Buscar

NEUROCIÊNCIA 3 pdf

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 3 
NEUROCIÊNCIA E 
COMPORTAMENTO 
HUMANO 
Prof. Reginaldo Daniel da Silveira 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
O que veremos no conteúdo a seguir é uma intersecção de informações 
que compõem um todo. Não se trata de tópicos colocados um ao lado do outro, 
mas de cruzamentos que explicam como somos, o que somos e como nos 
tornamos assim. Conhecer o desenvolvimento do sistema nervoso é entender 
ações e reações que explicam nossos comportamentos pelo desenvolvimento de 
estruturas ligadas aos aspectos genéticos e ambientais. Nossa condição genética 
é colocada diante de estímulos ambientais, e este cruzamento provoca mudanças 
que inclusive mudam nossa biologia. O que guardamos em nossa memória é 
assim produzido porque partes do nosso cérebro a ela se dedicam, tanto quanto 
somos aguçados pela atenção desencadeada por nossos sentidos. É deste modo 
que nascemos, crescemos e nos transformamos, como produto de uma grande 
aprendizagem. 
TEMA 1 – INTRODUÇÃO 
Duas amigas se encontram na lanchonete da faculdade. Celia percebe que 
Helena tem uma expressão de preocupação e pergunta: 
— Helena, está tudo bem? Vi que você estava aérea na aula. Aconteceu 
alguma coisa? 
— Não, não! É o meu avô. Passei o dia hoje pensando nele e nas coisas 
que estamos aprendendo sobre o sistema nervoso. Lá em casa, a família toda 
está notando que ele está ficando mais esquecido, tem dificuldade de lembrar 
detalhes do cotidiano, esquece objetos. “Mudança de hábitos, exercícios para 
ginástica mental” foi o que indicou a médica. Fico imaginando: “será que isso ajuda 
de verdade”? 
— Não sei te dizer! Acho que você está em dúvida sobre o que vimos na 
semana passada sobre a carta dos estudiosos da Universidade de Stanford sobre 
não haver evidência de que o exercício mental ajuda contra o declínio cognitivo. 
— Aí é que está! Depois, vieram outros dizendo que com o treino cognitivo 
as células se regeneram e a pessoa tem melhor desempenho. E aí, Célia? 
— Eu acho que melhora, é só ver as crianças! As que crescem em 
ambientes sem estímulos têm baixo rendimento na escola. 
— Então? Se precisamos de estímulos para ter um bom desenvolvimento, 
também precisamos deles para desafiar nossa mente quando envelhecemos! 
 
 
3 
Coisas que não tem uso se atrofiam. Conexões neurais sem uso deixam a gente 
preguiçoso. Não foi o que falou a professora? 
— Sim, a gente só aprende porque memoriza e só memoriza porque 
aprende, mas sem uso nenhuma delas funciona. 
O bate-papo nos leva a pensar que cérebro e sistema nervoso são 
formações determinadas pela evolução humana. Em sentido amplo, funcionamos 
como qualquer membro da espécie homo sapiens; em sentido menor, 
funcionamos com o que marca as diferenças entre nós mesmos. Nas duas 
situações, é pelas mudanças no ambiente, na genética e no comportamento, que 
nos definimos. 
Em outubro de 2014, um grupo de 69 pesquisadores cerebrais, em carta 
aberta ao Centro de Longevidade de Stanford (Estados Unidos) e Instituto Max 
Planck para o Desenvolvimento Humano (Alemanha), advertiu haver pouca 
evidência da eficácia da ginástica cerebral nas habilidades cognitivas. Uma 
posição contrária veio semanas depois, por meio de 100 estudiosos do Instituto 
de Pesquisa do Cérebro e da Mente da Universidade Sydney. A advertência e a 
resposta foram relatadas em artigo da revista americana Fast Company 
(Brownstone, 2014). A ginástica cerebral com supervisão mostrava-se eficaz, 
defendiam os pesquisadores de Sydney. 
A carta aberta de advertência pode ter sido motivada pela desconexão 
entre o marketing e ciência, disse um dos coautores da resposta publicada, já que 
havia interesses financeiros em jogo. De qualquer modo e em nome do que 
diferencia um indivíduo do outro, não podemos desconsiderar que além da 
genética somos alterados pelos estímulos ambientais e comportamentais que 
ocorrem em nossas vidas. 
O jornal britânico The Guardian publicou em 2012 um artigo da 
Universidade da Pensilvânia sobre influências no desenvolvimento do cérebro. 
Durante 20 anos, 64 indivíduos foram pesquisados em suas vidas domésticas 
sobre experiências a partir da infância. Os resultados apresentados em uma 
reunião da Society for Neuroscience, em Nova Orleans, mostraram que a 
estimulação cognitiva dos pais aos quatro anos de idade permitiu prever o 
desenvolvimento de várias partes do córtex (a massa cinzenta) 15 anos depois. 
Os pesquisadores visitaram as casas e fizeram registros como número de livros 
infantis, brinquedos com cores, números ou letras, instrumentos musicais e 
outros. Entre 17 e 19 anos, os participantes tiveram seus cérebros escaneados, e 
os resultados mostraram que o desenvolvimento do córtex no final da 
 
 
4 
adolescência estava vinculado à estimulação cognitiva aos quatro anos. Outros 
fatores como nutrição em diferentes idades e estimulação cognitiva aos oito anos 
não tiveram efeito. 
O artigo citado destaca que, à medida que o cérebro amadurece na infância 
e na adolescência, as células do córtex são podadas, e assim que as células 
desnecessárias são eliminadas, o córtex fica mais fino. A pesquisadora Martha 
Farah que liderou a pesquisa disse ter descoberto que quanto mais estímulo uma 
criança tem aos quatro anos, mais fino e, portanto, mais desenvolvido fica o seu 
córtex. Por outro lado, espera-se que a estimulação em pessoas envelhecidas 
também tenha efeitos positivos. Eagleman (2017) postula que “quanto mais 
mantemos nosso cérebro apto do ponto de vista cognitivo, desafiando-o com 
tarefas difíceis e novas, inclusive a interação social, mais as redes neurais formam 
novas vias para ir de A para B”. 
A importância das mudanças ambientais e comportamentais 
independentemente da idade é também corroborada em pesquisas. Sachdeva, 
Kumar e Anand (2015) ressaltam uma busca em artigos na base de dados 
Pubmed sobre idosos, com os termos não farmacológico e cognitivo no título. 
Publicados entre 2000 e 2014, 10 estudos considerados relevantes de um total de 
11 mostraram dados sobre idosos submetidos a treinamentos cognitivos não 
invasivos. O repertório interventivo considerou: exercícios físicos, sono regular, 
meditação e yoga, espiritualidade, musicoterapia, exercícios cognitivos para 
memória, atenção e resolução de problemas, estimulação cerebral transcraniana 
e aplicação de jogos de computador. Os resultados revelaram melhorias 
cognitivas gerais com duas ressalvas: a necessidade de mais evidências 
quantitativas na musicoterapia e a ausência de melhoria cognitiva em aspectos 
de espiritualidade. 
TEMA 2 – DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO 
Então, leitor, da relação entre seu pai e sua mãe nasceu você, uma bolinha 
de fermento dentro da barriga materna. O que isto significa? Significa que você 
era um punhado de pequenas células grudadas, um embrião com três camadas 
dispostas uma sobre a outra: a parte mais interna, o endoderma, originou vísceras 
e tecidos internos e da capacidade torácica, a parte mais externa originou a pele, 
o SN propriamente dito, enquanto no meio das duas, o mesoderma, viria a formar 
o coração e as glândulas entre outros (Tieppo, 2021). 
 
 
5 
O desenvolvimento do SN segue um padrão de complexidade dinâmica 
evoluída de uma sequência instrumentalizada por fatores genéticos, ambientais, 
químicos e físicos. Durante duas semanas, células se amontoam, e na terceira 
semana, começa propriamente o desenvolvimento em três estágios: (1) uma parte 
do ectoderma engrossa, formando uma placa; (2) a placa se dobra para dentro 
formando o sulco neural. Estes dois estágios representam o ponto de partida para 
a formação do SN; (3) à medida que as bordas laterais (pregas neurais) se 
aproximaram o aprofundamento cria a goteira neural. Esta estruturazinha, 
parecida com uma gota, apresenta orelhinhas, chamadas de cristas, que mais 
tarde originam os gânglios espinhais e cranianos. Com eles, vêm os elementos 
para o sistema nervosoautônomo, e o apoio para a bainha de nervos e meninges 
que formam o cérebro. Podemos dizer de forma simples que quando tudo isso 
ocorre no cérebro, as pregas neurais se fundem, as orelhinhas se separaram e 
cria-se o tubo neural. 
Este ponto da formação do tubo neural acontece entre a terceira e quarta 
semana de vida. Lent (2016) considera que o cérebro não dispõe de neurônios já 
constituídos e não há evidências de atividades neurais. O embrião ainda não 
demonstra sensações, percepções e funções típicas do SN, uma vez que não 
existe a comunicação que em breve ocorrerá por meio de circuitos nervosos. Não 
ter nessa idade os neurônios que hoje conhecemos não significa que sua 
produção nesta área esteja demorada. Ratey (2002) diz que nas primeiras 
semanas e meses de vida, há uma intensa produção de células, com a criação a 
cada minuto de 250 mil neuroblastos, ou células nervosas primitivas. 
À medida que o tubo neural se fecha, ele incha, e dobras começam a 
aparecer e gradualmente se tornam mais perceptíveis. Durante a quarta semana, 
existem três dessas protuberâncias presentes. Elas são chamadas de vesículas 
primárias: o prosencéfalo, que depois se divide em telencéfalo e diencéfalo; o 
rombencéfalo, cuja divisão compreende o milencéfalo e metencéfalo; e o 
mesencéfalo, que se mantém como estrutura única (Lent, 2016). A medula 
primitiva que permaneceu cilíndrica, depois das primeiras semanas, dá origem à 
medula espinhal. Pode-se dizer que a cavidade do tubo neural cheia de líquido 
amniótico se torna o seu encéfalo e sua medula espinhal. Como se sabe, as 
principais partes cerebrais, com destaque para o córtex, passam a ser observadas 
em sete semanas, período em que o cérebro se desenvolve de forma visível. 
Se você pudesse imaginar como era com 11 semanas de vida, deveria 
ponderar que o cérebro já estava aumentando de tamanho. Você era um cabeção 
 
 
6 
com corpo pequeno, onde olhos e ouvidos já se moviam. O rombencéfalo, aquela 
parte posterior da sua cabeça, veio assim a dar origem ao cerebelo e ao tronco 
encefálico. 
Após a 12ª semana de gestação, acontece a migração de neurônios por 
meio de sinalizações química, genética e o desenvolvimento do córtex frontal e 
do tálamo. A mielinização passa a ocorrer com a camada lipoproteica, envolvendo 
e protegendo a condução nervosa de axônios. Neste período, ganham destaque 
as sinapses. Como uma sinapse corresponde a uma área de proximidade entre 
neurônios, possibilitando a comunicação entre eles (Tieppo, 2021), é de se 
considerar que para isso ocorrer é necessária uma transformação nas próprias 
células que, ao nascerem, são pequenas “bolinhas” sem a capacidade de receber 
ou transmitir estímulos. Lent (2016) explica que quando os neurônios migram, se 
alongam por meio de um prolongamento anterior e outro posterior e na sequência 
o desenvolvimento aponta a emissão de novos prolongamentos, dendritos e um 
único axônio que na proximidade com células vizinhas (dendritos e ramificações 
do axônio) estabelecem a comunicação. 
Da vida intrauterina até o nascimento, dificilmente virão novas células 
neurais, e as que já existem desenvolvem mais sinapses com outras células. 
Então, no primeiro ano de vida com base na literatura vigente, um neurônio cortical 
no cérebro estabelece até 100 mil sinapses com outros neurônios. 
As sinapses são como fios elétricos conectando uma infinidade de luz em 
diferentes pontos cerebrais, e como no bebê conexões que ele jamais utilizará 
crescem de modo intenso. Para Gazzaniga e Heatherton (2005), isto significa 
dizer que o cérebro adota a política do “use ou perca”. Conexões frequentemente 
usadas são preservadas e as outras removidas, processo conhecido como poda 
sináptica. 
O desenvolvimento do sistema nervoso e do cérebro envolve a interação 
com fatores genéticos e ambientais. Stiles e Jernigan (2010) defendem que 
cérebros não se desenvolvem normalmente na ausência de sinalização genética 
e não ocorre o desenvolvimento normal na ausência de insumos ambientais 
essenciais. Para os autores, o período embriológico marcou processos interativos 
com maior frequência no nível das interações célula-célula. Esta condição 
evidencia o papel genético na geração de sinais moleculares que interferem no 
desenvolvimento de determinadas células. E ressaltando ainda que mesmo neste 
período inicial, fatores ambientais são relevantes para o desenvolvimento do 
cérebro embrionário. 
 
 
7 
Então, você, leitor (a), que corre, anda, fala, respira e sente o batimento 
cardíaco, você desenvolveu um sistema neural apto a alterar ações responsivas 
a estímulos e a reorganizar-se estrutural e funcionalmente. E tudo isso acontece, 
como dizem Mateos-Aparicio e Rodríguez-Moreno (2019), pela capacidade que 
têm os neurônios de modificar a força e a eficácia da transmissão sináptica por 
meio da plasticidade que é o nosso tópico a seguir sináptica. 
TEMA 3 – PLASTICIDADE NEURAL 
O carro estava na revisão, e então o médico neurologista pegou um táxi e 
foi buscar a filha Helena na faculdade. Celia, que ia estudar com a colega, 
aproveitou a carona. No meio do caminho, o taxista respondeu a uma pergunta 
de Helena sobre a rua que estavam seguindo: 
— Esta é a Brigadeiro Franco. 
— A gente não passou por ela para fazer o exame no cérebro do vô, pai? 
Antes do Dr. Aníbal responder, o motorista explicou que ela deveria estar 
se referindo à Rua Emiliano Perneta, e a conversa se estendeu com o rapaz 
falando sobre várias outras ruas e locais da cidade, o que levou Helena a 
perguntar: 
— O senhor conhece todas as ruas da cidade? 
— Quase todas, afinal, são anos andando por estes lugares. 
— Você me lembra um daqueles motoristas de táxis pretos de Londres — 
disse o neurologista. — Eles passam dois anos memorizando as ruas da cidade 
e mudando seu cérebro para poderem trabalhar. 
Assim que desceram, as duas estudantes perguntaram a Aníbal o que ele 
queria dizer com os motoristas de táxis pretos de Londres e aquela história de 
cérebro. Antes de contar a história, o médico falou sobre o cérebro, dizendo que 
cada um de nós tem uma enorme capacidade de se adaptar ao mundo, graças à 
nossa plasticidade cerebral. Estas características, de acordo com Eagleman 
(2017), nos fazem ir a diferentes ambientes, obter peculiaridades locais que 
usamos como a língua, as pressões ambientais ou as exigências culturais locais. 
Lent (2016) emprega o termo neuroplasticidade para falar que o sistema 
nervoso usa esta propriedade para alterar funções ou estruturas em resposta às 
influências ambientais que o atingem. Em seu entendimento, as alterações 
plásticas, tanto quanto as influências ambientais que as provocam, variam entre 
alta e baixa intensidade. Nessa perspectiva, uma lesão traumática pode mudar 
 
 
8 
posições de setores funcionais ao redirecionar circuitos neurais ou em outro 
sentido um simples fato novo presenciado pode levar a alterações sinápticas 
moleculares de memorização por um longo tempo de vida. Em ambos os casos, 
e em posições intermediárias, estamos tratando da plasticidade. 
Turistas costumam dizer que Londres parece ser formada por um 
emaranhado de fios viários que chega a ser surpreendente ver motoristas de táxi 
circularem tão facilmente por ela como se trafegassem em uma pequena cidade. 
A neurocientista Eleanor Maguire, da University College London (UCL), mostrou 
uma curiosidade sobre isso. Sabendo que entre pássaros e esquilos o hipocampo 
é maior do que em outras espécies, ela queria saber se, como estes animais que 
apresentavam um hipocampo maior do que outras espécies, os taxistas londrinos 
não exibiam hipocampos maiores que outras pessoas. Em Londres, para obter 
uma licença, o motorista tem que passar de três a quatro anos dirigindo em 
ciclomotores, guardando na memória as 25 mil ruas num raio de 10 quilômetros 
da estação de trem Charing Cross. 
Os resultados da pesquisade Maguire durante quatro anos revelaram que 
os taxistas londrinos apresentavam mais massa cinzenta no hipocampo posterior 
do que motoristas comuns, ensejando que quanto mais tempo alguém dirigia um 
táxi, maior o seu hipocampo (Jabr, 2011). 
Como vimos no desenvolvimento embrionário, o SN é construído e 
reconstruído seguindo a genética e o ambiente, resultando assim na plasticidade, 
o que nos leva a considerar que estamos sempre prontos a novos circuitos e, 
como diz fulano de tal, a novos hábitos, além de eliminar os antigos. Nossa 
constituição neuronal é assim flexível e mutável com diferenças entre os 
indivíduos (Tieppo, 2021). 
Para Lent (2016), mesmo depois de seu desenvolvimento, o SN não perde 
sua capacidade plástica. O que muda na plasticidade adulta é o caráter mais 
celular e molecular sobre a sinapse. Aqui, a plasticidade sináptica é a base da 
memória, e desse modo representa a capacidade cognitiva dos cérebros. 
— Se nos adultos acontece mais esta plasticidade sináptica, o que 
acontece na infância quando os mecanismos plásticos são interrompidos na 
própria formação das nossas estruturas? — perguntou Helena ao pai. 
— Existem sim diferenças entre o cérebro de uma criança e de um adulto, 
mas de qualquer modo o cérebro humano é flexível. 
Quem surge para apoiar o neurologista é Eagleman (2021), ao dizer que 
esta plasticidade é uma chave para o futuro por abrir a porta para modificações 
 
 
9 
no próprio equipamento. Ele lembra isso com o exemplo de Cameron Mott, que a 
partir de 3 anos de idade foi assolada por convulsões incapacitantes que atacaram 
seu cérebro. Seu diagnóstico — síndrome de Rasmussen — obrigou que ela 
usasse um capacete o tempo todo para se proteger de convulsões agressivas que 
a jogavam contra o chão. Estes sintomas vistos por neurologistas a levariam 
primeiro a uma paralisia e depois à morte, havendo uma única e drástica solução: 
cirurgia do cérebro. Após o procedimento, o lado esquerdo (que era controlado 
pelo lado direito removido do cérebro) ficou paralisado, o que fez com que a 
plasticidade assumisse o controle: um mês depois ela voltou a andar, meses de 
reabilitação a fizeram voltar a escola, e num curto período de anos Cameron voltou 
a ser uma garota saudável. 
Diante da pergunta: o SN se regenera? Intuitivamente, dizemos que não, 
mas diante dos avanços recentes, a pergunta pode ser melhor respondida com 
um “depende”: 
A regeneração de um tecido após uma lesão geralmente é associada à 
proliferação de células-tronco disponíveis nas proximidades para 
recompor os tipos celulares desse tecido. No caso do sistema nervoso, 
a palavra-chave é neogênese, ou seja, a capacidade de proliferação 
neuronal. […] Tornou-se então realista supor a existência de uma certa 
capacidade regenerativa do sistema nervoso adulto. (Lent, 2016) 
Um outro aspecto a ser destacado é que algumas doenças ocorrem devido 
a situações patológicas na neuroplasticidade. Entres as enfermidades, estão a dor 
neuropática (sensações de queimação, agulhadas, choques), sequelas da 
sincinesia, que são mais frequentes, são movimentos involuntários de músculos 
independentes, musculares independentes e tinnitus (zumbido no ouvido, 
vinculado a ruídos na parte interna do cérebro). 
Uma outra questão sobre a plasticidade: ela é sempre um processo 
compensatório? Lent (2004) reporta que há evidências experimentais de que a 
plasticidade pode ser danosa e cita situações em que o córtex cerebral sofre uma 
reorganização plástica, ocasionando a sensação da “dor fantasma” que ocorre 
num membro ausente e que causa bastante sofrimento. Seria a plasticidade 
maléfica. Já a plasticidade benéfica põe em destaque o fator compensatório. Os 
cegos são um exemplo. Pessoas que não enxergam têm maior acuidade auditiva 
do que as que enxergam. O autor fala em referências nas quais a percepção 
somestésica é mais apurada e possivelmente seja a responsável pelo ganho na 
sensibilidade e rapidez na leitura em Braille. De qualquer modo, a plasticidade 
compensatória ainda requer maiores evidências, pois precisam esclarecer os 
 
 
10 
circuitos, a estabilização de conexões transitórias, o brotamento colateral de 
axônios em regiões lesadas ou inativas e as diferentes combinações dessas 
possibilidades. 
Durante um certo tempo, imaginou-se que o cérebro estava totalmente 
desenvolvido aos vinte e poucos anos. Pesquisas, contudo, mostram que a 
plasticidade que muda o cérebro acontece na vida adulta, envolvendo fatores 
como doenças, drogas, emoções variadas criadas em eventos e formadas na 
memória (Gazzaniga; Heatherton, 2005). 
Se considerarmos que entre as estruturas cerebrais o neurônio pode ser 
modificado, falamos em diferentes tipos de plasticidade neural: a plasticidade 
axônica ocorre a partir de uma lesão sobre o axônio e assim há um recrescimento 
do coto proximal (parte restante da área lesionada) do mesmo axônio. Lent (2004) 
junta a esta explicação a plasticidade dendrítica, por ele classificada como 
alterações no número, no comprimento das ramificações dendríticas e na sua 
densidade. Por estas condições, a plasticidade sináptica enseja que a 
transmissão de mensagens entre os neurônios, longe de ser rígida e imutável, 
pode ser modulável conforme os eventos. 
TEMA 4 – A MEMÓRIA 
— Nestor está estudando inglês e francês. 
— Uai! Por que dois idiomas? 
— Ele quer fazer mestrado no Canadá, até já fez contato com uma 
instituição lá da capital… Como é o nome da cidade? 
— Ottawa! 
— É isso mesmo. Helena, acho que estou atraída pelo Nestor. 
— O que te faz pensar assim? 
— Toda hora estou lembrando os nossos dois encontros. O filme vem de 
cara na minha mente, ele me abraçando, ele falando no meu ouvido. Não sei por 
que, mas acho que isto tem peso na memória. Aproveitando que estamos 
estudando sobre a memória, eu lembro de outras situações envolvendo pessoas, 
lugares, o filme está lá naquele lugar, o hipocampo, e vem prontinho. 
— Pois é, mas você não está lembrando filmes, a gente não tem esta coisa 
guardada, não, e nem dá para dizer que está naquele determinado lugar. O que 
você lembra não é a coisa, você na verdade revive e lembra ligações que 
integradas recriam a coisa. 
 
 
11 
— Cruzes, Célia! 
A conversa entre as amigas sugere uma reflexão mais ampla. Se a 
lembrança de Nestor a abraçando e falando no ouvido não está armazenada no 
hipocampo, no lobo frontal ou occipital, se não é um filme, onde está e o que é. 
“Não está em nenhum destes lugares e está em todos eles”, diz alguém. “Não é 
uma câmera que capturou sons e imagens”, diz outro. No primeiro caso, Ratey 
(2002, p. 209) instiga: “É o espaço de armazenagem ou o ato de estratégia de 
recuperação? […] É o ato de vasculhar a memória ou é, em primeiro lugar, a 
energia dedicada à formação da memória? No segundo caso, Gazzaniga e 
Heatherton (2005, p. 2017) anunciam que “a memória não é como uma câmera 
de vídeo que captura fielmente imagens objetivas. Em vez disso, a memória é 
uma história que pode ser sutilmente alterada por relatos e novos relatos”. 
A memória no olhar dos dois últimos autores citados define-se como a 
capacidade do SN de adquirir e reter habilidades e conhecimentos aproveitáveis, 
permitindo aos organismos vivos se beneficiar desta condição. Vinculada ao SN, 
esta capacidade não funciona como as informações que são organizadas em uma 
enciclopédia. Nesta perspectiva, vale o entendimento de Pliszka (2004, p. 77) 
sobre não haver um lugar no cérebro “no qual as memórias, por exemplo, da 
quarta série primária estão armazenadas bem ao lado das memórias da quinta 
série”. Para ele, a memória humana é completamente diferente daquela do disco 
rígido de um computador. Neste, cada fração de informações fica num lugar 
específico, cada arquivo tem um endereço usado para localização. É só abrir a 
máquina e a procura acontece até chegar no endereço. Isso ocorre rapidamente, 
já a transmissãoneuronal não funciona desse modo. 
Pliszka argumenta que, se para lembrarmos o número de nosso telefone 
tivéssemos que repassar todas as memórias para localizar a informação, o 
cérebro não terminaria a tarefa a ponto de darmos o telefonema. Além disso, a 
memória também é altamente contextual. O autor destaca que estar num 
determinado lugar desencadeia associações do tipo lugar-evento. Um odor, uma 
imagem, por exemplo, acessa rapidamente memórias. Isso não acontece como 
quem liga um dispositivo que representa exatamente como o evento se deu. 
Ocorre uma recriação. É frequente para qualquer pessoa ouvir a mesma história 
sendo contada por uma outra mais de uma vez e sempre com diferença. 
Sobre questões de localização da memória… 
Atualmente está bem esclarecido que as memórias não estão 
armazenadas em uma localização específica do cérebro. Ao invés disso, 
 
 
12 
as memórias estão armazenadas em múltiplas regiões do cérebro e 
ligadas por circuitos de memória. […] Isto não significa que todas as 
áreas do cérebro estão igualmente envolvidas na memória. (Gazzaniga; 
Heatherton, 2005, p. 231) 
Não há, portanto, destacam os autores, uma área considerada o repositório 
final da memória, mas estruturas que a ela importam, como a seção medial dos 
lobos temporais onde se inserem a amígdala, o hipocampo e o córtex rinal. 
Estimular estas áreas em pacientes de epilepsia levam a relatos de eventos 
passados. Por outro lado, lesões nelas impedem o armazenamento de 
informações, sem prejudicar o acesso ao material antigo. 
Voltando a Ratey (2002), se não temos um lugar ipsis litteris de 
armazenamento da memória, temos as “zonas de convergência” destacadas por 
Antonio Damásio e entendidas como próximas aos neurônios sensoriais, ou seja, 
junto às conexões sinápticas a respeito “daquilo” que interessa naquele momento. 
Se as conexões forem satisfatórias, estas zonas de convergência nos habilitam a 
conceber automaticamente objetos, ideias ou interações com um todo. O autor 
fala em ativar conexões com as muitas características do objeto e também lembra 
que existem neurônios especializados para diferentes tipos de memórias — traços 
característicos, padrões, localização, direção1. 
Quando as conexões são feitas no cérebro, as informações são 
processadas em três níveis de estágios. 
4.1 Modelo modal de memória 
O modelo modal é considerado um modelo comum ou padrão. Vejamos 
conceitualmente em Weiten (2010, p. 209-211) cada um dos três estágios básicos 
da memória: 
• Memória sensorial: é a memória que preserva a informação em sua forma 
sensorial original por um curto período, geralmente apenas uma fração de 
segundo. Exemplo: ao olhar para alguma coisa e rapidamente se desviar a 
pessoa pode formar a imagem e lembrar detalhes. 
• Memória de curto prazo: trata-se de um armazenamento de capacidade 
limitada que pode manter informação não reprocessada por até 20 
segundos. Este tempo pode ser superado pelo reprocessamento da 
 
1 Ratey baseia-se numa pesquisa da Universidade de Yale sobre redes neurais no cérebro. 
 
 
13 
informação — o processo de repetidamente verbalizar ou pensar na 
informação. 
• Memória de longo prazo: este nível é um depósito de capacidade ilimitada 
que pode manter informação por períodos mais longos. A memória de longo 
prazo é considerada ainda num ponto de vista de permanência. O 
esquecimento ocorreria pelo fato de as pessoas não reterem a informação 
necessária. Weiten refere-se a uma analogia com “bolinhas de gude” 
guardadas num local. Nos esquecimentos, as pessoas simplesmente não 
são capazes de procurá-las, mas elas estão lá em algum lugar. 
 Bear, Connors e Paradiso (2017) reporta que, nos anos 1960, foram 
reconhecidos vários tipos de memórias de curto prazo. A memória de trabalho é 
uma forma temporária de armazenamento da informação, com capacidade 
limitada sendo caracterizada por repetição/ensaio para ser guardada, mesmo que 
por pouco tempo. O exemplo é quando alguém lhe dá um número de telefone e 
você para retê-lo fica repetindo o número para si mesmo. 
4.2 Sistemas de memória 
Os sistemas de memória se diferenciam de modo distinto entre si pela 
lembrança consciente e pela lembrança sem intenção consciente. Gazzaniga e 
Heatherton (2005, p. 224-225) explicam. 
• Memória explícita: envolve os processos empregados para lembrar 
informações específicas. Quando a informação é recuperada na memória 
explícita é conhecida como memória declarativa (informação cognitiva 
trazida à mente pelo conhecimento declarado). O exemplo seria lembrar do 
que aprendeu numa aula na faculdade. Outra distinção da memória 
explícita é a memória episódica e a memória semântica. A memória 
episódica diz respeito a experiências passadas, por exemplo, lembrar de 
uma festa de formatura em um curso. A memória semântica está 
relacionada a conhecimentos de eventos triviais ou importantes 
independentes da experiência pessoal. Um exemplo seria entender a 
diferença entre uma vaca e uma galinha. 
• Memória implícita: ocorre quando a pessoa mostra uma intensificação da 
memória, na maioria das vezes pelo comportamento, sem esforço 
intencional e sem consciência de estar lembrando. Exemplo: digitar no 
teclado do computador. A memória implícita também é ilustrada pela 
 
 
14 
memória de procedimento ou motora relacionada a movimentos 
musculares como andar de bicicleta ou seguir regras no trânsito. 
A memória é a capacidade de reter e recuperar informações 
posteriormente, o que a aproxima da aprendizagem. As duas trabalham juntas, 
garantindo que a informação que se aprende seja armazenada no cérebro. É o 
que veremos a seguir. 
TEMA 5 – A APRENDIZAGEM 
Estudar a aprendizagem é relacioná-la à memória. As duas estão ligadas, 
a ponto de resgatarmos uma fala de Célia a Helena, as duas estudantes que nos 
acompanham nesta disciplina. Em uma de suas conversas, ela disse que “a gente 
só aprende porque memoriza e só memoriza porque aprende, mas sem uso 
nenhuma delas funciona”. A fala de Helena não é uma condição ad hoc, mas é 
inegável que memória e aprendizagem estão integradas entre si tanto quanto a 
atenção está interligadas a elas. 
Gazzaniga e Heatherton (2005) explicam que memória e aprendizagem 
compartilham aspectos comuns, ambas se referem a mudanças diante do 
ambiente e não obstante estudiosos as verem como separadas, a distinção entre 
as duas é um tanto arbitrária pela sobreposição significativa que se tem sobre 
elas. 
Por outro lado, a atenção está ligada às duas quando se sabe como diz 
Weiten (2010) que ela “envolve a focalização consciente de uma classe restrita 
de estímulos ou evento”. Neste momento, por exemplo, em que você lê este texto, 
coisas acontecem ao seu redor, sons, sensações, o tempo lá fora, a sensação 
térmica, uma lembrança de algo que aconteceu antes, enfim várias informações 
ao mesmo tempo, mas para haver aprendizagem, você precisa se sentir atraído 
pelo que lê, você precisa do foco. Atenção só existe quando está voltado ou para 
um único ou mais estímulos, o que faz variar o nível de aprendizagem. Se ela não 
é voltada para nenhum estímulo, não há aprendizagem. 
Considerando-se a memória e a aprendizagem, informações que são 
facilmente esquecidas estão mais relacionadas à memória declarativa. Celia, 
numa das conversas com Helena, não se lembrava da capital do Canadá e foi 
ajudada por Helena, que disse: Ottawa. Bear, Connors e Paradiso (2017) 
reportam que a aprendizagem que se refere à memória declarativa está ligada a 
 
 
15 
pequenas modificações em sinapses que estão distribuídas no encéfalo. Esta 
condição a coloca em desafio para estudar a aprendizagem em nível sináptico. 
Os autores se valem da memória de procedimentos para valorizar a 
investigação da aprendizagem. Estas memórias são robustas e formam-se ao 
longo de vias reflexas simples que ligam sensações a movimentos. A 
aprendizagem neste sentidocompreende um procedimento (resposta motora) em 
reação a um estímulo sensorial tipicamente dividido em dois tipos que veremos a 
seguir. 
5.1 Aprendizagem não associativa 
A aprendizagem não associativa envolve Weiten a modificação de uma 
resposta (comportamento) frente a um único estímulo. Bear, Connors e Paradiso 
(2017) destacam que ela descreve a modificação que ocorre ao longo do tempo, 
em resposta a um único tipo de estímulo. Dois são os tipos (Gazzaniga e 
Heatherton): 
• Habituação: refere-se a uma diminuição na resposta comportamental após 
uma exposição repetida a estímulos não ameaçadores. Estudos foram 
feitos com a aplysia, um caramujo marinho mais comum no Pacífico Norte. 
Este invertebrado tem um sistema nervoso simples com apenas 20 mil 
neurônios e um repertório comportamental reduzido (Lent, 2004). Ao se 
deparar com um estímulo, o animal presta atenção, o que é conhecido 
como resposta de orientação (Gazzaniga; Heatherton, 2005). Aos primeiros 
toques, a aplysia retrai suas guelras, mas depois de várias repetições, não 
se retrai mais, ou seja, entra num estado de habituação que dura várias 
semanas. Circuitos de neurônios sensitivos que inervam pontos do corpo 
da aplysia, conectam-se com neurônios motores que ativam a resposta. 
Este tipo de aprendizagem também ocorre em humanos. Se o estímulo não 
é prejudicial nem compensador, o efeito é ignorá-lo. Se o telefone tocar 
você corre para atendê-lo, mas se depois de várias vezes atendendo, você 
perceber que as ligações não são para você, a tendência é ignorar quando 
tocar. 
• Sensibilização: trata-se de um processo mais complexo que a habituação. 
Refere-se a um aumento na resposta comportamental após uma exposição 
a estímulos ameaçadores. Diante de um estímulo muito forte, há uma 
reação e um estado de prontidão para outros que podem vir. Nesta 
 
 
16 
condição, qualquer que seja o estímulo seguinte, ele provocará a mesma 
reação (Lent, 2004). Ou, como explicam Gazzaniga e Heatheerton (2005), 
um choque elétrico na cauda da aplysia leva à sensibilização. Após o 
choque, um pequeno toque em qualquer parte do corpo a faz retrair as 
guelras. Uma pessoa está caminhando numa praça central da cidade, por 
exemplo, e de repente um blecaute deixa tudo escuro. Ao ouvir passos e 
sons atrás, ela acelera o passo para sair do lugar. 
O que se tem como elemento conclusivo é que alterações sinápticas 
produzem tanto habituação como sensibilização. Neurônios pré-sinápticos 
reduzem a liberação de neurotransmissores na habituação e aumentam a 
liberação na sensibilização. 
5.2 Aprendizagem associativa 
Nesta aprendizagem, formamos associações entre eventos e geralmente 
distinguidos dois tipos (Weiten, 2010): 
• Condicionamento clássico: é um tipo de aprendizagem na qual um estímulo 
adquire a capacidade de evocar uma resposta que originalmente era 
evocada por outro estímulo. Suponha-se que você adore pastel de 
camarão. Ao sentir o cheiro e ao ver aquela massa de trigo (estímulo 
incondicionado EI), você fica excitado, com desejo de comer (resposta 
incondicionada RI). Agora, imagine que você sente esta mesma sensação 
ao notar na bandeja de um garçom uma embalagem. Você não vê o que 
está dentro dela, mas se sente estimulado a comer e resmunga oba! 
Naquele lugar do shopping, o pastel de camarão é sempre servido numa 
embalagem laranja e simplesmente ao vê-la você se sente esfomeado e 
resmunga: oba! A embalagem amarela é o seu estímulo condicionado (EC), 
e sua excitação com o resmungo de oba é a resposta condicionada (RC). 
Neste condicionamento, o EC inicialmente neutro, torna-se condicionado 
pela frequência com que é ligado ao EI, o pastel de camarão, e como tal 
produz a RC. 
• Condicionamento operante: é uma forma de aprendizagem em que o 
estímulo condicionado funciona como se fosse um estímulo não 
condicionado. 
 
 
17 
Vamos ver as duas formas de aprendizagem sob o olhar de Bear, Connors 
e Paradiso (2017). No condicionamento clássico, ocorre uma associação entre o 
estímulo que evoca resposta mensurável e um segundo estímulo que, 
normalmente, não há resposta (estímulo incondicionado). Em Pavlov, ao ver a 
carne, o cão saliva. O segundo estímulo, não evocador, é o estímulo 
condicionado, já que requer treino antes de produzir uma resposta. Ao associar 
uma campainha segundos antes de colocar a carne, de modo repetitivo, fazia com 
que o animal salivasse ainda sem ver a carne. 
No condicionamento operante, o indivíduo associa uma resposta, um ato 
motor a um estímulo significativo, tipicamente uma recompensa que pode ser a 
comida como exemplo. Um rato, ao ser colocado num ambiente fechado, de 
repente esbarra numa alavanca e vê a comida cair a sua frente. Quando ele, sem 
se dar conta, esbarra outras vezes na alavanca e percebe que sempre que cai o 
alimento, ele aprende a pressionar a alavanca, comportamento aprendido por uma 
recompensa. O modelo operante diz respeito ao condicionamento de 
comportamento voluntário, controlável por meio das suas consequências que são 
o reforço e a punição. 
O reforço surge quando uma resposta é seguida de consequências 
compensadoras à tendência dos seres vivos a produzir essa resposta aumenta 
(Weiten, 2010, p. 178). O autor explica que no reforço positivo, uma resposta é 
fortalecida quando seguida pela apresentação de um estímulo de recompensa. 
No reforço negativo, a resposta é seguida da remoção de um estímulo aversivo 
(desagradável). Neste caso, como exemplo, o rato é reforçado quando precisa 
pressionar uma alavanca para desligar um choque elétrico. É importante ressaltar 
aqui que este reforço não é uma punição. Ele aumenta a probabilidade de um 
comportamento, já a punição diminui esta probabilidade. Ela pode ser punição 
positiva, quando diminui a probabilidade de ocorrência de um comportamento pela 
administração de um estímulo aversivo ou punição negativa quando diminui a 
probabilidade de um comportamento ao retirar um estímulo agradável. 
Se memória e atenção estão ligadas à aprendizagem que envolve 
estímulos, o mesmo pode se falar do fator emocional. Além das mensagens 
verbais, estímulos não verbais podem influenciar o ato de aprender, gerando 
respostas ao que o sistema nervoso do indivíduo interpreta de uma situação. Uma 
relação sobre sensações que envolvem o estimulador e o estimulado não se limita 
às palavras expressadas, mas à intensidade das sensações que são provocadas 
pela verbalização e não verbalização da mensagem. Silveira (2002) fala no estado 
 
 
18 
de prontidão para a aprendizagem. As conexões sinápticas a favor de uma nova 
informação ocorrem quando há um estado de ânimo no aprendente. Esta 
condição envolve tanto a emoção quanto a memória e a atenção. Estímulo-
emoção-atenção-memória referem-se assim aos fatores envolvidos no processo. 
A prontidão abre caminho para a atenção e a memória. Este professor é legal, 
quero ver o que ele diz! Nossa! Que interessante! Tem a ver com um pouco do 
que eu já sabia. 
Depois que o nosso sistema nervoso e nosso cérebro se formaram, 
seguimos um fluxo de desenvolvimento e aprendizagem. Aprendemos hoje como 
aprendíamos quando éramos crianças. 
[…] não se aprende nada de novo que não tenha algum vínculo com o 
velho. Isto é, não se consegue adquirir um novo conhecimento se não 
se dispuser de elos (a parte guarda na memória) que estabeleçam a 
conexão como novo. Na medida em que, de acordo com o crescimento, 
a criança adquire estruturas cognitivas ela responde a novos conceitos 
de inteligência. (Silveira, 2002, p. 53) 
 
 
 
19 
REFERÊNCIAS 
BROWNSTONE, S. Enjoy Those Games, But DIY Brain Training Won’t Make Your 
Brain Feel Young Again. Fast Company, 2014. Disponível em: 
<https://www.fastcompany.com/3038885/enjoy-those-games-but-diy-brain-
training-wont-make-your-brain-feel-young-again>. Acesso em: 20 mar. 2022. 
EAGLEMAN. D. Cérebro, uma biografia. Rio de Janeiro: Rocco,2017. 
JABR, F. Cache Cab: Táxi Drivers’Brains Grow to Navigate London's Streets. 
Scientific American, 8 dez. 2011. Disponível em: 
<https://www.scientificamerican.com/article/london-táxi-memory/>. Acesso em 21 
mar. 2022. 
JHA, A. Childhood stimulation key to brain development, study finds. The 
Guardian, 2012. Disponível em: 
<https://www.theguardian.com/science/2012/oct/14/childhood-stimulation-key-
brain-development>. Acesso em: 20 mar. 2022. 
LENT, R. (Coord.) Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2016. 
LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociências. 
São Paulo: Atheneu, 2004. 
MATEOS-APARICIO, P.; RODRÍGUEZ-MORENO, A. The Impact of Studying 
Brain Plasticity. Frontiers in Cellular Neuroscience, v. 13, 2019. Disponível em: 
<https://www.frontiersin.org/article/10.3389/fncel.2019.00066>. Acesso em: 20 
mar. 2022. 
PLISZKA, S. R. Neurociência para o clínico da saúde mental. Porto Alegre; 
Artmed, 2004. 
RATEY, J. J. O cérebro – uma guia para o usuário: como aumentar a saúde, 
agilidade e longevidade de nossos cérebros através das mais recentes 
descobertas cientificas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. 
SACHDEVA, A.; KUMAR, K.; ANAND, K. S. Non Pharmacological Cognitive 
Enhancers - Current Perspectives. J Clin Diagn Res., v. 9, n. 7, 2015. Disponível 
em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4573018/>. Acesso em: 20 
mar. 2022. 
 
 
20 
STILES, J.; JERNIGAN, T. L. The basics of brain development. Neuropsychol 
Rev., v. 20, n. 4, p. 327-348, 2010. Disponível em: 
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2989000/>. Acesso em: 20 mar. 
2022 
TIEPPO, C. Uma viagem pelo cérebro: a via rápida para entender neurociência. 
São Paulo: Conectomus, 2021.

Continue navegando