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1 DEFINIÇÃO A cirrose hepática decorre de uma sequencia de destruição e regeneração do fígado, com isso, há formação nodular e fibrótica, fazendo com que o órgão não desempenhe suas funções normalmente. Há uma desorganização da arquitetura lobular e vascular. As etiologias variam, dentre elas: • Virais • Álcool • Metabólicos • Induzida por fármacos • Autoimunes • Biliares • Obstrução do fluxo venoso hepático • Criptogênicas/idiopáticas FISIOPATOGENIA Ocorre uma fibrose difusa (a depender do estimulo dessa fibrose) → nódulos de regeneração são formados, com essa formação, a arquitetura do fígado é alterada → assim há uma derivação vascular alterada e uma capilarização dos sinusódes (são perfurados, assim esses vasos se fecham) → fibrose perissinusoidal → trombose vascular e lesões obliterativas no trato portal e veias hepáticas. Essas alterações da anatomia hepática culminam na hipertensão portal. DE ONDE VEM O FLUXO SANGUÍNEO QUE VAI AO FÍGADO: A veia porta é a mais importante para o fígado, pois leva 80% do fluxo ao fígado. A artéria hepática é outro vaso importante. FIBROSE HEPÁTICA E FIBROGÊNESE A fibrose decorre de um acumulo de componentes da matriz extracelular → o estímulo agressor do fígado causa uma liberação de citocinas inflamatórias, através de linfócitos/monócitos/macrófagos → essas citocinas levam a fibrogênese ou a fibrólise. Os principais efetores da fibrogênese são as células estreladas → presentes na matriz extracelular, no espaço de Disse do fígado, de forma adormecida → o estímulo agressor ativa as células → há a estimulação das células liberadores de citocinas inflamatórias → as citocinas estimulam enzimas, proteínas e componentes que levem a regeneração. Ao ser ativada, a célula estrelada se chama célula de Ito → após ela libera colágeno, glicoproteínas, proteoglicanos. → Libera a enzima Prometaloprotease. → Libera fatores inibidores das enzimas, como TIMP- alfa e macroglobulinas. CIRROSE HEPÁTICA 2 → Libera fatores estimuladores, como inibidor C1q e PAI-1. Assim, entende-se que a célula de ito pode tanto estimular, quanto inibir. A constante liberação de enzimas causadoras de fibrose, e citocinas inflamatórias, a fibrose prevalece. HIPERTENSÃO PORTAL Definida como um aumento da pressão entre veia porta e veia hepática acima de 6mmHg. Decorre de uma circulação hiperdinâmica (há uma pressão em veia porta e um fígado diminuído e desorganizado, onde apesar do maior fluxo, o sangue não consegue passar propriamente) → há aumento na pressão na veia porta → assim, certa parte do sangue retorna aos vasos precedentes, como a mesentérica superior e a esplênica → consequência disso, o baço do cirrótico acumula sangue e aumenta. Com maior pressão na porta, são formadas varizes gástricas/esofágicas. A tendencia é uma vasodilatação esplênica → com o excesso de sangue nos vasos do abdome, há uma diminuição da PA. Com a redução da PA e o menor fluxo que irá passar pelo rim, o SRAA é estimulado, causando retenção de sódio e água → edema, anasarca, ascite. Há também aumento de débito cardíaco. Com o aumento de pressão, também há uma recanalização da veia umbilical → cabeça de medusa. RESUMINDO Aumento da resistência intra-hepática + aumento do fluxo → o que leva à hipertensão portal → culminando em uma circulação colateral portossistêmica → vasodilatação periférica → redução da resistência vascular periférica e PA → ativação do SRAA → retenção de água e sódio → ascite → aumento da volemia e do débito cardíaco. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O paciente cirrótico em fase inicial/compensado pode apresentar-se ASSINTOMÁTICO. Paciente em fase avançada está descompensado, podendo apresentar: • Ascite. • Distúrbios de coagulação. • Hiperestrogenismo/ hipoandrogenismo → eritema palmar, telangiectasias, ginecomastia, rarefação de pelos e atrofia testicular. • Hemorragia digestiva. • Encefalopatia. 3 CLASSIFICAÇÃO DE CHILD-PUGH 1 2 3 BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL) <2 2-3 >3 ENCEFALOPATIA AUSENTE GRAU 1 OU 2 GRAU 3 OU 4 ASCITE AUSENTE LEVA A MODERADA GRAVE TP (INR) <1,7 1,7-2,3 >2,3 ALBUMINA (g/dL) 3,5 <3,5-2,8 2,8 BEATA Classifica se o paciente tem um bom ou mal prognóstico. • Child-Pugh A → paciente compensado • Child-Pugh B e C → paciente descompensado Esse escore de classificação também utiliza o exame físico como maneira de pontuar, diferente do MELD que é somente laboratorial. CLASSIFICAÇÃO DE MELD Classifica o paciente quanto a sua elegibilidade para transplante hepático. • Bilirrubina • INR • Creatinina MELD = 0,957+ Log (creatinina mg/dL) + 0,378 x log (bilirrubinas mg/dL) + 1,120 x 10g (INR) + 0,643 >=15 DIAGNÓSTICO Biópsia hepática O exame anatomopatológico é a melhor maneira de diagnosticar, porém tem risco de complicação. Tendencia à sangramento. Exame físico Detecta alterações, como fígado nodular, esplenomegalia, sinais periféricos de insuficiência hepática. Exame de imagem Detecta alterações de ecogenicidade e sinais de hipertensão portal. Biomarcadores diretos Metaloproteases Biomarcadores indiretos Bilirrubinas, AST, ALT, proteínas, plaquetas. Escores APRI (AST/plaquetas) FIB4 (AST, ATL/ plaquetas) Elastograma (USG de elasticidade hepática) Fibroscan / ARF Substitui a biópsia TRATAMENTO GERAL • Erradicar o agente causal • É reversível em estágios muito iniciais • Irreversível quando há grande retração do órgão e hipertensão portal. O paciente pode ir de um Child-Pugh C para um A, por exemplo. NUTRIÇÃO • Para o paciente cirrótico manter estabilidade hemodinâmica, há muito gasto energético → hipermetabolismo → desnutrição multifatorial. • 30-40kcal/kg de peso ideal • 1,2 a 1,5g/kg de peso ideal de proteínas (principalmente vegetais e lácteas) • Na encefalopatia hepática → diminuir proporção de proteína animal, mas manter vegetal. • Restrição de sódio → 2g/dia. • Restrição hídrica, se Na<120 mEq/L. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES Hemorragia digestiva Ascite Peritonite bacteriana espontânea Encefalopatia Síndrome hepatorrenal Síndrome hepatopulmonar ASCITE 60% dos cirróticos irão desenvolver ascite, sendo esta uma complicação frequente. É tida como o acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. A cirrose representa cerca de 80% das causas de ascite. Apesar disso, outras causas além da hipertensão portal irão causar a ascite. A ascite é um marcador de mau prognóstico: • 1 ano → 85% • 2 anos → 44% É uma indicação de transplante hepático. Fisiopatologia da ascite: a hipertensão portal (liberação de substâncias vasodilatadoras arteriolares em região esplâncnica) → redução do volume arterial efetivo → ativação dos sistemas de A: 5-6 B: 7-9 C: 10-15 4 vasoconstricção (SRAA e SNS) → retenção de sódio e água → ascite e edemas. • O paciente tende a passar na frente na fila do transplante quando faz o uso da dose máxima do medicamento diurético e mesmo assim não tem resultado. HISTÓRIA CLÍNICA Exame físico: • Macicez móvel – 1,5L • 5L – semicírculo de Skoda/sinal de piparote. • Exames laboratoriais – sangue, líquido ascítico • USG abdome – detecta ascite de pequenos volumes Importante: a principal indicação para a paracentese de alivio é o desconforto respiratório. Importante: o liquido pode ser retirado somente para estudo, a paracentese diagnóstica. ANÁLISE DO LÍQUIDO ASCÍTICO A análise é feita a partir da paracentese. São observadas: • Proteína total → pouca proteína no líquido representa maior chance de infecção – PBE (peritonite bacteriana espontânea). • Glicose → pouca glicose pode representar uma peritonite mais complicada. • LDH GRADIENTE ALBUMINA SORO-ASCITE(GASA): Compara a albumina presente no sangue com a albumina presente na ascite. A dosagem do GASA é crucial no diagnóstico da etiologia da ascite. No caso da hipertensão portal, GASA é >=1,1g/dL. Ex. Albumina do soro= 3,5 e albumina da ascite= 2,0 → 3,5 – 2,0= 1,5 → GASA >1,1 → Hipertensão porta. • Células neoplásicas • ADA → detecta TB peritonial • Amilase → detecta pancreatite → fístulas → ascite • Cultura e leucometria → se cultura positiva e polimorfonuclear >= 250 indica peritonite bacteriana espontânea. GASA >=1,1 GASA<1,1 CIRROSE CARCINOMATOSE PERITONEAL HEPATITE ALCOÓLICA PERITONITE TUBERCULOSA ASCITE CARDÍACA ASCITE PANCREÁTICA TROMBOSE DE VEIA PORTA ASCITE BILIAR SÍNDROME DE BUDD- CHIARI SÍNDROME NEFRÓTICA METÁSTASES HEPÁTICAS SEROSITE TRATAMENTO DA ASCITE • Dieta hipossódica → 2g de sal/dia. • Restrição de água → 1L/dia somente se o sódio der menor que 120 mmol/L. • Diuréticos → espironolactona é a primeira opção/ furosemida pode ser utilizada também, em associação. o Inibem a aldosterona o Diuréticos de alça Qual a intenção do diurético? • Perda de 300-500g/dia nos pacientes sem edema • Perda de 800-1000g/dia nos pacientes com edema A dose está boa se o paciente está perdendo o peso indicado/dia. Paracentese de alívio: Paciente sem resposta ao diurético → pós dose máxima, piora da função renal, desconforto respiratório... Repor albumina se >5L → 6-8g/L → após muita retirada de líquido o paciente pode piorar. Repor albumina pois é um colóide que puxa o líquido para o intravascular, ajudando a perfundir melhor o rim e diminuir o edema. TIPS SHUNT portossistêmico intra-hepático por via transjugular. É uma comunicação entre veia porta e sistema, ou seja, pela jugular chega-se ao fígado, coloca-se um stent que diminui a dificuldade de passar o sangue da porta para a veia cava. Diminui assim consequências da hipertensão porta como ascite. Um contra é que o metabolismo de 1ª passagem do fígado é perdido → piora encefalopatia hepática. 5 Transplante hepático Paracentese Realizada em fossa ilíaca esquerda, em função de não perfurar alças, em lado direito o ceco pode ser perfurado. O sigmóide tem menores chances de ser perfurado. PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA – PBE Complicação infecciosa, presente de 8 a 30% dos cirróticos com doença avançada. Infecção do líquido ascítico na ausência de qualquer foco primário → o paciente cirrótico tem uma tendencia maior a fazer uma translocação bacteriana para o líquido. Via de infecção: • Hematogênica → translocação bacteriana → linfonodos mesentéricos → corrente sanguínea. Ou seja, a bactéria sai do intestino e pela corrente sanguínea chega ao líquido, sem causa aparente, como pancreatite, por exemplo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Febre • Dor abdominal • Irritação peritoneal • Náuseas, vômitos, diarreia • Encefalopatia hepática/ alteração da função renal • 50% são assintomáticos DIAGNÓSTICO Contagem de polimorfonucleados >= 250/mm3 + Cultura positiva = PBE Se a cultura der negativa (60%) → chamamos de ascite neutrofílica ou neutrocítica → muito polimorfonuclear (>=250), mas sem cultura positiva. Em ambos os casos tratar como PBE. Em caso de cultura positiva + polimorfonucleado <250 chamamos de bacterascite → só é tratada quando o paciente é sintomático, ou refazer exames em 48h. TRATAMENTO Tratamento deve ter início rápido. A principal flora são bactérias gram-negativas provindas do intestino. É ideal que se faça re-punção em 48h para avaliar uma redução de 25% do total de polimorfonucleados. 1/3 dos pacientes podem ter falha circulatória → albumina deve ser feita em pacientes graves → icterícia >3 e creatina >1. Cefalosporina de 3ª geração / Quinolonas Principais usados: • Ceftriaxona • Ciprofloxacino PROFILAXIA Primária – para o paciente que nunca teve PBE • Fazer quando o paciente tiver cirrose e sangramento GI. Ceftriaxona 1g/dia por 7 dias • Cirrose com proteína total do líquido ascítico <1,0g/dL → pouca defesa no líquido ascítico. Secundária – para o paciente que já teve PBE • Quando se tem cirrose e um episódio prévio de PBE a profilaxia já é indicada. Se tem ascite, deve fazer a profilaxia. Usa-se Quinolona ENCEFALOPATIA HEPÁTICA São um conjunto de alterações neuropsiquiátricas → inicia com uma alteração do sono e seguir para o coma. São ocasionadas por distúrbios metabólicos → doença hepática aguda e crônica podem causar. É potencialmente reversível → a depender da disfunção hepática e shunts portossistêmicos. 6 ABORDAGEM A abordagem atua em 3 tipos de encefalopatia: • EH aguda da insuficiência hepática fulminante • EH por shunts portossistêmicos • EH de cirróticos Episódica → 1 episódio em 6m. Persistente → >1 episódio em 6m. Mínima → não melhora. CLASSIFICAÇÃO POR FREQUÊNCIA Episódica → raros, menos de 2 eventos anuais Recorrente → intervalos menores de 6 meses Persistente → alterações comportamentais contínuas CLASSIFICAÇÃO POR MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Essa é a classificação mais importante. Flapping → clássica de encefalopatia grau 2. No grau 3 desaparece o Flapping. FISIOPATOGENIA Aumento de substâncias nitrogenadas de origem intestinal, principalmente da amônia. Ativação excessiva dos receptores gabaérgicos com aumento da inibição do SNC. AMÔNIA Até 90% é excretada pelo metabolismo de 1ª passagem. Interfere com a função cerebral → síntese de dopamina, norepinefrina e serotonina. Pode causar edema cerebral. Inibe potenciais pós-sinápticos. FATORES PRECIPITANTES • Hemorragia digestiva • Constipação → laxante osmótico e alimentação pastosa é o tratamento. • Infecções • Insuficiência renal • Drogas psicotrópicas • Distúrbios hidroeletrolíticos • TIPS NECESSÁRIO EXCLUIR OUTROS DIAGNÓSTICOS • Síndrome de wernicke-korsakoff • Lesões intracranianas • Abstinência alcoólica • Deliruim • Hipoglicemia • Uremia/acidose TRATAMENTO • Corrigir os fatores precipitantes → como HDA, constipação, infecção... • Restrição proteica – controversa • Limpeza intestinal com lactulose (dose que promova 2-3 evacuações pastosas/dia) ou lactiol (menos efeitos colaterais) Tomar cuidado com hiponatremia, distensão abdominal e desidratação. • Antibióticoterapia com atb não absorvíveis → neomicina, metronidazol, rifaximina. • Ornitina L-aspartato → age na metabolização da amônia. • Transplante hepático 7 SÍNDROME HEPATORRENAL É uma perda da função renal progressiva. Decorrente dos problemas hepáticos. Ocorre uma disfunção circulatória decorrente da vasodilatação esplâncnica → vasoconstrição renal Funcional → pois não há marcador diagnóstico (excluir outras causas). Deve ter hipertensão porta, ascite e hipotensão. CLASSIFICAÇÃO SHR TIPO 1 Insuficiência renal grave e rapidamente progressiva SHR TIPO 2 Diminuição moderada e constante da função renal DIAGNÓSTICO Aumento da Cr 0,3 mg/dL em 48h ou de 50% em relação ao valor basal. TRATAMENTO • Terlipressina → para redução da vasodilatação esplâncnica. • Albumina • Transplante hepático
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