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Geovana Sanches, TXXIV EXAME OFTALMOLÓGICO ANAMNESE A anamnese deve conter uma história clínica detalhada, além de antecedentes pessoais, familiares, hábitos e vícios do paciente. Todos esses pontos podem nos auxiliar de alguma forma na identificação de uma possível patologia. Identificação Dados como idade e gênero são fundamentais para o raciocínio clínico. História clínica • Detalhar a história clínica da queixa do paciente • Fatores associados o Dor à movimentação dos olhos o Perda do campo visual o Claudicação da mandíbula • Perda de campo inferior o Neuropatia óptica isquêmica não anterior de forma não arterítica • Esbarrar nas pessoas ao andar → perda de hemicampo temporal bilateral o Adenoma hipofisário temporal bilateral • Mancha em um olho o Descolamento de retina • Mancha central o Acometimento de mácula o Neurite óptica • Diplopia o Alteração dos mm. extraoculares; o Possível astigmatismo (unilateral) • Alterações de hemicampo o AVC, tumor cerebral Antecedentes pessoais • Comorbidades o DM, HAS, obesidade, doenças autoimunes e reumatológicas, doenças neurológicas, neoplasias • Cirurgia bariátrica o Pode causar deficiências vitamínicas que levam a alterações oftalmológicas • Medicações o Metotrexato, cloroquina (depósito na mácula), corticoides, entre outros • Hábitos e vícios o Tabagismo, etilismo, drogas injetáveis Antecedentes familiares • Glaucoma, miopia, ceratocone, neuropatias ópticas (atrofia óptica dominante) EXAME FÍSICO OFTALMOLÓGICO Ao examinarmos o paciente, é necessário realizar primeiro as etapas no escuro e depois com luminosidade. Isso pois, ao incidirmos a luz, os cones são despolarizados e demoram um certo período para repolarizar completamente. Inspeção geral • Avaliação do paciente desde o momento em que ele entra no consultório • Alterações de marcha o Pode indicar alteração neurológica • Posição de cabeça o Pensar em estrabismo Refração • Exame do grau • É realizado para avaliar qual a melhor acuidade visual do paciente Avaliação das funções visuais São cinco as funções visuais importantes que devem ser avaliadas sempre que possível: acuidade visual, estereopsia, percepção de cores, percepção de contraste e avaliação do campo visual (campimetria). Acuidade visual A acuidade visual é a função visual mais utilizada. Consiste na capacidade do olho em discriminar dois pontos distintos no espaço, o que é avaliado através da capacidade de resolução espacial do paciente. Quando medimos a acuidade visual, medimos a função visual da fóvea, estrutura que contém a maior concentração de fotorreceptores. A avaliação deve ser monocular, ou seja, avalia-se primeiro o olho direito e, a seguir, o olho esquerdo. Existem diversas formas de avaliação (optotipos), através de tabelas ou figuras, sempre com contraste máximo entre o preto e o branca. Avalia-se inicialmente como o paciente responde ao teste sem nenhuma correção e, após, com a melhor correção óptica. Geovana Sanches, TXXIV As tabelas vêm com informações dizendo para qual distância ela foi confeccionada. Em cada linha há um valor e, cada vez que o paciente lê uma linha, o grau de dificuldade vai aumentando. Isso é representado principalmente pela notação de Snellen: • 20 pés = 6m de distância; quanto maior o denominador, pior a acuidade do paciente • 20/100, por exemplo, indica que o paciente leu a 20 pés de distância o que deveria ler a 100 pés de distância – ou seja, precisou chegar “mais perto” para enxergar, indicando baixa da acuidade visual Estereopsia A estereopsia diz respeito a capacidade de visão tridimensional (3D) e percepção de profundidade. Essa função só está presente quando os dois olhos estão alinhados perfeitamente e focalizando em um ponto. A avaliação dessa função é feita através do teste de titmus, no qual o paciente utiliza um óculos 3D para interpretar as figuras, nos dizendo qual delas é tridimensional. Sempre que possível, esse teste deve ser feito com óculos de refração corrigido. Percepção de cores Quanto a percepção de cores, podemos avaliar tanto a função dos fotorreceptores (cones), quanto das células ganglionares da retina. Ao avaliarmos os cones, pensamos se há alguma distrofia de cones, como no daltonismo. Já às células ganglionares, pensamos em doenças que causam nefrite óptica (como a esclerose múltipla). O teste mais utilizado para avaliar essa função visual é o teste de Ishihara, o qual é feito em três etapas: • 1ª etapa: mostramos o número 12 para o paciente, o qual é visto por todos (mesmo daltônicos) • 2ª etapa: mostramos a imagem do 8 e, caso ele apresente daltonismo, referirá estar vendo o número 3 • 3ª etapa: apresentamos a prancha de número 35 para o paciente, a fim de determinar qual o tipo de daltonismo. Se ele não apresenta cone do vermelho (protonópio), verá apenas o número 5; por outro lado, caso ele não tenha cone do verde (deuteranópio), verá apenas o número 3 e não o número 5 Geovana Sanches, TXXIV Em um ambiente de pronto-socorro, caso o paciente chegue com perda visual e haja suspeita de neurite óptica, não haverá o teste de Ishihara disponível. Assim, faz-se o teste de comparação para avaliar se há alteração na percepção de cores. Esse teste é realizado com um objeto de cor vermelha – pedimos para que o paciente olhe para o objeto e compare as cores vistas em um olho e depois no outro. Percepção de contraste O contraste diz respeito a diferença entre a luminância de duas superfícies adjacentes. A percepção do contraste é essencial, por exemplo, para visualização de exames de imagem e para dirigirmos em um ambiente de neblina. A avaliação dessa função visual é feita através de tabelas de medida de contraste, as quais apresentam letras de mesmo tamanho, alterando-se seu contraste com o fundo. Essa função está alterada, por exemplo, em pacientes com catarata. Como o cristalino está menos transparente, inicialmente há uma redução da percepção de contraste, evoluindo apenas posteriormente para perda da acuidade visual. Avaliação do campo visual A maneira mais simples de avaliar o campo visual do paciente é através do campo de confrontação. Nesse teste, dividimos o campo visual em 4 e apresentamos números com o dedo para que ele nos diga o que estamos indicando. A partir desse exame simples, além de avaliarmos todo o campo visual, é possível determinar qual o quadrante o paciente não tem percepção normal. No campo de confrontação, muitas vezes, é possível obter informações que nos direcionam a lesões de via visual, sendo de extrema importância avaliar isso nas emergências, especialmente na suspeita de AVC e TCE. Outra opção para avaliar essa função é a campimetria computadorizada, teste muito usado na oftalmologia. Trata-se de uma máquina que dispara luzes, momentos nos quais o paciente deverá apertar um botão. Na imagem A, a mancha em preto (mancha cega) representa o nervo óptico. Já em B, vemos diversas regiões de redução de sensibilidade (escotoma) representados por uma coloração mais escura. Exame das pupilas O exame das pupilas contempla principalmente a avaliação do tamanho e dos reflexos direto e consensual. Tamanho As duas pupilas do paciente devem se apresentar do mesmo tamanho. Ao acendermos a luz, ambas devem se contrair (miose) e, ao apagarmos, elas devem dilatar (midríase). Geovana Sanches, TXXIV Entretanto, até 20% dos indivíduos apresentam anisocoria fisiológica, ou seja, tanto no claro, quanto no escuro, as pupilas podem ter até 2mm de diferença. Todavia, essa proporção deve ser a mesma independente da luminosidade; caso haja alteração, não podemos mais considerá- la fisiológica. Reflexo fotomotor O reflexo fotomotor avalia a resposta pupilar à luz. Deve ser testado com o pacienteem sala escura, olhando para o horizonte. A partir disso, incidimos uma luz em seu olho e avaliamos se há miose reflexa. Essa resposta deve ocorrer tanto no olho em que incidimos a luz (reflexo fotomotor direto), quanto no outro (reflexo fotomotor consensual). Além disso, elas devem ser equivalentes, ou seja, com tamanhos semelhantes. NERVOS CRANIANOS DE INTERESSE OFTALMOLÓGICO • III NC (oculomotor) • IV NC (troclear) • V NC (trigêmeo) • VI NC (abducente) • VII NC (facial) Motilidade extrínseca ocular (III, IV e VI NC) O III, IV e VI par de nervos cranianos é responsável pela motilidade ocular extrínseca. Para avalição desses nervos, inicialmente vemos se o paciente apresenta estrabismo através do Teste do reflexo corneano – utilizamos uma lanterna e pedimos para que o paciente olhe para ela, de forma a observarmos o reflexo da luz sobre a córnea do paciente. Para avaliar a motilidade propriamente dita, pedimos para que o paciente olhe para cima, para direita, para baixo e para esquerda. No exame representado acima vemos que o paciente apresenta alterações na motilidade, além de ptose na posição primária do olhar. Com isso, conclui-se que o paciente apresenta paralisia do nervo oculomotor – perda de função do músculo reto superior, reto medial e reto-inferior, além de paresia do músculo elevador da pálpebra. Sensibilidade facial e corneana (V NC) O nervo trigêmeo apresenta três ramos, os quais devem ser testados comparando as hemifaces. Esse exame é especialmente importante para pacientes que usam lente de contato, tendo em vista que caso a sensibilidade corneana esteja prejudicada, o paciente não perceberá uma lesão da córnea. Motilidade facial (VII NC) A avaliação da motilidade facial é importante para identificarmos pacientes com paralisia facial periférica. Solicitamos que o paciente feche os olhos e caso haja paralisia facial, ele não conseguirá (lagoftalmo – ocorre tanto na Geovana Sanches, TXXIV periférica, quanto na central). Além disso, podemos identificar o Sinal de Bell (olho sobe e vemos apenas a parte branca). LÂMPADA DE FENDA Após realizarmos as etapas supracitadas do exame físico, avaliaremos as estruturas na lâmina de fenda, a qual nos permite melhor avaliação das estruturas oculares. Exame do segmento anterior • Avaliação da pálpebra, conjuntiva, córnea e transparência corneana, cristalino • Verificar presença de hiperemia conjuntival, presença de secreção, entre outras alterações Exame do segmento posterior • Nervo óptico o Deve apresentar bordas nítidas, cor alaranjada, escavação (parte central mais clara) e arcadas vasculares • Mácula • Camada de fibras nervosas • Vascularização • Periferia da retina