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APG 33: Displasias de Quadril OBJETIVOS: 1. Compreender as características e manifestações dos principais defeitos ósseos congênitos 2. Analisar as patologias osteomusculares mais prevalentes na infância (características e manifestações) 1) DISPLASIA DE QUADRIL: Definição: é uma afecção que acompanha a história da medicina e caracteriza-se por englobar todas as variações que afetam a estabilidade coxofemoral em crescimento. Essa condição pode se manifestar tardiamente como um quadril luxado ou durante a adolescência como um quadril com cobertura acetabular insuficientemente desenvolvida. Etiologia: é multifatorial, podendo ser influenciada por fatores como: • Fatores genéticos: Malformação musculoesquelética causada pela pressão extrínseca da musculatura uterina, frouxidão capsular do quadril; até o momento é o fator mais importante na patogênese • Fatores mecânicos: Posicionamento do feto dentro da cavidade uterina (falta de espaço para feto se desenvolver), posições durante a infância, • Fatores hormonais: Altos níveis de relaxina e estrogênio podem afetar negativamente a formação normal da articulação. Fatores de risco: • Sexo feminino • Apresentação pélvica • Histórico familiar • Torcicolo • Metatarso varo • Oligodramnios (volume de líquido amniótico abaixo do esperado para a idade gestacional) • Assimetria do quadril significativa e persistente • Outras anormalidades musculoesqueléticas significativas Manifestações Clínicas: Durante o período neonatal, geralmente não há outros sinais de anormalidade além dos dois testes clínicos: Ortolani e Barlow. Esses dois testes clínicos podem estar sujeitos a muitos fatores que podem afetar sua confiabilidade. I. Teste de Ortolani: considerado um teste de redução de um quadril luxado. • Essa manobra deve ser realizada com o RN na posição supina no leito do exame, com as articulações coxofemorais e joelhos fletidos em 90 graus, as coxas aduzidas e ligeiramente rodadas internamente. Ao realizar um movimento firme de abdução e sutil rotação externa das coxas, tem-se a sensação tátil de um ressalto ou solavanco. O examinador deve segurar cada coxa da criança entre o polegar e o dedo indicador e médio, realizando um movimento de supinação das mãos. Quando o resultado do teste é positivo, a cabeça femoral sofre um deslizamento, encaixando-se de modo delicado, em que um estalido ou ressalto palpável, mas não audível, pode ser detectado. O examinador deve repetir essa manobra algumas vezes para certificar seus achados, alternando o teste de Barlow com o de Ortolani. O quadril contralateral é então examinado da mesma maneira. II. Teste de Barlow: Realizada em dois tempos; é considerado um teste provocativo, ou seja, de luxação, para se determinar um quadril luxável. • 1º tempo: A criança é posicionada na mesa de exame em supino com os membros inferiores voltados em direção ao examinador. As articulações coxofemorais são mantidas em flexão de 90 graus e as articulações dos joelhos devem ser posicionadas totalmente fletidas. O dedo médio do examinador é colocado sobre o grande trocânter. As coxas são levadas em abdução média e, ao ser realizado o movimento de supinação da mão, é exercida uma força sobre o grande trocânter. Notando que a cabeça femoral entra no acetábulo, pode-se concluir que ela se encontrava luxada. • 2º tempo: consiste em realizar um movimento de pronação da mão e aplicar uma força sobre o polegar, promovendo a retropulsão do quadril a ser examinado. Pode-se, com isso, deslocar ou não posteriormente a cabeça do fêmur. Essa manobra é realizada do mesmo modo do lado oposto. Ao liberar o quadril testado, o reposicionamento do fêmur deslocado ocorre de maneira espontânea. Caso haja dúvida, o exame pode realizado individualmente para cada quadril da seguinte maneira: o examinador utiliza uma das mãos, chamada mão pélvica, para manter a bacia estável, fixando o polegar e o terceiro dedo entre a sínfise púbica e o sacro; com a outra mão o exame é realizado conforme descrito anteriormente. Outros sinais clínicos: 1) Encurtamento aparente de um fêmur em relação ao outro, conhecido como sinal de Nelaton-Galeazzi 2) Hipotrofia de MMII 3) Proeminência do grande trocânter do lado afetado. 4) Assimetria das pregas inguinais e glúteas (sinal de Peter-bade) 5) Limitação da abdução do quadril afetado (sinal de Hart) 6) Sinal de Klisic: uma situação potencialmente perigosa para o examinador inexperiente é a da criança apresentar luxação bilateral do quadril. 7) Sinal de Trendelemburg: posição do quadril inclinada para o lado oposto ao lado acometido Classificação: Geralmente feita por método de Graf (USG, padrão ouro até 6 meses) e pela idade da criança • Displasia do quadril neonatal: Diagnosticada em recém-nascidos até cerca de 2 meses de idade. • Displasia do quadril infantil: Diagnosticada entre 2 meses e 1 ano de idade. • Displasia do quadril infantil tardia: Diagnosticada após 1 ano de idade. 2) DEFICIÊNCIA CONGENITA DO FÊMUR: Definição: condição na qual há uma ausência parcial ou total do osso do fêmur, o osso longo localizado na coxa. Essa condição é presente no nascimento e pode variar em gravidade, desde uma ausência parcial do fêmur até a completa ausência do osso. Etiologia: O defeito ocorre durante o período de morfogênese do embrião, entre a quinta e a sexta semana da vida intrauterina, período em que o fêmur se encontra em formação. Não há evidência de uma entidade de causa genética reconhecida como fator etiológico, e casos de ocorrência familiar não são descritos. Agentes traumáticos físicos, químicos e infecciosos podem ser responsáveis pela gênese das más-formações das extremidades, incluindo a DCF. Fatores de risco: • História familiar: Ter parentes próximos com histórico de deficiência congênita do fêmur pode aumentar o risco de uma pessoa desenvolver a condição. • Fatores ambientais: Exposição a certos medicamentos, substâncias químicas ou infecções durante a gravidez pode aumentar o risco de desenvolvimento da deficiência congênita do fêmur. Manifestações Clínicas: • Encurtamento da perna afetada e diâmetro mais alargado • Instabilidade ou deformidade do quadril • Hipotrofia muscular e encurtamento/ausência de ligamentos 3) PÉ TORTO CONGÊNITO: Definição: diversas deformidades anatômicas no pé, de origem genética, em alguns casos podem ser bilaterais (50%) Etiologia: combinação de fatores genéticos + fatores ambientais; • Fatores genéticos: predisposição genética para a condição, com um risco maior em famílias com histórico de pé torto congênito • Fatores ambientais: estrição do espaço intrauterino, posicionamento fetal anormal ou problemas na formação dos tecidos moles e estruturas ósseas do pé Fatores de risco: • Sexo masculino • Histórico familiar • Restrição do espaço uterino • Oligodramnios Manifestações Clínicas: podem variar em gravidade, desde casos leves até casos mais graves • Pé com características de: varo, equino, cavo, aduzido e supinado. • Pode haver rigidez muscular e resistência ao movimento passivo do pé • Diminuição da flexibilidade e mobilidade do tornozelo e pé • Assimetria entre pé afetado e pé não afetado Classificação: • Postural: sem rigidez, e reduz com facilidade • Idiopático: deformidades bem estruturadas • Teratológico: secundário a doenças de base (mielomeningocele, artogripose) 4) EPIFISIÓLISE PROXIMAL DO FÊMUR/COXA VARA: Definição: É um dos distúrbios comuns que afetam o quadril durante a adolescência, geralmente dos 9 aos 16 anos, e também é chamada de deslizamento, escorregamento, deslocamento do fêmur proximal ou coxa. Vara do adolescente. Etiologia: multifatorial, podendo ocorrer por disfunções hormonais, traumáticas, genéticas/hereditárias, anatômicas (excessiva retroversão de colo), inflamatórias Fatores de risco: • Sexo masculino• Idade entre 9-16 anos • Raça negra • Distúrbios endocrinológicos Manifestações clínicas: • Dor insidiosa com episódios de agudização (piora) • Marcha claudicante com rotação externa do MMII acometido • Flexão limitada do quadril, tendencia a rotação externa (sinal de Drehmann) 5) SINOVITE TRANSITÓRIA DO QUADRIL: Definição: é uma infecção transitório no quadril, também é a causa mais comum de dor no quadril em crianças, autolimitada, associada a processo infeccioso recente, reações alérgicas ou trauma. Etiologia: A causa exata da sinovite transitória do quadril não é totalmente compreendida, mas acredita-se que possa ser desencadeada por uma resposta inflamatória a uma infecção viral leve ou a um evento imunológico. Embora não haja uma causa específica identificada, alguns fatores têm sido associados à sinovite transitória do quadril. Esses fatores incluem: • Infecções virais: Acredita-se que uma infecção viral prévia possa desencadear a resposta inflamatória na membrana sinovial do quadril. Infecções virais comuns, como resfriado comum, infecção do trato respiratório superior ou gastroenterite, têm sido relatadas em alguns casos. • Resposta imunológica: Em alguns casos, a sinovite transitória do quadril pode ser desencadeada por uma resposta inflamatória imunológica desproporcional do corpo, mesmo na ausência de infecção ativa. • Fatores genéticos: Existe uma predisposição genética para a sinovite transitória do quadril. Alguns estudos sugerem uma associação entre certos genes e o desenvolvimento dessa condição, mas a pesquisa ainda está em andamento para esclarecer melhor essa relação. Fatores de Risco: • Meninos • Idade entre 3-12 anos • Infecção viral/bacteriana recente (otite, TGI, vias aéreas superiores) • Predisposição genética Manifestação Clínica: • Dor de início súbito no quadril que impede a criança de deambular • A dor pode ser referida na face anterior da coxa ou do joelho • Claudicação e limitação dos movimentos do quadril • Os sintomas duram de 1 a 10 dias. 6) DOENÇA DE LEGG-CALVÉ-PERTHES: Definição: É uma doença que causa necrose avascular autolimitada na cabeça do fêmur, acomete crianças entre 4-12 anos principalmente. Etiologia: multifatorial, sendo a principal teoria vascular, associada a deficiência das proteínas C e S, que levam a formação de micro êmbolos e infarto da cabeça do fêmur; além dos componentes genéticos (distúrbio do crescimento e desenvolvimento), fatores ambientais, sequelas de sinovite, fatores nutricionais, fumantes passivos. Fatores de risco: • Sexo masculino • 4-10 anos • Histórico familiar • Anormalidade de fatores vasculares • Exposição ao fumo passivo ou uso de esteroides Manifestações clínicas: • Dor inguinal ou na face anterior da coxa • Claudicação • Limitação dos movimentos do quadril (abdução e rotação interna) • Em fases mais avançadas pode haver diminuição do comprimento do membro • Fraqueza do musculo glúteo médio (sinal de Trendelemburg) 7) ESCOLIOSE IDIOPÁTICA DO ADOLESCENTE: Definição: desvio do eixo normal da coluna, principalmente em plano frontal; ocorre comumente em crianças e adolescentes. A forma mais comum é a de etiologia idiopática (80% dos casos) Etiologia: multifatorial, podendo ocorrer por etiologia idiopática (causa desconhecida), congênita, paralítica (associada a doenças que causam paralisia cerebral), distrofias musculares, doenças neuromusculares que cursam com fraqueza muscular. Pode ser classificada em primaria ou secundária (ocorre por uma doença preexistente), ou em estrutural e não estrutural Fatores de risco: • Sexo feminino • Idade entre 10-18 anos • Histórico familiar • Assimetria corporal • Postura inadequada • Sedentarismo • Lesões ou trauma subjacente Manifestações clínicas: • Curvatura torácica (a mais comum é para direita) • Assimetria dos ombros, gradil costal, ângulo de talhe, escápulas • Desalinhamento do quadril • Desvio da linha média • Dores nas costas REFERÊNCIAS: • Júnior, Dioclécio, C. et al. Tratado de pediatria. v.2. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Manole, 2021. • Hebert, Sizínio, et al. Ortopedia e Traumatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Grupo A, 2017. • MARIEB, E. N.; WILHELM, P. B.; MALLATT, J. Anatomia Humana. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. ISBN 978-85-4301-496-8. • LIMA, Emílio Pandeló et al. Uma análise da displasia do desenvolvimento de quadril no Brasil: revisão de literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 15, n. 7, p. e10698-e10698, 2022. • DAVID, Vinícius Escobar; DE OLIVEIRA RODRIGUES, Victor; DE SIQUEIRA, Emílio Conceição. Uma abordagem geral da Osteogênese imperfeita. Revista Eletrônica Acervo Médico, v. 23, n. 3, p. e12125-e12125, 2023. • RODRIGUES, Michelle Lopes. A eficácia do tratamento fisioterapêutico no torcicolo congênito: uma revisão de literatura. 2022. • Skinner, Harry, B. e Patrick J. McMahon. Ortopedia ATUAL. Disponível em: Minha Biblioteca, (5a edição). Grupo A, 2015.
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