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Uma doença de grande relevância há muitos anos. Mesmo depois de tantos anos, ainda tem uma grande mortalidade. Dados Epidemiológicos: - 1,3 milhões de mortes por ano no mundo (2020). - Mata mais pessoas do que o HIV/AIDS. - 6 milhões de casos novos por ano (2014). - 126 casos a cada 100.000 habitantes. - No Brasil, fica na média entre 66.819 casos novos (2020), com uma redução pequena a cada ano. - Manaus tem uma média de 93,8 casos a cada 100.000 habitantes. - O Amazonas sempre é o estado com maior taxa da doença (às vezes o Rio de Janeiro ultrapassa) com cerca de 68,4 casos a cada 100.000 habitantes. Tuberculose Giovanna Lopes - 1/3 da população mundial já entrou em contato com o bacilo da tuberculose. Nem todo mundo que teve contato vai adoecer, mas cerca de 5 a 10% dessas pessoas vão desenvolver uma tuberculose ativa. - As pessoas que possuem o bacilo sem estarem doentes são chamados de pessoas que tem infecção latente pela tuberculose. - A Tuberculose Latente funciona como um reservatório de novos casos. O manejo desses pacientes que estão em infecção latente é fundamental para avaliar se eles precisam de alguma ferramenta profilática. São pacientes que possuem alguma suscetibilidade. Pacientes que vivem com HIV/AIDS, renais crônicos dialíticos, uso de medicamentos como o anti necrose tumoral alfa, transplantados (precisam estar imunossuprimidos), pacientes com histórico de silicose... Enfoque maior nos contatos domiciliares, pois conseguimos trazer junto no momento do adoecimento de uma pessoa, dá pra avaliar esses contatos e verificar quem tem infecção latente naquele meio e fazer uma prevenção para evitar um adoecimento no futuro. - Demora no diagnóstico: Hoje tem disponível os testes rápidos moleculares, mas os kits precisam ser completados com um determinado número de amostras para colocar na máquina pra rodar e ter o resultado em 2h. Porém, como os kits são caros, vão se acumulando as amostras de vários pacientes para poder ser colocado no equipamento de uma só vez, oferecendo o resultado ao paciente, na prática, em alguns dias apenas. Para fazer baciloscopia, o paciente precisa coletar uma amostra em um dia e outra amostra no outro dia = demora no diagnóstico e pouca praticidade. Também é difícil fazer a coleta da quantidade adequada de escarro para alguns pacientes. Quando surgirem métodos de diagnósticos através do sangue, as coisas melhoram no quesito diagnóstico. - Tempo longo de tratamento: Algumas características do bacilo fazem com que o tempo do tratamento seja longo. É um bacilo com divisão celular muita lenta porque ele possui uma cápsula muito espessa (dificuldade das medicações de penetrarem no bacilo – mecanismo de defesa). Por conta disso, a cultura de mycobactéria leva de 45 a 60 dias, pois é o tempo que o bacilo precisa se dividir e multiplicar. Isso também explica do porquê o quadro ser arrastado e ir piorando progressivamente. - Quantidade enorme de medicamentos: Por conta das características do bacilo. Isso gera dificuldade de adesão, abandono de tratamento quando o paciente já começa a melhorar (é grave, pois o bacilo da tuberculose cria mecanismos de resistência facilmente, fazendo com que ele não tenha mais sensibilidade às drogas tuberculostáticas que são usadas habitualmente)... Sempre que é necessário mudar o esquema terapêutico por conta disso, o tratamento fica mais caro e mais longo (uso de drogas injetáveis – aumento do custo, pois tem seringa, agulha, alguém pra injetar...) O tratamento de uma tuberculose multirresistente, por exemplo, pode variar de 12 até 24 meses (dependendo do grau de resistência que estamos manejando). Otimização dos métodos de rastreio e diagnóstico se dá através da pesquisa científica, mas como a tuberculose é uma doença de país subdesenvolvido e pobre, esse tipo de pesquisa carece de investimento. Cada caso relatado precisa estar em monitoramento. Quando bem feita, essa vigilância é efetiva e reduz muito a taxa de abandono. Conceitos Iniciais: - O causador da Tuberculose é o Mycobacterium tuberculosis. - Existem muitas outras espécies de micobactérias, algumas delas são patogênicas para a espécie humana. Essas espécies são conhecidas como Micobacterioses Não Tuberculosas (MNT). - A Tuberculose é transmitida por meio de aerossóis. É transmitida de pessoa para pessoa através do ar. O paciente bacilífero ao tossir ou falar elimina aerossóis contendo o germe. A via de preferência de contaminação é a via respiratória. Patogenia: Quando o bacilo entra na corrente sanguínea ocorre sua ativação. Os macrófagos, notando a presença desse bacilo estranho, o fagocitam, conseguindo resolver o problema muitas vezes. Quando ocorre essa fagocitose, o macrófago libera uma série de substâncias que são inflamatórias e quimiotáticas, fazendo com que novos macrófagos cheguem e tentem eliminar o problema. Com a fagocitose, os macrófagos sofrem o processo de apoptose, e com a morte desses macrófagos, ocorre um acúmulo de células inflamatórias e fibrina, começando a formação de um granuloma. Após isso, as células gigantes de Langherans vão retirar água do interior dos macrófagos e depositar sais de cálcio, formando um granuloma calcificado (bolinha branquinha bem visível no exame de radiografia). Aqui, a princípio, o problema está resolvido. Eventualmente, pode acontecer desse granuloma ceder e essa tuberculose se tornar ativa. Não existe uma definição de até quanto tempo isso pode acontecer, mas pode levar até anos após o contato. A tuberculose não é exclusiva dos pulmões (embora ela seja a mais comum), ela pode acometer qualquer órgão (tireoide, pâncreas, pleura, articulações, SNC, bexiga, pele, pericárdio...). Na população imunocompetente, a tuberculose extrapulmonar mais comum é a pleural. Na população imunodeprimida, a tuberculose extrapulmonar mais comum é a ganglionar. A tosse é um quadro mais arrastado que dura em média 3 semanas. Teste rápido molecular = só 1 amostra. Baciloscopia = 2 amostras. Em algumas situações (HIV/AIS, contactante de tuberculose multirresistente, suspeita de micobacteriose não tuberculosa – principalmente em paciente com história prévia de tuberculose no passado -, história de abandono de tratamento e história de tratamento prévio), além do teste rápido e da baciloscopia, é necessário pedir a cultura para micobactérias. Se solicita a cultura + tipificação + teste de sensibilidade. - Tipificação = Identifica a espécie de micobactéria da cultura (se é tuberculosis, leprae...). - Teste de Sensibilidade = É como se fosse um antibiograma, identifica a quais tuberculostáticos aquela bactéria que cresceu na cultura tem sensibilidade. Radiografia de Tórax: - Há uma prevalência (mas não é regra, pode acometer qualquer lobo pulmonar) do bacilo de acometimento dos ápices pulmonares, que são as áreas mais bem ventiladas do pulmão e com um fluxo sanguíneo mais acelerada, enquanto que nas bases tem menos ar e maior quantidade de fluxo sanguíneo. - Nem sempre será possível ver áreas de cavitação. Na maioria das vezes só se nota uma opacidade de padrão heterogêneo (lembra muito uma pneumonia). Área de cavitação (seta branca) - As áreas de cavitação podem aparecer com as opacidades heterogêneas uni ou bilaterais. - Principalmente após o COVID, chega casos bem mais graves, com destruição de boa parte do parênquima pulmonar. - Nota-se opacidades mais densas com aspecto heterogêneo, predomínio de consolidação alveolar bilateral, juntamente com o acometimento dos lobos inferiores (embora a lesão mais grave esteja mais acima). Padrão miliar da tuberculose (vários pontinhos) - Quando aparece o padrão miliar, geralmente a disseminação não foi pela via aérea, mas sim por via hematogênica. Nesses casos, a lesão não fica na via aérea, e sim bem no parênquima.O exame de escarro costuma vir negativo nesses casos (mesmo com o pulmão desse jeito), por conta do bacilo estar no parênquima e não na via aérea. Velamento do seio costofrênico esquerdo (Tuberculose Pleural) - Esse velamento pode ser derrame pleural (concavidade voltada pra cima) e espessamento de pleura. Linfonodomegalia (Tuberculose Ganglionar) Interpretação de Exames: - Dá positivo ou negativo. - O resultado vem em cruzes (de 1 a 4 cruzes). O número de cruzes depende de quantos bacilos por campo do microscópico o profissional está vendo. Quanto mais bacilos por campo, mais cruzes. - DNA não detectável: Não encontrou nenhuma amostra de DNA do bacilo. - O teste molecular rápido ainda consegue dizer se o bacilo é resistente ou não à Rifampicina (principal fármaco do esquema terapêutico). - A Tuberculose é uma doença de notificação obrigatória. Não é opcional, é compulsória. - Esses dados vão para um sistema de informação de agravos do Ministério da Saúde, sendo possível realizar estimativas da quantidade de drogas necessária, de testes, de material... A direção inteligente dos recursos depende da alimentação desse sistema. - A notificação precisa ser feita corretamente, com os campos preenchidos corretamente, para não gerar dificuldade na interpretação e no manejo. - Sempre que se fechar um diagnóstico de Tuberculose, é importante que se investigue se o paciente tem HIV/AIDS (fazer pelo menos um teste rápido depois de autorizado pelo paciente) – faz parte do protocolo de saúde. Se o paciente tiver HIV, haverá algumas mudanças nas drogas do tratamento tanto do HIV quanto da Tuberculose. Isso também se deve em razão da alta prevalência de coinfecção HIV-Tuberculose. Medicamentos do Esquema Básico: - Essas 4 drogas antibióticas estão em 1 único comprimido. - O bacilo tem um ciclo circadiano próprio, de forma que a medicação será mais efetiva se usada pela manhã. Ser tomada em jejum também aumenta a efetividade da droga, pois ela será melhor distribuída se houver um ambiente bem ácido no estômago, e logo que acorda de manhã o estômago está com uma grande quantidade de suco gástrico. - Se o paciente não tolerar fazer a medicação em jejum, ele deverá tomar 2 horas após a refeição, pois já haverá um montante maior de suco gástrico no estômago para favorecer a absorção da medicação. - Prescrever com base no peso do paciente. - Os comprimidos (2 ou mais – dependendo do peso) deverão ser tomados no mesmo horário. - A quantidade de comprimidos não muda da 1ª para a 2ª fase. A única coisa que muda é que, na 2ª fase, o comprimido será menor, pois haverá 2 antibióticos a menos. - Manter o uso da máscara dentro de casa no 1º mês de tratamento, pelo menos. - Não precisa separar louças porque a transmissão é por aerossóis. - Os antiácidos vão inibir o ácido do estômago, fazendo com que o medicamento não seja bem absorvido. - Se o paciente realmente precisar tomar algum desses remédios, deve-se dar uma afastada do horário de tomar os tuberculostáticos. - Em alguns anticonvulsivantes será necessário fazer reajuste de dose. - Será necessário um aumento da dose para os IECAS. - Pode haver um aumento de intoxicação pela digoxina, sendo necessário deixá-la em dias alternados ou em meia dose. - É recomendado que, durante o tratamento da Tuberculose, o paciente passe a tomar insulina ao invés do hipoglicemiantes orais, pois estes reduzem muito a efetividade dos tuberculostáticos. - No 1º mês de tratamento, a consulta pode ser em intervalos mais curtos (a cada 2 semanas com a enfermeira, por exemplo. - Conforme o peso do paciente muda muito, a dose das drogas também pode mudar para evitar uma superdosagem (risco de hepatite medicamentosa) ou uma dosagem ineficaz. - Não dá pra fazer monitoramento com teste rápido molecular, pois mesmo que já se tenha eliminado boa parte dos bacilos, fica ainda um resquício de DNA de alguns, e o teste vai dar positivo mesmo que não tenha mais bacilos viáveis. - A baciloscopia é o exame ideal para o monitoramento do paciente. É indicativo que o paciente não está mais bacilífero e que o tratamento está correndo bem. - O esperado é que obrigatoriamente ao final do 1º mês de tratamento já se tenha uma amostra negativa. Caso contrário, há algo de errado no tratamento ou seja uma micobacteriose não tuberculosa. Nesses casos, pedir cultura para investigar se tem resistência a alguma droga também. Sinais de Melhora: - Ganho de peso. - Remissão da febre. - Melhora da tosse. - Negativação da baciloscopia do escarro. Efeitos Adversos: - Os menores são simples de serem manejados e não requerem suspensão da medicação. - As maiores causam a suspensão do tratamento. Resistência aos medicamentos: - Ir para a atenção terciária de tuberculose. - Todos os que moram na casa, e não somente os que estiverem com sintomas. - PPD = Teste Tuberculínico = É injetado uma quantidade bem pequena de toxina botulínica no subcutâneo, 48h a 72h depois é medido se surgiu uma área de enduração que será medida em mm (não é a área que fica vermelha, e sim a que fica elevada). É o mais recomendado para o Amazonas. - IGRA = Não é recomendado para áreas de alta incidência de tuberculose como o Amazonas. - Também pode fazer a Rifapentina isolada por 3 meses. - Medicações combinadas geralmente são para pacientes contactantes de tuberculose multirresistente. - Tempo de tratamento: de 6 a 9 meses com a Isoniazida.
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