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Tema 02 Módulo 01

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Sistema de AMTS de Diagnóstico Nutricional: Diante da crescente incidência de doenças crônicas e de sua íntima relação com o estado nutricional e hábitos alimentares, evidencia-se a importância da aplicação dos princípios da Nutrição Clínica Funcional para a manutenção do estado de saúde e redução do risco de doenças. Sendo o sistema ATMS considerado hoje o padrão ouro para a avaliação clínica e nutricional, vale compreender de forma individual cada um de seus pontos.
Antecedentes: Os antecedentes do sistema ATMS estão relacionados à história familiar (herança genética) e de vida do paciente. Incluem fatos que ocorreram durante sua vida, desde a gestação.
Os dados coletados na anamnese para identificar os antecedentes são: hábitos de vida e de alimentação desde o nascimento, tipo de parto, atividade física, uso de medicamentos e/ou suplementos, histórico de doenças pessoais e familiares, entre outros. Pode incluir, inclusive, a saúde da mãe no momento da gestação.
O estilo de vida, principalmente no que se refere aos hábitos alimentares, pode influenciar de forma direta o desenvolvimento de doenças crônicas ou desencadear sinais e sintomas. O alto consumo de gorduras saturadas ou trans, alta ingestão de sal ou açúcar, uma alimentação pobre em fibras e desequilibrada em macro e micronutrientes são considerados fatores de risco para diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade, notadamente quando associados a um estilo de vida sedentário.
Na epigenética, acredita-se que os fatores ambientais possam se sobrepor aos fatores genéticos, uma vez que a alimentação saudável pode, inclusive, silenciar ou ativar genes associados às doenças.
A epigenética é caracterizada por um mecanismo associado a mudanças hereditárias na expressão do gene, que não envolvem alterações na sequência do DNA, sendo reversíveis e ainda podem ser herdadas entre gerações. Alterações epigenéticas estão associadas com o gene/dieta e interações gene/ambiente, resultando em metabolismo alterado de lipídeos, inflamação e outros desequilíbrios metabólicos que levam a doenças cardiovasculares e obesidade.
 Dependendo das escolhas alimentares, alguns nutrientes podem ser capazes de reverter os padrões epigenéticos anormais, e podem induzir melhoria da saúde por meio da intervenção dietética em pontos específicos de desenvolvimento, principalmente na infância.
Nesse tópico, incluem-se hipersensibilidades ou alergias a alimentos. As reações adversas aos alimentos podem gerar quadros de alergia alimentar (mediada por IgE), hipersensibilidade alimentar (mediada por IgG, IgM, IgA, IgE e células T) e intolerância (deficiência metabólica, por exemplo, intolerância à lactose por deficiência de lactase), que podem causar manifestações clínicas, como enxaqueca, dores musculares, doenças autoimunes, ansiedade, déficit de memória e concentração, transtornos emocionais, além de alterações gastrointestinais, cardiovasculares e respiratórias.
GATILHOS – “TRIGGERS”: Os gatilhos são ativados por fatores que induzem à inflamação e ao estresse oxidativo.
· Radiação 
· Traumas 
· Estresse Emocional
· Xenobióticos
· Lipopolissacarídeos Bacterianos
· Vírus e Parasitas
Quando acionados, os gatilhos aumentam a atividade do NFkB (fator de transcrição nuclear de citocinas inflamatórias).
O intestino é a principal barreira. Qualquer alteração intestinal, que curse com atrofia celular, diminuição de barreira intestinal e acréscimo da permeabilidade, aumenta a translocação de substâncias que funcionam como gatilho para desencadear uma cascata inflamatória e/ou de estresse oxidativo, alterando a atividade celular, podendo ser o principal fator para o desenvolvimento de algumas doenças crônicas.
A disbiose intestinal, estado no qual há alteração na qualidade e quantidade das bactérias intestinais (microbiota intestinal), além de proporcionar mudanças na sua atividade metabólica e também em sua distribuição no TGI (trato gastrointestinal), pode ser gatilho para doenças crônicas que cursam com inflamação e estresse oxidativo. Isso porque o intestino contém o maior reservatório de células imunocompetentes do organismo, sendo o seu desenvolvimento diretamente dependente de microrganismos intestinais. Uma microbiota saudável promove um desenvolvimento normal do sistema imune.
A disbiose intestinal pode ser avaliada de acordo com o padrão alimentar: 
· Dietas com baixo teor de fibra e excesso de carboidratos de alto índice glicêmico, principalmente açúcares, caracterizam o padrão “por fermentação”.
· Já uma dieta rica em produtos industrializados, considerados xenobióticos, pode caracterizar uma disbiose “por inflamação”.
· O alto consumo de carnes, principalmente vermelha, e embutidos, caracterizam um padrão “por putrefação”, que também está associado com inflamação.
Outra forma de identificar as alterações intestinais e, consequentemente, caracterizar um padrão de disbiose, é pela caracteristica das fezes, segundo a Escala de Bristol para Consistência de Fezes – EBCF, desenvolvida e validada por Kenneth W. Heaton e S. J. Lewis.
O formato das fezes se modifica em várias doenças intestinais, por exemplo, as diarreias infecciosas, colites, constipação intestinal, incontinência anal, doença inflamatória intestinal, entre outras. A investigação desses parâmetros durante a avaliação do paciente pode ser determinante no diagnóstico e acompanhamento dessas doenças. Além disso, a EBCF pode ser usada como método para investigar a evolução ou não do paciente, facilitando para o profissional a abordagem e a elaboração da melhor conduta nutricional.
Uma boa estratégia para o tratamento da disbiose é o programa “4 Rs” (remover, reinocular, reparar e reavaliar):
Remover: Para a estratégia de “remover” são necessários patógenos, xenobióticos e alérgenos alimentares. Em xenobióticos, estão incluídos: antibióticos, fármacos, moléculas bioativas e poluentes. Dessa forma, deve ser orientado o consumo de alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e aditivos químicos, tais como glutamato, sulfitos e nitratos que são adicionados a muitos produtos industrializados.
Reinocular: Para “reinocular” é necessário modular a microbiota intestinal. Nesse ponto, é importante investigar a ingestão de fibras e, se for necessário, fazer a suplementação com frutanos (inulina e frutooligossacarídeo – FOS), que são fibras 100% fermentáveis, além de verificar também a necessidade de suplementar probiótico. Os Lactobacillus são importantes para colonizar principalmente o intestino delgado e o gênero Bifidubacterium, para albergar o intestino grosso. A legislação brasileira, determina que a quantidade mínima viável de cepas deve estar na faixa de 108 a 109 UFC (unidades formadoras de colônia) na porção diária.
Reparar: Para “reparar” as células intestinais é necessário fornecer o substrato energético principal, ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que são produzidos quando há fermentação de fibras pelas bactérias. Além disso, a suplementação de glutamina, em torno de 5g/dia, também tem sido associada, já que esse aminoácido tem a função de favorecer a replicação celular. Outros nutrientes como zinco, ácido fólico, vitamina A e os polifenóis também são necessários para o reparo da mucosa intestinal, além do aumento da ingestão hídrica.
MEDIADORES: Como o nome já diz, os mediadores são substâncias que mediam os sintomas, ou seja, que desencadeiam as manifestações clínicas sintomatológicas, os principais mediadores estudados são:
· Hormônios
· Neuropeptídios
· Neurotransmissores
· Citocinas
· Radicais Livres
Os mediadores hormonais podem ser modulados por meio da nutrição.
O Cortisol, hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, cuja função é controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e favorecer a homeostase da glicose, pode ser modulado por: 
· Beta-sitosterol:Aparentemente este fitoesterol modula os efeitos do cortisol, em especial após o exercício.
· Fosfatidilserina: Fosfolipídios encontrados nos peixes, vegetais folhosos escuros, na soja e no arroz.É fundamental para o adequado funcionamento dos neurônios. Sua suplementação por 3 semanas reduziu os níveis de ACTH (hormônio corticotrófico ou corticotrofina) e cortisol plasmático.
· Theanine: É um aminoácido encontrado no chá-verde que atravessa a barreira hipotalâmica, exercendo propriedades psicoativas e reduzindo estresse físico e mental pelo controle dos níveis de cortisol. Além disso, aumenta a produção de GABA (ácido gama-aminobutírico).
Já a insulina, ou melhor, a resistência à insulina, é uma alteração comum do paciente que apresenta alteração dos mediadores hormonais, principalmente em pacientes que apresentam inflamação ou alguma doença crônica. Sua modulação pode ser feita por meio de nutrientes como:
· Ácido alfa-lipóico: Previne o estresse oxidativo, prevenindo a resistência à insulina e disfunção das células beta.
· Ácidos graxos W-3: Melhoram a fluidez da membrana celular, aumentando a atividade do receptor de insulina e, com isso, a sensibilidade ao hormônio.
· Cromo e vanádio: Melhora a sensibilidade à insulina por meio do aumento do número de receptores de insulina e da maior translocação de GLUT4, auxiliando no controle glicêmico.
· Magnésio: O magnésio melhora a atividade dos receptores de insulina.
· Zinco: É cofator na síntese e utilização da insulina. Além disso, por ser antioxidante, protege a insulina da degradação.
· Vitamina D: Promove uma ativação geral da síntese proteica das células beta pancreáticas, estimulando a conversão da pró-insulina e insulina.
Sendo assim, o sistema ATMS interage entre si, desencadeando alterações funcionais que estão interligadas e conectam-se de tal forma que, para o tratamento adequado, o cuidado deve ser multidisciplinar, pensando na funcionalidade das células e melhoria das conexões entre órgãos e sistemas.
· Antecedentes: Fatores de risco relacionados a história familiar e de vida do paciente.
· TRIGGERS: Gatilhos ambientais como estresse, microorganismos e etc.
· Mediadores: Qualquer substância causadora dos sintomas (Radicais livres, neurotransmissores, hormônios, citocinas).
· Sintoma: Resultado da disfunção funcional de sistemas, causados pelos mediadores.
Verificando o Aprendizado
1. O sistema de antecedentes, “triggers” (gatilhos), mediadores e sintomas (ATMS) é um método ouro de diagnóstico que leva em consideração a interação entre todos os sistemas fisiológicos, permitindo identificar os desequilíbrios bioquímicos/metabólicos associados às condições clínicas individualizadas. Em relação aos gatilhos, marque a alternativa correta.
I) Quando acionados, os gatilhos aumentam atividade do NFkB (fator de transcrição nuclear de citocinas inflamatórias).
II) Qualquer alteração intestinal, que curse com atrofia celular, diminuição de barreira intestinal e acréscimo da permeabilidade, aumenta a translocação de substâncias que funcionam como gatilho.
III) Os gatilhos podem ser ativados por xenobióticos, lipopolissacarídeos bacterianos, mas não por inflamação e estresse oxidativo.
R: As afirmativas I e II estão corretas
· Os fatores que envolvem a inflamação e o estresse oxidativo podem ser considerados gatilhos que contribuirão para os desequilíbrios bioquímicos/metabólicos associados às condições clínicas individualizadas.
2. As reações adversas aos alimentos podem gerar quadros de alergia alimentar (mediada por IgE), hipersensibilidade alimentar (mediada por IgG, IgM, IgA, IgE e cels T) e intolerância (deficiência metabólica, por exemplo, intolerância à lactose por deficiência de lactase), que podem causar manifestações clínicas como enxaqueca, dores musculares, doenças autoimunes, dentre outras. Considerando a avaliação pelo sistema ATMS, em qual dos pontos de avaliação essa investigação deve ser inserida?
R: Antecedentes. 
· No método de investigação por meio do sistema ATMS, os antecedentes envolvem fatores ambientais, genéticos e também reações alérgicas ou de hipersensibilidade.

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