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Neuroeducacao Conceitos e Estrategias cognitivas - Tania Virginia Sena

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Prévia do material em texto

Prefácio 
A socióloga e professora-Mestra Tânia Virgínia Brito Sena leciona há
mais de 17 anos. Ela iniciou sua carreira acadêmica ensinando inglês
em cursinhos e escolas particulares dos ensinos Fundamental I e II,
em Salvador-BA, para alunos da faixa etária entre 6 e 17 anos. Para
a ‘Pró Taninha’ (como é conhecida), no início, tudo era novidade, mas,
com o tempo, ela percebia que desanimava mais e mais, até não
querer mais ensinar crianças e adolescentes. “Eles eram sempre
muito barulhentos, indisciplinados e não faziam as atividades. Aliás,
eles odiavam estudar inglês. Também, pudera! A forma como o inglês
era ensinado no Brasil, causava mesmo tédio nos alunos, pois, o
ensino era unicamente teórico e maçante. Não existia um currículo
que possibilitasse o diálogo. Eles saíam do Ensino Fundamental II
sem a base mínima de inglês; e no Ensino Médio nada mudava.” Ela
percebeu que a mesma situação se aplicava as outras disciplinas,
onde a maioria não tinha noção de Matemática e Português e, por
estarem profundamente desestimulados, chegavam ao Ensino Médio,
também, sem o domínio de Física e Química. Aos poucos, ela foi
percebendo o quanto é falho o sistema de ensino brasileiro onde a
base é 100 % teórica e a interdisciplinaridade, praticamente, não
existe. Pois, os alunos veem as disciplinas de maneira fragmentada e
não têm uma visão eficiente do todo. 
Tânia Virgínia percebeu, então, que existe um ideal para que a
educação no Brasil permaneça assim: enfraquecida, a fim de gerar
analfabetos funcionais, ou, seria muita ingenuidade da elite brasileira
permitir que todos tivessem acesso a um ensino de qualidade, e,
portanto, perceberem as injustiças sociais das quais são vítimas. Foi
aí que ela dedicou-se a estudar o cérebro e a transmitir os
conhecimentos e técnicas da neurociência aos professores, a fim de
que eles possam transformar suas aulas em algo mais divertido e
agradável possível, tanto para si próprios quanto para seus alunos. E
também, para os pais poderem entender melhor como funciona o
cérebro de seus filhos durante o processo de aprendizado. 
 
A Professora-Mestra Tânia Virgínia foi palestrante da Editora Saraiva
e prestou consultorias para professores do Ensino Básico durante o
PNLD 2014, fase em que percebeu a urgência da comunidade
educacional em aprender novos conceitos, técnicas e estratégias para
o aprimoramento profissional, renovando suas forças e inovando,
assim, suas aulas, no intuito de despertar o interesse genuíno dos
alunos pelas disciplinas. Foi aí que ela idealizou essa obra, onde reuni
tudo o que aprendeu em sua vida profissional do Ensino Fundamental
à Pós-graduação; como pesquisadora em neuroeducação e, durante a
aquisição de seu diploma de Mestrado da Universidade de Oslo na
Noruega, país este, que registra hoje, o maior índice mundial em
qualidade de vida. 
 
Nota-se, nessa obra, que Tânia Virgínia esforçou-se para passar o
conhecimento de maneira dinâmica e cativante aos interesses do
professor. Cumprindo assim, sua missão de transmitir a
neuroeducação de maneira fácil e apresentar formas divertidas e
práticas de exercitar as disciplinas, seja usando brincadeiras de baixo
custo ou a sofisticada tecnologia digital, como a gamificação, pois ao
seu ver: “vale tudo para dinamizar as aulas”. 
 
Tânia Virgínia concluiu, recentemente, um curso de Neurologia no
Instituto do Cérebro. Em seu cotidiano, dedica-se a ensinar
professores da rede pública, em cursos de Pós-graduação e
Mestrado, além de realizar pesquisas na área de neurofeedback
usando a realidade virtual em 3D para educação, entretenimento e
terapias.
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
PARTE 1
Tópicos: 
1. O SURGIMENTO DA NEUROCIÊNCIA
 
2. O QUE É NEUROEDUCAÇÃO?
 
3. NEUROEDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM
 
4. OS NEURÔNIOS
 
5. SINAPSES, OS CONECTOMAS E A PLASTICIDADE
CEREBRAL A INFLUÊNCIA DOS ESTÍMULOS NA
PLASTICIDADE CEREBRAL
 
7. CIRCUITO CÓRTICO-LÍMBICO (CCL)
 
 7.1. AS AMÍGDALAS
 7.2. HIPERATIVIDADE DAS AMÍGDALAS
 8. O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL (CPF)
 
9. MEMÓRIA 
 
 9.1. ENGRAMAS
 
10. A PLP E O IMPACTO DE UMA APRENDIZAGEM PRÁTICA,
INTERDISCIPLINAR E CONTEXTUALIZADA NA FISIOLOGIA
DOS NEURÔNIOS.
11. OS NEUROTRANSMISSORES
 
12. ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DOS TRANSTORNOS 
 12.1. TDAH E SEUS SINTOMAS
 13. A NEUROCIÊNCIA DA PERCEPÇÃO 
 14. NEUROFEEDBACK & GAMIFICAÇÃO AUXILIANDO NA
EDUCAÇÃO DO 
 FUTURO.
 
 
PARTE 2
Brincadeiras e jogos:
DICA 1: BOLICHE DE PETS
DICA 2: CARTELA DE BINGO
DICA 3: AULA DE INGLÊS COM LOGOMARCAS
DICA 4: CRUZADINHAS E CACAS-PALAVRA
DICA 5: JOGO DA MEMÓRIA
DICA 6: JOGOS DE TABULEIRO
DICA 7: DOMINÓ
Algumas dinâmicas: 
DICA 8: NO CONGRESSO
DICA 9: ENCADEAMENTO DE ESTÓRIAS
DICA 10: UM ITEM DA CATEGORIA
DICA 11: MÍMICA DE MÃOS 
DICA 12: LINHA DA VIDA
DICA 13: A VIAGEM
DICA 14: AUTOPROPAGANDA
DICA 15: FEITIÇO VIROU CONTRA O
FEITICEIRO
DICA 16: PARA QUEM VOCÊ TIRA O
CHAPÉU ?
DICA 17: SE COLOCANDO NO LUGAR DO OUTRO
DICA 18: SOLUÇÃO DE PROBLEMAS EM GRUPO
DICA 19: ESTERIÓTIPO
Oficinas de artes em equipe: 
DICA 20: Aluno faz a própria biografia ou da sua celebridade
preferida.
DICA 21: Criar um blog do assunto de seu interesse.
DICA 22: Montar um livro de estória. 
DICA 23: Fazer um jornal de novidades do
bairro ou da escola
DICA 24: Escrever um romance.
DICA 25: Montar um mural na escola.
DICA 26: Fazer um documentário com o próprio celular e expor no
projetor data show. 
DICA 27: Fazer uma propaganda com o próprio celular.
DICA 28: Fazer um curta ou vídeo com trilha sonora, usando o próprio
celular.
DICA 29: Montar uma peça de teatro de 40 min.
DICA 30: Uso de música, Karaokê, mini vídeos (propagandas, video
clips e cenas legendadas de filmes ex: Charlie Chaplin). 
DICA 31: Um jornal da turma
DICA 32: Álbum de família legendado 
DICA 33: Exposição fotográfica 
DICA 34: Trabalho de recorte e colagem
DICA 35: Estimular a pesquisa e o debate.
 
Aplicativos e museus para visualização em 3D para todas as
disciplinas:
 
DICA 36: Google Map (pirâmides do Egito). 
DICA 37: Google Map fundo do mar.
DICA 38: Google Earth (geografia)
DICA 39: Links online de mini vídeos, propagandas, filmes e
documentários prontos.
DICA 40: 50 museus virtuais para você visitar sem sair de casa.
DICA 41: Missão Matific. Um site completo de aplicativos gratuito para
o ensino de matemática. 
DICA 42: Biblioteca digital mundial.
DICA 43: Ferramenta com jogos e simulados para melhorar o
desempenho para concursos. 
DICA 44: Lumosity. Aplicativos para treinar o cérebro.
DICA 45: Fit brain. Aplicativos para treinar o cérebro.
DICA 46: Sugestões de aulas prontas do MEC para
todas as disciplinas.
DICA 47: Modelo de uma anamnese
psicopedagógica
 
INTRODUÇÃO
Os conhecimentos da neurociência aplicada à educação, ou
simplesmente neuroeducação, surgem no cenário atual como um
ponto de intersecção entre as áreas de psicologia, neurociência e
pedagogia. Essa área fornece a nós, professores e pais, (sim, pois
todos os pais são educadores também), uma visão holística da
educação sob o ponto de vista do comportamento, do cérebro, da
cognição e da
intuição. 
Pesquisas neurocientíficas têm sido atualizadas quase que
diariamente com novas descobertas que enchem as prateleiras das
livrarias e bancas de revistas, assim como blogs, sites e artigos
científicos recém-lançados sobre o tema; e ainda assim, a
neuroeducação é um assunto de pouco domínio para os pais e
professores. 
São tantas as informações sobre o cérebro que chega a saturar nosso
entendimento e nossa memória, e para o professores e pais, sobra-se
pouco tempo depois das atividades diárias. Por isso, surgiu a ideia de
compactar neste livro os principais conceitos que interessam a este
público de educadores, além de estratégias da neuroeducação para
facilitar a vida do professor em sala de aula. Este trabalho possui
resultados de pesquisas recentes e uma linguagem bastante atual,
com um foco na neurofisiologia da aprendizagem, assim como
estratégiasa serem usadas na sala de aula. 
O fenômeno da aprendizagem pode ser resumido na infinita
capacidade cerebral humana de modificar o comportamento a cada
experiência vivida. Esse fenômeno acontece, inicialmente, a nível
neuronal, e tem como consequência as mudanças visíveis na
percepção e no comportamento. 
Nas últimas décadas, esse tema passou a ser um assunto de extrema
urgência para os profissionais da educação, já que não existe
aprendizagem sem cérebro; e por sua vez, o cérebro não se
desenvolve sem os estímulos externos, de modo que a sobrevivência
dos neurônios depende de experiências e estímulos: uma vida vazia
de novos estímulos, experiências e aprendizagem pode, de fato,
provocar a morte de neurônios, e um ambiente rico de estímulos
facilita a aprendizagem e a memória. 
No que diz respeito ao cérebro humano, quanto mais se usam as
suas funções cerebrais, mais se formam as sinapses. Portanto,
quanto mais se aprende, mais fácil torna-se a experiência de
aprender. 
A neurociência trouxe um reencantamento do homem pelo cérebro,
porque entender o funcionamento bioquímico cerebral pode ser a
chave para a solução de vários distúrbios comportamentais e
cognitivos. 
O quadro trágico da educação no Brasil é crônico pois vem de
séculos e as taxas do Ideb denunciam isso.
 
O Ideb é o indicador da qualidade da educação básica (que vai de 0 à
10) nas instituições públicas e privadas em todo país. Segundo os
últimos dados do órgão para a rede pública, as médias do Ensino
Fundamental I e II são de 5.2 e 4,2 (2013). Os indicadores para o
Ensino Médio (feito pelo Enem) é ainda mais trágico: média-Brasil 3.7
(2013). Quanto o analfabetismo, o Brasil está em 8º lugar no mundo.
Só perde para os países subdesenvolvidos da África e da Ásia.
Existem 33 milhões de analfabetos funcionais que tem menos de
quatro anos de escolarização, segundo dados do IBGE. Por esta
razão, parte da população não possui as habilidades mínimas
requeridas para o mercado de trabalho. Diante deste quadro, o
principal desafio de professores e pais na atualidade, é lidar com um
modelo que não funciona pois não desperta os talentos individuais, e
cujo o objetivo se resume em fabricar robôs e se sair bem no ENEM. 
Para professores e pais, a falta de informação científica os deixa
apáticos: sem saber o que fazer com à disposição na ponta dos
dedos. Por outro lado, os alunos e filhos que odeiam a escola e não
querem aprender; vemos professores deprimidos e esgotados, e pais
estressados. A falta de informação a respeito do funcionamento
cerebral e dos distúrbios cognitivos nos faz achar que o “não
aprendizado” é algo normal, mas não é. Na nossa ignorância,
achamos que a culpa é sempre da criança que não quer aprender ou
do professor que está cansado e não tem mais tolerância; entretanto
esse sistema de ensino infértil, baseado nos séculos passados, não
pode ter sucesso nessa atual era digital, onde crianças e adultos tem
a mais alta tecnologia dos celulares mitos e a simplificação em torno
da neurociência fazem parecer que existem soluções imediatas para
problemas de comportamento, ou promessas mirabolantes de alta
performance cerebral, de memória etc. Isso está mais para a
“neurociência do delírio”, pois não há uma fórmula pronta ou um botão
instantâneo para o turbinar o cérebro ou curar um vício.
Entretanto a boa e velha fórmula ainda parece ser a mesma: sempre
buscar pessoas, experiências e coisas que nos alegram, manter um
espírito jovem para continuar cultivando a curiosidade, a fim de
aprender e fazer coisas novas, assim como sair da rotina, viajar,
experimentar novos sabores, aprender a tocar um instrumento
musical, praticar um esporte ou um lazer que nos faça sentir total
prazer e contentamento na vida. Neste caso, neurocientistas afirmam
que APRENDER SEMPRE, CONHECER SEMPRE, FAZER e
MUDAR SEMPRE, pode ser a fórmula mais acertada para a saúde da
mente e do
corpo. 
Este livro pretende viabilizar o pleno exercício dos estímulos externos,
propondo aulas mais lúdicas, desafiantes e divertidas, com
brincadeiras, dinâmicas e dicas para tornar as salas de aula mais
prazerosas e interessantes. 
A proposta deste trabalho também é buscar conceitos importantes da
neurociência cognitiva e estratégias de ensino baseadas nesses
conceitos, a fim de utilizar tais conceitos e estratégias como meios de
transformação das salas de aula, onde as crianças queiram
frequentar pelo fato de ser prazeroso, e não por obrigação.
 
Finalmente, essa literatura propõe o exercício da neuroeducação com
uma linguagem simples e prática, e pretende alcançar todos aqueles
que, de alguma forma, praticam o ofício de educadores e que são
formadores de opinião: professores, pais etc. 
O objetivo aqui é iniciar o leitor leigo ou com pouca informação sobre
a neuroeducação, com uma linguagem mais simples e clara pois já
existem muitas obras com linguagem acadêmica destinadas aos
neurologistas, psiquiatras e cientistas. É preciso descomplicar a
neuroeducação para que ela se torne mais acessível aos educadores
e pais de alunos a fim de entenderem de que forma o cérebro
aprende e se desenvolve, e pensar em meios de estimular essa
plasticidade cerebral com um ensino mais eficiente e divertido e uma
educação que, finalmente, venha a cultivar no aprendiz o desejo e o
estímulo de querer aprender de verdade e cultivar as múltiplas
inteligências. 
Esse livro consiste em duas partes: a parte 1 tratará dos principais
conceitos da neuroeducação. E a parte 2 reúne 47 dicas, entre elas:
brincadeiras, jogos, dinâmicas, links de aplicativos e recursos para
tornar as aulas bem mais interessantes, e mais de acordo com os
princípios neurocientíficos.
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
 
Portal IBGE, Taxa de Analfabetismo Funcional. Disponível em: 
http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?
no=4&op=0&vcodigo=PD384&t=taxa-analfabetismofuncional. Acesso
em 09 de Outubro de 2014.
Portal IDEB, Resultados e Metas. Disponível em: 
http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultadoBrasil.seam?cid=4183130. 
Acesso em 09 de Outubro de 2014.
PARTE 1
Tópico 1 O SURGIMENTO DA NEUROCIÊNCIA
Neurociência é o estudo do fundamento neuronal, no nível
biomolecular ou microscópico do comportamento, da cognição e da
emoção; a investigação do sistema nervoso, sua estrutura, seu
desenvolvimento, funcionamento, evolução, e sua relação com o
comportamento e a mente, assim como suas alterações. 
Um dos fatos que marcaram o surgimento das primeiras pesquisas
em neurociência foi o incrível caso de Phineas Cage, que trabalhando
em uma mina de carvão, teve seu cérebro perfurado por uma barra
de ferro, após uma explosão. Cage, apesar de ter sobrevivido, mudou
a sua personalidade, comportamento e humor; como consequência,
se tornou uma pessoa desagradável, grosseira, hostil, mentirosa,
teimosa e impossível de conviver no trabalho. Esse acontecimento,
segundo os neurocientistas, é um dos que marcam o nascimento das
primeiras pesquisas neurocientíficas, onde os estudos sobre o
cérebro de Cage apontavam um fundamento molecular ou neuronal
para a sua mudança de comportamento, modificando também seu
humor e caráter. A partir de então, as pesquisas se multiplicaram.
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
 
HOUZEL, S.H. O que é neurociência? Disponível em: <
http://www.cerebronosso.bio.br/o-queneurocincia/ > . Acesso: 15
Agosto 2014. 
 
OLIVEIRA, L.H: Seu cérebro: Eis o que você é. Superinteressante,
São Paulo, n.100 jan. 1996. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/ciencia/seu-cerebro-eis-o-que-voce-e>.
Acesso em: 20 set.
2014.
 
 
 
Tópico 2
O QUE É NEUROEDUCAÇÃO?
A neuroeducação é uma área interdisciplinar, pois conta com os
conhecimentos do cérebro, do comportamento, de transtornos de
aprendizagens, de psicofarmacologia e de psiquiatria. 
A neuroeducação vem auxiliar em um modelo de educação
revolucionário que funciona levando em consideração a plasticidade
cerebral, que é a capacidade cerebral infinita diante dos estímulos. 
Essa área nos mostra conceitos e descobertas da neurociência que
nos ajuda a entendercomo o cérebro aprende, se adapta e
memoriza, e como a emoção modula a memória. 
 
Com o auxílio da neuroeducação, este livro propõe pensar estratégias
e formas de aulas que promovam estímulos realmente significantes
para o cérebro humano, com o objetivo de explorar as potencialidades
e talentos dos indivíduos, e não fazer deles meros reprodutores de
fórmulas, teorias e ideias estéreis que não promovem em nada a
plasticidade cerebral e emocional, ou a capacidade infinita do
indivíduo de aprender e se desenvolver intelectualmente e
emocionalmente.
 
Com as atuais descobertas e pesquisas sobre o cérebro, os
profissionais da educação podem se apropriar desses conhecimentos,
abrindo novos caminhos para melhorar a investigação na área
educacional quanto às políticas educacionais e às práticas em sala de
aula. 
O conhecimento multidisciplinar da neuroeducação é de grande
utilidade para combater a “escola morta”, que é o grande mal da
atualidade; uma escola vazia de lições verdadeiramente estimulantes
e desafiadoras; uma escola onde a prática, a ludicidade e a
interdisciplinaridade inexistem, e que não serve de estímulo para essa
máquina de aprender que é o cérebro humano, matando aos poucos
a imaginação e a vontade de aprender dos alunos, que aliás, já foram
contaminados pela epidemia do tédio, da indisciplina e do desânimo
generalizado. 
Este livro, com sua linguagem simples, tem como missão usar o
conhecimento dinâmico e multidisciplinar da neuroeducação para
pensarmos em uma “escola viva” que seja interessante e divertida
para os indivíduos de todas as idades; que desenvolva a imaginação
e possibilite uma aprendizagem significante que realmente transforme
as vidas desses indivíduos. Uma escola onde o aluno tenha,
primeiramente, a vontade de frequentar e aprender de verdade para
desenvolver seus talentos, e não um sistema educacional que virou
um fardo e um castigo e que se tornou estéril e incapaz de gerar
competências e talentos. 
O objetivo de aprender, interagir e descobrir os próprios talentos é, e
deveria ser sempre, o propósito último da humanidade, e essas são
experiências que podem ser bastante lúdicas e interessantes, e que,
além de tudo, podem transformar a vida do indivíduo, transportando-o
para uma sensação de bem estar emocional, despertando-o para os
níveis superiores das faculdades mentais para desenvolver a
autoestima, trazendo esperança para este individuo construir seu
próprio futuro. 
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
 
GRECO, A. Cérebro. A Maravilhosa Máquina de Viver. Terceiro Nome,
2006. p.11-24.
 
HENNEMANN, A.L.O surgimento da neuroeducação. In: Meu Cérebro,
São Paulo, n.1, out. 2014. 
Disponível em: < http://meucerebro.com/revista/edicao-de-
lancamento/>. Acesso em: 15 set. 2014. 
 
Tópico 3
 
NEUROEDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM 
 
Primeiro, tanto nós educadores como os cientistas já entendemos que
não há aprendizagem sem cérebro, e por sua vez, sem neurônios,
sem neurotransmissores e sem sinapses, também não há cérebro;
partindo desse princípio, torna-se óbvia a necessidade do professor
de aprender sobre a neurobiologia da aprendizagem, que estuda a
construção do conhecimento do cérebro humano a nível molecular;
para tal, o estudo do fundamento biológico da aprendizagem e da
cognição torna-se de fundamental importância para o professor e pais
de alunos com transtornos, pois o conhecimento liberta e encontra
soluções para os problemas.
Por que ás vezes a aprendizagem não acontece? Os educadores
sabem da influência dos fatores psicossociais envolvidos, como:
miséria, violência e doença etc. Mas como explicar este insucesso
“bioquimicamente” falando? Pois entendendo a bioquímica e o déficit
de neurotransmissores nos parece mais fácil lidar com o problema,
porque pelo menos, em algum nível, ele nos parece ser, digamos:
concreto, mensurável, visível. Deste modo, a bioquímica cerebral
passa a ser interesse dos educadores e pais. Entender como funciona
a bioquímica cerebral de um indivíduo que não aprende e o ambiente
que o cerca, especialmente a dinâmica familiar, podem ser bastante
esclarecedores para o educador e pais.
Não existe criança que não queira aprender. O que existem são vários
transtornos os quais são atribuídos vários nomes: dislexia, discalculia,
TDAH, déficit disso, déficit daquilo etc. O fato é que não querer
aprender não é normal, principalmente em uma criança que
normalmente é sempre aberta ao aprendizado. Existem sim, crianças
com problemas de bloqueio e baixa autoestima, e crianças que vivem
em ambiente hostil, inseguro, repleto de ameaças e pobre de
estímulos; sabemos que tudo que acontece do lado de fora do “EU”
do indivíduo influencia o mapa dos neurônios: os neurônios são
ultrassensíveis, daí interagem com os eventos externos 24 hrs por dia,
desde do nascimento até a hora da morte.
É interessante para os educadores (pais e professores) aprender
como acontece o trabalho dos neurônios durante a aprendizagem,
principalmente diante de cenários caóticos. Fica inviável para os
professores e pais, lidar com alunos desestimulados se eles não se
familiarizarem com as novas descobertas sobre o cérebro. O
conhecimento derruba mitos e a impotência diante do desconhecido.
Portanto, saber como o cérebro opera torna mais fácil tanto ensinar
quanto aprender.
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
HENNEMANN, A.L.: O surgimento da neuroeducação. Meu Cérebro,
São Paulo, n. 1, out. 2014. 
p 6-7. Disponível em: < http://meucerebro.com/revista/edicao-de-
lancamento/>. Acesso em: 15 set.
2014. 
 
ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de
aprendizagem: uma abordagem
neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006. p.
22-57.
Tópico 4
 
OS NEURÔNIOS 
 
Apesar das últimas descobertas acerca do cérebro, a mente humana
ainda permanece um mistério. Mas para melhor entendermos o
cérebro, porque não começar por sua célula?
Se os espermatozoides são o princípio da vida, os neurônios são o
princípio da inteligência humana. Podemos comparar um neurônio a
uma nanofábrica de substâncias e materiais químicos e elétricos.
Podemos comparar os neurônios, também, a uma usina de
eletricidade com o propósito de transformar todos os estímulos que
vem do ambiente, através da percepção, em inteligência, memória e
aprendizado, etc.
Assim como em todas as fábricas, as células nervosas possuem em
seu núcleo (soma) estruturas ainda menores como canais, bombas,
depósitos, sistema de transporte, vesículas, receptores e emissores
de produtos químicos (proteínas, enzimas, açucares, etc) e energia
elétrica.
Os neurônios também são comparáveis a bilhões de peões de uma
fábrica, onde a função de cada um deles, é transmitir o impulso
elétrico e as substâncias químicas de um para o outro, cooperando-se
mutuamente, trabalhando em grupo e jamais se isolando uns dos
outros pois, caso contrário, não produziriam nada.
Um neurônio sozinho, isolado, não consegue sobreviver; ele morre. É
como se eles precisassem dar as mãos uns aos outros para passar o
material químico e elétrico de um para o outro. E curiosamente, nosso
comportamento é um reflexo do comportamento dessas células
nervosas, portanto, temos em comum esta “interdependência”.
O neurônio é a unidade fundamental do sistema nervoso. São células
incomparavelmente mais complexas do que as outras células do
corpo, principalmente por serem ultrassensíveis e especializadas em
receber, conduzir e transmitir mensagens para outros neurônios
através de suas ramificações. O neurônio é dividido em soma, axônio
e dendritos. Tem forma de uma árvore que busca sua seiva pelas
suas ramificações (imagem 1a). O axônio é semelhante ao caule ou
tronco dessa arvore, e é ramificado na ponta. O axônio é uma
estrutura especifica do neurônio. Sua função é especializada em
transferir informações por todo o sistema nervoso. Os dendritos,
portanto, são especializados em receber essas informações do axônio
de outro neurônio. A soma é o núcleo da célula. O comprimento de
um neurônio pode variar medindo de milímetros até metros.
O neurônio tem duascorrentes elétricas: uma excitatória, (que flui
para dentro do outro neurônio receptor com o objetivo de excitar o
disparo) e outra inibitória, (que flui para fora do neurônio receptor com
o objetivo de inibir o disparo). A inibição do disparo é crucial para a
operação do sistema nervoso. Este é só mais um dos
comportamentos inteligentes dessa célula, que não só responde
apropriadamente aos estímulos mas também pode inibir as respostas
porque, ás vezes, é necessário fazê-lo, tal qual o indivíduo precisa
inibir um comportamento destrutivo como acender um cigarro ou
tomar um gole a mais de whiskey. Como já foi mencionado aqui que o
comportamento humano é resultado do comportamento dos
neurônios, conclui-se que a inibição psicológica do indivíduo está
relacionada com a inibição sináptica.
Imagem 1a http://www.publicdomainpictures.net/stock-photos.php?page=90&hleda=neuronio 
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
BUSIS, N.A. Neurosciences on the internet. Disponível em:<
http://www.neuroguide.com >. Acesso em: 16 Agosto de 2014. 
 
GRECO, A. Cérebro - A máquina maravilhosa de viver . Terceiro
Nome. São Paulo. 2006. p.11-24
 
In: ________ in Língua Portuguesa
 com Acordo Ortográfico. 
Disponível em:< http://www.infopedia.pt/$neuronio>. Acesso em: 20
de set. 2014.
HOUZEL, S.H. O que é neurociência? Disponível em: <
http://www.cerebronosso.bio.br/o-queneurocincia/ > . Acesso: 15
Agosto 2014. 
 
KENSKI, R. A revolução do cérebro. In: SUPERINTERESSANTE,
Agosto de 2006 - Ed. 229, agosto de 2006 - Ed. Abril – São Paulo,
2006.
ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de
aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed.
Porto alegre: Artmed, 2006. p. 22-57.
SEUNG, S. Connectome: how the brain’s wiring makes us who we
are. ed. Houghton Mifflin Harcourt, New York, 2012. p.39-59.
SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de
Biociências USP, São Paulo, jun.
2008. Disponível em: <
http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17 set.
2014.
Tópico 5
 
SINAPSES, OS CONECTOMAS E A PLASTICIDADE CEREBRAL
Sempre ouvimos falar de Tico e Teco. Esta é uma forma bem
humorada de dar nome a sinapse entre dois neurônios, porém essa
brincadeira traduz a verdadeira natureza dessas células: “Tico não
vive sem Teco”. Um neurônio não vive sem outro, ou seja, não há
inteligência em um neurônio solitário, pois um neurônio isolado é
“burro”, “ignorante”, não pensa”: ele só se torna inteligente e funcional
a partir do momento em que ele se conecta com outro neurônio e que,
por sua vez, vai se conectar com outro, até formar um caminho ou um
circuito no cérebro. Portanto, “ser sociável” é mais um dos vários tipos
de comportamento inteligente das células nervosas e que, aliás,
também reflete no nosso comportamento. Deste modo, um circuito
neuronal começa com dois neurônios: quando um neurônio dispara
sinais elétricos passando para o outro neurônio, transmite
informações bioquímicas até formar um circuito. Tudo o que um
neurônio precisa é ficar pertinho, quase colado com o outro. Porém,
eles não se tocam. Eles são altamente dependentes uns dos outros,
entretanto, se um neurônio isolado não tem inteligência, por outro
lado, uma vasta rede de neurônios tem a capacidade de perceber,
lembrar, pensar, analisar, inventar, etc. Unidos eles são uma potência.
Portanto, se pudéssemos visualizar a inteligência, veríamos que um
neurônio é a unidade básica do sistema nervoso. Porém, dois
neurônios conectados são o princípio da inteligência humana. Tais
conexões entre neurônios são chamadas de sinapses neuronais:
consiste no local de contato entre um neurônio e outro, onde as
informações são transmitidas através das trocas de material químico
(os neurotransmissores) e elétrico (impulsos nervosos) entre os
neurônios (imagens 1b e 1c). As sinapses tem uma única direção
(sentido) e permitem que as células do cérebro se comuniquem e
formem uma rede de circuitos em sentido único, toda vez que
recebemos um novo estímulo. Ex: quando estamos aprendendo ou
vivenciando algo novo ou fazendo atividades que excitem os
neurônios, como: ler, escrever, dirigir, aprender um idioma, tocar
violão… etc, os neurônios então vão se conectar até formar um
circuito que deixará um rastro químico ou uma marca no sistema
nervoso central. 
 
Imagem 1b: disponível no site: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Corpo/neuronio.jpg
Imagem 1c: Fonte: http://www.publicdomainpictures.net/hledej.php?hleda=neuronios&x=15&y=9
Tudo que nós aprendemos e realizamos acontece a partir dessa
comunicação entre os neurônios; e para que essa dinâmica ocorra, é
preciso que haja a interação com os estímulos ambientais. O
desenvolvimento cerebral se molda a partir dos estímulos externos e
da interação social. A cada nova técnica ou arte que dominamos na
vida (leitura, escrita ou tocar um instrumento, por ex.), irá formar
novas conexões, deixando caminhos mais ou menos permanentes no
cérebro. Esse conjunto de saberes e experiências de uma vida vai
deixar um emaranhado de conexões neuronais, como se fossem
marcas de fósseis no cérebro. Os cientistas nomearam esse
emaranhado ou mapa de circuitos neuronais de conectomas. A revista
Veja publicou em Março de 2013, na edição 2311, sobre o projeto
Conectoma Humano: ”um conectoma é similar a uma central
telefônica com inúmeros fios finos entrelaçados, que é a sua rede
periférica, transmitindo informações para pontos distantes da central”
(imagem 1d). 
Connectoma humano. Imagem obtida do site The
Human Project Connectome Imagem 1d http://www.humanconnectomeproject.org/gallery/
Partindo da central, que é o cérebro e a medula, (SNC), a rede
nervosa percorre os pontos mais distantes do corpo, que é a periferia,
sistema nervoso periférico (SNP), a fim de transmitir os impulsos
nervosos para toda a extensão do corpo. 
Imagens (1e-1f): Sistema nervoso central e periférico. Fonte: http://www.publicdomainpictures.net/hledej.php?
hleda=neurosky&x=24&y=25 
O cérebro humano é o único órgão do corpo humano que não evolui
sozinho; ele precisa de outro cérebro pra evoluir; está sempre
influenciando e sendo influenciado; é uma via de mão dupla. Desde o
nascimento até a morte, o indivíduo começa a aprender interagindo
com o meio ambiente. Com isto, quase 100 bilhões de neurônios
começam a se conectar para garantir a sobrevivência do indivíduo. O
objetivo maior do cérebro humano é fazer com que essas conexões
tornem-se cada dia mais fortes, robustas e duradouras, através de
atividades que exercitem a percepção, a atenção, a memória, o
aperfeiçoamento dos talentos, o afeto e outras qualidades humanas
necessárias e exigidas nas relações sociais. Quanto mais houver
estímulos, mais eficiente se torna o cérebro, a memória e o processo
de aprendizagem; quanto mais se usa o cérebro, mais aumenta o
número de conexões neurais, enquanto o seu desuso as diminui. 
Quimicamente falando, a aprendizagem nada mais é do que um
evento sináptico que, durante o seu percurso, provoca alterações
moleculares na química neuronal, que tem como consequência
modificações que deixam marcas no cérebro.
Entretanto, tudo irá depender da prática: caso não haja frequência na
prática de uma determinada habilidade que estamos começando a
aprender, como por exemplo, aprender a tocar piano. 
Este circuito que esta começando a se formar, poderá desaparecer
com o desuso ou a falta de prática; porém, se a prática for frequente,
o circuito vai ficar cada dia mais forte, deixando uma marca de
neurônios ou um rastro químico no cérebro. 
 Quanto maior o exercício do pensamento de um
conhecimento adquirido, maior será a
possibilidade de recupera-lo na memória e expandi-lo, pois, ou o
número de neurônios aumentam, ou as relações sinápticas entre
eles se fortalecem, uma vez que aumenta a quantidade de
neurotransmissores entre esses neurônios (TABACOW, 2006, p.
99)
Portanto, a aprendizageme a memória são eventos primeiramente
químicos e elétricos, mas essa “farmácia natural” que temos na
cabeça, da qual depende qualquer aprendizagem, só funciona
plenamente sob a ação da prática e dos estímulos do meio. Por isso,
um ambiente rico de estímulos e desafios é indispensável para
qualquer indivíduo de qualquer idade. E para as crianças, tanto a
escola como o lar em que vivem são ambientes de aprendizagem, e
como tal, devem ser repletos de estímulos e desafios.
Acreditava-se antes que a inteligência tinha a ver com o tamanho da
massa encefálica, porém, hoje a neurociência entende que o princípio
da inteligência está relacionado com as sinapses neuronais e com o
cruzamento dessas conexões nos dois hemisférios cerebrais, o que
só acontece sob o efeito dos estímulos externos, por meio da
plasticidade cerebral. 
Uma investigação sobre o cérebro de Einstein, conduzida na
Universidade da Flórida, descobriu que a diferença entre o cérebro de
Einstein e de pessoas normais não estava no tamanho do cérebro,
mas sim na alta conectividade dos seus neurônios, especialmente na
alta conectividade localizada entre os dois hemisférios (corpo caloso)
e nos neurônios do córtex pré-frontal. Esses pesquisadores também
apontam uma alta densidade de neurônios e células gliais nessas
mesmas regiões do cérebro. Einstein tinha uma rede de circuitos
excepcionalmente desenvolvida pelos muitos estímulos, com sua
incansável busca e paixão pela Física. Essas duas regiões, (corpo
caloso e o córtex pré-frontal) são responsáveis, respectivamente, pela
comunicação entre os dois lados do cérebro e pela atenção,
concentração, planificação e perseverança do indivíduo. Em resumo,
a diferença entre o cérebro de Einstein e das pessoas normais estaria
no estilo de vida do físico, repleto de estímulos que eram suas
paixões: a busca incessante pelo estudo da Física, aliada com o seus
gostos por outras áreas, como a música, por exemplo. 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
BUSIS, N.A. Neurosciences on the internet. Disponível em:<
http://www.neuroguide.com >. Acesso em: 16 Agosto de 2014.
 
CÉREBRO DE EINSTEIN ERA EXCEPCIONALMENTE DESENVOLVIDO,
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diagrama-interativo-do-cerebro-humano-vivo-4398743.html > Acesso em: 05 out.
2014.
GRECO, A. Cérebro - A máquina maravilhosa de viver. Terceiro Nome. São
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intelligence? Brain, Oxford University Press, Oxford, set. 2013. Disponível em:
< http://brain.oxfordjournals.org/content/early/2013/09/24/brain.awt252 >. Acesso:
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2006 - Ed. 229, agosto de 2006 - Ed. Abril – São Paulo, 2006.
 
ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma
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< http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28632 > Acesso:
22 set. 2014
 
Tópico 6
 
A INFLUÊNCIA DOS ESTÍMULOS NA PLASTICIDADE CEREBRAL
 
A inteligência, ou a tendência facilitada para a aprendizagem,
dependem de um conjunto de fatores: genéticos, biológicos, orgânicos
e ambientais. Os fatores biológicos e orgânicos quando íntegros,
facilitam muito a aprendizagem, porém, se o ambiente é impróprio ou
hostil (com violência, indiferença, etc), isso constituirá um bloqueio
para a aprendizagem do indivíduo. Entretanto, há controvérsias
quanto aos fatores orgânicos e biológicos serem determinantes, pois é
sabido que crianças e pessoas com problemas neurológicos,
cognitivos ou com deficiência ainda assim podem aprender; apesar
das limitações desses indivíduos, o ambiente familiar, então, torna-se
um fator determinante e facilitador para eles se superarem.
Concluindo: os fatores ambientais ou externos, assim como o fator
afetivo que cercam essas pessoas, parecem ser determinantes na sua
aprendizagem. Ex: quando a família se interessa, verdadeiramente,
pelo aprendizado de seus filhos, isso parece motiva-los; é como se
eles pensassem: - Bem, se meus pais se interessam tanto pela minha
vida escolar, é porque isso deve ser mesmo muito importante, então,
eu vou me interessar também. Porém, isso é um processo
inconsciente; as crianças não se dão conta do quanto o interesse da
família os motiva.
Falando em fatores ambientais, uma das características mais
marcantes do ser humano é a sua troca de comunicação. A todo
momento, estamos recebendo e enviando mensagens (ou estímulos)
de pessoa para pessoa, de pessoas para animais e até de coisas para
pessoas, no mundo. Afinal, “coisas” não falam, mas tem significados:
pessoas influenciam e são influenciadas, e essa interação mútua
entre o cérebro e o mundo é como uma via de mão dupla: o cérebro
influencia e é influenciado pelo meio, exerce influência em tudo e em
todos à sua volta, o tempo todo.
Sabe-se que o sistema nervoso central (SNC) tem a capacidade de
sentir os estímulos do ambiente e reagir adequadamente a cada
estímulo e situação, modificando o nosso comportamento e emoção
diante desses estímulos; sabe-se também que a plasticidade cerebral
depende da comunicação e organização de nossos órgãos, células e
das trocas bioquímicas; e essa engenharia depende do nosso sistema
nervoso e do nosso sistema endócrino. Neste livro o foco, porém, é no
sistema nervoso apesar do sistema endócrino ter extrema importância
nos eventos psicológicos.
Veremos agora resumidamente, como funciona biologicamente, um
clássico exemplo de estímulo resposta na interação cérebro corpo, ou
como as percepções entram pelos nossos sentidos: quando temos a
visão de uma cobra venenosa, isso nos faz fugir correndo.
Biologicamente, como isso acontece? A resposta é simples:
nossos olhos enviam uma mensagem para o cérebro, o que faz
disparar hormônios do stress (adrenalina e cortisol), sinalizando para
a medula espinhal que aquele corpo está em perigo; por sua vez, a
medula envia a mensagem para as pernas dizendo: corra e salve-
se!!!! Essa comunicação que estabelecemos com o mundo exterior,
nada mais é do que uma extensão do que ocorre no interior do nosso
organismo. 
Já foi mencionado aqui que a ciência geralmente compara o sistema
nervoso com uma rede de telefonia altamente informatizada, com
estação central e uma rede periférica ligada por cabos e um circuito
de fiação, de maneira que sua função é receber e interpretar toda a
comunicação ou sinais que vem de fora e entra pelos órgãos do
sentido, selecionando, arquivando, desprezando o que é inútil,
processando, memorizando o que é útil e reelaborando toda a
comunicação que entra e sai pelos nossos órgãos sensoriais. No
processo, esses sinais e respostas são reelaborados em um
feedback contínuo entre o mundo exterior e o cérebro, que tem
como consequência o aprendizado e as mudanças no
comportamento. A neurociência vem nos fornecer uma explicação
para a base neurobiológica dessa interação entre estímulos e
cérebro, que, a princípio, é molecular, microscópica, neuronal e
elétrica. Sabe-se que antes do indivíduo aprender qualquer coisa:
ler, escrever, dirigir ou andar de bicicleta, por exemplo,primeiro a
ação acontece a um nível microscópico, no interior do neurônio,
influenciando nas estruturas cerebrais, para só depois se expressar
na aprendizagem e no comportamento; como já foi dito, é a nossa
farmácia natural ou fábrica de substâncias químicas, movida por
impulsos elétricos, que é acionada quando estamos aprendendo, ou
não, reagindo de acordo com o que aconteço ambiente. Já foi visto
também que, ao longo de uma vida, à medida que aprendemos
coisas novas, vivenciamos experiências e adquirimos habilidades,
vão-se fortalecendo as conexões neuronais. Cada aprendizagem e
experiência de vida molda o cérebro de acordo com o estilo de vida
do indivíduo. Essa capacidade de transformação é o que os
cientistas chamam de plasticidade cerebral (ou neuronal).
Um exemplo do impacto da plasticidade cerebral na inteligência é o
exemplo do esquilo: eles comem diferentes tipos de sementes e
nozes, porém, cada noz tem seu formato peculiar, o que exige uma
técnica diferente para abrir cada uma, mas eles usam o seu instinto
para reconhecê-las e abri-las instintivamente, entretanto, a
variedade de formatos de sementes é grande, o que demanda uma
técnica específica pra abrir cada uma delas. Esta habilidade do
esquilo de abrir as nozes é adquirida por tentativa de erros e
acertos, até chegar à perfeição. O esquilo, portanto, tem
mecanismos inatos que são modulados a partir de suas experiências
prévias de tentativas e erros; ele tem um comportamento que é 
inato, porém, ele aprende e o modifica. 
Pode-se concluir que nossa aprendizagem e comportamento são
moldados por essa engenharia neuronal, que também depende das
nossas escolhas, ações e estilo de vida; portanto, existe uma
interação entre a engenharia do cérebro e os estímulos externos,
24 horas por dia, 365 dias no ano, que opera o conjunto de
habilidades cognitivas e o comportamento humano, durante toda a
nossa existência. Pesquisas mostram que quanto mais o indivíduo
aprende, age e interage com o mundo, mais ativos se tornam seus
neurônios, o que aumenta as conexões entre eles e entre os dois
hemisférios cerebrais, tornando o cérebro ainda mais dinâmico.
Portanto, a ciência afirma que os estímulos ambientais fazem parte
da base neurobiológica da individualidade do homem. 
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
 
BUSIS, N.A. Neurosciences on the internet. Disponível em:<
http://www.neuroguide.com >. Acesso em: 16 Agosto de 2014. 
KENSKI, R. A revolução do cérebro. In: SUPERINTERESSANTE, Agosto de
2006 - Ed. 229, agosto de 2006 - Ed. Abril – São Paulo, 2006.
ROSE, S. The Future of the Brain. Oxford University Press, Reino
Unido, 2005. p.1-5.
 
ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de
aprendizagem: uma abordagem
neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006. p.
249-255 e 453-470.
SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de
Biociências USP, São Paulo, jun.
2008. pp 1-6. Disponível em: <
http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17 set.
2014.
 
Tópico 7
 
CIRCUITO CÓRTICO-LÍMBICO (CCL)
A emoção também é de interesse da neuroeducação, pois este é fator
modulador da memória e da aprendizagem: as emoções ou os
sentimentos evocados na aprendizagem podem tornar qualquer
aprendizado inesquecível, facilitando e aperfeiçoando o aprendizado;
uma criança que sofre ou passa por qualquer tipo violência emocional,
não vai conseguir aprender, devido aos mais variados bloqueios. A
emoção também pode bloquear a memória.
O que acontece quando a atividade da amígdala está aumentada ou
hiperativa é de total interesse dos educadores e pais de alunos, já que
os problemas presentes em sala de aula ou nos lares têm muito a ver
com as questões emocionais, muitas vezes mais ate do que
problemas orgânicos.
No lugar de taxar nossos alunos ou filhos de “preguiçosos” ou
“burros”, poderemos investigar melhor, detectar e entender como se
processam as suas dores emocionais, e esta pode ser a chave para
desvendar os motivos que levam uma criança a não aprender, assim
como a indisciplina extrema ou a comportamentos violentos com
colegas e professores. Por esses motivos, não podemos deixar de
mencionar o papel crucial do circuito córtico-límbico (CCL) durante o
processo da aprendizagem.
O sistema límbico se situa no meio do cérebro (imagens abaixo).
Trata-se de uma unidade responsável pelas emoções humanas. A
palavra límbico se remete ao termo limbo, margem; onde as coisas
ficam “esquecidas”, “à margem”. Deste modo, podemos compreender
o sistema límbico como o local onde se processa os afetos, as
motivações, a sexualidade, a ira, ou os sentimentos humanos mais
inconscientes etc.
O circuito córtico-límbico, como o nome já diz, é um circuito
cerebral onde o córtex interage com o sistema límbico. Esse circuito
conecta a amígdala, o hipocampo, o córtex pré-frontal e o núcleo o
tálamo. Como o sistema límbico é parte desse circuito, então, como
foi mencionado acima ele é responsável pelo afeto, as amizades, o
amor, o humor, mas, principalmente, os estados mais primitivos das
emoções humanas de medo, pânico, ansiedade, ira, agressividade
e violência. Muitas funções tem sido atribuídas à este circuito
quando se refere à memória, à atenção, à motivação, à
interpretação do significado emocional dos estímulos sensoriais e
até aos aspectos emocionais dos sonhos. Segundo Antônio
Damásio (2001), pessoas que possuem alguma deficiência no
sistema límbico, pode apresentar dificuldades de aprendizagem e
de comportamento, provavelmente, pelo fato do humor e das
emoções (detonados pelo sistema límbico e componente do circuito
córtico-límbico), serem moduladores da memória; pode-se afirmar
que, se o indivíduo estiver mal-humorado, ansioso, deprimido ou
ainda desmotivado, esses fatores podem afetar diretamente a
memória e a atenção, ameaçando a aprendizagem plena; por isso
dizemos que o humor e as emoções “modulam” ou “regulam” a
memória.
 
Sistema límbico. As imagens acima (1g-1h) estão disponíveis no site: http://www.clickgratis.com.br/fotos-
imagens/sistema-limbico/
As informações que viajam por esse circuito nos ajudam a
reconhecer e a gerar reações adaptativas aos desafios que
encaramos no meio ambiente. Uma disfunção nesse circuito, e o
indivíduo pode vir a manifestar reações anormais ou inapropriadas
aos desafios da vida. Essas disfunções, na sua maioria, estão
ligadas aos sintomas de transtornos do humor, da ansiedade, stress
agudo, depressão, assim como o transtorno de personalidade,
autismo etc. As psicopatologias associadas ao transtorno do circuito
córtico-límbico são essencialmente reações anormais ou não-
adaptativas diante dos desafios do meio ambiente, especialmente
as ameaças que nos cercam.
Imagem 1i: sistema límbico (em laranja). Fonte: http://www.shutterstock.com/pic.mhtml?id=232605781
O indivíduo quando tem um transtorno no circuito córtico-límbico não
sabe como reagir diante de certas situações de pressão,
frequentemente se comportando inapropriadamente com emoções
exageradas. Tal transtorno pode levar à rompantes de agressão,
violência, crises de choro, pânico ou desespero, sem um motivo real
que justifique. Estudos apontam que tais transtornos do circuito
córtico-límbico e essas reações desproporcionais aos desafios
ambientais são acionados pelas amídalas quando não estão
funcionando corretamente. Em resumo, as amígdalas desreguladas
fazem com que os indivíduos se comportem imaturamente, levados
por um desequilíbrio emocional, como se sofressem de um
infantilismo eterno. O indivíduo envelhece agindo
desproporcionalmente, tornando-se muitas vezes um transtorno ou
um incômodo para os que convivem com ele. Entretanto, não
podemos deixar de dar importância aos fatores desencadeadores,
como criação, traumas ou tragédias da vida, que podem desencadear
o transtorno no circuito córtico-límbico. Ex: Um período em que o
indivíduo sofre de um stress contínuo pode fazer com que ele se
assuste e sinta taquicardia, até com um telefone quando toca, por
exemplo. Mas, não pode-se afirmar que todo comportamento
exageradoou imaturo seja, de fato, uma disfunção no circuito córtico-
límbico. Isso também pode ser apenas um simples caso de histeria.
Portanto, as amígdalas, sendo um componente do circuito, é fator
chave para o entendimento de muitos desses sintomas e transtornos;
e uma disfunção observada na amídala pode, de fato, influenciar em
outros pontos do circuito, especialmente no hipocampo e no córtex
pré-frontal. A seguir, será explicado como acontecem as alterações na
atividade das amídalas e os diversos sintomas referentes à várias
psicopatologias, refletidos nos transtornos do circuito córtico-límbico.
7.1. AS AMÍGDALAS 
Na verdade, os transtornos do circuito córtico-límbico, na maioria das
vezes, são causados pelo aumento ou diminuição na atividade das
amígdalas, que reflete alguns sintomas específicos de algumas
psicopatologias. As amígdalas são as estruturas do sistema límbico
onde se processam as emoções humanas: são duas glândulas do
tamanho de cerejas, localizadas no centro da estrutura subcortical
(abaixo do córtex). Elas são consideradas o cérebro emocional ou a
chave da memória emocional, local onde é disparada a emoção. Em
resumo, as amígdalas funcionam como um detector de estímulos de
nosso ambiente, ficando em estado de alerta e participando sempre
dos eventos com significado emocional, desempenhando um papel-
chave no planejamento comportamental. Qualquer acontecimento
anormal, ela entra em operação, acionando várias reações
adaptativas, enviando informações (sensações) apropriadas para o
circuito. Por este motivo, ela é o ponto de entrada das disfunções
desse circuito. Nas amígdalas estão a origem de parte dos transtornos
e dos comportamentos psicopatológicos. Isso significa dizer que, se a
amígdala sofrer uma lesão, perde-se o sentido afetivo da percepção.
Devido a sua importância, ela pode modular a atividade de outras
estruturas, e também é dependente das suas interconexões com as
outras estruturas do circuito, como o hipocampo e o córtex.
Sabe-se que, na jornada evolutiva do cérebro, a amígdala surgiu para
nos fazer perceber e reagir diante do perigo, e imediatamente fugir da
ameaça. Mas, claro, esta seria apenas uma de suas funções, pois ela
também auxilia na formação da memória. Entretanto, o primeiro
estudo a apontar a participação das amígdalas nos processos de
consolidação da memória foi o de Weiskrantz, em 1956.
Imagem (1h) das amígdalas cerebrais em vermelho. Site disponível:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f5/Amygdala.gif
Na lógica evolutiva, esses hormônios tem o objetivo de fazer a pessoa
reagir e correr, a fim de fugir do perigo imediatamente. Porém, quando
esse sistema é detonado frequentemente e sem um motivo real, os
sintomas podem ser pânico e falha de memória. Portanto, o fator
emocional está presente aí, através da ansiedade e do medo,
podendo prejudicar a memória e a aprendizagem.
O funcionamento da memória depende de outras funções, tais como
vigilância, motivação e atenção. Existe a participação ativa de
mecanismos responsáveis por motivação, recompensa e medo, uma
vez que é necessário o pareamento de uma estimulação aversiva ou
apetitiva para que se dê o condicionamento. Portanto, a capacidade
de formar memórias emocionais, constituído de emoções secundárias,
conferiu ampla vantagem aos organismos. Por outro lado, algumas
emoções parecem pouco ou nada adaptativas, como por exemplo,
aquelas envolvidas nas fobias e outros distúrbios de medo. Nesse
sentido, um processamento inadequado das emoções parece ser um
aspecto comum à grande maioria dos distúrbios mentais.
7.2. HIPERATIVIDADE DAS AMÍGDALAS 
Sabe-se então, que a característica desse circuito é gerar reações
diante dos desafios e perigos do meioambiente, porém, quando existe
uma hiperatividade na amígdala, tornamo-nos hipersensitivos ou
“exageradamente sensíveis” a qualquer acontecimento; mesmo sem
uma ameaça concreta, ela dispara reações exageradas. Como diz a
expressão: - “Faz o indivíduo fugir sem que nada o persiga”. Diante de
algum estímulo externo, ficamos estressados e nos sentimos
ameaçados. O corpo reage de forma exagerada aos estímulos, e as
glândulas supra renais liberam os hormônios do stress, o cortisol e a
adrenalina na corrente sanguínea, que vão ter ação no cérebro.
Na amígdala hiperativa, o córtex pré-frontal falha em regular e integrar
a amígdala, resultando em distress internalizado. É como se a
amígdala gritasse desesperadamente, e o córtex pré-frontal não
ouvisse o seu pedido de atenção. Quando isso acontece, tomamos
até um estímulo simples e inofensivo como uma ameaça real,
levando-nos a um medo irracional e ao stress. Porém, esta é uma
reação exagerada, desencadeada por uma amígdala acelerada. Esta,
geralmente, é a causa de sofrimentos que trazem níveis debilitantes
de aflições ou distress interno em certos indivíduos. Quando o
indivíduo está diante de uma ameaça ou de situações estressantes,
isso desencadeia vários sintomas, tipo: medo, ansiedade, tristeza,
preocupação, culpa, desespero, desesperança, etc. Se esses
sintomas perdurarem, podem gerar depressão, crise de pânico,
transtorno bipolar e de humor, insônia, baixa estima, euforia ou
irritabilidade, entre outros transtornos.
Há evidências sobre as consequências da disfunção do circuito
córtico-límbico sobre a aprendizagem. A maior parte dos sintomas
pode durar dias a semanas. Foi detectado através de exames de
imagens (PET) que indivíduos com depressão que tem a amígdala
hiperativa podem sentir os sintomas, mesmo quando eles estão em
repouso e sem nenhum estímulo de medo ou raiva. Tais sintomas não
só envolvem a hiperatividade da amígdala, mas comprometem
também a função na atividade do córtex pré-frontal (CPF), parte
responsável pela aprendizagem porque afetam a atenção, memória e
motivação. A aprendizagem e a memória são indissociáveis, assim
como os são também os fatores emocionais de ansiedade e stress.
Torna-se óbvio o impacto do circuito córtico-límbico na aprendizagem.
Sendo assim, tal circuito é de total interesse do professor. Em
indivíduos sadios ou não deprimidos, a conectividade entre a
amígdala e as regiões do córtex é positiva ou normal, mas em
indivíduos que estejam passando por algum tipo de violência ou
eventos estressantes ou traumáticos, tais fatores podem detonar a
hipersensibilidade na amígdala, e assim, tornarem-se pessoas super
ansiosas, sensíveis e assustadas, ou que vivem em permanente
estado de stress e mau humor.
No transtorno, o córtex pré-frontal se torna incapaz de regular a
amígdala, resultando em depressão, crises de pânico, ou ainda pode
resultar em atos criminosos. Segundo pesquisas, os portadores dos
sintomas dos transtornos do CCL podem expressar suas aflições
externamente, na forma de comportamentos descontrolados, acesso
de fúria, prática de crimes e violência e o abuso de drogas. Deste
modo, educadores e pais compreendendo melhor alguns fatores como
problemas no meio ambiente, na família, disfunção na amídala, e
mudanças ou problemas hormonais nos processos emocionais que
podem comprometer a aprendizagem, façam com tenham mais
tolerância, compreensão e até compaixão diante de atitudes extremas
de alunos ou filhos, e fazê-los questionar sobre o porquê de seus
maus-comportamentos. Através da observação e de uma entrevista,
pode-se descobrir o que há por trás dos transtornos de aprendizagem,
indisciplina e comportamentos violentos.
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA 
ALBUQUERQUE, F.S; SILVA, R.H. A amígdala e a tênue fronteira entre memória
e emoção. Rev. psiquiatra.
Rio Gd. Sul [online]. 2009, vol.31, n.3, suppl., pp. 1-18.
http://www.scielo.br/scielo.php?
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CURY, V.C.S: Relações entre a neurociência e o ensino e aprendizagem
das artes plásticas. Escola de comunicações e artes USP, São Paulo,
2007. Disponível em: <
file:///C:/Users/Tania/Downloads/5062962%20(1).pdf > Acesso em: 15
dez. 2014.
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em: http://www.nature.com/nature/journal/v413/n6858/full/413781a0.html.
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DURAN, K.M; VENANCIO, L.R; RIBEIRO, L.S. Influência das emoções na
cognição. 2004. Disponível em:
http://www.ic.unicamp.br/~wainer/cursos/906/trabalhos/Trabalho_E1.pdf Acesso
em: 03 fev de 2015.
ESPERIDIÃO, A.V. et al. Neurobiologia das emoções. Rev. Psiq. Clín, São
Paulo, v. 35, n.2, 2008. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S0101-60832008000200003&script=sci_arttext> Acesso: 04 fev. 2014. 
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brain. Duke: Duke University, 2015. p. 61-92. 
PURVES, D. et al. Principles of cognitive neuroscience. Sinauer Associates,
2012. p. 465-500. SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento.
Instituto de Biociências USP, São Paulo, jun. 2008. Disponível em: <
http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf> . Acesso em: 17 set. 2014.
 
Tópico 8
OS NEUROTRANSMISSORES 
Os neurotransmissores são proteínas ou substâncias químicas
cerebrais que são responsáveis pela comunicação química entre os
neurônios: as sinapses. A ação equilibrada dessas substâncias é o
que nos impulsiona para a vida e nos proporciona o ato de
aprender. Por outro lado, sem essas substâncias não existem as
sinapses, e por esse motivo, o seu desequilíbrio pode provocar os
mais variados bloqueios de aprendizagem e até levar o indivíduo à
depressão. 
Os processos mentais começam nas esferas moleculares e
microscópicas, até evoluírem para a esfera comportamental, aquela
que é visível no comportamento. Como já falamos antes, podemos
comparar o cérebro humano a uma mini farmácia natural do corpo
humano, onde centenas dessas substâncias químicas são
fabricadas e sintetizadas, a fim de modular nosso comportamento,
nossas emoções e nos auxiliar na aprendizagem. Existem centenas
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-60832008000200003&script=sci_arttext
de neurotransmissores, porém, só alguns interessam a nós,
educadores e pais. São eles: dopamina, acetilcolina, noradrenalina,
serotonina, endorfina, etc. São esses neurotransmissores que
transmitem, de neurônio para neurônio, as informações que vem
dos estímulos externos, formando as sinapses. 
O cérebro humano tem 3 funções básicas, relacionadas com esses
neurotransmissores: excitá-los, inibi-los ou modulá-los. Portanto, a
depender do estímulo, uma dessas situações acontece. No caso de
um indivíduo portador de um transtorno, ele pode, por exemplo, ter
excesso de dopamina ou falta dela. Daí, os medicamentos vão
modular esse excesso ou a falta. Ex: estudos apontam que um
psicopata tem excesso de dopamina, por isso tem que tomar um
medicamento para diminuir, enquanto que um portador de TDAH
tem a falta desse neurotransmissor. Então o tratamento pode ser a
base de Ritalina, a fim de estimular a produção da dopamina, o que
vai melhorar a concentração deste individuo.
O aprendizado nada mais é do que um misto das atividades
bioquímicas, elétricas, neuronais, cognitivas e emocionais,
interagindo com o ambiente externo através dos estímulos e
vivências que passam pelos órgãos do sentido e das estruturas
cerebrais, e que tem como consequência a mudança de
comportamento. Portanto, para que o aprendizado ocorra, é
importante aprender sobre a síntese dessas proteínas importantes
na aprendizagem, principalmente os neurotransmissores: 
dopamina, acetilcolina e noradrenalina, que são fabricados nos
neurônios e transmitidos através das sinapses. 
Imagem 1-l disponível em: 
http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/as_115.htm
Tópico 9
 
O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL (CPF)
 
As investigações científicas dos processos das funções corticais
trazem informações fundamentais para a aprendizagem e memória,
por isso, o córtex pré-frontal é uma região especialmente
interessante para os profissionais da educação, além de ser o local
onde se processam os estímulos, até se transformarem em
aprendizagem. 
Como vimos anteriormente, a região do córtex se interconecta com
todas as ouras áreas, principalmente as áreas subcorticais, o
sistema límbico e tronco encefálico que estão abaixo do córtex. O
córtex foi a última região a se desenvolver na jornada evolutiva. A
neurociência tem trazido elucidações incontestáveis, que não
deixam sombra de dúvida e inauguram uma nova era que
desvenda muitos mistérios do cérebro humano, que antes eram
insondáveis. 
O córtex pré-frontal integra três funções: função executiva, memória
de trabalho e aprendizado. A capacidade humana de aprender e
conhecer é organizada e planejada pelo córtex frontal; é ele que
comanda o complexo e sofisticado trabalho da memória, atenção,
consciência, linguagem, percepção, tomada de decisão e
pensamento. Fazendo uma comparação simples, ele funciona
como o processador de um PC, onde todas as funções dependem
de sua performance. É o processador que executa e distribui as
funções e responsabilidades para as outras partes do computador. 
Podemos comparar, também, o córtex pré-frontal com presidente
de uma grande empresa: é ele que delega e toma as grandes
decisões em todas as áreas de operação da empresa, para que ela
funcione em harmonia. A área de produção, de RH, do setor
financeiro, departamento de marketing, transporte, entrega e etc,
são comandados pelo presidente. É o presidente então, que vai
definir o que é prioridade e o que esta em segundo plano, e passar
a responsabilidade adiante para diretores e subordinados. É dessa
forma que o córtex pré-frontal desempenha seu papel central na
aprendizagem humana. Ele é o processador que participa de todos
os processos cognitivos: memória, concentração, atenção e suas
prioridades. Portanto, o córtex pré-frontal é a sede da razão; sem
ele, não haveria aprendizagem, memória, cultura, linguagem nem
civilização, pois é graças a ele que existe a sofisticação da cultura
humana e da sua arte, assim como o aperfeiçoamento dos talentos
no indivíduo. Entretanto, assim como o presidente de uma empresa
precisa dos seus funcionários para que a empresa funcione, o
córtex precisa de várias outras estruturas do cérebro: hipocampo,
amígdalas, tronco cerebral etc, a fim de delegar as diferentes
funções cerebrais.
 
Quando o córtex pré-frontal está em perfeito estado, todo o
processo cognitivo flui normalmente mas, quando há algum
problema com ele o transtorno e o caos se instala, e o cérebro não
consegue processar: o indivíduo não consegue focar a atenção e a
memória não funciona; tudo fica confuso. Veremos em mais
detalhes um exemplo de transtorno do córtex pré-frontal: o TDAH. 
 
Os processos cognitivos primários de gnosia e praxia (conhecer e
saber fazer) são funções corticais básicas mínimas para o
desenvolvimento da inteligência. Essas funções vão originar outras
ainda mais elaboradas e complexas, as funções superiores:
Portanto, é no córtex que acontece o efeito dos problemas de
aprendizagem.
Uma criança com deficiência auditiva ou visual vai enfrentar o
problema logo na entrada e na captação dos estímulos, pois ela
não ouve nem enxerga, o que por si já dificulta a aprendizagem. No
entanto, uma criança com seus órgãos sensoriais preservados, mas
que mesmo assim, não consegue aprender, é porque o problema
surge na fase da organização e da integração das percepções no
córtex pré-frontal. Porém, uma criança com seu emocional
preservado, que está cercada de proteção e afeto, e por isso atenta
e motivada, vivendo em um ambiente rico em estímulo, seja em
casa ou na escola, daí essa criança vai aprender normalmente.
Entretanto, assim fica claro que órgãos sensoriais preservados não
são garantias plenas de aprendizagem. Logo, fatores como
ambiente pobre de estímulos, doença ou problema de ordem
emocional, ou de violência e de motivação, podem interferir na fase
crucial da organização e integração das percepções no córtex,
bloqueando a aprendizagem, pois é no córtex o local onde as
percepções deixam de ser simples percepções e transformam-se
em gnosia e praxia, ou seja, conhecimento e destreza. Concluindo:
o córtex interagindo com as outras estruturas subcorticais participa
de todasas etapas de processamento da atenção, concentração e
memória.
Desenvolver uma sensibilidade para a detectação de fatores de risco
para aprendizagem na criança (como violência, desnutrição, problema
de vista e de saúde, indiferença dos pais, etc), já é “meio caminho
andado”, tanto para o professor, como para os pais. Com o
conhecimento sobre a plasticidade cerebral, o tratamento neuro
psicopedagógico fica mais fácil e rápido, detectar o fator de risco
envolvido no transtorno de aprendizagem. Para isso, a anamnese é
fundamental. Anamnese é uma entrevista em profundidade que
investiga a vida do indivíduo desde a sua gestação, e é uma
ferramenta psicopedagógica indispensável na fase inicial de qualquer
tratamento de déficit de aprendizagem (este livro fornece um modelo
bastante eficiente de anamnese psicopedagógica disponível na
internet na dica 47, pg. 79).
Imagem (1-m) disponível no site: 
http://www.whatayear.org/images/prefrontal_cortex.jpg
 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
MOURÃO, C. A. J; MELO, L.B.R: Integração de três conceitos: função executiva,
memória de trabalho e
aprendizado. Psicologia UFJF, Juiz de Fora, vol. 27, n. 3, jul/set. 2011. Disponível
em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n3/06.pdf>. Acesso: 15 nov. 2014. 
 
REZENDE, R. Minha vida sem foco. In: SUPERINTERESSANTE, Julho de 2012-
Ed. 306. Ed. Abril. São Paulo, 2012.
 
ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma
abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006.
Caps. 20 e 25.
Silva, Ana Beatriz B. Mentes inquietas. São Paulo: Editora Gente, 2003.
SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de Biociências
USP, São Paulo, jun. 2008.
Disponível em: < http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17
set. 2014. p 15-36.
 
Tópico 10
MEMÓRIA
O conhecimento da transmissão sináptica é a chave para
compreender a base neural para o aprendizado e para a memória.
As memórias são estabelecidas por modificações nas sinapses
químicas no cérebro. Já é de consenso na ciência que afirma que o
local da memória e do aprendizado não está em um único lugar
específico do encéfalo, mas sim, nas conexões neuronais por todo
o cérebro.
A memória nada mais é do que um rastro químico no cérebro,
deixado pelos neurônios. Toda vez que um estímulo novo chega ao
cérebro, produz uma descarga química que provoca uma alteração,
que pode ser permanente ou não.
A memória recente é formada e mantida por um período curto de
tempo no hipocampo. O hipocampo é como se fosse a memória do
processador de um PC, que roda na área de trabalho, enquanto
estamos trabalhando em um texto. Porém, depois da memória
solidificada, ela vai se estabelecer no córtex, na forma de circuitos
químicos - elétricos, como se fossem “trilhas” fossilizadas na
superfície do córtex.
A memória depende da prática e da frequência em que a pessoa se
submete ao um estímulo ou prática de um ofício. Por exemplo: Se o
indivíduo está aprendendo a dirigir, quanto mais vezes ele treinar a
direção, mais rápido ele vai internalizar suas habilidades ao volante;
como consequência, a memória dos procedimentos da direção vai
se solidificar mais rapidamente. Se este mesmo indivíduo está
aprendendo matemática, quanto mais ele fizer exercícios de
cálculos, mais rápido e melhor ele vai memorizar as equações e as
fórmulas. Essas práticas e repetições irão provocar mudanças no
SNC, formando um caminho deixado pelo rastro bioquímico dos
neurônios. Quanto mais praticar, as sucessivas tentativas de erros e
acertos, mais aumentará esse circuito, deixando essas “marcas”
mais robustas e permanentes no cérebro. É quando dizemos que o
indivíduo se tornou um expert e já resolve os cálculos
automaticamente. Se ele praticar as disciplinas de cálculo e dirigir
para o resto de sua vida, esses circuitos serão cada vez mais
fortalecidos, deixando marcas permanentes no cérebro. Entretanto,
se esse mesmo indivíduo optar por aprender a tocar violão,
conseguir tirar algumas notas mas logo em seguida desistir do
instrumento, esse circuito recém iniciado pelos neurônios
provavelmente irá desaparecer e cairá no esquecimento. 
Um esquema resumido sobre os tipos de memórias:
Temos a memória de curto prazo e a memória de longo prazo.
Como já mencionamos acima, a primeira fica armazenada por um
tempo no hipocampo, enquanto a segunda se armazena
definitivamente no córtex. Para que a memória a longo prazo
evolua, é necessário que o aluno veja o assunto de várias
maneiras, como ver também na prática, e discuti-los com os
demais. Tabacow (2006), afirma que esse cruzamento de
informações e práticas repetitivas aumenta o número de neurônios
e a quantidade de neurotransmissores entre esses neurônios. Isso
formará ainda mais sinapses, o que por sua vez aumentará o
circuito. Daí emerge uma nova memória de longo prazo, já
atualizada e consolidada. Quanto maior for o circuito, mais isso se
refletirá na habilidade, e vice-versa. Por este motivo, o exercício
deve ser verdadeiramente significativo, não apenas decoreba.
Lembrando que pessoas que leem mais, também fortalecem mais
as redes de sinapses. 
Quanto maior o exercício do pensamento de um conhecimento
adquirido, maior será a possibilidade de recuperá-lo na memória e
expandi-lo, pois, ou o número de neurônios que se interligam para
formar esse conhecimento aumenta ou as relações sinápticas entre
eles se fortalecem, à medida que aumenta a quantidade de
neurotransmissores entre esses neurônios.
A memória é a condição para aprender o que quer que seja. E o
processo de aprendizagem não se dá apenas em sala de aula. Este
processo não espera o período escolar para se iniciar, e a sala de
aula não é o lugar exclusivo e único da aprendizagem: o indivíduo
aprende em qualquer lugar onde o novo se apresenta, e em
qualquer idade. Na verdade, “o indivíduo começa a aprender a
partir do processo neuromaturacional, isto é, desde o ventre da
mãe, onde o feto sente e ouve. E depois que nasce começa a
reconhecer as vozes e cheiros da mãe, do pai, etc”. 
10.1. ENGRAMAS 
 
O aprendizado e a memória não estão confinados em um ponto
específico do encéfalo. Eles se localizam nos engramas que formam
os circuitos deixados pelas conexões neuronais, durante o processo
de aprendizagem, que provoca modificações no SNC.
Quando estamos na fase inicial da aprendizagem de algo, nos
primeiros momentos do processo, forma-se a primeira alteração
química ou sinapse. A retenção dessa alteração produz um engrama.
Engrama é uma unidade química fundamental de uma memória, é a
matéria-prima da memória e do conhecimento. É a gênese de um
circuito ou de uma rede de sinapses.
Depois que os estímulos externos entram pelos órgãos sensitivos,
eles passam pelo cerebelo e pelo hipocampo, onde armazenam a
memória provisoriamente até as conexões serem solidificadas como
memória definitiva, nas áreas corticais. 
Já foi mencionado antes que a memória de trabalho é uma memória
de curto prazo: ela não deixa rastro bioquímico no cérebro, pois é
muito frágil; por isso, se extingue instantaneamente, e leva tempo
para ser consolidada, principalmente por causa das inúmeras
interferências externas. Estudos apontam que a formação de uma
memória pode demorar seis horas ou mais. Já sabemos que a nossa
memória funciona por associação, por isso o conhecimento tem que
ser exercitado de várias maneiras diferentes, até que se consolidem e
se tornem memórias de longo prazo. E é por isso que a prática leva à
perfeição.
A prática, juntamente com as teorias, o cruzamento dos saberes
(interdisciplinaridade), a contextualização, a ludicidade, a gamificação,
e todas e quaisquer formas diferentes de aprender, são cruciais para
provocar os disparos dos neurônios e fortalecer as sinapses
neuronais.
Finalizando: a etapa inicial para a formação das memórias
declarativas ocorre no hipocampo e, a depender de alguns fatores,
ocorre também na amígdala e na área septal medial, onde as
memórias são evocadas. Minutos depois são ativados os receptores
do córtex, gerandoa PLP (potenciação de longo prazo). Segundo
Tabacow (2006), o hipocampo e a amígdala deixam de ser
importantes para a evocação, e elas vão se armazenar no córtex. O
armazenamento das informações, na sua fase inicial, faz-se na forma
de PLP, e o de longa duração, pelas mudanças estruturais
(sinápticas). Na PLP, após uma estimulação repetitiva e breve,
algumas sinapses aumentam por períodos prolongados.
10.1. ENGRAMAS 
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
 
ALBUQUERQUE, F.S; SILVA, R.H. A amígdala e a tênue fronteira
entre memória e emoção. Rev. psiquiatr. Rio Gd.
Sul [online]. 2009, vol.31, n.3. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S010181082009000400004&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso
em: 15 nov. 2014.
CALDERÓN, A.C. Cerebro, cognición, emoción: neurociencia y
aprendizaje. In: 7.º Congreso Internacional de Educación.
Santillana. p.23. Disponivel em:
http://www.santillana.com.ar/03/congresos/7/93.pdf. Acesso em: 15
nov. 2014.
Marcon, R.A. Moving up the Grades: relationship between preschool
model and later school success. ECRP. University of North Florida,
2002.
 
MOURÃO, C. A. J; MELO, L.B.R: Integração de três conceitos:
função executiva, memória de trabalho e
aprendizado. Psicologia UFJF, Juiz de Fora, vol. 27, n. 3, jul/set.
2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n3/06.pdf>.
Acesso: 15 nov. 2014. 
 
ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de
aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar.
ed. Porto alegre: Artmed, 2006. Caps. 2,3 e 18.
SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de
Biociências USP, São Paulo, jun. 2008. Disponível em: <
http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17 set.
2014. pp. 25, 38-50, 56 e 69.
TABACOW, L.S: Contribuições da neurociência cognitiva para a
formação de professores e pedagogos, Campinas, PUC, 2006. p.
83-104.
 
Tópico 11
 
A PLP E O IMPACTO DE UMA APRENDIZAGEM PR Á TICA,
INTERDISCIPLINAR E
CONTEXTUALIZADA NA FISIOLOGIA DOS NEURÔNIOS.
Sempre ouvimos dizer que a prática é o melhor dos mestres. Mas qual
é o impacto da ação e da prática sobre a química no cérebro humano
? Ou melhor, de que maneira podemos explicar como age a química
no cérebro sob o efeito de uma aula prática, rica em estímulos
significantes ? Por que uma aula prática tem infinitamente mais poder
sobre a memória do que a teoria ? Como podemos encontrar uma
explicação do ponto de vista bioquímico sobre a eficácia desses
estímulos fortes e repetitivos sobre o cérebro durante a
aprendizagem? Podemos achar essa explicação na potenciação de
longo prazo (PLP).
Em uma certa investigação, comandada pelos cientistas Kandel e
Schwartz in Myers (1999), eles observavam um caramujo, e eis que
se depararam com um raro momento de aprendizagem do molusco.
Eles descobriram o seguinte: as ligações sinápticas das guelras
ficavam alteradas todas as vezes que o molusco recebia um jato
d’água, imediatamente logo após um choque elétrico. Após este
condicionamento, toda vez que o jato d’água era acionado seguido do
choque elétrico, o caramujo se retraía. Nesse momento, mais
serotonina era liberada nas sinapses. Entretanto, chegou um
momento em que o simples fato de só jogar água na guelra do
caramujo, mesmo sem o choque elétrico, já fazia com que ele se
retraísse. Os cientistas entenderam então que, nesse momento,
houve uma aprendizagem, pois o caramujo se retraia
independentemente do choque, após o jato d’água. Ele aprendeu que
o jato d’água era o sinal.
Sabemos que quanto mais neurotransmissores nas sinapses, mais
eficiente se torna a transmissão de sinais, ou seja: a água era um
sinal ou um estimulo suficientemente forte para fazer com que as
sinapses no cérebro daquele caramujo liberassem mais serotonina, e
o aprendizado acontecesse. Foi então que batizaram esse fenômeno
de Potenciação de Longo Prazo (PLP). A PLP é quando, logo após
uma forte carga de estímulo, aumenta-se a força das sinapses
induzida por essa atividade que excita o neurônio e libera nas
sinapses uma maior quantidade de neurotransmissores. Isso vai
excitar e reverberar nos neurônios do hipocampo, produzindo a
memória de longo prazo. Foi então que os cientistas chegaram à
conclusão que o mesmo ocorria com os seres humanos, porém, de
forma bem mais sofisticada, eficiente e rápida, já que somos mais
inteligentes do que um caramujo.
Com um estímulo forte, significativo e repetitivo, libera-se mais
serotonina nas sinapses. Com mais eficiência na transmissão de
sinais, o neurônio precisará de menos impulso para liberar os
neurotransmissores, e os pontos receptores vão aumentar.
Na PLP ocorre um fortalecimento prolongado do disparo neuronal,
provocado por um estímulo forte, rápido e repetitivo. A PLP torna os
circuitos neuronais mais eficientes. O efeito desse estímulo –
resposta (jato d’ água ) aumenta a sensibilidade nas sinapses, 
que podem durar por horas ou semanas, a depender da
intensidade do sinal (estímulo).
“A persistência ou repetição de uma atividade reverberante tende a
induzir mudanças celulares permanentes que promovem
estabilidade no sistema” (Hebb, 1949). Hebb ainda postulou que as
ações dos neurônios provocadas pelos eventos sensoriais
(estímulos) podem continuar mesmo depois de cessadas. E quanto
mais se repetem os estímulos, mais aumenta a rede neural. E a
memória de curta duração é essencial pra que essa reverberação
ocorra. 
Deste modo, fica mais fácil entender porque uma aula dinâmica,
com toda a espécie de estímulos e com a repetição da prática é
imprescindível para a memória e para aprendizagem, ao passo que
uma aula só com teorias não promove esse disparo da PLP nem o
consequente aumento dos
neurotransmissores.
Descobrimos o que é a PLP através da investigação de um
caramujo, e como esse fenômeno acontece com estímulos fortes e
repetitivos, como jato d’ água e choque elétrico. Faremos agora
uma análise mais profunda da PLP no cérebro humano: trazendo o
fenômeno da PLP para a esfera visível da aprendizagem e do
comportamento humano, fica claro então que toda nova experiência
faz com que o estímulo fortaleça as sinapses; a própria palavra,
estímulo, vem de algo estimulante, vivo e dinâmico. Uma ação que
provoca uma reação. 
O outro fator é a repetição: a repetição da prática de uma atividade
faz com que as ligações de uma rede fiquem cada vez mais fortes,
e mais neurônios são envolvidos nessa atividade. E quanto mais
repetitivo o estímulo, mais o caminho neuronal se fortalece, e torna
mais permanente a mensagem ou o novo conhecimento. Na PLP, o
neurônio precisa de menos impulso para liberar o neurotransmissor,
e os pontos receptores podem aumentar. Quanto mais exercícios,
mais acontece a PLP o aumentam os neurotransmissores; e quanto
mais sinapses mais aprendizagem. Por outro lado, quanto menos
estímulos, menos aprendizagem, menos sinapses e menos PLP,
até o circuito cair em desuso. 
Portanto, são várias as estratégias para estimular a PLP. Por
exemplo, o conhecimento exercitado de varias maneiras é uma
delas; equivale ao “jato d’água e o choque elétrico” no caramujo.
Essa estratégia vai promover um banho de serotonina nos
neurônios, abrindo um novo caminho para a passagem das
mensagens de neurônio para neurônio, fortalecendo as sinapses. 
A memória é tudo. Ela é a matéria prima necessária para o
conhecimento, para a aprendizagem e para a consciência. 
A solidificação de uma memória pode demorar de horas a dias, a
depender das inúmeras interferências externas. E uma memória de
longa duração é um processo que leva tempo para ser consolidada.
Porém, estímulos rápidos do circuito da memória reverberam,
aumentando a sensibilidade das sinapses por horas ou semanas.
Explorar o novo também é uma estratégia: toda nova experiência
promove o disparo dos neurônios, facilitando a PLP. Explorar o
lúdico na aprendizagem também é uma estratégia, pois o lúdico
mexe com a criatividade, com a imaginação e o faz de conta.
Quanto mais formas diferentes de aprender, mais o caminho é
reativado, mais permanente se tornam as mensagens

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