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Sangramentos na criança O diagnóstico geralmente é rápido, pois sangramento assusta os pais, que procuram logo atendimento. HEMOSTASIA: pode ser primária (relação entre vaso sanguíneo e plaquetas) ou secundária (cascata da coagulação). MANEJO INICIAL DA CRIANÇA: História clínica detalhada: + História prévia de sangramento? Definir se é agudo ou crônico. + Como foi o sangramento? Tempo e quantidade (o que usou para secar sangramento). + Uso de medicação? Como hidantal e ácido valproico que fazem plaquetopenia; ASS. + Infecção recente? Principalmente virais até 15 dias antes, pois pode estar associada a trombocitopenia primária imune. Pode ter também plaquetopenia transinfecciosa. + História familiar presente? Como hemofilia. Exame físico detalhado: petéquias e equimoses pensar em hemostasia primária; hematomas e hemartroses em hemostasia secundária (hemartrose é difícil ocorrer por falta de plaquetas). Outros sinais incluem epistaxe, sangramento menstrual aumentado (ex. Von Willebrand). + Atentar para diagnósticos diferenciais em caso de choque com púrpura mucocutânea (pensar em meningococcemia), rash petequial da cintura para baixo com dor abdominal (púrpura de Henoch-Schönlein). ALTERAÇÕES PLAQUETÁRIAS: trombocitopenias congênitas, defeitos congênitos da função plaquetária, trombocitopenias adquiridas. Pode ter outras causas como anemia aplástica e processos infiltrativos (leucemia). TROMBOCITOPENIAS CONGÊNITAS Trombocitopenia hipoplásica congênita (TAR): trombocitopenia neonatal, com hipoplasia de megacariócitos, causando equimose e sangramento do trato gastrointestinal. Tem agenesia e aplasia de rádio e polegares (TAR – trombocitopenia com ausência de rádio); anomalias cardíacas e renais. Em caso de sangramento ou necessidade de cirurgia deve-se transfundir plaquetas. Síndrome de Wiskott-Aldrich: imunodeficiência rara ligada ao cromossomo X que acomete 4/1 milhão de crianças nascidas vivas, sendo que uma das primeiras manifestações pode ser a plaquetopenia. + Manifestações clínicas: variáveis. Síndrome clássica tem imunodeficiência combinada (infecções de repetição), eczema e trombocitopenia com plaquetas pequenas. Tem risco aumentado de desenvolver neoplasias (EBV) e doenças autoimunes. + Tratamento: o tratamento de escolha para a síndrome clássica é o transplante de medula óssea, com sobrevida de 80% em crianças menores que 5 anos. Se a criança tiver sangramento é transfusão de plaquetas. DEFEITOS CONGÊNITOS DA FUNÇÃO PLAQUETÁRIA Anemia de Fanconi: doença genética com herança autossômica recessiva, com instabilidade cromossômica causando aumento das quebras cromossômicas no cariótipo. Defeito de reparo no DNA.A Idade média ao diagnóstico é de 6,5 anos em meninos e 8 anos em meninas. + Características clínicas: baixa estatura; polegares anormais; microcefalia; manchas café com- leite; manchas hipopigmentadas e aparência facial caraterística, incluindo fendas palpebrais estreitas, epicanto e micrognatia; hipotrofia do músculo hipotênar; malformações do eixo radial; anomalias oculares; anomalias renais e gonadais; anomalias esqueléticas e deficiência mental. + Anomalias hematológicas: leucopenia ou plaquetopenia geralmente precedem a pancitopenia, associadas com celularidade diminuída de medula óssea. Manifestações ocorrem em média aos 7 anos (com sangramento). + Diagnóstico: teste chamado DEB (diepoxibutano) com sangue periférico. + Tratamento: transplante de medula óssea. Se sangramento grave transfundir plaquetas. Síndrome de Bernard-Soulier: plaquetas gigantes, leve trombocitopenia com sangramento desproporcional ao número de plaquetas. As vezes tem plaquetas diminuídas no exame porque o aparelho conta a plaqueta como hemácia.Além disso tem alteração da função plaquetária por uma falta de glicoproteína de membrana. Tem traço autossômico recessivo ou dominante, consanguinidade pode estar presente. + Clínica: sangramento moderado a grave mucosa, epistaxes, gengivorragias. + Diagnóstico: imunofenotipagem de plaquetas para avaliação de marcadores. + Tratamento: transfusão de plaquetas. TROMBOCITOPENIAS ADQUIRIDAS: causa mais comum de plaqueta baixa. Trombocitopenia primária imune (PTI): antigamente chamada de púrpura trombocitopenica idiopática, ocorre por formação de anticorpos contra plaquetas. Pode ser aguda (menos de 6 meses) ou crônica (mais de 6 meses). Em mais de 80% é autolimitada. Ocorre em 3-10 casos por ano a cada 100.000 indivíduos menores de 16 anos. Idade média aos 2-4 anos, podendo ocorrer de igual forma no sexo masculino e feminino. + Fisiopatologia: anticorpos causam sensibilização de plaquetas, levando a uma destruição acelerada dela (trombocitopenia) e aumento da produção de plaquetas (hiperplasia de megacariócitos). Os anticorpos também causam lesão e megacariócitos, causando produção deficiente de plaquetas e trombocitopenia. Há também impedimento da função das plaquetas pelos anticorpos. Tudo isso causa uma hemostasiadeficiente. + Diagnóstico diferencial: deve-se excluir infecção por HIV, doença autoimune e leucemias antes do diagnóstico deTPI. + História clínica: permite diagnóstico em 80% dos casos. Início súbito com sinais de hemorragia em pele e mucosas – petéquias, equimoses, gengivorragia e epistaxe precedida por infecção viral ou vacina de vírus vivo (2-3 semanas antes). Exame físico normal (baço impalpável), exceto pelas manifestações hemorrágicas. + Exames laboratoriais: trombocitopenia (<100.000/mm 3); anemia somente se sangramento abundante; leucócitos normais. + Aspirado de medula óssea: indicado se paciente passa 6 meses com plaqueta baixa para confirmação diagnóstica (na prática espera um mês); em caso de dúvida diagnóstica; ou criança menor que 6 meses (diferenciar de congênitas). Tem aumento do número de megacariócitos, mas sem plaquetas ao redor. + Tratamento: para crianças de até 14-15 anos depende se é uma TPI molhada ou seca, ou seja, se tem sangramento no momento da consulta (molhada) ou não (seca). É o parâmetro usado para indicar tratamento, não se usa mais número de plaquetas para isso. A TPI molhada deve ser tratada com corticoide enquanto a TPI seca não deve ser tratada. Internação só se estiver sangrando abundante e possibilidade de cuidados familiares. - Medidas gerais: para todos os pacientes - restrição temporária às atividades motoras; evitar alguns procedimentos (extração dentária); evitar o uso de algumas drogas (aspirina). - Corticóides: para TPI molhada com exclusão de leucemia. O corticoide aumenta a estabilidade vascular e aumenta a sobrevida das plaquetas (diminuição da produção de anticorpos e diminuição da fagocitose das plaquetas). ° Se sangramento pequeno a dose convencional é de 2 mg/kg por dia ou 60 mg/m² por dia de prednisona por 7 dias, com dose máxima de 80 mg/dia. ° Se sangramento abundante ou não responde a corticoide oral (não sobe plaquetas) usar metilprednisolona endovenosa 30 mg/kg por dia em infusão de 30-60 minutos por 3 dias e 20 mg/kg/dia por 4 dias, na dose máxima de 1g/dia Imunoglobulina: usado se não responde ao corticóide endovenoso. Inibe atividade de fagocitose das células reticuloendoteliais, resultando no aumento da sobrevida de plaquetas. Tratamento endovenoso com 0,8 g/kg em um dia (antes fazia 400 mg/kg por dia por 5 dias, mas nessa dose o efeito é igual, mas custa mais caro e pode ter mais efeitos colaterais). - Outros imunossupressores: caso imunoglobulina não funcione, mas resposta é bem baixa (<2%). - Esplenectomia: quando tem TPI crônica, continua sangrando e não responde a nenhuma das terapias. Não resolve pra todo mundo. - Transfusão de plaquetas: nesse caso não adianta transfundir plaquetas porque anticorpos destruirão, exceto se tem sangramento ativo em situação de risco de óbito. ALTERAÇÃO DE FATORES DE COAGULAÇÃO: DOENÇA DE VON WILLEBRAND: distúrbio hemorrágico resultante do defeito quantitativo e/ ou qualitativo do fator de von Willebrand. É a doença hemorrágica hereditária mais prevalente, afetando 1-3% da população, sendo que 10% tem doença sintomática. Eventos hemorrágicos: +Epistaxe que não cessa após 20 minutos de compressão local ou que leva a anemia com necessidade de transfusão. + Sangramentos cutâneos ou equimoses após traumatismo mínimo ou sem trauma. + Sangramento prolongado em ferimentos cortantes (≥ 15 minutos). + Hemorragia gastrointestinal que causa anemia. + Sangramento prolongado ou recorrente após cirurgias ou extração dentária. +Gengivorragia Ou sangramento Deferimento Nos lábios ou língua que recorrem dentro de 7dias. + Menorragia não associada a problemas uterinos. Diagnóstico: + Testes de triagem:tempo de sangramento (TS) prolongado ou normal (geralmente não coleta de todo mundo); TTPA prolongado ou normal; contagem de plaquetas normal. + Testes confirmatórios: dosagem fator VIII coagulante (FVIII:C); quantificação do antígeno do fator de von Willebrand (FvW:Ag); atividade de cofator de ristocetina (FvW:Rco) (avalia atividade). + Testes especiais: para avaliação de função. Não tem no HC, encaminha pro Hemepar. - Agregação/aglutinação plaquetária induzida pela ristocetina (RIPA). - Análise do padrão multimérico do fator von Willebrand. - Estudo do fator von Willebrand antiplaquetário. - Quantificação da afinidade do fator von Willebrand pelo fator VII coagulante. Tratamento: agentes estimuladores da liberação endógena do FvW (DDAVP - desmopressina) ou terapia de reposição. Adjuvantes ou alternativos incluem antifibrinoliticos, estrógenos, concentrado de plaquetas. HEMOFILIA:doença recessiva ligada ao X,mas cerca de 25-30%com nova mutação.Incidência De 20/100.000 homens. Sem predomínio de raça. Tipos: hemofilia A (deficiência fator VIII, ocorre em 80-85% dos casos); hemofilia B (deficiência fator IX, ocorre em 15-20%)
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