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Sódio: hipo e hipernatremia 1 Sódio: hipo e hipernatremia Conceitos básicos SÓDIO → principal íon do meio extra-celular. Concentração normal = 135-145 mEq/l Potássio → principal íon do meio intra-celular; concentração normal = 3,5-5,0 mEq/l Sódio e água estão intimamente relacionados para o controle da osmolaridade - o sódio controla o volume extracelular, enquanto que a água controla a tonicidade extracelular. obs.: perdas de água sempre afetam primeiro o extracelular; o intracelular somente será afetado se a [Na] e a pressão osmótica do extra for afetado OSMOLALIDADE PLASMÁTICA: O sódio sérico é o principal determinante da osmolaridade plasmática efetiva. obs.: a regulação do volume extracelular está vinculada à do volume intracelular, mais especificamente da volemia arterial efetiva (VAE) - aumento da VAE = edema pulmonar agudo, insuficiência respiratória; diminuição da VAE = desidratações, hipoperfusão, choque circulatório Hiponatremia [Na+ plasmático] = <135 mEq/l. É primariamente um distúrbio do metabolismo da água. obs.: a concentração plasmática de sódio reflete a proporção entre as perdas de sódio e água → utilizada para classificação das desidratações, que são divididas entre isotônicas/isonatrêmicas, hipotônicas/hiponatrêmicas e hipertônicas/hipernatrêmicas. obs.: alteração na [plasmática] não significa desidratação e pctes desidratados podem apresentar Na+ normal Regulação da homeostase da água depende de: Mecanismos de estímulo da sede intactos Manuseio renal adequado de água e soluto Liberação e resposta intacta do ADH Normalmente, a tonicidade sérica é mantida entre 280-295 mOsm/KgH2O, devido à regulação do balanço da água (transtornos disso são vistos pelo Na+ sérico) Nesse contexto, a liberação de ADH pode ocorrer por alterações osmóticas, como o aumento de 2% da osmolalidade plasmática (fisiológico), e pressóricas, como a redução de 5% da volemia arterial. Com liberação de ADH, há variação das osmolalidade urinária = 60-1200 mOsm/KgH2O. Sódio: hipo e hipernatremia 2 Ação máxima do ADH: Redução do débito urinário a 500 ml/dia Aumento da osmolalidade urinária Ausência de ADH: Diurese 15-20l/dia Redução da osmolalidade urinária a <60 CLASSIFICAÇÃO HIPONATREMIA: Hiponatremia isotônica Hiponatremia hipertônica Hiponatremia hipotônica Quadro clínico Assintomática (maioria) Sintomas → letargia, apatia, desorientação, cãimbras, anorexia, náuseas, agitação, cefaleia (com redução de Na+, água vai para regiões mais concentradas, como cérebro) Sinais → sensório anormal, reflexos profundos deprimidos, respiração de Chine-Stokes, hipotermia, convulsões obs.: respiração de Chine-Stokes → distúrbio do sono caracterizado por períodos de hiperventilação em que o volume corrente, crescente ou decrescente, se alternam com a apneia obstrutiva do sono ou a apneia central do sono; pode ser sinal de edema cerebral Curiosidade❔ O soro fisiológico 0,9% tem Na = 154 mEq/l, sendo que o normal é 135-145. Isso acontece, porque o Na+ plasmático tem uma fração hidrofílica (90%) e uma hidrofóbica (10%) e o fotômetro de chama dosa apenas a hidrofílica (~140), logo o total é 154. Pseudo-hiponatremia CAUSADO POR: Hiperlipidemia Paraproteínas Com o aumento de paraproteínas (mieloma múltiplo) ou lipídios, a leitura da concentração de sódio não é feita corretamente. Esta alteração ocorre, principalmente, quando a natremia é mensurada em aparelhos de espectrofotometria de chama que só detectam o sódio em fase aquosa. Quando a mensuração é realizada por métodos íon seletivos ou ionometria este tipo de erro é minimizado, embora ainda existam descrições de pseudo-hiponatremia com mensuração de sódio por ionometria. Hiponatremia isotônica/isosmolar A concentração extracelular de Na+ não se altera. Pode ser associada a infusões isotônicas glicose, manitol, glicina, ou a pseudo-hiponatremia. Sódio: hipo e hipernatremia 3 A dosagem de Na+ mostra-se diminuída em função da super-representação da fração não-aquosa do plasma em relação ao volume plasmático total. Assim, apesar da natremia encontrar-se em valores normais, as amostras terão um volume efetivo de plasma inferior ao habitual, e a extrapolação do valor obtido para o total da amostra levará a uma concentração falsamente baixa. Dessa forma, condições que elevem patologicamente os níveis de proteínas séricas (mieloma múltiplo, macroglobulinemia de Waldenström, amiloidose) ou de lípides (dislipidemias familiares) podem produzir estados de pseudo-hiponatremia. Hiponatremia hipertônica (translocação) CAUSADA POR: Hiperglicemia → translocação de água do intra para o extracelular na tentativa de diminuir a osmolalidade plasmática Deve-se corrigir o Na: Na+ corrigido = Na+ medido + variação da glicemia (1,7 para cada 100 mg/dL de glicemia > que 100 mg/dL) Infusões hipertônicas → glicose, manitol, glicina e contraste radiológico Perda excessiva ou ingesta diminuída de água (idosos, exercícios) Hiponatremia hipotônica Associada a expansão do volume extracelular Associada a volume extracelular normal Associada a contração do volume extracelular Volume extracelular aumentado Sódio corporal total elevado e água corporal total ainda mais elevada → hemodiluição leva à hiponatremia Liberação pressórica de ADH. Insuficiência cardíaca congestiva → reduz o DC, reduz a FE = reduz o fluxo renal = ativação do SRAA; pode causar hipertensão portal, redução de albumina, cirrose hepática, insuficiência renal (aumenta o volume), sd. nefrítica Cirrose hepática Síndrome nefrótica Insuficiência renal TTO: Correção do distúrbio subjacente Restrição salina Diuréticos Restrição hídrica → insuficiência renal em oligoanúria, insuficiência cardíaca grave Volume extracelular normal Hipotireoidismo → redução do DC e estimulação do ADH por barorreceptores (aumento da reabsorção tubular de água) Insuficiência supra-renal Estresse emocional, dor e drogas ❗Síndrome da secreção inapropriada de ADH (SSIADH): Ocorre por secreção aumentada do ADH ou aumento dos receptores de ADH. Secreção de ADH mesmo com baixa osmolalidade plasmática, aumentando a retenção de água e, portanto, diluindo solutos, como o sódio, gerando uma hiponatremia. O aumento de volume plasmático e a hiponatremia aumentam a Sódio: hipo e hipernatremia 4 secreção do peptídeo natriurético atrial e reduzem a secreção de aldosterona, o que promove a excreção de sódio (reduz mais ainda a osmolalidade plasmática de sódio), atraindo água para a urina e gerando um volume extracelular normal. Assim, tem-se hiponatremia hipotônica euvolêmica. Neoplasias → carcinomas (broncogênico, pancreático, prostático, renal), adenocarcinoma de cólon, timoma, osteossarcoma, linfoma, leucemia Patologias do SNC → TCE, isquemia (AVE), meningite, HSA, encefalite, sd. Guillain Barré, hidrocefalia, porfiria intermitente aguda, psicose Pneumopatias → tuberculose, pneumonia bacteriana, aspergilose, bronquiectasia, ventilação sob pressão positiva, neoplasias; infecções Drogas → nicotina, inibidores de prostaglandinas, morfina, antidepressivos (sertalina, fluoxetina), anticonvulsivantes, quimioterápicos (ciclofosfamida, azatioprina, vincristina, colchicina), neurolépticos (haloperidol, fenotiazinas), anti-Parkinsonianos, fibratos, amiodarona, somatostatina, clorpropamida, barbitúrico Sintomas (de hiponatremia) → cefaleia, náusea, vômitos, tremores, cãimbras, edema cerebral (confusão, alucinação, mudanças de humor, até convulsões, coma e morte) Dx → clínica + laboratorial (hiponatremia, hipo-osmolalidade plasmática, com hiperosmolalidade urinária e hipernatriurese com uricosúria) A hiponatremia reduz a osmolalidade plasmática: Uosm pode variar de 60 a 1200mOsm/Kg H2O em pessoas normais → Uosm deveria estar no valor mais baixo (60 mOsm/KgH2O) para excretar a água livre Uosm >100 mOsm/KgH2O Uosm>Posm Urina deveria estar maximamente diluída para excretar o excesso de água livre, mas não está. Ddx → sd. cerebral perdedora de sal = liberação de BNP, com hipovolêmiaTto → ttar causa e redução de ingesta de líquidos + ingesta de sódio; SF hipertônico Depleção de potássio Potomania → aumento da ingestão de líquidos TTO: Deficiência de hormônio tireoideano ou corticosteróides → reposição hormonal ❗SSIADH → diuréticos de alça, carbonato de lítio, demeclortetraciclina; a osmolaridade da solução administrada (3%) tem que ser maior que a osmolaridade da urina❗ Volume extracelular diminuído Perdas TGI ou para o 3° espaço → Na+ urinário <20 mEq/l Perdas renais (Na+ urinário >40 mEq/l) Uso de diuréticos Sódio: hipo e hipernatremia 5 Nefrite perdedora de sal Doença de Addison (insuficiência supra-renal) → diminuição na produção de cortisol e aldosterona, com perda urinária de sódio e retenção de potássio Diurese osmótica TTO: Perdas TGI ou para o 3° espaço → hidratação com SF 0,9% Perdas renais → hidratação com SF 0,9%, correção do distúrbio adjacente Reposição de sódio Deve ser realizada em hiponatremia sintomática ou Na <125 mEq/l. obs.: <120 = grave, mas analisar sintomas Duração deve ser considerada → aguda (<24-48 horas = tto agressivo) ou crônica (>48 horas = tto brando por risco de desmielinização osmótica pontina e extrapontina). Resposta celular precoce à hipoosmolalidade (adaptação rápida) → perda de íons (sódio, potássio e cloreto); imediata Resposta tardia à hipoosmolalidade (adaptação tardia) → perda de osmólitos orgânicos; 24 a 48 horas Hiponatremia e o cérebro Osmolalidade intracelular cerebral = osmolalidade plasmática Osmolalidade intracelular cerebral = soluto /água Sódio: hipo e hipernatremia 6 Os osmólitos orgânicos (osmóis idiogênicos) são solutos orgânicos intracelulares osmoticamente ativos que podem variar a concentração sem afetar a função celular. São perdidos pelo cérebro em 24 a 48 horas em resposta à hiponatremia. Polióis → sorbitol, mio-inositol Aa → taurina, alanina e prolina Metilaminas → betaína, glicerilfosforilcolina Com o início da hiponatremia, demora 48h para perder osmólitos orgânicos e minimizar o edema cerebral. Após correção, demoram 5 dias para recuperar os osmólitos. SF x SG e % O que ocorre quando reponho 1000ml de SF 0,9%? Toda solução fica no extracelular devido ao Na+ → 2/3 vão para o interstício (660ml) e 1/3 fica no vaso (340ml) O que ocorre quando reponho 1000ml de SG5%? A solução se distribui → 2/3 vão para o intracelular (670ml), 1/3 fica no extracelular (330ml - 2/3 vão para o interstício = 220ml e 1/3 fica no vaso = 110ml) Portanto, reposição volêmica deve ser feita com SF 0,9%❗ obs.: idosos → NaCl 6g Na + furosemida Aguda (<24h) Edema cerebral, convulsão e morte por herniações, especialmente em mulheres jovens e crianças. Correção rápida reverte o quadro sem sequelas ou lesões histológicas, bem tolerada. TTO → NaCl 3% 100-300 ml em 10-30min ou 30ml de NaCl 20% em bolus (ou 30ml de NaCl 20% em bolus (eleva Na em ~5 mEq-l e reduz a PIC em 40%) obs.: corredores de maratona ❗ Sódio: hipo e hipernatremia 7 Crônica (>48h) Mínimo edema cerebral → adaptações minimizam edema cerebral mas alteram função cerebral de modo reversível (náuseas e vômitos, confusão e alterações da personalidade, distúrbios da marcha, convulsões com valores de sódio muito baixos) Bem tolerada se não tratada. Correção rápida causa deterioração neurológica de início lento, com desmielinização pontina e extrapontina, desidratação cerebral e morte❗ TTO: Deve ser lenta, e não ultrapassar 0,5 mEq/l/hora Recomenda-se não ultrapassar 10-12 mEq/l/24 horas Condições que aumentam o risco de complicações neurológicas: Alcoolismo Desnutrição Hipopotassemia Queimados Mulheres idosas em uso de tiazídicos Se ultrapassar 12 mEq/l → deterioração pontina: Sódio: hipo e hipernatremia 8 LIMITE TERAPÊUTICO → correção não pode exceder 6-8 mEq-l em 24h, independente de ser agudo ou crônico e da apresentação clínica Tto SSIADH ❗SSIADH → diuréticos de alça, carbonato de lítio, demeclortetraciclina; a osmolaridade da solução administrada (3%) tem que ser maior que a osmolaridade da urina❗ SF 3%, 100-150ml, 10-30 min ou 30ml de NaCl 20% em bolus (eleva Na em ~5 mEq-l e reduz a PIC em 40%) Correção por peso: Sódio: hipo e hipernatremia 9 ex.: pct 60kg com Na+ = 110 mEq/l 1. Repor Na+ com NaCl 3% (1000ml = 513 mEq) 2. Preparo de solução salina 3% 3. Cálculo Reposição de Na+ deve ser acompanhada de uso de diurético de alça, para promover perda de água livre. Deve ser feita dosagem de Na+ após 6 horas → infusão de SG 5% ou DDAVP se detectada elevação excessiva. Hipernatremia Concentração de sódio plasmático >150 mEq/l. Etiologia Perda de água → renal ou extra-renal Renal → diurese osmótica, uso de diuréticos, defeito na concentração renal (DI hipofisário/central = hipotálamo não produz ADH e DI nefrogênico = rins não respondem ao ADH) Extra-renal → sudorese excessiva, diarreia em crianças, perdas insensíveis (crianças, idosos e doentes), grandes queimaduras Adição de sódio → infusão de solução hipertônica, hiperaldosteronismo primário, sd. Cushing, hiperplasia adrenal congênita, afogamento em água salgada DI Sódio: hipo e hipernatremia 10 Quadro clínico Disfunção do sistema nervoso central pela desidratação celular, que pode levar à laceração dos vasos cerebrais, hemorragia sub-aracnóide e trombose dos seios venosos Espasmos musculares Hiperreflexia tremores Ataxia Tto Associado a volume extra-celular contraído (perda de água livre): SF 0,45% até normalização do VEC e depois SG 5% Associado a volume extra-celular normal: SF 0,9% até normalização do VEC e depois SG 5% ou NaCl 0,45% ex.: pct 60kg Na+ = 170 mEq/l 1. Cálculo do déficit de água livre 2. Usar solução com pouco ou sem Na+ 3. Definir a velocidade de infusão - ex.: reduzir 12 mEq/l em 24h Sódio: hipo e hipernatremia 11 Associado a volume extra-celular expandido: Diurético de alça Restrição salina Diálise (insuficiência renal) Ritmo de redução do Na+ sérico → <1 mEq/l/h ou <12 mEq/l/24h Correções mais rápidas podem causar edema cerebral (osmóis idiogênicos).
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