Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Thaynara Parente-Medicina Nódulo Mamário A maioria dos nódulos é benigno, mas precisamos sempre lembrar que o nódulo é uma das principais manifestações do câncer. O fibroadenoma é a primeira hipótese diagnóstica nos casos de nódulos em pacientes jovens. Já, nas mulheres de meia idade, ao redor dos 40 anos, devemos pensar em fibroadenoma, cisto ou até mesmo um câncer. Por sua vez, nas mulheres menopausadas, sempre devemos pensar na possibilidade de câncer. FIBROADENOMA Os fibroadenomas são tumores sólidos, benignos, contendo tecido glandular e fibroso, considerados como lesões proliferativas sem atipias. Sua etiologia ainda não é conhecida, mas é provável que haja uma relação hormonal, porque eles persistem durante os anos reprodutivos. Podem aumentar de tamanho durante a gravidez ou com a terapia de estrogênio, além de regredirem após a menopausa, apresenta-se como um nódulo fibroelástico, indolor, bem definido e móvel ao exame físico mamário. Seu crescimento costuma ser limitado, em geral não ultrapassa 2 cm. Ao ultrassom, o fibroadenoma aparece como um nódulo hipoecogênico. de contornos regulares e bem definidos, ovalado, com orientação paralela à pele (horizontalizado). Os fibroadenomas apresentam-se na mamografia como nódulos com contornos circunscritos ou discretamente irregulares, podendo parecer benignos ou suspeitos. Também podem aparecer como grandes calcificações, que chamamos de calcificações em “pipoca” e são absolutamente benignas. O diagnóstico definitivo do fibroadenoma só pode ser feito com uma biópsia ou com sua exérese. Mas, quando se trata de uma paciente jovem com um exame físico muito sugestivo de fibroadenoma e um exame de imagem compatível, podemos dispensar a realização da biópsia e fazer o seguimento semestral. Não é necessário retirar todos os fibroadenomas. Não existe indicação de exérese quando eles são pequenos (< 2 cm) ou assintomáticos. As indicações de exérese dos fibroadenomas são: o Crescimento tumoral o Nódulos grandes (> 2cm) o Suspeita de tumor Phyllodes o Desejo da paciente TUMOR PHYLLODES O tumor Phyllodes é uma neoplasia fibroepitelial da mama que representa menos de 1% dos tumores de mama. Esses tumores são abordados como doenças benignas da mama, mas podem ter um comportamento biológico maligno, podendo recidivar e metastatizar em alguns casos. Ocorre em mulheres com idade média de 45 anos, mas pode acometer mulheres durante sua vida inteira. Thaynara Parente-Medicina O tumor Phyllodes benigno comporta-se como os fibroadenomas, mas pode recidivar localmente. Por outro lado, o tumor Phyllodes maligno pode espalhar-se e produzir metástases à distância ou, pior ainda, em alguns casos pode se transformar em um sarcoma. Costuma apresentar-se clinicamente como um nódulo indolor, grande (> 3 cm), fibroelástico, bem delimitado e móvel, com forma de folhas no seu interior. Sua principal característica é o crescimento rápido. A classificação histopatológica dos tumores Phyllodes em benignos, borderline ou malignos é feita com base na avaliação de quatro características: • grau de atipia celular estromal • atividade mitótica • margens tumorais infiltrativas ou circunscritas • crescimento excessivo do estroma (ou seja, presença de estroma puro sem epitélio). O tratamento é a ressecção completa do tumor Phyllodes, com margens livres de pelo menos 1 cm. O tipo de cirurgia dependerá do tamanho do tumor no momento do diagnóstico. Para tumores pequenos, diagnosticados no início, a tumorectomia é o tratamento de escolha. Se o tumor comprometer toda a mama, devido ao seu rápido crescimento, o tratamento escolhido é a mastectomia. O tumor Phyllodes não costuma acometer os linfonodos, portanto não há necessidade de abordar a axila das pacientes e realizar a linfadenectomia. Devemos acompanhar as pacientes que foram tratadas, devido ao risco de recidiva ou metástases. CISTOS MAMÁRIOS O cisto mamário é uma formação redonda ou ovoide cheia de líquido. É um acúmulo de líquido na unidade lobular do ducto terminal, que ocorre devido à distensão e à obstrução do ducto. Os cistos são mais frequentes nas mulheres de meia-idade, entre os 35 e 50 anos. Os cistos mamários sofrem influência da flutuação hormonal, por isso variam de acordo com o ciclo menstrual, sendo formados durante o desenvolvimento e involução dos lóbulos. Geralmente, aparecem e desaparecem (regridem) espontaneamente e 70% deles são reabsorvidos no período de cinco anos. Algumas pacientes têm cistos grandes e indolores e outras mulheres têm cistos menores, mas dolorosos. Os cistos grandes costumam manifestar-se clinicamente como um nódulo que pode ser amolecido, pouco doloroso, bem delimitado e móvel. Podem ser dolorosos quando crescem rapidamente. Não é possível diferenciar com certeza um cisto de um nódulo sólido benigno ou até mesmo de um câncer através do exame físico. O melhor exame para diferenciar um cisto de um nódulo sólido é a ultrassonografia. Nesse exame, os cistos podem ser vistos como imagens anecoicas (pretas), com reforço acústico posterior (área branca abaixo do cisto). Classificamos os cistos em 3 tipos: • Cisto simples: é um acúmulo de líquido circunscrito, sem nenhum componente sólido no seu interior. São os cistos mais frequentes. No exame ultrassonográfico são anecoicos (pretos) e apresentam reforço acústico posterior (área branca abaixo do cisto). Os cistos simples são absolutamente benignos, sendo considerados categoria BI-RADS 2. A conduta em geral é somente o seguimento. • Cisto complicado: Apresenta alguma imagem interna, que pode ser um septo ou uma trave, calcificações ou coágulos. Também não tem componente sólido no seu interior. Como são benignos, a conduta, em geral, também é seu seguimento. Thaynara Parente-Medicina • Cisto complexo: apresenta um componente sólido no seu interior, que se mostra hipoecogênico (cinza) dentro do cisto anecoico (preto). Trata-se de uma lesão suspeita de malignidade, sendo considerada categoria BIRADS 4. É indicada biópsia ou exérese desses cistos. MASTALGIA ✓ Mastalgia Cíclica-Alteração Funcional Benigna das Mamas A alteração funcional benigna das mamas, ou doença fibrocística benigna da mama é caracterizada por sintomas de dor ou nódulos que se manifestam no período perimenstrual. Esses sintomas melhoram ou desaparecem após a menstruação. Sua fisiopatologia está ligada às variações hormonais do ciclo menstrual. O estrógeno e a progesterona estimulam a proliferação glandular na 2a fase do ciclo menstrual, causando espessamento (nodular) e dor perto do período menstrual. Com a diminuição dos níveis hormonais após a menstruação, ocorre a regressão da proliferação e melhora dos sintomas. ✓ Mastalgia acíclica Cerca de um terço das mulheres com dor na mama têm mastalgia acíclica. Nesses casos a dor não está relacionada com o ciclo menstrual e pode ser constante ou intermitente. A dor geralmente é unilateral e pode ter origem mamária ou extramamária. A mastalgia acíclica está, geralmente, associada com o esforço muscular. Também é comum estar relacionada a um trauma ou lesão na mama ou na parede torácica. Podemos usar os analgésicos e anti-inflamatórios durante o período de dor. Para os casos mais complicados podemos usar o tamoxifeno. O tamoxifeno é um agonista parcial do estrogênio (SERM), comportando-se como antagonista na mama, diminuindo a ação do estrógeno no tecido mamário. DESCARGA PAPILAR A descarga papilar ou fluxo papilar é a terceira queixa mais comum relacionada à mama, após a dor e os nódulos. Durante sua vida reprodutiva, até 80% das mulheres terão pelo menos um episódio de secreção mamilar fisiológicas. Dentre as causaspatológicas, a maioria é benigna (90% a 95%). Existe uma pequena chance de malignidade. ➢ TIPOS E CAUSAS: o Galactorreia / hiperprolactinemia A descarga fisiológica do mamilo ou galactorreia é a secreção não relacionada à gravidez ou à amamentação. A galactorreia geralmente manifesta-se como secreção bilateral do mamilo, envolvendo múltiplos ductos. A secreção mamilar, embora geralmente bilateral e branca (láctea), também pode ser unilateral e ser um pouco mais clara ou escura, mas nunca com sangue. Uma das principais causas da galactorreia é a hiperprolactinemia, mas algumas pacientes podem apresentar o sintoma sem aumento da prolactina. A principal causa da hiperprolactinemia é a utilização de medicamentos supressores da dopamina. Outra possível causa da hiperprolactinemia são os prolactinomas de hipófise. Os sintomas da hiperprolactinemia são a galactorreia, a irregularidade menstrual (ou amenorreia) e a infertilidade. O tratamento clínico da hiperprolactinemia é feito com os agonistas dopaminérgicos (cabergolina). Os casos de Thaynara Parente-Medicina macroadenomas de hipófise (> 1cm) podem ser tratados cirurgicamente. o Ectasia Ductal A ectasia dos ductos é uma causa patológica benigna comum de descarga papilar, observada em aproximadamente 25% dos casos patológicos. Nesses casos, a descarga papilar geralmente é multiductal e, às vezes, bilateral e ocorre pelo acúmulo de líquido nos ductos ectasiados (dilatados). O líquido pode ser citrino, amarelado, azulado ou esverdeado; sua saída pode ocorrer de forma espontânea ou não. A conduta para esses casos é a observação e seguimento, porque costumam se resolver sem nenhuma intervenção médica. o Descarga papilar suspeita (papiloma ou câncer) A descarga papilar suspeita, que pode se originar de um câncer, é unilateral, proveniente de um único ducto, persistente e espontânea. Pode ser serosa (água de rocha), sanguinolenta ou serossanguínea (misturada com sangue). Mas, nem sempre esse tipo de secreção está associado ao câncer, sendo sua causa mais frequente o papiloma intraductal, que é uma lesão benigna. Papiloma: é um tumor papilar que cresce a partir do revestimento do ducto mamário. Sua descarga pode ser clara (água de rocha) ou sanguinolenta. Câncer: O câncer é encontrado somente em cerca de 10% dos casos de secreção suspeita dos mamilos. A lesão mais frequentemente encontrada nesses casos é o carcinoma ductal in situ (CDIS). Sempre devemos orientar as pacientes a não manipular os mamilos e não ficar verificando se está saindo leite. Essa pode ser a causa de uma galactorreia com níveis limítrofes de prolactina, que melhora com essa simples atitude. A conduta para a descarga papilar suspeita (sanguinolenta ou em “água de rocha), com exames de imagem sem alterações, é a exérese do ducto acometido (setorectomia) para realizar o estudo anatomopatológico e investigar um possível câncer. Essa conduta é diagnóstica e pode ser curativa nos casos de papiloma. MASTITES Apresentam-se com uma mama dolorosa, inchada e vermelha. Mastite aguda (lactacional) – também conhecida como puerperal, é a mastite aguda mais frequente. É decorrente da infecção da mama durante a amamentação mais comumente nos primeiros três meses e costuma durar menos do que 30 dias. Começa com o ingurgitamento mamário e o acúmulo de leite. Isso acontece devido à dificuldade de drenagem do leite, geralmente relacionada ao trauma dos mamilos associado à pega inadequada. Ocorre inchaço e compressão de um ou mais ductos de leite. O leite materno contém bactérias. Se o ingurgitamento persistir, ocorre a proliferação bacteriana e infecção, caracterizada por dor, vermelhidão, febre e mal-estar. A maioria dos episódios de mastite lactacional é causada pelo Staphylococcus aureus. O diagnóstico da mastite lactacional é fundamentalmente clínico. O ultrassom é o melhor exame para avaliar a existência de um abscesso mamário. Deve ser realizado nos casos em que a mastite lactacional não melhora após 2 a 3 dias de tratamento ou quando observamos área de flutuação, sugestiva de abscesso, no exame físico mamário. OBS: Galactocele: é um cisto de retenção de leite, que pode ser palpado como uma formação cística amolecida, indolor e sem sinais flogísticos. A principal diferença entre a galactocele e o abscesso Thaynara Parente-Medicina é a ausência de sinais inflamatórios/infecciosos. Seu diagnóstico é feito pela história clínica e na aspiração do cisto por agulha fina, com saída de leite. O tratamento da mastite lactacional consiste em: • AINEs e compressas frias para reduzir a dor e o inchaço; • Esvaziamento completo da mama, através da expressão ou com a “bombinha”, a fim de evitar estase de leite; • Continuidade da amamentação; • Antibioticoterapia. O antibiótico de primeira escolha para o tratamento da mastite lactacional é a cefalexina. Iniciamos esse antibiótico de forma empírica, sem necessidade de cultura do leite. Se houver abscesso mamário, está indicada a drenagem. Mastite crônica (não lactacional): apresenta tempo de evolução maior que 30 dias ou episódios recorrentes. Podem ser infecciosas ou não infecciosas. Mastite periareolar A mastite periareolar ou periductal é caracterizada pela inflamação dos ductos subareolares e sua causa ainda é desconhecida. A maioria das pacientes com mastite periareolar é fumante. O tabagismo está associado a danos nos ductos subareolares, com necrose tecidual e, posteriormente, infecção. Também está associado à metaplasia escamosa, que pode levar à obstrução parcial do ducto, que acaba dilatando, inflamando e infeccionando. Os agentes etiológicos mais frequentemente envolvidos na mastite periareolar são os estafilococos, os enterococos, os estreptococos anaeróbicos, bacteroides e proteus. O quadro clínico da mastite periductal é bastante característico e de fácil reconhecimento. Esse tipo de mastite se apresenta com uma inflamação periareolar. Pode ocorrer infecção secundária dos ductos inflamados, levando à formação de um abscesso, e esses abscessos costumam drenar espontaneamente na borda da aréola (por isso chamamos de mastite periareolar). O tratamento da mastite periareolar na forma aguda é a antibioticoterapia com drenagem, ou punção, do abscesso associado. Podemos usar o metronidazol associado à cefalexina ou a amoxicilina com clavulanato. Outras opções são a ciprofloxacina ou o sulfametoxazol trimetoprima. Mastite granulomatosa idiopática É uma doença inflamatória benigna crônica e rara da mama, de etiologia desconhecida. Geralmente é unilateral, mas em casos raros, pode ser bilateral. idiopática apresenta-se com massas inflamatórias na mama com abscessos e ulceração da pele. Retração mamilar e adenopatia axilar podem também estar presentes. É um quadro crônico e de repetição que pode apresentar abscessos repetidos ao longo do tempo. Pode ser confundida com uma infecção recorrente ou com o câncer de mama. A mamografia dessas pacientes pode simular a malignidade e o ultrassom geralmente apresenta múltiplas massas sólidas e abscessos. O diagnóstico da mastite granulomatosa idiopática é histológico, feito através de biópsia da massa visualizada no ultrassom, com agulha grossa. Para os casos mais complicados podemos usar a prednisona em altas doses ou o metotrexato. Não é indicada a exérese da massa inflamatória. A mama costuma retornar ao estado normal após o tratamento clínico.
Compartilhar