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Aleitamento Materno – Aula 5 A lactação progride em três fases: colostro, leite de transição e leite maduro. O colostro é um fluido ama- relado, de alta densidade e pequeno volume, o qual preenche as células alveolares no último trimestre da gestação. O alto teor de proteínas e minerais no colostro, além da baixa concentração de gordura e lac- tose, corresponde às necessidades do recém-nascido na primeira semana. Além disso, ele é rico em imu- noglobulinas, lactoferrina e leucócitos. Já o leite de transição fica presente do sétimo ao décimo dia até duas semanas pós-parto, quando o colostro se modifica diminuindo as imunoglobulinas e proteínas, e aumenta os níveis de lactose e gordura. Por fim, há o leite maduro que representa o final das modificações iniciadas no conteúdo dos macronutrientes do leite de transição, sendo que agora ele é uma mistura homogênea. Além disso, o leite sofre variação nos seus constituintes nutricionais conforme o estágio da lactação, horário do dia, período da mamada, paridade, nutrição e idade materna e da idade gestacional do bebê. Anatomia e Fisiologia da Lactação A glândula mamária passa por fases de crescimento desde o útero, passando pela puberdade, gravidez e por fim a lactação, onde há o apogeu de desenvolvimento. As mamas ficam localizadas entre o segundo e o sexto espaços intercostais e o tamanho não está relacionado com a capacidade funcional. O mamilo e a aréola desempenham funções em conjunto e são ricamente inervados. O mamilo possui uma projeção que resulta do arranjo dos ductos em sua porção central, sendo fibroelástico, retrátil e possuindo fibras musculares concêntricas que se contraem ao estímulo tátil, térmico ou sexual. Por outro lado, a aréola corresponde à área circular escurecida ao redor do mamilo, onde sua coloração e tamanho são intensificados na gestação. Nela, também é possível perceber aberturas ductais de glândulas sebáceas, sudoríparas e lactíferas, compondo os tubérculos de Montgomery que secretam substâncias que protegem e lubrificam os mamilos. Outra importância dessas glândulas se dá pela liberação de odor e sabor que estimulam sensorialmente o lactente, despertando um estado de atividade que propicia uma pega mais efetiva. O parênquima das mamas é com- posto por alvéolos, ductos e lóbulos. Classicamente, ele é descrito como um conglomerado de várias glându- las independentes, geralmente de 15 a 25 lobos, tendo abertura direta no mamilo através do ducto princi- pal. Cada lobo possuiria entre 20 a 40 lóbulos e cada lóbulo é composto por cerca de 10 a 100 ácinos ou alvéolos. Estes, por sua vez, são as unidades básicas funcionais do tecido glandular maduro, formados por um agrupamento de lactócitos e estão envolvidos por células mioepiteliais contráteis, as quais ejetam o leite para dentro dos pequenos ductos lactíferos. Estes desembocam em ductos maiores até que a drenagem encon- tre o ducto principal, como se fosse uma “árvore ductal”. A ramificação dos ductos ocorre principalmente por ação do estrogênio, enquanto o desenvolvimento do sistema lóbulo-alveolar se dá pela progesterona. Na gravidez, quando a mama adquire a capacidade de produzir leite, inicia-se a fase de lactogênese I, que por conta da progesterona não produz secreção láctea. Após o parto, com a dequitação da placenta, há a redução dos níveis de progesterona e estrogênio, iniciando a fase de lactogênese II que há produção abundante de leite. O rápido aumento do volume de LH é percebido pelas mulheres como a “descida do leite” ou apo- jadura, a qual ocorre entre 36 e 120 horas após o parto. Os reflexos da produção e da ejeção de leite ocorrem em resposta à sucção da mama, pois os sinais nervosos enviados pela via neuronal aferente até o hipotálamo determinam a liberação de prolactina pela hipófise anterior e ocitocina pela hipófise poste- rior, sendo que a maior parte do leite é produzida durante a mamada, enquanto o bebê suga. O reflexo da produção de leite ou da prolactina fica sob controle inibitório da dopamina produzida pelo hipotálamo e também depende da sucção mamilar que é controlada pela ocitocina, a qual é responsável por fazer a ejeção do leite, sendo liberada de forma pulsátil com a estimulação mamilar, também estando condicionada ao choro, cheiro ou pensamento sobre o bebê, podendo ser inibida por estresse, ansiedade, dor e falta de confiança. Outro ponto importante a se citar é que o leite materno contém peptídeos supressores que inibem a lacto- gênese, independentemente dos níveis de prolactina. Sendo assim, quando há acúmulo de leite nas mamas, esses inibidores impedem as células alveolares de produzirem mais leite. Além disso, tais peptídeos são eliminados sempre que o leite é removido por sucção ou expressão. Avaliação das Mamas A avaliação das mamas objetiva detectar quaisquer alterações, em especial das papilas. Uma das alterações mais comuns nos seios são os mamilos invertidos. Os mamilos invertidos verdadeiros são os que não são salientes e que retraem quando a aréola e comprimida. Geralmente, não protraem e nem são flexíveis, sendo muito raros. Mesmo nesses casos, se o seio for protrátil, é possível que não interfira na amamentação. Na maioria dos casos, trata-se de mamilos pseudoinvertidos, ou seja, o mamilo não é saliente, mas não retrai quando a aréola é comprimida. Ele é protraível e flexível, também não costuma atrapalhar a ama- mentação. Também é possível que alguns desses mamilos se pareçam planos ou invertidos antes da gravidez, mas podem protrair até o parto ou ao longo dos primeiros dias após o nascimento do bebê. Além disso, deve- se orientar às mães que possuem seios assim, que possam extrair o leite da região aréolo-mamilar antes da mamada, para que o mamilo protraia e facilite a pega. Por fim, durante o exame, deve-se mostrar a saída do colostro, sendo esta uma ótima oportunidade para explicação a função das mamas, a finalidade do colostro e a importância do aleitamento. Orientações Gerais A lactação, para a mãe, apresenta diversos benefícios, como a redução do tempo e o volume do sangra- mento pós-parto, aceleração da involução uterina puerperal, diminuindo a ocorrência de anemia, além de dispender 500 a 1000 kcal diárias para que ocorra o aleitamento, de modo a lhe ajudar a recuperar o peso pré-gestacional. Também há ocorrência de amenorreia pós-parto que ajuda a aumentar os níveis de ferro no organismo, além de servir como método anticoncepcional. O aleitamento também contribui para a re- dução do risco de câncer de mama e de ovário. Já para o lactente, os benefícios também são diversos. O leite materno é um alimento completo para o recém- nascido, de modo que o satisfaz de todas as suas necessidades, inclusive de água, nos primeiros seis meses de vida. Também ajuda a reduzir drasticamente a mortalidade infantil, protegendo a criança contra in- fecções e alergias, além da mucosa intestinal, promovendo a maturação do sistema imune secretório. O aleitamento também facilita a eliminação de mecônio, auxilia no desenvolvimento dos músculos da face, previne problemas ortodônticos, dentais e distúrbios da fala, além de contribuir para o desenvolvimento psicomotor e social. Durante o parto, deve-se estimular a primeira mamada ainda na sala de partos. A sucção dos mamilos promove a liberação de ocitocina na lactante, a qual acelera a dequitação (expulsão da placenta) e o miotam- ponamento. Outra orientação é o estímulo da presença do pai na sala de parto002E No puerpério, deve-se estimular para que as mães permaneçam junto de seus filhos 24 horas por dia em alojamento conjunto desde o pós-parto imediato. Nesse período, deve-se examinar diariamente as mamas, orientando as mães para com o cuidado das mamas e das papilas. Em caso ingurgitamento, fissuras ou mastite, deve-se tentar sempre tratar a ocorrência sem interromper a lactação. Além disso, orientar que as mães amamentem os bebês sobre livredemanda, além de orientar em casos de ordenha e armazenamento do leite e sobre as leis trabalhistas que protegem a amamentação. Anticoncepção na Lactação Durante a lactação, é possível utilizar como método anticoncepcional o método lactação-amenorreia (LAM), métodos de barreira e anticoncepção hormonal. O método LAM constitui um método anticoncepcional que utiliza a amamentação e amenorreia para evitar a ovulação, uma vez que é baseado na quantidade de prolactina aumentada durante os seis primeiros meses pós-parto, desde que a mãe esteja em amenorreia. Nesse método, o índice de falha é de cerca de 2%, sendo reduzido em caso ausência de aleitamento materno exclusivo. Nos métodos de barreira, temos a camisinha e o diafragma, o qual, ao ser associado a espermi- cida (nonoxinol), constituem alternativas relativamente seguras para os primeiros meses pós-parto. O DIU também pode ser utilizado desde o pós-parto imediato, mas é recomendável que se utilize após seis sema- nas do parto, com a finalidade de reduzir a possibilidade de expulsão. Além disso, também é possível utilizar o DIU com progesterona, mas não com estrogênio, uma vez que este inibe o aleitamento. Os anti- concepcionais hormonais devem ser utilizados com progestágenos (minipílulas), por não interferirem na produção láctea e seu uso deve ser contínuo, inclusive nos períodos menstruais. Também é uma alternativa as injeções trimestrais de 150 mg de acetato de medroxiprogesterona ou implantes subcutâneos. Os anti- concepcionais combinados são contraindicados, a não ser que sejam a única alternativa, ainda sendo prefe- ridos, nesses casos, os com menores dosagens estrogênicas.