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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ................................................................. 4 2 SAÚDE MENTAL NO TRABALHO ............................................................ 8 2.1 Análise Ergonômica do Trabalho ....................................................... 10 2.2 Planejamento e implementação da intervenção ................................. 10 2.3 Programa de prevenção à saúde mental ............................................ 11 2.4 Ações de prevenção visando o indivíduo ........................................... 12 2.5 Ações de prevenção no trabalho ........................................................ 13 3 PSICOPATOLOGIA NO TRABALHO ...................................................... 14 3.1 A subjetividade X ética ....................................................................... 15 3.2 Episódio Depressivo Relacionado ao Trabalho .................................. 18 3.3 Síndrome do Esgotamento Profissional (burn-out) ............................. 19 4 GESTÃO DE PESSOAS E SAÚDE MENTAL .......................................... 22 4.1 Saúde mental do trabalhador: novos doentes, novos riscos .............. 22 5 ASSÉDIO MORAL, SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ........................................................... 26 5.1 Assédio moral X Ofensa à indenidade psíquica do trabalhador ......... 26 5.2 Os Princípios Constitucionais Fundamentais X Assédio moral .......... 27 6 SAÚDE MENTAL, DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO.. ............................................................................................................ 30 6.1 Perspectiva psicossocial e seus fundamentos ................................... 31 6.2 As experiências de pesquisa/diagnóstico da equipe .......................... 36 7 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 38 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS FERREIRA (2013) menciona em relação à saúde mental no trabalho como algo que precisa de um debate profundo, ele comenta que ainda nos dias atuais o Brasil se encontra em uma busca constante por inserção, que se trata ainda de algo histórico no Brasil, no entanto ele questiona que inserção é esta que se quer em pleno séc. XXI. Elucida o autor mencionado anteriormente que a inclusão que queremos se trata da inclusão econômica, onde o indivíduo esteja inserido em um trabalho, produzindo, bem como gerando e auferindo renda, ou seja, participando da vida econômica do país. Assim, menciona ainda o autor supracitado tratar-se de algo de suma importância o debate sobre a saúde mental no trabalho uma vez que: Saúde mental se trata de saúde no trabalho. Saúde mental traz custo para o trabalho. Isto posto iniciaremos nosso estudo sobre saúde mental que merece uma atenção especial, vale ressaltar que uma apostila apenas não é suficiente para explanar sobre todos os aspectos da saúde mental no trabalho, o estudante deve buscar por meios alternativos de estudo buscando aprofundar ainda mais seus conhecimentos, buscando conhecer autores que tratam sobre o assunto. Ainda observa o autor mencionado anteriormente que se entende que saúde se trata de ausência de doença ou que, saúde é ausência de um patológico, assim, a saúde mental se trata de um conceito que está apensado ao conceito de saúde. Os transtornos psíquicos não são infecciosos, não são patológicos, no sentido de haver um agente patogênico: um vírus, uma bactéria ou um parasita e o equilíbrio do meio ambiente, pois os transtornos são o produto de um desequilíbrio entre o homem e o ambiente onde ele vive e trabalha. (BOJART. apud. FERREIRA, 2013) Assim, o desequilíbrio do homem bem como do ambiente em que trabalha pode se tratar de o maior fator de desencadeamento de doenças ou males considerados psicológicos. 5 Segundo elucida FERREIRA (2013), foi na Idade Média que no séc. XVI, Paracelsus mostrou que havia relação entre certas doenças físicas e certas profissões ainda, relação com o meio-ambiente, de forma que ele conseguiu mostrar que algumas doenças se encontravam diretamente relacionadas com determinadas profissões ou que algumas doenças se relacionavam imediatamente ao meio ambiente. De acordo com a OMS – Organização Mundial da Saúde, declarou em 1947: “ a saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social total e não exclusivamente a ausência de doença. ” Como derivado disso “Todo indivíduo tem direito de gozar de um completo bem-estar físico, mental e social, no qual o indivíduo é capaz de desenvolver as suas potencialidades criativas. ” (BOJART. apud. FERREIRA, 2013) Menciona-se ainda que os transtornos mentais e comportamentais bem como as condições clinicamente significativas caracterizadas por alterações, assim do modo de pensar bem como do humor, ou seja, emoções ou até mesmo por comportamentos associados com angústia pessoal e/ou deterioração do funcionamento, diante disso para que seja possível encontrar o nexo de causalidade entre esses transtornos e as condições a que o trabalhador está sujeito, condições e ambientes. Surgiram diversas normativas e declarações buscando dar orientação da forma como os trabalhadores devem ser tratados e de como seus ambientes precisam estar adequados, de forma a impedir que os trabalhadores venham a desenvolver qualquer tipo de doença seja ela física ou psicológica. Para o autor supracitado, é fundamental traçar uma linha divisória entre o ambiente de trabalho e a necessidade de produtividade, como incentivos, opressão e assédio moral. Consequências da violência e do stress no trabalho: Vítima: Tratamento médico; Licença do trabalho; Aposentadorias por invalidez precoce. Empregador: Tanto no Ambiente/trabalhadores. Desmotivação do trabalhador, Queda na produtividade e na /qualidade dos produtos; Doenças profissionais (diminuição sensível nas defesas do corpo), Acidente 6 de trabalho; Alta taxa de rotatividade, Absentismo, aumento de conflitos internos. Irritabilidade do cidadão. Sociedade: Perda de mão- de- obra (tanto direto como indireto), Licenças de trabalho, Aposentadorias prematuras. Quem acaba pagando é sempre a sociedade por meio do Sistema de Previdência Social. Existem diversos fatores de risco para a saúde mental no ambiente de trabalho, bem como as consequências que isso possa trazer, podem ser relatados no que diz respeito ao tempo de trabalho, o que é um fator que favorece os transtornos mentais, devido à forma de organização do trabalho, de forma que não importa o que se exige, mas como se exige. A seguir um quadro com alguns sinais de sintomas de depressão: A organizaçãodo trabalho e os sinais, ou seja sintomas de distúrbios: Organização de Trabalho. Tempo ou ritmo de trabalho: Sinais/ Sintomas de Distúrbios Psíquicos: Acompanhados ou Não de Sintomas Físicos: Longas jornadas; Depressão, angústia, estresse, crises de incompetência, crises de choro, mal-estar físico e mental: Dores (de cabeça ou no corpo todo), Poucas/curtas pausas para descanso; Cansaço exagerado, falta de interesse pelo trabalho, irritação constante; Perda do apetite, Refeições de curta duração; Insônia, alterações no sono, pesadelos; Mal estar geral, Ritmo de trabalho intenso/ monótono; Diminuição da capacidade de concentração e memorização; Tonturas, 7 Esforço físico intenso; Isolamento, tristeza, redução da capacidade de se relacionar com outras pessoas e fazer amizades; Náuseas, Posições forçadas/inadequadas, lugares desconfortáveis; Sensação negativa em relação ao futuro; Sudorese, Nível de pressão exercido pela organização do trabalho; Mudança de personalidade, reproduzindo as condutas de assédio moral; Taquicardia, Turnos noturnos; Aumento de peso ou emagrecimento exagerado, aumento da pressão arterial, problemas digestivos, tremores e palpitações; Somatizações, Turnos alterados ou iniciando muito cedo pela manhã; Redução da libido; Conversões (queixas de sintomas físicos que não são encontrados em nível de intervenções médicas) e Responsabilidade inadequada à capacidade do empregado; Sentimento de culpa e pensamentos suicidas; Sintomas neurovegetativos diversos. Trabalhos perigosos/emergências; Uso de álcool e drogas, e 8 Nível de atenção/concentração exigidos; Tentativa de suicídio. Presença de conflitos no trabalho; Exigências de não cometer erros; Má relação com os supervisores; Dificuldades de atualização inovações tecnológicas. 2 SAÚDE MENTAL NO TRABALHO FERREIRA (2013) elucida em relação a necessidade de se criar um Programa de Prevenção com objetivo de Saúde Mental no Trabalho, onde os prazos devem ser definidos para toda a empresa ou apenas para um determinado setor, com base em O cronograma deve contemplar as diferentes fases, bem como as facilidades e condicionantes existentes, para que o programa seja implementado. Posto isto, seria interessante formar uma comissão que reúna diferentes departamentos e setores, que necessite de um projeto que enfoque a saúde mental no trabalho, bem como métodos e intervenções. Definido um diagnóstico que deve ser desenvolvido de acordo com a estrutura da empresa, número de funcionários, histórico, é bom lembrar que essas informações constam do Manual da Qualidade da Empresa. Em seguida, deve ser feito um diagnóstico da indústria, de acordo com suas características: Sexo. Idade. Escolaridade. 9 Naturalidade. Condições de vida. É uma ferramenta importante para avaliar os fatores prováveis em uma situação de trabalho que dão origem a problemas de saúde, portanto, tal análise deve incluir: As situações no ambiente de trabalho, como ruído, relativas a temperaturas extremas, ou contato com agentes químicos e até mesmo a questão da iluminação. Deve-se incluir no processo de análise situações relativas à como o trabalho é organizado, além do conteúdo de tal trabalho, ou seja, a quantidade de informação, a presença de tomada decisões rápidas, responsabilidades do trabalhador no ambiente de trabalho, a presença de trabalho extremamente monótono ou, por exemplo, uma desatenção momentânea que pode ter consequências graves. Ainda se ressalte que existem fatores psicossociais do trabalho, os quais compreendem a percepção dos trabalhadores relativas a situação do trabalho e as relações humanas do trabalho, considerando superiores, colegas ou clientes. Assim, uma vez que este conjunto de fatores parece ser integrado e interdependente, os impactos na saúde dos trabalhadores, que dependem da personalidade, bem como da experiência e expectativas do indivíduo na relação com o trabalho. Em geral, quando o trabalho apresenta altas demandas psicológicas e cognitivas, está associado a baixo poder de decisão e baixo nível de suporte social, há alta probabilidade de afetar a saúde dos trabalhadores. Porém, entre os indicadores de saúde, destacam-se as prevalências de doença mental e doença mental, diante de uma situação de trabalho em que esses fatores estão presentes, os trabalhadores podem apresentar reações adversas. Resposta ao estresse por diferentes mecanismos patogênicos, mesmo cognitivos, afetivos, condução ou mecanismos fisiológicos. Que, em certas condições de intensidade, frequência ou duração, pode causar o aparecimento de doenças mentais e psiquiátricas. Estudos epidemiológicos de trabalhadores expostos a estressores no local de trabalho revelaram as seguintes disfunções: 10 “(...) sintomas musculares (por exemplo, tensão e dor); sintomas gastrointestinais (dispepsia, indigestão, vômito, pirose e irritação do colo e outros); sintomas cardíacos (palpitação, arritmias e dores inframamilares, por exemplo); sintomas respiratórios (entre outros, dispnéia e hiperventilação); sintomas do sistema nervoso central (por exemplo: reações neuróticas, insônia, debilidade, desmaios e dores de cabeça); sintomas genitais (por exemplo: dismenorréia, frigidez e impotência) ”. (LEVI, 1988. apud. FERREIRA, 2013). Outros fatores que podem indicar a presença de estresse no ambiente de trabalho estão ligados a: alta frequência de acidentes de trabalho, bem como consumo exagerado de medicamentos além da percepção dos trabalhadores de insatisfação no trabalho. 2.1 Análise Ergonômica do Trabalho A Análise Ergonômica do Trabalho, permite aos trabalhadores uma transformação das situações de acordo com suas possibilidades e capacidades, seu objetivo é determinar fatores que venham contribuir para uma sobrecarga de trabalho, por meio da análise ergonômica, observa-se a atividade de trabalho, a qual pode ocorrer de forma profunda, devendo ser solicitada após a identificação do setor e/ou ocupação que necessitam de uma intervenção. Tais questionários servem para que se obtenha uma percepção subjetiva em relação ao trabalho, a fim de indicar os pontos a serem melhorados, bem como as repercussões na saúde que estejam relacionadas ao estresse, devendo ser preenchidos de forma individual e analisados posteriormente. Diante disso, a aplicação bem como o processamento dos dados deve contar com a participação de um profissional do serviço de saúde, bem como de membros do Comitê de Programação e Prevenção. 2.2 Planejamento e implementação da intervenção Feito o diagnóstico é necessário que haja a intervenção, uma das formas de intervenção se trata da apresentação do diagnóstico a todos os envolvidos, a fim de discutir a respeito das formas de intervenção. 11 A seguir deverá ser comunicado as propostas aos empregados, onde deverá relatar os principais pontos do diagnóstico, assim, especificando o que deve ser feito, além de definir estratégias para adesão ao programa de prevenção. Dessa forma a principal estratégia é a criação de espaços públicos de discussão, ou seja, espaços e momentos em onde se pode falar de problemas e propostas concretas para melhorias, envolvendo a maioria das pessoas nas discussões, devendo as informações circular e as pessoas sentir-se livres para poder opinar, participar. É necessário avaliar continuamente o que está sendo feito para que as correções necessárias possam acontecer ao longo da intervenção, onde o programa de prevenção deve ser visto como um processo contínuo no qual melhorias em Alguns aspectos podem gerar “novas” ações. Portanto, os critérios de avaliação do programa devem ser estabelecidos pelaequipe que define as ações e objetivos, de acordo com os objetivos e problemas identificados, onde as afirmações sintomáticas devem ser comparadas, antes e depois da intervenção, ou criar um grupo de comparação. Portanto, os resultados podem ser confirmados por um check-up de saúde ou pela observação de mudanças de hábitos. Por exemplo, parar de fumar, fazer exercícios, comer e / ou coletar dados sobre peso, altura, pressão arterial, frequência cardíaca e colesterol. Os resultados podem ser avaliados pela produtividade, qualidade e quantidade, redução da perda de processos e satisfação no trabalho. 2.3 Programa de prevenção à saúde mental É necessário justificar a identificação de um conjunto de ações demonstrando que as ações preventivas devem ser baseadas em um amplo conceito a respeito do ser humano e seu ambiente de trabalho, a partir de uma abordagem equitativa e integral dos aspectos físico, mental, social e econômico, ações recíprocas entre o indivíduo e o ambiente, além de uma avaliação contínua das bases interdisciplinares dos efeitos das modificações do ambiente sobre o trabalhador. 12 A partir de um critério democrático ou participativo, isto é, que permita ao trabalhador a máxima influência possível sobre sua própria situação. 2.4 Ações de prevenção visando o indivíduo Quando se fala em prevenção da saúde mental, um passo importante é instruir o indivíduo como reconhecer o sintoma de estresse bem como as situações de trabalho que possam de alguma forma afetar a saúde mental. Entre as ações pode-se atentar a necessidade de controle sobre os fatores de estresse e assim usar os recursos disponíveis, a exemplo de mudanças de atitude sobre si mesmo, bem como tentar assumir o controle sobre os fatos, além de optar por um novo planejamento do seu trabalho. Diante disso, buscar estabelecer metas realistas para sim bem como ações que visam simplificar a vida, reconsiderando a importância do trabalho na vida. A princípio esta busca de acordo com FERREIRA (2013) se dá por meio de conversa com os amigos, ou seja, pessoas de confiança a respeito de seus problemas buscando assim o apoio social além da busca por profissionais capacitados a exemplo: médico, psicólogo, etc. Não obstante, a busca por informações será de grande ajuda pois uma mudança de atitude sobre si mesmo irá implicar na alteração de crenças relacionadas por exemplo a necessidade que o indivíduo possa ter de ser: estimado, ou aprovado pelas pessoas que são importantes para ela. Ainda a crença da necessidade de ser competente de forma plena, adequado, e ainda realizado de modo a ser capaz de se considerar digno de valor, além do fato de acreditar que deve ter o controle sobre tudo, de que deve ser perfeito sempre. Tais mudanças podem incluir: Ser afirmativo. Aprender a expressar seus sentimentos. Descobrir hobbies. Realizar exercícios físicos. 13 Talvez, fazer uma dieta. Relaxar. Meditar. Tais comportamentos irá capacitar a pessoa a ter um comportamento afirmativo, de forma a conseguir ainda uma comunicação interpessoal, não agressiva. 2.5 Ações de prevenção no trabalho Quanto as ações que deverão ser inseridas no ambiente de trabalho, estas serão orientadas de acordo com o diagnóstico feito anteriormente, devendo sempre ser observado os fatores relevantes de acordo com cada ambiente de trabalho. Vale ressaltar que uma intervenção deverá estabelecer medidas à curto, médio e longo prazo, além de um programa de prevenção, que irá “amortecer” os indivíduos levando-os a ter uma vida saudável, que irá permitir o desenvolvimento do indivíduo, de forma a alternar períodos de repouso, além de uma interação dinâmica entre o homem e o ambiente. Não obstante, tarefas que envolvem alto grau de tensão, se encaradas como desafio ou oportunidade de aprendizagem, tendem a não ser percebidas como estressantes. Para ROCHA. GLINA (2000): As necessidades humanas fundamentais a serem atendidas no trabalho são: o controle sobre o trabalho; a interação pessoal; a percepção de suas atividades dentro do conjunto do processo de produção; o reconhecimento social pelo trabalho desenvolvido, e outras necessidades ligadas ao contexto socioeconômico e cultural. (ROCHA. GLINA, 2000. apud. FERREIRA, 2013) Ainda de acordo com Martino (1992) os programas que sejam destinados a eliminar ou reduzir o estresse devem estar concentrados na melhoria da organização do trabalho, de modo a incluir melhorias no planejamento bem como no conteúdo do trabalho, por meio do estabelecimento de metas de produção realistas, bem como melhor organização do tempo de trabalho e melhor interface entre trabalhadores e máquinas ou novas tecnologias. 14 Fechando esta seção, pode existir resistência às mudanças na situação de trabalho no momento de tomar ações, pois as pessoas reagem fortemente às mudanças em uma situação normal, por isso, devem ser participativos no momento da implementação das mudanças. 3 PSICOPATOLOGIA NO TRABALHO Farei algumas considerações em relação a Psicopatologia no Trabalho, relativos a atualidade, sobre alguns tipos de transtorno mental relacionados ao trabalho, de acordo com FERREIRA (2013) opta-se por usar a expressão Psicopatologia no Trabalho – PPT, ao invés de Psicopatologia do Trabalho, uma vez que quem sofre, uma doença, ou seja, quem adoece é o ser humano que trabalha. Baseado numa perspectiva histórica, observa-se que a relação entre emprego e Saúde Mental é algo antigo, uma vez que veio passando por diversos estudos e a denominada anteriormente Psiquiatria Ocupacional, agora designado Psicopatologia do Trabalho. Para o autor citado, o conceito de sofrimento mental não está relacionado a doença, nem a transtorno mental, é caracterizado pela ciência formal, por isso ele menciona que existem mecanismos de funções de psicoproteção para evitar ansiedade, medo e depressão, bem como para sentir falta de proteção ou uma sensação de intimidação. O referido autor também explica que a repressão ou repressão pode ser ilustrada como um mecanismo de defesa pelo qual pensamentos relacionados a impulsos ou sentimentos perturbadores ou controle são excluídos da consciência. Outro mecanismo de defesa que FERREIRA (2013) menciona é o denominado negação da realidade, este mecanismo de defesa é muito utilizado na infância, podendo ser ainda verificado na vida adulta, nos momentos em que o indivíduo se sente impotente diante de situações ameaçadoras e penosas. Para JAQUES (1955) a forma pela qual os mecanismos de defesa surgem no ambiente de trabalho, assumem caráter coletivo. (JAQUES, 1955. apud. FERREIRA, 2013) 15 Tanto os mecanismos individuais de defesa psicológica, quanto às estratégias coletivas defensivas podem amenizar o sofrimento e protelar a eclosão de transtornos mentais. Mas, não são defesas duradouras e podem ser rompidas, seja pelo acúmulo dos desgastes, seja por circunstâncias que impactam o trabalhador – como o acidente do trabalho, conforme tivemos ocasião de constatar em pesquisas nas quais tivemos ocasião de estudar, ainda nos anos 80, as repercussões do trabalho na saúde mental de operários das indústrias de Cubatão (Estado de São Paulo) e de uma siderúrgica da cidade de São Paulo (SELIGMANN-SILVA, 1983 e 1994. apud. FERREIRA, 2013). Diante de tal afirmação se entende que nem todas as defesas psicológicas são negativas, quando se fala em preservação da saúde mental, a exemplo da sublimação que favorece a saúde e tem o potencial de transformar o sofrimento em prazer. Por meio da sublimação o indivíduo se apossa de sua força criativa buscando transformar o trabalho e torna-lo significativo, assim de acordo com o autor mencionado anteriormente para que a sublimação tenha lugar, é imprescindível um duplo espaço de liberdade, tanto exterior quanto interior à própria subjetividade, entretantoa sofisticação e a introjeção psíquica do controle, no presente, estrangulam cada vez mais este espaço. (SILVA. apud. FERREIRA, 2013) Porém, para que o sofrimento psíquico no local de trabalho seja o ponto inicial da psicopatia, à autodefesa individual e coletiva deve ser desfavorável ao desenvolvimento da autodefesa individual e coletiva. No Brasil, uma lista de transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho foi elaborada e publicada no Decreto 3.048/99 do Ministério da Previdência Social. FERREIRA (2013) ainda comenta que essa mesma lista integra a Portaria do Ministério da Saúde MS/1.339/1999, onde, existem 12 agravos que compõem a lista, as quais constitui um passo significativo para o reconhecimento da relação entre situações de trabalho e agravos mentais (Ministério da Saúde, 2001). Na 3.1 A subjetividade X ética NARDI (2006) observa que a ética empresarial, embora enfatizada na maioria dos artigos que descrevem o perfil dos executivos, ainda é um fator dependente da competitividade, maior valor da moralidade. 16 No entanto, o autor analisou a apresentação da empresa onde trabalharam os metalúrgicos que entrevistou, encontrando assim os elementos necessários para determinar os valores que se impõem à subjetividade das pessoas. Ele também destaca que além dos valores e verdades, as pressões psicossociais criarão novos comportamentos ou culturas, segue abaixo uma análise dos componentes envolvidos no processo de subjetivação: Disseminação do medo: Como escreveu Pelbart, O medo não é mais uma resposta ao perigo iminente, é o tom emocional dominante. O medo generalizado desencadeou a criação de espaços micro-sociais onde residia e começou a criar novos medos. Como disse o mesmo autor, "deve-se entender como tal microismo 'captura', 'funciona', espalha, espalha, ativa consenso, cria intimidação, causa paixão, desejo de vingança, manipulação política ... Pelbart, neste texto, não enfoca o mundo do trabalho, mas escreve sobre as “guerras urbanas” que eclodiram em São Paulo em 2006, destacando, como deixa claro o subtítulo de seu artigo, que “Nos tempos do Hezbollahh e na guerra urbana, o medo não era o efeito do perigo à vista. Esta é a maneira padrão de reagir na vida cotidiana. " (PELBART, 2006). O medo, ao se infiltrar nas relações interpessoais, abre espaço para a desconfiança que se infiltrará na harmonia nos ambientes externos e internos de trabalho, rompendo ou impedindo as relações, vínculos interpessoais, criando isolamento entre as pessoas. A desconfiança é a fonte da paranóia que permeia o mundo do trabalho e a sociedade. Insegurança e incerteza: Nem sempre é possível separar o medo de uma combinação de percepções, onde enfatizamos a insegurança e a incerteza. Geralmente, nesses casos, o medo coletivo faz com que o indivíduo experimente insegurança. Estes, por sua vez, derivam de um todo complexo, não limitado aos medos específicos que acabamos de listar. Existe outra insegurança, gerada pela incerteza sobre o futuro, que, além 17 de ser criada por um conjunto de ameaças percebidas, está intimamente associada à escassez e destruição do chamado “estado de provisão”. Essa incerteza se agrava no contexto de um país onde as estruturas de proteção social ainda não atingiram seu pleno desenvolvimento com o surgimento da onda neoliberal. Nesses países, também se desenvolveram pressões e discursos voltados para o retrocesso, em nome da adaptação a uma nova era de competição em que os indivíduos se tornam autônomos e responsáveis por si mesmos. O apagamento da justiça como valor fundamental (NARDI, 2006): A própria justiça sempre esteve no cerne da moralidade, assumindo a aparência de um imperativo moral historicamente solidificado e firmemente ancorado na subjetividade. A prevalência do imperativo "competir pela existência" parece ser uma explicação inadequada para nos fazer compreender o enfraquecimento de tal princípio essencial e deve estar ligada a aspectos complexos, mais presentes em nosso momento histórico em uma dinâmica que ainda está por ver. Conhecer melhor. O individualismo que se sobrepõe à solidariedade (GÉNÉRAUX, 1998; NARDI, 2006; ROSANVALLON, 1995; ZOLL, 2000, entre outros): É um individualismo solitário, cujo surgimento tem sido analisado desde o final dos anos 1970. Ele se infiltrou na sociedade, mas tem manifestações específicas no mundo do trabalho. Fazer: O individualismo se tornou essencial para o controle interno. O controle operário na administração taylorista-fordista passou por uma transformação na empresa hipermoderna. No livro Pages et Cols publicado em 1979, na França, (The Power of Organizations), foi mostrado um slide em que o poder organizacional abre mão de parte de seu controle externo e passa a comandar a subjetividade, agindo sobre desejos e fantasias. Isso é dominação interna. Este livro revelou como fazer a articulação entre objetivos de gestão e aspirações pessoais. A ferramenta do individualismo cada vez mais ríspido é um dos meios utilizados neste processo. 18 3.2 Episódio Depressivo Relacionado ao Trabalho FERREIRA (2013) menciona em relação a episódio de depressão relacionado ao trabalho que a sociedade atual pode ser caracterizada como uma sociedade depressiva. ROUDINESCO (1999) afirma: (...) às vésperas do terceiro milênio, a depressão tornou-se a epidemia psíquica das sociedades democráticas, ao mesmo tempo em que se multiplicam os tratamentos para oferecer a cada consumidor uma solução honrosa” (ROUDINESCO, 1999. apud. FERREIRA, 2013) Para a autora a depressão se trata de um estado, sendo necessário distinguir entre o estado clínico/ individual. Pierre Juillet, menciona que os riscos para a ampliação da definição clínica de depressão relaciona-se à medicalização da sociedade, por meio do uso indiscriminado de psicotrópicos. Assim, distinguir os modos de trabalho de trabalho durante o início, bem como durante os episódios depressivos levanta o desafio diagnóstico, um desafio que ainda requer pesquisas precisas para determinar a relação. Para FERREIRA (2013) as diversas possibilidades elencadas acima são especialistas em promover o desprestígio, bem como o aniquilamento moral, além da desestabilidade emocional do empregado dentro dos aspectos que identificam o assédio moral. Observa-se que em conflitos gerados pela competição por posição em cargos são rompidos laços de confiança causando prejuízos e decepções. A depressão ainda pode ser atribuída ao declínio do emprego, que hoje responde por grande parte do setor informal, pelo fato de existir a falta de seguridade social combinada com a ausência de vínculo contratual, agora, para muitos desses trabalhadores, com as condições em que o ambiente e a organização trabalham os expõem a maiores riscos físicos e mentais. Esses trabalhadores vivem em constante insegurança, acumulando desgastes e incertezas quanto ao futuro, muitos desses trabalhadores ficando deprimidos, resultando em imagens diretas de depressão, emanadas de circunstâncias precárias. 19 As principais manifestações da depressão são: Humor triste. Desânimo. Vivências de perda. Sentimentos de fracasso. Dificuldade de visualizar perspectivas positivas. Tendência a se autoculpabilizar. Pensamentos sombrios. A depressão pode vir a se caracterizar associando-se ao desenvolvimento de outros transtornos mentais relacionados ao trabalho: No transtorno orgânico de personalidade relacionado ao trabalho. Em pessoas com diagnóstico de esgotamento profissional. Nos serviços de atenção psiquiátrica. Para o tratamento da depressão, a prevenção, altamente relacionada com o trabalho, exige nas empresas e noutros contextos de trabalho, pressupõe-se a divulgação e modificação das condições organizacionais responsáveis pelo aumento dos episódiosdepressivos. Vamos tentar definir brevemente neste tópico. 3.3 Síndrome do Esgotamento Profissional (BURN-OUT) FERREIRA (2013) conceitua a síndrome de burn-out, como a expressão inglesa burn-out que corresponde a: queimado até o final e foi traduzida para o português como: estar acabado, na versão brasileira da CID-10. Síndrome de burn-out se trata de uma denominação de um quadro clínico também denominado: Síndrome do Esgotamento Profissional e que recebe o código Z73-0 na Classificação oficial. Assim, com base em um grande número de estudos de caso, Freudenberger determinou que existem especificamente dois tipos de pessoas que sofrem de “apagões internos” devido ao esgotamento: 20 Indivíduos particularmente dinâmicos tendem a assumir funções de liderança ou altos níveis de responsabilidade. Os idealistas trabalham arduamente para alcançar objetivos que muitas vezes são inatingíveis. De acordo com estudos realizados na Europa, Estados Unidos e Canadá, os especialistas que mais desenvolvem a Síndrome de Burn-out são aqueles que prestam serviços a terceiros, como os cuidadores, isso foi constatado com um grande número dos seguintes profissionais: professores, enfermeiros, médicos e assistentes sociais. Atualmente, nas empresas, vem sendo observado número crescente de casos da síndrome, a partir da incrementação das grandes mudanças organizacionais que acompanham a reestruturação produtiva. Ela tem incidido em gerentes de vários níveis da administração e em outros executivos. Nestas mudanças, as pressões sofridas continuadamente para que os indivíduos atinjam metas cada vez mais avançadas, adquirem caráter extenuante, podendo levar ao esgotamento profissional. (NARDI, 2006; JARDIM e GLINA, 2000. apud. FERREIRA, 2013). De acordo com o que preleciona o autor mencionado anteriormente o quadro clínico da síndrome de esgotamento profissional apresenta como manifestação uma exaustão, tédio, irritabilidade e mau humor. Observa-se que tal fenômeno central relativo ao esgotamento e a exaustão é acompanhado por uma segunda manifestação que é característica desta síndrome e se trata de uma aguda reação emocional negativa, reação essa de rejeição, ao que antes, no trabalho, era objeto de dedicação e cuidado. De acordo com o autor mencionado anteriormente instala-se o desinteresse pelo trabalho, tudo aquilo que a pessoa sentia prazer em fazer se torna indiferente, ou irritante, além do fato de que surge a dificuldade de concentração nas atividades e queda do desempenho. Constantemente inquieto, deprimido com sensação de depressão, apresentando as seguintes características: alterações de humor, dificuldade em se 21 levantar, distúrbios do sono, um conjunto de manifestações gerais que requerem diagnóstico diferencial de depressão. Em alguns casos, a ansiedade pode ser mais óbvia do que a depressão. Existem diversas pesquisas sobre saúde mental dos professores no Brasil. Assinalamos uma acurada análise de repercussões na saúde relacionadas a uma reforma administrativa que impôs diretrizes neoliberais à organização do trabalho e aos conteúdos do ensino, na rede pública da cidade de Vitória. Esse estudo foi realizado por Maria Elizabeth Barros (2001) e, entre outras expressões de sofrimento mental, a autora encontrou, nos depoimentos destes professores, a percepção de um “esgotamento físico e mental” que os professores relacionavam às mudanças administrativas que haviam sido implantadas. Tal “esgotamento”, ao lado de outros sintomas, havia feito com que vários professores tivessem se afastado da atividade docente em licença médica (BARROS, 2001) FERRREIRA (2013) mencionam ainda que é importante ressaltar que a criação de um espaço de sublimação, ou seja, um espaço coletivo de discussão. Destaca ainda que no Brasil, os estudos que tratam do esgotamento profissional em outra área na qual a Ética é, ao mesmo tempo, princípio e substância, pois, a promoção da Justiça configura o objetivo primordial: o sistema Judiciário e o Ministério Público. Vale ressaltar que na atualidade, observa-se um discurso tanto empresarial quanto midiático pregam a imagem perfeita de um profissional, que está sempre disposto e que tem todo o poder, de forma que leva ao empregado ou colaborador a imagem que extrapola todos os limites. Isto posto a insistência da empresa para que o profissional corresponda ao modelo leva o colaborador ou empregado a negar o desgaste de forma que dentro de um período ele se encontra limitado pela síndrome de burn-out. FERREIRA (2013) ainda observou que o Manual de Serviços para Doenças Relacionadas ao Trabalho, do Ministério da Saúde (2001), fornece diretrizes para o diagnóstico clínico, a prevenção e o tratamento da síndrome de esgotamento profissional, assim como para os demais transtornos psíquicos relacionados ao trabalho. 22 4 GESTÃO DE PESSOAS E SAÚDE MENTAL Quanto mais o tempo passa mais encontra-se no ambiente de trabalho os denominados estressores, assim, nas falhas da gestão da realidade cotidiana dos ambientes laborais demonstra diferentes estressores, e diferentes formas de controle. Assim, para cada grupo de estressores existe a necessidade de uma intervenção específica. Um exemplo de controle de estressores é a ginástica laboral: Quase todas as pessoas sabem apontar os inúmeros benefícios do exercício físico bem orientado. No entanto, num ambiente em que os estressores se alimentam na sociodinâmica do trabalho, a frequência involuntária à ginástica laboral acaba se transformando em mais um elemento estressor, podendo, inclusive, agravar lesões pelo exercício sob estado de tensão exacerbada. (FERREIRA, 2013) Se faz necessário um estudo específico das causas estressoras, bem como das ações que sejam positivas na qualidade da administração, na gestão das pessoas, o caminho mais significativo para controlar os estressores nos ambientes laborais. 4.1 Saúde mental do trabalhador: novos doentes, novos riscos FERREIRA (2013) traz um comentário em seu livro de DAMÁSIO (2002), onde o campo do sofrimento psíquico no trabalho talvez seja, um dos mais desafiadores, quanto as necessidades relacionadas a pesquisa, comprovação, prevenção e intervenção. Além do fato de não se prestar soluções de caráter simplista, a exemplo da recomendação do uso de um equipamento de segurança ou a construção de uma parede de isolamento, por exemplo, a mente humana ainda representa um enigma, especialmente quando o assunto é a consciência. Diante disso comenta o autor que para entender o fenômeno do estresse laboral, considera-se quão complexo são as interrelações que o atingido elabora em suas vivências. 23 No final do séc. XX o desafio se tratava da mudança relacionada ao conceito de doença do trabalho, os quais eram os mais pobres, os excluídos da escolarização os desprovidos de bens da humanidade, os indivíduos que mais sofriam com o trabalho. Eles é que eram atingidos pela contaminação do ar, dentro de um galpão mal ventilado e ocupado por máquinas a vapor, onde mais tarde, os tijolos das construções e o veneno químico das lavouras matavam mais impiedosamente. Assim, seu sofrimento bem como suas mortes levaram ao movimento pela prevenção, refletido em normas regulamentadoras e equipamentos de segurança, aprimorados desde meados do século XX. Tornando improvável a imposição de condições desumanas a vivência laboral, tanto nos campos físico, quanto químico e biológico, o risco à saúde no trabalho muito já se avançou. Atualmente, falamos de um risco de natureza sócio-ambiental, que tem atingindo de forma generalizada, adoecendo direta e indiretamente, inclusive por agravar a ameaça dos demais riscos ao atingir as relações e interferir na disposição, na atenção, na vontade de trabalhar. Os mais escolarizados, os menos atingidos pelas condições agressivasdos fatores físicos, químicos e biológicos, os mais politizados. O trabalhador mais explorado vive a necessidade inadiável de iniciativas que contribuam para a superação das mazelas de suas condições de existência, é preciso não esquecer que os riscos sócio-ambientais à saúde no trabalho não escolhem suas vítimas. Nós mesmos, repetindo, vivemos o risco cotidiano do estresse, da violência, da sobrecarga de apelos e demandas gerada pela revolução tecnológica. Democraticamente, os tempos aos quais chamamos de “pós-modernos” ampliaram bastante o rol daqueles que desenvolvem doenças no trabalho. Conclui-se então que tem atingido não apenas os empregados, mas também: chefes, gerentes, diretores, os juízes, os médicos, os professores, de forma que as 24 doenças dos novos tempos colocam a situação de todos em risco de agravamento, sendo adoecidas as pessoas investidas de poder, assediando ou agindo de maneira inadequada e até mesmo agressiva, o que impõe aos estudiosos e profissionais da área a necessidade de vencer as explicações mais óbvias e usuais. Se tratam de doenças desenvolvidas com diferentes mapas sintomáticos, por ocupantes de cargos e funções de diferentes naturezas, num processo de sofrimento de difícil identificação e determinação, cujas causas são múltiplas e os estressores próprios da sociodinâmica do trabalho tendem a se realimentar, piorando os quadros de adoecimento e os índices de acidentes e mortes em todos os segmentos profissionais. Sendo três cuidados indispensáveis: O primeiro cuidado diz respeito à facilidade: Com que desprezamos nossos primeiros sinais de sofrimento psíquico ou de adoecimento. São familiares e colegas que nos “diagnosticam” pela conhecida frase “isso é só psicológico”, recomendando um descanso ou um passeio de final de semana como “tratamento”. A alegação comum é que estamos apenas muito “estressados”, no sentido popular do termo. Há também o fato de outros colegas e familiares viverem sintomas semelhantes e por isso contribuírem para o falso entendimento de que “se está todo mundo com dificuldades para dormir, deve ser assim mesmo”. Ou seja, ao atingir um número maior de pessoas, o risco socioambiental que se traduz em sofrimento psíquico e em adoecimento, tende a ser tratado sem a necessária atenção, contribuindo para que o agravamento da situação provoque, desde a mutilação pela falha na operação de uma máquina, até mortes aparentemente inesperadas. O segundo cuidado: Se refere à diferenciação entre o adoecimento de uma pessoa por condições que se originam em sua vida particular (por causas genéticas, situações de perdas ou conflitos na vida familiar, desenvolvimento de neuroses, etc.) e os riscos socioambientais que atingem um grande número de trabalhadores, no mesmo ambiente laboral. Muitas vezes ouvimos pessoas dizendo que, em suas empresas, 25 todos estão “desmotivados”, refletindo um entendimento gerado numa curiosa e improvável situação de coincidência: tantas pessoas desmotivadas, no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Na verdade, a ideia de uma “desmotivação” de caráter generalizado é bastante discutível. Além de ser fenômeno de características individualizadas, as ações humanas são sempre motivadas, inclusive quando as pessoas mostram desinteresse pelo que está sendo proposto. Assim, um cenário avaliado como composto por pessoas desmotivadas está sendo alvo de um falso diagnóstico. Este falso diagnóstico tende a levar a intervenções equivocadas e, geralmente, prejudiciais à solução que se pretende atingir. Onde se vê pessoas que não se interessam pelo que está sendo proposto, a melhor iniciativa não é a que parte de conscientizações e transformações individuais, mas, sim, a que se volta para as propostas, que precisam ser melhor trabalhadas. O terceiro cuidado: Tem relação com o conceito de saúde mental do trabalhador, sugerido pelo título de nossa participação nesse Congresso. Quando falamos em saúde mental, não podemos restringir a leitura às vítimas tradicionais das doenças do trabalho. Conforme dissemos, há muitos chefes, diretores e ocupantes de cargos que não se enquadram na definição de “trabalhador” stricto sensu - como médicos, juízes, engenheiros, etc. - mas que hoje são tão, ou mais, vitimados que àqueles, capazes, portanto, de agravar o sofrimento de todos pelo exercício distorcido do poder. A tendência a atribuir às atitudes defensivas, neurotizadas e, muitas vezes, agressivas de pessoas investidas de poder, às características oriundas de uma personalidade impermeável, sem vínculos, leva a equívocos nas intervenções e na atenção que os grupos por eles comandados demandam. Ainda que, aqui também não se exclua a possibilidade de ver a origem do sofrimento psíquico na vida particular de cada homem, é necessário atentar para outros indicadores presentes no cotidiano e na vivência intra e extragrupal, para avaliar a situação e investigar a presença dos fatores socioambientais de risco. 26 5 ASSÉDIO MORAL, SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR E ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO O conceito de assédio ético é apresentado, bem como suas consequências para o moral dos funcionários, para mostrar a importância dos Princípios Fundamentais delineados no art. 1º, a Constituição visa reduzir, extinguir tal prática nas empresas, além de apresentar a atuação do Ministério Público do Trabalho a favor da proibição de saída do trabalho, considerando as premissas de responsabilidade do empregador e, em última instância, avaliar competência da Justiça do Trabalho para agir. 5.1 Assédio moral X Ofensa à indenidade psíquica do trabalhador Para FERREIRA (2013) assédio moral é, toda conduta cometida no âmbito de uma relação de trabalho, cujo propósito é, por meio de palavras ou comportamentos: Denegrir. Ridicularizar ou atingir a honorabilidade dos trabalhadores. “Por assédio em um local de trabalho temos que entender toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por comportamento, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho. (...) (HIRIGOYEN. apud. FERREIRA) Ao contrário do assédio sexual, o bullying não requer uma condição específica para moldar a ascendência ou superioridade do assediador. Pode resultar de conduta inadequada de: empregadores, representantes, gerentes, diretores ou mesmo qualquer outro funcionário que não esteja responsável pela gestão da empresa. O que é crucial para sua imagem, porém, é o comportamento temerário que visa humilhar, ridicularizar e depreciar um subordinado ou colega de trabalho. Conforme observado, o assédio ético pode ser cometido por uma pessoa ou mesmo por um grupo de trabalhadores, o que pode ocorrer por diversos motivos: 27 aparência, opção sexual ou até mesmo sedentarismo. Fica claro que determinado (s) membro (s) do quadro de funcionários da empresa, passam a ser o alvo deste tipo de assédio, sofre humilhação, levando a uma baixa autoestima oculta. No entanto, o assédio psicológico cria prejuízos extremamente perigosos para quem o sofre, além disso, é habitual o empregado decidir sair da empresa em caso de assédio ou numa situação mais grave de tentativa ou mesmo suicídio. 5.2 Os Princípios Constitucionais Fundamentais X Assédio moral A lei brasileira tem como alicerce os fundamentos estabelecidos nos art. 1º da Constituição Federal, para uma cultura constitucional a ser observada no Brasil, reforçada tanto na conduta existente quanto na conduta: Preservação da vontade da constituição, ou seja, a Constituição como potência máxima, Carta Magna. Implementar, da melhor forma possível, os princípios e normas constitucionais. Divulgação de conhecimento sobre textosconstitucionais Porém, a ausência de cultura constitucional se reflete nas mais diversas áreas da vida brasileira, seja no econômico, no político, no social e no sertão do pensamento jurídico. FERREIRA (2013) menciona que os Princípios Básicos do Estado brasileiro são: a porta para a interpretação da constituição e de todo o sistema normativo brasileiro, pois atuam como dados indissociáveis da televisão saem do procedimento interpretativo, que a própria norma constitucional ou por qualquer outro tipo de norma, enfatiza. Apesar do contexto bem compreendido de assédio ético, ou seja, moral e da necessidade de se invocar a Constituição de 1988 para proibi-lo, a situação é essencialmente a mesma. 28 Se, ainda antes do surgimento do assédio ético, os responsáveis pela aplicação das leis trabalhistas passassem a escrutinar os Princípios Constitucionais Básicos, encontrariam neles uma fonte extremamente importante de axiomas capazes de fornecer proteção judicial aos trabalhadores vítimas de assédio esta prática prejudicial. O art. 1º, prevê: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. (BRASIL, 1988) Diante de tal normativa pode-se fazer uma análise do que significa o Estado Democrático de Direito, Estado de Direito e de Justiça Social, observa-se que a expressão Democrático foi acrescida por meio da Constituição Federal de 1988 e, conforme acentua Miguel Reale: (...) “pela leitura dos Anais da Constituinte infere-se que não foi julgado bastante dizer-se que somente é legítimo o Estado constituído de conformidade com o Direito e atuante na forma do Direito, porquanto se quis deixar bem claro que o Estado deve ter origem e finalidade de acordo com o Direito manifestado livre e originariamente pelo próprio povo, excluída, por exemplo, a hipótese de adesão a uma Constituição outorgada por uma autoridade qualquer, civil ou militar, por mais que ela consagre os princípios democráticos. (REALE. apud. FERREIRA, 2013) O adjetivo Democrático pode também indicar o propósito de se transportar de um Estado de Direito, meramente formal, a um Estado de Direito e de Justiça Social, assim, instaurado de forma concreta com base nos valores fundantes da comunidade, Estado Democrático de Direito, nesse entendimento, se trata, então de Estado de Direito e de Justiça Social. Portanto, o objetivo dos Princípios Fundamentais é prevenir o bullying nas empresas e, ao mesmo tempo, é uma condição para as agências econômicas estaduais, empresas públicas e empresas controladas pelo governo aprovarem 29 regulamentações. As regras internas explicam os comportamentos relacionados ao assédio psicológico, além de estabelecer punições severas para aqueles que sofrem. Observa-se ainda que o fundamento referente à dignidade da pessoa humana é mais do que suficiente para justificar a adoção de medidas judiciais que tenham por objetivo à solução do problema nas empresas privadas. Faz- se necessário então conceituar dignidade da pessoa humana bem como verificar, na situação concreta, a ofensa ao postulado fundamental assim, é recomendável um exame mais profundo do fundamento do Estado brasileiro. FERREIRA (2013) também menciona que a dignidade humana é o objetivo último de qualquer lei, por isso estende seu efeito em diferentes áreas normativas para apoiar todas as interpretações. É o esteio do estado brasileiro, como explica Miguel Reale: “(...) o fato de poder e dever cada homem se realizar de conformidade com o seu ser pessoal, na condicionalidade de sua natureza e do meio histórico a que pertence, não exclui, mas antes exige o reconhecimento de ser ele partícipe de uma tarefa ou empenho comum a toda a espécie humana, ou, por outras palavras, de que os seus atos transcendem o círculo de seus interesses, ou dos grupos em que mais imediatamente se inserem, por serem, pura e simplesmente, atos humanos, suscetíveis de uma qualificação deontológica de alcance universal. Donde resulta a emergência de uma multiplicidade de ideologias, em função das quais cada um de nós situa e legitima as suas inclinações e esperanças”. (REALE. apud. FERREIRA, 2013) Diante disso a Constituição, ao reconhecer a existência da dignidade da pessoa humana, transforma-a num valor supremo da ordem jurídica, quando a declara como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil constituída em Estado Democrático de Direito. No entanto, FERREIRA (2013) observa que ao estabelecer a dignidade humana como fundamento do Estado brasileiro, mostra a obrigação de colocar o indivíduo no centro das atenções, ou seja, de torná-lo destinatário efetivo dos direitos de servo natureza, ou mesmo delinear corretamente a ideia de que o objetivo mais elevado e mais comprometido com a sociedade política é a glorificação da dignidade. Quando o elemento constituinte inicial enfatiza a pessoa, ao oferecer sua dignidade visa trabalhar pela humanização do sistema constitucional, ou seja, uma humanização do ambiente de trabalho para que os indivíduos sejam tratados com 30 dignidade e respeito em todos os seus aspectos para que você tenha uma mente saudável de seus criadores. 6 SAÚDE MENTAL, DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO Nesse tópico iremos observar as técnicas que são utilizadas dentro da saúde mental, além dos resultados alcançados, deve ser observado que existe uma ligação entre a saúde mental e o bem-estar vivenciado pela pessoa em seu ambiente de trabalho. Em ciência, quando nos referimos a pressupostos, estamos nos referindo a enunciados (explícitos ou não) que servem de ponto de partida para o desenvolvimento dos nossos empreendimentos de investigação, seja no contexto da pesquisa, seja no contexto profissional. Um pressuposto, sendo algo assumido como ponto de partida, não é o objeto de apreciação ou de foco das pesquisas. Nisto os pressupostos se diferenciam das hipóteses que, quando explicitadas nas pesquisas, são objetos de teste, verificação, demonstração e/ou avaliação. A reflexão sobre os pressupostos assumidos exige um considerável aprofundamento e, geralmente, ocorre no campo da filosofia (teoria do conhecimento ou epistemologia). Sua adequação, ou não, é discutida à luz de uma determinada perspectiva de visão de mundo ou corrente filosófica, de modo que se leva em conta sua concatenação a outros pressupostos da mesma perspectiva. (FERREIRA, 2013) Assim, observa-se então que quando se trata de saúde mental, existe um desafio que tem como objeto as pesquisas e intervenções, de forma que se não existe o nexo entre o trabalho e a saúde mental não faz sentido tal estudo. Assim, o nexo entre saúde mental e trabalho torna-se um pressuposto para que haja um diagnóstico seguro do que causa o adoecimento mental no ambiente de trabalho, assim levantando questionamentos a exemplo o fato de que a causa de o adoecimento ser relacionada realmente ao trabalho ou ao indivíduo. LIMA (1996) assim, comenta que a focalização e problematização da doença competiam ao Psicólogo Clínico. A vivência do trabalho competia ao Psicólogo Organizacional e do Trabalho. Doença e trabalho constituíam dois mundos diferentes delimitados simbolicamente pelos muros da fábrica. (LIMA, 1996. apud. FERREIRA, 2013) 31 6.1 Perspectiva psicossocial e seus fundamentos Partindo do entendimento de que o trabalho exerce um papel estruturante na vida das pessoas e da sociedade além de assumir uma visão do mundo existencialista, verifica-se alguns pressupostos que são denominados princípios-guias na aplicação da perspectiva psicossocial. O papel estruturantedo trabalho. No plano individual de análise, o trabalho tem sido, entre outros aspectos, um poderoso fator de identificação social e de bem-estar psicológico, como também tem se constituído em fonte de realização, em oportunidade para o indivíduo criar, produzir e dar uma contribuição social. Estas potencialidades do trabalho são mais visíveis principalmente quando se compara às situações ocupacionais de emprego/desemprego. A existência precede a essência Significa que o homem primeiro existe, depois pensa, toma consciência de sua existência e decide o rumo que quer dar a ela. O ser humano não é pré-definido; ele se define a si mesmo por meio do seu trabalho e das outras opções que faz na vida. Esse pressuposto implica, pois, que o plano material da vida é primário em relação ao plano social e psíquico. Para o nosso campo de conhecimento, implicará que é necessário entender o contexto material (socioeconômico) no 32 qual os fenômenos psicossociais investigados se inserem. Não podemos invalidar ou validar um paradigma teórico sem considerar o contexto no qual é aplicável. O mundo é uno e nele tudo se relaciona Indica que todos os fenômenos psicossociais tendem a ser relacionados entre si, não sendo possível explicar um fenômeno por uma única causa. Compete, pois, à ciência, distinguir quais são as relações principais e as secundárias, bem como desnudar redes de relações. Isso, por sua vez, demanda o planejamento de técnicas de análise dos dados que auxilie distinguir as relações principais das secundárias. A eleição de um método ou técnica como o melhor raramente consegue dar conta de tal distinção. Implica numa tendência a articular métodos e técnicas de pesquisa, superando inclusive a velha cisão entre as técnicas de análise de dados qualitativas e quantitativas. O relacionamento entre variáveis é dialético Todo fenômeno psicossocial é histórico, portanto um conteúdo estudado terá significado em decorrência de sua rede de relações e não por si. Em outras palavras, o que observamos no estudo será explicado pela sua associação com as demais observações e com os contextos socioeconômico e histórico (material e imaterial). Este princípio, em 33 parte, deriva de outro já citado: A existência precede a essência. O conhecimento científico não se pretende absoluto, mas probabilístico Implica que atingir objetivos de pesquisa não significa encontrar a verdade absoluta, mas elaborar a melhor resposta possível, diante das informações disponíveis. Ou seja, não se esgotarão os problemas de estudos enunciados, mas respondemos até o ponto que as informações disponíveis nos permitirem, pois todo conhecimento científico, sempre em construção, é passível de contestação. O primeiro pressuposto elucidado o papel estruturante do trabalho pode ser compreendido como um princípio existencialista; no entanto, apresentamos aqui como algo adicional, porque em nossa compreensão ultrapassa o existencialismo, pois é uma noção que está (implícita ou explícita) em outras visões de mundo e, por consequência, sua influência no campo de saúde mental e trabalho é fundante para pesquisadores e profissionais como várias visões de mundo. Os pressupostos mencionados estão implícitos em muitas características que constroem a face da perspectiva psicossocial. Explicitar estes pressupostos não é suficiente, entretanto, para caracterizá-la, ao discorrer sucintamente sobre cada pressuposto, tentávamos explicitar suas implicações na construção do conhecimento e, especificamente, do campo de saúde mental e trabalho. A face que a perspectiva psicossocial constrói precisa ser descrita diretamente. Sintetizamos aqui as características que consideramos principais, partindo das análises sobre a Psicologia Social de Álvaro (1995) e Katzell (1994): 34 A maioria dos fenômenos psicossociais é multidimensional e multideterminado. Os fenômenos psicossociais suscitam uma abordagem interdisciplinar, porque a realidade não se acomoda à fragmentação da ciência. O nexo entre saúde mental e trabalho exige articular diversos níveis de análise: o indivíduo, interpessoal, grupal, organizacional e/ou institucional e societal. A complexidade dos fenômenos torna recomendável e factível a articulação do uso de diferentes métodos e técnicas para produzir uma aproximação maior entre o conhecimento produzido e a realidade psicossocial. A inserção e a relação dos indivíduos com o mundo do trabalho e das organizações exercem um papel estruturante para estes mesmos indivíduos. O aperfeiçoamento dos instrumentos de pesquisa é importante para a qualidade da produção do conhecimento. O desenho das pesquisas, os instrumentos utilizados e as técnicas de análises dos dados precisam se articular para contribuir, compreender ou distinguir as relações principais (molares) e secundárias dos fenômenos psicossociais. A adoção de uma perspectiva sócio-histórica dos fenômenos psicossociais contribui para aprofundar a compreensão que se tem dos mesmos. A adoção de uma perspectiva pragmática e contextualizante facilita refletir a relação dialética entre teoria e prática (aplicação do conhecimento). FERREIRA (2013) ainda menciona que ao tentar explicar ou descrever da melhor forma possível o nexo entre saúde mental das pessoas e seu trabalho, existem poucos modelos teóricos que se coadunam com a perspectiva psicossocial, pois a maioria dos estudos que procuram sistematizar e operacionalizar o conceito de saúde mental ou de bem-estar focalizam apenas os indicadores pessoais do bem-estar. Propõe WARR (1987) que o bem-estar psicológico seja considerado em cinco dimensões: Bem-estar afetivo. Competência pessoal. Autonomia. Aspiração. 35 Funcionamento integrado. Para o autor mencionado anteriormente, sempre que o indivíduo apresentar déficits em uma ou mais dessas dimensões psíquicas, este estará padecendo de deterioração do bem-estar psicológico. Assim a ideia central do modelo é que diversos fatores ambientais exercem influência na saúde mental das pessoas, entretanto, essa relação não ocorre de forma linear, pois os níveis de alterações psíquicas podem ser: baixos, constantes, elevados e variam entre os indivíduos, de acordo com seus atributos pessoais e dependendo do grau em que as características ambientais se manifestam. (FERREIRA, 2013) Isto posto para explicar a relação não-linear entre as características do contexto bem como a saúde mental, WARR (1987) diferencia dois tipos de fatores ambientais, em níveis moderados, que têm efeito positivo na saúde psíquica, depois de atingir um determinado nível passam a surtir um efeito constante ou não adicionam mais efeito (Efeito Constante - EC). Em outros casos, o excesso de determinados aspectos gera efeitos lesivos à saúde mental (tipo DA - Diminuição Adicional) da mesma forma que a carência de tais aspectos do ambiente em seus níveis baixos. A relação entre estes aspectos e a saúde mental traçaria uma parábola. O autor ainda classifica as características ambientais em nove tipos, onde as três primeiras: Recursos econômicos. Segurança física. Posição social valorada. Correspondem ao que ele chamou de características de EC – Efeito Constante. Já as outras seis: Oportunidade de controle do meio. Oportunidade para o desenvolvimento de habilidades. Objetivos gerados pelo meio externo. Variedade de alternativas. Clareza ambiental. 36 Oportunidade para estabelecer relações interpessoais, as quais ele classificou como características de DA – Diminuição Adicional. Vale ressaltar que a precariedade do ambiente causa riscos à saúde mental do trabalhador, de forma que quantidades equilibradas dessascaracterísticas irão incidir positivamente sobre a saúde psíquica; e, em casos de excesso, podem aparecer dois diferentes efeitos: no caso das características EC, o indivíduo tende a desconsiderar a parte excedente, de modo a recuperar o próprio equilíbrio; no caso das características DA, o excesso produzirá “efeitos tóxicos” ao indivíduo, potencializando danos à saúde mental, caso ele não consiga encontrar meios de eliminar o excedente. 6.2 As experiências de pesquisa/diagnóstico da equipe De acordo com FERREIRA (2013) o desenvolvimento de pesquisas bem como de diagnósticos organizacionais e ocupacionais no campo da saúde mental e trabalho não são simples. Assim, quando se trata de pesquisa de iniciativa acadêmica não é fácil o acesso às organizações e/ou aos participantes de ocupação, pois quando se trata de diagnóstico solicitado por uma organização ou por uma instituição sobre determinada ocupação, negociar o tempo necessário, as técnicas a serem utilizadas exigem habilidades. Não obstante o profissional vai lidar com as crenças do contratante, uns acreditam que os questionários não servem, outros não querem entrevistas porque crê que os entrevistados confundirão o profissional, levando a ver o fenômeno exclusivamente pela sua ótica e, assim por diante. Assim, em síntese os resultados são: Nas pesquisas de iniciativa acadêmica, os possíveis beneficiados não fazem uso imediato dos resultados. Muitas vezes ocorre ser difícil apresentarem-se os resultados (devolução). Aplicações podem ser realizadas posteriormente e às vezes de maneira mais extensiva do que nós esperávamos. 37 Estes resultados foram muito difíceis de serem devolvidos, apesar de terem endereços específicos: todas as instituições das quais seus funcionários participaram. Pouco a pouco, as oportunidades de apresentação do livro demonstram que os profissionais de saúde se apropriaram dos resultados e embasaram ações nas diferentes instituições. Nos diagnósticos solicitados (encomendados por alguma instituição), obtivemos diferentes tipos de resultados. O mais positivo certamente foi para petroleiros. O sindicato trabalhista encomendou pesquisa sobre os impactos de um novo regime de trabalho aplicado na Unidade de Produção Rio Grande do Norte/Ceará. O sindicato apropriou-se adequadamente dos resultados sistematizados na forma de Laudo Psicossocial e conseguiu estabelecer várias negociações favoráveis aos petroleiros até a extinção de tal regime. Negociações essas, nas quais o Laudo Psicossocial fez parte da arguição do sindicato. Outro exemplo, foi em uma maternidade universitária que, após um primeiro diagnóstico de saúde mental e trabalho, implementou algumas mudanças na gestão e solicitou um segundo diagnóstico para comparar os dois momentos (Borges, Argolo, Pereira, Machado e Silva, 2002; Borges, Argolo e Baker, 2006). O autor mencionado anteriormente ressalta que as publicações em forma de livro são muito morosas, de forma que existe um distanciamento entre o processo de coletar os dados e os resultados chegarem ao leitor, porém produz um potencial transformador da realidade maior que a publicação na forma de artigos científicos, os quais atingem um público muito seleto. Ele menciona ainda que existe muito material e resultados produzidos sem surtir os efeitos potenciais, especialmente as dissertações de mestrado, assim a lentidão de uso dos resultados pelo leitor em geral, em parte, provém da subestimação dos mesmos da importância do que está se publicando. Desta forma existe uma distância de tempo entre a compra do livro e a efetiva leitura, o que torna necessário paciência com a reação do leitor, bem como com os resultados que uma determinada pesquisa quando, ela já começa a cair no esquecimento. 38 7 BIBLIOGRAFIA BARRETO, M. M. S. Assédio moral: a violência sutil. São Paulo, 2005. Tese de doutorado - Programa de Psicologia Social. Pontifícia Universidade Católica, 2005. BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. BORGES, L. O. (Org.). Os profissionais de saúde e seu trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. CAMARGO, D., CAETANO, D., GUIMARÃES, L. A M. Psiquiatria Ocupacional II – Síndromes Psiquiátricas Orgânicas Relacionadas ao Trabalho. J. Bras. Psiquiatr. v.54, n.1, p.20-33, 2005. FERREIRA, Januário Justino. et, al. Saúde mental no trabalho: coletânea do fórum de saúde e segurança no trabalho do Estado de Goiás. Goiânia: Cir Gráfica, 2013. HELOANI, R. Gestão e organização do capitalismo globalizado: história da manipulação psicológica no mundo do trabalho. São Paulo: Atlas, 2003. NARDI, H. C. Ética, trabalho e subjetividade: trajetórias de vida no contexto das transformações do capitalismo contemporâneo. Porto Alegre: UFRGS, 2006. PELBART, P. P. Sob o fio da ameaça, a captura do sentido. Aliás. O Estado de São Paulo, 20/8/2006. ______. Saúde mental no trabalho: desafios e soluções. São Paulo: Editora CIPA, 2000. ______. Uma jornada de humilhações. São Paulo, 2000. Dissertação de Mestrado - Programa de Psicologia Social. Pontifícia Universidade Católica, 2000.
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