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Arboviroses São zoonoses mantidas em ambiente silvestre. Parte do ciclo de replicação ocorre em artrópodes; Epidemias: dengue, chikungunya, zika, febre do nilo; Possíveis fatores: aquecimento global, mudanças ecológicas = aumento da prevalência do vetor, criação de novos reservatórios, adaptação de novos ciclos de manutenção. Dengue: Epidemiologia: esteve nos últimos 15 dias em região com Aedes aegypti e com transmissão do vírus da dengue; Quadro clínico: ❖ Variável, desde oligossintomáticos até formas graves; ❖ Evolução do quadro clínico: febril, crítica e recuperação; ❖ Fase febril: ❖ Febre alta, início abrupto, com cefaleia, artralgia, mialgia e dor retro-orbitária; ❖ Dura de 2 a 5 dias; ❖ Rash cutâneo em 50%, com ou sem prurido (em geral após a febre). ❖ Fase crítica: 3˚ e 4˚ dia, após desaparecimento da febre, aparecimento dos sinais de alarme; ❖ Recuperação: maioria melhora em 7 a 10 dias, restabelecimento hemodinâmico em 48 - 72h; ❖ Também pode ser considerado caso suspeito toda criança que apresente quadro febril, sem sinais de localização da doença ou na ausência de sintomas respiratórios. Anamnese: ❖ Anamnese detalhada com sinais e sintomas, cronologia clara, HPP, epidemiológica e social; ❖ Definir fase da doença (febril, crítica ou recuperação); ❖ Estabelecer risco. Exame físico: ❖ Sinais vitais: ❖ PA em 2 posições (essencial); ❖ Pulso-frequência e amplitude (em 2 posições); ❖ FR; ❖ Temperatura. ❖ Pesquisar edema subcutâneo, nível de hidratação, enchimento capilar (2 segundos), escleras. Características clínicas da fase febril: ❖ 2 a 7 dias; ❖ Febre alta; ❖ Indistinguível de outras doenças febris agudas; ❖ Hemograma pode demonstrar redução da leucometria; ❖ Cefaléia, dor retroorbitária; ❖ Mialgia, artralgia; ❖ Prostração, astenia; ❖ Exantema (poupa a face), eritema, pequenos sangramentos como gengivorragia; ❖ Náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Rash cutâneo: ❖ Inicialmente: petéquias, escarlatiforme, lesões eritematosas puntiformes difusas; ❖ Evolução: coalescentes e máculo-pápulas; ❖ Todos somem à digitopressão. Características clínicas da fase crítica: ❖ Redução da temperatura (entre 3˚ e 7˚ dia de doença); ❖ Aumento da permeabilidade capilar e perda do volume plasmático com aumento proporcional do hematócrito e redução da pressão arterial; ❖ Prova do laço positiva (baixa especificidade), manifestações hemorrágicas, derrame pleural, pericárdico ou ascite. Geralmente acompanham trombocitopenia (< 100.000/mm3) e hematócrito acima de 20% do normal. Leucopenia, neutropenia e linfocitose; ❖ Hemorragias digestiva, urinária e metrorragia; ❖ As alterações hemodinâmicas podem ser significativas; ❖ Em geral, esta situação hemodinâmica é precedida por sinais de alarme. Sinais de alarme: ❖ Dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua; ❖ Vômitos persistentes; ❖ Acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico); ❖ Hipotensão postural e/ou lipotimia; ❖ Hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do rebordo costal, dolorosa; ❖ Sangramento de mucosa; ❖ Letargia e/ou irritabilidade; ❖ Aumento progressivo do hematócrito; ❖ Queda abrupta de plaquetas; ❖ Redução da diurese; ❖ Desconforto respiratório. Atenção: ❖ USG de abdome: líquido livre em cavidade e espessamento de vesícula são relativamente comuns -> sem indicação de intervenção cirúrgica; ❖ Não há indicação para drenagem de tórax ou ascite; ❖ O período de defervescência da febre é o de maior possibilidade de complicações identificar classificação, cronologia e último dia de febre; ❖ Neutropenia febril x ATB; ❖ Transfusão de plaquetas. Diagnóstico: ❖ Testes virológicos - antígeno viral ou isolamento viral no sangue, soro ou tecido – nos primeiros 5 dias; ❖ Testes sorológicos – anticorpos a partir do 6˚ dia. Desaparecem em 2 a 3 meses; ❖ Hemograma – obrigatório em todo paciente com prova do laço positiva. Hematócrito > 10 a 20% do valor basal pode indicar extravasamento plasmático. Plaquetopenia isolada não significa gravidade, mas alerta para o risco de agravamento; ❖ Albumina sérica; ❖ TGO, TGP, Bb T e frações; ❖ Coagulograma (só alterado em casos complicados); ❖ U,C; ❖ US abdominal / Rx tórax = pesquisa de derrames. Prova do laço: ❖ Manguito insuflado na PA média (PA sistólica + diastólica/2); ❖ Adultos: 5 min /Criança: 3 min; ❖ Desenhe o quadrado de 2,5 cm x 2,5 cm, de lado no antebraço, no local que apresentar mais petéquias; ❖ Contar petéquias e considerar positivo se: ❖ Adulto + 20 petéquias no quadrado; ❖ Criança + 10 petéquias no quadrado. ❖ Atenção: ❖ Prova do laço positiva reforça a suspeita de Dengue; ❖ Negativa: não descarta a possibilidade de Dengue. Dengue sem sinais de alarme: Dengue com sinais de alarme: Dengue grave: ❖ Extravasamento de plasma levando ao choque, acúmulo de líquido e desconforto respiratório, hemorragia e/ou disfunção orgânica; ❖ Elevação do hematócrito = sinal de gravidade; ❖ Em crianças, letargia e dor abdominal + dispneia = sinal de gravidade; ❖ Em < 2 anos, sinais e sintomas de dor podem se manifestar por choro intenso e inconsolável, sonolência ou irritabilidade; ❖ Quanto mais jovem a criança, maior o risco de dengue grave. Sinais e sintomas de gravidade podem ser as primeiras manifestações, diferente do adulto; ❖ Patogênese não esclarecida; ❖ Encefalite e encefalopatia podem ocorrer por provável invasão direta do SNC pelo vírus, mas pode ocorrer por distúrbios metabólicos graves, insuficiência hepática ou renal, hemorragias sistêmicas ou cerebrais e edema cerebral agudo. Dengue - grupo A: ❖ Pacientes sem comorbidades, sem sinais de alarme e/ou choque; ❖ Sem sangramentos espontâneos; ❖ Prova do laço negativa; ❖ Acompanhamento ambulatorial TRO - 1/3 do volume total com SRO e o restante com líquidos diversos, mantidos até 48h após o término da febre; ❖ Solicitação de hemograma é opcional; ❖ Orientação clara sobre sinais de gravidade e retorno imediato à unidade de saúde em caso de aparecimento de sinais de alarme. Dengue - grupo B: ❖ Pacientes sem sinais de alarme e/ou choque; ❖ Pode apresentar sangramentos espontâneos ou induzidos (prova do laço +); ❖ Comorbidades ou risco social; ❖ Se HCT normal = considerar como grupo A; ❖ Se hemoconcentração : TRO supervisionada ou venosa com SF 0,9% ou Ringer (10 ml/kg/hora). Se melhorar, a criança é liberada como grupo A. Se mantiver hemoconcentração e/ou sinais de alarme, considerar como grupo C e internar. Dengue - grupo C: ❖ Pacientes com algum sinal de alarme e/ou choque; ❖ Internação hospitalar; ❖ Exames de rastreio incluem, HMG, bioquímica ampla com função hepática e renal, EAS (Hematúria? Proteinúria?), RX de tórax (derrame pleural?) e USG de abdome (Ascite? Hidropsia de vesícula?); ❖ Expansão volumétrica com SF ou RL (10 a 20 ml/kg/h); ❖ Após estabilização hemodinâmica, manter HV em Y; ❖ Se mantiver a instabilidade hemodinâmica, conduzir como grupo D = CTI. Dengue - grupo D: ❖ Pacientes com sinais de choque, hemorragia grave e disfunção grave de órgãos; ❖ Internação hospitalar em CTI; ❖ Avaliar hemorragias, coagulopatias de consumo, desequilíbrio ácido - ❖ básico e metabólico; ❖ Hidratação venosa generosa; ❖ Exames de controle e pareamento: HCT, plaqueta, bioquímica ampla com função hepática e renal, EAS, RX de tórax e USG de tórax e abdome; ❖ Avaliar necessidade de aminas, transfusão, vitamina K, crioprecipitado, albumina. Resumo: ❖ Risco azul - grupo A: ❖ Sinais e sintomas clássicos; ❖ Sem sangramentos e sem sinais de alarme. ❖ Risco verde - grupo B: ❖ Manifestações hemorrágicas espontâneas ou prova do laço positiva; ❖ Sem sinais de alarme. ❖ Risco amarelo - grupo C: ❖ Presença de sinais de alarme. ❖ Risco vermelho - grupo D: ❖ Presença de sinais de choque. Diagnóstico diferencial: ❖ Outras arboviroses (zika, chikungunya, febre amarela);❖ Influenza; ❖ Sarampo; ❖ Rubéola; ❖ Mononucleose; ❖ Escarlatina; ❖ Outras doenças virais, bacterianas e exantemáticas. Tratamento: ❖ Não há tratamento específico; ❖ Depende do reconhecimento precoce dos sinais de alarme; ❖ Reposição volêmica imediata; ❖ Acompanhamento rigoroso; ❖ Estadiamento adequado; ❖ Sintomáticos (não usar ácido acetilsalicílico e anti- inflamatórios). Critérios de alta: ❖ Estabilização hemodinâmica por mais de 48 horas; ❖ Ausência de febre há mais de 48 horas; ❖ Hematócrito normal e estabilizado por mais de 24 horas; ❖ Plaquetas em elevação e maior que 50.000. Vacinação: ❖ Pessoas de 9 a 45 anos, em áreas endêmicas, que tiveram pelo menos 1 infecção pelo vírus da Dengue (indivíduos soropositivos); ❖ Vacina de vírus vivo atenuado, Dengvaxia, licenciada no Brasil desde 2015, 3 doses: 0, 6 e 12 meses; ❖ Risco de desenvolver dengue grave em soronegativos; ❖ Aprovado em março de 2023 pela Anvisa a vacina Qdenga, da TakedaPharma que possui os 4 sorotipos; ❖ Vantagem da Qdenga: ampla proteção para quem teve ou não a enfermidade. Medidas de prevenção: ❖ Controle de vetores; ❖ Repelentes; ❖ Roupas cobrindo braços e pernas; ❖ Uso de telas e mosquiteiros; ❖ Vacinação. Chikungunya: Agente: vírus Chikungunya (CHIKV); Vetor: Aedes aegypti e Aedes albopictus, fêmeas infectadas; Caso suspeito: ❖ Paciente com febre de início súbito maior de 38,5°C e artralgia ou artrite intensa com início agudo, não explicado por outras condições clínicas, sendo residente ou com história de viagem a áreas endêmicas, até duas semanas antes do início dos sintomas que tenha vínculo epidemiológico com caso confirmado. Quadro clínico: ❖ Doença aguda; ❖ Febre súbita - geralmente maior que 39˚C; ❖ Quadro articular: ❖ Artralgia geralmente intensa; ❖ Poliarticular - mais frequente em tornozelo, punho e articulações da mão, mas podem afetar articulações mais proximais; ❖ Comumente simétricos. ❖ Exantema - normalmente aparece 2 a 5 dias após o início da febre em aproximadamente metade dos pacientes; ❖ Maculo-papular, envolvendo o tronco e as extremidades, mas também podem incluir as regiões palmar, plantar e facial. ❖ Prurido está presente em cerca de 25% dos pacientes e pode ser generalizado ou apenas localizado na região palmo-plantar; ❖ Paciente pode ficar incapacitado devido à dor, ao edema (geralmente associado à tenossinovite) e à rigidez; ❖ Dor ligamentar e mialgia, principalmente em braços e coxas; ❖ Outros sintomas: cefaleia, lombalgia, náuseas, vômitos, conjuntivite; ❖ Imunidade - parece ser duradoura; ❖ Lesões vesico-bolhosas são comuns; ❖ Gestantes: ❖ Não há evidências de efeitos teratogênicos, mas há raros relatos de abortamento espontâneo; ❖ Mães que sofrem com febre de Chikungunya no período perinatal podem transmitir o vírus a recém-nascidos no momento do parto; ❖ Ao que tudo indica, a realização de cesariana não altera o risco da transmissão e o vírus não é transmitido pelo aleitamento materno. ❖ Neonatos: ❖ A doença pode se apresentar com maior gravidade; ❖ Fase aguda: síndrome álgica, febre, exantemas, hemorragias, miocardiopatia hipertrófica, disfunção ventricular, pericardite, dilatação de artéria coronária, enterocolite necrotizante, edema de extremidades, recusa da mamada, diarreia, descamação e hiperpigmentação cutânea; ❖ Comprometimento do sistema nervoso central como manifestação de gravidade. ❖ Manifestações atípicas: ❖ Dermatológicas: hiperpigmentação fotossensível, úlcera aftosa intriginosa, dermatose vesículo-bolhosa; ❖ Renais: nefrite, insuficiência renal aguda; ❖ Outras: discrasias hemorrágicas, pneumonia, insuficiência respiratória, hepatite, pancreatite, hipoadrenalismo; ❖ A meningoencefalite e dermatose vesico-bolhosa são mais observadas em crianças e bebês, respectivamente. Grupos de risco para quadros mais graves: ❖ Faixa etária muito jovem (RN ou lactente jovem); ❖ Idade avançada (maiores de 65 anos); ❖ Multimorbidades (história de convulsão, diabetes, asma, anemia falciforme); ❖ Uso de fármacos em altas doses (aspirina, paracetamol, AINES). Zika: Agente: vírus ZIka; Transmissão: fêmeas infectadas do Aedes aegypti e albopictus; Identificado em vários fluidos corporais: sangue, líquor, urina, sêmen, saliva e líquido amniótico; Até o momento nenhum caso transmitido pelo leite materno; Doença aguda caracterizada por exantema maculopapular pruriginoso, febre intermitente ou ausência de febre, hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia e dor de cabeça; Apresenta evolução benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente após 3 - 7 dias; Quadro clínico: ❖ Febre baixa (< 38,5˚C), duração de 1 - 2 dias, ou ausência de febre; ❖ Exantema no 1˚ - 2˚ dia, craniocaudal, disseminado, prurido intenso; ❖ Mialgias, cefaléia, dor retro-orbital, anorexia, aftas, vômitos, dor abdominal, diarreia. Astenia pós infecção é frequente; ❖ Artralgias leves a moderadas (não costuma cronificar), com edema em pequenas articulações de mãos e pés; ❖ Hiperemia conjuntival. Complicações: ❖ Na gestante: ❖ Abortamento; ❖ Natimorto; ❖ Insuficiência placentária; ❖ Atraso no crescimento fetal e morte fetal; ❖ Síndrome congênita por Zika. ❖ Além, da microcefalia, a infecção por Zika também está relacionada a síndromes neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré; ❖ Encefalite no RN de mães com Zika vírus no último trimestre. Detecção, monitoramento e investigação de casos de microcefalia: ❖ Caso suspeito de microcefalia por Zika durante o pré-natal; ❖ Gestante com exantema: toda grávida, em qualquer idade gestacional, com doença exantemática aguda (até 5˚ dia), sem evidência de microcefalia no feto e que forem excluídas as hipóteses de doenças não infecciosas; ❖ Feto com microcefalia: identificação de feto com circunferência craniana aferida inferior a 2 desvios padrão abaixo da média para IG, identificado na rotina de exames pré-natal, por qualquer método de imagem; ❖ Feto com possíveis alterações no SNC, pós-infecciosas: identificação de feto com qualquer alteração de SNC sugestiva de infecção congênita, identificado na rotina de exames do pré-natal por qualquer método de imagem; ❖ Aborto espontâneo ou natimorto: aborto espontâneo ou natimorto em gestantes sintomáticas ou não, sem causas identificadas. Microcefalia: ❖ RN de mães com história de exantema na gravidez; ❖ PC < 32 cm; ❖ Exames para acompanhamento: ❖ Hemograma; ❖ AST / TGO e ALT / TGP; ❖ Bilirrubina direta / indireta; ❖ Ureia e creatinina; ❖ Lactato desidrogenase e outros marcadores de atividade inflamatória (PCR, ferritina); ❖ Ecocardiograma; ❖ Avaliação oftalmológica com exame de fundo de olho; ❖ Exame de emissão otoacústica; ❖ USG de abdômen e USTF (até 6 meses, fontanela aberta); ❖ TC de crânio sem contraste.
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