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Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE CLÍNICA DE EQUINOS Trato Digestivo: Síndrome da cólica em Equinos Definição: A cólica está associada ao desconforto abdominal, baseia-se em um conjunto de sinais e sintomas observáveis em vários processos patológicos e sem causa específica. Para o atendimento de um animal com síndrome da cólica a equipe hospitalar deve conter o clínico, anestesista, laboratorista, cirurgia e patologista para buscar alcançar a resolução do caso. Existem dois tipos de cólicas: 1. Cólica verdadeira (gastro-entérica): Neste tipo de cólica o desconforto surge a partir de alterações de origem gastro intestinal, no qual os sinais clínicos são patognomônicos. Patogenias associadas: Distensão, espasmódicas, obstrução simples (funcional e mecânica) e obstruções. 2. Cólica falsa (extra-abdominal): Na cólica falsa o desconforto e a alteração tem origem extra-abdominal que pode ser no músculo esquelético, neurológico ou respiratório. Observação importante: O animal pode apresentar atitude ant-álgica que pode levar o clínico a confundir o diagnóstico diferencial entre cólica falsa e verdadeira. Esse tipo de atitude pode ter outras origens, além da cólica, como exemplo, quadros de laminites. Quais segmentos acometidos no animal com cólica? - A cólica pode gerar dor iniciando no estômago e irradiando até a região do reto – casos de alta mortalidade. - Independente da região acometida há alto grau de mortalidade quando não há intervenção do medico veterinário. POR QUAL RAZÃO ALGUNS ANIMAIS TÊM CÓLICA E OUTROS NÃO? 1. Predisposição individual; 2. Maior reação diante da “emoção”; 3. Maior excitabilidade do Sistema Nervoso Autônomo – considerando que tudo está relacionado ao sistema nervoso simpático e parassimpático; Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE - Na fossa paralombar esquerda do animal é possível auscultar burburinhos na região do intestino delgado. Efeitos da domesticação: - Já é sabido que a cólica está muito atrelada a domesticação dos equinos, uma vez que, o tipo de manejo que o animal possui em sua rotina influencia diretamente seu comportamento e hábitos. Doença Psicossomática: - São as patologias que atingem o físico e o psíquico do animal, e os sintomas acabam tornando-se uma consequência dos sinais emocionais. - A dor emocional pode acontecer nos animais que se encontram em ambientes que proporcionam sede, fome não saciadas, monotomia alimentar, confinamento, monotomia geral, trabalho fatigante, ruptura de laços grupais. Dor emocional X Alterações orgânicas e comportamentais: - Perda de peso, dores esqueléticas, depressão imunológica, distúrbios hemáticos, lesões de pele, indiferença ao meio, vícios e neuroses, perversão do apetite e disfunções digestivas. Anátomo-Fisiologia: - Estômago: Quando dilata o animal tem descarga adrenérgica e constrição dos esfíncteres. O gás continua se acumulando na região – o animal não vomita e não consegue permitir a passagem do alimento/gás para o fluxo “natural” do trato gastro- intestinal. - Jejuno: Predisposição em consequência da extensão do órgão. - Ceco: É uma região de acumulação, considerado uma câmara de fermentação, essa característica pode predispor, em casos de alguma disfunção do órgão (ausência de peristaltismo), gerando quadros de cólicas. Observações importantes: 1. Os cavalos tem um baixo limiar de dor, e o animal tende a rolar de dor em muitos casos, gerando uma torção em alça intestinal. Nestes casos, o tratamento se torna cirúrgico. 2. O ambiente adequado, como baixa população de animais, pasto baixo e adequado, e sem confinamento para estes animais, gera bem menos quadros de cólicas. 3. Evitar substrato do recinto do animal com madeira de maravalha, pois o animal pode ingerir e ter quadro de cólica. Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE 4. O manejo alimentar é de extrema importância na rotina desses animais. Mudanças bruscas no tipo e composição dos alimentos pode gerar disbiose e provocar quadros de cólica. Capim picado demais e um excesso de fibra de má qualidade pode provocar compactação. Além disso, a deficiência de boa qualidade e alimentos estragados também geram consequências negativas. 5. É importante alimentar os animais com fibras de boa qualidade e longas que estimulam o peristaltismo. 6. Água e clima: Meses quentes tendem a levar os animais a ingerir mais água. Portanto, devemos nos atentar ao gosto da água (presença de minerais específicos pode fazer com que os animais bebam menos água). Água contaminada também é preocupante para a saúde do animal. Fisiopatologia da cólica: - Pode ocorrer por obstrução mecânica, infarto não estrangulativo, estrangulamento, inflamação, fermentação e espasmódica. - Obstrução Mecânica Primária: A compactação pode ocorrer por alimento desidratado, animais mais velhos, alimentos muito fibrosos e de forma não organizada (por ingesta de areia ou cascalho – dessa forma o desenvolvimento da cólica é gradual, mas há resposta satisfatória). Também pode ocorrer de forma organizada por ingestão de plásticos, enterólitos e mecônio; acompanhado também de desenvolvimento rápido e que não há boa resposta ao tratamento. Casos importantes: 1. Estômago: Pode ocorrer por corpos estranhos, gasterófilos e gastrites. 2. ID: Parasitismo pelo Ascaris que geram enovelamento e causam obstrução. É importante lembrar que o ID não permite grandes dilatações. 3. Colo maior: Compactações da flexura pélvica, regime grosseiro e diminuição da ingesta de água. 4. Colo menor: Enterólitos (concreções) – podem ser causados também por água rica em minerais. Normalmente se desenvolve no colo dorsal. Condições predisponentes gerais: - Geofagia: Ingestão de areia além do limite pode provocar cólica. - Aerofagia: Os animais tornam-se estereotipados a morder madeira. - Sedações. - Toxicidade a partir de amitraz que é um parassimpaticolítico (pode provocar compactações). - Iatrogenia por uso inadequado de prolise e imizol. Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE - Alguns quadros de babesiose podem predispor o animal a cólica por isquemia dos vasos mesentéricos e gerar constipação. - Ascaridioses: Importantes principalmente em animais mais jovens. (Parascaris equorum); Oxyuris, Anoplocephala magna, Anoplocephala perfoliata (obstrução na região da válvula íleo-cecal; maioria dos anti-helmintícos, anti-parasitários não elimina o Anoplocephala sp.) Gasterophilus spp.; Observação importante: Stronfylus vulgaris – mais importante na relação com casos de cólica equina, uma vez que estes migram para as artérias mesentéricas craniais, pois as larvas fazem muda na mucosa do intestino. Sinais clínicos: - Animal rolando por grau elevado de dor, também pode esticar-se, ajoelhar-se e escavar o chão; - Elevação da FC e FR. - Alterações de mucosa que podem estar mais edemaciadas; - Decúbito frequente acompanhado de debater-se, e apresentar depressão ou excitação. - Olhar ansioso para o flanco e abdômen, bruxismo, sinal de Flehmen e movimento de brincar com a água. - Escoicear, inapetência, tenesmo vesical e sudorese. Protocolo de exame clínico: - Temperatura: A temperatura pode estar elevada devido a febre. É importante investigar a possibilidade de babesia. - Frequência respiratória: Pode fazer auscultação com esteto na traqueia, nos espaços pulmonares e observar os movimentos intercostais. - Frequência cardíaca: 40 bat/min = normal. 40-60 bat/min = monitorar. 60-80 bat/min = perocupante. 80-100 bat/min = grave. Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE - Pressão arterial – caterização da artéria: 50 mm Hg X 5% 80 mm Hg X 24% (durante a anestesia, a PA não pode baixar mais queisso) 110 mm Hg X 69% 140 mm Hg X 94% - Pulso alterial e digital é o retrato da FC: Semelhante a FC. *É comum equinos com cólica podem desenvolver laminite – por este motivo pode haver aumento da palpabilidade do pulso digital. - A amplitude pode estar débil ou rápido demais. Avaliação da desidratação: - Mucosa seca pode ser indicativa de desidratação. - A coloração da mucosa bucal pode ser normal, congesta (indicando desidratação, choque) (também indica que o retorno venoso está dificultado), hipocorada. - Coloração da mucosa ocular também é muito importante: Quando mais afundado, maior indicação de desidratação. - Observação: As mucosas descritas em livros podem ter coloração chamada de cor de tijolo, cianóticas e petéquias. Sinais oculares: Podem estar escleróticas. Tempo de preenchimento capilar (TPC) – relacionado com a perfursão periférica. - Pode variar: Até 2 segundos. 2 a 4 segundos. 5 a 7 segundos. Maior que 7 segundos. Auscultação abdominal: - A motilidade intestinal pode ser fraca (contração de mistura) ou mais alta (indica peristaltismo progressivo). - Presença X Ausência: Qualquer movimentação é melhor que a ausência A frequência pode ser hiper ou hipomotilica A intensidade pode variar de baixos ruídos a intensos O conteúdo intestinal pode ter material líquido, grosseiro. Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE Localização de auscultação: Inspeção (distensão) e Palpação (pode indicar tensão e dor): Podem ser unilateral, bilateral, simetria, superior, inferior, direita, esquerda ou generalizado. Palpação transretal: - Avaliar ceco, tênias ventral e medial, ovários, anel inguinal, colo transverso e íleo, aorta ilíaca mesentérica, útero, bexiga, intestino delgado, colo menor, ligamento nefro- esplênico, ovário, rim, flexão pélvica, baço, colo dorsal e anel inguinal. - Anormalidades: Gás cecal, distensão do colo ou ingesta, volvo, edema intramural, hérnia, compactação, intussusceoção, massa intra abdominal, volvo na raiz do mesentério e enterólito. - Avaliação das fezes: Presença ou ausência de fezes, quantidade, presença de muco (sinal de trânsito lento – pode indicar constipação ou compactação), parasitas, areia e umidade. Avaliação laboratorial: - Leucograma: Estresse (leucocitose por neutrofilia), infecção (colite, babesiose – pode causar cólica), babesiose e toxemia. - Paracentese abdominal; - Avaliação do conteúdo do refluxo; - Proteína total (PPT)/ Volume globular (VG): PPT/VG: 45% e 7g = normal 50% e 8g = leve 55% e 9g = elevada 60% e 10g = grave - Relação ureia/creatinina – avaliação renal; Lado direito: - Válvula íleo cecal: descarga, 1 a 2x a cada 3 a 5 minutos (normal). - Colo dorsal direito (CDD)/ Colo ventral direito (CVD): Borborigmos que duram por 1 minuto, e são quase constante. Lado esquerdo: - Colo dorsal esquerdo (CDE)/ Colo ventral esquerdo (CVE): Duração de borborigmos por 1 minuto. Varia de acordo com alimentação do animal. Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE - Fibrinogênio; - Eletrólitos; - Hemogasometria; - Análise de líquido peritoneal: Características podem variar de cor claro/palha ou translúcido; de cheiro inodor; e não coagula. Deve ser coletado em dois frascos, um com anticoagulante e outro sem coagulante. *Se coagular indica aumento de concentração de fibrinogênio que indica presença de inflamação que pode ser peritonite. Caracteristicas do fluido anormal = Opaco, aumento de PPT e PMN (neutrófilos), serosanguinolento e aumento de hemácias. Ruptura intestinal: - Sinais de endotoxemia, fluído verde marrom, presença de material vegetal e bactérias no liquido peritoneal. Determinam a morte: - Choque Hipovolêmico, choque neurogênico, septicemia, endotoxemia, desequilíbrio hidro-eletrolítico, desequilíbrio ácido-base, hipoproteinemia e alterações cardiovasculares; Paciente para o encaminhamento clínico: - Dor leve a moderada, frequência cardíaca mais que 60 batimentos por minuto, boa perfursão, peristaltismo, refluxo ocasional, normotopia retal, fluído peritoneal normal. Paciente candidato cirúrgico: - Cólica súbita (sem suspeita anterior), dor intratável (mesmo com diminuição de alguns sinais clínicos), frequência cardíaca maior que 70 bat/min, pulso fraco, TPC maior que 6 segundos, silêncio abdominal. Casos clínicos que não respondem ao tratamento: - Obstrução do colo menor e transverso – pode ocorrer por enterólitos ou compactação. - Obstrução do intestino delgado sem comprometimento vascular – suspeita de Ascaris. - Obstrução do colo maior sem comprometimento vascular – por compactação ou sablose. Tratamento: - Controle da dor = dipirona (analgésico visceral), fenilbutazona (ótimos em dores ortopédicas), cetoprofeno (ótimo em dores ortopédicas), flunixina, xilazina (muito útil quando em situações mais graves), xilazina + butorfanol. - Firocoxibe – IV 0,6 mg/kg = equivalente a 2 ml/100kg ao peso vivo a cada 24 horas - Lidocaína (muito útil em casos de dor e íleo paralítico) – Bolus 1,3 mg/kg de lidocaína a 2% - Usado sem vasoconstritor via endovenosa, por meio de bomba de infusão usando Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE seringa por 5 minutos; Animal no pós cirúrgico que continua com dor seguir de taxa de infusão de 0,05 mg/kg/min por até 24 horas via endovenoso. - Ketamina (dissociativo): Dose de 0,4 a 0,8 mg/kg/h, ao escolher a dose, colocar em 1 litro de salina. Devemos ajustar a velocidade da bomba de infusão. Observação: Não deixar o animal rolar, uma vez que um problema pode ser clínico e virar cirurgia. - Lubrificantes – auxiliam na retirada da compactação do colo e ceco, mas antes de usar, é ideal hidratar o animal. Tipos: DSS (humectol 10 a 20 mg/kg dissolvido em água), Óleo mineral (5 a 10 ml/dose), carboxi metil (1g dissolvido em 5 a 7 litros de água). - Salinos: Uso de purgantes aumentam a osmolaridade na alça (o animal desidratado deve ser hidratado antes, uma vez que será possível tirar água de nenhuma parte do corpo). - Gel retentor de água: Psyllium (plantago ovata) 0,5 a 1 g/kg dissolvido em 5 a 7 litros de água (pode ser bastante usado e casos de cólica por areia – sablose). - Carboxil metil: Excelente em casos de sablose. - Anti espasmódicos: Hioscina + dipirona – 0,2 a 0,4 mg/kg; 10 a 20 mg/kg. - Carminativos: Possui ação de quebrar as bolhas da cólica causada pelo timpanismo gasoso. O uso de simeticona no caso de timpanismo cecal pode ajudar – pode usar 50 ml/100kg intra cecal-oral. - Anti-helmínticos: Uso de ivermectina a 0,2 mg/kg – conseguem matar larvas que estejam migrando. - Enema: Pode ser feito em casos de colo menor, retenção de mecônio, enterólitos. O enema gera distensão e estimulação de plexos. Suspeita de Dilatação Gástrica: - Pode optar por sondagem; - Indicações da sondagem: diagnóstica e terapêutica; - Características do conteúdo a ser observado: Volume maior que 4 litros, conteúdo, cor, presença de sangue, odor e pH maior que 5. Trato Digestivo: Timpanismo Definição: O timpanismo do ceco geralmente está associado a sinais de cólica em equinos e é causado por distensão intestinal gasosa secundária a íleo paralítico ou a simples obstrução do intestino grosso. Características importantes: 1. Estômago/ceco: Mais acometido, principalmente por ingestão de carboidratos altamente fermentáveis. 2. Pode ser primário ou secundário. Ana Isabel Resende Matos || Medicina Veterinária – UECE Sinais: Distensão, dor, ruptura, insuficiência respiratória. Casos de obstrução funcional: Ileus paralítico – podemos observar inflamação, desequilíbrios, manipulação durante cirurgia. Pode ser usado metoclopromida e cálcio. Infarto não estrangulativo: Pode ocorrer por migraçãode Strongylus, gerando isquemias. Resolução: Retirada do segmento de alça. Inflamatória: Casos de enterite e colite que podem ser causados por Salmonella/Clostridium que podem deixar seus restos e causar duodenite jejunite proximal. O uso de antibióticos por via oral pode alterar a flora intestinal. Estômago: Equinos = Aumento de incidência de gastrite – potros podem passar por processo de infeccioso principalmente por rotavírus. Equinos de alta performance normalmente tem por estresse e elevação do uso de anti-inflamatórios podem ter casos de gastrite. Animais com anemia não esclarecida há grandes chances de ter origem de sangramentos de úlceras. Espasmódicas: Animais nervosos e estressados possuem contrações exageradas que podem ocorrer em cima da compactação ou em cima da alça vazia. Podem utilizar drogas de relaxamento da musculatura lisa para resolução. Irritação direta: Pode ser por areia, animais com alimentação de baixa fibra. Resolução por cirurgia. Lesão estrangulativa com comprometimento vascular: - A lesão estrangulativa de alça e vasos gera elevada prejudicação = obstrução. - Aumento de secreção para a alça com hemácias, PPT, Na, K, Cl, HCO³, H²O = Hipovolemia relativa gerando líquido na alça. - Desvitalização de bactérias endotóxicas = Bacteremia/Endotoxemia
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