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APG 34: Osteoporose OBJETIVOS: 1. Revisar a morfofisiologia do quadril 2. Revisar o processo fisiológico do metabolismo ósseo 3. Compreender os fatores de risco da osteoporose 4. Analisar as causas e consequências das fraturas na qualidade de vida do paciente MORFOFISIOLOGIA DO QUADRIL: O quadril é uma articulação que conecta a cabeça do fêmur ao osso da pelve, chamado de acetábulo. Ele desempenha um papel fundamental na locomoção, suporte de peso e estabilidade do corpo. A morfofisiologia do quadril envolve a estrutura anatômica e as funções fisiológicas relacionadas a essa articulação. Aqui está um resumo da morfofisiologia do quadril: Estrutura anatômica: • Articulação: → Articulação coxofemoral: Também conhecida como articulação do quadril, é a principal articulação do quadril. É uma articulação sinovial do tipo bola e soquete, onde a cabeça do fêmur se encaixa no acetábulo da pelve. • Cartilagem: → Cartilagem articular: A superfície da cabeça do fêmur e do acetábulo é revestida por uma camada de cartilagem articular, que ajuda a reduzir o atrito e permite movimentos suaves. • Ligamentos: → Ligamento iliofemoral: É um dos principais ligamentos do quadril. É responsável por fornecer estabilidade à articulação, prevenindo a hiperextensão. → Ligamento pubofemoral: Outro ligamento importante que contribui para a estabilidade do quadril, ajudando a limitar a abdução excessiva da articulação. → Ligamento isquiofemoral: Este ligamento reforça a cápsula articular posteriormente e ajuda a prevenir a hiperextensão excessiva do quadril. • Músculos: Vários músculos, incluindo os músculos do quadríceps, isquiotibiais, glúteos e adutores, atuam em conjunto para promover movimentos, suporte e estabilidade do quadril. Funções fisiológicas: • Suporte de peso e locomoção: O quadril suporta o peso corporal e está envolvido em atividades como caminhar, correr, saltar e levantar objetos. • Movimento: A articulação do quadril permite uma ampla gama de movimentos, incluindo flexão, extensão, rotação interna e externa, abdução e adução. Esses movimentos são essenciais para a mobilidade do corpo e realização de atividades diárias. • Estabilidade: Os ligamentos, músculos e a forma anatômica da articulação do quadril proporcionam estabilidade necessária para suportar as forças e cargas transmitidas durante a movimentação. • Transmissão de forças: O quadril transfere as forças geradas pela ação dos músculos e pelo peso do corpo para a coluna vertebral e membros inferiores. PROCESSO FISIOLÓGICO DO METABOLISMO ÓSSEO: O tecido ósseo é um órgão endócrino, pois constantemente recebe estímulos do PTH e calcitonina. Ele é constituído de elementos celulares e não celulares, mantendo intima relação com o tecido medular hematopoiético. Componentes do sistema ósseo: 1) Matriz extracelular óssea: Representa 90% do volume total dos ossos. Consiste em elementos inorgânicos (calcificada) e orgânicos (não calcificada). • Matriz extracelular óssea inorgânica: representa 99% do armazenamento corporal de cálcio, 85% do fósforo e 40-60% do magnésio e sódio (principalmente na forma de hidroxiapatita), confere ao osso forca, rigidez e resistência a forcas compressivas. • Matriz óssea orgânica: é secretada pelos osteoblastos e há predomínio de colágeno tipo I. Contém também glicoproteínas, proteoglicanos, fatores de crescimento, osteocalcina, osteonectina e sialoproteína óssea, que desempenham papéis importantes na formação do osteoide, na mineralização e remodelação óssea. A matriz orgânica dá ao osso sua forma e fornece resistência a forças de tração. 2) Células Ósseas: • Células de revestimento: são osteoblastos quiescentes, ou osteoblastos inativos e achatados que cobrem as superfícies ósseas, onde não ocorre a remodelação óssea. A atividade dessas células depende do status fisiológico do osso, e a partir disso elas podem aumentar de tamanho e adotar uma aparência cuboidal. Elas têm como função impedir a interação direta entre osteoclastos e matriz óssea, impedindo a ocorrência de reabsorção óssea, e também participam da diferenciação dos osteoclastos, produzindo osteoprotegerina (OPG) e do RANKL. • Osteoblastos: são as células formadoras de osso. Podem se manter em forma inativa (celular de revestimento) ou se transformar em osteócitos. São compactados na superfície óssea, sintetizam e secretam a matriz óssea (osteoide). Regulam a mineralização óssea por meio da secreção de fosfatase alcalina e um conjunto de proteínas denominadas proteínas da matriz da dentina (DMP-1) e a sialoproteína óssea, os quais atuam como núcleos da mineralização. Secretam também osteoclacina e osteonectina que permitem a ligação entre cálcio e fosfato, promovendo deposição de minerais e regulando a quantidade de cristais de hidroxiapatita. A vitamina D e o PTH estimulam os osteoblastos a secretar M-CSF e a expressar o RANKL, que são responsáveis por regular a osteoclastogênese (quebra da matriz óssea) • Osteócitos – células mecanossensíveis: representam 90% de todas as células ósseas e são derivados de osteoblastos. São responsáveis por coordenar todo o processo de remodelação óssea, atuando como orquestradores da remodelação óssea. São consideradas células endócrinas por estarem ligados entre si e com as superfícies ósseas e por ter como principal função a mecanossensibilidade (detectam a carga mecânica por meio da deformação física da matriz óssea e tensão de cisalhamento, resultante do fluxo do fluido canalicular através da rede lacunar e canalicular. • Osteoclastos: são células de reabsorção óssea, multinucleadas e originadas a patir de celular mononucleares (monócitos/macrófagos) ou seja, são “destruidoras” de osso, permitindo assim a reabsorção óssea. Os osteoclastos atuam liberando ions hidrogênio, que acidificam o compartimento de reabsorção sob a “borda em escova”, dissolvendo o componente mineral da matriz óssea, enquanto a catepsina K e a fosfatase acida resistente ao tartarato (TRAP) digerem a matriz proteica, composta por colágeno I. o PTH estimula osteoclastos enquanto a calcitonina inibe osteoclastos. OBS: • O PTH estimula os osteoclastos a realizarem a “quebra” da matriz óssea, aumentando assim os níveis de cálcio sérico. A calcitonina por sua vez, inibe a ação osteoclástica, fazendo com que haja aumento dos níveis de cálcio no osso, contribuindo para a atividade osteoblástica, e consequentemente para a formação da matriz óssea. • Naturalmente, tem-se um equilíbrio entre osteoclastos e osteoblastos, assim como uma regulação entre PTH e calcitonina, de modo a manter a homeostase óssea. Quando um deles se sobressai, sejam osteoclastos ou osteoblastos, teremos alterações na composição óssea, para menos (se osteoclastos aumentados) e para mais (se osteoblastos aumentados) 3) Remodelação óssea: é o processo no qual o osso antigo é substituído pelo osso novo (10%/ano), resultando na renovação do esqueleto a cada 10 anos. OSTEOPOROSE: Definição: a osteoporose é caracterizada por uma patologia do esqueleto, em que ocorre diminuição da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, gerando aumento da fragilidade óssea e aumento da tendencia a fraturas Epidemiologia: a osteoporose costuma acometer 40% das mulheres brancas e 13% dos homens brancos acima dos 50 anos de idade. A fratura do fêmur proximal (fratura de quadril) é aquela com maior gravidade e está associada a altas taxas de morbidade e mortalidade. No brasil, assim como no restante dos países, as mulheres seguem sendo a população mais acometida. Fatores de risco: • Idade >60 anos (apoptose, aumento do estresse oxidativo, macroautofagia • Sexo feminino • Menopausa • Raça caucasiana • Histórico familiar de osteoporose/fratura • Deficiência de esteroides sexuais (estrogênio, contribui na inibição de osteoclastos e estimulação de osteoblastos levandoa formação da matriz óssea) • Tabagismo • Sedentarismo • Consume excessivo de álcool (>3 doses/dia) • Baixa ingesta de cálcio na dieta • Baixo peso (IMC<19kg/m²) Patogênese: a patogenia pode ser primária ou secundária, influenciada por fatores genéticos, ambientais ou não genéticos. Dentre os fatores envolvidos com a patogênese, encontram-se: • Deficiência de Estrogênio (menopausa): A diminuição dos níveis de estrogênio em mulheres após a menopausa é uma das principais causas da osteoporose. O estrogênio desempenha um papel importante na regulação do metabolismo ósseo, inibindo a atividade dos osteoclastos (células responsáveis pela reabsorção óssea) e estimulando a formação óssea pelos osteoblastos. A deficiência de estrogênio leva a um aumento da reabsorção óssea, resultando em perda óssea acelerada. • Envelhecimento: O envelhecimento naturalmente leva à diminuição da densidade mineral óssea e à diminuição da capacidade de formação óssea pelos osteoblastos. Além disso, ocorre um desequilíbrio entre a atividade dos osteoclastos e dos osteoblastos, com a reabsorção óssea superando a formação óssea, o que contribui para a perda óssea associada à osteoporose. • Fatores Genéticos: A predisposição genética desempenha um papel importante na determinação da suscetibilidade à osteoporose. Alguns genes estão associados a uma menor densidade mineral óssea e a um aumento do risco de fraturas. • Deficiência de Vitamina D: A vitamina D desempenha um papel crucial na absorção intestinal de cálcio e na regulação do metabolismo ósseo. A deficiência de vitamina D pode levar a um menor teor de cálcio nos ossos, resultando em fragilidade óssea e aumento do risco de fraturas. • Baixa ingestão de cálcio: A ingestão inadequada de cálcio na dieta pode levar a um desequilíbrio entre a formação e reabsorção óssea, resultando em perda óssea acelerada. • Estilo de Vida Sedentário: A falta de atividade física e o estilo de vida sedentário podem contribuir para a perda óssea, pois o exercício regular estimula a formação óssea e fortalece os ossos. • Uso crônico de medicamentos: Alguns medicamentos, como corticosteroides e alguns medicamentos anticonvulsivantes, podem afetar negativamente o metabolismo ósseo e aumentar o risco de osteoporose. Na osteoporose, há um desequilíbrio entre a atividade dos osteoclastos e dos osteoblastos, resultando em uma perda óssea acelerada. Em resumo, na osteoporose, há uma maior atividade dos osteoclastos, responsáveis pela reabsorção óssea, e uma diminuição da função dos osteoblastos, responsáveis pela formação óssea. Esse desequilíbrio resulta em uma perda óssea acelerada e na diminuição da densidade mineral óssea, levando a um aumento do risco de fraturas. Manifestações Clínicas: A osteoporose é uma doença de evolução silenciosa e as manifestações clínicas surgem na ocasião de uma fratura, que geralmente ocorre no rádio distal, nas vértebras, no fêmur e no úmero. • Fraturas vertebral (é a manifestação clínica mais comum, mas a maior parte é assintomática e pode ser achada incidentalmente por RX) Já as fraturas sintomáticas cursam com: • Dor que pode variar de leve a intensa, restrita ao sítio ou com irradiação para o abdômen • Febre • Cifose • Redução de altura Diagnóstico: • Pode ser clínico (se fratura presente), por meio de exames de imagem como densitometria óssea (DXA) e RX. • Os exames laboratoriais solicitados geralmente são usados para descartar causa secundaria. Já na osteoporose primária são avaliados fosforo, cálcio, PTH, fosfatase alcalina óssea, 250OHD. • Marcadores bioquímicos: tem-se os de degradação óssea, resultantes da degradação de colágeno tipo I (CTX e NTX) e os marcadores de formação (fosfatase alcalina, (P1NP) e osteocalcina. Tratamento: pode ser farmacológico ou não • Não farmacológico: tem como objetivo instituir medidas que reduzam os fatores de risco modificáveis por meio de dieta e mudanças de estilo de vida, como cessar tabagismo, limitar o consumo de álcool, iniciar programa de exercícios físicos e prevenção de quedas. Além disso, os pacientes devem ser informados/educados sobre a doença e o risco de fraturas. A ingesta de suplementos de vitamina D e cálcio é indicada quando necessária, porem atua principalmente na prevenção. • Farmacológico: CLASSE: REPRESENTANTE: MECANISMO DE AÇÃO: EFEITO ADVERSO: Bifosfonatos Alendronato Risedronato Ibandronato São fármacos antirreabsortivos atuam por meio da inibição de osteoclastos ao se ligarem a hidroxiapatita, Irritação do TGI (se não forem tomados em jejum em posição ereta) Dor muscular e articular resultando em menor perda óssea Terapia de Reposição Hormonal (TRH) Estradiol A terapia hormonal envolve a administração de estrogênio ou estrogênio combinado com progesterona, que ajuda a prevenir a perda óssea e estimula a formação óssea por meio dos osteoblastos. Aumento do risco de câncer de mama, TVP, AVE e doenças cardíacas Moduladores Seletivos do Receptor de Estrogênio (SERMs): Raloxifeno Agem seletivamente nos receptores de estrogênio, estimulando a formação óssea e reduzindo a reabsorção óssea. Aumenta risco de TVP, fogachos e câimbra nas pernas Denosumabe: Desonumabe É um anticorpo monoclonal que inibe o RANKL (ligante do ativador do receptor do fator nuclear kappa-B), reduzindo a atividade dos osteoclastos e, assim, diminuindo a reabsorção óssea. Infecção respiratória superior Dor musculoesquelética Hipocalcemia (Raro) Teriparatida: Teriparatida É o único reabsortivo, atua como uma forma sintética do hormônio da paratireoide (calcitonina) estimulando a absorção óssea por meio da estimulação de osteoblastos. Náusea Dor de cabeça Tontura CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DAS FRATURAS NA VIDA DO PACIENTE: Causas: • Trauma: Quedas, acidentes automobilísticos, esportes de alto impacto e outras formas de lesão traumática podem resultar em fraturas ósseas. • Osteoporose: A perda de massa óssea e enfraquecimento dos ossos devido à osteoporose aumentam o risco de fraturas, mesmo com pequenos traumas ou quedas. • Condições médicas subjacentes: Certas condições médicas, como câncer ósseo, osteogênese imperfeita (doença dos ossos frágeis), doenças metabólicas e deficiências nutricionais, podem tornar os ossos mais frágeis e suscetíveis a fraturas. Consequências das fraturas na qualidade de vida: • Dor e desconforto: As fraturas geralmente causam dor intensa, que pode afetar significativamente o bem- estar físico e emocional do paciente. A dor pode interferir na realização de atividades diárias, como caminhar, dormir e realizar tarefas domésticas. • Restrição da mobilidade: Dependendo da localização e gravidade da fratura, pode ser necessária a imobilização do membro afetado por meio de gesso, tala ou cirurgia. Isso pode resultar em restrição da mobilidade, dificuldade para se locomover e a necessidade de auxílio para realizar tarefas básicas. • Impacto nas atividades diárias: As fraturas podem limitar a capacidade do paciente de realizar atividades diárias, como vestir-se, tomar banho, preparar alimentos e outras tarefas rotineiras. Isso pode levar à dependência de cuidadores e à perda de independência. • Diminuição da qualidade de vida: A dor, a incapacidade de realizar atividades normais e a necessidade de reabilitação podem afetar a qualidade de vida geral do paciente. A fratura também pode levar a uma redução da participação em atividades sociais e recreativas, levando a sentimentos de isolamento e baixo estado de espírito. • Complicações pós-fratura: Algumas fraturas podem levar a complicações, como infecção, má cicatrização óssea, rigidez articular, deformidades e disfunção crônica. Essas complicações podem prolongar o tempo de recuperação e impactar negativamente a qualidade de vida do paciente. Referências: Shinjo, Samuel,K. e Caio Moreira. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia 2a ed.. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Editora Manole, 2020.
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