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Infertilidade Conjugal 1 Infertilidade Conjugal Prof. José Augusto Conceito: impossibilidade de um casal obter gravidez após um ano de vida sexual ativa (2 a 3x por semana), sem uso de métodos anticonceptivos ➯ Após esse um ano se começa a investigação para saber o porquê do casal não conseguir engravidar OBS: Taxa mensal de fecundidade é em torno de 20%, então mesmo um casal normal tem chances relativamente pequenas de engravidar no primeiro mês ➯ 10-20% dos casais apresentam infertilidade conjugal de uma forma global (alguns países podem ter essa taxa maior, como países da África que possuem um nível maior de DST): 35% por causas femininas 30% por causas masculinas 25% de causas mistas 10% de causas desconhecidas (infertilidade sem causa aparente) Campanha de alerta que recomenda e orienta Sobre o uso de preservativo: evita sequelas de DST que levam a infertilidade; Fumo e outras drogas: diminuem a fertilidade em ambos os sexos; Não esperar muito para engravidar → mulheres a partir dos 35 anos começa a ter a capacidade reprodutiva diminuida em função da função ovariana; Desvios nutricionais tanto para menos, quanto para mais levam a infertilidade Dor durante a menstruação: pode estar relacionada à endometriose que está muito relacionada à infertilidade Infertilidade conjugal A infertilidade é um estado que afeta o casal; Para que o tratamento seja eficiente deve ser corretamente investigada; Planos claros de investigação e tratamento são indispensáveis para o obtenção de bons resultados; Dedicação e paciência do médico e do casal são fundamentais; Etiologia da infertilidade (Livro “Rotinas em Obstetrícia”) 1. Fatores anatômicos femininos a. Obstrução, alteração ou aderências tubárias: Infecção/DIP Endometriose Cicatrizes e aderências pós- cirúrgicas b. Deformidades uterinas, endometriais e cervicais: Miomas Endometriose 2. Fatores hormonais femininos a. Oligoanovulação: SOP Hiperprolactinemia Hipotireoidismo ou hipertireoidismo Hiperplasia suprarrenal de aparecimento tardio 3. Fatores masculinos a. Oligospermia ou azoospermia; astenospermia; teratospermia: Causas obstrutivas Disfunções hormonais (PRL, TSH, FSH) Trauma Agentes tóxicos externos Uso de anabolizantes Infertilidade Conjugal 2 Adenomiose Pólipos Causas de infertilidade (SLIDE PROF) CAUSAS FEMININAS 1. Causa mecânica (30 a 50%) Algo que dificulte o funcionamento das trompas uterinas (responsáveis pelo caminho do óvulo até o corpo uterino e local de fecundação pelo espermatozóide) Uma pequena infecção que passe despercebida pode obstruir a trompa e levar a infertilidade 2. Fatores cervicais (<10%): problemas no colo e no corpo do útero; 3. Disfunções ovulatórias (40%) ➯ Principais fatores para sempre pensar: FATOR OVULATÓRIO E FATOR TUBO-PERITONEAL CAUSAS MASCULINA Varicocele (37%) — dilatação anormal das veias testiculares, principalmente após esforço físico Idiopática (25%) Desordens relacionadas ao sêmen (10%) Falência testicular (9%) Criptorquidismo (6%) — um ou ambos os testículos não estão no saco escrotal Obstrução (6%) Outras causas (7%) � Propedêutica a. História Clínica do casal; b. Exame físico e ginecológico completo; c. Exames complementares: indicados pela clínica ou pela prevalência das causas (fator ovulatório, fator tubo-peritoneal e fator masculino); Anamnese Fator feminino: Idade da mulher → início da investigação: < 30 anos: 2 anos; Entre 30 e 40 anos: 1 ano; > 40 anos: 6 meses; História de DST; Dismenorréia: pacientes com endometriose tem dismenorreia; Irregularidade menstrual: falência do ovário → falta ovulação e se não há ovulação não há gravidez; Fator masculino: Paternidade pregressa: se teve filhos recentemente então o problema provavelmente não seja no homem Se já tem um filho de anos o homem tem que ser bem investigado Anomalias congênitas Exposição a fatores de risco/profissão: radiação, quimioterapia, calor, pesticidas, metais pesados — diminuem a produção de espermatozóides História de doença febril prolongada Hábitos do paciente: álcool, fumo, drogas Cirurgias / traumas Antecedentes infecciosos Infertilidade Conjugal 3 Medicamentos — podem diminuir a quantidade e a qualidade dos espermatozóides Exame físico e ginecológico IMC — para menos ou para mais pode causar infertilidade; Distribuição pilosa Caracteres sexuais secundários — problemas como disgenesias gonadais Exame especular: Corrimento Colo está normal Se está no período ovulatório pela presença de muco cristalino e filante normal do período ovulatório, além do colo entreaberto; Exame bimanual: Um útero fixo, pouco móvel, doloroso pode indiciar uma DIP que gera aderências que fixam o útero e geram disfunção tubária Podem haver nódulos em fundo de saco posterior em paciente com dismenorréia, podendo se pensar em endometriose Bacterioscópico Exames complementares: 1. Investigação básica: a. Histerossalpingografia — avalia fator tuboperitoneal Exame contrastado do útero e das trompas — se injeta o contraste no colo do útero, ele vai entrar na cavidade uterina e depois nas trompas Teste de Cotte positivo - significa que não houve obstrução à passagem do contraste pelas tubas uterinas; Infertilidade Conjugal 4 Teste de Cotte negativo: contraste retido nas trompas; Hidrossalpinge: trompa obstruída com coleção de líquido dentro dela, bem comum em DIP b. Dosagem de progesterona ou biópsia do endométrio: avalia fator ovulatório, pois só teremos progesterona na segunda fase do ciclo se houver ovulação; Coleta entre o 22-24° dia do ciclo: ovulação e fase lútea adequada: > 10ng/ml. c. Espermograma: Volume: 2 a 5 ml (dados novos: 1,5 a 5ml); pH: 7,2 a 8; Concentração: > 20 milhões de espermatozóide/ml (dados novos: 15 milhões) Motilidade: > 24% espermatozóide A; OU > 50% espermatozóide A/B; OU 32% do espermatozóides progressivos (A +B) somados: A: movimento rápido, linear e progressivo; B: movimento lento, linear e não linear (zig-zag), mas também progressivo) C:movimento não progressivo - não fecunda óvulo (vibratório, shaking); D: espermatozóides imóveis; Morfologia: > 30% espermatozoides de formas normais; teste de kruger acima de 4% é normal; Vitalidade: > 50% do espermatozoides vivos; Leucócitos: < 1 milhão/ml ATENÇÃO: Para fazer a análise do espermograma é necessário 3 dias de abstinência sexual e recolher o sêmen através de masturbação; depois analisar o número de espermatozóides e o número de espermatozóides móveis; Não adianta haver grande número de espermatozóides se eles tiverem motilidade baixa pois assim não haverá fecundação e. Teste pós-coital: não é imprescindível, mas é simples de fazer; Recomenda relação sexual quando o muco estiver: filante, muco hialino, cristalização em folhas de samambaia (período de ação estrogênica máxima) e colo entreaberto Entre 6 e 10 horas após relação sexual deve-se coletar o muco e colocar em uma lâmina, olhando no microscópio para analise, avaliando assim o fator masculino e a interatividade do espermatozóide com o muco cervical da mulher, pois existe o fator de infertilidade imunológico: A mulher cria anticorpos contra o espermatozóide e será visto espermatozóides parados (normais no espermograma) Mulher que não produz muco tem provável problema na função ovariana Em um teste bom se ve no mínimo 10 espermatozoides/campo, abaixo disso já é um pouco suspeito Histerossalpingografia Infertilidade Conjugal 5 � Interpretação dos testes: 1. Padrão de movimentação: A: movimento rápido, linear e progressivo; B: movimento lento, linear e não linear (zig-zag), mas também progressivo) C: movimento não progressivo - não fecunda óvulo (vibratório, shaking); D: espermatozóides imóveis; 2. Avaliação por campo: Positivo: excelente: > 25 espermatozóides a/b; satisfatório: > 10 espermatozóides a/b; pobre: 5-10 espermatozóides b, predomínio c; ruim: < 5 espermatozóides b, demais c/d. Negativo: ausência de espermatozóide, verlâmina do fundo vaginal Exames complementare - Investigação secundária: 1. Ultrassonografia: De forma seriada medindo o diâmetro médio do folículo e a espessura endometrial Ao longo do ciclo se faz um exame basal e se está tudo bem se acompanha 10° e 12° dia do ciclo se faz um novo exame, com a finalidade de acompanhar o crescimento folicular até a ruptura, que seria a ovulação com a liberação do óvulo A ruptura folicular deve acontecer quando o folículo atinge de 20 a 24 mm, mas pode variar, folículo é bem vascularizado nesse período Junto se acompanha a espessura endometrial: endométrio fininho no período pós-menstruação ou durante a menstruação vai crescendo e vai assumindo o padrão trilaminar (uma linha ecogênica e outras duas na volta) o endométrio proliferativo, próximo de ovular atinge a espessura de 10-12 mm US também podem indicar algumas outras alterações estruturais, como um mioma Miomas só levam à infertilidade quando múltiplos ou muito grandes que comprimem a cavidade Também pode mostrar pólipos que podem atrapalhar a fertilidade 3. Vídeo-histeroscopia: Alguma suspeita dentro da cavidade endometrial, fator corporal, não são as mais prevalentes Também quando há alteração na cavidade na histerossalpingografia Endoscopia do útero Possível de ver pólipos e miomas submucosos (que causam infertilidade, diferentemente dos miomas que crescem para dentro do abdômen, os subserosos) Sinéquias uterinas: está tudo grudado, geralmente após curetagem, gerando amenorréia Vídeo-histeroscopias + videolaparoscopias ajudam no diagnóstico de malformações uterinas, para ver se o útero é bicorno ou septado 4. Dosagens hormonais: Para descobrir a causa da anovulação; a. Causas da anovulação: FSH/LH; Prolactina; TSH, T4 livre b. Reserva ovariana: Infertilidade Conjugal 6 US também pode confirmar causa de anovulação devido a SOP 2. Vídeo-laparoscopia: Exame PADRÃO-OURO para fator tubo peritoneal Feito geralmente se houve uma histerosalpingografia alterada; também feito na suspeita de endometriose; Se analisa trompas, ovários e se realiza cromotubagem - injetar azul de metileno na ponta do colo para testar permeabilidade tubária Podem haver focos de endometriose peritoneal, que pode proliferar, descamar e sangrar Sequelas de DIP: aderências vistas na videolaparoscopia FSH 3º dia < 15 mUI/ml é normal, acima de 15 a reserva ovariana pode já estar diminuída; AMH: hormônio produzido pelos folículos antrais Se valores abaixo do normal — provavelmente há um número baixo de folículos antrais e a reserva ovariana provavelmente está diminuída As vezes esse exame pode atrapalhar pois pode causar ansiedade na paciente, é bom em casos específicos apenas Pode ser substiruído pela contagem de folículos antrais na US — abaixo de 4 em cada ovário já caracteriza uma reserva ovariana baixa c. Avaliação do Fator Masculino: Testosterona; FSH/LH; Prolactina 5. Espermocultura: quando a leucocitose está mais aumentada no espermograma, sugestivo de infecção; 6. Exames Complementares: Investigação avançada: teste da capacitação espermática: para ver se há maior indicação para inseminação ou FIV; testes imunológicos; dosagens hormonais: testes dinâmicos; estudo genético do casal; punção / biópsia de testículo; tomografia computadorizada. Terapêutica 1. Fator Ovariano: Correção da causa básica: como na hiperprolactinemia; Indução da ovulação (se não der para corrigir a causa de anovulação crônica, como no caso de SOP): citrato de clomifeno/letrozole; gonadotrofinas HMG / FSH / FSHr - hCG; 5. Fator tubo- peritoneal Lise de aderências: se não houver muita aderência a paciente provavelmente poderá engravidar após esse procedimento, feito por videolaparoscopia; Cauterização de endometriose: não acabando totalmente com a endometriose, mas sim com aquele focos, tendo mais chance de engravidar após cauterização Infertilidade Conjugal 7 Drilling do ovário - SOP: cauterização puntiforme do ovário através da videolaparoscopia, após falha da medicação Técnicas de reprodução assistida: FIV — última opção a. Citrato de Clomifeno: Molécula parecida com o estrogênio e faz bloqueio dos receptores, dessa forma terá menos estrogênio informando a hipófise e o hipotálamo, liberando assim mais gonadotrofinas → maior estimulação do ovário É utilizado nos primeiros dias do ciclo, do 3° ao 7° dia e no 15° e 18° dia ela deve estar ovulando Indicação: Grupo II (OMS): Normoestrogênicas/ Normogonadotróficas: geralmente SOP; Taxa de ovulação: 50-80%; Taxa de gravidez: 25-45%; Gestação gemelar: 7-10%, pois pode desenvolver mais de um folículo; Mesmo assim os resultados são melhor abaixo de 35 anos; b. Letrozole Inibidor da aromatase (que em situação fisiológica converte hormônios masculinos em estrogênio), tendo então diminuição dos hormônios estrogênios, tendo um feedback positivo para liberar mais gonadotrofinas → maior estimulação do ovário Os resultados entre clomifeno e letrozole mostraram uma vantagem um pouco melhor letrozole para casos de SOP, mas a medicação é bem mais cara que o citrato de clomifeno As duas tem muita diferença no endométrio: no citrato de clomifeno se começa a subir muito a dose, como ele é bloqueador dos receptores de estrogênio, esse endométrio não vai crescer, forçando a ovulação, mas não teremos a implantação, decaindo a taxa de gravidez; já o letrozole só inibe a aromatase endometriose dando ou não aderência ou obstrução tubária atrapalha para engravidar igual; Salpingoplastias: em casos de trompa obstruída, reabrindo a trompa na salpingoplastia; ou se em casos que foi feita a ligadura tubária para tentar reverter; neossalpingostomia - reabrir trompa para que haja permeabilidade, sem certeza que irá funcionar depois Técnicas de reprodução assistidas: FIV doação de oócitos: utilizado quando conclui-se que os ovários não tem mais chance de funcionar, como em insuficiência ovariana prematura, esgotando as possibilidades Fertiliza-se com o espermatozoide do marido e depois transfere para o útero da paciente, que vai ser previamente preparado É uma técnica de resultados muito bons, principalmente em pacientes abaixo de 35 anos, com taxas de fecundidade bem melhores que o fisiológico da mulher. Acima de 40 a chance de gravidez já baixa para 10%. 6. Fator Masculino: Correção da causa básica: como infecções importantes que causam motilidade baixa; Técnicas de Reprodução assistida: em causas não identificáveis ou que não tem solução IUI: inseminação; FIV; ICSI: injeção intracitoplasmática de espermatozóide pega um espermatozóide e injeta dentro do óvulo, ocorre fertilização fora e depois coloca dentro do útero 7. Fator Corporal: Miomectomia; Septoplastia; Técnicas de Reprodução assistida: útero de aluguel 8. Fator cervical: Estrogênio: melhorar muco através de estrogênio; Técnicas de reprodução assistida: IUI - colocar semen direto dentro do útero, com uma capacitação espermática se prepara o sêmen para colocar dentro do útero Infertilidade Conjugal 8 c. Drilling do Ovário Uma opção nos casos de SOP quando a medicação não responde ou quando paciente não tem condição de pagar gonadotrofinas Através de videolaparoscopia cauteriza o ovário de forma puntiforme, diminuindo quantidade de população folicular produtora de androgênio, baixando os níveis androgênio, com mais liberação de gonadotrofinas, tendo maior estímulo de ovário e uma parcela dessas pacientes acaba ovulando Medida secundária 9. Fator imunológico: Uso de preservativo: para dessensibilização; Transfusão de leucócitos; Imunoglobulinas; Técnicas de reprodução assistida Técnicas de Reprodução Assistida 1. Inseminação Intra-uterina - IIU Se faz uma indução na mulher, pois um ciclo induzido com medicações gera melhores resultados Juntamente se faz controle com US, se usa o hCG como se fosse o LH para ruptura folicular e 36h após se prepara o sêmem e coloca dentro do útero Servepara casos de alteração no colo do útero, ou oligoastenozoospermia leve (espermograma abaixo do normal, com menor motilidade) ou azoospermia no marido, utilizando sêmen de doador então 2. Fertilização In vitro - FIV Se faz um hiperestímulo ovariano, utilizando gonadotrofinas que bloqueiam a hipófise (agonistas ou antagonista de GnRH) para ela não liberar as gonadotrofinas endógenas, pois elas luteinizariam precocemente os folículos No uso de gonadotrofinas crescem vários folículos, depois se punciona os folículos para tirar o óvulos dali e depois poder fazer a FIV desses óvulos � Critérios de fertilização: 18-20h após inseminação oócitos → 2 pró-núcleos; Transferência de embriões: até 4 embriões a partir de 48h à 72h; Infertilidade Conjugal 9 Se faz aspiração mediante punção guiada por US transvaginal Após aspiração do óvulo, ele é identificado e colocado em meio de cultura em uma estufa a 37°C com 5% de CO2 para mimetizar o ambiente correto e após isso é feita a inseminação desses óvulos com sêmen já preparado e aí terá o embrião formado Geralmente em 3 ou 5 dias pode ser feita a transferência É preferível transferir 1 ou 2 embriões e o resto é congelado Taxa de gestação: 30-35% por ciclo, nos bons casos pode chegar próximo de 50%, nos maus casos até abaixo de 10% Gestação múltipla: gemelar 20%, trigêmeos ou mais < 5%; 3. Injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI) Infertilidade Conjugal 10
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