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Prefácio A socióloga e professora-Mestra Tânia Virgínia Brito Sena leciona há mais de 17 anos. Ela iniciou sua carreira acadêmica ensinando inglês em cursinhos e escolas particulares dos ensinos Fundamental I e II, em Salvador-BA, para alunos da faixa etária entre 6 e 17 anos. Para a ‘Pró Taninha’ (como é conhecida), no início, tudo era novidade, mas, com o tempo, ela percebia que desanimava mais e mais, até não querer mais ensinar crianças e adolescentes. “Eles eram sempre muito barulhentos, indisciplinados e não faziam as atividades. Aliás, eles odiavam estudar inglês. Também, pudera! A forma como o inglês era ensinado no Brasil, causava mesmo tédio nos alunos, pois, o ensino era unicamente teórico e maçante. Não existia um currículo que possibilitasse o diálogo. Eles saíam do Ensino Fundamental II sem a base mínima de inglês; e no Ensino Médio nada mudava.” Ela percebeu que a mesma situação se aplicava as outras disciplinas, onde a maioria não tinha noção de Matemática e Português e, por estarem profundamente desestimulados, chegavam ao Ensino Médio, também, sem o domínio de Física e Química. Aos poucos, ela foi percebendo o quanto é falho o sistema de ensino brasileiro onde a base é 100 % teórica e a interdisciplinaridade, praticamente, não existe. Pois, os alunos veem as disciplinas de maneira fragmentada e não têm uma visão eficiente do todo. Tânia Virgínia percebeu, então, que existe um ideal para que a educação no Brasil permaneça assim: enfraquecida, a fim de gerar analfabetos funcionais, ou, seria muita ingenuidade da elite brasileira permitir que todos tivessem acesso a um ensino de qualidade, e, portanto, perceberem as injustiças sociais das quais são vítimas. Foi aí que ela dedicou-se a estudar o cérebro e a transmitir os conhecimentos e técnicas da neurociência aos professores, a fim de que eles possam transformar suas aulas em algo mais divertido e agradável possível, tanto para si próprios quanto para seus alunos. E também, para os pais poderem entender melhor como funciona o cérebro de seus filhos durante o processo de aprendizado. A Professora-Mestra Tânia Virgínia foi palestrante da Editora Saraiva e prestou consultorias para professores do Ensino Básico durante o PNLD 2014, fase em que percebeu a urgência da comunidade educacional em aprender novos conceitos, técnicas e estratégias para o aprimoramento profissional, renovando suas forças e inovando, assim, suas aulas, no intuito de despertar o interesse genuíno dos alunos pelas disciplinas. Foi aí que ela idealizou essa obra, onde reuni tudo o que aprendeu em sua vida profissional do Ensino Fundamental à Pós-graduação; como pesquisadora em neuroeducação e, durante a aquisição de seu diploma de Mestrado da Universidade de Oslo na Noruega, país este, que registra hoje, o maior índice mundial em qualidade de vida. Nota-se, nessa obra, que Tânia Virgínia esforçou-se para passar o conhecimento de maneira dinâmica e cativante aos interesses do professor. Cumprindo assim, sua missão de transmitir a neuroeducação de maneira fácil e apresentar formas divertidas e práticas de exercitar as disciplinas, seja usando brincadeiras de baixo custo ou a sofisticada tecnologia digital, como a gamificação, pois ao seu ver: “vale tudo para dinamizar as aulas”. Tânia Virgínia concluiu, recentemente, um curso de Neurologia no Instituto do Cérebro. Em seu cotidiano, dedica-se a ensinar professores da rede pública, em cursos de Pós-graduação e Mestrado, além de realizar pesquisas na área de neurofeedback usando a realidade virtual em 3D para educação, entretenimento e terapias. INTRODUÇÃO PARTE 1 Tópicos: 1. O SURGIMENTO DA NEUROCIÊNCIA 2. O QUE É NEUROEDUCAÇÃO? 3. NEUROEDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM 4. OS NEURÔNIOS 5. SINAPSES, OS CONECTOMAS E A PLASTICIDADE CEREBRAL A INFLUÊNCIA DOS ESTÍMULOS NA PLASTICIDADE CEREBRAL 7. CIRCUITO CÓRTICO-LÍMBICO (CCL) 7.1. AS AMÍGDALAS 7.2. HIPERATIVIDADE DAS AMÍGDALAS 8. O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL (CPF) 9. MEMÓRIA 9.1. ENGRAMAS 10. A PLP E O IMPACTO DE UMA APRENDIZAGEM PRÁTICA, INTERDISCIPLINAR E CONTEXTUALIZADA NA FISIOLOGIA DOS NEURÔNIOS. 11. OS NEUROTRANSMISSORES 12. ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DOS TRANSTORNOS 12.1. TDAH E SEUS SINTOMAS 13. A NEUROCIÊNCIA DA PERCEPÇÃO 14. NEUROFEEDBACK & GAMIFICAÇÃO AUXILIANDO NA EDUCAÇÃO DO FUTURO. PARTE 2 Brincadeiras e jogos: DICA 1: BOLICHE DE PETS DICA 2: CARTELA DE BINGO DICA 3: AULA DE INGLÊS COM LOGOMARCAS DICA 4: CRUZADINHAS E CACAS-PALAVRA DICA 5: JOGO DA MEMÓRIA DICA 6: JOGOS DE TABULEIRO DICA 7: DOMINÓ Algumas dinâmicas: DICA 8: NO CONGRESSO DICA 9: ENCADEAMENTO DE ESTÓRIAS DICA 10: UM ITEM DA CATEGORIA DICA 11: MÍMICA DE MÃOS DICA 12: LINHA DA VIDA DICA 13: A VIAGEM DICA 14: AUTOPROPAGANDA DICA 15: FEITIÇO VIROU CONTRA O FEITICEIRO DICA 16: PARA QUEM VOCÊ TIRA O CHAPÉU ? DICA 17: SE COLOCANDO NO LUGAR DO OUTRO DICA 18: SOLUÇÃO DE PROBLEMAS EM GRUPO DICA 19: ESTERIÓTIPO Oficinas de artes em equipe: DICA 20: Aluno faz a própria biografia ou da sua celebridade preferida. DICA 21: Criar um blog do assunto de seu interesse. DICA 22: Montar um livro de estória. DICA 23: Fazer um jornal de novidades do bairro ou da escola DICA 24: Escrever um romance. DICA 25: Montar um mural na escola. DICA 26: Fazer um documentário com o próprio celular e expor no projetor data show. DICA 27: Fazer uma propaganda com o próprio celular. DICA 28: Fazer um curta ou vídeo com trilha sonora, usando o próprio celular. DICA 29: Montar uma peça de teatro de 40 min. DICA 30: Uso de música, Karaokê, mini vídeos (propagandas, video clips e cenas legendadas de filmes ex: Charlie Chaplin). DICA 31: Um jornal da turma DICA 32: Álbum de família legendado DICA 33: Exposição fotográfica DICA 34: Trabalho de recorte e colagem DICA 35: Estimular a pesquisa e o debate. Aplicativos e museus para visualização em 3D para todas as disciplinas: DICA 36: Google Map (pirâmides do Egito). DICA 37: Google Map fundo do mar. DICA 38: Google Earth (geografia) DICA 39: Links online de mini vídeos, propagandas, filmes e documentários prontos. DICA 40: 50 museus virtuais para você visitar sem sair de casa. DICA 41: Missão Matific. Um site completo de aplicativos gratuito para o ensino de matemática. DICA 42: Biblioteca digital mundial. DICA 43: Ferramenta com jogos e simulados para melhorar o desempenho para concursos. DICA 44: Lumosity. Aplicativos para treinar o cérebro. DICA 45: Fit brain. Aplicativos para treinar o cérebro. DICA 46: Sugestões de aulas prontas do MEC para todas as disciplinas. DICA 47: Modelo de uma anamnese psicopedagógica INTRODUÇÃO Os conhecimentos da neurociência aplicada à educação, ou simplesmente neuroeducação, surgem no cenário atual como um ponto de intersecção entre as áreas de psicologia, neurociência e pedagogia. Essa área fornece a nós, professores e pais, (sim, pois todos os pais são educadores também), uma visão holística da educação sob o ponto de vista do comportamento, do cérebro, da cognição e da intuição. Pesquisas neurocientíficas têm sido atualizadas quase que diariamente com novas descobertas que enchem as prateleiras das livrarias e bancas de revistas, assim como blogs, sites e artigos científicos recém-lançados sobre o tema; e ainda assim, a neuroeducação é um assunto de pouco domínio para os pais e professores. São tantas as informações sobre o cérebro que chega a saturar nosso entendimento e nossa memória, e para o professores e pais, sobra-se pouco tempo depois das atividades diárias. Por isso, surgiu a ideia de compactar neste livro os principais conceitos que interessam a este público de educadores, além de estratégias da neuroeducação para facilitar a vida do professor em sala de aula. Este trabalho possui resultados de pesquisas recentes e uma linguagem bastante atual, com um foco na neurofisiologia da aprendizagem, assim como estratégiasa serem usadas na sala de aula. O fenômeno da aprendizagem pode ser resumido na infinita capacidade cerebral humana de modificar o comportamento a cada experiência vivida. Esse fenômeno acontece, inicialmente, a nível neuronal, e tem como consequência as mudanças visíveis na percepção e no comportamento. Nas últimas décadas, esse tema passou a ser um assunto de extrema urgência para os profissionais da educação, já que não existe aprendizagem sem cérebro; e por sua vez, o cérebro não se desenvolve sem os estímulos externos, de modo que a sobrevivência dos neurônios depende de experiências e estímulos: uma vida vazia de novos estímulos, experiências e aprendizagem pode, de fato, provocar a morte de neurônios, e um ambiente rico de estímulos facilita a aprendizagem e a memória. No que diz respeito ao cérebro humano, quanto mais se usam as suas funções cerebrais, mais se formam as sinapses. Portanto, quanto mais se aprende, mais fácil torna-se a experiência de aprender. A neurociência trouxe um reencantamento do homem pelo cérebro, porque entender o funcionamento bioquímico cerebral pode ser a chave para a solução de vários distúrbios comportamentais e cognitivos. O quadro trágico da educação no Brasil é crônico pois vem de séculos e as taxas do Ideb denunciam isso. O Ideb é o indicador da qualidade da educação básica (que vai de 0 à 10) nas instituições públicas e privadas em todo país. Segundo os últimos dados do órgão para a rede pública, as médias do Ensino Fundamental I e II são de 5.2 e 4,2 (2013). Os indicadores para o Ensino Médio (feito pelo Enem) é ainda mais trágico: média-Brasil 3.7 (2013). Quanto o analfabetismo, o Brasil está em 8º lugar no mundo. Só perde para os países subdesenvolvidos da África e da Ásia. Existem 33 milhões de analfabetos funcionais que tem menos de quatro anos de escolarização, segundo dados do IBGE. Por esta razão, parte da população não possui as habilidades mínimas requeridas para o mercado de trabalho. Diante deste quadro, o principal desafio de professores e pais na atualidade, é lidar com um modelo que não funciona pois não desperta os talentos individuais, e cujo o objetivo se resume em fabricar robôs e se sair bem no ENEM. Para professores e pais, a falta de informação científica os deixa apáticos: sem saber o que fazer com à disposição na ponta dos dedos. Por outro lado, os alunos e filhos que odeiam a escola e não querem aprender; vemos professores deprimidos e esgotados, e pais estressados. A falta de informação a respeito do funcionamento cerebral e dos distúrbios cognitivos nos faz achar que o “não aprendizado” é algo normal, mas não é. Na nossa ignorância, achamos que a culpa é sempre da criança que não quer aprender ou do professor que está cansado e não tem mais tolerância; entretanto esse sistema de ensino infértil, baseado nos séculos passados, não pode ter sucesso nessa atual era digital, onde crianças e adultos tem a mais alta tecnologia dos celulares mitos e a simplificação em torno da neurociência fazem parecer que existem soluções imediatas para problemas de comportamento, ou promessas mirabolantes de alta performance cerebral, de memória etc. Isso está mais para a “neurociência do delírio”, pois não há uma fórmula pronta ou um botão instantâneo para o turbinar o cérebro ou curar um vício. Entretanto a boa e velha fórmula ainda parece ser a mesma: sempre buscar pessoas, experiências e coisas que nos alegram, manter um espírito jovem para continuar cultivando a curiosidade, a fim de aprender e fazer coisas novas, assim como sair da rotina, viajar, experimentar novos sabores, aprender a tocar um instrumento musical, praticar um esporte ou um lazer que nos faça sentir total prazer e contentamento na vida. Neste caso, neurocientistas afirmam que APRENDER SEMPRE, CONHECER SEMPRE, FAZER e MUDAR SEMPRE, pode ser a fórmula mais acertada para a saúde da mente e do corpo. Este livro pretende viabilizar o pleno exercício dos estímulos externos, propondo aulas mais lúdicas, desafiantes e divertidas, com brincadeiras, dinâmicas e dicas para tornar as salas de aula mais prazerosas e interessantes. A proposta deste trabalho também é buscar conceitos importantes da neurociência cognitiva e estratégias de ensino baseadas nesses conceitos, a fim de utilizar tais conceitos e estratégias como meios de transformação das salas de aula, onde as crianças queiram frequentar pelo fato de ser prazeroso, e não por obrigação. Finalmente, essa literatura propõe o exercício da neuroeducação com uma linguagem simples e prática, e pretende alcançar todos aqueles que, de alguma forma, praticam o ofício de educadores e que são formadores de opinião: professores, pais etc. O objetivo aqui é iniciar o leitor leigo ou com pouca informação sobre a neuroeducação, com uma linguagem mais simples e clara pois já existem muitas obras com linguagem acadêmica destinadas aos neurologistas, psiquiatras e cientistas. É preciso descomplicar a neuroeducação para que ela se torne mais acessível aos educadores e pais de alunos a fim de entenderem de que forma o cérebro aprende e se desenvolve, e pensar em meios de estimular essa plasticidade cerebral com um ensino mais eficiente e divertido e uma educação que, finalmente, venha a cultivar no aprendiz o desejo e o estímulo de querer aprender de verdade e cultivar as múltiplas inteligências. Esse livro consiste em duas partes: a parte 1 tratará dos principais conceitos da neuroeducação. E a parte 2 reúne 47 dicas, entre elas: brincadeiras, jogos, dinâmicas, links de aplicativos e recursos para tornar as aulas bem mais interessantes, e mais de acordo com os princípios neurocientíficos. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA Portal IBGE, Taxa de Analfabetismo Funcional. Disponível em: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx? no=4&op=0&vcodigo=PD384&t=taxa-analfabetismofuncional. Acesso em 09 de Outubro de 2014. Portal IDEB, Resultados e Metas. Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultadoBrasil.seam?cid=4183130. Acesso em 09 de Outubro de 2014. PARTE 1 Tópico 1 O SURGIMENTO DA NEUROCIÊNCIA Neurociência é o estudo do fundamento neuronal, no nível biomolecular ou microscópico do comportamento, da cognição e da emoção; a investigação do sistema nervoso, sua estrutura, seu desenvolvimento, funcionamento, evolução, e sua relação com o comportamento e a mente, assim como suas alterações. Um dos fatos que marcaram o surgimento das primeiras pesquisas em neurociência foi o incrível caso de Phineas Cage, que trabalhando em uma mina de carvão, teve seu cérebro perfurado por uma barra de ferro, após uma explosão. Cage, apesar de ter sobrevivido, mudou a sua personalidade, comportamento e humor; como consequência, se tornou uma pessoa desagradável, grosseira, hostil, mentirosa, teimosa e impossível de conviver no trabalho. Esse acontecimento, segundo os neurocientistas, é um dos que marcam o nascimento das primeiras pesquisas neurocientíficas, onde os estudos sobre o cérebro de Cage apontavam um fundamento molecular ou neuronal para a sua mudança de comportamento, modificando também seu humor e caráter. A partir de então, as pesquisas se multiplicaram. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA HOUZEL, S.H. O que é neurociência? Disponível em: < http://www.cerebronosso.bio.br/o-queneurocincia/ > . Acesso: 15 Agosto 2014. OLIVEIRA, L.H: Seu cérebro: Eis o que você é. Superinteressante, São Paulo, n.100 jan. 1996. Disponível em: <http://super.abril.com.br/ciencia/seu-cerebro-eis-o-que-voce-e>. Acesso em: 20 set. 2014. Tópico 2 O QUE É NEUROEDUCAÇÃO? A neuroeducação é uma área interdisciplinar, pois conta com os conhecimentos do cérebro, do comportamento, de transtornos de aprendizagens, de psicofarmacologia e de psiquiatria. A neuroeducação vem auxiliar em um modelo de educação revolucionário que funciona levando em consideração a plasticidade cerebral, que é a capacidade cerebral infinita diante dos estímulos. Essa área nos mostra conceitos e descobertas da neurociência que nos ajuda a entendercomo o cérebro aprende, se adapta e memoriza, e como a emoção modula a memória. Com o auxílio da neuroeducação, este livro propõe pensar estratégias e formas de aulas que promovam estímulos realmente significantes para o cérebro humano, com o objetivo de explorar as potencialidades e talentos dos indivíduos, e não fazer deles meros reprodutores de fórmulas, teorias e ideias estéreis que não promovem em nada a plasticidade cerebral e emocional, ou a capacidade infinita do indivíduo de aprender e se desenvolver intelectualmente e emocionalmente. Com as atuais descobertas e pesquisas sobre o cérebro, os profissionais da educação podem se apropriar desses conhecimentos, abrindo novos caminhos para melhorar a investigação na área educacional quanto às políticas educacionais e às práticas em sala de aula. O conhecimento multidisciplinar da neuroeducação é de grande utilidade para combater a “escola morta”, que é o grande mal da atualidade; uma escola vazia de lições verdadeiramente estimulantes e desafiadoras; uma escola onde a prática, a ludicidade e a interdisciplinaridade inexistem, e que não serve de estímulo para essa máquina de aprender que é o cérebro humano, matando aos poucos a imaginação e a vontade de aprender dos alunos, que aliás, já foram contaminados pela epidemia do tédio, da indisciplina e do desânimo generalizado. Este livro, com sua linguagem simples, tem como missão usar o conhecimento dinâmico e multidisciplinar da neuroeducação para pensarmos em uma “escola viva” que seja interessante e divertida para os indivíduos de todas as idades; que desenvolva a imaginação e possibilite uma aprendizagem significante que realmente transforme as vidas desses indivíduos. Uma escola onde o aluno tenha, primeiramente, a vontade de frequentar e aprender de verdade para desenvolver seus talentos, e não um sistema educacional que virou um fardo e um castigo e que se tornou estéril e incapaz de gerar competências e talentos. O objetivo de aprender, interagir e descobrir os próprios talentos é, e deveria ser sempre, o propósito último da humanidade, e essas são experiências que podem ser bastante lúdicas e interessantes, e que, além de tudo, podem transformar a vida do indivíduo, transportando-o para uma sensação de bem estar emocional, despertando-o para os níveis superiores das faculdades mentais para desenvolver a autoestima, trazendo esperança para este individuo construir seu próprio futuro. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA GRECO, A. Cérebro. A Maravilhosa Máquina de Viver. Terceiro Nome, 2006. p.11-24. HENNEMANN, A.L.O surgimento da neuroeducação. In: Meu Cérebro, São Paulo, n.1, out. 2014. Disponível em: < http://meucerebro.com/revista/edicao-de- lancamento/>. Acesso em: 15 set. 2014. Tópico 3 NEUROEDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM Primeiro, tanto nós educadores como os cientistas já entendemos que não há aprendizagem sem cérebro, e por sua vez, sem neurônios, sem neurotransmissores e sem sinapses, também não há cérebro; partindo desse princípio, torna-se óbvia a necessidade do professor de aprender sobre a neurobiologia da aprendizagem, que estuda a construção do conhecimento do cérebro humano a nível molecular; para tal, o estudo do fundamento biológico da aprendizagem e da cognição torna-se de fundamental importância para o professor e pais de alunos com transtornos, pois o conhecimento liberta e encontra soluções para os problemas. Por que ás vezes a aprendizagem não acontece? Os educadores sabem da influência dos fatores psicossociais envolvidos, como: miséria, violência e doença etc. Mas como explicar este insucesso “bioquimicamente” falando? Pois entendendo a bioquímica e o déficit de neurotransmissores nos parece mais fácil lidar com o problema, porque pelo menos, em algum nível, ele nos parece ser, digamos: concreto, mensurável, visível. Deste modo, a bioquímica cerebral passa a ser interesse dos educadores e pais. Entender como funciona a bioquímica cerebral de um indivíduo que não aprende e o ambiente que o cerca, especialmente a dinâmica familiar, podem ser bastante esclarecedores para o educador e pais. Não existe criança que não queira aprender. O que existem são vários transtornos os quais são atribuídos vários nomes: dislexia, discalculia, TDAH, déficit disso, déficit daquilo etc. O fato é que não querer aprender não é normal, principalmente em uma criança que normalmente é sempre aberta ao aprendizado. Existem sim, crianças com problemas de bloqueio e baixa autoestima, e crianças que vivem em ambiente hostil, inseguro, repleto de ameaças e pobre de estímulos; sabemos que tudo que acontece do lado de fora do “EU” do indivíduo influencia o mapa dos neurônios: os neurônios são ultrassensíveis, daí interagem com os eventos externos 24 hrs por dia, desde do nascimento até a hora da morte. É interessante para os educadores (pais e professores) aprender como acontece o trabalho dos neurônios durante a aprendizagem, principalmente diante de cenários caóticos. Fica inviável para os professores e pais, lidar com alunos desestimulados se eles não se familiarizarem com as novas descobertas sobre o cérebro. O conhecimento derruba mitos e a impotência diante do desconhecido. Portanto, saber como o cérebro opera torna mais fácil tanto ensinar quanto aprender. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA HENNEMANN, A.L.: O surgimento da neuroeducação. Meu Cérebro, São Paulo, n. 1, out. 2014. p 6-7. Disponível em: < http://meucerebro.com/revista/edicao-de- lancamento/>. Acesso em: 15 set. 2014. ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006. p. 22-57. Tópico 4 OS NEURÔNIOS Apesar das últimas descobertas acerca do cérebro, a mente humana ainda permanece um mistério. Mas para melhor entendermos o cérebro, porque não começar por sua célula? Se os espermatozoides são o princípio da vida, os neurônios são o princípio da inteligência humana. Podemos comparar um neurônio a uma nanofábrica de substâncias e materiais químicos e elétricos. Podemos comparar os neurônios, também, a uma usina de eletricidade com o propósito de transformar todos os estímulos que vem do ambiente, através da percepção, em inteligência, memória e aprendizado, etc. Assim como em todas as fábricas, as células nervosas possuem em seu núcleo (soma) estruturas ainda menores como canais, bombas, depósitos, sistema de transporte, vesículas, receptores e emissores de produtos químicos (proteínas, enzimas, açucares, etc) e energia elétrica. Os neurônios também são comparáveis a bilhões de peões de uma fábrica, onde a função de cada um deles, é transmitir o impulso elétrico e as substâncias químicas de um para o outro, cooperando-se mutuamente, trabalhando em grupo e jamais se isolando uns dos outros pois, caso contrário, não produziriam nada. Um neurônio sozinho, isolado, não consegue sobreviver; ele morre. É como se eles precisassem dar as mãos uns aos outros para passar o material químico e elétrico de um para o outro. E curiosamente, nosso comportamento é um reflexo do comportamento dessas células nervosas, portanto, temos em comum esta “interdependência”. O neurônio é a unidade fundamental do sistema nervoso. São células incomparavelmente mais complexas do que as outras células do corpo, principalmente por serem ultrassensíveis e especializadas em receber, conduzir e transmitir mensagens para outros neurônios através de suas ramificações. O neurônio é dividido em soma, axônio e dendritos. Tem forma de uma árvore que busca sua seiva pelas suas ramificações (imagem 1a). O axônio é semelhante ao caule ou tronco dessa arvore, e é ramificado na ponta. O axônio é uma estrutura especifica do neurônio. Sua função é especializada em transferir informações por todo o sistema nervoso. Os dendritos, portanto, são especializados em receber essas informações do axônio de outro neurônio. A soma é o núcleo da célula. O comprimento de um neurônio pode variar medindo de milímetros até metros. O neurônio tem duascorrentes elétricas: uma excitatória, (que flui para dentro do outro neurônio receptor com o objetivo de excitar o disparo) e outra inibitória, (que flui para fora do neurônio receptor com o objetivo de inibir o disparo). A inibição do disparo é crucial para a operação do sistema nervoso. Este é só mais um dos comportamentos inteligentes dessa célula, que não só responde apropriadamente aos estímulos mas também pode inibir as respostas porque, ás vezes, é necessário fazê-lo, tal qual o indivíduo precisa inibir um comportamento destrutivo como acender um cigarro ou tomar um gole a mais de whiskey. Como já foi mencionado aqui que o comportamento humano é resultado do comportamento dos neurônios, conclui-se que a inibição psicológica do indivíduo está relacionada com a inibição sináptica. Imagem 1a http://www.publicdomainpictures.net/stock-photos.php?page=90&hleda=neuronio BIBLIOGRAFIA SELECIONADA BUSIS, N.A. Neurosciences on the internet. Disponível em:< http://www.neuroguide.com >. Acesso em: 16 Agosto de 2014. GRECO, A. Cérebro - A máquina maravilhosa de viver . Terceiro Nome. São Paulo. 2006. p.11-24 In: ________ in Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Disponível em:< http://www.infopedia.pt/$neuronio>. Acesso em: 20 de set. 2014. HOUZEL, S.H. O que é neurociência? Disponível em: < http://www.cerebronosso.bio.br/o-queneurocincia/ > . Acesso: 15 Agosto 2014. KENSKI, R. A revolução do cérebro. In: SUPERINTERESSANTE, Agosto de 2006 - Ed. 229, agosto de 2006 - Ed. Abril – São Paulo, 2006. ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006. p. 22-57. SEUNG, S. Connectome: how the brain’s wiring makes us who we are. ed. Houghton Mifflin Harcourt, New York, 2012. p.39-59. SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de Biociências USP, São Paulo, jun. 2008. Disponível em: < http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17 set. 2014. Tópico 5 SINAPSES, OS CONECTOMAS E A PLASTICIDADE CEREBRAL Sempre ouvimos falar de Tico e Teco. Esta é uma forma bem humorada de dar nome a sinapse entre dois neurônios, porém essa brincadeira traduz a verdadeira natureza dessas células: “Tico não vive sem Teco”. Um neurônio não vive sem outro, ou seja, não há inteligência em um neurônio solitário, pois um neurônio isolado é “burro”, “ignorante”, não pensa”: ele só se torna inteligente e funcional a partir do momento em que ele se conecta com outro neurônio e que, por sua vez, vai se conectar com outro, até formar um caminho ou um circuito no cérebro. Portanto, “ser sociável” é mais um dos vários tipos de comportamento inteligente das células nervosas e que, aliás, também reflete no nosso comportamento. Deste modo, um circuito neuronal começa com dois neurônios: quando um neurônio dispara sinais elétricos passando para o outro neurônio, transmite informações bioquímicas até formar um circuito. Tudo o que um neurônio precisa é ficar pertinho, quase colado com o outro. Porém, eles não se tocam. Eles são altamente dependentes uns dos outros, entretanto, se um neurônio isolado não tem inteligência, por outro lado, uma vasta rede de neurônios tem a capacidade de perceber, lembrar, pensar, analisar, inventar, etc. Unidos eles são uma potência. Portanto, se pudéssemos visualizar a inteligência, veríamos que um neurônio é a unidade básica do sistema nervoso. Porém, dois neurônios conectados são o princípio da inteligência humana. Tais conexões entre neurônios são chamadas de sinapses neuronais: consiste no local de contato entre um neurônio e outro, onde as informações são transmitidas através das trocas de material químico (os neurotransmissores) e elétrico (impulsos nervosos) entre os neurônios (imagens 1b e 1c). As sinapses tem uma única direção (sentido) e permitem que as células do cérebro se comuniquem e formem uma rede de circuitos em sentido único, toda vez que recebemos um novo estímulo. Ex: quando estamos aprendendo ou vivenciando algo novo ou fazendo atividades que excitem os neurônios, como: ler, escrever, dirigir, aprender um idioma, tocar violão… etc, os neurônios então vão se conectar até formar um circuito que deixará um rastro químico ou uma marca no sistema nervoso central. Imagem 1b: disponível no site: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Corpo/neuronio.jpg Imagem 1c: Fonte: http://www.publicdomainpictures.net/hledej.php?hleda=neuronios&x=15&y=9 Tudo que nós aprendemos e realizamos acontece a partir dessa comunicação entre os neurônios; e para que essa dinâmica ocorra, é preciso que haja a interação com os estímulos ambientais. O desenvolvimento cerebral se molda a partir dos estímulos externos e da interação social. A cada nova técnica ou arte que dominamos na vida (leitura, escrita ou tocar um instrumento, por ex.), irá formar novas conexões, deixando caminhos mais ou menos permanentes no cérebro. Esse conjunto de saberes e experiências de uma vida vai deixar um emaranhado de conexões neuronais, como se fossem marcas de fósseis no cérebro. Os cientistas nomearam esse emaranhado ou mapa de circuitos neuronais de conectomas. A revista Veja publicou em Março de 2013, na edição 2311, sobre o projeto Conectoma Humano: ”um conectoma é similar a uma central telefônica com inúmeros fios finos entrelaçados, que é a sua rede periférica, transmitindo informações para pontos distantes da central” (imagem 1d). Connectoma humano. Imagem obtida do site The Human Project Connectome Imagem 1d http://www.humanconnectomeproject.org/gallery/ Partindo da central, que é o cérebro e a medula, (SNC), a rede nervosa percorre os pontos mais distantes do corpo, que é a periferia, sistema nervoso periférico (SNP), a fim de transmitir os impulsos nervosos para toda a extensão do corpo. Imagens (1e-1f): Sistema nervoso central e periférico. Fonte: http://www.publicdomainpictures.net/hledej.php? hleda=neurosky&x=24&y=25 O cérebro humano é o único órgão do corpo humano que não evolui sozinho; ele precisa de outro cérebro pra evoluir; está sempre influenciando e sendo influenciado; é uma via de mão dupla. Desde o nascimento até a morte, o indivíduo começa a aprender interagindo com o meio ambiente. Com isto, quase 100 bilhões de neurônios começam a se conectar para garantir a sobrevivência do indivíduo. O objetivo maior do cérebro humano é fazer com que essas conexões tornem-se cada dia mais fortes, robustas e duradouras, através de atividades que exercitem a percepção, a atenção, a memória, o aperfeiçoamento dos talentos, o afeto e outras qualidades humanas necessárias e exigidas nas relações sociais. Quanto mais houver estímulos, mais eficiente se torna o cérebro, a memória e o processo de aprendizagem; quanto mais se usa o cérebro, mais aumenta o número de conexões neurais, enquanto o seu desuso as diminui. Quimicamente falando, a aprendizagem nada mais é do que um evento sináptico que, durante o seu percurso, provoca alterações moleculares na química neuronal, que tem como consequência modificações que deixam marcas no cérebro. Entretanto, tudo irá depender da prática: caso não haja frequência na prática de uma determinada habilidade que estamos começando a aprender, como por exemplo, aprender a tocar piano. Este circuito que esta começando a se formar, poderá desaparecer com o desuso ou a falta de prática; porém, se a prática for frequente, o circuito vai ficar cada dia mais forte, deixando uma marca de neurônios ou um rastro químico no cérebro. Quanto maior o exercício do pensamento de um conhecimento adquirido, maior será a possibilidade de recupera-lo na memória e expandi-lo, pois, ou o número de neurônios aumentam, ou as relações sinápticas entre eles se fortalecem, uma vez que aumenta a quantidade de neurotransmissores entre esses neurônios (TABACOW, 2006, p. 99) Portanto, a aprendizageme a memória são eventos primeiramente químicos e elétricos, mas essa “farmácia natural” que temos na cabeça, da qual depende qualquer aprendizagem, só funciona plenamente sob a ação da prática e dos estímulos do meio. Por isso, um ambiente rico de estímulos e desafios é indispensável para qualquer indivíduo de qualquer idade. E para as crianças, tanto a escola como o lar em que vivem são ambientes de aprendizagem, e como tal, devem ser repletos de estímulos e desafios. Acreditava-se antes que a inteligência tinha a ver com o tamanho da massa encefálica, porém, hoje a neurociência entende que o princípio da inteligência está relacionado com as sinapses neuronais e com o cruzamento dessas conexões nos dois hemisférios cerebrais, o que só acontece sob o efeito dos estímulos externos, por meio da plasticidade cerebral. Uma investigação sobre o cérebro de Einstein, conduzida na Universidade da Flórida, descobriu que a diferença entre o cérebro de Einstein e de pessoas normais não estava no tamanho do cérebro, mas sim na alta conectividade dos seus neurônios, especialmente na alta conectividade localizada entre os dois hemisférios (corpo caloso) e nos neurônios do córtex pré-frontal. Esses pesquisadores também apontam uma alta densidade de neurônios e células gliais nessas mesmas regiões do cérebro. Einstein tinha uma rede de circuitos excepcionalmente desenvolvida pelos muitos estímulos, com sua incansável busca e paixão pela Física. Essas duas regiões, (corpo caloso e o córtex pré-frontal) são responsáveis, respectivamente, pela comunicação entre os dois lados do cérebro e pela atenção, concentração, planificação e perseverança do indivíduo. Em resumo, a diferença entre o cérebro de Einstein e das pessoas normais estaria no estilo de vida do físico, repleto de estímulos que eram suas paixões: a busca incessante pelo estudo da Física, aliada com o seus gostos por outras áreas, como a música, por exemplo. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA BUSIS, N.A. Neurosciences on the internet. Disponível em:< http://www.neuroguide.com >. Acesso em: 16 Agosto de 2014. CÉREBRO DE EINSTEIN ERA EXCEPCIONALMENTE DESENVOLVIDO, Ciência hoje. Disponível em: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=56260&op=all>. Acesso em: 15 out. 2014 GIANINI, T: A mente ao vivo e em cores. Veja, São Paulo, n. 10, mar. 2013. Disponível em: http://veja.abril.com.br/acervodigital/ . Acesso em: 30 set. 2014. GORMAN, J: Projeto conectoma humano pretende criar primeiro diagrama interativo do cérebro humano vivo. Planeta ciência, jan. 2014. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/planeta- ciencia/noticia/2014/01/projeto-conectoma-humanopretende-criar-primeiro- diagrama-interativo-do-cerebro-humano-vivo-4398743.html > Acesso em: 05 out. 2014. GRECO, A. Cérebro - A máquina maravilhosa de viver. Terceiro Nome. São Paulo. 2006.p. 11-24 MEN et al: the corpus callosum of Albert Einstein‘s brain: another clue to his high intelligence? Brain, Oxford University Press, Oxford, set. 2013. Disponível em: < http://brain.oxfordjournals.org/content/early/2013/09/24/brain.awt252 >. Acesso: 01 out. 2014. OLIVEIRA, L.H: Seu cérebro: Eis o que você é. Superinteressante, São Paulo, n.100 jan. 1996. Disponível em: < http://super.abril.com.br/ciencia/seu- cerebro-eis-voce-e-436343.shtml. Acesso em: 20 set. 2014. KENSKI, R. A revolução do cérebro. In: SUPERINTERESSANTE, Agosto de 2006 - Ed. 229, agosto de 2006 - Ed. Abril – São Paulo, 2006. ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. pp. 44-57 e 436-451. ROSE, S. The Future of the Brain. Oxford University Press, Reino Unido, 2005. p.1-11. SILVA, M.A.G. Conhecendo nosso sistema nervoso. Disponível em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28632 > Acesso: 22 set. 2014 Tópico 6 A INFLUÊNCIA DOS ESTÍMULOS NA PLASTICIDADE CEREBRAL A inteligência, ou a tendência facilitada para a aprendizagem, dependem de um conjunto de fatores: genéticos, biológicos, orgânicos e ambientais. Os fatores biológicos e orgânicos quando íntegros, facilitam muito a aprendizagem, porém, se o ambiente é impróprio ou hostil (com violência, indiferença, etc), isso constituirá um bloqueio para a aprendizagem do indivíduo. Entretanto, há controvérsias quanto aos fatores orgânicos e biológicos serem determinantes, pois é sabido que crianças e pessoas com problemas neurológicos, cognitivos ou com deficiência ainda assim podem aprender; apesar das limitações desses indivíduos, o ambiente familiar, então, torna-se um fator determinante e facilitador para eles se superarem. Concluindo: os fatores ambientais ou externos, assim como o fator afetivo que cercam essas pessoas, parecem ser determinantes na sua aprendizagem. Ex: quando a família se interessa, verdadeiramente, pelo aprendizado de seus filhos, isso parece motiva-los; é como se eles pensassem: - Bem, se meus pais se interessam tanto pela minha vida escolar, é porque isso deve ser mesmo muito importante, então, eu vou me interessar também. Porém, isso é um processo inconsciente; as crianças não se dão conta do quanto o interesse da família os motiva. Falando em fatores ambientais, uma das características mais marcantes do ser humano é a sua troca de comunicação. A todo momento, estamos recebendo e enviando mensagens (ou estímulos) de pessoa para pessoa, de pessoas para animais e até de coisas para pessoas, no mundo. Afinal, “coisas” não falam, mas tem significados: pessoas influenciam e são influenciadas, e essa interação mútua entre o cérebro e o mundo é como uma via de mão dupla: o cérebro influencia e é influenciado pelo meio, exerce influência em tudo e em todos à sua volta, o tempo todo. Sabe-se que o sistema nervoso central (SNC) tem a capacidade de sentir os estímulos do ambiente e reagir adequadamente a cada estímulo e situação, modificando o nosso comportamento e emoção diante desses estímulos; sabe-se também que a plasticidade cerebral depende da comunicação e organização de nossos órgãos, células e das trocas bioquímicas; e essa engenharia depende do nosso sistema nervoso e do nosso sistema endócrino. Neste livro o foco, porém, é no sistema nervoso apesar do sistema endócrino ter extrema importância nos eventos psicológicos. Veremos agora resumidamente, como funciona biologicamente, um clássico exemplo de estímulo resposta na interação cérebro corpo, ou como as percepções entram pelos nossos sentidos: quando temos a visão de uma cobra venenosa, isso nos faz fugir correndo. Biologicamente, como isso acontece? A resposta é simples: nossos olhos enviam uma mensagem para o cérebro, o que faz disparar hormônios do stress (adrenalina e cortisol), sinalizando para a medula espinhal que aquele corpo está em perigo; por sua vez, a medula envia a mensagem para as pernas dizendo: corra e salve- se!!!! Essa comunicação que estabelecemos com o mundo exterior, nada mais é do que uma extensão do que ocorre no interior do nosso organismo. Já foi mencionado aqui que a ciência geralmente compara o sistema nervoso com uma rede de telefonia altamente informatizada, com estação central e uma rede periférica ligada por cabos e um circuito de fiação, de maneira que sua função é receber e interpretar toda a comunicação ou sinais que vem de fora e entra pelos órgãos do sentido, selecionando, arquivando, desprezando o que é inútil, processando, memorizando o que é útil e reelaborando toda a comunicação que entra e sai pelos nossos órgãos sensoriais. No processo, esses sinais e respostas são reelaborados em um feedback contínuo entre o mundo exterior e o cérebro, que tem como consequência o aprendizado e as mudanças no comportamento. A neurociência vem nos fornecer uma explicação para a base neurobiológica dessa interação entre estímulos e cérebro, que, a princípio, é molecular, microscópica, neuronal e elétrica. Sabe-se que antes do indivíduo aprender qualquer coisa: ler, escrever, dirigir ou andar de bicicleta, por exemplo,primeiro a ação acontece a um nível microscópico, no interior do neurônio, influenciando nas estruturas cerebrais, para só depois se expressar na aprendizagem e no comportamento; como já foi dito, é a nossa farmácia natural ou fábrica de substâncias químicas, movida por impulsos elétricos, que é acionada quando estamos aprendendo, ou não, reagindo de acordo com o que aconteço ambiente. Já foi visto também que, ao longo de uma vida, à medida que aprendemos coisas novas, vivenciamos experiências e adquirimos habilidades, vão-se fortalecendo as conexões neuronais. Cada aprendizagem e experiência de vida molda o cérebro de acordo com o estilo de vida do indivíduo. Essa capacidade de transformação é o que os cientistas chamam de plasticidade cerebral (ou neuronal). Um exemplo do impacto da plasticidade cerebral na inteligência é o exemplo do esquilo: eles comem diferentes tipos de sementes e nozes, porém, cada noz tem seu formato peculiar, o que exige uma técnica diferente para abrir cada uma, mas eles usam o seu instinto para reconhecê-las e abri-las instintivamente, entretanto, a variedade de formatos de sementes é grande, o que demanda uma técnica específica pra abrir cada uma delas. Esta habilidade do esquilo de abrir as nozes é adquirida por tentativa de erros e acertos, até chegar à perfeição. O esquilo, portanto, tem mecanismos inatos que são modulados a partir de suas experiências prévias de tentativas e erros; ele tem um comportamento que é inato, porém, ele aprende e o modifica. Pode-se concluir que nossa aprendizagem e comportamento são moldados por essa engenharia neuronal, que também depende das nossas escolhas, ações e estilo de vida; portanto, existe uma interação entre a engenharia do cérebro e os estímulos externos, 24 horas por dia, 365 dias no ano, que opera o conjunto de habilidades cognitivas e o comportamento humano, durante toda a nossa existência. Pesquisas mostram que quanto mais o indivíduo aprende, age e interage com o mundo, mais ativos se tornam seus neurônios, o que aumenta as conexões entre eles e entre os dois hemisférios cerebrais, tornando o cérebro ainda mais dinâmico. Portanto, a ciência afirma que os estímulos ambientais fazem parte da base neurobiológica da individualidade do homem. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA BUSIS, N.A. Neurosciences on the internet. Disponível em:< http://www.neuroguide.com >. Acesso em: 16 Agosto de 2014. KENSKI, R. A revolução do cérebro. In: SUPERINTERESSANTE, Agosto de 2006 - Ed. 229, agosto de 2006 - Ed. Abril – São Paulo, 2006. ROSE, S. The Future of the Brain. Oxford University Press, Reino Unido, 2005. p.1-5. ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006. p. 249-255 e 453-470. SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de Biociências USP, São Paulo, jun. 2008. pp 1-6. Disponível em: < http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17 set. 2014. Tópico 7 CIRCUITO CÓRTICO-LÍMBICO (CCL) A emoção também é de interesse da neuroeducação, pois este é fator modulador da memória e da aprendizagem: as emoções ou os sentimentos evocados na aprendizagem podem tornar qualquer aprendizado inesquecível, facilitando e aperfeiçoando o aprendizado; uma criança que sofre ou passa por qualquer tipo violência emocional, não vai conseguir aprender, devido aos mais variados bloqueios. A emoção também pode bloquear a memória. O que acontece quando a atividade da amígdala está aumentada ou hiperativa é de total interesse dos educadores e pais de alunos, já que os problemas presentes em sala de aula ou nos lares têm muito a ver com as questões emocionais, muitas vezes mais ate do que problemas orgânicos. No lugar de taxar nossos alunos ou filhos de “preguiçosos” ou “burros”, poderemos investigar melhor, detectar e entender como se processam as suas dores emocionais, e esta pode ser a chave para desvendar os motivos que levam uma criança a não aprender, assim como a indisciplina extrema ou a comportamentos violentos com colegas e professores. Por esses motivos, não podemos deixar de mencionar o papel crucial do circuito córtico-límbico (CCL) durante o processo da aprendizagem. O sistema límbico se situa no meio do cérebro (imagens abaixo). Trata-se de uma unidade responsável pelas emoções humanas. A palavra límbico se remete ao termo limbo, margem; onde as coisas ficam “esquecidas”, “à margem”. Deste modo, podemos compreender o sistema límbico como o local onde se processa os afetos, as motivações, a sexualidade, a ira, ou os sentimentos humanos mais inconscientes etc. O circuito córtico-límbico, como o nome já diz, é um circuito cerebral onde o córtex interage com o sistema límbico. Esse circuito conecta a amígdala, o hipocampo, o córtex pré-frontal e o núcleo o tálamo. Como o sistema límbico é parte desse circuito, então, como foi mencionado acima ele é responsável pelo afeto, as amizades, o amor, o humor, mas, principalmente, os estados mais primitivos das emoções humanas de medo, pânico, ansiedade, ira, agressividade e violência. Muitas funções tem sido atribuídas à este circuito quando se refere à memória, à atenção, à motivação, à interpretação do significado emocional dos estímulos sensoriais e até aos aspectos emocionais dos sonhos. Segundo Antônio Damásio (2001), pessoas que possuem alguma deficiência no sistema límbico, pode apresentar dificuldades de aprendizagem e de comportamento, provavelmente, pelo fato do humor e das emoções (detonados pelo sistema límbico e componente do circuito córtico-límbico), serem moduladores da memória; pode-se afirmar que, se o indivíduo estiver mal-humorado, ansioso, deprimido ou ainda desmotivado, esses fatores podem afetar diretamente a memória e a atenção, ameaçando a aprendizagem plena; por isso dizemos que o humor e as emoções “modulam” ou “regulam” a memória. Sistema límbico. As imagens acima (1g-1h) estão disponíveis no site: http://www.clickgratis.com.br/fotos- imagens/sistema-limbico/ As informações que viajam por esse circuito nos ajudam a reconhecer e a gerar reações adaptativas aos desafios que encaramos no meio ambiente. Uma disfunção nesse circuito, e o indivíduo pode vir a manifestar reações anormais ou inapropriadas aos desafios da vida. Essas disfunções, na sua maioria, estão ligadas aos sintomas de transtornos do humor, da ansiedade, stress agudo, depressão, assim como o transtorno de personalidade, autismo etc. As psicopatologias associadas ao transtorno do circuito córtico-límbico são essencialmente reações anormais ou não- adaptativas diante dos desafios do meio ambiente, especialmente as ameaças que nos cercam. Imagem 1i: sistema límbico (em laranja). Fonte: http://www.shutterstock.com/pic.mhtml?id=232605781 O indivíduo quando tem um transtorno no circuito córtico-límbico não sabe como reagir diante de certas situações de pressão, frequentemente se comportando inapropriadamente com emoções exageradas. Tal transtorno pode levar à rompantes de agressão, violência, crises de choro, pânico ou desespero, sem um motivo real que justifique. Estudos apontam que tais transtornos do circuito córtico-límbico e essas reações desproporcionais aos desafios ambientais são acionados pelas amídalas quando não estão funcionando corretamente. Em resumo, as amígdalas desreguladas fazem com que os indivíduos se comportem imaturamente, levados por um desequilíbrio emocional, como se sofressem de um infantilismo eterno. O indivíduo envelhece agindo desproporcionalmente, tornando-se muitas vezes um transtorno ou um incômodo para os que convivem com ele. Entretanto, não podemos deixar de dar importância aos fatores desencadeadores, como criação, traumas ou tragédias da vida, que podem desencadear o transtorno no circuito córtico-límbico. Ex: Um período em que o indivíduo sofre de um stress contínuo pode fazer com que ele se assuste e sinta taquicardia, até com um telefone quando toca, por exemplo. Mas, não pode-se afirmar que todo comportamento exageradoou imaturo seja, de fato, uma disfunção no circuito córtico- límbico. Isso também pode ser apenas um simples caso de histeria. Portanto, as amígdalas, sendo um componente do circuito, é fator chave para o entendimento de muitos desses sintomas e transtornos; e uma disfunção observada na amídala pode, de fato, influenciar em outros pontos do circuito, especialmente no hipocampo e no córtex pré-frontal. A seguir, será explicado como acontecem as alterações na atividade das amídalas e os diversos sintomas referentes à várias psicopatologias, refletidos nos transtornos do circuito córtico-límbico. 7.1. AS AMÍGDALAS Na verdade, os transtornos do circuito córtico-límbico, na maioria das vezes, são causados pelo aumento ou diminuição na atividade das amígdalas, que reflete alguns sintomas específicos de algumas psicopatologias. As amígdalas são as estruturas do sistema límbico onde se processam as emoções humanas: são duas glândulas do tamanho de cerejas, localizadas no centro da estrutura subcortical (abaixo do córtex). Elas são consideradas o cérebro emocional ou a chave da memória emocional, local onde é disparada a emoção. Em resumo, as amígdalas funcionam como um detector de estímulos de nosso ambiente, ficando em estado de alerta e participando sempre dos eventos com significado emocional, desempenhando um papel- chave no planejamento comportamental. Qualquer acontecimento anormal, ela entra em operação, acionando várias reações adaptativas, enviando informações (sensações) apropriadas para o circuito. Por este motivo, ela é o ponto de entrada das disfunções desse circuito. Nas amígdalas estão a origem de parte dos transtornos e dos comportamentos psicopatológicos. Isso significa dizer que, se a amígdala sofrer uma lesão, perde-se o sentido afetivo da percepção. Devido a sua importância, ela pode modular a atividade de outras estruturas, e também é dependente das suas interconexões com as outras estruturas do circuito, como o hipocampo e o córtex. Sabe-se que, na jornada evolutiva do cérebro, a amígdala surgiu para nos fazer perceber e reagir diante do perigo, e imediatamente fugir da ameaça. Mas, claro, esta seria apenas uma de suas funções, pois ela também auxilia na formação da memória. Entretanto, o primeiro estudo a apontar a participação das amígdalas nos processos de consolidação da memória foi o de Weiskrantz, em 1956. Imagem (1h) das amígdalas cerebrais em vermelho. Site disponível: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f5/Amygdala.gif Na lógica evolutiva, esses hormônios tem o objetivo de fazer a pessoa reagir e correr, a fim de fugir do perigo imediatamente. Porém, quando esse sistema é detonado frequentemente e sem um motivo real, os sintomas podem ser pânico e falha de memória. Portanto, o fator emocional está presente aí, através da ansiedade e do medo, podendo prejudicar a memória e a aprendizagem. O funcionamento da memória depende de outras funções, tais como vigilância, motivação e atenção. Existe a participação ativa de mecanismos responsáveis por motivação, recompensa e medo, uma vez que é necessário o pareamento de uma estimulação aversiva ou apetitiva para que se dê o condicionamento. Portanto, a capacidade de formar memórias emocionais, constituído de emoções secundárias, conferiu ampla vantagem aos organismos. Por outro lado, algumas emoções parecem pouco ou nada adaptativas, como por exemplo, aquelas envolvidas nas fobias e outros distúrbios de medo. Nesse sentido, um processamento inadequado das emoções parece ser um aspecto comum à grande maioria dos distúrbios mentais. 7.2. HIPERATIVIDADE DAS AMÍGDALAS Sabe-se então, que a característica desse circuito é gerar reações diante dos desafios e perigos do meioambiente, porém, quando existe uma hiperatividade na amígdala, tornamo-nos hipersensitivos ou “exageradamente sensíveis” a qualquer acontecimento; mesmo sem uma ameaça concreta, ela dispara reações exageradas. Como diz a expressão: - “Faz o indivíduo fugir sem que nada o persiga”. Diante de algum estímulo externo, ficamos estressados e nos sentimos ameaçados. O corpo reage de forma exagerada aos estímulos, e as glândulas supra renais liberam os hormônios do stress, o cortisol e a adrenalina na corrente sanguínea, que vão ter ação no cérebro. Na amígdala hiperativa, o córtex pré-frontal falha em regular e integrar a amígdala, resultando em distress internalizado. É como se a amígdala gritasse desesperadamente, e o córtex pré-frontal não ouvisse o seu pedido de atenção. Quando isso acontece, tomamos até um estímulo simples e inofensivo como uma ameaça real, levando-nos a um medo irracional e ao stress. Porém, esta é uma reação exagerada, desencadeada por uma amígdala acelerada. Esta, geralmente, é a causa de sofrimentos que trazem níveis debilitantes de aflições ou distress interno em certos indivíduos. Quando o indivíduo está diante de uma ameaça ou de situações estressantes, isso desencadeia vários sintomas, tipo: medo, ansiedade, tristeza, preocupação, culpa, desespero, desesperança, etc. Se esses sintomas perdurarem, podem gerar depressão, crise de pânico, transtorno bipolar e de humor, insônia, baixa estima, euforia ou irritabilidade, entre outros transtornos. Há evidências sobre as consequências da disfunção do circuito córtico-límbico sobre a aprendizagem. A maior parte dos sintomas pode durar dias a semanas. Foi detectado através de exames de imagens (PET) que indivíduos com depressão que tem a amígdala hiperativa podem sentir os sintomas, mesmo quando eles estão em repouso e sem nenhum estímulo de medo ou raiva. Tais sintomas não só envolvem a hiperatividade da amígdala, mas comprometem também a função na atividade do córtex pré-frontal (CPF), parte responsável pela aprendizagem porque afetam a atenção, memória e motivação. A aprendizagem e a memória são indissociáveis, assim como os são também os fatores emocionais de ansiedade e stress. Torna-se óbvio o impacto do circuito córtico-límbico na aprendizagem. Sendo assim, tal circuito é de total interesse do professor. Em indivíduos sadios ou não deprimidos, a conectividade entre a amígdala e as regiões do córtex é positiva ou normal, mas em indivíduos que estejam passando por algum tipo de violência ou eventos estressantes ou traumáticos, tais fatores podem detonar a hipersensibilidade na amígdala, e assim, tornarem-se pessoas super ansiosas, sensíveis e assustadas, ou que vivem em permanente estado de stress e mau humor. No transtorno, o córtex pré-frontal se torna incapaz de regular a amígdala, resultando em depressão, crises de pânico, ou ainda pode resultar em atos criminosos. Segundo pesquisas, os portadores dos sintomas dos transtornos do CCL podem expressar suas aflições externamente, na forma de comportamentos descontrolados, acesso de fúria, prática de crimes e violência e o abuso de drogas. Deste modo, educadores e pais compreendendo melhor alguns fatores como problemas no meio ambiente, na família, disfunção na amídala, e mudanças ou problemas hormonais nos processos emocionais que podem comprometer a aprendizagem, façam com tenham mais tolerância, compreensão e até compaixão diante de atitudes extremas de alunos ou filhos, e fazê-los questionar sobre o porquê de seus maus-comportamentos. Através da observação e de uma entrevista, pode-se descobrir o que há por trás dos transtornos de aprendizagem, indisciplina e comportamentos violentos. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA ALBUQUERQUE, F.S; SILVA, R.H. A amígdala e a tênue fronteira entre memória e emoção. Rev. psiquiatra. Rio Gd. Sul [online]. 2009, vol.31, n.3, suppl., pp. 1-18. http://www.scielo.br/scielo.php? pid=S010181082009000400004&script=sci_abstract&tlng=pt CURY, V.C.S: Relações entre a neurociência e o ensino e aprendizagem das artes plásticas. Escola de comunicações e artes USP, São Paulo, 2007. Disponível em: < file:///C:/Users/Tania/Downloads/5062962%20(1).pdf > Acesso em: 15 dez. 2014. DAMASIO, A. Fundamental feelings. Nature n.443, Outubro. 2001. Disponível em: http://www.nature.com/nature/journal/v413/n6858/full/413781a0.html. Acesso: 15 dez. 2015. DURAN, K.M; VENANCIO, L.R; RIBEIRO, L.S. Influência das emoções na cognição. 2004. Disponível em: http://www.ic.unicamp.br/~wainer/cursos/906/trabalhos/Trabalho_E1.pdf Acesso em: 03 fev de 2015. ESPERIDIÃO, A.V. et al. Neurobiologia das emoções. Rev. Psiq. Clín, São Paulo, v. 35, n.2, 2008. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php? pid=S0101-60832008000200003&script=sci_arttext> Acesso: 04 fev. 2014. HARIRI, A. 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Os processos mentais começam nas esferas moleculares e microscópicas, até evoluírem para a esfera comportamental, aquela que é visível no comportamento. Como já falamos antes, podemos comparar o cérebro humano a uma mini farmácia natural do corpo humano, onde centenas dessas substâncias químicas são fabricadas e sintetizadas, a fim de modular nosso comportamento, nossas emoções e nos auxiliar na aprendizagem. Existem centenas http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-60832008000200003&script=sci_arttext de neurotransmissores, porém, só alguns interessam a nós, educadores e pais. São eles: dopamina, acetilcolina, noradrenalina, serotonina, endorfina, etc. São esses neurotransmissores que transmitem, de neurônio para neurônio, as informações que vem dos estímulos externos, formando as sinapses. O cérebro humano tem 3 funções básicas, relacionadas com esses neurotransmissores: excitá-los, inibi-los ou modulá-los. Portanto, a depender do estímulo, uma dessas situações acontece. No caso de um indivíduo portador de um transtorno, ele pode, por exemplo, ter excesso de dopamina ou falta dela. Daí, os medicamentos vão modular esse excesso ou a falta. Ex: estudos apontam que um psicopata tem excesso de dopamina, por isso tem que tomar um medicamento para diminuir, enquanto que um portador de TDAH tem a falta desse neurotransmissor. Então o tratamento pode ser a base de Ritalina, a fim de estimular a produção da dopamina, o que vai melhorar a concentração deste individuo. O aprendizado nada mais é do que um misto das atividades bioquímicas, elétricas, neuronais, cognitivas e emocionais, interagindo com o ambiente externo através dos estímulos e vivências que passam pelos órgãos do sentido e das estruturas cerebrais, e que tem como consequência a mudança de comportamento. Portanto, para que o aprendizado ocorra, é importante aprender sobre a síntese dessas proteínas importantes na aprendizagem, principalmente os neurotransmissores: dopamina, acetilcolina e noradrenalina, que são fabricados nos neurônios e transmitidos através das sinapses. Imagem 1-l disponível em: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/as_115.htm Tópico 9 O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL (CPF) As investigações científicas dos processos das funções corticais trazem informações fundamentais para a aprendizagem e memória, por isso, o córtex pré-frontal é uma região especialmente interessante para os profissionais da educação, além de ser o local onde se processam os estímulos, até se transformarem em aprendizagem. Como vimos anteriormente, a região do córtex se interconecta com todas as ouras áreas, principalmente as áreas subcorticais, o sistema límbico e tronco encefálico que estão abaixo do córtex. O córtex foi a última região a se desenvolver na jornada evolutiva. A neurociência tem trazido elucidações incontestáveis, que não deixam sombra de dúvida e inauguram uma nova era que desvenda muitos mistérios do cérebro humano, que antes eram insondáveis. O córtex pré-frontal integra três funções: função executiva, memória de trabalho e aprendizado. A capacidade humana de aprender e conhecer é organizada e planejada pelo córtex frontal; é ele que comanda o complexo e sofisticado trabalho da memória, atenção, consciência, linguagem, percepção, tomada de decisão e pensamento. Fazendo uma comparação simples, ele funciona como o processador de um PC, onde todas as funções dependem de sua performance. É o processador que executa e distribui as funções e responsabilidades para as outras partes do computador. Podemos comparar, também, o córtex pré-frontal com presidente de uma grande empresa: é ele que delega e toma as grandes decisões em todas as áreas de operação da empresa, para que ela funcione em harmonia. A área de produção, de RH, do setor financeiro, departamento de marketing, transporte, entrega e etc, são comandados pelo presidente. É o presidente então, que vai definir o que é prioridade e o que esta em segundo plano, e passar a responsabilidade adiante para diretores e subordinados. É dessa forma que o córtex pré-frontal desempenha seu papel central na aprendizagem humana. Ele é o processador que participa de todos os processos cognitivos: memória, concentração, atenção e suas prioridades. Portanto, o córtex pré-frontal é a sede da razão; sem ele, não haveria aprendizagem, memória, cultura, linguagem nem civilização, pois é graças a ele que existe a sofisticação da cultura humana e da sua arte, assim como o aperfeiçoamento dos talentos no indivíduo. Entretanto, assim como o presidente de uma empresa precisa dos seus funcionários para que a empresa funcione, o córtex precisa de várias outras estruturas do cérebro: hipocampo, amígdalas, tronco cerebral etc, a fim de delegar as diferentes funções cerebrais. Quando o córtex pré-frontal está em perfeito estado, todo o processo cognitivo flui normalmente mas, quando há algum problema com ele o transtorno e o caos se instala, e o cérebro não consegue processar: o indivíduo não consegue focar a atenção e a memória não funciona; tudo fica confuso. Veremos em mais detalhes um exemplo de transtorno do córtex pré-frontal: o TDAH. Os processos cognitivos primários de gnosia e praxia (conhecer e saber fazer) são funções corticais básicas mínimas para o desenvolvimento da inteligência. Essas funções vão originar outras ainda mais elaboradas e complexas, as funções superiores: Portanto, é no córtex que acontece o efeito dos problemas de aprendizagem. Uma criança com deficiência auditiva ou visual vai enfrentar o problema logo na entrada e na captação dos estímulos, pois ela não ouve nem enxerga, o que por si já dificulta a aprendizagem. No entanto, uma criança com seus órgãos sensoriais preservados, mas que mesmo assim, não consegue aprender, é porque o problema surge na fase da organização e da integração das percepções no córtex pré-frontal. Porém, uma criança com seu emocional preservado, que está cercada de proteção e afeto, e por isso atenta e motivada, vivendo em um ambiente rico em estímulo, seja em casa ou na escola, daí essa criança vai aprender normalmente. Entretanto, assim fica claro que órgãos sensoriais preservados não são garantias plenas de aprendizagem. Logo, fatores como ambiente pobre de estímulos, doença ou problema de ordem emocional, ou de violência e de motivação, podem interferir na fase crucial da organização e integração das percepções no córtex, bloqueando a aprendizagem, pois é no córtex o local onde as percepções deixam de ser simples percepções e transformam-se em gnosia e praxia, ou seja, conhecimento e destreza. Concluindo: o córtex interagindo com as outras estruturas subcorticais participa de todasas etapas de processamento da atenção, concentração e memória. Desenvolver uma sensibilidade para a detectação de fatores de risco para aprendizagem na criança (como violência, desnutrição, problema de vista e de saúde, indiferença dos pais, etc), já é “meio caminho andado”, tanto para o professor, como para os pais. Com o conhecimento sobre a plasticidade cerebral, o tratamento neuro psicopedagógico fica mais fácil e rápido, detectar o fator de risco envolvido no transtorno de aprendizagem. Para isso, a anamnese é fundamental. Anamnese é uma entrevista em profundidade que investiga a vida do indivíduo desde a sua gestação, e é uma ferramenta psicopedagógica indispensável na fase inicial de qualquer tratamento de déficit de aprendizagem (este livro fornece um modelo bastante eficiente de anamnese psicopedagógica disponível na internet na dica 47, pg. 79). Imagem (1-m) disponível no site: http://www.whatayear.org/images/prefrontal_cortex.jpg BIBLIOGRAFIA SELECIONADA MOURÃO, C. A. J; MELO, L.B.R: Integração de três conceitos: função executiva, memória de trabalho e aprendizado. Psicologia UFJF, Juiz de Fora, vol. 27, n. 3, jul/set. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n3/06.pdf>. Acesso: 15 nov. 2014. REZENDE, R. Minha vida sem foco. In: SUPERINTERESSANTE, Julho de 2012- Ed. 306. Ed. Abril. São Paulo, 2012. ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006. Caps. 20 e 25. Silva, Ana Beatriz B. Mentes inquietas. São Paulo: Editora Gente, 2003. SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de Biociências USP, São Paulo, jun. 2008. Disponível em: < http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17 set. 2014. p 15-36. Tópico 10 MEMÓRIA O conhecimento da transmissão sináptica é a chave para compreender a base neural para o aprendizado e para a memória. As memórias são estabelecidas por modificações nas sinapses químicas no cérebro. Já é de consenso na ciência que afirma que o local da memória e do aprendizado não está em um único lugar específico do encéfalo, mas sim, nas conexões neuronais por todo o cérebro. A memória nada mais é do que um rastro químico no cérebro, deixado pelos neurônios. Toda vez que um estímulo novo chega ao cérebro, produz uma descarga química que provoca uma alteração, que pode ser permanente ou não. A memória recente é formada e mantida por um período curto de tempo no hipocampo. O hipocampo é como se fosse a memória do processador de um PC, que roda na área de trabalho, enquanto estamos trabalhando em um texto. Porém, depois da memória solidificada, ela vai se estabelecer no córtex, na forma de circuitos químicos - elétricos, como se fossem “trilhas” fossilizadas na superfície do córtex. A memória depende da prática e da frequência em que a pessoa se submete ao um estímulo ou prática de um ofício. Por exemplo: Se o indivíduo está aprendendo a dirigir, quanto mais vezes ele treinar a direção, mais rápido ele vai internalizar suas habilidades ao volante; como consequência, a memória dos procedimentos da direção vai se solidificar mais rapidamente. Se este mesmo indivíduo está aprendendo matemática, quanto mais ele fizer exercícios de cálculos, mais rápido e melhor ele vai memorizar as equações e as fórmulas. Essas práticas e repetições irão provocar mudanças no SNC, formando um caminho deixado pelo rastro bioquímico dos neurônios. Quanto mais praticar, as sucessivas tentativas de erros e acertos, mais aumentará esse circuito, deixando essas “marcas” mais robustas e permanentes no cérebro. É quando dizemos que o indivíduo se tornou um expert e já resolve os cálculos automaticamente. Se ele praticar as disciplinas de cálculo e dirigir para o resto de sua vida, esses circuitos serão cada vez mais fortalecidos, deixando marcas permanentes no cérebro. Entretanto, se esse mesmo indivíduo optar por aprender a tocar violão, conseguir tirar algumas notas mas logo em seguida desistir do instrumento, esse circuito recém iniciado pelos neurônios provavelmente irá desaparecer e cairá no esquecimento. Um esquema resumido sobre os tipos de memórias: Temos a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. Como já mencionamos acima, a primeira fica armazenada por um tempo no hipocampo, enquanto a segunda se armazena definitivamente no córtex. Para que a memória a longo prazo evolua, é necessário que o aluno veja o assunto de várias maneiras, como ver também na prática, e discuti-los com os demais. Tabacow (2006), afirma que esse cruzamento de informações e práticas repetitivas aumenta o número de neurônios e a quantidade de neurotransmissores entre esses neurônios. Isso formará ainda mais sinapses, o que por sua vez aumentará o circuito. Daí emerge uma nova memória de longo prazo, já atualizada e consolidada. Quanto maior for o circuito, mais isso se refletirá na habilidade, e vice-versa. Por este motivo, o exercício deve ser verdadeiramente significativo, não apenas decoreba. Lembrando que pessoas que leem mais, também fortalecem mais as redes de sinapses. Quanto maior o exercício do pensamento de um conhecimento adquirido, maior será a possibilidade de recuperá-lo na memória e expandi-lo, pois, ou o número de neurônios que se interligam para formar esse conhecimento aumenta ou as relações sinápticas entre eles se fortalecem, à medida que aumenta a quantidade de neurotransmissores entre esses neurônios. A memória é a condição para aprender o que quer que seja. E o processo de aprendizagem não se dá apenas em sala de aula. Este processo não espera o período escolar para se iniciar, e a sala de aula não é o lugar exclusivo e único da aprendizagem: o indivíduo aprende em qualquer lugar onde o novo se apresenta, e em qualquer idade. Na verdade, “o indivíduo começa a aprender a partir do processo neuromaturacional, isto é, desde o ventre da mãe, onde o feto sente e ouve. E depois que nasce começa a reconhecer as vozes e cheiros da mãe, do pai, etc”. 10.1. ENGRAMAS O aprendizado e a memória não estão confinados em um ponto específico do encéfalo. Eles se localizam nos engramas que formam os circuitos deixados pelas conexões neuronais, durante o processo de aprendizagem, que provoca modificações no SNC. Quando estamos na fase inicial da aprendizagem de algo, nos primeiros momentos do processo, forma-se a primeira alteração química ou sinapse. A retenção dessa alteração produz um engrama. Engrama é uma unidade química fundamental de uma memória, é a matéria-prima da memória e do conhecimento. É a gênese de um circuito ou de uma rede de sinapses. Depois que os estímulos externos entram pelos órgãos sensitivos, eles passam pelo cerebelo e pelo hipocampo, onde armazenam a memória provisoriamente até as conexões serem solidificadas como memória definitiva, nas áreas corticais. Já foi mencionado antes que a memória de trabalho é uma memória de curto prazo: ela não deixa rastro bioquímico no cérebro, pois é muito frágil; por isso, se extingue instantaneamente, e leva tempo para ser consolidada, principalmente por causa das inúmeras interferências externas. Estudos apontam que a formação de uma memória pode demorar seis horas ou mais. Já sabemos que a nossa memória funciona por associação, por isso o conhecimento tem que ser exercitado de várias maneiras diferentes, até que se consolidem e se tornem memórias de longo prazo. E é por isso que a prática leva à perfeição. A prática, juntamente com as teorias, o cruzamento dos saberes (interdisciplinaridade), a contextualização, a ludicidade, a gamificação, e todas e quaisquer formas diferentes de aprender, são cruciais para provocar os disparos dos neurônios e fortalecer as sinapses neuronais. Finalizando: a etapa inicial para a formação das memórias declarativas ocorre no hipocampo e, a depender de alguns fatores, ocorre também na amígdala e na área septal medial, onde as memórias são evocadas. Minutos depois são ativados os receptores do córtex, gerandoa PLP (potenciação de longo prazo). Segundo Tabacow (2006), o hipocampo e a amígdala deixam de ser importantes para a evocação, e elas vão se armazenar no córtex. O armazenamento das informações, na sua fase inicial, faz-se na forma de PLP, e o de longa duração, pelas mudanças estruturais (sinápticas). Na PLP, após uma estimulação repetitiva e breve, algumas sinapses aumentam por períodos prolongados. 10.1. ENGRAMAS BIBLIOGRAFIA SELECIONADA ALBUQUERQUE, F.S; SILVA, R.H. A amígdala e a tênue fronteira entre memória e emoção. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul [online]. 2009, vol.31, n.3. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? pid=S010181082009000400004&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 15 nov. 2014. CALDERÓN, A.C. Cerebro, cognición, emoción: neurociencia y aprendizaje. In: 7.º Congreso Internacional de Educación. Santillana. p.23. Disponivel em: http://www.santillana.com.ar/03/congresos/7/93.pdf. Acesso em: 15 nov. 2014. Marcon, R.A. Moving up the Grades: relationship between preschool model and later school success. ECRP. University of North Florida, 2002. MOURÃO, C. A. J; MELO, L.B.R: Integração de três conceitos: função executiva, memória de trabalho e aprendizado. Psicologia UFJF, Juiz de Fora, vol. 27, n. 3, jul/set. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n3/06.pdf>. Acesso: 15 nov. 2014. ROTTA, N.T; OHLWEILER, L; RIESGO, R.S. Transtornos de aprendizagem: uma abordagem neurobiológica e multidisciplinar. ed. Porto alegre: Artmed, 2006. Caps. 2,3 e 18. SUMI, W: 1° curso de neurociências e comportamento. Instituto de Biociências USP, São Paulo, jun. 2008. Disponível em: < http://www.ib.usp.br/labnec/curso/material.pdf>. Acesso em: 17 set. 2014. pp. 25, 38-50, 56 e 69. TABACOW, L.S: Contribuições da neurociência cognitiva para a formação de professores e pedagogos, Campinas, PUC, 2006. p. 83-104. Tópico 11 A PLP E O IMPACTO DE UMA APRENDIZAGEM PR Á TICA, INTERDISCIPLINAR E CONTEXTUALIZADA NA FISIOLOGIA DOS NEURÔNIOS. Sempre ouvimos dizer que a prática é o melhor dos mestres. Mas qual é o impacto da ação e da prática sobre a química no cérebro humano ? Ou melhor, de que maneira podemos explicar como age a química no cérebro sob o efeito de uma aula prática, rica em estímulos significantes ? Por que uma aula prática tem infinitamente mais poder sobre a memória do que a teoria ? Como podemos encontrar uma explicação do ponto de vista bioquímico sobre a eficácia desses estímulos fortes e repetitivos sobre o cérebro durante a aprendizagem? Podemos achar essa explicação na potenciação de longo prazo (PLP). Em uma certa investigação, comandada pelos cientistas Kandel e Schwartz in Myers (1999), eles observavam um caramujo, e eis que se depararam com um raro momento de aprendizagem do molusco. Eles descobriram o seguinte: as ligações sinápticas das guelras ficavam alteradas todas as vezes que o molusco recebia um jato d’água, imediatamente logo após um choque elétrico. Após este condicionamento, toda vez que o jato d’água era acionado seguido do choque elétrico, o caramujo se retraía. Nesse momento, mais serotonina era liberada nas sinapses. Entretanto, chegou um momento em que o simples fato de só jogar água na guelra do caramujo, mesmo sem o choque elétrico, já fazia com que ele se retraísse. Os cientistas entenderam então que, nesse momento, houve uma aprendizagem, pois o caramujo se retraia independentemente do choque, após o jato d’água. Ele aprendeu que o jato d’água era o sinal. Sabemos que quanto mais neurotransmissores nas sinapses, mais eficiente se torna a transmissão de sinais, ou seja: a água era um sinal ou um estimulo suficientemente forte para fazer com que as sinapses no cérebro daquele caramujo liberassem mais serotonina, e o aprendizado acontecesse. Foi então que batizaram esse fenômeno de Potenciação de Longo Prazo (PLP). A PLP é quando, logo após uma forte carga de estímulo, aumenta-se a força das sinapses induzida por essa atividade que excita o neurônio e libera nas sinapses uma maior quantidade de neurotransmissores. Isso vai excitar e reverberar nos neurônios do hipocampo, produzindo a memória de longo prazo. Foi então que os cientistas chegaram à conclusão que o mesmo ocorria com os seres humanos, porém, de forma bem mais sofisticada, eficiente e rápida, já que somos mais inteligentes do que um caramujo. Com um estímulo forte, significativo e repetitivo, libera-se mais serotonina nas sinapses. Com mais eficiência na transmissão de sinais, o neurônio precisará de menos impulso para liberar os neurotransmissores, e os pontos receptores vão aumentar. Na PLP ocorre um fortalecimento prolongado do disparo neuronal, provocado por um estímulo forte, rápido e repetitivo. A PLP torna os circuitos neuronais mais eficientes. O efeito desse estímulo – resposta (jato d’ água ) aumenta a sensibilidade nas sinapses, que podem durar por horas ou semanas, a depender da intensidade do sinal (estímulo). “A persistência ou repetição de uma atividade reverberante tende a induzir mudanças celulares permanentes que promovem estabilidade no sistema” (Hebb, 1949). Hebb ainda postulou que as ações dos neurônios provocadas pelos eventos sensoriais (estímulos) podem continuar mesmo depois de cessadas. E quanto mais se repetem os estímulos, mais aumenta a rede neural. E a memória de curta duração é essencial pra que essa reverberação ocorra. Deste modo, fica mais fácil entender porque uma aula dinâmica, com toda a espécie de estímulos e com a repetição da prática é imprescindível para a memória e para aprendizagem, ao passo que uma aula só com teorias não promove esse disparo da PLP nem o consequente aumento dos neurotransmissores. Descobrimos o que é a PLP através da investigação de um caramujo, e como esse fenômeno acontece com estímulos fortes e repetitivos, como jato d’ água e choque elétrico. Faremos agora uma análise mais profunda da PLP no cérebro humano: trazendo o fenômeno da PLP para a esfera visível da aprendizagem e do comportamento humano, fica claro então que toda nova experiência faz com que o estímulo fortaleça as sinapses; a própria palavra, estímulo, vem de algo estimulante, vivo e dinâmico. Uma ação que provoca uma reação. O outro fator é a repetição: a repetição da prática de uma atividade faz com que as ligações de uma rede fiquem cada vez mais fortes, e mais neurônios são envolvidos nessa atividade. E quanto mais repetitivo o estímulo, mais o caminho neuronal se fortalece, e torna mais permanente a mensagem ou o novo conhecimento. Na PLP, o neurônio precisa de menos impulso para liberar o neurotransmissor, e os pontos receptores podem aumentar. Quanto mais exercícios, mais acontece a PLP o aumentam os neurotransmissores; e quanto mais sinapses mais aprendizagem. Por outro lado, quanto menos estímulos, menos aprendizagem, menos sinapses e menos PLP, até o circuito cair em desuso. Portanto, são várias as estratégias para estimular a PLP. Por exemplo, o conhecimento exercitado de varias maneiras é uma delas; equivale ao “jato d’água e o choque elétrico” no caramujo. Essa estratégia vai promover um banho de serotonina nos neurônios, abrindo um novo caminho para a passagem das mensagens de neurônio para neurônio, fortalecendo as sinapses. A memória é tudo. Ela é a matéria prima necessária para o conhecimento, para a aprendizagem e para a consciência. A solidificação de uma memória pode demorar de horas a dias, a depender das inúmeras interferências externas. E uma memória de longa duração é um processo que leva tempo para ser consolidada. Porém, estímulos rápidos do circuito da memória reverberam, aumentando a sensibilidade das sinapses por horas ou semanas. Explorar o novo também é uma estratégia: toda nova experiência promove o disparo dos neurônios, facilitando a PLP. Explorar o lúdico na aprendizagem também é uma estratégia, pois o lúdico mexe com a criatividade, com a imaginação e o faz de conta. Quanto mais formas diferentes de aprender, mais o caminho é reativado, mais permanente se tornam as mensagens
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