrc0. DICA 99 Figura 12 – Metabolismo anaeróbico (glicólise anaeróbica) Fonte: o autor 5.3.3 Sistema aeróbico No momento em que os produtos fi nais da glicólise anaeróbica entram na fase aeróbica, quando podem ser metabolizados para obtenção de energia para reposição de ATP, é necessária a presença de oxigênio. Os íons de hidrogênio fornecem energia quando prosseguem para cadeia de transporte de elétrons. Já o piruvato pode fornecer fosfato ao ser metabolizado pelo ciclo de Krebs. O sistema aeróbico é mais efi ciente para ressíntese de ATP porque não promove produto algum para causa da fadiga. Além do mais, a porção de reciclagem de ATP é bem maior do que no metabolismo anaeróbico. A maior desvantagem do sistema aeróbico é que o decorrer do processo é muito mais longo do que o sistema anaeróbico e por isso é mais lento. O sistema aeróbico corresponde a dois processos: cadeia de transporte de elétrons e ciclo de Krebs. Os íons de hidrogênio e seus elétrons são metabolizados até a água na cadeia de transporte de elétrons, e, no ciclo de Krebs, o piruvato é metabolizado até dióxido de carbono. Ambos os processos liberam um grande volume de energia e fosfato para ressíntese de ATP. Os vídeos a seguir demostram o ciclo de Krebs e a cadeia de elétrons de uma forma bem simples de compreender. Acesse: https://bit.ly/3D06t83 e https://bit.ly/3evBB5E. DICA 100 Figura 13 – Ciclo de Krebs e a cadeia de transporte de elétrons Fonte: https://bit.ly/3esDOit. Acesso em: 20 set. 2022. Todos os nadadores de elite têm uma capacidade maior de metabolizar piruvato íons de hidrogênio, tendo como parâmetro a determinação da capacidade máxima de oxigênio (VO2máx). Eles têm melhora significativa no tempo de nado sem sofrer acidose, maior eficiência nas braçadas e pernadas, reduzindo, assim, o custo energético do nado. É de suma importância sabermos todos os sistemas energéticos e a interação com eles, como também o sistema muscular, sistema circulatório e sistema respiratório, olhando para um conjunto que forma o todo, nosso aluno, atleta e nadador. 101 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Acerca do sistema muscular, vendo as caraterísticas do músculo estriado esquelético, conhecendo particularidades de diferentes tipos de fibras musculares. • A importância do sistema circulatório, olhando o seu papel de transporte de oxigênio e também de remoção de dióxido de carbono no corpo humano. • Como o sistema circulatório funciona e a importância da captação de oxigênio em parâmetros para o desempenho. • Os sistemas metabólicos e suas predominâncias, conhecendo a moeda energética usada no nosso corpo e como é essa interação com o sistema metabólico. 102 AUTOATIVIDADE 1 Com base no que estudamos até o momento, podemos dizer que o nosso organismo trabalha integrado com vários sistemas. O oxigênio é fonte de vida, e sem ele não podemos viver. No desempenho, ele tem um potencial muito importante, principalmente o volume máximo de oxigênio (VO2máx). Sobre como pode ser definido o volume máximo de oxigênio, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A maior quantidade de oxigênio obtida durante o esforço. b) ( ) A menor quantidade de oxigênio obtida durante o esforço. c) ( ) A maior quantidade de oxigênio obtida durante o repouso. d) ( ) A menor quantidade de exercício obtida durante o repouso. 2 O sistema circulatório faz todo o sistema de transporte de nutrientes para o nosso corpo, além de levar o oxigênio para as células, pelas artérias e veias. Sobre esses vasos sanguíneos, quais principais funções das arteiras e veias? a) ( ) As artérias transportam nutrientes e dióxido de carbono e as veias transportam oxigênio. b) ( ) As artérias e veias não fazem transporte. c) ( ) As artérias transportam oxigênio e nutrientes bombeados pela banda esquerda do coração e as veias, na maioria das vezes, transportam dióxido de carbono e outros subprodutos. d) ( ) As artérias e veias transportam dióxido de carbono o tempo todo. 3 O músculo estriado esquelético possui dois tipos de fibras musculares. As fibras tipo 1 e tipo 2. Ambas têm características bem peculiares. Quais são elas? a) ( ) As fibras do tipo 2 tem uma coloração mais a vermelhada e uma contração mais lenta, já as fibras do tipo 1 tem uma coloração mais branca e uma contração mais rápida. b) ( ) As fibras do tipo 1 tem uma coloração mais a vermelhada e uma contração mais lenta, já as fibras do tipo 2 tem uma coloração mais branca e uma contração mais rápida. c) ( ) As fibras do tipo 1 tem uma coloração mais branca e uma contração mais lenta, já as fibras do tipo 2 tem uma coloração mais avermelhada e uma contração mais rápida. d) ( ) As fibras do tipo 1 tem uma coloração mais a vermelhada e uma contração mais rápida, já as fibras do tipo 2 tem uma coloração mais branca e uma contração mais lenta. 103 4 O armazenamento de energia nos nossos corpos é composto por diversos agentes químicos, como: adenosina trifosfato (ATP), fosfato de creatina (CP), carboidratos, gorduras e proteínas. Disserte um pouco sobre esses compostos. 5 O metabolismo energético é responsável pela ressíntese de ATP no nosso organismo, e é dividido em três: sistema ATP-CP, sistema anaeróbico e sistema aeróbico. Sobre esses sistemas e o que já foi abordado até agora, disserte sobre eles. 104 105 TÓPICO 3 - PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO, AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DO TREINAMENTO DA NATAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos os princípios de treinamento, mostrando cada um conforme a sua interação com sistemas fisiológicos e energéticos do nosso or- ganismo, ou seja, tudo que vimos no Tópico 2 vamos utilizar para aplicação do treinamento. Veremos como avaliação do nadador é importante para se ter uma maior assertividade do treino prescrito, avaliando parâmetros fisiológicos, morfológicos e psicofisiológicos antecipadamente, para que não se tenha nenhum desvio inadequado durante a prescrição do treinamento. Aprenderemos formas de monitorar o treinamento com a intenção de sabermos onde estamos com nosso atleta e onde podemos chegar. Da mesma maneira, analisaremos parâmetros fisiológicos, morfológicos e psicofisiológicos. Verificaremos também o planejamento dos nadadores, associando aos seus objetivos, sejam eles apenas de nadar melhor ou de competir em diversas provas, sempre ponderando a questão do supertreinamento, conhecido como overtraining e overreaching. UNIDADE 2 2 PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO Olhando para o treinamento, nuca devemos pensar em um método isolado, pois estamos de um organismo multifatorial, com diversos sistemas funcionado simultanea- mente, para que esse todo aconteça. No entanto, para que um programa de treinamen- to seja satisfatório, devem respeitar estes princípios: adaptação; sobrecarga; progres- são; especificidade; reversibilidade.2.1 PRINCÍPIO DA ADAPTAÇÃO O objetivo dos programas de treinamento é proporcionar mudanças fisiológicas, metabólicas e psicológicas que concedam aos nadadores uma melhora no desempenho do seu nado, ou seja, adaptação são as mudanças que acontecem como resposta ao programa de treinamento. 106 As adaptações ao decorrer do treinamento podem ser separadas em duas partes, entre agudas e crônicas, ou seja, as agudas podem acontecer durante ou logo após o exercício, mas as adaptações crônicas levam um tempo para ser vistas, em uma amplitude maior de adaptação. Algumas mudanças fisiológicas e enzimáticas podem levar anos para acontecer na sua totalidade. Dentro do processo de adaptação a uma sequência mínima de pelo menos três estágios: gerar a demanda específica de adaptação com o programa de treinamento; possibilitar nutrientes para o desenvolvimento de reparo dos tecidos; possibilitar repouso necessário para que ocorra desenvolvimento e reparo dos tecidos. 2.2 PRINCÍPIO DA SOBRECARGA A essência do princípio da sobrecarga é que as demandas de treinamento estejam acima dos habituais, recrutando dos sistemas fisiológicos, seja ele circulatório, respiratório ou muscular, no intuito de haver uma melhora do organismo como um todo, para que da próxima vez possa suportar a sobrecarga. Quando há um aumento desproporcional sobre o organismo, podemos ter problemas em determinados sistemas e sobrecarregando. Apesar da descrição simples, o princípio da sobrecarga é complexo em sua aplicabilidade, pois da mesma maneira que a demanda de treinamento pode estimular a melhora do desempenho com adaptações benéficas, estas não devem ser excedentes, ou a dose de treinamento pode levar a lesões ou perda do objetivo. 2.3 PRINCÍPIO DA PROGRESSÃO O princípio da progressão é dependente dos princípios vistos até aqui, ou seja, sem aumento na sobrecarga e sem adaptações, não haverá progressão. Tendo visto que os nadadores não podem nadar na mesma velocidade ao longo do tempo, achando que suas capacidades fisiologias e metabólicas devam melhorar, ou seja, para que haja melhora no desempenho, é necessário um aumento progressivo da sobrecarga do treinamento no decorrer das temporadas, para que possa estimular futuras melhoras. 2.4 PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE No princípio da especificidade, olhamos para a necessidade da modalidade e do atleta, ou seja, se a natação é um esporte realizado dentro da água, devemos dar uma ênfase maior para exercícios executados dentro da água. Olhando para o nadador, vemos que em determinada prova ele precisa de uma maior quantidade de força em um determinado grupo muscular, assim, vamos trabalhar com esse nadador esse grupo muscular em específico. 107 Devemos considerar pelo menos quatro caraterísticas da especificidade, durante um programa de treinamento para nadadores: atividade para qual o nadador está treinado; qual nado será desenvolvido na competição; a intensidade da competição; os sistemas metabólicos que serão utilizados predominantemente. Tendo olhado para o princípio da especificidade no nadador, devemos priorizar movimentos, grupos musculares, sistemas fisiológicos e metabólicos que são utilizados na natação. 2.5 PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE Este princípio é bem óbvio, ou seja, ninguém é igual e nem está na mesma condição que minguem o princípio da individualidade, parte de que pessoas respondam diferentes ao mesmo programa de treinamento. Olhado para dois fatores importantes como: o estado atual de condicionamento do nadador e sua individualidade biológica. Com relação ao nível de condicionamento, sabemos que atletas melhoram rapidamente se forem iniciantes, porém, não podemos compará-los com atletas mais experientes em questão de técnica e conhecimento das provas e em questões psicológicas. Acerca da individualidade biológica, todos somos diferentes em questões fisiológicas e morfológicas. Se um atleta tem uma quantidade maior de fibras musculares do tipo 2, ele responderá mais favoravelmente ao treinamento de força, velocidade e potência, e em capacidade aeróbica não terá um desempenho favorável. Por outro lado, atletas com uma maior quantidade de fibras do tipo 1 responderam favoravelmente aos treinamentos de resistência, mas com muita dificuldade em treinamentos de força, velocidade e potência. Temos respostas diferentes ao treinamento em questão de idade e sexo, comumente a razão para isso, que esse público tem uma menor quantidade de tecido muscular com o qual os sistemas têm que responder. 2.6 PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE Da mesma maneira que o treinamento bem desenvolvido oferece adaptações que melhoram o desempenho dos nadadores, a ausência de treinamento leva à perda dessas adaptações, causado a reversibilidade delas. A queda no desempenho começa a aparecer entre as duas primeiras semanas sem treinamento. O declínio pode ser um pouco aliviado se o treinamento não tiver parada total, porém, ainda se tem perda de rendimento. Reduções de intensidade no treinamento virão acarretar um declínio rápido das adaptações. Com a pausa do treinamento, vários fatores fisiológicos têm perda em seu padrão, como: queda de atividade de enzimas aeróbicas; perda de glicogênio muscular; redução do volume sistólico e débito cardíaco; declínio no VO2máx; diminuição do número de mitocôndrias. 108 3 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE NADADORES Para uma prescrição mais assertiva de um programa de treinamento para nadadores ou qualquer outra modalidade, é necessária avaliação e monitoramento de parâmetros fisiológicos. Para que tenhamos conhecimento sobre o nosso atle- ta (aluno), ou seja, antes de começar qualquer programa de treinamento devemos avaliar, para sabermos o ponto de partida, e durante o processo devemos monitorar, para sabermos se o efeito dose-resposta está acontecendo nos níveis esperados e sempre reavaliar. Na atualidade, os testes sanguíneos são os métodos mais asserti- vos, para avaliar e monitorar o treinamento. No entanto, é um teste de difícil acesso, pois dependem, de aparelhos e experiência de aplicabilidade. Por essa consequ- ência, é necessário o uso de testes de avaliação e monitoramento indiretos e não invasivos do treinamento. Por isso, temos alternativas de testes que envolvem séries de nado, frequência cardíaca e percepção subjetiva de esforço (PSE). 3.1 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE PARÂMETROS SANGUÍNEOS Os testes sanguíneos são fundamentais para identificação dos limiares aeróbicos e anaeróbico. A maioria dos testes relacionam a velocidade do nado com o lactato sanguíneo. Ao decorrer de uma série de repetições em velocidade, a coleta de sangue e feita do lóbulo da orelha ou da ponta do dedo, após o nado, que é inserido em um aparelho que mede o volume de ácido lático sanguíneo. Os testes devem ser repetidos de períodos em períodos para que haja uma comparação com resultados anteriores, avaliando mudanças no metabolismo aeróbico e anaeróbico. 3.2 MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO COM RELÓGIO Os testes não invasivos com cronômetro ou relógio, é simplesmente um dos melhores, pois o seu custo-benefício, é muito viável para professores e treinadores. Temos alguns testes bem utilizados, que são: T-3.000; T-2.000; T-1.000; séries de repetições padronizadas; velocidade crítica. O T-3.000 pode ser realizado de duas formas. Na primeira maneira, pode-se nadar 30 minutos e marcar a distância nadada nesse tempo; a segunda forma é nadar 3000 metros e anotar o tempo levado para nadar essa distância. Em ambas as formas, o ritmo de nado tem que ser bem próximo do máximo suportado para quantidade de tempo e de distância. Os testes T-2.000 e T-1.000 são uma adaptação do T-3.000. 109 Examinado agora para o lado mais anaeróbio, temos o teste de velocidade crítica, em que podemos marcar o tempo em uma distância determinada, nadando o mais rápido possível. Já foram usadas diversas distâncias, como 50, 100, 200 e 400 metros. Já o teste de séries padronizadastem como intuito que o nadador faça séries longas com um curto período de descanso entre elas. 3.3 MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO COM A FREQUÊNCIA CARDÍACA A aferição da frequência cardíaca é amplamente usada pelos professores e treinadores para monitoração de intensidade do treinamento e avaliação das mudanças no condicionamento físico. As frequências cardíacas podem ser aferidas facilmente, com contagem relativamente simples. As quaro frequências cardíacas aferidas para o treinamento são: frequência cárdica de repouso, que tem que ser aferida antes do esforço físico; frequência cardíaca máxima, que tem que ser aferida no seu esforço máximo; frequência cardíaca submáxima, em que é aferida próximo ao esforço máximo; e frequência cárdica de recuperação que é aferida logo após o esforço. 3.4 MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO COM PERCEPÇÃO SUBJETIVAS DE ESFORÇO A percepção subjetiva de esforço (PSA) é a maneira mais simples de monitorar o esforço durante o treinamento. Com esse método os nadadores avaliam o seu esforço utilizado para desenvolver o treinamento. A escala de Borg é de fácil uso para prescrição de intensidades de treinamento, dependendo apenas de um conhecimento prévio da escala. Ela vai de 6 a 20, tendo como mais próximo de 6 as intensidades leves e mais próximos de 20 as intensidades mais vigorosas. Quadro 4 – Escala de Borg Pontuação Esforço percebido 6 Nenhum esforço 7 Extremamente leve 8 Muito leve 9 Muito leve 10 11 Leve 12 Leve a moderado 13 Moderado 14 110 15 Moderado a vigoroso 16 17 Vigoroso 18 19 Extremamente vigoroso 29 Esforço máximo Fonte: o autor 4 PLANEJAMENTO DE TREINAMENTO PARA NADADORES Para que o seu aluno ou atleta atinja o seu objetivo dentro de uma competição, é de extrema importância que haja um planejamento assertivo, o que pode ocorrer ao longo de muito tempo. Evidentemente, esse grande planejamento deve ser fracionado em pequenas programações, para que se tenha um controle melhor do todo. Esse planejamento é comumente chamado de periodização. Temos uma variedade de periodizações, porém, as mais comumente vistas e conhecidas são a linear, que tem uma progressão de volume e intensidade durante a periodização, e a ondulatória, que consiste em variação entre volume e intensidade durante a periodização. No entanto, o nosso objetivo, é que haja conhecimento dos ciclos, e, conhecendo, essas categorias de ciclos, o profissional possa aplicar em qualquer periodização. Os ciclos são popularmente chamados de macrociclos, mesociclos e microciclos. 4.1 MACROCICLOS, MESOCICLOS, MICROCICLOS E COMPONENTES TREINÁVEIS Os macrociclos são os períodos maiores dentro dos ciclos. É planejado o desenvolvimento de aspectos fisiológicos específicos, como capacidade aeróbica e anaeróbica, resistência muscular, força e potência. Pode ser planejado de acordo com competições e temporadas. Os mesociclos são fases menores dentro do macrociclos, em que ocorrem progressão nas variáveis de treinamento, tanto no volume, quanto na intensidade. Os microciclos são planejamentos semanais de treinamento inseridos no mesociclos, em que são trabalhados componentes treináveis em cada dia de treino. 111 Fonte: o autor Quadro 5 – Componentes treináveis Fonte: o autor Figura 14 – Macrociclo, mesociclo e microciclo Os componentes treináveis que devem compor todo o planejamento dentro do macrociclo, mesociclo e microciclo, são: componentes metabólicos do treinamento; melhora da técnica dos nados; frequência e comprimento de braçadas; capacidades musculares; nutrição adequada. Componentes treináveis que devem fazer parte de todos os planejamentos Capacidade aeróbica Potência anaeróbica Resistencia aeróbica e anaeróbica Mecânica do nado Frequência e comprimento de braçadas com parâmetros ideais Treinamento de foça e potência no solo Treinamento de flexibilidade Treinamento de potência na água Saídas e viradas Ritmo e estratégias Preparação psicológica Nutrição Controle do tempo Na maioria das preparações para uma temporada, o planejamento é separado em quaro partes: preparação geral, preparação específica, preparação para prova e período de descanso. O principal objetivo da preparação geral é preparar o corpo do atleta para a carga de treinamento que ele vai receber logo mais. Os objetivos da preparação 112 específi ca são: o aprimoramento da resistência básica, resistência muscular anaeróbica e anaeróbica, potência muscular e velocidade. O objetivo da preparação para as provas é deixar os atletas no seu melhor desempenho para competir. No período de descanso, se tem menos tempo de treinamento, mas mantem-se um nível razoável de aptidão física. 5 OVERTRAINING E OVERREACHING O overtraining ou supertreinamento é uma condição que surge quando os atletas apresentam um desempenho menor do que o satisfatório por motivos do treinamento. O overtraining está associado a mudanças do sistema neuromuscular, sistema endócrino e imunológico que limitam a resistência do treinamento no nadador. Os principais fatores que podem levar a um overtraining, são: má alimentação; falta de sono; recuperação inadequada; demanda emocional; enfermidades. Overreaching é uma condição que antecede o overtraining, ou seja, é uma condição aguda, em que a perda desempenho pode ser percebida logo após um treino muito intenso, ou um período de descanso não tão proveitoso. A possibilidade do overreaching deve ser moderada, pois se o atleta fi car muito tempo nessa condição, ele pode desenvolver uma condição crônica chegando até o overtraining. Em nadadores, overtraining pode ser causado por: períodos de treinamento intenso e volumoso, que não tenha um balanceamento correto com períodos de baixas cargas de treinamento e treinamento recuperativo; aumento de volumoso de estres, com redução de tolerância do atleta ao treinamento, até um período de desadaptação; e treinamento intenso com recuperação inadequada. O vídeo a seguir mostra uma diversifi cação do treinamento e das periodizações aplicados a diversas faixas etárias. Acesse: https://bit.ly/3T3NTBr DICA 113 EFEITOS DO TREINAMENTO DE FORÇA NO DESEMPENHO DE PRATICANTES DE NATAÇÃO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DESCRITIVA Alcides Pereira de Brito Francisco Jeci de Holanda INTRODUÇÃO A natação é amplamente prática da em todo o mundo por pessoas de todas as idades e essa prática pode ser tanto recreativa, para melhora da saúde, quanto competitiva de alta performance (SADOWSKIS et al., 2012). O desempenho na natação é influenciado por uma relação complexa de parâmetros morfológicos, metabólicos, neuromusculares e biomecânicos (WALKER, 2000). Em todo esporte ou exercício físico, tem-se a necessidade de um planejamento, também conhecido como periodização. Dentre os trabalhos sobre periodização, os modelos mais analisados são os tradicionais ou lineares e o de periodização ondulatória ou não linear (OLIVEIRA; SEQUEIROS; DANTAS, 2005). A periodização linear é apresentada pela contínua adição da carga e simultânea redução do volume de treinamento, estendendo-se durante os ciclos de treinamento. A ondulatória tem a presença de alterações com muita frequência no volume e intensidade dos treinamentos, tanto em mesociclos quanto em microciclos ou até mesmo com alterações na sessão de treinamento (PIRES; PIRES; FIGUEIRA JUNIOR, 2017). Dentro de todo esse planejamento da periodização, é inserido o treinamento de força (TF) que é de suma importância para o desempenho do esporte, inclusive a natação, pois o corpo humano usufrui da força produzida por contrações musculares para movimentar-se na água (HARTMANN et al., 2017). Essa força é aplicada na direção que se quer deslocar, gerando movimentos natatórios, os quais utilizam diversos grupos musculares dos membros superiores e inferiores (SUZUKI; VIEIRA, 2019). O TF tem sido considerado um dos fatores importantes para melhora do desempenho físico, mostrando que a potênciamuscular é crucial no desenvolvimento de nadadores. Há uma transferência significativa que ocorre quando o treinamento de força aumenta a ativação muscular para movimentos desenvolvidos na execução dos nados (CARROLL; RIEK; CARSON, 2001), portanto, a inserção do TF específico do esporte dentro da periodização do nadador é primordial. É indispensável atentar-se ao fato de que todas as adaptações de treinamento são específicas para o estímulo aplicado LEITURA COMPLEMENTAR 114 – ou chamado de dose resposta – e essas adaptações são estabelecidas por vários componentes, tais como o grupo muscular estimulado, a velocidade do movimento ou a amplitude do movimento (ACSM, 2009). Na natação, a força muscular gerada para propulsão de movimentos natatórios é, em maior parte, produzida pelos membros superiores, tendo cerca de 75% da energia para produção de força, enquanto os membros inferiores contribuem apenas com uma pequena parte, com forças para movimentos natatórios (SANTOS et al., 2012). No entanto, um dos assuntos mais questionáveis na prática do TF para nadadores são as influências desse método de treinamento, sua transferência no desempenho e se realmente ele é eficaz para o nadador (MUNIZ-PARDOS et al., 2019). A melhora da força para o desempenho de nadadores é indispensável, pois adaptações neuromusculares e morfológicas ocasionam uma melhora significativa da performance do nado, por isso a importância do TF em indivíduos praticantes de natação. Os principais ganhos dos mecanismos fisiológicos com TF são evidentes nas adaptações neurais com o aumento da capacidade de recrutamento das unidades motoras. Nas morfológicas, nota-se um aumento da secção transversa do músculo ou aumento da estrutura muscular nas fibras do tipo 2 (hipertrofia) (MUNIZ-PARDOS et al., 2020). Observando-se as poucas evidências do treinamento de força aplicado a nadadores, o presente estudo tem como objetivo analisar a literatura na busca por evidências quanto à eficácia do TF na natação. RESULTADOS E DISCUSSÕES O desempenho na natação depende de uma série de fatores, incluindo, entre outros, o desenvolvimento de grupos musculares relevantes. O estudo de Gola et al. (2014) teve como objetivo esclarecer a relação entre força muscular e velocidade de nado e a função dos grupos musculares no nado crawl. Os resultados indicaram a necessidade de TF desses músculos, identificados como tendo uma relação estatisticamente significativa com velocidade de natação para uma determinada distância, além disso, mostraram deficiências na força de outro grupo de músculos responsáveis por gerar força propulsora. O aumento do desempenho de praticantes de natação envolve alinhamento biomecânico do corpo no meio líquido, habilidade técnica, biótipo dos atletas e a capacidade de desenvolver força propulsiva. O estudo de Santos et al. (2012) teve como objetivo analisar as relações entre força propulsiva durante a natação e a secção transversa do músculo do braço, além disso, propôs uma equação para estimativa da força propulsiva em jovens nadadores por meio da medição da área muscular do braço. Participaram 28 nadadores do sexo masculino, nos quais a área muscular do braço foi aferida por antropometria e medidas de dobras cutâneas, e a força propulsiva do braço foi avaliada pelo teste de nado amarrado. O trabalho conclui-o que existe uma relação entre os níveis de força 115 propulsiva e massa muscular, no entanto, essa relação fica mais evidente quanto mais longa for a área muscular do braço, o que permite o seguimento de uma equação para estimar a força propulsiva. Força máxima e força explosiva são fatores fundamentais que podem determinar o desempenho dos nadadores, juntamente com melhora das saídas e viradas do nado, podendo alterar diretamente o desempenho geral do nadador. A força máxima dos membros superiores e inferiores e altura de salto foram fortemente associadas ao desempenho da velocidade na natação (KEINERK et al., 2019). Portanto, o agachamento e o supino devem ser incluídos nos testes de força e os nadadores devem incorporar a força da parte inferior e da parte superior do corpo e incrementar o treinamento de potência em sua periodização. O TF é utilizado há bastante tempo nos esportes, dentro da natação não seria diferente, com objetivos específicos de proporcionar melhora de propulsão nos nados, melhora das viradas e das saídas. O estudo de Cuenca-Fernández, López-Contreras e Arellano (2015) compara os efeitos de dois protocolos de potenciação pós-ativação no desempenho de saída na natação. Nessa pesquisa, 14 nadadores treinados, sendo 10 homens e 4 mulheres, ofereceram-se para o estudo e foram avaliados com medições repetitivas aleatórias. Ademais, foi aplicado um teste de saída anterior, após um aquecimento padrão, e dois métodos de potenciação pós-ativação foram aleatoriamente adicionados ao aquecimento padrão: no grupo 1, três repetições de afundo a 85% de uma repetição máxima e, no grupo 2, quatro repetições no dispositivo de volante Agachamento YoYo. Os nadadores foram testados nas saídas na natação oito minutos após os aquecimentos de potenciação pós-ativação. Os dados obtidos da análise de vídeo mostram que a velocidade horizontal média do voo do nadador melhorou após ambos os métodos, com uma performance maior para o grupo que fez o agachamento YoYo, o qual levou menos tempo para cobrir uma área de 5 e 15 m, alcançando maior velocidade angular média da extensão dos joelhos e redução do tempo no bloco. Os resultados mostraram que o desempenho dos grupos musculares na execução de uma saída na natação foi otimizado após um aquecimento específico de TF. Outros estudos examinaram a potência pós-ativação sobre provas de curta distância do estilo livre em atletas de natação, os quais apresentaram resultados significativos com o aquecimento, estimulando a força, o que pode ser uma ferramenta valiosa para melhorar o desempenho em eventos de sprint, especialmente em nadadores do sexo masculino (MCGOWAN et al., 2016; SARRAMIAN; TURNER; GREENHALGH, 2015). Analisando o TF para membros inferiores e o seu desempenho em nadadores, o trabalho de Ramos et al. (2015) examinou a correlação de diferentes testes de força e potência em terra firme com o desempenho da saída na natação. Nesse estudo, nadadores internacionais executaram saídas do estilo livre e também realizaram agachamentos, saltos e saltos com agachamento com aumento de intensidade progressiva, contrações voluntarias isométricas de flexão e extensão de joelhos e quadris. Foram encontradas correlações significativas entre os parâmetros do agachamento e dos saltos com 116 tempos de 5 e 10 m da natação, e nenhum com as variáveis isométricas. O pico de velocidade atingido durante os saltos com cargas externas em relação ao peso corporal foi considerado um bom indicador de desempenho na largada de natação. Embora o TF seja uma prática usual no cotidiano da natação, existem inúmeras dúvidas sobre os seus efeitos no desempenho de nadadores de várias faixas etárias. O trabalho de Amaro et al. (2016) investigou TF em terra firme no desempenho de nadadores do sexo masculino com idade de 12 a 60 anos, os quais foram aleatoriamente divididos em três grupos: o primeiro foi o grupo controle, que apenas nadou; o segundo realizou exercícios seguindo uma série e metodologia de repetições sem restrições sobre o tempo de execução; e o terceiro grupo seguiu uma metodologia explosiva, na qual os sujeitos tiveram que realizar quantas repetições pudessem em um determinado tempo. Os grupos 2 e 3 executaram uma sequência de 5 exercícios diferentes: lançamento de medicine ball, salto de contra movimento, halteres flys, toque russo e flexões. Ambos tiveram melhora, só que o terceiro grupo teve uma melhora maior na performance do nado. No entanto, em todas as idades, houve melhora significativa com TF para o desempenho na natação. Ocasionalmente, em nadadores, a quantidade de repetiçõesde braçadas e força gerada da parte superior do corpo é grande, o que torna o ombro vulnerável a lesões, le- vando, assim, a uma mecânica do nado não tão eficiente. Um estudo examinou os efeitos de uma intervenção em terra firme de seis semanas, em que 32 nadadores do ensino médio foram divididos em dois grupos, um controle e outro intervenção. Foram aferidas medidas de força do ombro, força do core e os tempos de nado. O grupo intervenção fez TF três vezes por semana, durante seis semanas. Após esse período, fez-se uma compa- ração pré e pós dos grupos. Os testes revelaram uma melhora significativa na força central no grupo de intervenção e que um programa de exercícios em terra seca de seis semanas foi eficaz na melhora da força central (SAWDON-BEA; BENSON, 2015). Outro estudo analisou um programa de TF para o ombro em terra firme, com intuito de ampliar a força e diminuir a dor na articulação do ombro de jovens nadadores. Assim, em dois grupos, um controle e outro intervenção, foi aferida a força do ombro nos movimentos de abdução, rotação externa, rotação interna e extensão, sendo que o grupo intervenção completou 12 semanas de TF em terra firme, realizado três vezes por semana. O grupo intervenção aumentou relativamente a força de rotação externa em comparação ao grupo controle, já a dor no ombro não foi relativamente diferente entre os grupos. Concluiu-se que os adolescentes que realizaram treinamento de força para o ombro aumentaram consideravelmente sua força na rotação externa em comparação aos adolescentes que apenas nadaram regularmente (MANSKE et al., 2015). O treinamento pliométrico trata-se de exercícios que têm como objetivo utilizar e valorizar o ciclo ao longo do encurtamento, maximizando, assim, a produção de força ou a melhoria no desempenho na execução de um movimento que necessita de força explosiva (CHMIELEWSKI et al., 2006). Um estudo realizado nessa temática teve como objetivo analisar as mudanças que ocorrem dentro de parâmetros cinemáticos selecionados na saída da natação, após realização de um treinamento pilométrico (força) 117 de seis semanas, revelando, assim, que o TF de decolagem melhora sua eficiência. O treinamento pliométrico contribuiu para um tempo de saída e planeio mais curto e as mudanças nos parâmetros selecionados da largada de natação e seus valores mostraram as áreas suscetíveis ao treinamento pliométrico e sugeriram que o programa de treinamento pliométrico deve ser aplicado com o objetivo de aumentar a força de decolagem e aumentar a eficácia da largada da natação (REJMAN et al., 2016). O estudo de Dingley et al. (2015) avaliou a eficácia do TF em nadadores parao- límpicos para aumento da potência na natação e como essas mudanças afetam o de- sempenho desses atletas. Sete atletas paraolímpicos de natação realizaram, no período de seis semanas, um programa de TF com exercícios direcionados para os principais movimentos da natação, tais como largadas e viradas, controle postural no meio líquido, puxar e chutar, membros inferiores e tronco. Foram realizados testes de força de mem- bros inferiores e superiores e 50 metros de natação pré e pós durante as seis semanas do programa de treinamento. Depois da intervenção de treinamento de força, o tempo da prova de 50 metros melhorou consideravelmente, revelando um aumento de potên- cia e aceleração. Nesse sentido, a intervenção de TF resultou em uma correlação entre a velocidade de início do mergulho e o salto. Os resultados mostraram uma melhora considerável na performance de atletas de natação paraolímpicos após o TF. Girold et al. (2012) realizaram uma pesquisa para comparar os efeitos do TF e eletroestimulação em nadadores. Nessa pesquisa, 24 nadadores foram divididos em três grupos. O grupo 1 realizou TF em terra firme, o grupo 2 realizou eletroestimulação e o grupo 3 foi o controle, que só participou dos treinos de natação cotidianos. O estudo teve uma duração de quatro semanas, nas quais os sujeitos foram avaliados pré e pós o programa de treinamento. Notou-se um aumento significativo na velocidade do nado e pico de torque no grupo 1 e 2, porém, o grupo 3 não apresentou melhora. Observou- se que o TF ou a eletroestimulação combinada à natação proporciona um ganho no desempenho em relação ao fato de apenas nadar. Outro trabalho avaliou o treinamento de força em terra firme sobre a força de nado. Também houve a divisão dos participantes em dois grupos, o experimental e o controle. O grupo experimental praticou natação e TF simultaneamente, já o grupo controle praticou apenas natação. O grupo experimental que participou do TF teve uma melhora no desempenho de natação, embora também tenha sido notada uma tendência de melhora no desempenho do nado amarrado (SADOWSKIS et al., 2012). Para a parte central do corpo, o TF também tem sido adotado na natação, sugerindo que esses exercícios são eficazes na prevenção de lesões e auxiliam na melhora do desempenho do nado. Um estudo investigou o efeito dos exercícios para a parte central do corpo na fase inicial do desempenho do nado. Nove nadadores do sexo masculino executaram a saída na natação e foram analisadas as variáveis como tempo de voo, tempo de entrada da mão na água e tempo dos cinco metros. As medidas foram 118 realizadas pré e pós-exercícios. Os resultados mostraram que o tempo para atingir os cinco metros diminuiu significativamente, reforçando a ideia de que exercícios para a parte central do corpo podem ajudar no despenho dos nadadores (IIZUKA et al., 2016). Outro estudo examinou os efeitos de oito semanas de TF em terra firme combinados com o treinamento de natação no desenvolvimento da força superior e inferior do corpo. Nessa pesquisa, 20 nadadores universitários de nível nacional foram divididos, aleatoriamente, em dois grupos: grupo experimental e grupo controle. Além do treinamento usual de natação, o grupo experimental realizou oito semanas de TF, que incluiu supino, agachamento completo, salto de contra movimento, salto de contra movimento com movimento do braço livre e arremesso de medicine ball. Foi avaliado o comprimento da braçada, a frequência da braçada, o índice da braçada e a velocidade de natação durante 50 e 100 metros contra o relógio pré e pós em ambos os grupos. Os resultados mostraram uma melhora significativa no desempenho de Sprint no grupo experimental. O treinamento de natação com o TF demonstra ser relevante para melhorar a força da parte superior do corpo e o desempenho da natação de 50 e 100 metros, adaptado à especificidade da natação (LOPES et al., 2020). Há correlações significativas entre avaliações de terra firme e natação, por isso, treinadores são encorajados a implementar estratégias capazes de aumentar a força em nadadores de velocidade (LOTURCO et al., 2015). Embora este estudo seja limitado, devido à escassez de publicações e estudos do tema aqui descrito, na base desta pesquisa, foram incluídos trabalhos nacionais e internacionais. O presente estudo, portanto, torna-se relevante para a área e foi produzido de maneira densa, a fim de demostrar as contribuições do TF para a melhoria do desempenho dos praticantes de natação. CONCLUSÃO Este trabalho analisou como o TF pode ajudar no desempenho de praticantes de natação. Como resultado desta pesquisa, feita a partir do levantamento de artigos da área, ficou evidenciado na literatura científica que o TF vem sendo muito utilizado nos programas de treinamento da natação para melhora do desempenho, fazendo com que resultados efetivos e significantes para o despenho dos praticantes de natação possam ser alcançados. Por fim, a literatura atual mostra que o TF pode melhorar o desempenho dos nadadores em resposta a vários tipos de faixas etárias e condições do indivíduo, propondo que o TF tem uma transferência positiva ao desempenho na natação. Fonte: https://revistaeletronica.unicruz.edu.br/index.php/biomotriz/article/view/429/348. Acesso em: 9 ago. 2022. 119RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Os princípios de treinamentos: adaptação; sobrecarga; progressão; especificidade; individualidade; reversibilidade. • A importância de avaliar e monitorar o treinamento, com o intuito de ter mais assertividade em atingir os objetivos pré-estipulados. • Os componentes treináveis e a importância de planejar o treinamento com o intuito de melhora desses componentes, sendo extremamente importante na preparação dos atletas. • O overtraining e overreaching, as principais causas e como tentar prevenir que ambos não ocorram com os nossos nadadores. 120 AUTOATIVIDADE 1 Sabemos que não existe método de treinamento perfeito, e corpo humano é multifatorial, com vários sistemas interligados, para que o treinamento possa atendê- lo de uma maneira efetiva, devemos olhar para todos os princípios de treinamento. Sobre os princípios de treinamento, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Princípio da adaptação; princípio do sossego; princípio da progressão; princípio da especificidade; princípio da individualidade; princípio da reversibilidade. b) ( ) Princípio da sorte; princípio da sobrecarga; princípio da progressão; princípio da especificidade; princípio da individualidade; princípio da reversibilidade. c) ( ) Princípio da adaptação; princípio da sobrecarga; princípio da progressão; princípio da especificidade; princípio da inviabilidade; princípio da reversibilidade. d) ( ) Princípio da adaptação; princípio da sobrecarga; princípio da progressão; princípio da especificidade; princípio da individualidade; princípio da reversibilidade. 2 A avaliação e o monitoramento de desempenho aeróbico e anaeróbico é essencial para verificar se os atletas estão tendo alteração no seu desempenho. Assim, pode se adequar o seu treinamento para que ocorram as adaptações desejadas. Sobre a avaliação e o monitoramento, quais são os testes comumente usados natação? a) ( ) Testes para HIV; testes com relógio ou cronometro; frequência cardíaca. b) ( ) Testes sanguíneos; testes visual; frequência cardíaca. c) ( ) Testes sanguíneos; testes com relógio ou cronometro; frequência cardíaca. d) ( ) Testes sanguíneos; testes com relógio ou cronometro; frequência passos. 3 O planejamento é de suma importância para o sucesso do treinamento. Dentro de planejamentos em ciclos, encontramos subdivisões, ou seja, uma organização de períodos maiores até chegar em semanas de treino. Quais são essas categorias de ciclos? a) ( ) Pequeno, médio e grande. b) ( ) Macrociclos, mesociclos e microciclos. c) ( ) Rápido e vagaroso. d) ( ) Leve, moderado e vigoroso. 4 O Planejamento esportivo ou planejamento de exercícios é usado para aumento do desempenho ou até mesmo para melhorar de capacidades físicas, chamada de periodização. Acerca da periodização linear, que também é conhecida como periodização tradicional, disserte sobre quais as suas principais caraterísticas. 5 O overtraining e overreaching são adaptações negativas ao treinamento, ocorrendo uma perda drástica no desempenho. Disserte sobre o conceito do overtraining e overreaching. 121 REFERÊNCIAS ACHTEN, J.; JEUKENDRUP, A. E. Optimizing fat oxidation through exercise and diet. Nutrition, v. 20, n. 7–8, p. 716–727, 2004. ALMEIDA, A. P. V. de et al. Consumo de oxigênio de recuperação em resposta a duas sessões de treinamento de força com diferentes intensidades. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 17, n. 2, p. 132–136, 2011a. ALMEIDA, A. P. V. DE et al. Recovery oxygen uptake in response to two resistance training sessions at different intensities. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 17, n. 2, p. 132–136, 2011b. AMARO, N. M. et al. effects of dry-land strength and conditioning programs in age group swimmers. 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Acesso em: 22 dez. 2020. 126 127 NATAÇÃO NAS SUAS DIVERSIDADES: LAZER, SAÚDE E BEM-ESTAR E PARADESPORTO UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a importância da natação adaptada para inclusão ao esporte; • identifi car a classifi cação de atletas e de provas na natação paralímpica; • assinalar a infl uência da natação na saúde humana; • conhecer a relevância da natação do âmbito do lazer; A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – NATAÇÃO PARALÍMPICA E ADAPTADA TÓPICO 2 – A PRÁTICA DE NATAÇÃO PARA SAÚDE E BEM-ESTAR TÓPICO 3 – PRÁTICA DA NATAÇÃO COMO LAZER Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 128 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 129 TÓPICO 1 — NATAÇÃO PARALÍMPICA E ADAPTADA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos um pouco sobre a natação paralímpica e adaptada, relacionando com os diferentes tipos de defi ciência que podem participar, de forma competitiva, dessa modalidade. Nesse sentido, serão apresentados a iniciação, o aperfeiçoamento e o treinamento da natação para pessoas com defi ciência, tentando quebrar falas capacitistas de que a condição de defi ciência está atrelada à ideia de incapacidade e de restrição de atividades. Apresentaremos as principais características adaptativas, os recursos e as metodologias de treinamento que podem ser utilizados nos diferentes tipos de defi ciência, além de compreender um pouco sobre a classifi cação funcional e a divisão de provas na natação paraolímpica, conhecendo as provas ofi ciais dos eventos. Além disso, serão apresentados os conceitos basilares sobre as características, as etimologias e as terminologias, a divisão e as categorias das principais defi ciências físicas, multissensoriais e neurocognitivas encontradas na natação paralímpica. Os materiais selecionados, como vídeos e reportagens, servem como suporte extras na construção desse conhecimento tão abrangente! GIO 2 INCLUSÃO AO ESPORTE A origem do movimento paralímpico teve início em 1948, no momento em que a neurocirurgião alemão Sir Ludwig Guttmann promoveu uma competição esportivaentre homens e mulheres cadeirantes, afetados pela Segunda Guerra Mundial, no jardim do hospital em que trabalhava, em Stoke Mandeville, na Inglaterra (FINA, 2017). 130 Figura 1 – Idealizador do movimento paralímpico Sir Ludwig Guttmann Fonte: https://bit.ly/3fdLOUS. Acesso em: 2 set. 2022. Olhando a reabilitação dos pacientes, o neurocirurgião idealizador do evento possibilitou uma disputa de tiro ao alvo com arco e dardos, com intuito de usar as práticas esportivas como propulsor para recuperação física e da autoestima dos ex-soldados. Quatro anos após o evento, competidores de outros países também se juntaram à prática, iniciando, assim, o primeiro movimento internacional esportivo, voltado para pessoas com deficiência física. Em 1960, Roma sediou a primeira Paralimpíada, que teve a presença de cerca de 400 atletas cadeirantes de 23 países. Nessa oportunidade, fizeram parte dos jogos as modalidades de tiro com arco, atletismo com provas de lançamento, pentatlo e arremesso, tiro com dardo, sinuca, natação, tênis de mesa, basquetebol e esgrima em cadeira de rodas. Entretanto, o termo “Jogos Paralímpicos” só foi realmente aceito, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), a partir de 1984, chamados de Olimpíadas dos Portadores de Deficiência. Em 1972, deficientes visuais passaram a participar das provas como uma demonstração, ou seja, só no evento seguinte, tiveram o direito de concorrer à medalha. O ano de 2012 foi marcante, pois as paralimpíadas foram permanentemente incrementadas às Olimpíadas, contendo a mesma infraestrutura e organização. Atualmente, o evento comporta atletas com deficiência visual, intelectual e motora. 131 Figura 2 – Abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016 Fonte: https://bit.ly/3zpKKUK. Acesso em: 2 set. 2022. Os Jogos Paralímpicos, sediados no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em sua 15ª edição, contou com a participação de 4.500 atletas de 176 países, que disputaram os 526 eventos das 23 modalidades. Esses números representam o avanço e expressividade no crescimento do movimento paralímpico na última década (COSTA; SOUSA, 2004). Atualmente, a natação paralímpica é a segunda modalidade que mais medalhas conquistou nos jogos paralímpicos pelo Brasil, atrás apenas do atletismo, tendo conquistado 102 medalhas (32 de ouro, 34 de prata e 36 de bronze) (CPB, 2022). 3 INTRODUÇÃO À NATAÇÃO PARALÍMPICA A natação é considerada um esporte adaptado, e a sua “adaptação” ao meio líqui- do permite a experiência de, práticamente, todos os tipos de deficiências sensoriais. Des- sa forma, essas adaptações são pensadas e refletidas, especificamente, a partir do tipo de deficiência, comprometimento e funcionalidade de cada indivíduo. Algumas deficiências sensoriais, como a auditiva, necessitam de um baixo grau de adaptação à modalidade, possibilitando que deficientes auditivos, como surdos, disputem competições conven- cionais, inserindo, por exemplo, um sinal visual junto ao sinal sonoro na largada. Por isso, a natação paralímpica é dividida em categorias, formadas pelas deficiências visuais, físi- co-motoras e intelectuais, as quais serão mais bem detalhadas mais adiante (IPC, 2022). No Brasil, a natação paralímpica é organizada, administrada e gerenciada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que, em tese, além de organizar o calendário esportivo da modalidade, implementa as regras internacionais do Comitê Paralímpico Internacional, trazendo modificações às regras convencionais da natação, aperfeiçoando a realidade do público praticante, como a criação de adaptações nas largadas, viradas e chegadas, utilização de materiais físicos para a orientação de atletas cegos, baterias ajustadas e separadas, conforme o grau de deficiência e classificação funcional, entre outras (CPB, 2022). 132 A seguir, apresentaremos um pouco sobre as possibilidades, as características, as peculiaridades e as adaptações que podem ser realizadas em um treinamento específico para cada tipo de deficiência, focado na modalidade da natação. Além disso, para cada deficiência, serão apresentados os tipos de provas, as nomenclaturas, os conceitos e as classificações funcionais. 3.1 NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Iniciaremos com a natação para pessoas com deficiência visual, sendo apresentados os tipos de provas, as nomenclaturas, os conceitos e as classificações funcionais dessa modalidade esportiva. BREVE CONCEITO DE DEFICIÊNCIA VISUAL A deficiência visual, mais especificamente a cegueira, sempre foi tratada pela humanidade com preocupação. Conforme Silva (2013), os povos bárbaros tratavam as doenças dos olhos com uso de drogas ou exorcismo, eram atribuídos aos cegos sentimentos ambíguos, pois, ao mesmo tempo em que eram considerados frágeis e indefesos, também se acreditava que possuíam poderes místicos. O sentido da visão é primordial na interação com outras pessoas e com o mundo dos objetos e é revestido de importantes significados, Amiralian (2009) defende que as concepções populares e literárias sobre cegueira abordam os conceitos metafóricos e simbólicos relacionados à incompreensão e às visões superiores, às energias positivas e negativas transmitidas pelo olhar, e principalmente, o sentimento de perda e castração das capacidades como uma punição merecida por algum pecado inconsciente. A construção da identidade destas pessoas não acontece pautada na deficiência, para elas, conforme defende Winnicott (1975), elas se sentem normais como são e só se percebem deficientes no contato com outro. Nesse sentido, segundo Nuernberg (2008), Vygotsky traz importantes contribuições ao afirmar que em contraposição à deficiência há um fortalecimento do potencial humano, privilegiando as características da pessoa, ao dizer que: A cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas fontes, muda as direções normais do funcionamento e, de uma forma criativa e orgânica, refaz e forma o psiquismo da pessoa. Portanto, a cegueira não é somente um defeito, uma debilidade, senão também em certo sentido, uma fonte de manifestação das capacidades, uma força. (Por estranho que seja, semelhante a um paradoxo) (NUERNBERG, 2008, p. 33 apud VYGOTSKY, 1997, p. 99) 133 Dessa forma, o ser humano se constitui e se constrói ao longo da vida, e quando entra em contato com o outro é que se percebe “deficiente” e há um fortalecimento da deficiência, pois fogem da normalidade aceita pela sociedade. De acordo com Nuernberg (2008), é preciso considerar a diversidade, é preciso se preocupar com o ser humano, levando em consideração sua situação de sujeito complexo, e é necessário “ensinar a condição humana” e saber conviver com ela. “Nas pessoas que nascem ou venham a adquirir uma deficiência visual, a constituição do seu ser e sua identidade perpassa por sentimentos ambíguos e muitos conflitos compreensíveis” (AMIRALIAN, 2009, p. 35). Afinal, é na interação com o outro que acontece a percepção da deficiência e o ser humano se constrói a partir disso. Na cultura em que vivemos, de acordo com Amiralian (2009), as pessoas com quem convivemos são o substrato sobre o qual os indivíduos se constituem, conforme a autora supracitada, e para que possamos entender as pessoas com deficiência visual, buscando a inclusão delas na sociedade, é de fundamental importância refletirmos sobre a nossa cultura, pois na nossa sociedade essas pessoas tendem a suscitar nos outros sentimentos de medo, de dúvida, repulsa, piedade, caridade e uma outra gama de sentimentos confusos. Esse olhar culturalmente instituído tem origem na questão do conceito de deficiência construído, conforme mencionado acima, pautado no modelo médico, onde a proposta de atendimento era centrada na restauração das funções para que a pessoa se tornasse o mais possível semelhante aos videntes, conforme Amiralian (2009). Para Silva (2013), a deficiência visual pode ser conceituada a partir de duas perspectivas, a médica e a pedagógica.Na perspectiva médica, de acordo com o autor, a cegueira se define como a capacidade visual das pessoas que são portadoras de deficiência no órgão da visão, e a medida que é utilizada para determinar a cegueira é a acuidade visual. [...] A deficiência visual, de acordo com Torres e Santos (2015), compreende as pessoas cegas e com baixa visão, ou seja, deficiência visual não é sinônimo de cego nem de baixa visão. Ambos os termos possuem suas definições e características próprias. Ventavoli (2012) afirma que deficiência visual é caracterizada por cegueira. A diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa, profunda (que compõem o grupo de visão subnormal ou baixa visão) e ausência total da resposta visual (cegueira). De acordo com dados obtidos pela Organização Mundial da Saúde, estima-se que no Brasil existem mais de 750 mil pessoas com deficiência visual, neste número incluem-se portadores de: 134 Cegueira (ausência total de visão e luminosidade): definida como falta do sentido da visão, podendo ser total ou parcial. Existem vários tipos de cegueira e seu diagnóstico depende do grau e tipo de perda de visão, como visão reduzida, cegueira parcial (de um olho) ou daltonismo. Classifica-se dependendo do dano que im- pede a visão, podendo ser: nas estruturas transparentes do olho, na retina, no nervo óptico ou mesmo no cérebro. Pode afetar des- de o bebê até a pessoa adulta, ocorrendo por diversos motivos: • Pode ser congênita ou adquirida. • Questões hereditárias - incompatibilidade sanguínea. • Doenças infecciosas: sífilis, toxoplasmose, herpes vaginal, glaucoma, diabetes, rubéola, tumores, entre outros. • Ferimentos. • Envenenamento. • Problemas durante o parto. • Prematuridade e acidentes traumáticos, entre outros acometimentos. • Apesar de não enxergar, o indivíduo tem a chance de poder vir a ler e a escrever. Visão Parcial: têm limitações da visão à distância, mas são capazes de ver objetos e materiais quando estão a poucos centímetros ou no máximo a meio metro de distância. Baixa Visão ou Visão Subnormal (condição de visão que vai desde a capacidade de indicar projeção de luz até a redução da acuidade visual, grau que exige atendimento especializado): é considerado portador de baixa visão aquele que apresenta a capacidade de perceber luz, até o grau em que a deficiência visual limita seu desempenho, que pode ter seu problema corrigido por cirurgias ou pela utilização de lentes (VENTAVOLI, 2012, p. 36-37, grifo nosso). Fonte: SANTOS, A. P. S.; LUEDERS, J. Deficiência visual: fundamentos e metodologias. Indaial: UNIAS- SELVI, 2019. p. 6-7; 40-41. A natação paralímpica baseou a sua classificação funcional nas classificações das limitações visuais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), conforme o Quadro 1. Quadro 1 – Classificação da perda de visão Fonte: adaptada de https://bit.ly/3W6fwMd. Acesso em: 2 set. 2022. Classificação da deficiência visual Acuidade visual com a melhor correção possível Máximo inferior a Mínimo igual ou melhor que Baixa visão 1 3/10 (0,3) 1/10 (0,1) 2 1/10 (0,1) 1/20 (0,05) Cegueira 3 1/20 (0,05) 1/50 (0,02) 4 1/50 (0,02) conta dedos a 1 m Percepção de luz 5 Sem percepção de luz 135 3.1.1 Classificação funcional para pessoas com deficiência visual Uma das principais ferramentas para assegurar, nivelar e legitimar a competição esportiva de pessoas com deficiência é a classificação funcional. De maneira analítica, realizada por uma equipe multidisciplinar da saúde, permite classificar atletas de diferentes deficiências em classes funcionais, dentro de uma modalidade, assegurando que as qualidades e as capacidades físicas, intelectuais e sensoriais remanescentes desses atletas sejam inseridas em grupos semelhantes de disputa (CPB, 2022). Figura 3 – Fabiana Sugimori, medalhista na para natação na categoria S11 Fonte: https://bit.ly/3zoy2W8. Acesso em: 8 set. 2022. Os nadadores com deficiência visual são classificados, segundo a International Blind Sports Federation (IBSA), como B1, B2 e B3, porém, para jogos paralímpicos, a classificação muda para S11, S12 e S13, ressaltando que classificação é feita de forma que, quanto menor a visão, menor é o número de classificação. Nesse sentido, na natação paralímpica, os atletas assumem os números de 11 a 13, de acordo com o grau de sua deficiência, antecedidos do prefixo “S” ou “SB”, que representam os e classes desportivas (IPC, 2022): • S: livre, borboleta e costas. • B: peito. • SM: medley individual – o prefixo “SM” é dado aos atletas que competem em eventos medley individuais. • S/SB11: atletas cegos, que têm uma acuidade visual muito baixa e/ou nenhuma percepção de luz. • S/SB12: atletas que têm uma acuidade visual maior do que os atletas anteriores, enxergam até 2/60 metros e possuem um campo visual menor que 5 graus de raio. • S/SB13: atletas que têm a deficiência visual menos grave elegível para o esporte paralímpico. Eles têm a acuidade visual mais alta (2/60 – 6/60 metros) e/ou um campo visual menor que 20 graus de raio. 136 Você sabia que, para garantir uma competição justa, os atletas da classe esportiva S/SB11 são obrigados a usar óculos escuros, porque alguns possuem o resquício de percepção de luz, o que poderia lhes dar vantagem sobre aqueles que não possuem. DICA 3.1.2 Recursos adaptativos ao treinamento e às provas Como vimos anteriormente, a defi ciência visual pode ser compreendida como a ausência ou a insufi ciência de resposta visória, de maneira irreversível em relação aos parâmetros de normalidade visual; nesse sentido, o treinamento deve ser direcionado a partir dos resquícios sensoriais que o indivíduo possui ou, ainda, de acordo com a funcionalidade apresentada. Figura 4 – Identifi cação das bengalas para as diferentes classifi cações Fonte: https://bit.ly/3DeZTsZ. Acesso em: 8 set. 2022. Uma das principais adaptações nas regras das competições, ou, ainda, no treinamento da natação adaptada, é a utilização do “tapper” (CPB, 2022). O tapper nada mais é que um bastão com ponta de espuma, com a função de orientar/avisar o atleta da proximidade com a borda, seja para o momento de chegada ou ainda virada. Além disso, existem alguns pontos que devem ser ajustados de acordo com o grau de comprometimento de cada pessoa. • Grau de mobilidade: cada pessoa é única e procura recursos adaptativos diferentes para enfrentar os problemas gerados pela defi ciência visual. Além disso, indivíduos com baixa visão podem apresentar um grau de mobilidade maior que indivíduos 137 cegos, assim como indivíduos com deficiência visual adquirida, que enxergavam anteriormente, podem possuir um programa motor, mais estabelecido em relação a sujeitos que possuem deficiência visual congênita. Para facilitar a locomoção desses indivíduos até o banheiro/vestiário-piscina, procura-se preservar sempre as portas totalmente fechadas ou abertas, de acordo com a possibilidade do local (portas de correr facilitam), não deixando implementos, acessórios ou equipamentos no corredor de acesso a esses locais. Verifica-se, com o atleta, se existe a necessidade de alguma adaptação em algum ponto desses locais. Estar consciente de que o programa motor de indivíduos com deficiência visual pode ser tão desenvolvido ou restringindo quanto o de um sujeito com a visão, e essa relação está intimamente ligada às experiências que foram proporcionadas a esse sujeito, durante a fase de desenvolvimento motor. • Nível de orientação: nem todos os atletas que possuem deficiência visual utilizam de instrumentos, como a bengala, para a locomoção, mas, se usarem, deve-se ficar atento às cores da bengala, pois, no caso de baixa visão, a identificação de placas em tamanhos maiores e cores vibrantes pode ser uma boa ferramenta na adaptação e na orientação desses atletas. Além disso, cada atleta cria um mapa mental do espaço que utiliza, contando o número de passos, portas, janelas, objetos e direções, apartir de um ponto específico; por isso, caso alguma coisa seja mudada de lugar durante o treino, não se deve esquecer de avisar e, se possível, promover a compreensão (por meio do tato, ou, aproximação) do objeto/obstáculo. Na piscina, a principal orientação se dá pelo contato com as raias – por isso, com atletas iniciantes, a diminuição do espaço é boa ferramenta, além da escolha por raias mais centrais, que possuem menor ondulação. Os sinais sonoros são bem-vindos, mas podem gerar um certo grau de desconforto e confusão em aulas com muitos alunos, por isso a atenção deve ser constante. • Conhecimento corporal: aprimorar os aspectos relacionados a psicomotricidade é algo primordial no treinamento com pessoas com deficiência, como o conhecimento corporal. A ampliação do programa motor, a ampliação da mobilidade e a motricidade fina implicam diretamente sobre o domínio e o conhecimento do esquema corporal, assim como a ampla possibilidade de movimentos que um sujeito é capaz de fazer. Nessa fase, o profissional deve compreender o nível de habilidades físicas que o atleta possui, a fim de desenvolver e refinar os gestos e as habilidades de maneira mais complexa. • Noção espacial: um dos principais sistemas sensoriais, respon- sáveis pelos ajustes de controle espacial, é a visão. Nesse sentido, além de reforçar o conhecimento corporal, como citado anterior- mente, a utilização de recursos adaptativos, que estimulem ou- tros sentidos, como sons, ou objetos de contatos, como as raias e o tapper, proporcionam uma zona de segurança mínima para que o atleta possa evoluir e aprimorar tal princípio. A quebra do espa- ço físico de segurança da pessoa com deficiência visual pode ser algo muito traumático, então, é importante ter cuidado para que outros atletas não invadam a raia dessa pessoa com deficiência (PCD) e vice-versa, evitando possíveis choques e acidentes. • Recursos adaptativos: além de todos os objetos citados, nos casos de pessoas com baixa visão, uma boa sugestão é aumentar dimensões dos objetos e utilizar cores contrastantes, com materiais que possam ser utilizados tanto na piscina quanto 138 fora dela. Sempre que possível, introduzir materiais sonoros, como músicas próximas às bordas, para facilitar o entendimento de limite entre o começo e final da piscina; além disso, é possível utilizar de esguichos superiores sempre nos 5 m finais ou, ainda, bandeirinhas aéreas de cores vibrantes e intensas, para facilitar a localização do ajuste para a virada. Por fim, é possível acolchoar as limitações de borda em aulas com iniciantes. As provas reconhecidas como oficiais em ambas as classes podem ser vistas no Quadro 2. Quadro 2 – Provas oficiais de natação para deficientes visuais Fonte: O autor PROVAS Provas masculinas Provas femininas Revezamento Estilo livre: 50 m; 100m; 200 m; 400 m; 1.500 m. Estilo livre: 50 m; 100 m; 200 m; 400 m; 800 m. Estilo livre: 4 × 50 m; 4 × 100 m. Costas: 50 m; 100 m; 200 m. Costas: 50 m; 100 m; 200 m. Medley: 4 × 50 m; 4 × 100 m. Peito: 50 m; 100 m; 200 m. Peito: 50 m; 100 m; 200 m. Borboleta: 50 m; 100 m; 200 m. Borboleta: 50 m; 100 m; 200 m. Medley individual: 200 m; 400 m. Medley individual: 200 m; 400 m. 3.2 NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A seguir, veremos um breve conceito de deficiência intelectual. Historicamente, a compreensão sobre deficiência intelectual tem sofrido grandes modificações, sobretudo na questão etiológica. No contexto apresentado, Pessotti (2004) destaca que o termo deficiência mental foi utilizado pelo modelo médico para classificar, denominar e conceituar os sujeitos que possuíam problemas em seu desenvolvimento mental e cognitivo. Problemas estes que influenciavam na autonomia, independência e adaptação social. No entanto, a partir das definições expostas na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), a qual foi ratificada pelo Decreto nº 6.949/2009 (BRASIL, 2009, s. p.), ocorrendo reflexões sobre o conceito de deficiência. O referido Decreto em seu Artigo 1º define as pessoas com deficiência como “[...] 139 aquelas que tem impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial permanentes, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em bases iguais com as demais pessoas”. Com base na definição exposta na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), a Associação Americana de Retardo Mental (AAMR) inicia pesquisas sobre a deficiência mental. As pesquisas da referida associação definiram conceitos, classificações, modelos teóricos e orientações em diversas áreas. No contexto que abarcou as pesquisas, emergiu a ressignificação do termo deficiência mental, para o termo deficiência intelectual, o qual segundo Pessotti (2004) surgiu para ampliar a conotação de termos como “débil mental”, “idiota”, “retardado mental”, “excepcional”, “incapaz mentalmente” – termos que foram utilizados por médicos em determinados períodos históricos da sociedade. Ao nos referirmos à deficiência intelectual, ressaltamos Sassaki (2005, s.p.), que faz um comentário sobre os termos deficiência mental e deficiência intelectual: A partir da década de 80, o termo utilizado tem sido ‘Deficiência Mental’. Antes disso, muitos outros termos já existiram. E, atualmente, há uma tendência mundial (brasileira também) de se usar ‘Deficiência Intelectual’, termo com o qual concordo por duas razões. A primeira razão tem a ver com o fenômeno propriamente dito. Ou seja, é mais apropriado o termo ‘intelectual’ por referir- se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo. Assim, a deficiência intelectual, segundo a American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD, 2018, s.p.), “é uma incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, que abrange habilidades conceituais, sociais e práticas”. Segundo Smith (2008), as habilidades conceituais envolvem os aspectos acadêmicos, cognitivos e de comunicação; as habilidades sociais respondem às exigências sociais exemplificadas pela responsabilidade, autoestima, habilidades interpessoais, observância de regras, normas e leis; e as habilidades práticas remetem ao exercício da autonomia, como: alimentar-se, arrumar a casa, deslocar- se de maneira independente e utilizar meios de transporte. O autor nomeia essas habilidades de habilidades adaptativas, como mostra a figura a seguir: 140 Figura – Áreas das habilidades adaptativas Fonte: adaptada de Smith (2008); Lopes (2016) No contexto da figura apresentada, vale destacar que o déficit nas habilidades adaptativas resulta em fracasso somente quando o domínio do funcionamento adaptativo (conceitual, social e/ou prático) está extremamente prejudicado, sendo necessário apoio contínuo, o que pode impedir a pessoa de agir independentemente. No entanto, o domínio das habilidades adaptativas depende das oportunidades e das experiências vivenciadas (LOPES, 2016). Em consonância com o anunciado pelos autores, vale destacar que a AAIDD anuncia que a deficiência se origina antes dos 18 anos de idade. Nesse contexto, ressaltam-se algumas premissas que estão na base da AAIDD, sendo elas: a) as limitações no funcionamento individual devem ser consideradas nos contextos comunitários típicos da faixa etária e da cultura da pessoa; b) a avaliação da deficiência intelectual deve considerar a diversidade linguística e cultural, além dos fatores comunicativos, sensoriais e motores da pessoa; c) limitações coexistem com capacidades; d) as limitações são identificadas objetivando a oferta de apoios necessários; e) os apoios têm efeito positivo no funcionamento da pessoa com deficiência intelectual, considerando sua aplicação nos aspectos, intensidade e duração necessários (AAID, 2018). Frente ao anunciadopelos autores e o evidenciado pela AAIDD (2018), cabe destacar a importância da compreensão dos contextos nos quais a pessoa com deficiência intelectual está inserida, bem como a identificação dos apoios que ela necessita. A compreensão desses aspectos contribui para o desenvolvimento para 141 a aprendizagem, para a qualidade de vida e a participação social, porém, a utilização dos apoios requer os domínios de aplicação, os quais necessitam ser catalizadores de funções em diversos ambientes, promovendo o desenvolvimento humano; a aprendizagem; a vida em sociedade; a participação escolar; a qualidade de vida; as relações interpessoais, entre outros. Fonte: SANTOS, A. P. S.; LUEDERS, J. Deficiência visual: fundamentos e metodologias. Indaial: UNIAS- SELVI, 2019. p. 24-26. 3.2.1 Classificação funcional para pessoas com deficiência Intelectual Diferentemente das outras deficiências, na classificação funcional, a deficiência intelectual é representada por apenas um número (14), ou seja, todas os diferentes tipos de deficiência intelectual competem entre si, em categoria única, na natação paralímpica: S/SB14 – Deficiência intelectual. Uma das principais características dessa categoria é a dificuldade em seguir padrões e sequências de braçadas, pernadas e respiração, o que, muitas vezes, leva a um tempo de reação mais lento. Normalmente, atletas S/SB14 apresentam um maior número e velocidade de braçadas em relação a atletas convencionais de elite, o que influencia diretamente o desempenho esportivo (IPC, 2022). 3.2.2 Recursos adaptativos ao treinamento e às provas Na natação paralímpica, entre a gama de características e conceitos que a de- ficiência intelectual apresenta, estão, principalmente, paratletas com um quociente de inteligência (QI) inferior a 70. Desse modo, durante o treinamento, existem alguns pontos que devem ser ajustados de acordo com o grau de comprometimento de cada pessoa. • Superproteção: uma das maiores barreiras que as pessoas com deficiência intelectual enfrentam é a barreira atitudinal, imposta historicamente pela sociedade, trazendo estigmas de incapacidade pelas terminologias inadequadas do passado como “retardado” ou “doente mental”. Esse estigma acaba gerando, muitas vezes, um fator de superproteção entre as pessoas que rodeiam uma pessoa com deficiência intelectual, o que, na maioria dos casos, acaba subestimando a inteligência e capacidade dessas pessoas. Procura-se valorizar as expressões de suas opiniões, encorajando e enaltecendo o diálogo e as perguntas. Deve-se deixar que o atleta realize os desafios e atividades sozinho, auxiliando somente quando for necessário. • Atividades estimulantes: o nível de desatenção e foco nesses atletas, normalmente, é maior do que o comum e, por isso, procura-se realizar atividades diversificadas e estimulantes, com implementos diversificados. A repetição e o 142 polimento do gesto motor são necessários, porém, o caminho para isso pode ser realizado de forma mais leve e encorajadora. • Resultados e processos: durante um treinamento, os resultados são essenciais para a conclusão de um projeto e meta; os atletas devem ser cobrados e esclarecidos de tal proposta, mas não se deve esquecer de valorizar todo o processo e desenvolvimento, uma vez que, além de atleta, se trata de um ser humano com histórico de lutas contra o capacitismo. As provas reconhecidas como oficiais para a categoria S/SB14 podem ser vistas no Quadro 3. Quadro 3 – Provas oficiais de natação para deficientes intelectuais Fonte: O autor PROVAS Provas masculinas Provas femininas Estilo livre: 100m; 200 m; 400 m; Estilo livre: 100 m; 200 m; 400 m Costas: 100 m; 200 m. Costas: 100 m; 200 m. Peito: 100 m; 200 m. Peito: 100 m; 200 m. Borboleta: 100 m; 200 m. Borboleta: 100 m; 200 m. Medley individual: 200 m; 400 m. Medley individual: 200 m; 400 m. 3.3 NATAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICO- MOTORAS BREVE CONCEITO DE DEFICIÊNCIA FÍSICA A deficiência física é classificada conforme alteração completa ou parcial de um ou mais seguimentos do corpo humano no comprometimento motor. Segundo o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, os principais tipos de deficiência física são: paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiparesia, amputação, paralisia cerebral e ostomia (aberturas abdominais para uso de sondas). É importante destacar que todas essas deficiências físicas com o final plegia significam perda total de um ou mais membro e/ou partes do corpo; quando aparece com o final paresia, significa perda parcial de um ou mais membro e/ou partes do corpo. 143 Quadro – Tipos das deficiências físicas Fonte: https://bit.ly/3sCOPkv. Acesso em: 19 fev. 2019. Tipos Características Paraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores. Paraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores. Monoplegia Perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior). Monoparesia Perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior). Tetraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores. Tetraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores. Triplegia Perda total das funções motoras em três membros. Triparesia Perda parcial das funções motoras em três membros. Hemiplegia Perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo) Hemiparesia Perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo) Amputação Perda total ou parcial de um determinado membro ou segmento de membro. Paralisia cerebral Lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo como consequência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência mental. Ostomia Intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura, óstio) na parede abdominal para adaptação de bolsa de coleta; processo cirúrgico que visa à construção de um caminho alternativo e novo na eliminação de fezes e urina para o exterior do corpo humano (colostomia: ostoma intestinal; urostomia: desvio urinário). Fonte: SANTOS, A. P. S.; LUEDERS, J. Deficiência visual: fundamentos e metodologias. Indaial: UNIAS- SELVI, 2019. p. 4. 3.3.1 Amputação A amputação pode ser definida pela retirada de um ou mais membros, com ausência de fatores congênitos. No caso de uma amputação de parte de membros, a permanência dessa outra parte (coto) facilita a implementação de uma prótese. Uma das maiores preocupações para a amputação é manter sempre a maior parte do membro, deixando uma maior condição mecânica de movimento do indivíduo (GREGUOL, 2010). Em casos de amputação completa do membro, a implementação de uma prótese é quase nula. 144 A maioria dos casos de amputação está associado às doenças vasculares periféricas, como diabetes, traumas, tumores e malformação congênita. Já as condições traumáticas, na maioria das vezes, são acidentes de trânsito e de trabalho. As malformações podem acontecer, ainda, na gravidez, quando a gestante faz uso de substâncias químicas ou, até mesmo, em infeções no começo da gravidez, ocorrendo uma interferência na formação do feto (GREGUOL, 2010). As amputações podem ocorrer em membros inferiores e superiores ou, até mesmo, em ambos. A amputação apenas em um lado é chamada de amputação unilateral e, em ambos os lados, de amputação bilateral – ambas as amputações geram mudanças no equilíbrio, no ponto de gravidade, na flutuação e, ocasionalmente, na postura dentro do meio líquido. 3.3.2 Paralisia cerebral A paralisia cerebral é uma condição que resulta da lesão encefálica; geralmente, acontece antes ou durante o parto, causando dificuldades para o indivíduo na postura corporal, na inibição de reflexos e no desenvolvimento da coordenação motora. É uma doença eminente, que pode ocorrer até o terceiro ano de vida, porém não deve ser confundida com deficiência intelectual (BVSMS, 2019).A condição da paralisia cerebral pode ser classificada de maneira topográfica, ou seja, de acordo com os segmentos corporais afetados e também com a neuroanatomia. • Espástica: gerada por lesão medular, nas fibras eferentes, é o caso mais comum em paralisia cerebral. • Atetose: gerado por lesão dos gânglios de base, normalmente acompanhada com flutuação dos tônus musculares. • Ataxia: gerada por lesão no cerebelo, é a menos comum entre as condições. 3.3.3 Lesados medulares Uma das partes mais importantes do sistema nervoso central é a medula espinhal, que tem aproximadamente um centímetro de diâmetro e está protegida pela coluna vertebral. Uma das principais funções da medula espinhal é transmitir estímulos do encéfalo para os membros e dos membros para o encéfalo. Em caso de uma lesão medular, uma regeneração é bem difícil de acontecer, ou seja, os danos são práticamente permanentes, ocorrendo sequelas nas funções motoras, sensorial e autonômica (BRASIL, 2016). Lesões na medula espinhal ocorrem em virtude de quatro origens, sendo infecciosas, cancerígenas, congênitas e, a mais comum, traumáticas – nesse caso, são chamadas de traumatismo raquimedular. Os danos causados na medula podem ser 145 entendidos como totais, provocando plegia, ou seja, abaixo do nível da lesão não se tem mais sensibilidade ou movimentos, ou ainda parcial, provocando a paresia, ou seja, abaixo da lesão ainda ocorrerá sensibilidade e movimentos, mesmo que com distúrbios. O nível em que ocorre a lesão na medula espinhal pode acarretar sequelas diferentes, gerando maiores ou menores restrições na vida do ser humano. Na Figura 5, podemos ver os distúrbios que cada parte pode gerar para o lesionado medular, não apenas na questão do movimento, mas também nas questões de necessidades fisiológicas. Figura 5 – Funções associadas ao nível da medula espinhal Fonte: Greguol (2010, p. 67) 146 3.3.4 Classificação funcional para pessoas com deficiências físico-motoras A classificação para atletas com deficiência motora é um pouco mais complexa, pois há uma variedade maior de patologias e deficiências nesse público. O nado de peito entra em uma classificação diferente, pois a sua demanda depende de uma propulsão maior das pernas, surgindo a classe SB. Desse modo, quanto maior a lesão, menor é o número da classe que esse atleta irá competir (IPC, 2022): • S1: lesão completa abaixo de C5 ou lesão equivalente, tendo controle de cabeça e tronco bem afetado. • S2: lesão medular abaixo de C6 ou C7 com restrição em algum braço e amplitude limitada dos membros superiores. • S3: lesão medular abaixo de C7 ou compatível, com propulsão limitada dos quatro membros ou amputação nos quatro membros. • S4: lesão medular abaixo de C8 ou compatível, e amputação severa em três membros. • S5: lesão medular entre T1 e T8 ou compatível, com problemas adicionais para propulsão. • S6: lesão medular entre T9 e L1 ou compatível, amputação moderada em três membros. • S7: lesão medular entre L2 e L3 ou compatível, amputação dupla, acima dos joelhos ou abaixo dos cotovelos. • S8: lesão medular entre L4 e L5 ou compatível, amputação dupla acima dos joelhos ou simples acima do cotovelo. • S9: lesão medular entre S1 e S2, poliomielite, amputação simples acima do joelho, simples abaixo cotovelo ou dupla abaixo do joelho. • S10: poliomielite com sequelas, amputação simples ou dupla nos pés. Já para as categorias de nado de peito: • SB1: lesão medular entre C6 e C7 ou compatível, amplitude de movimentos bem limitadas, amputação severa nos quatro membros. • SB2: lesão medula em C7 ou compatível, amputação severa em três membros. • SB3: lesão medular em C8 ou compatível, amputação moderada de três membros. • SB4: lesão medular entre T6 e T10 ou compatível, amputação leve de três membros. • SB5: lesão medular entre T11 e L1 ou compatível, com problemas para propulsão. • SB6: lesão medular entre L2 e L3 ou compatível, amputação dupla acima do joelho. • SB7: lesão medular entre L4 e L5 ou compatível, amputação dupla acima dos cotovelos ou abaixo dos joelhos. • SB8: lesão medular entre S1 e S2 ou compatível, amputação dupla abaixo do joelho, amputação dupla abaixo do joelho. • SB9: poliomielite com sequelas mínimas, equivalente, amputação leve do pé ou mão. 147 3.3.5 Recursos adaptativos ao treinamento e às provas Entre as deficiências encontradas na natação paralímpica, a física é a que mais necessita de adaptações, devido à gama de variações e especificações que cada classe funcional possui. Nesse sentido, muitas adequações ocorrem na saída e na chegada de prova, além das viradas, que são adaptadas ao contexto que o atleta apresenta em virtude de sua deficiência. Figura 6 – Daniel Dias, um dos melhores atletas paralímpicos brasileiros Fonte: https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/35569730.jpg?w=700. Acesso em: 8 set. 2022. Além disso, alguns cuidados são necessários para atender às necessidades adaptativas de algumas deficiências, como proposto a seguir: • Segurança: muitos atletas utilizam o auxílio de órteses, próteses ou cadeira de rodas para se locomover; além disso, algumas deficiências, como a paralisia cerebral, podem apresentar movimentos involuntários e descoordenados, em virtude da espasticidade ou atetoide característica da deficiência. Nesse sentido, todas as adaptações arquitetônicas, pela regra da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), devem ser seguidas, a fim de diminuir possíveis acidentes. É comum, ao redor da piscina, a presença de poças e, para evitá-las, uma boa sugestão é o uso de tapetes impermeabilizantes. Dentro da piscina, alguns flutuadores podem ser utilizados na iniciação de classes mais baixas, como forma de proteção. • Redução da capacidade respiratória: uma pessoa com lesão medular cervical ou torácica pode ter predisposição a ter infecções respiratórias. Geralmente, por falta da função da musculatura respiratória e abdominal, sendo de alta dificuldade terminar o ciclo de respiração. Sugere-se que o professor possa evoluir aos poucos com esses aluno, pois, de médio a longo prazo, essas atividades na água trazem benefícios positivos para a saúde respiratória do indivíduo. https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/35569730.jpg?w=700 148 • Dificuldades de regulação da temperatura corporal: a regulação de temperatura do organismo é controlada pelo sistema nervoso autônomo, ou seja, essa termorregulação é afetada por lesões medulares e, por isso, os alunos correm risco de hipertermia ou hipotermia. A recomendação é que a temperatura de piscinas para iniciantes seja de 30° e, para atletas, de 28°. Esse cuidado também deve ser tomado com o ambiente ao redor da piscina, recomendando-se que o ambiente esteja ligeiramente mais baixo que o da piscina (GREGUOL, 2010). • Perda da capacidade de controle urinário: algumas deficiências que proporcionam a tetraplegia podem fazer o indivíduo ter perda de urina involuntariamente; para crianças, o uso de fraldas é recomendado, enquanto, para adultos, recomenda-se ir ao banheiro antes de iniciar a aula. Essa disfunção pode acarretar infecções, sendo necessário o afastamento imediato do atleta até que a infecção seja curada. • Úlceras de pressão: as úlceras, na maioria das vezes, ocorrem pelo excessivo tempo que o atleta fica sentado, deitado ou em uma mesma posição. Partes do corpo sofrem pressão constante, o que acarreta ferimentos. A natação é um grande recurso na prevenção das úlcera, pois, além de o aluno sair um pouco da cadeira de rodas, o exercício dentro da água melhora a circulação sanguínea. Entretanto, em caso de identificação de um ferimento desse tipo, o treinamento deve ser cessado e o atleta deve procurar um médico imediatamente. • Disreflexias autonômicas: as lesões na região torácica, acima de T7, podem levar a essa resposta nociva à saúde, ocorrendo cefaleias e visão borrada; em geral, esse estímulo acontece por falta de evacuação das fezes ou urina. • Espasticidade:a contração exacerbada do músculo ou os espasmos repetidos podem ser corrigidos com medicamentos e, até mesmo, cirurgias. A espasticidade pode dificultar os movimentos para a atividade física, porém, algumas atividades ou, até mesmo, habilidades motoras podem ser adaptadas, trazendo uma melhora e eficiência esportiva ao atleta. É recomendado evitar piscinas com água fria, pois podem aumentar os espasmos, dificultando os movimentos do nado. • Retorno venoso prejudicado: a limitação que algumas deficiências físicas proporcionam, principalmente nos membros inferiores, pode limitar ou diminuir o retorno do sangue para o coração, causando inchaços e alterações na pressão arterial. Nesse sentido, a natação é uma grande propulsora da melhora, pois a pressão hidrostática, ocorrida no meio líquido, auxilia no retorno venoso. • Diminuição ou perda na sensibilidade: as deficiências físicas que proporcionam paresia ou plegia promovem a perda de sensibilidade da via aferente do sistema nervoso central, afetando membros, sendo um fator de risco para o indivíduo. O professor deve estar sempre atento, pois essa percepção pode evitar riscos, observando como o ambiente está afetando o seu aluno e, de maneira empática, sentindo a dor por ele. • Dificuldades psicológicas e sociais: a perda de movimentos e, em alguns casos, o uso de cadeira de rodas pode levar o indivíduo a achar que sua qualidade de vida não será boa, ou seja, sua percepção de interação consigo mesmo e com a sociedade tende a mudar. A natação pode e deve proporcionar uma melhora nesse fator, introduzindo um ambiente diferente com uma maior diversidade de movimentos e uma maior autonomia do indivíduo. 149 As provas oficiais dos Jogos Paralímpicos para pessoas com deficiência motora são as mesmas para ambos os sexos. Quadro 5 – Provas oficiais de natação para pessoas com deficiência física Fonte: o autor Provas Estilo livre Costas Peito Borboleta Medley Revezamento livre Revezamento medley 50 m 50 m 50 m 50 m 150 m 4 × 50 m 4 × 50 m 100 m 100 m 100 m 100 m 200 m 4 × 50 m 4 × 50 m 200 m 400 m Todas as provas seguem as regras da Federação Internacional de Natação (FINA), porém sempre com adaptações para que possam ser desenvolvidas as competições – por exemplo, o atleta poder ser auxiliado para permanecer imóvel na saída. No entanto, não é permitido nenhum tipo de prótese (FINA, 2017). Sugerimos que assista ao vídeo de uma competição da categoria S5 do nado costas, com a participação do brasileiro Daniel Dias: https://www.youtube. com/watch?v=TDiY7UJqTWU. DICA https://www.youtube.com/watch?v=TDiY7UJqTWU https://www.youtube.com/watch?v=TDiY7UJqTWU 150 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • A deficiência visual é uma condição de que, mesmo com a melhor correção ótica possível, ainda terá restrições na visão. A prática de natação para deficientes visuais e viável e, quando bem orientada, pode trazer benefícios para o indivíduo. • A deficiência intelectual é um distúrbio significativo do desenvolvimento cognitivo, quando ocorrido antes dos 18 anos. A prática de natação pode começar desde cedo, para minimizar os eventuais atrasos. • A deficiência motora é um termo utilizado para denotar condições de origem neurológica ou ortopédica que, de alguma forma, afetem a motricidade do indivíduo. A natação pode ser benéfica em todos os fatores para essa população, inclusive nas questões psicológica e social. • Existem classificações para os atletas e as provas disputadas, de acordo com as suas deficiências. 151 AUTOATIVIDADE 1 Podemos afirmar que a deficiência visual implica uma variedade de fatores nas atividades do dia a dia, porém, quando o indivíduo conhece a natação e se torna um atleta, ele pode e consegue se desenvolver dentro do ambiente aquático e fora dele. Sobre a classificação das provas para deficientes visuais, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As classificações são: B3 e S13, que representam sem nenhuma percepção de ambos os olhos, porém pode ter percepção mínima de luz, mas não pode reconhecer nenhuma mão de qualquer distância; B2 e S12, que representam uma capacidade de reconhecer movimentos de uma mão em uma distância pequena, de ambos os olhos ou no seu melhor olho; B1 e S11, que representam uma capacidade maior de visão em ambos os olhos ou no seu melhor olho. b) ( ) As classificações são: B2 e S12 que representa: sem nenhuma percepção de ambos os olhos, porém pode ter percepção mínima de luz, mais não pode reconhecer nenhuma mão de qualquer distancia; B1 e S11 que representa: Uma capacidade de reconhecer movimentos de uma mão em uma distância pequena, de ambos os olhos ou no seu melhor olho; B3 e S13 que representa: um capacidade maior de visão em ambos os olhos ou no seu melhor olho. c) ( ) As classificações são: B1 e S11 que representa: sem nenhuma percepção de ambos os olhos, porém pode ter percepção mínima de luz, mais não pode reconhecer nenhuma mão de qualquer distancia; B2 e S12 que representa: Uma capacidade de reconhecer movimentos de uma mão em uma distância pequena, de ambos os olhos ou no seu melhor olho; B3 e S13 que representa: um capacidade maior de visão em ambos os olhos ou no seu melhor olho. d) ( ) As classificações são: B1 e B2 que representa: sem nenhuma percepção de ambos os olhos, porém pode ter percepção mínima de luz, mais não pode reconhecer nenhuma mão de qualquer distancia; S11 e S12 que representa: Uma capacidade de reconhecer movimentos de uma mão em uma distância pequena, de ambos os olhos ou no seu melhor olho; S13 que representa: um capacidade maior de visão em ambos os olhos ou no seu melhor olho. 2 Considerando que a natação, para pessoas com deficiência motora, é de extrema importância para a saúde do indivíduo, podemos dizer que há três tipos de deficiência motora. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As três deficiências motoras são: a amputação pode ser definida pela retirada de um ou mais membros com ausência de fatores congênitos; a paralisia cerebral, que, normalmente, podem ter quatro origens (infecciosas, cancerígenas, congênitas e, a mais comum, traumas); lesões na medula espinhal, que é uma 152 condição que resulta da lesão encefálica e, geralmente, acontece antes ou durante o parto, gerando dificuldades para o indivíduo na postura corporal, na inibição de reflexos e no desenvolvimento da coordenação motora. b) ( ) As três deficiências motoras são: a paralisia cerebral, que pode ser definida pela retirada de um ou mais membros e ausência de fatores congênitos; lesões na medula espinhal, que, normalmente, podem ter quatro origens (infecciosas, cancerígenas, congênitas e, a mais comum, traumas); a amputação, que é uma condição que resulta da lesão encefálica e, geralmente, acontece antes ou durante o parto, gerando dificuldades para o indivíduo na postura corporal, na inibição de reflexos e no desenvolvimento da coordenação motora. c) ( ) As duas deficiências motoras são: lesões na medula espinhal, que, normalmente, podem ter quatro origens (infecciosas, cancerígenas, congênitas e, a mais comum, traumas); a paralisia cerebral, que é uma condição que resulta da lesão encefálica e, geralmente, acontece antes ou durante o parto, gerando dificuldades para o indivíduo na postura corporal, na inibição de reflexos e no desenvolvimento da coordenação motora. d) ( ) As três deficiências motoras são: a amputação, que pode ser definida pela retirada de um ou mais membros, com ausência de fatores congênitos; lesões na medula espinhal, que, normalmente, podem ter quatro origens (infecciosas, cancerígenas, congênitas e, a mais comum, traumas); a paralisia cerebral, que é uma condição que resulta da lesão encefálica e, geralmente, acontece antes ou durante o parto, gerando dificuldades para o indivíduo na postura corporal, na inibição de reflexos e no desenvolvimento da coordenação motora. 3 Podemos afirmar que a deficiência motora implica uma variedade defatores nas atividades do dia a dia, porém, quando esses indivíduos conhecem a natação e se tornam atletas, vemos que eles podem e conseguem se desenvolver dentro do ambiente aquático com grande desenvoltura. Sobre a classificação das provas de atletas com deficiência motora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As classificações que representam atletas de deficiência motora são: SB11, para atletas avaliados com lesão medular abaixo de C1 ou compatível, com propulsão limitada dos quatro membros ou amputação nos quatro membros; S12, para atletas avaliados com lesão medular abaixo de C8 ou compatível, e amputação severa em três membros; SB5, para atletas avaliados com lesão medular entre T5 e T6 ou compatível, com problemas para propulsão. b) ( ) As classificações que representam atletas de deficiência motora são: S3, para atletas avaliados com lesão medular abaixo de C7 ou compatível, com propulsão limitada dos quatro membros ou amputação nos quatro membros; S4, para atletas avaliados com lesão medular abaixo de C8 ou compatível, e amputação severa em três membros; SB5, para atletas avaliados com lesão medular entre T11 e L1 ou compatível, com problemas para propulsão. c) ( ) As classificações que representam atletas de deficiência motora são: SB20, para atletas avaliados com lesão medular abaixo de C3 ou compatível, com propulsão limitada dos quatro membros ou amputação nos quatro membros; SB13, para 153 atletas avaliados com lesão medular abaixo de C8 ou compatível, e amputação severa em três membros; SX5, para atletas avaliados com lesão medular entre T11 e L1 ou compatível, com problemas para propulsão. d) ( ) As classificações que representam atletas de deficiência motora são: S3, para atletas avaliados com lesão medular abaixo de C1 ou compatível, com propulsão limitada dos quatro membros ou amputação nos quatro membros; S11, para atletas avaliados com lesão medular abaixo de C8 ou compatível, e amputação severa em três membros; SB12, para atletas são avaliados com lesão medular entre T12 e L1 ou compatível, com problemas para propulsão. 4 A natação é apresentada ao deficiente intelectual, quase sempre, na infância, para prevenir ou melhorar eventuais atrasos no decorrer da vida do indivíduo, pois as práticas aquáticas bem desenvolvidas e aplicadas podem ser bem eficazes para melhora de habilidades motoras, ambientação social e caraterísticas cognitivas, contribuindo para a saúde em fatores epidemiológicos de doenças metabólicas. Disserte como a inserção da prática de natação deve ser feita na deficiência intelectual. 5 O lesionado medular sofre com diversas sequelas funcionais da lesão medular que influenciam diretamente nas práticas de natação, devido às diversas alterações fisiológicas. Quais são essas alterações fisiológicas que ocorrem na lesão medular? 154 155 A PRÁTICA DA NATAÇÃO COMO SAÚDE E BEM-ESTAR 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos a prática da natação como agente da saúde e bem- estar, uma vez que a definição de saúde, anteriormente definida apenas como a falta de doença, já não sustenta mais essa argumentação, devendo-se observar o indivíduo de forma multifatorial e para cada ponto, e estruturando a sua saúde. Conhecer as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que, na maioria das vezes, são frutos de um estilo de vida não ativo, com um maior tempo sentado e um tempo menor de atividade física. Desse modo, as DCNTs são um problema mundial e, no contexto de uma pandemia, quando não se tem vacina, podemos extinguir essa pandemia com maior tempo de atividade física (WHO, 2016). Por isso, precisamos tomar consciência das recomendações de atividade física para a uma melhor qualidade de vida em todas as faixas etárias, tendo o ambiente aquático como auxiliador desse contexto de saúde. UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 2 A IMPORTÂNCIA DA NATAÇÃO PARA A SAÚDE A natação está inserida no contexto da atividade física, do exercício físico e do esporte, ou seja, ela é completa, desenvolve capacidades físicas e desempenha melhora significativa em todos os sistemas fisiológicos do corpo. Além disso, para nadar, devemos contrair e relaxar várias vezes quase todos os músculos do corpo. Então, a natação é de suma importância para promover a saúde do ser humano. Entretanto, antes de discutirmos a natação como promotora de saúde, devemos compreender qual a concepção de saúde adotada contemporaneamente e quais as recomendações atuais para um indivíduo se manter saudável. 2.1 O QUE É SAÚDE? A saúde foi compreendida, por muito tempo, como a ausência de doenças, porém sabemos que o ser humano é multifatorial, ou seja, só a ausência de doenças não quer dizer que ele está saudável completamente, pois devemos olhar para as condições psicológicas e sociais desse indivíduo; assim, a saúde também está ligada ao lazer. 156 A OMS tem como definição para saúde o bem-estar completo do indivíduo, físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidades. Trata-se de um direito que deve ser assegurado sem distinção de raça, religião, ideologia ou condição social, ou seja, a saúde é um bem coletivo. Como promotor da saúde, o movimento corporal é essencial, havendo a necessidade de se manter ativo, para que possamos resguardar a nossa saúde física e, até mesmo, mental. 2.2 RECOMENDAÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA A OMS (2020) recomenda a atividade física, baseada em evidências científicas, para crianças, adolescentes, adultos e idosos em frequência, intensidade e duração ne- cessárias para promover benefícios à saúde e minimizar o risco de doenças, fornecendo informações sobre comportamento sedentário relacionado à saúde, com recomenda- ções para subgrupos, como mulheres grávidas e pessoas que vivem em condições crô- nicas. Veremos as recomendações para cada público em específico a seguir. 2.2.1 Crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade) A recomendação de atividade física para crianças e adolescentes possibilita ganhos para os seguintes parâmetros da saúde: melhora na aptidão cardiorrespiratória e muscular, saúde metabólica relacionada a pressão arterial, dislipidemia e resistência à insulina, saúde óssea, saúde mental e redução no tecido adiposo. Então, a OMS (2020) recomenda que crianças e adolescentes devem fazer em torno de 60 minutos por dia de atividade física de intensidade moderada a vigorosa, sendo maior parte de atividades aeróbicas. Confira as recomendações da OMS na imagem a seguir. Figura 7 – Recomendação de atividade física da OMS para crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade) Fonte: OMS (2020, p. 3) 157 Figura 8 – Recomendação da OMS para limitar a quantidade de tempo em comportamento sedentário para crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade) Fonte: OMS (2020, p. 3) O comportamento sedentário, em crianças e adolescentes, pode levar a um aumento do tecido adiposo, pressão arterial, dislipidemia, resistência à insulina, menor comportamento pró-social e menor qualidade de sono. A OMS (2020) recomenda diminuir a quantidade de tempo de telas em comportamento sedentário e, principalmente, videogames sem interação motora. É extremamente importante apresentar, às crianças e aos adolescentes, oportunidades e encorajar a participação em atividades físicas, desde que prazerosas e adequadas para a sua idade e o seu nível de habilidade motora. Fazer algum tipo de atividade física é melhor do que nenhuma. 2.2.2 Adultos (18 a 64 anos de idade) Os benefícios da atividade física para adultos são impressionantes para a saúde, diminuindo a mortalidade por diversas causas, como hipertensão, cânceres, doenças cardiovasculares, incidência de diabetes tipo 2, saúde mental (tendo redução significativa em sintomas de ansiedade e depressão), saúde cognitiva e melhora na qualidade do sono. Assim, a recomendação para os adultos é que participem regularmente de atividades físicas: em torno de 150 a 300 minutos por semana de atividade física aeróbica com intensidade moderada ou, pelo menos,75 a 150 minutos por semana com intensidade vigorosa. Uma combinação entre as intensidades também pode ser adotada, conforme mostra a recomendação da OMS (2020) na Figura 9. 158 Figura 9 – Recomendação de atividade física da OMS para adultos (18 a 64 anos de idade) Figura 10 – Recomendação de treinamento de força da OMS para adultos (18 a 64 anos de idade) Fonte: OMS (2020, p. 4) Fonte: OMS (2020, p. 4) Recomenda-se, ao adulto, praticar treinamento de força para os principais grupamentos musculares com moderada intensidade, para proporcionar benefícios adicionais à saúde. Segundo a OMS (2020), o adulto deve aumentar o nível de atividade física de moderada intensidade para uma quantidade maior de 300 minutos ou realizar 150 minutos de atividade física de intensidade vigorosa, ou uma combinação com aumento progressivo durante a semana, para maiores benefícios à saúde. O comportamento sedentário em altas quantidades em adultos está associado a resultados inconvenientes relacionados à saúde, como mortalidade por todas as doenças cardiovasculares e cânceres. Dessa forma, os adultos devem limitar o período 159 Figura 11 – Recomendação da OMS para limitar a quantidade de tempo em comportamento sedentário para adultos (18 a 64 anos de idade) Fonte: OMS (2020, p. 5) sedentário, substituindo-o por atividade física de qualquer intensidade, para um ganho positivo de saúde, tendo sempre como objetivo o aumento progressivo da atividade física e buscando que esse nível de atividade física ultrapasse o recomendado. 2.2.3 Idosos (65 anos de idade ou mais) A atividade física realizada por idosos afeta positivamente a sua saúde e, assim como em adultos, diminui a mortalidade por todas as causas de doenças cardiovasculares, além da incidência de hipertensão e de alguns tipos de cânceres e diabetes tipo 2, saúde mental (tendo redução significativa em sintomas de ansiedade e depressão), saúde cognitiva e melhora na qualidade do sono. A composição corporal pode melhorar, com perda de tecido adiposo. A atividade física, em idosos, também tem o intuito de prevenir quedas e lesões, e perda de massa óssea e da capacidade funcional. Todos os idosos devem participar de programas de atividade física, com duração em torno de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada ou, pelo menos, 75 a 150 minutos com intensidade vigorosa, ou, até mesmo, uma combinação entre as intensidades, para maiores benefícios à saúde. 160 Figura 12 – Recomendação da OMS sobre a prática de atividade física para idosos (65 anos de idade ou mais) Figura 13 – Recomendação da OMS sobre o treinamento de força e as atividades multicomponentes para idosos (65 anos de idade ou mais) Fonte: OMS (2020, p. 6) Fonte: OMS (2020, p. 6) É recomendado que os idosos também façam treinamento de força de intensidade moderada, que envolva os principais grupamentos musculares em dois ou mais dias da semana, para ganhos extras à saúde. Também é recomendado que os idosos realizem atividades físicas multifatoriais, para trabalhar equilíbrio e força, em moderada intensidade, em três ou mais dias na semana, tendo os benefícios de aumento da capacidade funcional e prevenção de quedas. 161 Figura 14 – Recomendação da OMS sobre limitar a quantidade de tempo em comportamento sedentário para idosos (65 anos de idade ou mais) Fonte: OMS (2020, p. 7) Nos idosos, assim como nos adultos, o comportamento sedentário em altas quantidades está associado a resultados inconvenientes relacionados à saúde, como mortalidade por todas as doenças cardiovasculares e cânceres. Portanto, os idosos devem limitar o período sedentário, substituindo-o por atividade física de qualquer intensidade, inclusive de baixa intensidade, para um ganho positivo na saúde, tendo sempre como objetivo o aumento progressivo da atividade física e buscando que esse nível de atividade física ultrapasse o recomendado. 2.2.4 Mulheres grávidas e no pós-parto A recomendação de atividade física para mulheres grávidas e no pós-parto proporciona benefícios para a saúde da mãe e do bebê, ou seja, diminui o risco de pré- eclâmpsia, hipertensão e diabetes gestacional, ganho excessivo de peso, complicações no nascimento do bebê, problemas psicológicos, como depressão pós-parto, e menores complicações no recém-nascido, como risco de natimortalidade. É recomendado que todas as mulheres grávidas e no pós-parto que não tenham nenhuma contraindicação participem de programas de atividade física, fazendo, pelo menos, 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada no decorrer da semana, para benefícios significativos de saúde. É possível incorporar uma série de atividades aeróbicas, de fortalecimento muscular e de alongamento de intensidade leve para gerar benefícios relevantes para a saúde. 162 Figura 15 – Recomendação de atividade física para mulheres grávidas e no pós-parto Figura 16 – Recomendação da OMS sobre limitar a quantidade de tempo em comportamento sedentário para mulheres grávidas e no pós-parto Fonte: OMS (2020, p. 8) Mulheres que, antes da gravidez, eram praticantes de atividades aeróbicas de intensidade vigorosa ou, anteriormente, eram fisicamente ativas podem manter as atividade durante a gravidez e no pós-parto. Como nos demais grupos, elas devem limitar a quantidade de tempo sedentário, substituindo-o por atividade física de qualquer intensidade, inclusive de baixa intensidade, proporcionando benefícios significativos para a saúde. Fonte: OMS (2020, p. 9) Independentemente do público, sejam crianças e adolescentes, adultos, idosos ou mulheres grávidas e no pós-parto, fazer qualquer tipo de atividade física é melhor do que nenhuma. 163 2.3 A NATAÇÃO COMO ALTERNATIVA DE MELHORA DA SAÚDE Como vimos anteriormente, a atividade física é de extrema importância para a saúde do indivíduo. Nesse sentido, a natação é apenas mais uma estratégia para conseguirmos chegar aos objetivos de melhora da saúde e da qualidade de vida do indivíduo. Entretanto, a natação tem benefícios adicionais, pois o indivíduo, inserido no meio líquido, não tem o fator impacto, ou seja, pessoas com problemas ósseos ou gestantes podem fazer exercícios aquáticos livremente. A natação se destaca sobre as outras práticas de atividade física por desenvolver coordenação e condicionamento aeróbico, reduzir a espasticidade (lesões congênitas ou adquiridas no sistema nervoso central) e uma menor sensação de fadiga, quando comparado com outras atividades. Além disso, tem grandes contribuições para os processos de reabilitação, podendo diminuir o grau de complicações decorrentes (CIULLO; STEVENS, 1989; SNELL et al., 2014). A natação é uma das atividades físicas que podemos praticar desde o início até o final da vida, sem grandes restrições. A prática da natação tem vários benefícios fisiológicos, como diminuição de espasmo e relaxamento muscular, alívio de dores musculares e articulares, manutenção e aumento da amplitude de movimento articular, fortalecimento muscular, resistência muscular, melhora da circulação, melhora da elasticidade da pele, melhora do equilíbrio estático e dinâmico, melhoria no relaxamento de órgãos de sustentação, melhora na postura, aumento da consciência de orientação espaço-temporal (GREGUOL, 2010). Portanto, a natação tem pontos positivos em diversas faixas etárias e, ainda, pode ser inserida e desenvolvida dentro das atividades físicas da OMS. 2.3.1 Natação como alternativa de melhora da saúde para crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade) A prática de natação em crianças é cada vez mais comum, pois encanta a maioria delas. Segundo a recomendação da OMS, dentro das piscinas, podemos usufruir de aulas de natação todos os dias na semana, com intensidades de moderada a vigorosa, sempre tentando deixar as aulas e as práticas aquáticas o mais lúdicas possível, para que a população dessa faixa etária possa ter uma maior adesão. Entretanto, dentro dessa faixa etária queestá em desenvolvimento, podemos trabalhar atividades terrestres, pois esse público tem a necessidade de desenvolvimento de massa muscular e massa óssea, usufruindo de atividades de impacto, pois sabemos que perdemos o impacto quando imersos em ambientes aquáticos. 164 2.3.2 Natação como alternativa de melhora da saúde para adultos (18 a 64 anos de idade) A prática de natação para adultos, seguindo as recomendações da OMS, pode ser feita de várias maneiras, usufruindo de técnicas e metodologias de treinamento em diversos contextos, tanto para iniciantes, intermediários ou avançados. Para o iniciante, podemos começar com a parte pedagógica, trabalhando com uma intensidade leve, pois esse indivíduo ainda está aprendendo e progredindo, começando sempre com o mínimo por semana, que são 150 minutos, e, no decorrer do processo, evoluindo esse tempo e a intensidade. Para o intermediário, podemos passar treinos de intensidade moderada a vigorosa, sempre priorizando o aluno, com conceito de que ele ainda está em aperfeiçoamento, devendo ser trabalhadas as técnicas de nado, porém, mesclando atividades de intensidade moderada com atividades de intensidade vigorosa, tendo como alvo de 150 a 300 minutos semanais e, no decorrer do processo, evoluindo esse tempo e a intensidade. Para o avançado, podemos trabalhar de diversas formas, alternando as intensidades moderadas e vigorosas dentro da aula, usufruindo de métodos como o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT), ou seja, podemos diminuir o tempo e aumentar a intensidade, tendo uma maior liberdade para desenvolver essas atividades (PIMENTA et al., 2015). Entretanto, dentro de todos os níveis dessa faixa etária, pelo menos, duas vezes na semana, devem-se trabalhar atividades de força, podendo ser dentro ou fora do ambiente aquático. 2.3.3 Natação como alternativa de melhora da saúde para idosos (65 anos de idade ou mais) O público idoso já é muito visto dentro das piscinas, pois, além de todas as faixas etárias vistas anteriormente, o processo de envelhecimento traz muitas complicações articulares e ósseas, ou seja, nas piscinas, perdemos o fator impacto, então, esse ambiente é de extrema adesão para os idosos (CIULLO; STEVENS, 1989; PIMENTA et al., 2015; SNELL et al., 2014). É possível seguir a mesma sequência de níveis usada para o adulto, porém é essencial um olhar especial, um cuidado a mais para esse público, pois, em um ambiente aquático, temos lugares escorregadios e de difícil acesso, por isso a necessidade de atenção dobrada para idosos. 165 Entretanto, além de trabalhar força com os idosos duas vezes por semana, assim como com o público adulto, devemos trabalhar exercícios multifatoriais três vezes por semana, ou seja, atividades que mudem o meio, podendo ser uma subida e descida da escada da piscina (com muito cuidado e conhecendo o aluno), para que possamos trabalhar capacidades funcionais para o dia a dia e prevenções a quedas, que são muito comuns em idosos. 2.3.4 Natação como alternativa de melhora da saúde para mulheres grávidas e no pós-parto Para mulheres grávidas e no pós-parto, o ambiente aquático é excelente, pois não há o fator impacto, que pode afetar o bebê, minimizando o risco de quedas; porém, a OMS recomenda 150 minutos de atividade física semanal em uma intensidade moderada. Mulheres que já nadavam antes da gravidez podem continuar normalmente as suas práticas, mesmo que sejam de intensidade vigorosa. No entanto, mulheres grávidas devem ser informadas por um profissional da saúde sobre os riscos e, se necessário, limitar ou interromper a atividade física. 3 A IMPORTÂNCIA DA NATAÇÃO PARA PREVENÇÃO E AUXÍLIO EM DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) As DCNTs são uma ameaça para saúde de todas as populações. A OMS estima que, aproximadamente, 36 milhões de pessoas morrem de DCNT por ano, sobretudo em países de baixa renda. Tem-se uma maior incidência de DCNT nas últimas décadas, considerando alguns fatores da globalização, da urbanização desenfreada, da vida sedentária e da má alimentação. Esses fatores de risco do comportamento humano refletem diretamente no metabolismo, acarretando aumento de peso e obesidade, aumento da pressão arterial, elevação da glicose sanguínea e diabetes tipo 2, dislipidemia, doenças cardiovasculares e acidente vascular encefálico (AVE) e uma variedade de tipos de cânceres. A inatividade física é um fator muito importante para as DCNTs, ou seja, com uma redução significativa na expectativa de vida. A estimativa de que a inatividade física seja uma das principais causas de morte no mundo. Há inúmeras evidências dos benefícios da atividade física na redução de fatores de ricos das DCNTs, a partir da adoção de uma redução no tempo sedentário, ou seja, o setor da saúde, em conjunto com outros setores, deve incentivar práticas e políticas 166 de promoção da atividade física, articuladas com várias áreas, havendo interação com o ambiente, com interação do espaço saudáveis, ciclovias, mobilidade urbana, e também trabalhando com ações de informação e comunicação da importância da atividade física. Sabendo da necessidade da prática de atividade física como propulsora da saúde e para o combate à DCNT, a seguir, veremos a natação como mais uma ferramenta que o profissional de Educação Física tem na sua caixa de ferramentas. 3.1 EVIDÊNCIAS DA NATAÇÃO NO COMBATE ÀS DCNTS No decorrer dos tempos, as pesquisas científicas cada vez mais evidenciam a natação como colaboradora para prevenção e tratamento das DCNTs. Essas evidências estão bem fundamentadas em diversas faixas etárias ou estado do indivíduo (BIELEC; GOZDZIEJEWSKA; MAKAR, 2021; COSTA; SOUSA, 2004; COSTA et al., 2019; THOMSON; KEARNS; PETTICREW, 2003; WONG et al., 2019). Um estudo comparou a composição corporal de 46 crianças com idades entre 11 e 12 anos, submetidas à natação em um período de 12 semanas. Foi medido o índice de massa corporal (IMC), apresentando resultados positivos no sentido de restringir o aumento do tecido adiposo (BIELEC; GOZDZIEJEWSKA; MAKAR, 2021). Em outro estudo, 30 ratos adultos foram divididos em três grupos: grupo- controle, grupo diabético e grupo diabético-estresse. O grupo diabético-estresse foi submetido à natação forçada por 7 dias; após 24 horas, o sangue dos ratos de todos os grupos foi coletado, em jejum, para analisar glicemia, triglicerídeos, ácidos graxos livres, colesterol de alta e baixa densidade. Os níveis de glicose e insulina no sangue, no grupo diabético-estresse, foram significativamente menores do que aqueles do grupo diabético. Logo, pode-se concluir que o estresse de natação de uma semana pode diminuir o nível de glicose no sangue e melhorar os índices de insulina (LI et al., 2020). Em um trabalho com mulheres idosas, submetidas a um programa de natação, por 3 a 4 dias por semana, em um período de 20 semanas, foram analisados pressão arterial, força muscular e capacidade cardiorrespiratória no início e após a intervenção. Os resultados foram bem significativos, pois houve uma redução nas pressões sistólica e diastólica, e um aumento na força muscular e na capacidade cardiorrespiratória após a intervenção com a natação. Assim, o estudo concluiu que 20 semanas de natação podem reduzir a rigidez arterial, ao mesmo tempo que aumenta a força e a capacidade aeróbica em mulheres idosas (WONG et al., 2019). Desse modo, a natação é uma estratégia interessante para prevenção e tratamento de complicações cardiovasculares, quando relacionados à idade, à perda de força muscular e à resistência cardiorrespiratória. O exercício regular é recomendado para o tratamento da dislipidemia, sendo apresentado o ambiente aquático com caraterísticas positivas para pessoas que sofrem de dislipidemia. O estudo de Costa et al. (2019) teve como objetivo comparar 167 os efeitos do treinamento aeróbico aquático e do treinamento resistido aquático no perfil lipídico de 69 idosas dislipidêmicas, que foram divididasem três grupos: grupo- controle, que não fez nenhuma atividade; grupo treinamento aeróbico aquático; e grupo treinamento resistido aquático. Os grupos intervenção fizeram duas sessões semanais durante 10 semanas, antes e após as intervenções, tendo sido analisados colesterol total, triglicerídeos, lipoproteínas de baixa densidade, lipoproteína de alta densidade. Os resultados mostraram que, tanto o grupo de treinamento aeróbico aquático quanto o de treinamento resistido aquático obtiveram diminuições semelhantes em colesterol total, triglicerídeos, lipoproteína de baixa densidade e aumento no HDL. Entretanto, o grupo-controle manteve os níveis de todos os parâmetros. O trabalho concluiu que, independentemente de o treinamento ser resistido aquático ou aeróbico aquático, o ambiente aquático pode melhorar os perfis lipídicos, representando mais uma ferramenta não farmacológica para o tratamento da dislipidemia. Dessa maneira, a natação pode e deve ser praticada em indivíduos com DCNTs e, na maioria das vezes, sem contraindicações, para diversos tipos de patologias ou, até mesmo, como forma de prevenção, no sentido de não desenvolver uma DCNT durante a vida. 168 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Existem recomendações de atividade física para cada faixa etária ou estado do indivíduo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), com impacto positivo, sendo capaz de proporcionar saúde. • Entre as recomendações de atividade física, a natação pode ser usada como estratégia de intervenção para uma vida mais ativa, para minimizar o tempo sedentário. • As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) são uma ameaça para saúde de toda a população mundial, uma vez que, na maioria das vezes, são frutos de um estilo de vida não ativo, com um maior tempo sentado e um tempo menor de atividade física. • Pesquisas científicas mostram a eficiência da prática de natação como intervenção, para prevenir ou reduzir as doenças cardiometabólicas e DCNTs. 169 AUTOATIVIDADE 1 As Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário, da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), recomendam a prática de atividade fí- sica para crianças e adolescentes (5 a 17 anos de idade), pois possibilita ganhos para diversos parâmetros da saúde. Assinale a alternativa CORRETA: Fonte: OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário: num piscar de olhos. Tradução: Edina Maria de Camargo; Ciro Romelio Rodriguez Añez [S.l.]: OMS, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3U140Qa. Acesso em: 20 out. 2022. a) ( ) Crianças e adolescentes devem fazer em torno de 60 minutos por dia de atividade física de intensidade moderada a vigorosa. b) ( ) Crianças e adolescentes não devem fazer atividade física, pois estão em desenvolvimento motor e morfológico. c) ( ) Crianças e adolescentes devem fazer em torno de 30 minutos por dia de atividade física de intensidade moderada a vigorosa. d) ( ) Crianças e adolescentes devem fazer em torno de 60 minutos por dia de atividade física de intensidade leve. 2 Segundo as Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário, da OMS (2020), os benefícios da atividade física para adultos (18 a 64 anos de idade) são impressionantes para a saúde, diminuindo a mortalidade por diversas causas. Assinale a alternativa CORRETA: Fonte: OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário: num piscar de olhos. Tradução: Edina Maria de Camargo; Ciro Romelio Rodriguez Añez [S.l.]: OMS, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3U140Qa. Acesso em: 20 out. 2022. a) ( ) Adultos devem fazer em torno de 15 a 30 minutos por semana de atividade física aeróbica com intensidade moderada ou, pelo menos, 5 a 7 minutos por semana com intensidade vigorosa, sendo recomendado praticar treinamento de força para os principais grupamentos musculares com moderada intensidade, proporcionando benefícios adicionais à saúde. b) ( ) Adultos devem fazer em torno de 150 a 300 minutos por semana de atividade física aeróbica com intensidade moderada ou, pelo menos, 75 a 150 minutos por semana com intensidade vigorosa, porém não é recomendado praticar treinamento de força. 170 c) ( ) Adultos devem fazer em torno de 150 a 300 minutos por semana de atividade física aeróbica com intensidade moderada ou, pelo menos, 75 a 150 minutos por semana com intensidade vigorosa, sendo recomendado praticar treinamento de força para os principais grupamentos musculares com moderada intensidade, para proporcionar benefícios adicionais à saúde. d) ( ) Adultos não devem fazer atividade física aeróbica, sendo recomendado apenas praticar treinamento de força para os principais grupamentos musculares, com intensidade moderada, para proporcionar benefícios para a saúde. 3 Conforme as Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário, da OMS (2020), a recomendação de atividade física realizada por idosos (65 anos de idade ou mais) afeta positivamente a sua saúde, diminuindo a mortalidade por diversos tipos de doenças. Assinale a alternativa CORRETA: Fonte: OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário: num piscar de olhos. Tradução: Edina Maria de Camargo; Ciro Romelio Rodriguez Añez [S.l.]: OMS, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3U140Qa. Acesso em: 20 out. 2022. a) ( ) Idosos devem participar de programas de atividade física, com duração em torno de 50 a 30 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada ou, pelo menos, 7 a 15 minutos com uma intensidade vigorosa por semana, além de treinamento de força de moderada intensidade que envolva os principais grupamentos musculares em dois ou mais dias da semana, para ganhos extras à saúde. Também é recomendado que os idosos realizem atividades físicas multifatoriais que trabalhem equilíbrio e força, em moderada intensidade, em três ou mais dias na semana, tendo os benefícios de aumento da capacidade funcional e prevenção de quedas. b) ( ) Idosos devem participar de programas de atividade física, com duração em torno de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada ou, pelo menos, 75 a 150 minutos com uma intensidade vigorosa por semana. Também é recomendado que façam treinamento de força de intensidade moderada, que envolva os principais grupamentos musculares em dois ou mais dias da semana, para ganhos extras à saúde. Também é recomendado que os idosos realizem atividades físicas multifatoriais que trabalhem equilíbrio e força, em moderada intensidade, em três ou mais dias na semana, tendo os benefícios de aumento da capacidade funcional e prevenção de quedas. c) ( ) Idosos devem participar de programas de atividade física, com duração em torno de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada ou, pelo menos, 75 a 150 minutos com uma intensidade vigorosa por semana, não sendo recomendado o treinamento de força, devido ao risco de lesão. d) ( ) Idosos não devem participar de programas de atividade física aeróbica de vigorosa intensidade, apenas de treinamento de força de moderada intensidade e que envolva os principais grupamentos musculares em dois ou mais dias da 171 semana. Também é recomendado que os idosos realizem atividades físicas multifatoriais que trabalhem equilíbrio e força, em moderada intensidade, em três ou mais dias na semana, tendo os benefícios de aumento da capacidade funcional e prevenção de quedas. 4 A OMS (2020) recomenda atividade física, baseada em evidências científicas, para crianças, adolescentes, adultos e idosos em frequência, intensidade e duração necessárias para promover benefícios à saúde e minimizar o risco de doenças. Quais são os riscos que o comportamento sedentário pode trazer para a saúde dos indivíduos? Fonte: OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes da OMS para atividadefísica e comportamento sedentário: num piscar de olhos. Tradução: Edina Maria de Camargo; Ciro Romelio Rodriguez Añez [S.l.]: OMS, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3U140Qa. Acesso em: 20 out. 2022. 5 Existem muitas estratégias para a prática de atividade física. Nesse sentido, a natação pode ser uma das estratégias utilizadas para se chegar até o objetivo de melhora da saúde e da qualidade de vida dos indivíduos. Entretanto, a natação tem benefícios adicionais. Disserte sobre esses benefícios. 172 173 TÓPICO 3 - PRÁTICA DA NATAÇÃO COMO LAZER 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos como o lazer é inserido no ambiente aquático, conhecendo parâmetros históricos e culturais para formação do lazer e analisando situações que contrapõem ideais de lazer a outros pontos de atividades humanas. Com o decorrer do tempo, predominantemente, o lazer é considerado em âmbito da vida social livre de obrigações ou uma ocupação em que não se trabalha ou estuda. Ainda abordaremos o lazer não como um momento ocioso, mas, sim, como uma necessidade humana. Veremos como os profissionais e a sociedade como um todo têm olhado para a natação como lazer, e quais oportunidades a sociedade tem proporcionado para essa prática no âmbito do lazer. Embora associada ao lazer, tendo entendimento de que o lazer é uma necessidade humana, a natação também é necessária como qualquer desenvolvimento motor e social, como andar, correr saltar e, até mesmo, no que tange às habilidades motoras finas de se alimentar. UNIDADE 3 2 A IMPORTÂNCIA DO LAZER Nas antigas sociedades ou sociedades modernas industrializadas, o lazer possibilitou um pensamento reflexivo sobre a sociedade e, com o passar do tempo, uma diversidade de autores o considerou um ambiente de não trabalho. Essa compreensão se evidencia, proporcionalmente, na Inglaterra, no século XX, durante a Revolução Industrial, de maneira que as transformações, estimuladas nessa circunstância histórico-social, criaram novos parâmetros, afetando os centros urbanos, como o trabalho, a economia, a política, a saúde, a educação e mais uma variedade de parâmetros, assim como os tradicionais princípios de espaço e de tempo, até então, atuais. O lazer, evidentemente, participou de modo ativo nesse processo. Graças às caraterísticas que, fundamentalmente, lhe são dadas, como falta de produtividade, prazer e liberdade, chamadas de tempo livre, transmite a ideia de ser oposto ao trabalho. No percurso do século XX, esses princípios foram influenciadores dos parâmetros do lazer e disseminados em todas as sociedades, mantendo-se existentes até os dias atuais. 174 No entanto, há uma interpretação europeia sobre o lazer, na medida em que continente europeu, com seus hábitos e instituições, é considerado fundamental e originador para o surgimento universal do lazer (REJOWSKI; GOMES, 2004). O conceito de lazer contraditório ao do trabalho industrial capitalista surgiu na Europa no século XIX, enfatizando essa compreensão amplamente e considerando que o lazer foi gerado a partir do desenvolvimento tecnológico e, exatamente por isso, é resultado da sociedade moderna urbana. O lazer corresponde a uma libertação recorrente de tempo no final do ano, da semana, do dia e do próprio trabalho, quando não há a necessidade de trabalhar mais (DUMAZEDIER, 1976). Ao observarmos esses pontos, a existência do lazer estaria relacionada ao trabalho e à utilização de tempo livre no contexto das cidades urbanas, dos indivíduos que têm uma delimitação de espaço e de tempo bem dividida. Ter uma visão possível para compreensão e fundamentação do lazer, embora seja indispensável o seu conhecimento, não é o único conceito; essa compreensão dividida colabora com o aperfeiçoamento de uma lógica progressiva e avançada, que tem como objetivo definir os tempos, os históricos, as culturas, os conhecimentos e as práticas de todos os contextos e de todos os povos que, por sua vez, devem atingir uma progressão em um todo na sua concepção de lazer (REJOWSKI; GOMES, 2004). É evidente e indispensável que haja uma maior nitidez sobre a diferença substancial entre uma deliberada prática social e os seus parâmetros, que são realizados com o propósito de qualificá-la, especificá-la e compreendê-la. Essa atividade, ainda que importante, terá sempre limitações, pois a realidade existente é muito mais complicada do que as nossas interpretações e os entendimentos sobre ela. Mesmo que tenha aparência de um conceito neutro e justo, toda produção teórica tem conceitos políticos e ideológicos, mas nem sempre isso é discutido abertamente. No entanto, é necessário compreender que cada conceito mostra lacunas de visões diferentes, correspondendo a compressões sociais, identidade, visões do mundo, projetos políticos da sociedade e conhecimento intelectual, de maneira que há uma particularidade em cada um deles, com a sua própria definição e compressão de lazer (REJOWSKI; GOMES, 2004). Acerca desse aspecto, é cada vez mais claro que o entendimento de lazer, como um ponto diferente ao trabalho, não tem conseguido sustentar os seus argumentos, tendo um alto padrão de complexidade e de movimentos que marcam as várias faces da vida social em diferentes espaços e cenários. O posicionamento de trabalho e lazer é cada vez mais incompatível; com a flexibilização laboral, junto à decorrente divisão internacional do trabalho e ao salto tecnológico, que derrubou barreiras de localização, fica bem evidente que os limites entre ambos são cada vez mais discretos e indefinidos no parâmetro social do dia a dia, podendo-se evidenciar alguns dos contextos que, necessariamente, apontam que certas categorias, formalmente utilizadas para conceituar o lazer, necessitam ser analisadas e, novamente, conceituadas. 175 As mudanças processadas na Europa, no decorrer do XIX, foram cruciais para motivar a produção de fundamentos teóricos que descrevem as configurações do lazer como tema de discussão social, associado ao trabalho industrial capitalista. Dessa forma, o lazer foi fundamentado, estudado e pesquisado tendo um ponto de vista bem específico. Entretanto, isso se tornou verdade unitária, única e absoluta, negligenciando não apenas outros termos sociais, mas também outras caraterísticas da vida social que estão além do trabalho industrial. Além disso, essa lógica dividida deixa imperceptível outras maneiras de perceber e entender as várias realidades sociais existentes no mundo, contornando as possibilidades de que o lazer possa ser compreendido, questionado e investigado em uma variedade de contextos socioculturais e que apresentam características de diferenças indispensáveis a nossa compreensão. Com essa coerência, é fundamental questionar o conhecimento predominante do lazer como momento oposto ao trabalho. Pontos de vista como esses extinguem o aprofundamento do assunto; oposições imprecisas do lazer, sobretudo em visões minoritárias, terminam no que Santos (2002) chama de produção da não existência. Assim, mesmo que haja importância nos ambientes locais, uma variedade de experiências de lazer, separação e industrialização socioeconômica, socioemocional, socioeducacional é capaz de se tornar imperceptível, entendidas como não existentes no ambiente mais amplo. Isso ocorre com várias práticas sociais não dominantes, o que leva a entender, pelo menos em parte, a diferença e o incômodo causados em vários estudiosos que não admitem a presença do lazer em ambientes minoritários, como pessoas de culturas diferentes ao padrão social adotado. Nesse sentido, é como se o lazer não fizesse parte daquela coletividade menor, bem como seus valores e convicções não correspondessem ao modelo padrão da sociedade. Dessa maneira, tem-se como restrito o lazer apenas para padrões a serem seguidos socialmente, tornando-se imperceptível o lazer em determinados ambientes. Apesar de diferentes pontos de vistas na tentativa de compreendermos o lazer, discordamos que a sua existênciase torna possível somente em ambientes urbanizados com padrões sociais majoritários e em oposição ao trabalho, uma vez que o lazer pode chegar a todos, independentemente de seu âmbito social e cultural. 2.1 LAZER COMO NECESSIDADE HUMANA E PERSPECTIVA CULTURAL A compreensão do lazer como necessidade humana e dimensão sociocultural é necessária para darmos início à produção linear sobre o problema. Seguindo esse contexto de entendimento e pesquisa, o que, geralmente, é conceituado como lazer está fundamentado fortemente na ludicidade e construído em cima de uma prática social de ampla complexidade, que abrange uma variedade de evidências vividas culturalmente e situadas em diferentes contextos, e não apenas nas denominadas sociedades modernas (NASCIMENTO; INÁCIO, 2015). 176 Independentemente de serem poucos conhecidos, há uma variedade de estilos de vida atualmente vigentes, como quilombolas, indígenas, ciganos e estrangeiros, entre tantas outras que podem ser descritas. A sociedade minoritária, em específico, nem sempre terá uma palavra que contextualize o termo lazer, deixando, assim, de nomear práticas sociais vivenciadas dentro do seu âmbito, tendo como oportunidades de usufruir de culturas do seu cotidiano. Entretanto, reconhecer o lazer apenas por intermédio da existência de uma palavra ou de um fundamento seria um caminho muito breve e insuficiente, quando olhamos as barreiras para compreendê-lo e discuti-lo de forma mais simples, ou seja, considerando algumas características históricas, sociais e culturais que demonstram uma variedade de individualidades locais. A identificação dessas características demonstra grandes desafios para indivíduos que pretendem discutir o lazer em diversas realidades e pontos de vista. Dessa forma, nem sempre existe uma palavra ou um fundamento específico para resumir as comemorações festivas, as práticas corporais (danças, lutas, atos religiosos, entre outros), as músicas e as diversas experiências que a sociedade conceitua como lazer, que têm significado e sentidos bem parecidos para as pessoas que vivenciam essas práticas lúdicas. Esse parecer não significa que o lazer é fundamentado minimamente, por ingenuidade, como algo autêntico. Além disso, cada vez que ocorre interação e, como resultado, a apropriação, por parte de outros grupos, de valores, contextos e maneiras de impulso próprias do raciocínio humano de produção e consumo, uma grande parte é alcançada pelos meios invasivos da comunicação ou grande mídia. Essas perturbações estão presentes em diversos âmbitos e contextos, apontando para relevância de demonstrar outras possibilidades para se fundamentar e contextualizar o lazer, para que possamos ir além do conhecimento tradicional e restrito, que o define como mero tempo sem trabalho. Em um sentido bem mais amplo, compreendemos o lazer como uma necessidade humana de dimensão cultural, formada em um ambiente de vivências com práticas sociais lúdicas por um indivíduo, presente no dia a dia, em diversos lugares e contextos sociais (REJOWSKI; GOMES, 2004). Analisando esses parâmetros, o lazer é constituído por três âmbitos fundamentais: ludicidade, manifestações culturais e ambiente social. 2.1.1 Lazer e ludicidade A ludicidade pode se manifestar de várias formas – verbal, visual e motora são algumas bem conhecidas – que se tem ao longo de toda a vida, e não apenas na infância. Dentro desse processo, é atividade fundamental, uma vez que a ludicidade é concebida culturalmente e envolvida por uma variedade de fatores, como regras educacionais, princípios morais e normas políticas e sociais, tendo, assim, tradições, valores e costumes como opositores atuais em cada cultura. 177 A ludicidade estimula sentidos com o simbólico e altera as emoções, com um emaranhado de alegria e prazer, liberando a renúncia da entrega do ser humano. Esses aspectos poéticos, e até filosóficos, passam no decorrer da vida de sujeito para outro. 2.1.2 Lazer e manifestações culturais A manifestação cultural está inserida no lazer, sendo composta por práticas sociais vivenciadas com o deleite como decorrer cultural. Pode ser exemplificada com festas, jogos, brincadeiras, passeios, viagens, danças, teatros, música, cinema pintura, desenho, esportes (natação) e outras várias possibilidades. Essas e outras formas de lazer são fundamentais para o ser humano as vivenciam. O lazer abrange, ainda, práticas culturais mais direcionadas para âmbitos mais calmos e sossegados, como meditação e relaxamento, uma vez que esses processos podem proporcionar experiências de lazer devido ao seu potencial de reflexão. Possibilidades como essas são alvos de pensamentos contrários, pois vão na contramão da lógica produtivista que reina em nossa sociedade desde a Revolução Industrial, momento que o ócio passou a ser marcado como algo que não produz, ou seja, uma perda de tempo (GOMES, 2010). 2.1.3 Lazer no ambiente social Com relação ao lazer no ambiente social, devemos enfatizar a questão de tempo e espaço, embora, na maioria das vezes, seja negligenciado o espaço, dando uma maior visão para o tempo, no sentido da questão do tempo que se passa fora do trabalho ou da escola, o que indica a subjetividade das compreensões, que elegem o lazer como o tempo da não obrigatoriedade, como se a vida fosse feita de situações e momentos isolados. Não há uma linha delimitadora entre o trabalho e o lazer, tampouco entre as demais habilidades sociais vivenciadas pelo ser humano (GOMES, 2004). O tempo/espaço social é produzido, portanto, como condição de possibilidade das relações sociais e da natureza, através da qual a sociedade, ao mesmo tempo em que produz a si mesma, transforma a natureza e dela se apropria (LEFEBVRE, 2008), ou melhor, com ela interage. Assim sendo, o tempo/espaço é um produto das relações sociais e da natureza e constitui-se por aspectos objetivos, subjetivos, simbólicos, concretos e materiais, evidenciando conflitos, contradições e relações de poder (GOMES, 2014, p. 15). Essa necessidade é satisfatória em uma variedade de formas, segundo os valores e os interesses dos seres humanos, dos grupos sociais e das instituições, em âmbitos de contexto histórico, social e cultural. 178 3 A NATAÇÃO COMO LAZER A natação, no âmbito do lazer, tem se mostrado cada vez mais importante, não apenas na questão das aulas de natação serem fora do ambiente de trabalho, mas, sim, por serem bem simples, exemplificadas como um momento de lazer com a família e os amigos em um clube ou em uma piscina no fim de semana, devendo-se estar apto para tal. A natação não é apenas o momento de lazer, ou seja, ela pode preparar o indivíduo para aquele momento. A natação não deve ser tratada apenas como uma disciplina com partes pedagógicas nem como apenas o treinamento para atletas, pois está relacionada com o lazer e pode ser trabalhada em variados contextos, como escolas, trabalho, clubes, praia e piscinas particulares – então, na maioria das vezes, a natação já vai estar ligada ao lazer. 3.1 A NATAÇÃO COMO DIMENSÃO DE LAZER EM UM AMBIENTE SOCIAL A natação está introduzida em um ambiente social, mas será que a natação é sempre uma forma de lazer? Há a prática da natação de um atleta, que tem que nadar 6 a 7 dias por semana, até 3 treinos por dia, em que esse treinamento leva a um desgaste físico e emocional. Outro exemplo seria um indivíduo que necessita aprender a nadar para uma viagem no final do ano e faz três aulas por semana de técnicas, que ele não queria fazer, porém visando ao seu objetivo de aproveitar melhor a viagem, podendo ser considerado lazer ou uma necessidade. Percebemos que ainda é pouco conhecido esse contexto e que gera uma discussão em meio ao uso da natação como ferramenta de lazer. Olhando para os parâmetros já abordados como ludicidade, manifestações culturais e ambiente social, podemos associar a natação com o lazer nesses contextos. Ao observarmos um ambiente de natação, podemos considerarque ele tem ludicidade ou não, percebendo também se aquela manifestação cultural faz parte daquela concepção de cultura e se esse ambiente social de tempo e espaço suporta o contexto da natação (KOÇ et al., 2019; LENNEIS; AGERGAARD, 2018; RAMOS; ANDERSON; LEE, 2018; THOMSON; KEARNS; PETTICREW, 2003). 3.1.1 Natação e lazer em uma concepção lúdica Olhando apenas para a natação, podemos considerá-la lúdica ou apenas mais um esporte. Analisando a natação como parte pedagógica, ou seja, apenas a aprendizagem, sem olharmos para o contexto lúdico do prazer, e averiguando a palavra 179 “lúdico” na sua etimologia, que significa jogo, diversão ou gracejo, podemos dizer que tem muito a ver com o lazer, e nada com a natação que já foi desenvolvida até agora. A natação, como qualquer outra prática que possa ser disposta em um âmbito de lazer, deve se constituir da ludicidade, pois, como anteriormente abordado, a ludicidade não é apenas um contexto para criança, mas para toda a vida do indivíduo. Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde, representar determinado papel na brincadeira, faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação, da utilização e da experimentação de regras e papéis sociais (LOPES, 2006, p. 110). Assim, independentemente de o contexto ser de lazer ou não, o lúdico deve fazer parte da natação, para que essa sensação de prazer possa proporcionar valores positivos, tanto na vida social, educativa como, até mesmo, no desempenho trabalhista. 3.1.2 Natação e lazer nas manifestações culturais A natação não faz parte da cultura apenas da atualidade, mas se perde entre a história, podendo ser mais antiga do que a própria humanidade; há uma frase, do filósofo e matemático Platão, de 428 a.C., “todo homem culto tem que saber ler, escrever e nadar”, ou seja, a natação faz parte da cultura mundial. A cultura é bem ampla e abrange uma diversidade de pessoas do mundo todo, cada povo com suas tradições. Nesse contexto, devemos analisar se o ambiente e a cultura que temos hoje proporcionarão uma herança de movimentos aquáticos, para que possamos deixar para próxima geração, e assim por diante. No contexto da natação como manifestação cultural no âmbito do lazer, logo percebemos uma grande identificação, pois vemos a natação relacionada a churrascos, casas de praias ou, até mesmo, em águas abertas, no contexto próprio de mar ou rio bem forte na nossa cultura e no nosso tempo de lazer. 3.1.3 Natação e lazer em um ambiente social Já a natação em um ambiente social, sabendo que esse ambiente exalta fatores como o tempo e o espaço, há um certo olhar mais para o tempo, porém o espaço deve ser considerado, principalmente no caso da natação, uma vez que, se não temos o espaço, não temos a natação propriamente dita. 180 No ambiente social, logo vemos que há uma diferença social bem forte no hábito da natação não apenas na questão de lazer, pois podemos analisar também em provas e nos jogos olímpicos, em que a natação participa, quantos negros ganham medalhas ou mesmo competem nessas provas. Nesse sentido, vemos que tanto etnia como parâmetros financeiros podem influenciar na questão da natação como forma de lazer, porém, na maioria das vezes, ela acontece. 181 NATAÇÃO PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA Lilian Cristina Gomes do Nascimento Alejandra Colmenares Pineda Gisélia Gonçalves de Castro Maria Georgina Marques Tonello INTRODUÇÃO Atividades físicas e esportivas estão sendo cada vez mais utilizadas para contribuir com o desenvolvimento de pessoas com deficiência, entretanto, as peculiaridades e neces- sidades para o desenvolvimento de atividades específicas para estes indivíduos continuam sendo um desafio para grande parte dos profissionais (RODRIGUES; LIMA, 2014). Segundo a American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD, 2012), a pessoa com Deficiência Intelectual (DI) é caracterizada por apresentar “limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, tal como se expressa nas habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas, originadas antes dos 18 anos”, sendo que estas são originadas por causas múltiplas e variadas (PALOMINO; PAREJA; COLL; LÁIZ, 2015). Pessoas com DI sofrem múltiplas desvantagens sociais e desigualdades significativas em saúde. Padrões dietéticos não saudáveis e baixos níveis de atividade física têm contribuído para o aumento da prevalência de obesidade e diabetes (BALOGH et al., 2015) em adultos com DI. Portanto, apoiar adultos com DI a fazer mudanças positivas no estilo de vida é uma prioridade para reduzir as desigualdades na saúde (EMERSON et al., 2011). A prática esportiva, voltada para pessoas com deficiência, ganha, atualmente, um maior reconhecimento social, essa população vem conquistando seu espaço dentro das ciências do esporte, tornando essa prática reconhecida como atividade física adaptada (AFA) e como o esporte adaptado. Apesar desse crescimento, a contribuição de estudos, nesse campo de pesquisa, ainda segue sendo escassos (TEJERO; VAÍLLO; RIVAS, 2012; RODRIGUES; LIMA, 2014; PALOMINO; PAREJA; COLL; LÁIZ, 2015). Os esportes aquáticos são uma forma de atividade física leve a moderada, que pode ser considerada apropriada para pessoas com deficiências. É uma atividade física em um ambiente sensorial diferenciado e pode ser adaptada para atender às necessidades de cada indivíduo que possa participar. A água produz respostas LEITURA COMPLEMENTAR 182 sensoriais diferentes do ambiente típico e o movimento no ambiente aquático provoca uma resposta sensorial diferenciada. A flutuabilidade é outra característica vantajosa da água, pois permite maior interação com o instrutor (GETZ et al., 2007). Os esportes aquáticos podem incluir natação, exercícios na água e/ou sessões recreativas. O objetivo desse estudo foi identificar estudos que abordem a natação adaptada para pessoas com deficiência intelectual e discutir quais principais temáticas de estudo na área. MÉTODO Para a realização desse estudo, foi utilizado o método de revisão integrativa da literatura, foram selecionadas as seguintes bases de dados PubMed, SPORTDiscus, Web of Science e Biblioteca Cochrane. Buscou-se artigos científicos publicados entre os anos 2005 e 2015, que abordaram em seu conteúdo a utilização da natação para pessoas com DI. A busca foi realizada através dos termos em inglês “swimming” e “intellectual”, com a utilização nos campos de busca do termo boleano “AND”. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os artigos selecionados para esta revisão serão apresentados segundo a temática que abordaram em seu objetivo. Das 17 publicações selecionadas, apenas uma retratou a natação como terapia, três utilizaram a natação como meio facilitador para a inclusão de pessoas com deficiência, cinco abordaram métodos adaptativos para o ensino de natação a população-alvo, quatro abordavam variáveis de componentes de adaptação fisiológica e comportamental que o treinamento de natação pode propiciar as pessoas com DI e quatro estudos verificaram aspectos relacionados com o desempenho de atletas de natação com DI. Diante da constatação de que jovens com DI também apresentam atrasos no desenvolvimento motor e na capacidade de desenvolver tarefas de coordenação, Rodrigues e Lima (2014) utilizaram a natação como um recurso terapêutico. Os resultados encontrados no estudo mostraram uma melhorar a coordenação de adolescentes com DI e ressaltaram os benefícios da natação para a promoção da saúde dessas pessoas. Sullivan e Glidden (2014) demonstraram em seu estudo que, após umainter- venção trabalhando na natação inclusiva com componentes cognitivos, emocionais e comportamentais nos nadadores, esta metodologia pode acarretar mudanças favorá- veis nas atitudes dos participantes sem deficiência, passando estes a apresentarem-se mais partidários à inclusão de pessoas com deficiência. No entanto, ainda não são co- nhecidos o quão essas mudanças atitudinais dos participantes são duradouras. Ninot, Billard e Delignières (2005) verificaram que não há diferença entre a autoestima das pessoas com DI que praticam natação integrada ou segregada, e sugerem que a participação de adolescentes com DI diante de práticas esportivas 183 integradas seja um recurso favorável, mas esta prática deve ser bem controlada pelo profissional que coordena a atividade, a fim de se obter resultados favoráveis a inclusão. Ninot e Maiano (2007) argumentaram que a prática esportiva deve se centrar em como favorecer a participação desportiva de pessoas com DI para melhorar a sua aceitação social. Este estudo propõe a comparar os efeitos de diferentes modalidades esportivas na competição atlética e aceitação social de adolescentes com DI. Os autores verificaram que os domínios do tempo são mais sensíveis aos estímulos ambientais para prover a aceitação social, afirmando ainda que os professores de educação física são mais flexíveis no contexto social. Portanto, tanto o trabalho, o Ninot, Billard e Delignières (2005) e Ninot e Maiano (2007) ressaltaram a importância da atitude do profissional que está conduzindo a prá- tica esportiva para o sucesso da natação como um meio de inclusão de pessoas com DI. Assim, podemos inferir que, para obter resultados favoráveis em relação a inclusão é de suma importância uma formação profissional adequada, sendo este fator primordial para os profissionais que estão envolvidos neste trabalho. Em cada curso de formação em esporte e ciências do exercício, pode observar um árduo processo pedagógico de ensino, o objetivo e um dos focos dos professores deveria ser em como melhorar a sua própria atuação pedagógica (ensino) e sua eficácia, ou seja, como atuar para assegurar uma igualdade de oportunidades para o desenvolvimento ideal para o desenvolvimento de todos os participantes (ZENIC; GRČIĆ-ZUBČEVIĆ, 2005). No estudo de Freitas e Rodrigues (2007), o participante tinha concomitante com a DI, uma deficiência física e visual. Todos os trabalhos selecionados para compor o presente quadro, retrataram métodos de ensino para as crianças (com idades entre 6 e 12 anos), ou seja, pode-se observar que nenhum trabalho abordou métodos de instrução de natação para adultos, embora que no trabalho de Nikolova e Treneva (2007) relatam que durante a sua abordagem esteve presente um jovem com DI, todavia sem maiores explanações apenas refere que este não foi incluído como participante da investigação. Foram observados em todos os estudos que com a intervenção proposta os participantes conquistaram um aumento em suas habilidades aquáticas e apontaram assim, a natação como um instrumento que pode favorecer o desenvolvimento de crianças com DI. Ademais, uma variável em comum foi que os estudos apontaram um atraso de tempo para mudar de tarefa como um fator positivo a ser incluído na metodologia adaptada. Pessoas com DI tendem a ser 30% mais obesos e 7% mais extremamente obesas do que as pessoas sem deficiência (RIMMER; YAMAKI, 2006), assim, diante dessa pre- missa, Casey et al. (2010) e Casey, Mackenzie e Rasmussen (2012) propuseram verificar, respectivamente, os efeitos de 16 e 13 semanas de um treino de natação no percentual de gordura corporal de pessoas com DI. Os pesquisadores verificaram que o treinamento proposto por eles não foram eficazes para efetivar a perda de gordura corporal, nem nas crianças tampouco nos adultos com DI participantes das pesquisas. Em contrapartida, 184 encontraram como resultado positivo do estudo a comprovação dos níveis de segurança dessa atividade a níveis moderados e vigorosos para pessoas com DI. Apesar da natação não ter sido apontada como uma promotora dos benefícios fisiológicos para praticantes com DI, como previamente apurados por Jones et al. (2006), tal fato demonstra a ne- cessidade de maiores investigações acerca dos mecanismos fisiológicos e protocolos de intensidade frente ao treinamento de natação para pessoas com DI. A adaptação metodológica é fundamental para o sucesso das atividades de pessoas com ou sem deficiência, em particular para as pessoas com DI, pois estas apresentam peculiaridades que devem ser exploradas e levadas em consideração, como o comum atraso de desenvolvimento e a percepção de visão seletiva, na qual alguns estímulos do entorno podem dificultar a concentração, ou ainda, observar como outros estímulos são comumente ignorados (BOUTCHER, 2002). Palomino et al. (2015) observaram que o tempo de reação a estímulos visuais é menor em atletas sem deficiência intelectual, quando comparado com atletas com deficiência; esta descoberta é um fator que deve ajudar no momento de programação dos exercícios, a fim de atuar para poder melhorar o tempo de reação nesse grupo, pois saber as peculiaridades de cada parâmetro a ser trabalho com as pessoas com DI é algo fundamental em todos os esportes. CONCLUSÕES O melhor entendimento da relevância da natação adaptada é de suma importância para melhorar a saúde de pessoas com DI. As descobertas relatadas aqui fornecem um ponto de partida útil para desenvolver uma compreensão e destacar os benefícios de programas natação para pessoas com DI. Podemos concluir que a natação para pessoas com deficiência intelectual é uma área de grande interesse, visto a diversidade de temas abordados nos artigos selecionados para essa revisão. Sendo as áreas temáticas abordadas: reabilitação, inclusão social, aspectos do desenvolvimento, intervenção e investigação e estudos enfocando o alto rendimento. Todos os estudos apresentados apontam uma contribuição significativa da natação para a saúde das pessoas com deficiências intelectuais. No entanto, há a necessidade de replicar esses achados em outros estudos, precisamos desenvolver uma compreensão mais sofisticada do tema. Sugerimos também futuras pesquisas que verifiquem os efeitos de outras intervenções na água, como a terapia aquática, exercícios na água, andar em água, hidroterapia e jogos aquáticos para essa população. Fonte: adaptada de NASCIMENTO, L. C. G. et al. Natação para indivíduos com deficiência intelectual: uma revisão integrativa. PODIUM Sport, Leisure and Tourism Review, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 140-150, jan./abr. 2019. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/podium/article/view/12940/6395. Acesso em: 7 set. 2022. https://periodicos.uninove.br/podium/article/view/12940/6395 185 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • As concepções de lazer em diversos parâmetros, e não apenas como um horário em que o sujeito não está trabalhando. • A contextualização do que realmente é lazer e como isso importa para vida do ser humano. • Os contextos históricos, tanto do lazer quanto da natação, desenvolvendo um senso crítico sobre toda a discussão, pois o lazer é uma necessidade humana, enquanto a natação também é necessária como qualquer desenvolvimento motor e social, como andar, correr saltar e, até mesmo, no que tange às habilidades motoras finas de se alimentar. • A natação e o lazer em âmbitos como ludicidade, a qual estimula sentidos com o simbólico e altera as emoções, com um emaranhado de alegria e prazer; movimentos culturais, compostos por práticas sociais vivenciadas com o deleite como decorrer cultural, exemplificados com festas, jogos, brincadeiras, passeios, viagens, danças, teatros, música, cinema pintura, desenho, esportes (natação) e outras várias possibilidades; e ambientes sociais, que enfatizam a questão de tempo e espaço, pois não há uma linha delimitadora entre o trabalho e o lazer tampouco entre as demais habilidades sociaisvivenciadas pelo ser humano. 186 AUTOATIVIDADE 1 Na concepção de lazer, podemos compreender que o seu contexto é muito mais amplo que o contexto minimalista trazido durante a história. Sobre a concepção de lazer contextualizado, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O lazer não está relacionado ao trabalho nem à utilização de tempo livre no contexto das cidades urbanas. b) ( ) O lazer está relacionado ao trabalho e à utilização de tempo livre no contexto das cidades urbanas. c) ( ) O lazer não está relacionado ao trabalho nem à utilização de tempo livre no contexto apenas das cidades rurais. d) ( ) O lazer está relacionado ao trabalho e à utilização de tempo livre no contexto apenas das cidades rurais. 2 O lazer é multifatorial e não depende de um padrão isolado. Sobre os três parâmetros do lazer, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Ludicidade, manifestações culturais e ambiente social. b) ( ) Locomoção, manifestações culturais e ambiente social. c) ( ) Ludicidade, manifestações culturais e ambientalista. d) ( ) Ludicidade, manifestações de interesse e ambiente social. 3 A ludicidade pode se manifestar de várias formas bem conhecidas ao longo de toda a vida dos indivíduos, e não apenas na infância. Sobre algumas formas bem conhecidas de ludicidade, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A ludicidade não pode ser manifesta. b) ( ) A ludicidade pode se manifestar de forma verbal, visual e motora. c) ( ) A ludicidade pode se manifestar apenas de forma verbal. d) ( ) A ludicidade pode se manifestar apenas de forma visual 4 A natação não deve ser tratada apenas como uma disciplina com partes pedagógicas nem como apenas o treinamento para atletas, pois está relacionada com o lazer e pode ser trabalhada em variados contextos. Em seu conceito de lazer, disserte como a natação pode ser inserida e compreendida em uma concepção lúdica. 5 Olhando para o lazer inserido em um ambiente aquático, podemos considerar que as manifestações culturais e o ambiente social que o indivíduo está inserido têm um grande valor para a contextualização da inserção da natação no ambiente de lazer? 187 REFERÊNCIAS BIELEC, G.; GOZDZIEJEWSKA, A.; MAKAR, P. Changes in body composition and anthropomorphic measurements in children participating in swimming and non- swimming activities. Children, v. 8, n. 7, 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Síndrome Pós-Poliomielite e Comorbidades. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. BVSMS – BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Ministério da Saúde. Paralisia cerebral. BVSMS, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3FwaBON. Acesso em: 20 out. 2022. CIULLO, J. V.; STEVENS, G. G. 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