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Processo Civil

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299
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1.1. Teoria Geral do Processo
1.1.1. Aplicação da lei processual no tempo e no espaço
· Aplicação da lei processual no tempo
De acordo com a teoria da unidade processual, se o processo se iniciou na vigência do Código de 1973, ainda que entre em vigor o CPC de 2015, continuar-se-ia adotando e aplicando o CPC de 1973, mesmo naqueles processos antigos, ainda que não tenham sido julgados.
A segunda teoria é chamada de fases processuais. De acordo com esse modelo, irá se aguardar o encerramento da fase em que o processo se encontra. Imagine que o processo estivesse na fase de conhecimento: espera-se acabar a fase de conhecimento, sendo que para os recursos e para a execução já se aplicaria o CPC novo. 
A terceira teoria é a do isolamento dos atos processuais. Neste caso, a lei processual teria aplicação imediata. Ainda que o processo seja antigo, já se aplica a lei nova, respeitando os atos já praticados. Essa teoria refere-se à regra do CPC de 2015, conforme dispõe o art. 14.
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
Há nas disposições finais do CPC vários casos excepcionais, em que não se aplica a teoria do isolamento dos atos processuais. Por exemplo, o art. 1.046, § 1º: 
§ 1 As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência deste Código.
Além da usucapião, não há mais a ação de anulação de título ao portador, ação de depósito, ação de nunciação de obra nova. Não tem mais a imensa maioria dos processos cautelares autônomos. 
O art. 1.046, § 1º, adota a teoria das fases processuais. Se há uma demanda que observava a usucapião, instaurada na vigência do CPC de 1973, o Código estabelece a continuação do CPC de 1973 até a sentença para dar mais segurança, porque o rito não existe mais. Assim, para recorrer e para executar, deve se observar o Código novo. Foi uma solução intermediária. 
O art. 1.047 segue esse sistema das fases processuais. Por esse artigo, se a prova foi requerida ou deferida de ofício pelo juiz quando o processo ainda seguia o Código de 1973, essa prova será produzida observando o Código anterior. Se ela foi requerida ou deferida na vigência do CPC de 2015, observa-se o CPC de 2015.
Art. 1.047. As disposições de direito probatório adotadas neste Código aplicam-se apenas às provas requeridas ou determinadas de ofício a partir da data de início de sua vigência.
Destaca-se que o art. 1052 determina a ultratividade da norma processual revogada.
Art. 1.052. Até a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
A insolvência civil é um procedimento da competência da justiça estadual, mesmo que haja crédito a favor da União. 
· Aplicação da lei processual no espaço
Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte.
Como regra, iremos aplicar a norma processual produzida internamente.
1.1.2. Jurisdição
Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.
Iurisdictio = dizer o direito.
Modernamente, jurisdição é mais do que dizer o direito, compreendendo também efetivar o direito. 
Na fase de conhecimento tem-se um mérito, que é justamente a análise da pretensão, sendo resolvido na própria sentença da fase de conhecimento. 
Já na execução também existe o mérito, uma expectativa, que não é uma sentença favorável, mas sim o cumprimento da obrigação constante no título executivo. Curiosamente, o mérito é atendido antes da sentença, pois primeiro o credor recebe e depois o juiz dá uma sentença pro-forma somente para julgar extinta a obrigação. 
Características: 
a) Inércia (princípio do dispositivo): a atividade jurisdicional é uma atividade pública, que é inerte pelo fato de depender da provocação do interessado para que haja o início da prestação jurisdicional. No momento em que a ação é proposta, o judiciário presta a jurisdição nos limites da provocação, o que é conhecido como princípio da congruência. 
Caso o estado-juiz vá além do que foi provocado, a sentença padece de um vício parcial chamado de ultra petita.
Há possibilidade, também, da decisão jurisdicional ser extra petita, que ocorre quando, por exemplo, o autor perde um tema X e, às vezes, o juiz se equivoca e dá um tema Y na sentença, totalmente diferente do que foi pedido. 
Outro vício que pode ocorrer é o da sentença citra petita, que é aquela em que o juiz não analisa tudo que foi requerido pela parte. 
ABRE-SE UM PARÊNTESE PARA DIZER QUE O JUIZ PODE DAR ALGO DIFERENTE DO QUE A PARTE PEDIU NAS SITUAÇÕES QUE ENVOLVEM FUNGIBILIDADE.
Existem casos de jurisdição sendo prestada de ofício (princípio do inquisitivo), onde o juiz deve impulsionar o processo. Exemplo no CPC de 2015 se refere à restauração dos autos do art. 712, que já existia, mas não podia ser de ofício. 
Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.
b) Substitutividade: quando há um processo, o magistrado substitui a vontade das partes para aplicar o ordenamento jurídico. 
c) Litígio: a lide costuma estar presente, mas pode ser um elemento acidental; 
d) Definitiva: possibilidade da formação de coisa julgada no processo. A coisa julgada é própria do exercício da atividade jurisdicional. 
e) Inafastabilidade: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Também conhecido como princípio do acesso à Justiça ou da ubiquidade.
Art. 3º - Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
f) Inevitabilidade: diz respeito à vinculação obrigatória das partes ao processo, que passam a integrar a relação processual em um estado de sujeição aos efeitos da decisão jurisdicional.
Quais são os princípios da jurisdição?
· princípio do Juiz Natural: proíbe a criação de um tribunal de exceção para julgar casos específicos. Ele determina também que o magistrado tenha competência para julgar o caso e tenha atribuição legal.
· princípio da investidura: o juiz deverá ser investido, por meio de concurso público, provas e títulos, para ter autorização de atuar nas ações judiciais. Diz respeito ao fato de que somente aquele investido da função judicante poderá exercer a jurisdição.
· princípio da indelegabilidade: o juiz não pode transferir o julgamento de um processo para outro magistrado.
· princípio da inevitabilidade: as partes envolvidas não podem impedir a decisão sob o caso, e, por isso, são obrigadas a cumpri-las.
· princípio da inafastabilidade: toda lesão ou ameaça ao direito do cidadão não poderá ficar escondida do Poder Judiciário.
· princípio da aderência ao território: os casos serão julgados em sua devida base territorial.
Não ofende o princípio da inafastabilidade da jurisdição norma legal que condiciona a elaboração do termo aditivo à renúncia expressa e irrevogável ao direito em que se fundam ações judiciais cujo objeto é dívida ou contrato celebrado com a União. Logo, a cláusula de desistência de eventuais ações judiciais que tenha por objeto a dívida ou contrato ora renegociados, prevista pela Lei Complementar n. 156, de 2016, constitui legítimo mecanismo de autocomposição. STF. Plenário, Pet 7444, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21/12/2020. STF. Plenário, ACO 3085, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 04/04/2022.
Em que consiste os Regimes de Recuperação Fiscal?
Em linhas gerais (como concebido pela Lei Complementar nº 159, de 19 de maio de 2017, e modificado pela Lei Complementarnº 178, de 13 de janeiro de 2021):
-trata-se de um programa fiscal para Estados em situação de desequilíbrio financeiro; 
-constituído por conjunto de medidas de ajuste fiscal que devem ser adotadas como condição para a concessão de prerrogativas que visam a permitir o reequilíbrio das contas; 
-mais especificamente, é uma estrutura legal que permite a concessão de benefícios, tais como a flexibilização de regras fiscais, concessão de operações de crédito e suspensão do pagamento da dívida, desde que o Estado pleiteante adote reformas institucionais para garantir que o equilíbrio fiscal seja restaurado.
O RRF provê para esses Estados alívio financeiro de curto prazo através da suspensão do pagamento da dívida, do provimento de garantia da União na contratação de operações de crédito e/ou da flexibilização de regras fiscais. 
Em troca, o Estado precisa elaborar e implementar um Plano de Recuperação Fiscal que garanta o restabelecimento do equilíbrio e submete-se a diversas limitações em sua política fiscal que ensejem um aprofundamento da situação de desequilíbrio como, por exemplo, aumento de salários de servidores. 
Ademais, existe um grupo de medidas fiscais mínimas que todos Estados precisam implementar antes mesmos de aderir ao RRF. 
Portanto, tanto a adesão quanto a permanência no RRF requerem processos para assegurar que 
1) apenas Estados em desequilíbrio financeiro adiram ao Regime;
2) os Planos a serem implementados sejam suficientes para equilibrar as contas do Estado; 
3) a situação fiscal do Estado e a implementação das medidas sejam acompanhadas de forma que eventuais desvios sejam corrigidos durante o Regime; e 
4) o Regime seja encerrado de forma aderente com a legislação, i.e., em virtude do atingimento do equilíbrio, do término do prazo ou do não cumprimento do PRF por parte do Estado. 
De início, o STF afirmou que, as disposições da LC 156/2016 não são obrigatórias.
Isto é, não há imposição para a realização do refinanciamento, mas apenas facultatividade.
Vale dizer, cabe aos Estados, caso tenham interesse na realização do termo, aderir livremente às condições legais estabelecidas. Logo, não seria cabível afirmar que o Estado as cláusulas do refinanciamento são obrigatórias.
Além disso, a jurisprudência do STF entende que a facultatividade de cláusula ou termo contratual não ofende o art. 5º, XXXV, da CRFB, como, por exemplo, quando se reconheceu a compatibilidade da cláusula arbitral com a Constituição (SE 5.206-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Pleno, DJ 30.04.2004). 
· Ponto de doutrina sobre jurisdição 
É atividade exercida como um Poder, ou função, por alguns órgãos, como um modo de heterocomposição de conflitos, atribuído a terceiros imparciais que, mediante um processo com razoável duração, reconhecem, efetivam e protegem situações jurídicas concretamente deduzidas ou afirmadas, em decisão insuscetível de controle externo e apta à indiscutibilidade pela coisa julgada, sendo realizada por meio de uma atividade criativa.
Essa visão da jurisdição tenta buscar uma sintonia com os novos contornos do direito. A jurisdição não pode mais ser vista mediante um Estado positivista. Hoje, cogita-se em redistribuição das funções do Estado, como a criação das agências reguladoras que solucionam alguns conflitos; com o reconhecimento da força normativa da Constituição, exigindo do Judiciário uma postura mais ativa e criativa; a consagração de instrumentos como o mandado de injunção, permitindo-se suprir a omissão legislativa; a adoção pelo legislador da técnica das cláusulas gerais, deixando o sistema normativo mais aberto, transferindo para o órgão jurisdicional a tarefa de completá-lo.
Luiz Guilherme Marinoni (MARINONI, 2006. v. 1, p. 90-97) afirma que nas teorias clássicas o juiz apenas declarava a Lei ou criava a norma individual a partir da norma geral, agora ele constrói a norma jurídica a partir da interpretação de acordo com a Constituição, do controle da constitucionalidade e da adoção da regra do balanceamento (ou da regra da proporcionalidade em sentido estrito) dos direitos fundamentais no caso concreto.
Vejamos as principais características atuais da jurisdição:
(i)Terceiro imparcial/heterocomposição: o solucionador do conflito deve ser um terceiro imparcial, estranho ao litígio e desinteressado dele. O órgão julgador deve ser terceiro e desinteressado.
Tal papel é exercido, em regra, por um agente estatal, todavia não exclusivamente, pois esse poder pode ser delegado a agentes privados, como no caso da arbitragem1 (Lei 9.307/1996), que apesar de privada, é atividade jurisdicional.
O terceiro que irá solucionar o conflito deverá atuar com imparcialidade, que não se confunde com neutralidade, eis que ninguém é absolutamente indiferente à demanda e, de acordo com essa visão, o juiz não deve ser neutro, mas tão somente, desinteressado.
Esse atuar do terceiro será uma atividade substitutiva, posto que não cumpre a nenhuma das partes dizer, definitivamente, se a razão está com ela ou com a outra parte.
Finalmente, cabe destacar que a imparcialidade não é característica exclusiva da jurisdição, há casos em que terceiros imparciais solucionam divergências, sem que haja jurisdição (por falta de outros atributos para assim ser considerada), como é o caso das agências reguladoras.
Observe-se que as agências reguladoras, como terceiras imparciais, também criam a norma individualizada. Assim, a criação de norma jurídica individualizada não é atributo exclusivo da jurisdição, todavia, nessa criação deve se observar a imparcialidade. Do ponto de vista formal as decisões das agências reguladoras poderiam ser consideradas jurisdicionais, porém, não fazem coisa julgada material, podendo ser revistas no Judiciário (DIDIER, 2009. p. 70).
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), no mesmo sentido, é um órgão “judicante”, com jurisdição em todo o território nacional, nos termos do art. 4º da Lei 12.529/2011, sendo uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, tendo por finalidade orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico, exercendo papel tutelador da prevenção e da repressão a tais abusos.
(ii)Atuação em uma situação concreta: A jurisdição debruça-se em problemas concretos, jamais abstratamente, como se dá com a função legislativa. O raciocínio do órgão jurisdicional é sempre problemático. Até mesmo ao realizar controle abstrato de constitucionalidade, haverá atuação concreta, eis que se julga a constitucionalidade ou não de lei específica. A jurisdição se relaciona com a tutela dos direitos justamente em razão de sua função de proteção dos direitos concretamente deduzidos.
A tutela dos direitos se concretiza pela jurisdição (no caso em concreto) e pela legislação (abstratamente). A situação jurídica concretamente deduzida, normalmente se apresenta como uma lide, mas nem sempre essa afirmativa é verdadeira, eis que existem processos cujo problema ou questão discutida não se apresenta como uma lide, como em situações jurídicas que dizem respeito exclusivamente ao indivíduo (pedidos de naturalização ou ação de retificação de registro civil).
(iii)Insuscetibilidade de controle externo: A jurisdição é a única função que não se submete a controle externo, mas tão somente interno. A coisa julgada torna a decisão insuscetível de revisão para a própria jurisdição, razão pela qual se fala em “coisa soberanamente julgada” quando decorrido o prazo para propositura da ação rescisória (art. 975 do CPC/2015).
Enfim, a jurisdição somente é controlada pela própria jurisdição, porém, controla a função legislativa (controle de constitucionalidade e preenchimento de normas gerais ou conceitos jurídicos indeterminados), bem como a função administrativa, no controle dos atos administrativos.
(iv)Atividade criativa: O juiz realiza, ainda, atividade criativa, pois constrói a decisão de acordo com seu convencimento, procurando no legislativo, fundamentos para a mesma. Em outras palavras, inicialmente, o magistrado decide o caso e, em seguida, busca no sistema (legislação,princípios etc.) amparo para motivar sua decisão.
Assim, a jurisdição não se limita a reproduzir os textos legais. Esses apenas lhes servem como um parâmetro para a solução do caso concreto.
O Judiciário cria a norma jurídica do caso concreto, bem como cria, muitas vezes, a própria regra abstrata que deve regular o caso concreto (DIDIER JR., 2009. v. 1, p. 70). Expressões como da mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos, que eu te darei os direitos) apesar de ainda terem sua aplicação, devem ser lidas com zelo. O magistrado não é um robô ou uma máquina, previamente programada, para responder qual é o direito da parte diante da hipótese narrada. O Juiz não é escravo da lei. Pelo contrário, o juiz deve ser livre, deve ser responsável. Enfim, dotado de inteligência e vontade, o juiz não pode ser escravo, nem da lei (PORTANOVA, 1997. p. 128).
A atividade criativa do juiz pode se dar de duas maneiras, sendo a primeira no sentido de criar a norma jurídica do caso concreto; e a segunda, a norma geral do caso concreto, pela qual, deverá demonstrar o fundamento, ou seja, a norma geral do ordenamento jurídico que soluciona o caso concreto (não apenas a lei em si, mas o entendimento do juiz acerca dessa lei). Assim, a norma geral do caso concreto é a interpretação feita pelo juiz, do direito positivo. As normas gerais criadas a partir de casos concretos estão na fundamentação das decisões e se configuram como aquilo que se chama precedente judicial, que é exatamente essa norma geral criada a partir do caso concreto.
As súmulas, vinculantes ou não, nada mais são do que normas gerais, eis que, apesar de julgar um caso concreto, serão aplicadas, reflexamente, a outras inúmeras situações similares ou idênticas. Não há que se dizer que o Judiciário estaria legislando, uma vez que sua atividade criativa se dá a partir da interpretação que ele faz das leis já existentes.
Nessa linha, surgem os denominados hard cases, situações em que os textos jurídicos existentes, aplicados objetivamente, não apresentam soluções claras. Atualmente, o STF os tem enfrentado, como no direito à saúde, intervenção do Judiciário em políticas públicas, antecipação terapêutica do parto, para fetos com anencefalia. Em alguns casos, inclusive, foi criada a norma geral a ser aplicada à situação concreta, como na hipótese da fidelidade partidária e no direito de greve dos funcionários públicos. 
(v)Aptidão à coisa julgada material: Trata-se de situação jurídica afeta às decisões judiciais, pois somente elas se tornam indiscutíveis e imutáveis pela coisa julgada material. A coisa julgada é um atributo da decisão judicial, porém, não é um elemento da decisão, pois é uma situação posterior, que pode ou não ocorrer. Assim, pode haver jurisdição sem coisa julgada material, pois se trata de opção legislativa do Estado.
· Equivalentes jurisdicionais
Existem casos em que há um litígio encerrado não por meio da atividade denominada jurisdição, mas sim em razão de outro motivo qualquer. Nesse momento, utiliza-se a expressão "equivalentes jurisdicionais". O equivalente jurisdicional parece jurisdição, serve para resolver o litígio, todavia, não é jurisdição.
Por exemplo, há a autotutela, que significa fazer justiça pelas próprias mãos. Atente-se que, às vezes, a própria legislação permite que haja uma autotutela (Ex.: desforço possessório (artigo 1210, § 1º, do Código Civil)).
Por outro lado, tem-se também a autocomposição, que ocorre quando, por exemplo, o credor e o devedor conseguem sozinhos chegar a um acordo sem a intervenção de uma terceira pessoa. A autocomposição pode ser uma transação (concessões recíprocas) ou uma abdicação de uma das partes em nome da outra, sendo que esta, quando feita pelo autor, recebe a denominação de renúncia, e quando pelo réu, de reconhecimento da procedência do pedido.
Há, também, a conciliação e a mediação, que já envolve um terceiro. Um conciliador, por exemplo, tenta estimular a solução consensual, mostrando os aspectos positivos e negativos tanto para o possível credor como para o possível devedor. Diferentemente, um mediador possui uma postura muito mais estática. Este, por exemplo, apenas questiona ao credor se há alguma proposta e a transmite ao devedor, questionando se há uma contraproposta.
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.
§ 1º A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça.
§ 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que NÃO HOUVER VÍNCULO ANTERIOR entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
§ 3º O MEDIADOR, QUE ATUARÁ PREFERENCIALMENTE NOS CASOS EM QUE HOUVER VÍNCULO ANTERIOR ENTRE AS PARTES, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada.
§ 1º A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes.
§ 2º Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação.
§ 3º Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente favorável à autocomposição.
§ 4º A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais.
Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e mediação serão inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional.
§ 5º Os conciliadores e mediadores judiciais cadastrados na forma do caput, se advogados, estarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções.
§ 6º O tribunal poderá optar pela criação de quadro próprio de conciliadores e mediadores, a ser preenchido por concurso público de provas e títulos, observadas as disposições deste Capítulo.
Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada de conciliação e de mediação.
§ 1º O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar cadastrado no tribunal.
§ 2º Inexistindo acordo quanto à escolha do mediador ou conciliador, haverá distribuição entre aqueles cadastrados no registro do tribunal, observada a respectiva formação.
§ 3º Sempre que recomendável, haverá a designação de mais de um mediador ou conciliador.
Art. 172. O conciliador e o mediador ficam impedidos, pelo prazo de 1 (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes.
Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo, tais como:
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública;
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de conciliação, no âmbito da administração pública;
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta.
Art. 175. As disposições desta Seção nãoexcluem outras formas de conciliação e mediação extrajudiciais vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas por intermédio de profissionais independentes, que poderão ser regulamentadas por lei específica.
Parágrafo único. Os dispositivos desta Seção aplicam-se, no que couber, às câmaras privadas de conciliação e mediação.
Podem ser objeto da mediação não apenas os conflitos que envolvam direitos disponíveis, mas, também, aqueles que versem sobre direitos indisponíveis que admitam transação (exemplos: questões envolvendo alimentos e guarda de filhos). Nestes casos, mesmo que a mediação seja realizada extrajudicialmente, exige-se a homologação em juízo, após oitiva do Ministério Público (art. 3º, § 2º, da Lei nº 13.140/2015).
Anote que não apenas os direitos patrimoniais privados admitem autocomposição por meio da mediação. A Lei da Mediação (Lei nº 13.140/2015) consolidou o moderno entendimento doutrinário no sentido de que a Administração Pública também pode resolver seus conflitos por meio da conciliação e da mediação (art. 32).
Extrajudicialmente a mediação também se mostra viável. De acordo com a Lei nº 13.140/2015, a mediação extrajudicial se dará mediante convite, por qualquer meio de comunicação. As partes também podem acordar previamente a “cláusula de mediação”, por meio da qual se comprometerão a tentar a mediação antes de buscarem o Poder Judiciário ou a arbitragem para decidirem o conflito.
Como forma de fortalecer a mediação extrajudicial e evitar que a tentativa prévia de autocomposição sirva apenas para prolongar a solução da controvérsia, os contratos poderão prever uma penalidade em caso de não comparecimento da parte convidada à primeira reunião. Inexistindo cláusula expressa, aplica-se o art. 22, § 2º, IV, segundo o qual “o não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de mediação acarretará a assunção por parte desta de cinquenta por cento das custas e honorários sucumbenciais caso venha a ser vencedora em procedimento arbitral ou judicial posterior, que envolva o escopo da mediação para a qual foi convidada”.
Novidade bastante relevante trazida pela Lei nº 13.140/2015 é a possibilidade de as partes, mediante cláusula contratual prévia, estabelecerem um prazo para o início da ação judicial ou do procedimento arbitral. Exemplo: cláusula contratual prevendo que se as partes pretenderem discutir o contrato em razão de eventual inadimplemento, a via judicial só poderá ser acionada se parte inadimplente não tiver solucionado o problema no prazo máximo de três meses depois de notificada pela parte contrária. Se houver uma previsão nesse sentido e uma das partes propuser ação judicial, o juiz deverá suspender o processo e aguardar o término do prazo estipulado. Eis o teor do dispositivo:
Art. 23. Se, em previsão contratual de cláusula de mediação, as partes se comprometerem a não iniciar procedimento arbitral ou processo judicial durante certo prazo ou até o implemento de determinada condição, o árbitro ou o juiz suspenderá o curso da arbitragem ou da ação pelo prazo previamente acordado ou até o implemento dessa condição.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às medidas de urgência em que o acesso ao Poder Judiciário seja necessário para evitar o perecimento de direito.
O último tópico sobre equivalentes jurisdicionais é a arbitragem, que tem regramento na Lei 9.307/96. Há uma discussão acadêmica acerca da natureza da arbitragem: se é jurisdição ou equivalente jurisdicional. O STJ vem entendendo que a arbitragem é jurisdição.
A sentença arbitral está no artigo 515 do CPC como um título executivo judicial, ao lado da sentença do juiz togado.
STJ: De acordo com o atual posicionamento, compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito de competência entre Juízo arbitral e órgão jurisdicional estatal, partindo-se, naturalmente, do pressuposto de que a atividade desenvolvida no âmbito da arbitragem possui natureza jurisdicional.
Na arbitragem, se houver a convenção de arbitragem, cláusula compromissória e compromisso arbitral, realmente o árbitro julgará; no entanto, se a parte derrotada não cumprir voluntariamente a sentença arbitral, não há possibilidade de ser executado perante o árbitro, visto que este não tem poder para tanto. O interessado deverá executar no Poder Judiciário. 
Art. 3º do CPC: Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.
Arbitragem é o acordo de vontades entre pessoas maiores e capazes que, preferindo não se submeter à decisão judicial, confiam a árbitros a solução de litígios, desde que relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
Quem pode ser árbitro? Qualquer pessoa civilmente capaz e que tenha a confiança das partes (art. 13). As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também, suplentes. E se as partes nomearem árbitros em número par? Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes (os árbitros) estão autorizados a nomear mais um árbitro (para ficar ímpar).
Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, a causa a nomeação do árbitro.
Em vez de as partes escolherem individualmente os árbitros que irão julgar a causa, elas podem escolher um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.
A Lei n.° 13.129/2015, com o objetivo de conferir maior liberdade aos envolvidos, incluiu um parágrafo ao art. 13 da Lei n.° 9.307/96 prevendo que as partes podem, de comum acordo, afastar algumas regras do regulamento do órgão arbitral ou entidade especializada a fim de terem maior autonomia na escolha dos árbitros.
Aplicam-se aos árbitros as mesmas causas de impedimento e suspeição previstas para os juízes no CPC (amizade íntima, inimizade, interesse na causa etc.) (art. 14).
No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal (art. 17). 
Não é necessária a participação de advogado no procedimento de arbitragem. Mas nada impede que as partes possam constituir um para que as acompanhe.
Art. 1o (…)
§ 1o A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
§ 2o A autoridade ou o órgão competente da administração pública direta para a celebração de convenção de arbitragem é a mesma para a realização de acordos ou transações.
Ex: se o Secretário de Estado é quem tem competência para assinar acordos no âmbito daquele órgão, ele é quem poderá firmar a convenção de arbitragem.
Art. 2o (…)
§ 3oA arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará o princípio da publicidade.
· Limites da arbitragem: 
(i) Subjetivo: Somente pessoas capazes podem valer-se da arbitragem. Pessoas físicas, jurídicas, administração direta ou indireta.
(ii) Objetivo: Somente pode versar sobre direitos patrimoniais disponíveis.
· Espécies de arbitragem:
· Arbitragem de direito: obriga os árbitros a decidirem de acordo com as normas que integram o ordenamento jurídico pátrio. O § 1º do art. 2º prevê que poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública, e o § 2º autoriza que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais do direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.
· Arbitragem de equidade: autoriza o árbitro a dar à controvérsia a solução que lhe pareça mais justa, mais razoável, mais equânime ainda quesem amparo no ordenamento jurídico. Os árbitros podem conferir solução contrária às regras do direito se isso, no caso concreto, parecer mais justo e adequado.
· Convenção de arbitragem:
a) Cláusula compromissória: Trata-se de uma cláusula inserida em contrato. Por meio dela, fica preestabelecido que, se vier a surgir um conflito, virá a ser resolvido pela arbitragem. É sempre preexistente ao litígio.
O § 5º do art. 337 proíbe ao juiz conhecer de ofício da convenção de arbitragem. Se uma das partes for a juízo e a outra não invocar a convenção, reputar-se-á que ambas renunciaram tacitamente à arbitragem, e que preferiram a solução judicial. 
Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro? Regra: NÃO. Segundo o art. 8º, parágrafo único da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular esse pedido ao próprio árbitro. Exceção: compromissos arbitrais patológicos. O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral. (Info 591).
A INSTITUIÇÃO ARBITRAL, POR SER SIMPLES ADMINISTRADORA DO PROCEDIMENTO ARBITRAL, NÃO POSSUI INTERESSE PROCESSUAL NEM LEGITIMIDADE PARA INTEGRAR O POLO PASSIVO DA AÇÃO QUE BUSCA A SUA ANULAÇÃO. (INFO 613)
b) Compromisso arbitral: é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial. É sempre posterior ao litígio.
· Sentença arbitral:
O prazo para que a profira pode ser estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem, mas no silêncio será de seis meses, contados da instituição da arbitragem ou substituição do árbitro. 
A sentença arbitral, para produzir seus efeitos, não precisa de homologação judicial:
Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir NÃO FICA SUJEITA A RECURSO ou a homologação pelo Poder Judiciário.
Art. 23 
§ 1º Os árbitros poderão proferir sentenças parciais.
Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.
Vale destacar que não há recurso contra a sentença arbitral, mas, de acordo com o art. 30 da lei de arbitragem:
Art. 30. No prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação ou ciência pessoal da sentença arbitral, salvo se outro prazo for acordado entre as partes, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que: 
I — corrija qualquer erro material da sentença arbitral; 
II — esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão. 
Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá no prazo de dez dias ou em prazo acordado pelas partes, aditará a sentença arbitral e notificará as partes na forma do art. 29.
A sentença arbitral terá os mesmos efeitos que a produzida pelo Poder Judiciário, inclusive o da coisa julgada material, constituindo ainda, se condenatória, título executivo judicial.
Fredie Didier explica que há possibilidade de controle judicial da sentença arbitral, mas somente quanto à sua validade (arts. 32 e 33, caput, da Lei n.°9.307/96), ou seja, ela pode ser anulada se tiver vícios formais. O Poder Judiciário não pode, por outro lado, revogar ou modificar a sentença arbitral quanto ao seu mérito por entendê-la injusta ou errada. 
A parte prejudicada que desejar anular a sentença arbitral por vícios formais deverá ajuizar a ação de nulidade no prazo máximo de 90 dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento (art. 33, § 1º). Ultrapassado esse prazo, a decisão arbitral torna-se imutável pela coisa julgada material.
A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser requerida na impugnação ao cumprimento da sentença, se houver execução judicial.                  
Informativo: A impugnação ao cumprimento de sentença arbitral, devido à ocorrência dos vícios elencados no art. 32 da Lei nº 9.307/96, possui prazo decadencial de 90 dias.
A declaração de nulidade da sentença arbitral pode ser pleiteada, judicialmente, por duas vias:
a) ação declaratória de nulidade de sentença arbitral (art. 33, § 1º, da Lei nº 9.307/96); ou
b) impugnação ao cumprimento de sentença arbitral (art. 33, § 3º, da Lei nº 9.307/96).
O § 1º do art. 33 prevê um prazo de 90 dias para ajuizar a ação de declaração de nulidade. O § 3º do mesmo artigo não prevê prazo. Diante disso, indaga-se: o prazo de 90 dias do § 1º do art. 33 também se aplica para a hipótese do § 3º? 
Depende:
a) se a parte executada quiser alegar algum dos vícios do art. 32 da Lei nº 9.307/96: ela possui o prazo de 90 dias. Assim, se já tiver se passado 90 dias da notificação da sentença, ela não poderá apresentar impugnação alegando um dos vícios do art. 32.
b) mesmo que já tenha se passado o prazo de 90 dias, a parte ainda poderá alegar uma das matérias do § 1º do art. 525 do CPC. Não é cabível a impugnação ao cumprimento da sentença arbitral, com base nas nulidades previstas no art. 32 da Lei nº 9.307/96, após o prazo decadencial nonagesimal. STJ. REsp 1928951-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 727).
Logo, se a execução for ajuizada após o decurso do prazo decadencial de 90 dias, a defesa da parte executada fica limitada às matérias especificadas no art. 525, § 1º, do CPC, sendo vedada a invocação de nulidade da sentença com base nas matérias definidas no art. 32 da Lei nº 9.307/96.
Após o trânsito em julgado, a sentença proferida pelo juízo arbitral faz coisa julgada material e constitui, por força de lei, título executivo judicial.
Vale ressaltar que a sentença arbitral, para produzir seus efeitos, não precisa de homologação judicial. 
O que acontece se a parte perdedora no processo de arbitragem não cumprir aquilo que foi determinado na sentença arbitral? O árbitro (ou Tribunal arbitral) poderá executar a sentença? NÃO. O árbitro decide a causa, mas se a parte perdedora não cumprir voluntariamente o que lhe foi imposto, a parte vencedora terá que executar esse título no Poder Judiciário.
Depois que a sentença arbitral é proferida, a parte que “perdeu” poderá pleitear no Poder Judiciário a invalidade dessa sentença? SIM. O Poder Judiciário não poderá rever o mérito da sentença arbitral, no entanto, é possível que a parte interessada pleiteie a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos no art. 32 da Lei nº 9.307/96:
Art. 32. É nula a sentença arbitral se:
I - for nula a convenção de arbitragem;
II - emanou de quem não podia ser árbitro;
III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;
IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;
VII - proferida forado prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e
VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei.
 
O STJ entende que o controle judicial sobre a validade das sentenças arbitrais está relacionado a aspectos estritamente formais, não sendo lícito ao magistrado togado examinar o mérito do que foi decidido pelo árbitro.
Existe um prazo para essa ação de declaração de nulidade de sentença arbitral? SIM. Essa ação tem um prazo decadencial de 90 dias, contados do recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos (art. 33, § 1º, da Lei nº 9.307/96).
Em vez de ajuizar uma ação autônoma pedindo a nulidade da sentença arbitral, a parte poderá alegar esse vício como uma matéria de defesa no momento em que a outra parte estiver executando a sentença arbitral.
Essa alegação é feita mediante IMPUGNAÇÃO, já que a sentença arbitral é título executivo judicial, não havendo que se falar, portanto, em embargos do devedor, que é uma defesa típica da execução de títulos extrajudiciais.
Repare que a declaração de nulidade da sentença arbitral pode ser pleiteada, judicialmente, por duas vias:
a) ação declaratória de nulidade de sentença arbitral (art. 33, § 1º, da Lei nº 9.307/96); ou
b) impugnação ao cumprimento de sentença arbitral (art. 33, § 3º, da Lei nº 9.307/96).
Art. 33.  A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.
§ 1º A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou final, seguirá as regras do procedimento comum, previstas na Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), e deverá ser proposta no prazo de até 90 (noventa) dias após o recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos.
§ 3º A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser requerida na impugnação ao cumprimento da sentença, nos termos dos arts. 525 e seguintes do Código de Processo Civil, se houver execução judicial.
A existência de cláusula de arbitragem não pode impedir a execução de título extrajudicial perante a Justiça, justamente porque esta é a única competente para o exercício de medidas que visem à expropriação de bens do devedor.
Assim, a execução de título executivo que contenha cláusula compromissória por credor sub-rogado deve ser processada na jurisdição estatal, que, contudo, não tem competência para analisar as questões alusivas às disposições do contrato em si invocadas em embargos à execução.
Nessas situações, cabe ao executado que pretende questionar a própria exequibilidade do título dar início ao procedimento arbitral respectivo, nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.307/96.
Não compete ao juízo estatal, em execução de título executivo extrajudicial que contenha cláusula compromissória ajuizada por credor sub-rogado, analisar questões alusivas às disposições do contrato em si, o que deve ser discutido na jurisdição arbitral. STJ. 3ª Turma. REsp 2.032.426-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/4/2023 (Info 770).
Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei.
Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.
Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça.
· Prescrição
§ 2º A instituição da arbitragem interrompe a prescrição, retroagindo à data do requerimento de sua instauração, ainda que extinta a arbitragem por ausência de jurisdição.
E quando se considera instituída a arbitragem? Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo árbitro, se for único, ou por todos, se forem vários (art. 19).
· Tutelas de urgência
Art. 22-A. Antes de instituída a arbitragem, as partes poderão recorrer ao Poder Judiciário para a concessão de medida cautelar ou de urgência.
Parágrafo único. Cessa a eficácia da medida cautelar ou de urgência se a parte interessada não requerer a instituição da arbitragem no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data de efetivação da respectiva decisão.
Depois de instituída a arbitragem, os árbitros poderão revogar a medida concedida pelo Judiciário? SIM. A medida cautelar ou de urgência concedida pelo Poder Judiciário é provisória e, depois de instituída a arbitragem, os árbitros irão reexaminá-lo e poderão mantê-la, modificá-la ou revogá-la. 
Art. 22-B. Instituída a arbitragem, caberá aos árbitros manter, modificar ou revogar a medida cautelar ou de urgência concedida pelo Poder Judiciário.
Parágrafo único. Estando já instituída a arbitragem, a medida cautelar ou de urgência será requerida diretamente aos árbitros.
Poderão ser concedidas medidas cautelares ou de urgência depois de instaurado o procedimento arbitral? SIM, mas neste caso tais medidas serão concedidas pelos próprios árbitros que já estarão escolhidos. 
Compete ao STJ julgar conflito de competência estabelecido entre Tribunais Arbitrais vinculados à mesma Câmara de Arbitragem, quando a solução para o impasse criado não é objeto de disciplina no regulamento desta.
Compete ao Superior Tribunal de Justiça, em atenção à função constitucional que lhe é atribuída no art. 105, I, “d”, da Carta Magna, conhecer e julgar o conflito de competência estabelecido entre Tribunais Arbitrais, que ostentam natureza jurisdicional, ainda que vinculados à mesma Câmara de Arbitragem, sobretudo se a solução interna para o impasse criado não é objeto de disciplina regulamentar.
STJ. 2ª Seção. CC 185702/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/06/2022 (Info 749).
Art. 105 da CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, “o”, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;
 
Esta conclusão decorre do reconhecimento de que o Tribunal arbitral, a despeito de não compor organicamente o Poder Judiciário, deve ser compreendido na expressão “quaisquer tribunais” prevista no art. 105, I, “d”, da CF/88.
Afasta-se, assim, qualquer possibilidade de um conflito de competência estabelecido entre Tribunais arbitrais ser dirimido por um juiz de primeira instância, independentemente da necessidade ou não de interpretação da cláusula compromissória.
O mesmo se diga em relação aos Tribunais de segunda Instância. Pela norma constitucional acima referida, os Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Tribunais Regionais Federais, residualmente, têm competência para dirimir conflito de competência entre juízos a eles diretamente vinculados. Diversamente, os Tribunais arbitrais, em situação de conflito competência, ainda que se encontrem situados na mesma unidade da Federação ou na mesma Região, não são vinculados a nenhum Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, ainda que se utilize mais uma vez do dito paralelismo entre as jurisdições arbitral e estatal.
Poder-se-ia supor que, estando os Tribunais arbitrais suscitados vinculados à mesma Câmara de Arbitragem, a competência para dirimir o conflito de competência seria da própria câmara. Todavia, no procedimento arbitral, quem ostenta o poder jurisdicional é o tribunal arbitral devidamente constituído, segundo a indicação das partes na formação do painel arbitral; a Câmara de arbitragem apenas administra o procedimento arbitral, sem, portanto, deter nenhum poder jurisdicional para dirimir eventual impasse criado entre os Tribunais arbitrais a ela vinculado que profiram decisões inconciliáveis entre si.
· Justiça multiportas 
A conciliação,mediação e arbitragem eram tradicionalmente chamadas de métodos alternativos de solução dos conflitos. Com o advento do CPC/2015, contudo, a doutrina afirma que elas não devem mais ser consideradas uma “alternativa”, como se fosse acessório a algo principal (ou oficial). 
Segundo a concepção atual, a conciliação, a mediação e a arbitragem integram, em conjunto com a jurisdição, um novo modelo que é chamado de “Justiça Multiportas”.
A ideia geral da Justiça Multiportas é, portanto, a de que a atividade jurisdicional estatal não é a única nem a principal opção das partes para colocarem fim ao litígio, existindo outras possibilidades de pacificação social. Assim, para cada tipo de litígio existe uma forma mais adequada de solução. A jurisdição estatal é apenas mais uma dessas opções.
Como o CPC/2015 prevê expressamente a possibilidade da arbitragem (art. 3, §1º) e a obrigatoriedade, como regra geral, de ser designada audiência de mediação ou conciliação (art. 334, caput), vários doutrinadores afirmam que o novo Código teria adotado o modelo ou sistema multiportas de solução de litígios (multi-door system).
Marco Aurélio Peixoto e Renata Peixoto, citando a lição de Rafael Alves de Almeida, Tânia Almeida e Mariana Hernandez Crespo apontam as vantagens do sistema multiportas:
a) o cidadão assumiria o protagonismo da solução de seu problema, com maior comprometimento e responsabilização acerca dos resultados;
b) estimulo à autocomposição;
c) maior eficiência do Poder Judiciário, porquanto caberia à solução jurisdicional apenas os casos mais complexos, quando inviável a solução por outros meios ou quando as partes assim o desejassem;
d) transparência, ante o conhecimento prévio pelas partes acerca dos procedimentos disponíveis para a solução do conflito.
· Ondas de acesso à Justiça
Ao tratar sobre acesso à Justiça, Mauro Capelletti e Bryan Garth identificaram as chamadas três ondas renovatórias, decorrentes de uma sucessão de reformas legislativas que visavam a amplo e efetivo acesso ao Judiciário, quais sejam:
1ª) Acesso garantido aos hipossuficientes — instituição da assistência judiciária gratuita;
2ª) Proteção aos interesses metaindividuais (difusos, coletivos). A preocupação da segunda onda resultou da incapacidade de o processo civil tradicional, de cunho individualista, servir para a proteção dos direitos ou interesse difusos ou também chamados de coletivos. 
3ª) Instrumentalidade do processo — o processo é o instrumento pelo qual se busca o acesso à ordem jurídica justa e efetiva, devendo ser utilizados procedimentos simples, racionais, de fácil alcance e econômicos. Esta onda se formou e ainda não se esgotou, buscando a superação do chamado “obstáculo processual”. Nesta onda, Mauro Cappelletti e Bryant Garth demostram algo muito além do que foi tratado na primeira e segunda onda, trata-se de inovações como a figura dos Juizados Especiais “criados não apenas para desafogar o judiciário, mas também para abrir portas para o acesso à justiça nos casos de menor complexidade”, incluindo casos na maioria das vezes de marginalização de lides advindas de pessoas sem condições de serem representadas por advogados particulares.
1.1.2.1. Jurisdição voluntária
Características da jurisdição voluntária:
· O princípio da demanda é mitigado, pois o juiz pode, em muitos casos, dar início aos processos de ofício, como na abertura e cumprimento de testamentos e arrecadação de herança jacente;
· Em regra, a jurisdição voluntária é necessária (não opcional). Há casos excepcionais de jurisdição voluntária opcional, como na homologação de divórcio consensual sem incapazes envolvidos, celebrável extrajudicialmente, perante os Cartórios.
· Os processos de jurisdição voluntária possuem uma carga maior de inquisitoriedade, pois são estruturados a dar certo protagonismo ao juiz. O juiz pode, inclusive, ajustar o procedimento conforme as peculiaridades do caso.
Natureza jurídica:
a) Corrente Tradicional ou Escola Paulista (concepção majoritária): Defende que a jurisdição voluntária não tem natureza jurisdicional, e sim de atividade administrativa exercida pelos juízes. Partem da premissa de que não há lide, e, portanto, inexiste a jurisdição. De modo semelhante, também não se fala em ação, e sim em requerimento; não se fala em processo e sim procedimento.
Não há partes e sim interessados. Não haveria coisa julgada material e sim preclusão (coisa julgada formal).
b) Corrente minoritária (Ovídio Batista, Calmon de Passos, Leonardo Grecco, Fred Didier): A jurisdição voluntária é considerada uma atividade jurisdicional. 
Art. 720.  O procedimento terá início por provocação do interessado, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, cabendo-lhes formular o pedido devidamente instruído com os documentos necessários e com a indicação da providência judicial.
Art. 721.  Serão citados todos os interessados, bem como intimado o Ministério Público, nos casos do art. 178, para que se manifestem, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 722.  A Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse.
Art. 723.  O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único.  O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna.
Art. 724.  Da sentença caberá apelação.
Art. 725.  Processar-se-á na forma estabelecida nesta Seção o pedido de:
I - emancipação;
II - sub-rogação;
III - alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes, de órfãos e de interditos;
IV - alienação, locação e administração da coisa comum;
V - alienação de quinhão em coisa comum;
VI - extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do usufrutuário, do termo da sua duração ou da consolidação, e de fideicomisso, quando decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que caracterizar a condição resolutória;
VII - expedição de alvará judicial;
VIII - homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor.
Parágrafo único.  As normas desta Seção aplicam-se, no que couber, aos procedimentos regulados nas seções seguintes.
Legitimidade: Em regra, o processo origina-se por iniciativa da parte. Mas há procedimentos que podem ser desencadeados pelo Ministério Público, Defensoria Pública (interdição, por exemplo) ou de ofício pelo juiz (abertura e cumprimento de testamento e arrecadação de herança jacente, bens de ausentes ou coisas vagas).
No procedimento de jurisdição voluntária, em regra, não há litígio. Como não há litígio, não há, em regra, condenação ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência.
O vetor primordial que orienta a imposição ao pagamento de verba honorária sucumbencial é o fato da derrota na demanda, cujo pressuposto é a existência de litigiosidade, a qual, em regra, não há em procedimento de jurisdição voluntária.
Vale ressaltar, contudo, que, no procedimento de jurisdição voluntária, pode surgir litígio, mudando-se, neste caso, a aplicação de princípios, que passam a ser os mesmos da jurisdição contenciosa, admitindo-se, inclusive, a reconvenção. Nesta hipótese passa a ser possível, em tese, a condenação em honorários advocatícios.
Em procedimento de jurisdição voluntária, quando a parte ré concorda com o pedido formulado na inicial, mas formula pedido autônomo:
I) se o Juiz não admitir o pedido autônomo como reconvenção e julgar apenas a pretensão autoral, não serão devidos honorários de sucumbência;
II) se o Juiz admitir o pedido autônomo como reconvenção e julgar ambas as pretensões, serão devidos honorários de sucumbência apenas na reconvenção e desde que configurado litígio quanto à pretensão reconvencional. STJ. 3ª Turma. REsp 2028685-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2022 (Info 761).
Importante frisar que, segundo o STJ, não é qualquer atitude da parte no processo que caracteriza litigiosidade, sendo necessário, para tanto, haver inequívoca resistência à pretensão deduzida na inicial.
É possível haver pedido reconvencional em procedimento de jurisdiçãovoluntária? SIM. Havendo a transmutação do procedimento especial de jurisdição voluntária em verdadeiro processo de jurisdição contenciosa, a ele devem ser aplicados os seus princípios, admitindo-se a reconvenção (STJ. 3ª Turma. REsp 1.453.193/DF, DJe 22/8/2017).
1.1.2.2. Jurisdição internacional 
A) Jurisdição concorrente da justiça brasileira
Art. 21.  Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Parágrafo único.  Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
Art. 22.  Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:
I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.
Art. 12 do LINDB. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
A Justiça brasileira é absolutamente incompetente para processar e julgar demanda indenizatória fundada em serviço fornecido de forma viciada por sociedade empresária estrangeira a brasileiro que possuía domicílio no mesmo Estado estrangeiro em que situada a fornecedora, quando o contrato de consumo houver sido celebrado e executado nesse local, ainda que o conhecimento do vício ocorra após o retorno do consumidor ao território nacional. 
B) Jurisdição exclusiva da justiça brasileira
Art. 23.  Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
É possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine o perdimento de imóvel situado no Brasil em razão de o bem ser produto do crime de lavagem de dinheiro. Não há ofensa ao art. 23, I, do CPC/2015, pois a sentença estrangeira não tratou especificamente sobre a situação dos bens imóveis, sobre a sua titularidade, mas sim sobre os efeitos civis de uma condenação penal, determinando o perdimento de bens que foram objeto de crime de lavagem de capitais. STJ. Corte Especial. SEC 10.612-FI, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/5/2016 (Info 586).
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Art. 25.  Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação. 
§ 1o Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo.
§ 2o Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1o a 4º. 
1.1.2.3. Cooperação internacional
Art. 26.  A cooperação jurídica internacional será regida por tratado de que o Brasil faz parte e observará:
I – o respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente;
II – a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados;
III - a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estado requerente;
IV –a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação;
A via de transmissão da cooperação jurídica internacional denominada “autoridade central” consiste em órgão de comunicação estatal, o qual possui a função de gerenciar o trâmite dos pleitos cooperacionais, recebendo e enviando-os a outro Estado, zelando ainda pela adequação das solicitações enviadas e recebidas aos termos da legislação de regência. Pode ainda, a depender do tratado, a autoridade central exercer funções de execução dos deveres impostos ao Estado-Parte.
V –a espontaneidade na transmissão de informações a autoridades estrangeiras.
§ 1o Na ausência de tratado, a cooperação jurídica internacional poderá realizar-se com base em reciprocidade, manifestada por via diplomática.
§ 2O NÃO SE EXIGIRÁ A RECIPROCIDADE REFERIDA NO § 1O PARA HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA.
§ 3o Na cooperação jurídica internacional não será admitida a prática de atos que contrariem ou que produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro.
§ 4o O Ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central na ausência de designação específica.
Art. 27.  A cooperação jurídica internacional terá por objeto:
I - citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
II - colheita de provas e obtenção de informações;
III - homologação e cumprimento de decisão;
IV - concessão de medida judicial de urgência;
V - assistência jurídica internacional;
VI - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
Ainda, são previstas três formas pela qual se dará a cooperação internacional:
A) Auxílio direto
Através do auxílio direto, o Estado renuncia ao poder de dizer o direito sobre certo objeto de cognição para que assim transfira às autoridades do outro Estado essa tarefa. Não se pede, portanto, que se execute uma decisão sua, mas que se profira ato jurisdicional referente a uma determinada questão de mérito que advém de litígio em curso no seu território, ou mesmo que se obtenha ato administrativo a colaborar com o exercício de sua cognição. 
Não há o exercício de jurisdição pelos dois Estados, mas apenas pelas autoridades do Estado requerido.
Art. 28.  Cabe auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de delibação no Brasil.
Art. 29.  A solicitação de auxílio direto será encaminhada pelo órgão estrangeiro interessado à autoridade central, cabendo ao Estado requerente assegurar a autenticidade e a clareza do pedido.
Art. 30.  Além dos casos previstos em tratados de que o Brasil faz parte, o auxílio direto terá os seguintes objetos:
I - obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos ou em curso;
II - colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira;
III - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
Art. 31.  A autoridade central brasileira comunicar-se-á diretamente com suas congêneres e, se necessário, com outros órgãos estrangeiros responsáveis pela tramitação e pela execução de pedidos de cooperação enviados e recebidos pelo Estado brasileiro, respeitadas disposições específicas constantes de tratado.
Art. 32.  No caso de auxílio direto para a prática de atos que, segundo a lei brasileira, não necessitem de prestação jurisdicional, a autoridade central adotará as providências necessárias para seu cumprimento.
Art. 33.  Recebido o pedido de auxílio direto passivo, a autoridade central o encaminhará à Advocacia-Geral da União, que requererá em juízo a medida solicitada.
Parágrafo único.  O Ministério Público requererá em juízo a medida solicitada quando for autoridade central.
Art. 34.  Compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medidaapreciar pedido de auxílio direto passivo que demande prestação de atividade jurisdicional.
B) Carta rogatória
Interação entre os Estados com o objetivo de dar eficácia extraterritorial a medidas processuais provenientes de outro Estado, consistindo em pedidos feitos pelo juiz de um Estado ao Judiciário de outro Estado, com vistas a obter a colaboração deste para a prática de certos atos processuais (citações, intimações, coleta de provas etc).
Art. 36.  O procedimento da carta rogatória perante o Superior Tribunal de Justiça é de jurisdição contenciosa e deve assegurar às partes as garantias do devido processo legal.
§ 1O A DEFESA RESTRINGIR-SE-Á À DISCUSSÃO QUANTO AO ATENDIMENTO DOS REQUISITOS PARA QUE O PRONUNCIAMENTO JUDICIAL ESTRANGEIRO PRODUZA EFEITOS NO BRASIL.
§ 2o Em qualquer hipótese, é vedada a revisão do mérito do pronunciamento judicial estrangeiro pela autoridade judiciária brasileira.
	AUXÍLIO DIRETO
	CARTA ROGATÓRIA
	O auxílio direto consubstancia-se na realização de uma diligência de natureza administrativa no Brasil ou na busca de uma prolação de uma decisão judicial brasileira relativa a litígio que tem lugar em Estado estrangeiro. Visa, portanto, a obter decisão judicial estrangeira sobre um processo que tramita no Estado que pede o auxílio.
	Visa permitir a prática de um ato processual em outro Estado, sendo uma forma de comunicação entre o judiciário de países diferentes.
No caso da rogatória, o processo está tramitando em um país e o ato processual tem que ser cumprido em outro.
	Não há decisão judicial do Estado que pede o auxílio.
	Há decisão judicial do Estado que pede o auxílio.
	NÃO HÁ JUÍZO DE DELIBAÇÃO PELO STJ
	HÁ JUÍZO DE DELIBAÇÃO PELO STJ.
C) Homologação de sentença estrangeira
Sem a homologação, a sentença estrangeira é absolutamente ineficaz, ainda que tenha transitado em julgado no exterior. Assim, não pode ser executada no Brasil.
Os critérios para a homologação da sentença estrangeira são estabelecidos pelas normas do Estado que homologa (ou seja, lex fori) e por tratados. 
O ART. 963, III, DO CPC/2015, NÃO MAIS EXIGE QUE A DECISÃO JUDICIAL QUE SE PRETENDE HOMOLOGAR TENHA TRANSITADO EM JULGADO, MAS APENAS QUE ELA SEJA EFICAZ EM SEU PAÍS DE ORIGEM, tendo sido tacitamente revogado o art. 216-D, III, do RISTJ. (Info 626) 
Com esse entendimento, fica superada a Súmula 420 do STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.
Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Parágrafo único.  A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil.
A sentença estrangeira homologada é título executivo judicial, conforme o art. 515, VIII, CPC e deverá ser executada não perante o Superior Tribunal de Justiça, mas perante o juízo federal competente!
Art. 960.  A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado.
§ 1o A decisão interlocutória estrangeira poderá ser executada no Brasil por meio de carta rogatória.
§ 2o A homologação obedecerá ao que dispuserem os tratados em vigor no Brasil e o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.
§ 3o A homologação de decisão arbitral estrangeira obedecerá ao disposto em tratado e em lei, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições deste Capítulo.
A mera pendência de ação judicial no Brasil não impede a homologação da sentença estrangeira, mas a existência de decisão judicial proferida no Brasil contrária ao conteúdo da sentença estrangeira impede a sua homologação. STJ. Corte Especial. AgInt na SEC 6362-EX, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 01/06/2022 (Info 739).
Em regra, para que uma decisão proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa ser executada no Brasil, é necessário que passe por um processo de “reconhecimento” ou “ratificação” feito pela Justiça brasileira. A isso chamamos de homologação de sentença estrangeira.
Onde estão previstas as regras para a homologação de sentenças estrangeiras? Em tratados internacionais firmados pelo Brasil; nos arts. 960 a 965 do CPC/2015; e nos arts. 216-A a 216-X do Regimento Interno do STJ.
Algumas observações sobre o tema:
· Para que a decisão estrangeira seja homologada no Brasil, é preciso que ela seja definitiva (§ 1º do art. 961 do CPC/2015);
· Uma decisão que no estrangeiro não é considerada judicial, ou seja, uma decisão que no estrangeiro não foi proferida pelo Poder Judiciário no exercício de sua função típica, pode, mesmo assim, ser homologada no Brasil se aqui, em nosso país, ela for considerada decisão judicial. É o que prevê o § 1º do art. 961 do CPC 2015;
· A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente (§ 2º do art. 961);
· A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória no processo de homologação de decisão estrangeira (§ 3º do art. 961).
· Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal quando prevista em tratado ou em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade brasileira (§ 4º do art. 961).
Imagine a seguinte situação hipotética:
1st. João e Regina foram casados e tiveram uma filha (Letícia).
2nd. Os três moravam no Canadá.
3rd. O casal não estava mais se entendendo e, em 2009, Regina voltou para o Brasil com a filha Letícia, enquanto João permaneceu no Canadá.
4th. Em 2010, a Justiça de Ontário, no Canadá, proferiu uma sentença concedendo ao pai (João) a guarda da filha Letícia.
5th. Ainda em 2010, a Advocacia Geral da União propôs ação de busca e apreensão, no Brasil, pedindo para que a criança (Letícia) fosse repatriada, ou seja, que voltasse ao Canadá, sob o argumento de que se aplicaria, no presente caso, a Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças.
O objetivo da Convenção de Haia é repor à criança seu status quo, preservando o foro do país de sua residência habitual como o competente para julgar pedido de guarda, por configurar o juízo natural onde se pressupõe sejam mais bem discutidas as questões a ela referentes e mais fácil a colheita de provas (art. 1º).
6th. Em 2014, a Justiça Federal brasileira – competente para julgar a ação baseada na Convenção de Haia – julgou improcedente o pedido de busca e apreensão da criança, sob fundamento de que: ficou comprovado que houve violência de João contra a mãe e a criança; e o estudo psicológico produzido revela a plena adaptação da menor no Brasil, sendo presumida a ocorrência de prejuízos de ordem emocional caso determinado seu retorno ao País de origem, até porque privada estará do convívio contínuo, há anos, com parentes e amigos.
7th. João ingressou com pedido, no STJ, para homologar a sentença proferida no Canadá, que conferiu a ele a guarda. É isso que foi discutido.
O STJ deferiu a homologação da sentença estrangeira? NÃO.
Em primeiro lugar, é importante deixar claro que o simples fato de haver uma ação judicial no Brasil não impede a homologação da sentença estrangeira. A pendência de ação perante o Poder Judiciário brasileiro envolvendo as mesmas partes e sobre o mesmo objeto não impede a homologação da sentença estrangeira já transitada em julgado na origem. Não havendo coisa julgada sobre a questão no Brasil, não há óbice à homologação da sentença alienígena. STJ. Corte Especial. SEC 14.914/EX, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 7/6/2017.
No entanto, no caso concreto, a situação é diferente. Isso porque a sentença brasileira:
a) conflita frontalmente com a decisão estrangeira;
b) é posterior à decisão estrangeira; e
c) transitou em julgado.
Diante disso, não é possível homologar a decisão estrangeira.
Além disso, a decisão proferida pelaJustiça brasileira, além de ser mais recente, é a que atende ao princípio do melhor interesse do menor, tendo condições de retratar com maior fidelidade o contemporâneo estado psicológico da criança, conforme quadro delineado no laudo que embasou a decisão da Justiça federal brasileira. Tal realidade fragiliza a eficácia e a definitividade que porventura se pudesse extrair da sentença homologanda. 
Art. 961.  A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido contrário de lei ou tratado.
§ 1o É passível de homologação a decisão judicial definitiva, bem como a decisão não judicial que, pela lei brasileira, teria natureza jurisdicional.
§ 2o A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente.
§ 3o A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória no processo de homologação de decisão estrangeira.
§ 4o Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de EXECUÇÃO FISCAL quando prevista em tratado ou em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade brasileira.
§ 5o A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.
§ 6o Na hipótese do § 5o, competirá a qualquer juiz examinar a validade da decisão, em caráter principal ou incidental, quando essa questão for suscitada em processo de sua competência.
Art. 962.  É passível de execução a decisão estrangeira concessiva de medida de urgência.
§ 1o A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira concessiva de medida de urgência dar-se-á por carta rogatória.
§ 2o A medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser executada, desde que garantido o contraditório em momento posterior.
§ 3o O juízo sobre a urgência da medida compete exclusivamente à autoridade jurisdicional prolatora da decisão estrangeira.
§ 4o Quando dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.
Art. 963.  Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão:
I –ser proferida por autoridade competente;
II –ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia;
III - ser eficaz no país em que foi proferida;
IV - não ofender a coisa julgada brasileira;
V –estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública.
Parágrafo único.  Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos no caput deste artigo e no art. 962, § 2o.
Art. 964.  Não será homologada a decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira.
Parágrafo único.  O dispositivo também se aplica à concessão do exequatur à carta rogatória.
Art. 965.  O cumprimento de decisão estrangeira far-se-á perante o juízo federal competente, a requerimento da parte, conforme as normas estabelecidas para o cumprimento de decisão nacional.
Parágrafo único.  O pedido de execução deverá ser instruído com cópia autenticada da decisão homologatória ou do exequatur, conforme o caso.
DELIBAÇÃO: não se entra no mérito da decisão a ser homologada, examinando-se apenas certos pressupostos formais. Trata-se do sistema adotado no Brasil, competindo ao STJ verificar o preenchimento dos REQUISITOS FORMAIS, E NÃO DO MÉRITO DA CAUSA, ressalvado o exame dos aspectos atinentes à ORDEM PÚBLICA, SOBERANIA NACIONAL, CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL.
1.1.3. Ação
O meio de se provocar a tutela jurisdicional é a ação.
A par desse poder-dever do Estado de prestar a tutela jurisdicional, surge para o indivíduo um direito público subjetivo de acionar a jurisdição (direito de ação). O direito de ação é público, porque se dirige contra o Estado-juízo. 
É subjetivo, porque o ordenamento jurídico faculta àquele lesado em seu direito pedir a manifestação do Estado (provocar a tutela jurisdicional) para solucionar o litígio, dizendo qual é o direito de cada uma das partes no caso concreto. 
Ação, portanto, numa concepção eclética, é o direito a um pronunciamento estatal que solucione o litígio, fazendo desaparecer a incerteza ou a insegurança gerada pelo conflito de interesses, pouco importando qual seja a solução a ser dada pelo juiz.
Evolução do conceito de ação:
1.Teoria Imanentista ou Civilista: para os defensores dessa teoria, a ação é imanente (aderida) ao direito material controvertido, de forma que a jurisdição só pode ser acionada se houver o direito postulado. Em outras palavras, a ação seria o próprio direito material violado em estado de reação. Da adoção da teoria imanentista advêm três corolários: não há ação sem direito material; não há direito sem ação; a ação segue a natureza do direito material alegado. Nesse contexto, uma ação de cobrança, por exemplo, só poderia ser manejada se não pairasse dúvida sobre o crédito do autor. É a teoria defendida por Savigny e adotada pelo Código Civil de 1916, que dispunha, em seu art. 75, que “a todo direito corresponde uma ação, que o assegura”.
Com o passar do tempo, essa teoria foi abandonada pela doutrina, que, de um modo geral, passou a considerar o direito de ação autônomo, distinto, portanto, do direito material. Seguindo essa linha de raciocínio, o disposto no art. 75 do Código Civil de 1916 não foi reproduzido no Código Civil de 2002, de modo a consagrar a desvinculação entre a ação e o direito material postulado.
2.Polêmica Windscheid × Muther (a ação como direito autônomo): foi o conhecido debate entre os juristas alemães Windscheid e Muther, no ano de 1856, que possibilitou a reelaboração do conceito de ação. A ação, antes concebida como o direito de exigir o que é devido (teoria imanentista), passou a ser vista como autônoma em relação ao direito material controvertido (o direito ao crédito, por exemplo). É que, no final da polêmica, ficou assentado que o direito disputado pelas partes e o direito de ação são realidades distintas.
Independentemente do direito que se diz lesado, da ação nascem dois direitos: (a) o direito do ofendido de pedir a tutela jurídica do Estado (direito público subjetivo); e (b) o direito do Estado (que detém o monopólio da justiça) de compor o litígio.
A partir do debate entre Windscheid e Muther, duas correntes principais se formaram para explicar a natureza autônoma da ação:
a) Teoria da ação como direito autônomo e concreto: A AÇÃO É AUTÔNOMA, MAS SÓ EXISTE QUANDO A SENTENÇA FOR FAVORÁVEL (AÇÃO CONSISTE NO DIREITO À SENTENÇA FAVORÁVEL). Em outras palavras, o direito à ação só é possível quando existir o direito material. Principais defensores da teoria: Wach, Bulow, Hellwig. A partir dessa teoria, Chiovenda formulou a teoria do direito potestativo, segundo a qual a ação é autônoma e concreta, se dirigindo contra o adversário, sujeitando-o.
Na atualidade, poucos defendem a teoria do direito concreto de ação. Mesmo assim, ainda é frequente a menção à “procedência da ação”, o que, partindo-se da concepção autônoma e abstrata do direito de ação, evidencia erro de técnica. Afinal de contas, se o direito de ação não possui qualquer relação com o direito material objeto da lide, como julgá-la procedente ou improcedente? O mais correto, pois, é se falar em procedência ou não do pedido formulado na petição inicial.
b) Teoria da ação como direito autônomo e abstrato: para essa teoria, a ação não tem qualquer relação de dependência com o direito material controvertido. Seu surgimento está atrelado a duas perguntas que não foram respondidas nem pela teoria imanentista nem pela teoria concreta, a saber: em que consiste a atividade jurisdicional prestada pelo Estado-juízo no caso de improcedência do pedido formulado na inicial de determinada

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