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Colagenoses I: LES, Sjögren e SAAF LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO DEFINIÇÃO Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES ou apenas lúpus) é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune do tecido conjuntivo, sendo classificada como uma colagenose. O LES caracteriza-se por um padrão inflamatório crônico, multissistêmico e marcado pela produção de autoanticorpos os quais levam ao dano tecidual. Um dos fatos que mais chama atenção na doença é sua variedade de manifestações, uma vez que qualquer órgão ou sistema pode ser afetado, justamente representando esse pleomorfismo da doença. EPIDEMIOLOGIA Um outro ponto muito importante que você deve guardar é que a doença predomina em mulheres na idade fértil: ● Idade: Entre 20 e 40 anos; ● Proporção: 9 a 12 mulheres para cada homem; ● Maior incidência e prevalência na população negra OBS.: É raro ocorrer na idade pediátrica, especialmente antes dos 5 anos de idade. Quando ocorre na adolescência, possui um desfecho mais agudo, imprevisível e mais grave. ETIOPATOGENIA A etiologia do lúpus eritematoso sistêmico (LES) permanece desconhecida e é claramente multifatorial, porém sabemos que há vários fatores importantes que interferem e perpetuam as anormalidades imunológicas presentes na doença. FATORES GENÉTICOS Anti-nucleares (FAN) ● Anti-DNA dh (nativo): Nefrite, 2º mais específico, atividade de doença; ● Anti-histona: fármaco induzido; ● Anti-Sm: Mais específico; ● Anti-RNP: Doença mista de tecido conjuntivo; ● Anti-Ro (SSA): Sjögren, lúpus neonatal (BAVT), FAN -, fotossensibilidade, lúpus cutâneo subagudo; ● Anti-La (SSB): Sjögren, sem nefrite. Anti-citoplasmáticos (FAN) ● Anti-P: Psicose. Anti-membrana ● Antilinfócito, antineurônio, antiplaqueta, anti-hemácia; ● Antifosfolipídio: trombose ○ Anticoagulante lúpico (alarga PTT in vitro / in vivo ele faz coagulação); ○ Anti-beta2 glicoproteina 1; ○ Anticardiolipina. FATORES AMBIENTAIS ● Luz UV: consegue estimular queratinócitos a produzir citocinas como IL-1, IL-3, IL-6 e TNF-alfa, além da produção de anticorpos pelas células B; ● Tabagismo; ● Exposição a infecções: pode fazer o sistema imune do paciente com LES enxergar autoantígenos, gerando anticorpos e provocando atividade de doença; ● Medicamentos: lúpus induzido por drogas (LID), as drogas classicamente envolvidas são a procainamida e a hidralazina. FATORES HORMONAIS Os hormônios exercem efeitos sobre o sistema imune também: ● Estrogênios: capaz de estimular timócitos, células TCD4+, CD8+, células B, macrófagos e aumentar a liberação de citocinas e moléculas de adesão; ● Prolactina: capaz de ativar o LES; ● Andrógenos: tendem a ser imunossupressores, assim como a progesterona, que suprime proliferação de células T; OBS.: nos pacientes com LES, os níveis de estradiol e prolactina estão aumentados, enquanto a progesterona e a testosterona estão reduzidas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS SINTOMAS GERAIS São achados inespecíficos e podem representar tanto atividade de doença ou intercorrências como infecção e fibromialgia. ● Febre (80%); ● Fadiga (90%); ● Perda de peso (60%); ● Linfonodomegalia (15%); ● Adinamia; ● Mialgia; ● Artralgia. Febre > 38,3 ºC passou a ser critério diagnóstico, segundo EULAR/ACR 2019. MUSCULOESQUELÉTICAS ● Artrite (60%): migratória, simétrica e não deformante. ○ Apresenta rigidez matinal menor que 1 hora de duração, sendo mais comum em mãos, punhos e joelhos. ○ Em 10% dos pacientes ocorre a artropatia de Jaccoud, que é o desvio ulnar dos dedos e subluxação das articulações metacarpofalangeanas, seguido de dedo em pescoço de cisne, botoeira ou polegar em Z. Essas deformidades não são fixas e podem ser reduzidas no exame físico. ● Osteonecrose asséptica (15%): está associada a anticorpos antifosfolípides, atividade de doença ou uso de corticoide. ○ O paciente geralmente inicia com dor no quadril de forte intensidade. ● Miopatia: quadro de fraqueza muscular, elevação de CPK e inflamação. No critério ACR/EULAR 2019 consta como sinovite (edema ou derrame) em ≥ 2 articulações OU dor em ≥ 2 articulações E rigidez matinal > 30 minutos CUTÂNEAS Bastante comum, 80% dos pacientes apresentarão lesões de pele durante a evolução da doença. Além disso, em 20% dos casos, é uma manifestação inicial. 1. LE cutâneo agudo - fotossensibilidade (70%): paciente queixa-se de incômodo quando se expõe ao sol e esse incômodo persiste mesmo quando ele sai do sol; - rash malar (50%): aparece como eritema da região malar e no dorso do nariz, poupando sulco nasolabial; - lesões bolhosas (10%). 2. LE cutâneo subagudo - Ocorre em 20% dos pacientes, sendo mais grave que a forma aguda; - Tende a deixar cicatrizes, porém tem curta duração e não tem caráter destrutivo; - Fotossensível; - Pode ser precipitado por medicações, alimentos, tabaco e infecções; - Associado ao anticorpo Anti-Ro em 90% das manifestações; - As lesões subagudas se dividem em duas formas: psoriasiforme ou anular. 3. LE cutâneo crônico - Forma discóide (20%): lesões infiltradas, eritematosas, bem definidas e por vezes até escamosas. Geralmente ocorre em couro cabeludo, sobrancelha, pálpebras, região do mento e malar, pavilhão auricular, tórax e braços. - É uma lesão destrutiva e causa alopecia irreversível. 4. Lesões inespecíficas - Alopecia; - Úlceras orais; - Vasculites; - Ulcerações digitais; - Púrpura; - Livedo reticular; - Fenômeno de Raynaud. Alopecia sem cicatrizes, úlceras orais, lúpus cutâneo subagudo ou discóide e lúpus cutâneo agudo são critérios diagnósticos, segundo ACR/EULAR 2019. HEMATOLÓGICAS As citopenias são comuns no LES e as três séries são afetadas, mas nem sempre serão imunomediadas. ● Anemia ○ Mais frequente, acometendo 57 a 78% dos pacientes; ○ Pode ter várias causas, como hemólise (10%), hiperesplenismo, mielodisplasia, deficiência de ferro, deficiência de B12, infecções e drogas; ○ As 3 causas mais comuns são: ■ Anemia de doença crônica: geralmente é leve e ocorre em períodos de atividade da doença; ■ Deficiência de ferro: ocorre por menorragias ou uma perda pelo TGI; ■ Hemólise autoimune: pode ocorrer por atividade de doença também, 10% dos casos apresentam teste de Coombs direto positivo. ● Plaquetopenia ○ Observada em 25 a 50% dos pacientes; ○ Geralmente entre 100 mil e 150 mil; ○ A principal causa é a destruição autoimune, mas também pode ser causada por SAF, toxicidade medicamentosa e púrpura trombocitopênica trombótica (PTT). ● Série branca ○ 50% dos casos é por leucopenia; ○ 20 a 75% dos casos por linfopenia; ○ Geralmente ocorre por por atividade da doença, mas também pode acontecer pelo uso de drogas imunossupressoras. Anemia hemolítica autoimune, plaquetopenia e leucopenia são critérios diagnósticos, segundo ACR/ EULAR 2019. PULMONARES ● Dor pleurítica: Dor torácica ventilatório-dependente; melhora ao se inclinar para frente; melhora com AINEs; ● Serosite (50%): marcado por dor torácica ao respirar, geralmente de instalação súbita; ● Derrame pleural (30%): quando ocorre não é volumoso e costuma ser bilateral; ○ Como é o derrame pleural no LES? ■ Exsudato; ■ Glicose normal; ■ DHL baixa; ■ Presença de anti-DNA. ● Pneumonite lúpica (10%): paciente tem quadro semelhante a uma pneumonia, com tosse e febre com caráter agudo. ○ Na TC de tórax, observamos vidro fosco. É uma manifestação associada ao anti-Ro +. ● Doença pulmonar intersticial (5%): Paciente tem dispneia e tosse, porém de caráter mais insidioso do que na pneumonite lúpica. ○ Apresenta padrão de vidro fosco na TC de tórax, padrão restritivo na espirometria. ● Hemorragia alveolar (< 5%): Quando ocorre, apresenta alta mortalidade, em torno de 50 a 90%, quadro clínico de dispnéia, tosse, hemoptise, queda do hematócrito ou hipóxia, que pode evoluir para insuficiência respiratória. ○ Na TC de tórax, há infiltrado alveolar bilateral e difuso na sua fase de maior gravidade. ● Hipertensão pulmonar (< 5%): Desenvolvimento insidioso, importante causa de mortalidade. Quadro clínico consiste em dispneia, dor torácica, síncope, hipoxemia crônica e policitemia.○ Está relacionada ao anti-RNP, fator reumatoide e anticardiolipina positivos. ● Síndrome do pulmão contraído (< 5%): o paciente apresenta dispnéia progressiva, dor ventilatório-dependente e tosse. ○ A suspeita ocorre pela radiografia, que mostra redução importante dos campos pulmonares, com parênquima preservado, elevação de cúpulas diafragmáticas uni ou bilateral. Pode haver presença de atelectasias de base. ○ Tem como causa o mau funcionamento do nervo frênico ou miosite do diafragma. Um importante diagnóstico diferencial é a embolia pulmonar, porém, com o exame de imagem, é possível a diferenciação. Derrame pleural (serosite) é critério diagnóstico de LES, segundo ACR/EULAR 2019. CARDIOVASCULARES ● Pericardite (30%): ocorre dor precordial e atrito pericárdico. Complicações como tamponamento e pericardite constritiva são raras. ○ Como é o derrame pericárdico no LES? ■ Exsudato; ■ Presença de células inflamatórias crônicas; ■ Complemento reduzido; ■ Presença de anti-DNA. ● Miocardite (10%): apenas 7 a 10% é sintomático, representando pior prognóstico. ○ Os principais sintomas são: dispnéia, arritmias, palpitações e até insuficiência cardíaca; ○ Associada ao anti-Ro +. ● Endocardite de Libman-Sacks (10%): Trata-se de uma lesão verrucosa causada por acúmulo de imunocomplexos, células mononucleares e trombos de fibrina e plaquetas. ○ Essa lesão é mais comum na face atrial da valva mitral e pode levar à regurgitação mitral ou aórtica. ● Coronariopatia (10%): os pacientes de LES apresentam alto risco cardiovascular devido à inflamação crônica e a fatores como uso crônico de corticoide, hipertensão, doença renal crônica e menopausa precoce em mulheres. ○ aterosclerose acelerada; ○ 7 a 10 vezes maior risco de IAM (ocorre em 10%); ○ HDL baixo associado à elevação de triglicérides, LDL e VLDL. Derrame pericárdico e pericardite aguda são critérios diagnóstico de LES, segundo ACR/EULAR 2019. GASTROINTESTINAIS ● Grande parte das manifestações são queixas inespecíficas; ● Dor abdominal, náuseas e vômitos ocorrem em 25 a 40% dos casos ○ Aqui há a necessidade de um diagnóstico diferencial, pois podem ter causas: ■ Medicamentosas; ■ Peritonite/ascite (<11%); ■ Vasculite mesentérica (5%); ■ Pancreatite (5 a 10%); ■ Enterite. ● Alteração das transaminases (15 a 55%) ○ Causas mais comuns: ■ inflamação de atividade da doença; ■ medicamentosa por meio do uso de fármacos como metotrexato, azatioprina, micofenolato, AINE e corticoide; ■ infecções. ● Manifestações trombóticas das artérias ou veias hepáticas ○ Na maioria das vezes estão relacionadas a anticorpos antifosfolípides, causando infarto hepático, síndrome de Budd-Chiari ou apenas elevação de transaminases. O acometimento gastrointestinal não é contemplado nos critérios diagnósticos da doença, segundo ACR/EULAR 2019. NEUROPSIQUIÁTRICAS Antes de qualquer hipótese devemos excluir infecções, neoplasias, causas metabólicas, medicamentosas ou trombóticas para depois pensarmos em alteração relacionada ao LES. 1. NEUROLÓGICOS: ● Cefaleia (25%): Geralmente é refratária a analgésicos, podendo ser enxaqueca ou tensional, pode estar relacionada aos anticorpos antifosfolípides. ● Convulsões (20%): Podem ser generalizadas ou focais e fazem parte dos critérios diagnósticos. ● Neuropatia periférica [mono ou poli] (15%): Podem ser generalizadas ou focais e fazem parte dos critérios diagnósticos. ● AVE isquêmico [trombose, embolia ou vasculite] e hemorrágico (10%): O risco de ocorrer é maior que na população em geral. Durante a evolução da doença, 3 a 15% dos pacientes apresentarão essa síndrome. Pode ocorrer como consequência de aterosclerose acelerada, inflamação vascular, tromboembolismo e hipercoagulabilidade. 2. PSIQUIÁTRICOS: ● Disfunção cognitiva leve (50%) ● Alterações da personalidade (50%) ● Depressão (40%) ● Psicose lúpica (5%): Ocorrem distúrbios graves da percepção da realidade, alucinações, pensamento sem conteúdo e desorganizado. Geralmente, as alucinações são táteis, auditivas ou visuais. É ainda associada ao anticorpo anti-P ribossomal. Delirium, psicose e convulsões são critérios diagnósticos, segundo ACR/EULAR 2019 RENAL O acometimento renal é um dos principais fatores que impactam na morbimortalidade dos pacientes com LES e ocorre em 50 a 70% dos pacientes. A nefrite lúpica é mais grave em negros e hispânicos. Cerca de 10 a 30% dos pacientes que evoluem com nefrite acabarão evoluindo para terapia renal substitutiva. ● FISIOPATOLOGIA DA NEFRITE LÚPICA Na nefrite lúpica, o teste de imunofluorescência direta mostra depósitos predominantes de IgG, além de IgA, IgM, C3, C1q, kappa e lambda. Esse padrão é denominado de full house, ou seja, depósitos de todas as imunoglobulinas e frações do complemento testadas. ● CLASSIFICAÇÃO DA NEFRITE LÚPICA CLASSE DESCRIÇÃO ALTERAÇÕES URINÁRIAS I Glomérulos normais com depósitos de imunoglobulinas. Nada significativo. II Proliferação mesangial. Hematúria e/ou proteinúria discretas e intermitentes. III Proliferação mesangial e endocapilar em menos de 50% dos glomérulos. Hematúria recorrente; Proteinúria subnefrótica. IV Proliferação mesangial e endocapilar Hematúria macro ou micro; em mais de 50% dos glomérulos. Cilindrúria hemática e celular; Proteinúria subnefrótica ou até nefrótica. V Espessamento da membrana basal. Proteinúria nefrótica. VI Esclerose glomerular em > 90%. Hematúria residual; Proteinúria subnefrótica. A classe histológica do rim na biópsia renal entrou como critério diagnóstico em 2019, segundo ACR/EULAR ➢ RESUMINDO ● MANIFESTAÇÕES DA NEFRITE LÚPICA 1. Proteinúria > 500 mg/24h ou +3 no EAS – 50% 2. Cilindros celulares na urinálise – 50% 3. Síndrome nefrítica – 30-40% 4. Síndrome nefrótica – 25% 5. Nefrite intersticial 6. Insuficiência renal – 5-10% Proteinúria > 0,5g em 24h e biópsia renal com as classes II, III, IV ou V entram como critério diagnóstico para LES, segundo ACR/EULAR 2019 OCULARES E AUDITIVAS ● OCULARES ○ Ceratoconjuntivite seca (Sjögren) – 15% ○ Conjuntivite/episclerite – 10% ○ Vasculite retiniana (corpos citóides) – 5% ● AUDITIVAS ○ Zumbido; ○ Hipoacusia; ○ Vertigem. LÚPUS NEONATAL Essa síndrome ocorre em fetos ou recém-nascidos de mães anti-Ro positivo, muito raramente o anti-RNP também pode estar envolvido. O fato é que esses anticorpos da classe IgG conseguem atravessar a barreira placentária e provocam danos fetal e neonatal. O dano mais temido e mais grave é o bloqueio cardíaco congênito (BCC). O quadro clínico é caracterizado por lesões cutâneas iguais ao do LES cutâneo subagudo, que surgem em áreas fotoexpostas, como máculas ou pápulas eritematosas. Essas lesões melhoram espontaneamente por volta dos 6 meses de idade e raramente deixam cicatrizes. Pode ocorrer também anemia hemolítica, plaquetopenia, neutropenia e alteração de enzimas hepáticas. O tratamento pode ser feito com corticoide tópico para as lesões cutâneas, se muito extensas. A hidroxicloroquina parece ter a capacidade de reduzir o risco do BCC, logo, é indicada em gestantes anti-Ro positivo com esse propósito. DIAGNÓSTICO LABORATÓRIO 1. EXAMES GERAIS - O hemograma pode mostrar citopenias; - O exame de urina pode revelar hematúria, proteinúria e leucocitúria; - A função hepática pode estar alterada por hepatite; - A CPK alta por causa de uma miosite; - As provas inflamatórias, como VHS ou PCR, também não mostram especificidade e podem até estar normais durante a atividade da doença. 2. EXAMES ESPECÍFICOS ● A doença é caracterizada pela produção de uma ampla variedade de autoanticorpos, além da redução do complemento. ○ FAN ■ anti-DNA dh ■ anti-Sm ■ anti-RNP ■ anti-Ro e anti-La ■ anti-P ■ anti-histona ■ antinucleossoma ■ antifosfolípides ○ Sistema complemento ■ C3 e C4 DIAGNÓSTICO ACOMPANHAMENTO FAN Anti-DNA Anti-DNA Anti-P Anti-Sm Antinucleossoma Complemento Complemento Hemograma Hemograma Função renal Função renal Avaliação de órgão-alvo Avaliação de órgão-alvo Provas de atividade inflamatória Provas de atividade inflamatória TRATAMENTO1. AVALIAR GRAVIDADE - Leve: febre, fadiga, envolvimento cutâneo e articular; - Moderado: serosites; - Grave: nefrite, vasculite sistêmica, miocardite, pancreatite, acometimento neuropsiquiátrico, hemorragia alveolar, hipertensão pulmonar, anemia hemolítica e plaquetopenia grave. 2. GLICOCORTICOIDE - Menor dose e tempo; - Rastreio e prevenção de osteoporose; - Estrongiloidíase disseminada. 3. CUIDADOS GERAIS - Proteção solar; - Vacinação atualizada; - Contracepção (evitar estrógeno); - MEV TRATANDO AS FORMAS LEVES E MODERADAS 1. PELE - Hidroxicloroquina é a primeira escolha para manifestações mais extensas; - Para casos refratários: imunossupressores como metotrexato, azatioprina e micofenolato de mofetila, ou imunomoduladores, como talidomida e dapsona, ou terapia biológica, como rituximabe e belimumabe. 2. ARTICULAR - Hidroxicloroquina; - Metotrexato; - AINES; - Corticoide em dose baixa. 3. SEROSITES - Prednisona em doses baixas a moderadas via oral para a maioria dos casos; - Se derrame pleural/pericárdico maciço, utilizar pulsoterapia. TRATANDO AS FORMAS GRAVES 1. HEMATOLÓGICA - A anemia hemolítica autoimune e a plaquetopenia geralmente respondem muito bem apenas ao uso da prednisona em dose alta ou com pulsoterapia com metilprednisolona. - Hidroxicloroquina + Prednisona 1mg/kg/dia; ou - Pulsoterapia Metilprednisolona 500mg/dia por 3 dias; ou - Dexametasona 40 mg por 4 dias. 2. NEUROPSIQUIÁTRICA - Distúrbios de humor e cognitivos respondem com doses baixas a moderadas de corticoide; - Para mononeurite, polineuropatia periférica e neuropatia craniana, a resposta geralmente será com prednisona 1mg/kg/dia ou pulsoterapia. 3. RENAL - Nefrite III: realizar indução com pulsoterapia associada a citotóxico (ciclofosfamida ou micofenolato de mofetila) e manutenção com micofenolato de mofetila ou azatioprina; - Nefrite V: utilizar prednisona 0,5mg/kg/dia associada ao micofenolato de mofetila 2 a 3g/dia e depois manutenção com mofetil ou azatioprina. - IECA/BRA para todas as classes, como antiproteinúricos; - Bom controle da PA com alvo < 130x80 mmHg; SÍNDROME DE SJÖGREN DEFINIÇÃO A Síndrome de Sjögren (SS) é uma doença autoimune crônica, caracterizada por infiltração linfocítica das glândulas exócrinas, especialmente as salivares e lacrimais. O achado mais característico da doença é a "síndrome seca", que resulta da destruição glandular progressiva e menor produção de saliva e lágrimas. A síndrome de Sjögren pode ser primária, quando ocorre isoladamente; ou secundária, quando associada a outras doenças autoimunes, principalmente a Artrite Reumatoide (AR). A forma secundária é encontrada em 30-50% dos pacientes com AR, em 10-25% dos pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) e em 1% dos pacientes com esclerose sistêmica progressiva. EPIDEMIOLOGIA A prevalência da síndrome de Sjögren primária varia em torno de 0,5-1% da população geral, é mais comum em mulheres (tem a mesma predominância do LES - 9:1) e incide principalmente entre a quarta e sexta décadas de vida, podendo acometer, porém, qualquer idade. ETIOPATOGENIA Os dois principais mecanismos de destruição tecidual na síndrome de Sjögren são: (1) infiltração linfocitária (glândulas exócrinas com síndrome seca); e (2) deposição de imunocomplexos (vasculite/glomerulonefrite). A célula epitelial em pessoas geneticamente predispostas, quando submetida a fatores ambientais (infecções virais, por exemplo) e hormonais (hipoestrogenismo), passa a recrutar, ativar e promover diferenciação das células imunes, gerando intensa infiltração linfocítica das glândulas exócrinas. Essa mesma célula epitelial cheia de infiltrado de linfócitos passa a produzir corpos apoptóticos e é fonte de autoantígenos (Ro e La). Diante dessa combinação de autoantígenos e corpos apoptóticos, a resposta imune é desencadeada com a ativação tanto da imunidade inata quanto da adaptativa, alimentando um ciclo vicioso de ativação celular. Um outro fator que contribui bastante aqui na doença é a presença do BAFF (B-cell activating factor of the TNF Family), pois permite o escape da apoptose pelas células B autorreativas. Sabe-se que na doença, o BAFF está aumentado. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. Xeroftalmia: Irritação ocular, sensação de areia no olho, ceratoconjuntivite seca, úlceras de córnea; 2. Xerostomia: Cáries, perda de elementos dentários, candidíase oral, queilite angular, disfagia alta e refluxo; 3. Xerodermia; 4. Dispareunia; 5. Constipação; 6. Aumento de parótidas e submandibulares: As parótidas apresentam aumento de volume difuso, indolor e de consistência firme em metade dos pacientes, devido à infiltração celular com obstrução ductal. O aparecimento de característica nodular ou endurecida deve levar à pesquisa de neoplasia. QUADRO SISTÊMICO 1. TRATO GASTROINTESTINAL - Acloridria: gastrite atrófica crônica com infiltrados linfocíticos; - Diminuição leve da secreção pancreática (com eventual associação com pancreatite autoimune); - Alterações do ritmo intestinal; - Hepatomegalia, aumento da fosfatase alcalina e anticorpos antimitocondriais em 30% dos pacientes. 2. TRATO RESPIRATÓRIO - Tosse seca ou dispneia leve; - Hipertensão pulmonar; - Pneumonite Intersticial Linfocítica (PIL): A PIL é caracterizada por infiltrado linfoplasmocitário no interstício, agregados linfóides nas vias linfáticas e perivasculares, além de linfócitos nos espaços alveolares; - Pneumonite Intersticial Não Específica (PINE). 3. RINS - ATR tipo I: caracterizada por acidose hipocalêmica hiperclorêmica com ânion gap normal, sendo geralmente silenciosa e assintomática, porém também podem ocorrer osteomalácia, diabetes insipidus, nefrocalcinose e perda da função renal; - Glomerulonefrite: quando presente é geralmente grave e associada à deposição de imunocomplexos. 4. ARTICULAÇÕES - Poliartralgia/artrite; - Fator Reumatoide +; - Sem erosões / deformidades Jaccoud. 5. PELE - Vasculite cutânea; - Eritema anular (LCSA – Anti-Ro +). 6. VASCULITE - Púrpuras cutâneas; - Ulcerações; - Urticária recorrente; - Glomerulonefrite; - Mononeurite múltipla. 7. DOENÇAS AUTOIMUNES - Colangite biliar primária; - Doença celíaca; - Hashimoto. 8. SISTEMA NERVOSO - Neuropatia Periférica; - Polineuropatia; - Fibras Finas; - Ataxia Autonômica; - Doenças Desmielinizantes; - Neurite Óptica; - Mielite Transversa / Long. Extensa; - Meningoencefalite. 9. DOENÇA LINFOPROLIFERATIVA PREDISPOSIÇÃO PARA LINFOMA Fatores glandulares Fatores clínicos Vasculite crioglobulinêmica Fatores laboratoriais Aumento persistente de parótidas Linfadenomegalia Púrpura palpável Neutropenia Hepatoesplenomegalia Mononeurite múltipla Hipergamaglobulinemia monoclonal Escore focal ≥ 3 Glomerulonefrite Beta-2-microglobulina Centros germinativos Febre, perda ponderal Consumo de complemento Fator reumatoide que se negativa Crioglobulinas O paciente com SS tem risco 16 a 44 vezes maior de desenvolver linfoma. O linfoma pode ocorrer em 5% dos casos, sendo o mais comum o linfoma não Hodgkin de zona marginal do tipo MALT. Também possuem risco aumentado para neoplasias em geral, especialmente câncer de tireoide e mieloma múltiplo. Geralmente 6,5-7,5 anos após início da SS, deve-se realizar biópsia excisional para busca ativa de linfoma MALT. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da doença atualmente é feito através dos critérios classificatórios do American College of Rheumatology (ACR) e European League Against Rheumatism (EULAR) de 2016. Os novos critérios de 2016 têm o objetivo de investigar os pacientes com síndrome seca ou aqueles com achados clínicos compatíveis com a doença. ● Análise conjunta das manifestações clínicas; ● Pesquisa de autoanticorpos circulantes; ● Testes objetivos oculares e salivares; e ● Biópsia de glândulas salivares menores. EXAMES COMPLEMENTARES 1. Citopenias; 2. VHS e PCR podem aumentar durante atividade da doença; 3. Hipergamaglobulinemia; 4. Consumo de complemento; 5. Fator reumatoide positivo em 75 a 90% dos pacientes; 6. FAN em 80% dos pacientes com o padrão nuclear pontilhadofino. a. Anti-Ro (SS-A) 75 a 90%; b. Anti- La (SS-B) 40 a 60% [não faz parte dos critérios de 2016]. TRATAMENTO 1. Sintomas secos 1.1. Evitar medicamentos anticolinérgicos; 1.2. Hidratação oral; 1.3. Chiclete sem açúcar; 1.4. Pilocarpina, cevimeline (agentes colinérgicos); 1.5. Colírios lubrificantes sem conservantes; 1.6. Ciclosporina colírio; 1.7. Hidratante tópico; 1.8. Lubrificantes vaginais. 2. Sistêmica pele/articular 2.1. Hidroxicloroquina; 2.2. Metotrexato; 2.3. Abatacept; 2.4. Rituximabe; 2.5. Micofenolato*, Talidomida* ou Azatioprina* (cutâneo); 2.6. EVITAR ANTI-TNF. 3. Sistêmica grave 3.1. Pulsoterapia Metilpred; 3.2. Indução: Ciclofosfamida ou Micofenolato; 3.3. Manutenção: Micofenolato ou Azatioprina; 3.4. SNC: Plasmaférese / IVIg; 3.5. Se ATR tipo 1: Bicarbonato. SÍNDROME DO ANTICORPO ANTIFOSFOLÍPIDE (SAAF) DEFINIÇÃO É a trombofilia adquirida mais comum, sendo considerada uma doença autoimune sistêmica marcada pela presença persistente de anticorpos antifosfolípides (AAF) circulantes, fenômenos trombóticos recorrentes e/ou morbidade obstétrica associada. As tromboses podem ser arteriais e/ou venosas e não há preferência pelo tamanho do calibre do vaso. A morbidade obstétrica mais comum são as perdas fetais a partir do segundo trimestre, já os AAF são uma família de auto anticorpos que atacam complexos fosfolipídios conjugados com proteínas plasmáticas. EPIDEMIOLOGIA Ocorre mais em pacientes jovens e de meia-idade, sendo mais comum no sexo feminino, principalmente quando associada ao LES. Considerada rara, pois a incidência anual é de 5 casos para 100 mil pessoas por ano. CLASSIFICAÇÃO 1. PRIMÁRIA - Quando ocorre de forma isolada (50%). 2. SECUNDÁRIA - Quando está associada a outra doença autoimune, a doença associada mais comum é o LES (LES - 35%). ETIOLOGIA SAAF TROMBÓTICA 1. Presença de anticorpos antifosfolípides; 2. Componente genético associado ligado ao HLA: HLA-DR7, DR4, DRw53 e DQw7; 3. Para deflagrar a doença, os indivíduos suscetíveis precisam de uma exposição-gatilho. Esse gatilho pode ser uma infecção, drogas ou trauma, para desencadear a formação de AAF patogênicos. 4. Os AAF patogênicos têm capacidade de se ligar a proteínas do plasma ou membranas expressas, ativando plaquetas e o endotélio e inibindo a via fibrinolítica. Essas ações ativam a cascata de coagulação e o sistema complemento, criando um ambiente trombótico. SAAF OBSTÉTRICA 1. Promove disfunção do trofoblasto; 2. No 1º trimestre causa abortamento de repetição; 3. No 3º trimestre causa RCIU, pré-eclâmpsia, parto prematuro e morte fetal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS NÃO-CRITÉRIO 1. Plaquetopenia: Geralmente é leve, não levando a quadro de sangramento 2. Livedo reticular 3. Endocardite de Libman-Sacks: Vegetações estéreis das valvas cardíacas. 4. Manifestações neurológicas 5. Osteonecroses 6. SAAF Catastrófica: Entidade rara (1%) e que tem alto índice de mortalidade (50%), também chamada de síndrome de Asherson. Definida pela ocorrência de trombose em pelo menos 3 órgãos simultâneos ou com intervalo máximo de 1 semana. CRITÉRIO PARA DIAGNÓSTICO 1. Clínicos ● Trombose vascular confirmada por método objetivo; ● Morbidade gestacional: ○ ≥ 1 perda fetal > 10 semanas; ○ ≥ 3 abortamentos < 10 semanas; ○ ≥ 1 parto prematuro antes da 34ª semana devido a eclâmpsia, pré-eclâmpsia grave, ou insuficiência placentária. 2. Laboratoriais ● Anticoagulante lúpico (LAC) presente; ● Anticardiolipina (aCL) IgM e/ou IgG > 40; ● Anti-Beta-2-Glicoproteína-1 (β2G) IgM e/ou IgG > 40; ● Repetir com 12 semanas. LEMBRAR: 1. TTPa alargado. 2. Teste da Mistura. 3. VDRL falso positivo: SAAF pode positivar o teste VDRL. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 1. Hiper-homocisteinemia; 2. Mutação do fator V (de Leiden); 3. Mutação da protrombina (G202 IOA); 4. Deficiências de proteínas S, C ou antitrombina III; 5. Síndrome nefrótica; 6. Insuficiência venosa; 7. Imobilidade prolongada; 8. Obstrução venosa; 9. Tumores liberadores de tromboplastina; 10. Vasculites; 11. Êmbolos cardíacos. TRATAMENTO SEM EVENTOS ● AAS 100mg/dia se perfil de alto risco; ● LAC+ ou aCL+/B2G+ ● Anticoagulantes orais diretos (DOACS), como apixabana, rivaroxabana e dabigatrana, em SAAF de alto risco NÃO devem ser usados, pois houve recorrência de trombose na maioria dos estudos. SAAF OBSTÉTRICA ● AAS 100mg/dia; ● Heparina profilática durante gestação até 6 semanas de puerpério ● SAAF catastrófica: ○ Plasmaférese e/ou IGIV: é sugerido plasmaférese terapêutica (TPE) ou imunoglobulina intravenosa (IGIV), mas tipicamente não ambas, além de anticoagulação e pulsoterapia. EVENTO TROMBÓTICO ● Warfarina com alvo de INR entre 2,0-3,0 ● Se eventos arteriais: + AAS ou INR 2,5-3,5 ● Durante gestação: Enoxaparina 1mg/kg/dose 12/12h
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