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Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 1 VESÍCULA BILIAR A vesícula biliar é um “saco” piriforme que consegue armazenar até 50mL de bile, que é produzida no fígado. Localizada no QSD. • A vesícula está aderida á face visceral do fígado. • Dividida em fundo, corpo e colo. Principais funções: armazenar e concentrar a bile (remove a água da secreção biliar). Secreção biliar: composta por sais biliares, colesterol e fosfolipídios (lectina por ex) – Formam as micelas -> Produzida pelos hepatócitos. Micelas: importantes para realizar a quebra da gordura e para absorção de ácidos graxos. Cálculos biliares: causados por uma supersaturação de colesterol e bilirrubina. • Quando o cálculo é grande, normalmente ele impacta na região do colo ou ducto cístico. Cálculo pequeno – ampola hepatopancreatica para evitar a evolução de uma pancreatite. • Cursa com colecistite (inflamação da vesícula). Secreção biliar: liberada após a digestão. • O duodeno tem células neuroendócrinas (células I) que produzem CCK (colecistoquinina) que mediante a presença de alimentos induz a contração da musculatura lisa e o relaxamento do esfíncter da ampola hepatopancreatica. ICTERÍCIA É caracterizada pela coloração amarela da pele das mucosas devido o aumento dos níveis plasmáticos de bilirrubina. Causas: ocorre devido algum distúrbio nos níveis da vida metabólica da bilirrubina. • Oferta de bilirrubina não conjugada, transporte transmembranoso ou intracelular de bilirrubina não conjugada, conjugação da bilirrubina não conjugada e excreção da bilirrubina conjugada. A icterícia ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção e a excreção de bilirrubina. Patogênese: se a maquinaria hepática responsável por conjugar e excretar a bilirrubina não amadurece completamente até 2 semanas de idade, quase todo recém-nascido desenvolve hiperbilirrubinemia não conjugada transitória e branda -> Icterícia neonatal. • Kernicterus: é uma lesão cerebral devido a deposição de bilirrubina não conjugada nos gânglio da base e núcleos do tronco cerebral. • Síndrome de Gilbert: é uma condição herdada, benigna, que apresenta hiperbilirrubinemia branda devido a erros inatos do metabolismo. COLELITÍASE – CÁLCULO BILIAR É a doença mais prevalente no trato biliar (90-95% dos casos) que acomete de 10-20% da população e acomete mais mulheres • 80% dos pacientes são assintomáticos (não apresenta cólica biliar). Afecções da vesícula biliar Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 2 A maior incidência é mulheres é devido a influência do estrógeno (aumenta captação de colesterol) e da progesterona (aumenta o relaxamento da musculatura lisa da vesícula). Subclassificação dos cálculos: ele podem ser subdivididos em 2 grupos. I. CÁLCULO DE COLESTEROL: representa cerca de 80-85% dos casos e a maior incidência é em mulheres acima de 40 anos e caucasianos. • Alta prevalência no norte europeu e alguma tribos dos EUA (hopi, prima e navajos) devido ao polimorfismo nos transportadores canaliculares de colesterol, que faz com que excrete mais colesterol para a bili, a deixando supersaturada. • São formados por mais de 50% de monoidrato de colesterol. Cálculos puros: 5-10% dos casos e é compostos por mais de 90% de colesterol e apresenta uma cor amarelada. Cálculos mistos: 70-80% dos casos e é formado de 60-79% de colesterol. Fatores de risco: obesidade, DM, hipercolesterolemia, uso de anticoncepcional oral ou reposição hormonal na gravidez, perda de peso rápida (bariátrica) e estase biliar (hipomotilidade neurogênica, lesão medular ou hormonal – causa excesso de progesterona que induz o relaxamento da musculatura lisa da vesícula). Morfologia macroscópica do cálculo de colesterol puro: na maioria dos casos é um cálculo de 2-4cm (grande), único, consistência dura, superfície granular e cristalina, redondos/ovóides, amarelo claro e exclusivo da vesícula biliar -> RAROS. • Cálculos ovais e amarelo claro são radiotransparentes (não dá para ver na radiografia de abdômen), e está associado a colesterolose (vesícula em aspecto de morango). Morfologia do cálculo de colesterol misto: 70-80% dos casos e com maio incidência em mulheres idosas. • São cálculos formados de 70-80% de colesterol e geralmente são múltiplos de 0,2-0,3cm. • Possuem uma consistência dura, superfície facetada e cristalina, branco/acinzentado. • 10-20% desses cálculos são radiopacos e estão associados a colecistite calculosa aguda (inflamação da vesícula por um cálculo). • Colesterol + Bilirrubinato de cálcio. II. CÁLCULOS PIGMENTADOS: representa cerca de 15-20% dos cálculos e acomete homens e mulheres igualmente. Mais de 50% da sua composição é de sais de bilirrubinato de cálcio. • Acomete bile e ductos biliares. Fatores de risco: hiperbilirrubinemia (favorecida pela anemia hemolítica crônica), disfunção ileal, infecção no trato biliar (principalmente por E.coli – favorece a conversão de bilirrubina conjugada em não conjugada, pois os agentes produzem a enzima B-glicuronidase), Ascaris lumbricoides (cresce e obstrui as vias biliares, causando estase biliar) e C.sinensis (favorece a estase). Morfologia macroscópica do cálculo pigmentado preto: está associado a hiperbilirrubinemia, são cálculos múltiplos, de 0,2-0,5cm de diâmetro, brilhantes de contornos irregulares e moldados e de consistência macia, friável e oleosa (desmancha fácil) – 50-75% são radiopacos -> Formado na vesícula biliar estéril (sem relação com processo infeccioso) – Formado por sais de bilirrubinato de cálcio (50%). Morfologia macroscópica do cálculo pigmentado marrom: são comuns por infecções das vias biliares • Em geral são múltiplos, tamanho variável, superfície laminada e brilhante e de consistência oleosa e macia (processo de saponificação na vesícula pelas enzimas digestivas do agente infeccioso quebram o lipídeo em AG). Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 3 • Formado por mais de 50% de bilirrubinato de cálcio. Patogênese: supersaturação de bilirrubina ou supersaturação de colesterol. Supersaturação: colesterol ou bilirrubina não conjugada. • A supersaturação faz os solutos descerem pro fundo da vesícula e se agregar na nucleação ou cristalização. Essa cristalização é favorecida pela presença de muco (produzido na vesícula), sais de cálcio, células descamadas, bactérias e hipomotilidade da vesícula biliar (estase de secreção da vesícula). • O processo inicial dessa nucleação é a LAMA BILIAR (formação de mini cristais) e a última etapa é o crescimento, onde se tem a hipersecreção de muco. Aspectos clínicos: dor no QSD ou epigástrica que pode irradiar para as costas ou ombro direito, cólica biliar (intensificada após refeição gordurosa, pois o quimo chega no intestino e é liberado CCK que estimula a contração da vesícula) e náuseas e vômito. Complicações: colecistite calculosa aguda (inflamação na vesícula provocada por cálculo), pancreatite aguda no caso de cálculos pequenos, coledocolitíase, colangite (colangiócitos presentes no revestimento de trato biliar – inflamação da via), colestase obstrutiva (bile parada por associação de coledocolitíase e colangite). • Síndrome de Bouveret: comum em idosos. É um cálculo biliar grande a ponto de fistular a parede da vesícula como o intestino grosso, ou seja, o cálculo sai da vesícula, cai no intestino e obstrui o íleo). • Síndrome de Mirizzi: cálculo impactado no colo da vesícula ou no ducto cístico que começa a comprimir o ducto colédoco (mais comum) ou ducto hepático. COLECISTITE É caracterizada por uma inflamação da vesícula biliar, que pode ser aguda ou crônica. • 70-80% dos casos são assintomático, mas os sintomáticos apresentam cólica biliar (dor constante, mas que aumenta pós a ingestão de alimentos gordurosos). COLECISTITE AGUDA: apresenta um processo inflamatório agudo e apresenta2 subtipos. COLECISTITE CALCULOSA AGUDA: representa cerca de 90-95% dos casos, a principal causa é a colelitíase (cálculo biliar impactado no colo da vesícula ou no ducto cístico). COLECISTITE ACALCULOSA AGUDA: representa cerca de 5-10% dos casos e está associada ao quadro de isquemia. Condições clínicas associadas: são condições clínicas que surgem em ambiente hospitalar, como traumas graves, queimaduras extensas, DM (microangiopatia diabética da artéria cística), sepse e choque hemodinâmico. • Outra condição comum é a vasculite sistêmica. Patogênese: vesícula biliar obstruído por colelitíase provoca uma distensão da vesícula (decorrente do aumento da pressão intraluminal). • Distensão da vesícula: estimula colangiócitos a produzir PGE2 (desencadeia inflamação na parede da vesícula), redução do fluxo sanguíneo devido a compensação sofrida pelos capilares da parede da vesícula (a partir do aumento da pressão intraluminal) – Isquemia e inflamação. • Estase biliar: lecitina é quebrada pela fosfolipase A (produzida pelos colangiócitos) e isso implica na produção da sua forma tóxica (lisolecitina), a qual degrada o muco da vesícula e expõe sua mucosa -> Sais biliares entram em contato com a mucosa e causam uma irritação e consequentemente, uma inflamação. Irritação da mucosa – Isquemia - Inflamação • A vesícula inflamada pode ser colonizada por bactérias – E. coli (piogênica) causa um empiema da vesícula biliar (pus preenchendo a cavidade pré-formada) – Clostridium perfringens – Se alimenta de tecido morto e produz gás, causando um colecistite enfisematosa aguda. Morfologia macroscópica da colecistite aguda: dividida em algumas fases. • Fase inicial – vesícula avermelhada e brilhante ou irregular: vesícula distendida, hiperêmica, espessada e edematosa. Presença de exsudato fibrinoso ou fibrinopurulento cobrindo a camada serosa (início do depósito de fibrina na vesícula além do pus). Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 4 • Progressão – vesícula violácea: apresenta hemorragia da camada subserosa. • Vesícula verde: necrose da parede com perfuração – colecistite gangrenosa (gangrena em decorrência das regiões expostas a cavidade abdominal). Colecistite enfisematosa aguda: ocorre uma colonização da parede da vesícula por Clostridium, a qual produz muito gás e infla a vesícula. Bile nebulosa: encontrada com uma incisão na vesícula dependendo da fase da inflamação – secreção constituída por plus, sangue e fibrina. Empiema de vesícula biliar: preenchimento da cavidade apenas de pus. Normalmente ocorre devido a colonização de bactérias piogênicas. Morfologia microscópica: infiltrado inflamatório com predomínio de neutrófilos, ulcerações na mucosa (destruição do epitélio), hemorragia e deposição de fibrina. Aspectos clínicos: dor no QSD ou região epigástrica constante (+ de 6h), febre leve, vomito, náuseas, sudorese e taquicardia. Análise clínica mediante a dor: leucócitos, fosfatase alcalina aumentada (3-4x) que indica um problema de trato biliar (vesícula ou ductos), amilase aumentada (3-4x) indica pancreatite. • Se a fosfatase alcalina e a amilase estiverem em níveis normais, indica um problema no estômago. • Comum leucocitose leve á moderada e aumento da fosfatase alcalina. Complicações: a inflamação pode evoluir de aguda para crônica. • Alguns pacientes têm ausência dos sintomas anteriores. COLECISTITE CRÔNICA: comum em pacientes idosos, diabéticos e decorrentes de colecistite acalculosa aguda. 90% dos casos está associado a colelitíase. Morfologia macroscópica: é variável – Vesícula com parede normal/parede dilatada/parede encolhida (comum devido a fibrose da inflamação crônica). • Vesícula com a camada serosa lisa ou vesícula com a camada serosa opaca e fibrose da camada subserosa (mais comum). Vesícula de porcelana: surge através da fibrose da parede junto com a calcificação distrófica da parede. • Aumenta o risco de câncer em 20%. • Vesícula pode aparecer na radiografia de abdômen nesse caso de calcificação/ porcelana Vesícula xantogranulomatosa: apresenta parede espessada, encolhida, nodular, cronicamente inflamada e com focos e hemorragia e necrose. Seios de Rokitansky-Aschoff: são invaginações do epitélio para a camada muscular da vesícula – achado patológico. Filipe Libano – Universidade Nove de Julho 5 • Podem se romper e extravasar a bile para o interstício e o organismo desencadear uma inflamação. • Cristais de colesterol da bile são reconhecidos como corpo estranho – INFECÇÃO CRÔNICA GRANULOMATOSA. • Granuloma formado por células gigantes e macrófagos xantomatosos (parece com os macrófagos espumosos). Morfologia microscópica: tem duas principais fases. I. FASE INICIAL: infiltrado mononuclear na mucosa e no tecido fibroso da subserosa. II. FASE AVANÇADA: fibrose subepitelial, serosa proeminente com infiltrado mononuclear. • Seios de Rokitansky-Aschoff, metaplasia pilórica (glândulas semelhante as do piloro – produção de muco) ou metaplasia intestinal de corrente da agressão constante do epitélio. METAPLASIA INTESTINAL -> DISPLASIA -> ADENOCARCINOMA – é o mais comum. Aspectos clínicos: dor recorrente no QSD ou região epigástrica. Complicações: é semelhante a colecistite aguda – perfuração da parede pode evoluir com abcesso local, peritonite ou sepse. OBS: fístula colecistoentérica (entre a vesícula e a alça intestina) -> Cálculos biliares caem no intestino e vai obstruir o íleo -> Aumento da chance de desenvolver adenocarcinoma de vesícula.