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INTRODUÇÃO Quantas vezes você já ouviu alguém dizer que as pessoas são contratadas pelas suas habilidades técnicas e demitidas pelas suas fragilidades ou dificuldades comportamentais? No ambiente organizacional, não é mais novidade a necessidade de um conjunto de competências emocionais e sociais para o trabalho; já sabemos que somente um excelente currículo não garante a colocação do profissional. As perguntas que, ordinariamente, os profissionais se fazem são: que competências são essas? E por que elas se tornam um diferencial? O mundo vem passando por transformações decorrentes da combinação de diversos fatores. Entre eles, três foram determinantes para a configuração atual do ambiente de negócios e do ambiente em que ocorrem as relações de trabalho: a (re)configuração geopolítica (fim da polaridade capitalismo versus comunismo), a globalização e o desenvolvimento de tecnologias que aceleraram os processos de inovação, especialmente por meio das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Esses três fatores, operando de maneira interdependente, resultaram em um ambiente de negócios caótico, turbulento e em rápida transformação, além de aumentarem a complexidade das dinâmicas sociais. O atual cenário, no qual temos de lidar cada vez mais com redes de colaboração móveis e com comunidades de aprendizado para podermos operar na economia informacional ou do conhecimento, demanda o desenvolvimento de habilidades de pensamento mais complexas e adaptativas. Habilidades relacionadas à inteligência emocional, à inteligência social, à resiliência e à liderança, entre outras capacidades, vêm-se tornando os principais diferenciadores para profissionais de todas as áreas. Essas habilidades são tão difíceis de construir e tão críticas para o desempenho das pessoas e das organizações, exigindo um esforço significativo para serem adquiridas e mantidas, que são hoje denominadas power skills. Ainda assim, as power skills ou habilidades comportamentais ainda são negligenciadas no processo formativo. Da escola à universidade, não estão incluídas no currículo disciplinas que visem ao desenvolvimento de competências de relacionamento intrapessoal e interpessoal ou competências que facilitem o desempenho mais eficaz em face das adversidades. Nesta disciplina, trataremos exatamente dessas habilidades comportamentais e dos seus impactos no desempenho profissional e na gestão da carreira. Para isso, abordaremos, também, temas e conceitos intervenientes, tais como diversidade e inclusão, alto desempenho, inteligência colaborativa e inteligência cultural. Diante disso, nosso objetivo geral é oferecer oportunidades de ampliação de habilidades comportamentais relevantes para a atuação em vendas. De forma mais específica, objetivamos, ao longo dos módulos: aprofundar a relação das power skills com trabalhabilidade e carreira; conhecer os conceitos de inteligência emocional e inteligência social; aplicar habilidades de inteligência emocional e de inteligência social; relacionar habilidades de inteligência emocional e inteligência social com instrumentos utilizados para a construção do relacionamento comercial; conhecer conceitos de liderança; aprofundar habilidades de autoliderança; conhecer o conceito de resiliência; aprofundar habilidades relacionadas à resiliência e ao enfrentamento de stress; compreender o contexto da sociedade da informação e do conhecimento; conhecer e aplicar habilidades como inteligência colaborativa, inteligência cultural e gestão de ambientes multigeracionais; conhecer o conceito e aprofundar a aplicabilidade de equipes de alto desempenho e conhecer e distinguir os conceitos de diversidade e inclusão. Com o intuito de atender a tais objetivos, esta disciplina está organizada em quatro módulos. No módulo 1, Power skills, trabalhabilidade e carreira, aprofundaremos a relação entre estes três conceitos: power skills, trabalhabilidade e carreira. Inicialmente, trataremos de compreender as definições de soft skill e hard skill bem como o motivo da adoção da nomenclatura power skill. Outro conceito a ser abordado nesse módulo é o de empregabilidade e trabalhabilidade e a sua relação com as competências para o futuro do trabalho. Destacaremos também as atuais abordagens conceituais de carreira, estudaremos alguns aspectos intervenientes na gestão da carreira e, por fim, aprenderemos, ainda, a reconhecer e aplicar os elementos que auxiliam a autoavaliação da trajetória profissional, possibilitando identificar alternativas para o desenvolvimento da própria carreira. No módulo 2, Inteligência emocional e inteligência social, estudaremos os conceitos de inteligência emocional e inteligência social e a sua aplicabilidade, abordando as capacidades de autoconsciência, autorregulação, enfrentamento de adversidades e empatia. Um outro aspecto a ser tratado nesse módulo diz respeito à aplicabilidade da inteligência social, especificamente o rapport e a empatia, na construção de relacionamentos. Por fim, trataremos de alguns instrumentos que facilitam a construção do relacionamento comercial, nomeadamente as redes sociais, e das habilidades requeridas para a sua operacionalização de maneira eficaz. No módulo 3, Liderança e resiliência, estudaremos os conceitos e as principais teorias de liderança assim como aspectos importantes de liderança de equipes e de autoliderança. Na sequência, abordaremos a trajetória de um líder na organização, buscando compreender, especificamente, os estágios de evolução dessa trajetória. Por fim, trataremos do conceito de resiliência e os seus principais elementos – adversidade, risco, stress, fatores de proteção e vulnerabilidade, além de estudarmos os atributos da resiliência. Finalmente, no módulo 4, Alto desempenho, colaboração e diversidade, trataremos de compreender a importância da aplicação da inteligência colaborativa, por organizações e indivíduos, no contexto da sociedade da informação e do conhecimento. Ainda alinhados com o contexto contemporâneo, trataremos de compreender a dinâmica das equipes de alto desempenho e as características de profissionais de alto desempenho. Os conceitos de diversidade e inclusão também serão abordados assim como temas relacionados à dinâmica contemporânea das organizações diversas, como: vieses inconscientes, inteligência cultural e os ambientes multigeracionais. SUMÁRIO MÓDULO I – POWER SKILLS, TRABALHABILIDADE E CARREIRA ...................................................... 11 SOFT SKILLS, HARD SKILLS E POWER SKILLS: DEFINIÇÕES, APROXIMAÇÕES E DIFERENÇAS ...... 12 Hard skill e soft skill: definições............................................................................................... 12 Hard e soft: juntas ou separadas? .......................................................................................... 14 Por que power skill? .................................................................................................................. 15 EMPREGABILIDADE, TRABALHABILIDADE E AS COMPETÊNCIAS PARA O FUTURO DO TRABALHO......................................................................................................................................... 16 Mundo VUCA ............................................................................................................................ 16 Futuro do trabalho .................................................................................................................. 17 Competências para o futuro .................................................................................................. 19 Hard skills e power skills para a adaptação ao mercado de trabalho ........................... 23 Empregabilidade e trabalhabilidade .....................................................................................24 Capital humano .................................................................................................................. 26 Capital cultural .................................................................................................................... 27 Capital social ....................................................................................................................... 27 FATORES INTERVENIENTES NA CARREIRA: QUALIDADE DE VIDA, NETWORKING E MARKETING PESSOAL ............................................................................................................................................ 29 Mundo contemporâneo e conceito de carreira ................................................................... 29 Adaptabilidade de carreira e qualidade de vida .................................................................. 31 Qualidade de vida no trabalho ......................................................................................... 33 Networking ................................................................................................................................. 34 Dimensão ............................................................................................................................. 34 Força dos relacionamentos ............................................................................................... 35 Padrão de relacionamento ................................................................................................ 35 Recursos .............................................................................................................................. 36 Marketing pessoal e aspectos éticos ..................................................................................... 36 Ética ...................................................................................................................................... 37 Ética e relações interpessoais ........................................................................................... 37 Valores, profissão e ética ................................................................................................... 38 A ética, a reputação e a imagem do profissional ........................................................... 39 PLANO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E PESSOAL ......................................................... 39 Autoconhecimento e autogestão .......................................................................................... 39 Autoconhecimento ............................................................................................................. 40 Satisfação e interesses conflitantes ...................................................................................... 41 Intraempreeendedorismo ...................................................................................................... 43 O plano de desenvolvimento individual ............................................................................... 44 Proposta de Savioli (1991) ................................................................................................. 44 Proposta de Kotter, Faux e McArthur (LONDON; STUMPH, 1982, cap. 3) .................. 45 MÓDULO II – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E INTELIGÊNCIA SOCIAL ............................................... 47 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E INTELIGÊNCIA SOCIAL: DEFINIÇÕES .......................................... 48 Inteligência emocional ............................................................................................................ 48 Principais modelos ............................................................................................................. 49 Inteligência social ..................................................................................................................... 51 AUTOCONSCIÊNCIA ......................................................................................................................... 55 Teoria da autoconsciência ................................................................................................. 55 Mudança de modelos ........................................................................................................ 57 Autogerenciamento ou autorregulação ............................................................................... 58 IE e resiliência: hardiness ......................................................................................................... 59 Automotivação ......................................................................................................................... 60 CONSTRUÇÃO DE RELACIONAMENTOS ........................................................................................ 61 Importância da confiança e da credibilidade ....................................................................... 61 Rapport: o que é e como gerar ............................................................................................... 62 Comportamento atencioso ............................................................................................... 62 Comportamento imitativo ................................................................................................. 63 Comportamento cortês ..................................................................................................... 63 Comportamento de base de similaridade ...................................................................... 64 Ambiente externo: empatia e escuta ativa ........................................................................... 64 Escuta ativa e empatia ....................................................................................................... 65 Mas como é que praticamos a empatia? ........................................................................ 65 INSTRUMENTOS PARA FACILITAR A CONSTRUÇÃO DO RELACIONAMENTO COMERCIAL ..... 65 Pesquisa/recolhimento de informação ................................................................................ 65 Uso de tecnologia (redes sociais) .......................................................................................... 66 Prospecção: entendendo o cliente ................................................................................... 66 Abordagem: construindo rapport ..................................................................................... 67 Relacionamento pós-venda .................................................................................................... 68 MÓDULO III – LIDERANÇA E RESILIÊNCIA ......................................................................................... 69 LIDERANÇA ........................................................................................................................................ 70 Conceito e evolução histórica ................................................................................................ 70 Evolução das teorias sobre liderança .............................................................................. 71 Traços de liderança ............................................................................................................ 71 Comportamentos e estilos de liderança ......................................................................... 72 Liderança contingencial/situacional ...................................................................................... 73 Teorias de processo ........................................................................................................... 74 Teoria da troca líder-membro (LMX) ................................................................................ 74 Teoria transacional e teoria transformacional ............................................................... 75 Emoções...............................................................................................................................76 Liderança de equipes e autoliderança .................................................................................. 77 Autoliderança ...................................................................................................................... 78 Estratégias focadas no comportamento ......................................................................... 78 Estratégias de recompensa psicológica ou natural ....................................................... 79 Estratégias de padrão de pensamento construtivo ...................................................... 80 Desenvolvimento de líderes e pipeline de liderança (estágios de liderança em uma organização) ............................................................................................................................. 80 SKILLS DE AUTOLIDERANÇA ............................................................................................................ 85 LÓCUS de controle .................................................................................................................... 85 Gestão do tempo ..................................................................................................................... 86 RESILIÊNCIA – CONCEITO E ELEMENTOS ...................................................................................... 88 Conceito .................................................................................................................................... 88 Risco, adversidade e STRESS ................................................................................................... 89 Fatores de risco .................................................................................................................. 89 Adversidade ......................................................................................................................... 90 Stress ..................................................................................................................................... 90 Fatores de proteção e vulnerabilidade ................................................................................. 90 Fatores de proteção ........................................................................................................... 90 Vulnerabilidade ................................................................................................................... 91 Adaptação positiva .................................................................................................................. 91 Adaptação positiva: conformidade versus superação ................................................... 92 ATRIBUTOS DE RESILIÊNCIA ........................................................................................................... 92 COPING e gestão de estresse.................................................................................................. 92 Coping e resiliência ............................................................................................................. 92 Estratégias de coping e gestão de stress .......................................................................... 93 Outras características de resiliência...................................................................................... 94 MÓDULO IV – ALTO DESEMPENHO, COLABORAÇÃO E DIVERSIDADE............................................ 99 IMPORTÂNCIA DA COLABORAÇÃO ............................................................................................. 100 Sociedade da informação e do conhecimento e a inteligência colaborativa ............... 100 Inteligência colaborativa ................................................................................................. 101 Colaboração no processo de vendas ................................................................................. 102 TRABALHO EM EQUIPES DE ALTO DESEMPENHO .................................................................... 103 Equipes de alta performance: conceito e características ................................................ 103 Características do profissional de alto desempenho em vendas .................................. 105 DIVERSIDADE E INCLUSÃO ........................................................................................................... 106 Diversidade nas organizações ............................................................................................ 106 Inclusão .................................................................................................................................. 107 Gestão da diversidade .................................................................................................... 108 HABILIDADES PARA COLABORAR EM AMBIENTES HETEROGÊNEOS ..................................... 108 Reconhecer vieses inconscientes ....................................................................................... 108 Inteligência cultural .............................................................................................................. 110 Ambientes multiculturais ............................................................................................... 110 Ambientes multigeracionais e ageísmo ............................................................................. 112 Ambientes multigeracionais .......................................................................................... 112 Ageism ou idadismo e a gerontofobia: o peso da idade ............................................. 112 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 114 PROFESSOR-AUTOR ........................................................................................................................... 128 A combinação de hard skills e soft skills se tornou uma vantagem competitiva para profissionais de todas as áreas. Pode-se dizer que hard skills são as habilidades técnicas, e as soft skills são as habilidades comportamentais, que podem ser exemplificadas como: comunicação, liderança, habilidade em tomar decisões, gestão de conflitos, construção de equipes e facilidade em trabalhar em equipe. Ao contratarem os seus profissionais, as empresas mantinham o seu foco somente nas hard skills, porém essa realidade mudou. Já se sabe que as hard skills não são mais suficientes para o sucesso das pessoas e das organizações. Agora, as soft skills se tornaram condição sine qua non para alavancar resultados de negócio e para o sucesso profissional, motivo pelo qual passaram a ser denominadas, mais recentemente, power skills. Diante dessa realidade, neste módulo, exploraremos a relação das power skills com aspectos relacionados à trabalhabilidade e carreira. Dada a importância das power skills para o sucesso dos profissionais e das organizações, trataremos de compreender as definições de soft skill e hard skill, e o motivo da adoção da nomenclatura power skill, a fim de elucidar a relação de interdependência entre hard skill e soft skill. Outro conceito a ser abordado é o de empregabilidade e trabalhabilidade bem como a sua relação com as competências para o futuro do trabalho. Igualmente, abordaremos as megatendências globais (cenário V.U.C.A.) e os seus impactos no mundo laboral, possibilitando maior clareza na identificação dos decorrentes desafios a serem enfrentados no mercado de trabalho e na gestão da carreira. No que se refere à carreira, além de compreendermos as atuais abordagens conceituais, estudaremos alguns aspectos intervenientes na gestão da carreira, tais como: qualidade de vida, redes de relacionamento, aplicação dos princípios do marketing pessoal e observância de uma postura ética. MÓDULO I – POWER SKILLS, TRABALHABILIDADE E CARREIRA 12 Por fim, aprenderemos a reconhecere aplicar os elementos que auxiliam a autoavaliação da trajetória profissional, possibilitando identificar alternativas para o desenvolvimento da própria carreira e, dessa maneira, elaborar um plano de desenvolvimento profissional e pessoal, considerando o comportamento intraempreendedor como vantagem competitiva. Soft skills, hard skills e power skills: definições, aproximações e diferenças Hard skill e soft skill: definições Antes de definirmos hard ou soft skills, vejamos o que quer dizer o termo skill. Skill é uma palavra inglesa que significa: (1) “o conhecimento e a habilidade que permite você fazer algo bem” e (2) “é um tipo de trabalho ou ofício que requer um treinamento especial e conhecimento” (COLLINS, 1992, p. 748). As hard skills podem ser adquiridas por meio de treinamento, educação ou experiência; trata- se de habilidades especializadas para que o indivíduo realize uma tarefa (WIKLE; FAGIN, 2015). A partir disso, conceitua-se a hard skill como a habilidade técnica específica que se relaciona com um determinado campo de conhecimento. Hard skills são todas as conquistas que constam de um currículo, tais como formação acadêmica, experiência profissional, conhecimentos, cursos, habilidades de uso de softwares bem como métodos específicos e certificações. Via de regra, podem ser mensuradas ou comprovadas por meio da produção de algum tipo de artefato (diploma, certificado ou peça/documento resultante do trabalho feito após a aplicação do conhecimento em questão). Historicamente, as hard skills ou habilidades técnicas eram as únicas necessárias para se alcançar um emprego e progredir na carreira. Contudo, há dois fatores que geram um impacto significativo nas habilidades requeridas pelo mercado de trabalho: a rápida evolução da tecnologia e a transição de uma economia industrial para uma economia que tem como base o conhecimento. No momento presente, o conhecimento torna-se fator-chave na teoria econômica: o mundo convive com a sociedade do conhecimento. Essa realidade torna fundamental para as organizações saber identificar e gerir de maneira inteligente o conhecimento e tem implicações substanciais no cotidiano material e mental das pessoas. Além da exposição cada vez maior à inteligência artificial, à robótica avançada, ao transporte autônomo, à biotecnologia etc., a interação entre fatores demográficos e socioeconômicos e fatores geopolíticos e tecnológicos já revela rupturas de modelos na área do trabalho e emprego e desafia a forma como se fazem negócios, como se faz gestão e, obviamente, a capacidade de adaptação e de inovação de empresas, de grupos sociais, de governos e de indivíduos. 13 Não resta dúvida de que o conjunto de habilidades que preparava um indivíduo para o mercado de trabalho modificou-se junto com tudo isso. Hoje, é inequívoca a demanda por habilidades mobilizadoras de um melhor desempenho comportamental. Com isso, nota-se que o termo soft skills vem sendo recorrentemente aplicado no mundo do trabalho. Devido às várias nomenclaturas associadas a esse termo, a definição precisa de soft skills não é uma tarefa fácil. Comecemos pelo contraste do termo soft skill com o termo hard skill. Hard skill se refere a uma aptidão, um conhecimento ou uma habilidade técnicos; já o termo soft skill engloba definições que acolhem traços de personalidade e de caráter, atitudes e comportamentos que definem e diferenciam o nível de desempenho das pessoas no exercício de um trabalho ou de um papel social. A literatura nos campos da administração, da educação e da psicologia nos fornecem uma gama de terminologias utilizadas para nomear as habilidades ligadas ao comportamento do indivíduo: behaviour skills ou habilidades comportamentais, generic skills ou habilidades genéricas, core skills ou habilidades essenciais, personal skills ou habilidades pessoais, key skills ou habilidades-chave, interpersonal skills ou habilidades interpessoais, soft competences ou competências soft (DENCH, 1997; ELLIOT; DAWSON, 2015; SKULMOSKI; HARTMAN, 2009). No âmbito corporativo, é muito comum também a associação do termo soft skills à gestão e ao trabalho com pessoas. Na verdade, o termo soft skills inclui mais do que habilidades interpessoais, ele acolhe também qualidades pessoais e atributos relacionados à carreira. Habilidades interpessoais são aquelas utilizadas nas relações com as outras pessoas e são consideradas por alguns pesquisadores como as mais importantes em todos os níveis da carreira (SHEIKH, 2009; SMITH, 2007). Qualidades pessoais incluem, entre outros, a personalidade do indivíduo, a sua simpatia e capacidades como controle emocional, gestão de tempo e organização (PARSONS, 2008). Já os atributos relacionados à carreira apontam para comunicação, capacidade de trabalhar em equipe, liderança e orientação de serviço (JAMES; JAMES, 2004). As habilidades interpessoais são um componente-chave das soft skills, pois elas são a base para a orientação de serviço que, por sua vez, é essencial para o sucesso profissional em quase todas as profissões. As habilidades interpessoais promovem interações positivas e respeitosas, além de facilitarem a comunicação eficaz e a capacidade de enfrentar situações difíceis no relacionamento com outras pessoas. Exemplos comuns de soft skills são: comunicação, cooperação, liderança, independência e criatividade. Desse modo, podemos constatar que, ao contrário das hard skills, que afetam a capacidade de uma pessoa de cumprir uma determinada tarefa por meio da aplicação de conhecimentos e habilidades técnicas, as soft skills tem uma aplicabilidade interpessoal e mais abrangente, influenciando a carreira e a vida social do indivíduo. Soft skills também podem ser chamadas de habilidades “aplicadas” ou “habilidades do século 21” (GEWERTZ, 2007). 14 Hard e soft: juntas ou separadas? As soft skills têm mais a ver com quem somos do que com o que sabemos. Enquanto as hard skills podem ser aprendidas e aperfeiçoadas com o tempo, as soft skills são mais difíceis de adquirir e mudar. Pode-se afirmar que as soft skills englobam habilidades socioemocionais, enquanto as hard skills fundamentam-se nas habilidades mais técnicas e mais mensuráveis. As hard skills são quantificáveis e facilmente comprováveis por meio de certificados ou diplomas, sendo, via de regra, descritas nos currículos. Por outro lado, as soft skills estão relacionadas a habilidades mais subjetivas ou interpessoais dos profissionais, vinculadas a traços de personalidade, caráter ou valores, não sendo, portanto, facilmente mensuráveis. Daqueles indivíduos que possuem as soft skills desenvolvidas, são esperadas habilidades tais como: comunicação, resiliência, flexibilidade, paciência, fácil engajamento em novos grupos de trabalho, iniciativa, cordialidade, originalidade, pensamento crítico, capacidade de ouvir com atenção, espírito de equipe, empatia, inteligência emocional, habilidades relacionadas à tolerância ao estresse e à frustração, entre outras. As soft skills também estão relacionadas à inteligência emocional e às habilidades mentais. Tais competências, certamente, não são facilmente comprovadas em um currículo e, no atual momento, considerando-se que os robôs não podem automatizar ou simular tais habilidades, as soft skills passam a ser cada vez mais exigidas, representando diferenciais no desempenho de profissionais que as máquinas não são capazes de alcançar. Dessa forma, é desejável desenvolver habilidades como criatividade, empatia, adaptabilidade, comunicação, capacidade de persuasão, capacidade de organização e de gestão do tempo, colaboração, entre outras. No entanto, isso não quer dizer que as hard skills poderão ser substituídas plenamente pelas soft skills ou por outras habilidades. Atualmente, as organizações necessitam de profissionais que, além de dominar o “saber fazer”nas suas áreas de especialidade, também devem ter a competência de tomar decisões rápidas, baseadas em dados que se avolumam de forma exponencial; de liderar e treinar outros profissionais de forma a lhes empoderar e não mais apenas controlá-los para executarem suas tarefas; além de conseguirem lidar com a incerteza e com a pressão advinda de crises e rupturas ocorridas no ambiente de negócios. A integração cada vez maior das hard e das soft skills é necessária para que se atenda ao perfil dos postos de trabalho que vêm mudando com velocidade espantosa; não é mais aceitável pensar em profissionais dotados exclusivamente das hard skills ou das soft skills. As habilidades hard e soft devem-se complementar (NIERAGDEN, 2000). 15 Por que power skill? Na língua inglesa, hard pode significar duro ou também difícil, e soft pode significar mole, macio, suave ou simples, dando a entender que as habilidades comportamentais quando comparadas às habilidades técnicas seriam mais simples ou até mesmo mais fáceis. Entretanto, soft skills são habilidades altamente complexas, que levam anos para serem aprendidas e estão sempre mudando o seu escopo em função das variáveis externas. Vamos tomar como exemplo uma das habilidades atualmente mais procuradas: “disposição para ser flexível, ágil e adaptável às mudanças”. Embora seja tratada como uma soft skill, essa disposição envolve um verdadeiro pacote de traços de personalidade, comportamentos, modelo mental e experiências, que são essenciais para o sucesso de qualquer profissional ou organização. Quanto tempo se leva e que circunstâncias são necessárias para aperfeiçoar, por exemplo, a habilidade de ser “adaptável à mudança”, a ponto de influenciar o comportamento cotidiano de uma pessoa diante de eventos como a pandemia de Covid-19, por exemplo? Que traços de personalidade contribuem para o desenvolvimento da adaptabilidade às mudanças: flexibilidade, resistência cognitiva (hardiness), vontade de mudar? Como se adquire essas características? No mesmo caminho, seguem habilidades como “capacidade de se comunicar com eficácia em um contexto de negócios”, “capacidade de inovação e criatividade”, "curiosidade". Todas elas são consideradas soft skills e todas são atualmente indicadas como as mais importantes e "difíceis" no mundo dos negócios. Hard skills mudam o tempo todo, tornam-se, frequentemente, obsoletas e são relativamente fáceis de aprender, ou seja, de hard (difíceis) na verdade não têm nada; já as soft skills são difíceis de construir, são críticas para o desempenho das pessoas e das organizações e exigem um esforço extremo para serem adquiridas e mantidas. Por isso, Philip Hanlon, presidente do Dartmouth College, defendeu a mudança do nome de soft skill (habilidade leve ou suave em tradução livre) para power skill (habilidade poderosa). Power skills é o termo que foi cunhado para (re)denominar as habilidades muito mais complexas e mais difíceis de serem adquiridas e mantidas quando comparadas às hard skills. Já sabemos que as habilidades do futuro não são as técnicas, mas sim as comportamentais. Sem elas, tanto pessoas quanto organizações, dificilmente, alcançarão e sustentarão o sucesso; além disso, desenvolvê-las exige um compromisso para toda a vida. O quão hard você imagina que isso seja? 16 Empregabilidade, trabalhabilidade e as competências para o futuro do trabalho Mundo VUCA O termo VUCA (VUCA em inglês, VICA em português) é, na verdade, um acrônimo, que começou a ser aplicado no final dos anos 1990. Ele é originário do vocabulário militar norte- americano e é utilizado para descrever a volatilidade (volatility), a incerteza (uncertainty), a complexidade (complexity) e a ambiguidade (ambiguity) no cenário atual. Em 1998, o United States War College apresentou esse conceito no relatório Training and education of army officers for the 21st Century: implications for the United States (WHITEMAN, 1998). Atualmente, empresas e líderes organizacionais adotam o termo para descrever o ambiente de negócios caótico, turbulento e em rápida transformação. Além dessas características, o termo VUCA também expressa a complexidade da nossa sociedade contemporânea, devido à interdependência e à globalização. O termo VUCA reúne características que refletem o atual cenário da economia informacional ou economia do conhecimento. Nesse cenário, temos de lidar cada vez mais com redes de colaboração móveis e comunidades de aprendizado. Nossa experiência cotidiana já permite constatar que qualquer lugar que tenha uma conexão pode ser considerado um escritório, com horários de trabalho flexíveis, ou um local de aprendizado; já vivenciamos também experiências de aprendizagem contínua e reflexiva, em um ambiente que desconhece fronteiras geográficas, setoriais e de negócios. Para compreendermos por que o mundo VUCA demanda o desenvolvimento de habilidades de pensamento mais complexas e adaptativas, vamos analisar o significado de cada letra do acrônimo VUCA. V – volatilidade: característica que remete ao ritmo acelerado com que ocorrem mudanças impactantes na vida das sociedades desenvolvidas no atual contexto da era da do conhecimento. Diante dessa volatilidade, tomar decisões a longo prazo torna-se um processo difícil; portanto, para a resolução de problemas e a tomada de decisões serem mais eficazes e efetivas, é requerido um alinhamento de visão e uma contextualização detalhada junto aos parceiros de negócio ou trabalho. I – incerteza: o conhecimento sobre uma dada situação é muitas vezes incompleto, o que potencializa o aparecimento de opiniões divergentes sobre o melhor curso de ação a seguir. Diante da falta de previsibilidade e controle sobre o que acontecerá no futuro, uma cuidadosa análise do risco das ações a serem tomadas precisa ser feita. C – complexidade: as interações não são lineares, os resultados não são previsíveis e as interdependências não são óbvias. Dessa forma, não é possível observar uma relação concreta de causa e efeito das nossas atitudes, o que demanda estar aberto ao erro e ao fracasso e ser flexível e ágil para reverter situações adversas. Um dos quesitos-chave para lidar com a complexidade é a formação de parcerias. 17 A – ambiguidade: quando as evidências existentes são insuficientes para esclarecer o significado de um determinado fenômeno, estamos sujeitos às diferentes interpretações, o que gera mais incerteza e risco. Na prática, são tantas as possibilidades de se ter diferentes interpretações para um mesmo evento que a probabilidade de erros de interpretação dos eventos trona-se cada vez maior. Futuro do trabalho Em outros momentos da história, a força de trabalho sofreu impactos e mudanças em virtude do surgimento de novas tecnologias e, embora o medo do desemprego em massa a longo prazo estivesse na pauta de discussões a cada nova onda de redefinições no mundo do trabalho por conta das novas tecnologias, o que ocorreu foi a criação de novos tipos de trabalho. Com toda certeza, não podemos predizer se as coisas acontecerão da mesma forma novamente. Desta vez, parece que não será possível tentar andar para frente olhando pelo retrovisor, pois a atual revolução tecnológica apresenta características estruturais determinantes que a diferenciam das revoluções anteriores. Algumas diferenças em relação ao passado precisam ser consideradas, por exemplo: a velocidade com que ocorre a atual transformação, o surgimento ou o amadurecimento simultâneo de uma quantidade significativa de tecnologias disruptivas, o ciclo reduzido de escalabilidade das novas tecnologias, além da diferente demanda de qualificação para os trabalhadores e da tendência à exclusão de algumas ocupações. Em seu livro Sociology, work and industry, Watson (2008) argumenta que, ao tentarmos fazer especulações sobre o futuro do trabalho,estamos pisando em terreno altamente escorregadio. De fato, a impossibilidade de estabelecer, empiricamente, o que “poderia ser” o futuro do trabalho é comprovada quando se verifica que o tema vem sendo, recorrentemente, abordado por duas grandes narrativas polarizadas: de um lado, narrativas tecnologicamente utópicas e progressistas, de outro, previsões pessimistas sobre o fim do emprego e a total precarização do trabalho. Charles Handy (1984), em seu livro The future of work, previu o colapso da sociedade de pleno emprego assalariado e a transformação profunda do trabalho. O autor previu, também, a divisão entre trabalhadores nucleares e periféricos, a difusão do trabalhador de portfólio, a conexão dos trabalhadores por meio das tecnologias de informação e comunicação e a consequente substituição das estruturas organizacionais baseadas na burocracia e na hierarquia por uma estrutura em rede. Handy (1984) tinha uma visão otimista a respeito de um novo mundo do trabalho inserido na economia do conhecimento, onde haveria maior flexibilidade e mais oportunidades para os indivíduos terem uma vida mais livre das amarras organizacionais. Cerca de dez anos depois, Bridges (1995) reforçou a tese do colapso do trabalho assalariado e anunciou que o trabalho passaria a ser uma empresa individual: a era pós-emprego. Para Bridges (1995), cada um está por sua conta e em concorrência com uma multidão de empresas individuais. 18 A verdade é que, devido às mudanças nas tecnologias e nos processos produtivos e de gestão, para os teóricos do pós-emprego, o desaparecimento de empregos é inevitável e os freelancers surgirão aos borbotões na maioria das atividades do futuro. Essa perspectiva leva-nos a considerar um importante desafio dirigido ao trabalhador: ter de se transformar em empreendedor e em gestor de si e do seu negócio, incluindo a sua formação, a sua carreira e também todos os aspectos relacionados à sua segurança – saúde, aposentadoria, riscos laborais etc. Em 2004, em seu livro O fim dos empregos – o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global de trabalho, considerado polêmico naquela época, Jeremy Rifkin (2004) afirmou que o século XXI seria o século do “fim dos empregos”. A obra de Rifkin foi atualizada e reimpressa em edição de 2020 e se propõe a examinar a profunda transformação que ocorre não apenas no mundo do trabalho, mas em variadas dimensões da vida social e da vida de todas as pessoas. No livro The future of work: robots, AI, and automation, West (2018) prevê que as revoluções da inteligência artificial e do big data venham a alterar radicalmente a natureza e a existência do trabalho como o conhecemos. O futuro do trabalho é hoje incerto, e a epidemia de Covid-19 desafiou, profundamente, os modos de trabalho e organização (GRINT, 2020; KNIFFIN et al., 2020). As bases da organização produtiva serão abaladas por uma série crescente de crises ecológicas e climáticas, além da pandemia (ROUX-ROSIER et al., 2018). Alguns autores argumentam que essas crises, longe de permitirem o surgimento de novos regimes de trabalho, simplesmente, aprofundam e aceleram as tendências já existentes no ambiente do trabalho, arraigando e consolidando os aspectos mais prejudiciais dos regimes de trabalho atuais (KNIFFIN et al., 2020). Independentemente de quaisquer predições de futuro, precisamos lidar com a constatação de que o avanço da tecnologia e o processo de globalização contribuem para o aumento da incerteza e da imprevisibilidade no que diz respeito a trabalho e carreira. Pari passu, uma nova configuração do conteúdo intelectual e cultural de todas as atividades econômicas e de trabalho vai ditando um novo perfil de trabalhador, o que exige o desenvolvimento de competências substancialmente diferentes daquelas requeridas pelas profissões do século XX. Savickas et al (2009, p. 393) chamam a atenção para o seguinte: os trabalhadores precários da era da informação deverão tornar-se aprendizes permanentes, capazes de utilizar tecnologias sofisticadas, assumir a flexibilidade ao invés da estabilidade, manter a sua empregabilidade e criar as suas próprias oportunidades. 19 Competências para o futuro O processo contínuo de busca e desenvolvimento é o caminho a ser trilhado pelo trabalhador que emerge neste início de século, seja ele um profissional autônomo com acesso a oportunidades de trabalho, seja ele um empregado. Dispor de um conjunto de habilidades e conhecimentos que necessitam ser, constantemente, atualizados é uma espécie de nova regra a ser cumprida pelo trabalhador contemporâneo. O contexto empresarial, nesses últimos tempos, vem aplicando o termo “competência” como uma palavra de ordem. Fieury e Fieury (2001, p. 21) definem competência como “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar e transferir conhecimentos, recursos e habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. A concepção de qualificação tecnicista, ou seja, o foco em habilidades técnicas, foi substituída pelo modelo da competência, para atender às demandas da reorganização da economia mundial e das consequentes transformações técnico-organizacionais. A qualificação técnica, agora, está inserida em patamares multidimensionais, dependente da operacionalização de fatores de ordem subjetiva, psicossocial e cultural. Para dominar situações concretas de trabalho e conseguir transferir experiências adquiridas em determinadas situações para outras, a habilidade técnica, isoladamente, já não basta mais. É preciso mobilizar três competências: saber-fazer, saber-ser e saber-agir, conforme descrito no quadro a seguir. Quadro 1 – Competências saber-fazer saber-ser saber-agir Inclui dimensões práticas, técnicas e científicas, adquiridas formalmente ou por meio da experiência profissional. Inclui traços de personalidade e caráter, que ditam os comportamentos nas relações sociais de trabalho, como: capacidade de iniciativa, comunicação, disponibilidade para a mudança, assimilação de novos valores de qualidade etc. É inerente às situações ou eventos que exigem intervenção ou decisão, tais como: resolver conflitos, trabalhar em equipe, ser capaz de resolver problemas e realizar trabalhos novos. Fonte: Adaptado de Leite (1996). 20 Importante observar que a atual gestão empresarial tem adotado mudanças significativas em, pelo menos, três grandes categorias: 1. o trabalho em redes, aumentando a descentralização da tomada de decisões; 2. a adaptabilidade da produção flexível; 3. a melhoria contínua por meio da adoção de estruturas mais dinâmicas, capazes de favorecer a identificação de problemas e soluções. A nova cultura do trabalho requer um conjunto de competências cognitivas, sociais e tecnológicas (PASTURINO, 1999). Nesse contexto, Meister (1999) indica algumas competências, as quais veremos no quadro a seguir: Quadro 2 – Competências propostas por Meister (1999) competência Por que? O que é esperado? Aprendendo a aprender. Existe uma expectativa de que os trabalhadores atuais contribuam construtivamente em tudo. A meta é fazer com que a atitude de aprender a aprender se tome parte natural do modo como os trabalhadores pensam e se comportam nas suas atividades. Para isso, é preciso: ter capacidade de analisar situações; fazer perguntas, procurar esclarecer o que não se compreende; pensar criativamente para gerar opções; saber aplicar o conhecimento existente a novas situações; experimentar a aprendizagem adquirida pela variedade de fontes, como colegas de trabalho, clientes, fornecedores e instituições educacionais, e incorporar esse aprendizado às suas vidas; saber como compreender e manipular, rapidamente e com confiança,as novas informações recebidas; 21 competência Por que? O que é esperado? mostrar comprometimento com o autodesenvolvimento, melhorando constantemente a sua capacidade de aprender novas técnicas e competências e ser capaz de lidar com a ambiguidade e com o caos dentro de uma organização. Comunicação e colaboração. Atualmente, a eficiência do indivíduo está, cada vez mais, associada a habilidades de comunicação e colaboração desenvolvidas nas equipes de trabalho, contrastando com um passado em que o bom desempenho no trabalho significava executar um conjunto de tarefas determinadas e repetitivas de maneira satisfatória. Para desenvolver essa competência de comunicar e colaborar, é preciso: ter habilidades interpessoais, tais como ouvir e comunicar-se efetivamente com colegas de trabalho; saber trabalhar em grupo, colaborar com membros da equipe para compartilhar, abertamente, as melhores práticas em toda a organização; solucionar conflitos e relacionar-se com clientes, fornecedores e principais integrantes da cadeia de valores. Raciocínio criativo e resolução de problemas. A organização rápida e flexível precisa ser capaz de responder depressa às diversas situações surgidas no ambiente de negócios (interno e externo). A ideia é aumentar a capacidade gerencial de todos os colaboradores na organização, como uma parte fundamental da sustentação da vantagem competitiva de uma empresa. Para isso, é preciso: saber lidar, adequadamente, com situações sem orientação superior; identificar maneiras de melhorar e agilizar o trabalho; pensar criativamente; desenvolver habilidades de resolução de problemas; ser capaz de analisar situações; fazer perguntas, procurar esclarecer o que não compreendem; 22 competência Por que? O que é esperado? sugerir melhorias; ultrapassar os dados superficiais para criar soluções inovadoras para problemas inesperados; saber reconhecer e definir problemas; implementar soluções; gerar novas ideias e agir e controlar e avaliar os resultados. Conhecimento tecnológico. no ambiente de negócios do passado recente, conhecer tecnologia significava saber como operar o computador pessoal. Agora a ênfase está conexão entre pessoas, visando compartilhar conhecimento, em escala global Essa é uma competência para a qual é preciso: ter a habilidade de utilizar realidade virtual; ter a habilidade de analisar e traduzir dados em conceitos abstratos e conhecer a internet, isto é, ter a habilidade de utilizar diferentes mídias para se comunicar. Conhecimento de negócios globais. No atual ambiente volátil, para agregar valor à organização, torna-se cada vez mais uma necessidade o incremento da capacidade de entender o mercado “global” em que a empresa opera. O ponto central é ter colaboradores e gerentes capazes de reconhecer as implicações econômicas e estratégicas que afetam um empreendimento comercial global. Para isso, é preciso: ter conhecimento das técnicas empresariais mais complexas; saber ler uma demonstração de resultados; conhecer um índice de retorno interno; ter comando sobre o processo de alocação de capital e saber como avaliar o potencial de um negócio. 23 competência Por que? O que é esperado? Desenvolvimento de liderança. Na organização do Século XXI, a liderança inspiradora ofuscará a gestão de comando e controle, e será a chave do desenvolvimento de um modo de pensar compartilhado. O novo imperativo passa a ser o desenvolvimento da liderança, que enfoca a identificação e o desenvolvimento de pessoas. Para isso, é preciso que as organizações propiciem um ambiente que tenha líderes capazes de definir uma visão compartilhada, tornando possível: dar autonomia aos profissionais; “capacitar” um grupo ou equipe para atingir as metas e desenvolver os meios de visualizar uma melhoria ou uma nova direção; buscar o comprometimento ativo de todos para tornar realidade a visão compartilhada da organização e desenvolver profissionais que ajam como agentes dinâmicos de mudança, em lugar de receptores passivos de instruções. Autogerenciamento da carreira. É preciso assumir o compromisso de assegurar as qualificações, o conhecimento e as competências exigidos tanto no cargo atual quanto nos futuros. A capacidade de gerenciar a própria vida profissional é agora considerada uma competência adquirida e necessária para todas as outras competências exigidas no ambiente de negócios. FONTE: ADAPTADO DE Meister (1999, p. 13-15; 92). Observe que, de acordo com as competências descritas por Meister (1999), é preciso ser ágil, aberto ao aprendizado e capaz de operar em ambientes globais para criar uma carreira duradora. Hard skills e power skills para a adaptação ao mercado de trabalho Mercado de trabalho é um espaço onde ocorrem relações entre indivíduos, instituições e sociedade. Crises e períodos de recessão, mudanças de regulamentação de profissões ou de leis trabalhistas, capacidade de convivência e relacionamento entre indivíduos diversos são fatores que podem afetar as estruturas econômicas e psicossociais que constituem o mercado de trabalho. 24 Entre as forças disruptivas que afetam o mercado de trabalho, cabe destacar a Internet das Coisas e Big Data bem como as mudanças nos ambientes de trabalho que são decorrentes da automação, da inteligência artificial e de tecnologias similares. Em tempos de globalização, alguns fatores que afetam o mercado de trabalho chamam a atenção, tais como: longevidade, conectividade, automação, acesso, uso de mídias sociais e redes de relacionamento, demanda por qualidade de vida e diversidade. O mercado de trabalho, hoje, é um espaço no qual, em maior ou menor intensidade, conforme a segmentação a que se dá destaque, indivíduos e instituições experimentam os efeitos da necessidade de responder ao impacto desses fatores. Um desses efeitos é a intensa demanda por competências como criatividade, colaboração, adaptabilidade, empatia, capacidade de empreender, liderança e resiliência. De acordo com recente pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial1, as habilidades mais demandas dos profissionais no futuro serão: resolução de problemas complexos; pensamento crítico; criatividade; gestão de pessoas; coordenação; inteligência emocional; julgamento e decisões; orientação para servir; negociação e flexibilidade cognitiva. Empregabilidade e trabalhabilidade Os grandes avanços na inteligência artificial, na automação, na robótica e na nanotecnologia podem provocar rupturas em larga escala. Trata-se de uma evolução inevitável, derivada da revolução tecnológica permanente. Sobretudo nas últimas décadas, o aumento do desemprego e a redução do emprego seguro e regular, executado em uma determinada empresa e com base em vínculos de longo prazo entre empregador e empregado, vêm sendo alvo de constantes transformações, que evidenciam novas formas de emprego, presentes na sociedade capitalista contemporânea. Também denominadas emprego flexível, nós as conhecemos sob a forma de trabalho temporário, autoemprego, trabalho com tempo parcial, trabalho em domicílio etc. (KOVÁCS, 2005). O que toda essa variedade de formas de emprego tem em comum é a flexibilidade, tanto de conteúdos contratuais, quanto de tempo de trabalho, de espaço e de regras. 1 Fonte: Relatório Future of Jobs. Disponível em: https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020. Acesso em: 30 abr. 2021. 25 Fica evidente que, nesse contexto, novas habilidades da mão de obra passama ser exigidas, especialmente a flexibilidade em relação às novas exigências do mercado, o que faz com que o trabalhador passe a se preocupar com a sua capacidade de acesso e manutenção do emprego, ou seja, com a sua empregabilidade. Importante notar que o termo “empregabilidade” vem ganhando novas expressões: trabalhabilidade, que é um termo utilizado por autores como Pereira (1999), Baumgratz e Brandão (1998), e ocupacionalidade, que é empregado por Meister (1999). Longe de alterar a base conceitual, as novas expressões visam a não caracterizar uma relação estrita com o conceito de emprego tradicional, em virtude da diminuição dos postos de trabalho formais. Além disso, a demanda por uma resposta de adaptação rápida à realidade leva indivíduos e instituições a se aproximarem de um perfil empreendedor, fazendo com que o termo trabalhabilidade se aplique melhor às combinações necessárias para o desenvolvimento da empregabilidade, combinado com as características dos empreendedores. Já se observa uma valorização da capacidade de empreender como característica de profissionais a serem contratados por empresas. A capacidade de perceber oportunidades para o negócio – o intraempreendedorismo – ganha espaço em empresas de portes diversos e não se restringe mais a uma competência valorizada somente para posições de alto escalão das organizações. Embora não exista um consenso em relação ao conceito, as definições de empregabilidade e trabalhabilidade apresentam um núcleo comum em relação ao termo empregabilidade: a capacidade de adaptação da mão de obra às novas exigências do mundo do trabalho e das organizações. Um consenso sobre o que realmente determina o acesso dos indivíduos ao emprego ou ao trabalho no País ainda não se formou, o que torna tanto a empregabilidade quanto a trabalhabilidade fenômenos complexos e determinados por diversos fatores, especialmente o processo de flexibilização do trabalho e o seu impacto na mão de obra brasileira. Diogo Helal (2005) apresentou um estudo que propõe um modelo teórico (Figura 1) que visa a apresentar as linhas gerais do fenômeno da empregabilidade individual, em função das novas exigências e configurações do mercado de trabalho. A questão fundamental abordada pelo modelo é a compreensão dos fatores que, de fato, influenciam o acesso ao emprego, e a forma como se dá essa influência. 26 Figura 1 – Modelo explicativo da empregabilidade individual Fonte: HELAL, Diogo Henrique. Flexibilização organizacional e empregabilidade individual: proposição de um modelo explicativo. Cadernos Ebape. BR, v. 3, n. 1, p. 1-15, 2005. O autor baseia o seu modelo explicativo da empregabilidade individual em três abordagens teóricas: Capital humano Em estudos sobre o mercado de trabalho, essa é a abordagem mais utilizada. Os três fatores, comumente, mais estudados são: escolaridade (medida em anos de estudo completados com sucesso), experiência de trabalho (medida em anos) e migração (migrou/não migrou). Embora ainda utilizada, a teoria do capital humano, ao tratar do mercado de trabalho, ignora aspectos sociais que, porventura, estejam associados ao acesso ao emprego, representando, portanto, uma visão limitada sobre o assunto. capital humano capital cultural empregabilidade capital social • escolaridade • experiência de trabalho • migração participação em atividades de alto status cultural background familiar (nível educacional e ocupacional dos pais e renda familiar) • • participação em grupos e organizações • probabilidade de um indivíduo estar empregado • variável independente variável dependente operacionalização da variável 27 Capital cultural A teoria do capital cultural, desenvolvida por Bourdieu e pelos seus colaboradores (BOURDIEU; PASSERON, 1977), postula que, embora a “modernização” tenha acelerado o processo de expansão do acesso à educação, isso, por si só, não leva a uma maior equalização de oportunidades, uma vez que as famílias vindas de estratos sociais superiores continuam garantindo vantagens para os seus descendentes por meio da transmissão do capital cultural. Bourdieu (1987) explica que estudantes oriundos de famílias com habilidades e preferências da cultura dominante são mais capazes de decodificar as "regras do jogo" implícitas e estão mais bem preparados para a adaptação e o desenvolvimento de habilidades culturais. São pessoas com maior estoque de capital cultural, o qual, quando desenvolvido e transmitido no seio da família (e com apoio do sistema educacional), garante a manutenção do status quo. Desse modo, mesmo que houvesse a universalização do ensino, aqueles indivíduos pertencentes a famílias detentoras de maior capital cultural seriam beneficiados (HELAL, 2005). O propósito inicial (e ainda o mais utilizado) da teoria do capital cultural foi estudar a influência do background familiar (e das variáveis do capital cultural) nas conquistas acadêmicas. Mas, segundo Helal (2005), não se pode imaginar que as variáveis ligadas ao capital cultural de um indivíduo influenciem apenas as suas conquistas acadêmicas. Para o autor, ao ingressarem no mercado de trabalho, os indivíduos irão trazer consigo um estoque de capital cultural, desenvolvido na família e "aperfeiçoado" no ambiente escolar, que será de extrema importância na sua vida profissional. Capital social A primeira análise sistemática desse conceito foi realizada pelo sociólogo Pierre Bourdieu (1980), no artigo Le capital social: notes provisoires. A definição de Bourdieu (1980) aplicada ao capital social se refere a um conjunto de recursos que estão vinculados à posse de uma “rede durável de relações”. Já Robert Putnam (1993, p. 177), na sua obra Making democracy work, trata o conceito de capital como “[...] características da organização social, como confiança, normas e redes, que podem melhorar a eficiência da sociedade facilitando ações coordenadas [...]”. Embora outras definições possam ser encontradas na literatura, atualmente, o conceito de capital social e a sua aplicação são descritos por duas correntes que se complementam: i) capital social é algo próprio de um indivíduo e ii) esse tipo de capital pertencente a uma comunidade ou sociedade A primeira corrente destaca as redes de relacionamento como um elemento do capital social e postula que esse capital é algo que pertence ao indivíduo, podendo ser utilizado de modo a produzir benefícios, inclusive, de ordem econômica (maiores salários, acesso a emprego etc.). Dito de outra forma, cada um tem o seu estoque de capital social e o utiliza para o seu benefício. Já a segunda, postula que capital social é algo que existe na sociedade e a ênfase está no desenvolvimento de relações de confiança. 28 Pierre Bourdieu (1980) não se dedicou à tarefa de identificar as formas que o capital social pode assumir. Contudo, autores como Bertolini e Bravo (2004) identificaram diferentes aspectos e definiram cinco categorias para representar as formas que o capital social pode assumir a partir da coordenação de tais aspectos: a) capital social relacional – a soma das relações e das trocas que conectam os indivíduos em um determinado contexto; b) capital social normativo – diz respeito às regras, normas de comportamento e valores internalizados pelos indivíduos em um determinado contexto; c) capital social cognitivo – corresponde ao conhecimento compartilhado e às informações relativas aos problemas enfrentados por um determinado indivíduo ou grupo; d) confiança no ambiente social –refere-se à confiança no comportamento dos indivíduos que fazem parte de um mesmo contexto e e) capital social institucional – representado pelas instituições de caráter formal e informal, que contribuem para reduzir a incerteza em relação ao comportamento dos indivíduos e elevar os níveis de coordenação e de cooperação,ou seja, aumentar a confiança. Considerando que a rede de relacionamentos é o elemento mais utilizado nas pesquisas que exploram a relação entre capital social e empregabilidade, o capital social pode ser definido como um termo guarda-chuva, utilizado para representar recursos e valores que são criados, adquiridos e compartilhados por meio de interações sociais que podem ser estabelecidas em contextos on-line e off-line. Muito além de manter o capital humano competitivo, várias ações são requeridas dos profissionais para acessar ou manter o emprego ou algum tipo de trabalho (seja em que forma for). É necessário investir para: desenvolver hard e soft skills para melhorar competências relacionadas: à visão sistêmica sobre o seu mercado, a sua empresa e a sua profissão; ao domínio sobre as novas tecnologias e ao seu uso prático no dia a dia; à liderança e capacidade de gerir e desenvolver pessoas; aos aspectos de comunicação interpessoal; ao trabalho em equipe etc. desenvolver aspectos especificamente relacionados a soft skills que ajudem a: construir bons relacionamentos interpessoais; melhorar a inteligência emocional e receber e compartilhar novos conhecimentos, não apenas sobre o seu trabalho, mas sobre assuntos diversos. 29 Fatores intervenientes na carreira: qualidade de vida, networking e marketing pessoal Mundo contemporâneo e conceito de carreira Desde a Revolução Industrial, a carreira tem sofrido diversas transformações. Além das mudanças ambientais, as pessoas também estão mudando atitudes e comportamentos. Com a flexibilização do emprego como um modelo de inserção no trabalho, a carreira sofreu mudanças quanto à concepção, à estrutura e ao desenvolvimento. A carreira moderna transcende a própria existência de uma organização e encontra-se em processo de deslocamento tanto para além da área de formação quanto para além das organizações. Na verdade, ela tornou-se mais fragmentada e ampliou-se para além dos limites das empresas e das instituições, alcançando o mundo do trabalho como um todo. Em vista desse fenômeno, alguns autores chegaram a anunciar o fim da carreira, como D. T. Hall (1996) que faz uma alusão a esse quadro no título do seu livro The career is dead – long live the career, querendo dizer com “a carreira está morta” que a carreira organizacional não é mais o modelo predominante, e com “longa vida à carreira” que novos modelos surgiram. Nesse sentido, tanto na área da administração quanto na área de estudos de relações do trabalho e psicologia social, a análise da carreira exigiu novos estudos e novas abordagens. Na área da administração, podemos notar que, gradativamente, as trajetórias de trabalho que acontecem fora do espaço organizacional vêm sendo validadas e valorizadas. Se considerarmos que as trajetórias fora do espaço organizacional sequer eram consideradas como carreiras, isso sinaliza uma ruptura parcial com modelos anteriormente normativos (planos de carreira vinculados à espaços organizacionais). Considerando essa realidade, passaremos a estudar duas concepções de carreira: a proteana e a carreira sem fronteiras, que é operacionalizada por meio da carreira inteligente. Ambas tomam como ponto de partida o indivíduo e a sua capacidade de autogestão: 1. Carreira de Proteu ou carreira proteana – foco na construção individualizada e submetida às demandas do mundo do trabalho, sendo responsabilidade da pessoa o seu planejamento, a sua realização e a sua validação (HALL, 2002). 30 2. Carreira sem fronteiras – sobre as carreiras sem fronteiras, Dutra et al. (2009, p. 56) explicam que: o mundo tornou-se mais global, complexo, diversificado e individualista, e [...] hoje é mais difícil que as organizações consigam controlar e gerenciar a carreira de seus membros (SCHEIN, 2007). Essa realidade se instala gradativamente na vida das organizações e das pessoas e passa a exigir novas abordagens para compreendê-la. Uma dessas abordagens é a das carreiras sem fronteiras, pensando a carreira da pessoa transcendendo as fronteiras da organização. De um lado, a pessoa é estimulada a pensar sua carreira tomando a si mesma como ponto de partida e, de outro lado, a organização é estimulada a incentivar a pessoa a pensar sua carreira de forma mais ampla para, com isso, desenvolver uma visão crítica sobre a relação com seu trabalho e elevar o seu poder de contribuição para o desenvolvimento da organização. Para operacionalizar a carreira sem fronteiras, Arthur, Claman e De Fillippi (1995) desenvolveram o conceito de carreira inteligente, na qual, as competências propostas, que devem ser acumuladas pelas pessoas, são análogas às da organização, mas não são, necessariamente, subordinadas a um empregador. Knowing-why – saber por que: reflete a identidade e a motivação individual, o significado pessoal e a identificação com o trabalho. Knowing-how – saber como: representa a identificação e o desenvolvimento das habilidades e das especialidades individuais relevantes para o trabalho. Knowing-whom – saber quem: está relacionada com as relações interpessoais e o network que são importantes para o trabalho. De acordo com o modelo proposto, essas competências são obtidas por meio da educação, do trabalho e da experiência de vida e acumulam-se em forma de um capital de carreira. A acumulação desse capital de carreira pode prover segurança ocasional, mas se não for renovado perde o seu valor. Para garantir essa renovação, a pessoa deve, constantemente, avançar degraus para sustentá-lo, mesmo que esteja trabalhando há muito tempo em uma única organização. 31 Adaptabilidade de carreira e qualidade de vida A construção de uma carreira requer decisões e atitudes que normalmente se refletem em outras esferas da vida das pessoas. O desenvolvimento profissional exige adaptações sociais que envolvem não só o trabalhador, mas também sua família. As várias pressões sofridas pelo indivíduo nesse campo denotam a relevância da preocupação com as escolhas relacionadas ao trabalho. Porém, hoje, trabalhar pode não significar exatamente ter um emprego fixo em uma organização estruturada. No atual contexto social, caracterizado pelo dinamismo, vários outros arranjos de carreira se formam e influenciam tanto o comportamento das pessoas quanto as próprias organizações (VELOSO et al., 2016, p. 90). O conceito de adaptabilidade se refere, em um sentido amplo, à capacidade que uma pessoa tem para lidar com transições profissionais, sendo uma competência cada vez mais necessária no contexto atual do mundo do trabalho, o qual é marcado por mudanças rápidas e muitas vezes, imprevisíveis (SAVICKAS et al, 2009). Atualmente, a definição de adaptabilidade de carreira é a prontidão e os recursos utilizados pelos indivíduos ao se confrontarem com tarefas atuais e antecipadas do desenvolvimento vocacional, com transições ocupacionais e traumas pessoais, a fim de que consigam resolver problemas que se apresentam geralmente desconhecidos, mal definidos e sempre complexos (SAVICKAS, 2005, 2013). A adaptabilidade é entendida como um construto ou conceito multidimensional, composto por quatro domínios ou dimensões principais. A navegação na vida profissional pode ser facilitada quando ativamos os quatro domínios da adaptabilidade de carreira, que passaremos a estudar agora. 32 Quadro 3 – Domínios da adaptabilidade de carreira career concern – preocupação career control – controle curiosity – curiosidade career confidence – confiança Preocupação em relação ao próprio futuro como trabalhador. Senso de orientação quanto ao futuro que leva o indivíduo a atitudes de planejamento, antecipação e preparação. Sentimento de responsabilidade por construir a própria carreira, o que implicauma postura ativa em fazer escolhas e determinar o futuro profissional. Essa postura leva os indivíduos ao enfrentamento das questões de carreira de forma assertiva ao invés de conduzir à procrastinação. Iniciativa para fazer descobertas e buscar aprendizados sobre oportunidades e atividades de trabalho em que o indivíduo gostaria de se engajar. Envolve o autoconhecimento e o conhecimento sobre o mundo ocupacional. Crença do indivíduo na sua competência para empreender os esforços necessários a fim de atingir os seus objetivos, mesmo em face de obstáculos. Fonte: Elaboração própria. Para navegar na vida profissional de maneira sustentável, acionando esses quatro domínios, é preciso cuidar não só de fatores relacionados à saúde, como bem-estar físico, funcional, emocional e mental, mas também de outros elementos importantes da vida, como família, amigos e outras circunstâncias do cotidiano. A busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional costuma encabeçar a lista de metas de muitas pessoas que tentam um nível de satisfação maior com o trabalho, com os relacionamentos, com a família e com as aspirações pessoais. Essa busca costuma vir traduzida em um objetivo bastante comum: melhorar a qualidade de vida. Conforme sugere a Organização Mundial da Saúde (2006), a qualidade de vida reflete a percepção dos indivíduos de que as suas necessidades estão sendo satisfeitas ou, ainda, que lhes estão sendo negadas oportunidades de alcançar a felicidade e a autorrealização, independentemente do seu estado de saúde físico ou das condições sociais e econômicas. Os estudos sobre qualidade de vida podem ser classificados de acordo com quatro abordagens gerais: socioeconômica, biomédica, psicológica e geral. A abordagem socioeconômica tem os indicadores sociais como principal elemento. O termo qualidade de vida, em relação ao seu emprego na literatura médica, vem sendo associado a diversos significados, que variam entre oferecer melhorias nas condições de vida de pessoas doentes e oferecer condições gerais de saúde e funcionamento social. 33 A abordagem psicológica busca indicadores que tratam das reações subjetivas de um indivíduo com as suas vivências, dependendo, primeiramente, da experiência direta da pessoa cuja qualidade de vida está sendo avaliada; além disso, indica como os povos percebem as suas próprias vidas, felicidade, satisfação. O fato de as abordagens psicológicas considerarem a qualidade de vida somente um aspecto interior à pessoa, desconsiderando o contexto ambiental em que está inserida, é a principal limitação dessa linha de pensamento. As abordagens gerais baseiam-se na premissa de que o conceito de qualidade de vida é multidimensional, apresenta uma organização complexa e dinâmica dos seus componentes, e difere de pessoa para pessoa de acordo com o seu ambiente/contexto e, até mesmo, entre duas pessoas inseridas em um contexto similar. Características como valores, inteligência, interesses devem ser consideradas. Na verdade, a análise da qualidade de vida aborda uma representação social criada a partir de parâmetros subjetivos, como bem-estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal etc., e parâmetros objetivos, cujas referências são a satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social de determinada sociedade. Os parâmetros subjetivos de análise da qualidade de vida mais complexos ficam vinculados à ideia do ser, pertencer e transformar. Na ideia do ser, estão as habilidades individuais, a inteligência, os valores, as experiências de vida. O pertencer trata das ligações que a pessoa possui, as escolhas, assim como da participação em grupos, inclusão em programas recreativos e serviços sociais. O transformar remete à prática de atividades como trabalho voluntário, programas educacionais, participação em atividades relaxantes, oportunidade de desenvolvimento das habilidades em estudos formais e não formais, entre outros. Qualidade de vida inclui desde os fatores relacionados à saúde, como bem-estar físico, funcional, emocional e mental, até outros elementos importantes na vida das pessoas, como o trabalho, a família, os amigos e outras circunstâncias cotidianas. Podemos notar que esses componentes de análise da qualidade de vida apresentam uma organização dinâmica entre si e consideram tanto a pessoa quanto o ambiente, assim como as oportunidades e os obstáculos. Qualidade de vida no trabalho A qualidade de vida no trabalho (QVT), diretamente relacionada à satisfação e ao bem-estar do indivíduo na execução das suas tarefas, é indispensável à produtividade e à competitividade, sem as quais uma organização não sobrevive ao mercado. De acordo com Fernandes (1996), a QVT pode ser considerada como uma gestão dinâmica e contingencial de fatores físicos, sociológicos, psicológicos e tecnológicos da organização do próprio trabalho, que afetam a cultura e interferem no clima organizacional, refletindo na produtividade e na satisfação dos clientes internos. Enfim, trata-se de fatores que vão desde cuidados médicos estabelecidos pela legislação de saúde e segurança no trabalho até motivação e aspectos que influenciam a carreira, gerando consequências no clima organizacional e podendo levar a ajustes na cultura organizacional. 34 A abordagem cotidiana da QVT é ampla e bastante desafiadora, pois, em várias, dimensões depende da percepção de cada indivíduo nas suas interações com o trabalho no ambiente organizacional. Networking O networking tornou-se crítico tanto para o sucesso individual quanto para o organizacional. De acordo com Forret e Dougherty (2001), o networking representa tentativas proativas de indivíduos para desenvolver e manter relacionamentos pessoais e profissionais com outros indivíduos, com o propósito de benefício mútuo no seu ambiente de trabalho ou na sua carreira. O foco está em construir e nutrir relações pessoais e profissionais para criar um sistema ou uma cadeia de informação, contato e suporte. Nestes tempos atuais, em que pessoas fazem movimentos de carreira frequentes e precisam atualizar-se rapidamente, o networking é visto como uma competência crítica; no entanto, muitas pessoas se sentem desconfortáveis com o networking ou não sabem como fazê-lo. As relações estabelecidas por meio do networking se tornam um recurso importante para acessar novas ideias, informações oportunas, oportunidades de emprego, leads comerciais, influência e suporte social (BAKER, 2000). A base do relacionamento de networking é a confiança, que é desenvolvida e fortalecida cada vez que os indivíduos têm interações positivas e se apoiam. O capital social, construído por meio de um bom networking, é mais difícil de imitar do que o capital humano. Dessa forma, a qualidade dos relacionamentos construídos pode proporcionar aos indivíduos uma vantagem substancial nas suas carreiras. As relações de networking dependem, em grande parte, de competências interpessoais desenvolvidas e da aplicação da assertividade nas interações. Segundo Forret et al (2004), ao investir em ações consistentes de networking, o indivíduo influencia, diretamente, quatro aspectos da sua rede de relacionamentos. Esses quatro aspectos são: 1. a dimensão (tamanho) das suas redes sociais; 2. a força das suas relações na rede social; 3. o padrão de relacionamento na sua rede social e 4. os recursos da sua rede social. Dimensão Refere-se ao número de membros em uma rede social. A dimensão é um aspecto importante, porque construir e manter relacionamentos com os outros resulta em uma rede maior à que os indivíduos podem recorrer para apoio social, com ideias, conselhos ou patrocínio. Para aumentar e manter o tamanho da rede de relacionamentos, é preciso estabelecer relações comas pessoas “internas” da organização (por exemplo, os pares) e externas a ela (por exemplo, os membros das associações profissionais). As redes maiores em tamanho foram associadas a uma variedade de relacionamentos dos indivíduos na sua organização, profissão e comunidade. 35 Forret e Dougherty (2001) identificaram cinco tipos de comportamentos no networking para ajudar os indivíduos a aumentar e manter o tamanho das suas redes, quais sejam: aumentar a visibilidade interna (por exemplo, juntar-se a grupos organizacionais); participar de atividades profissionais; participar de encontros sociais; envolver-se em eventos de comunidades e manter contatos com outras pessoas, por exemplo, enviando mensagens para manter contato. Força dos relacionamentos Em uma rede social, refere-se ao grau de proximidade que caracteriza um relacionamento. A força de uma relação pode ser avaliada em um continuum, baseado na frequência de contato e no grau de intimidade e investimento emocional (GRANOVETTER, 1973), com laços fracos em uma extremidade do continuum e laços fortes em outra. Os relacionamentos de networking, geralmente, são considerados como laços fracos e, portanto, uma boa fonte de informações sobre oportunidades de emprego e outras formas de assistência. As relações de networking podem evoluir para laços mais fortes se o contato se tornar mais frequente e se a relação for se caracterizando por maior familiaridade e conforto. Tanto os laços fracos quanto os laços fortes podem ser úteis e são necessários. Por exemplo, nossos conhecidos tendem a ser mais úteis do que nossos amigos próximos para encontrar emprego, porque os nossos conhecidos são fonte de informações mais exclusivas (ou seja, os nossos amigos íntimos tendem a saber sobre as mesmas ofertas de trabalho que nós mesmos). Por outro lado, os relacionamentos fortes (laços fortes), aqueles nos quais investimos mais intimidade e envolvimento emocional, podem ser mais importantes para a transferência de informações sensíveis ou complexas por causa do maior risco e esforço envolvidos, ou seja, esses relacionamentos são as fontes de informações privilegiadas. Padrão de relacionamento Para compreender o padrão de relacionamento, vamos estudar a teoria do buraco estrutural de Burt (1992). Segundo Burt (1992), existe um furo estrutural em que não há conexão entre dois membros de uma mesma rede social. As pessoas unidas por laços que se fortalecem tendem a ter as mesmas informações, portanto, uma das principais vantagens de ter buracos estruturais é que os membros de uma rede que não se conhecem são mais propensos a fornecer acesso a informações diversas. Os pesquisadores descobriram que os buracos estruturais estão associados a uma maior mobilidade e a um maior desempenho gerencial (BURT, 1992; PODOLNY; BARON, 1997; RODAN; GALUNIC, 2004). 36 Recursos O desenvolvimento de relacionamentos com indivíduos de alto status tem o potencial de fornecer resultados valiosos. Por exemplo, o status de um contato pode ter um forte efeito positivo no prestígio de um trabalho a ser alcançado, indicando a capacidade de exercer influência. Outros exemplos estão relacionados aos resultados de carreira dos gerentes, que podem ter promoções e progressão salarial bem como benefícios mais imediatos, tais quais informações e ideias, apoio social, assistência na procura de emprego e até assistência às empresas – por exemplo, quando os seus contatos de alto status fornecem leads comerciais, acesso a recursos financeiros etc. (FORRET; DOUGHERTY, 2001). Marketing pessoal e aspectos éticos Um excelente profissional, que entrega resultados com eficiência, pode ter dificuldades para crescer ou conquistar uma vaga de emprego pelo simples fato de não conseguir expressar as suas qualidades. Você já pensou na imagem que está passando, o que as pessoas pensam sobre você ou como gostaria que as pessoas lhe vissem? Assim como uma marca precisa de marketing para ser apreciada, desejada, lembrada e indicada, uma pessoa também. O marketing pessoal pode ser a garantia do emprego e do espaço profissional. Para Kotler (2000), o marketing pessoal é “uma nova disciplina que utiliza os conceitos e instrumentos do marketing em benefício da carreira e das vivências pessoais dos indivíduos, valorizando o ser humano em todos os seus atributos, características e complexa estrutura”. O marketing pessoal é um desdobramento do marketing e surge como uma ferramenta para se alcançar o sucesso profissional, pois engloba os cuidados com a imagem. Oliveira Neto (1999, p. 23) define o marketing pessoal da seguinte forma: O processo encetado por um indivíduo, envolvendo a concepção, planejamento e execução, de ações que contribuiriam para: a formação profissional e pessoal do indivíduo (produto), a atribuição de um valor justo e compatível com o posicionamento de mercado que se queira adquirir (preço), a execução de ações promocionais de valorização pessoal (promoção), que o colocariam no lugar certo na hora certa (distribuição). Na criação da marca pessoal, Rogar (2007) afirma que não existe uma fórmula simples para a construção de uma marca própria e que é constante o perigo de se parecer artificial ou falso. 37 Portanto, quem decide polir e dar unidade à imagem profissional que projeta precisa investir, submeter-se a avaliações periódicas de um orientador e aceitar os sacrifícios de eventuais mudanças de rumo na carreira e nos hábitos da vida pessoal (ROGAR, 2007). A autora ainda complementa destacando que são fundamentais o conteúdo e a qualificação profissional, ou seja, a pessoa precisa justificar a sua marca. Dito de outra forma, marketing pessoal não é falar de si o tempo todo, é ter atitudes que façam com que as pessoas se lembrem de você de forma positiva. O marketing pessoal requer esforço diário para exaltar o que há de bom em você. Para que o marketing pessoal gere efeitos positivos, é preciso desenvolver habilidades interpessoais, melhorar a apresentação e a comunicação. Na dose certa e de forma planejada, é possível criar e desenvolver uma imagem coerente e consistente, envolta em associações psicológicas positivas que deem visibilidade necessária para que uma pessoa se transforme em uma referência no seu ambiente vivencial e possa fazer parte dos projetos de vida das outras pessoas (DOIN, 2006). Ética Sá (2009, p. 17) ensina que ética deve ser compreendida como “a ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes”. Analisando esse conceito, podemos verificar que a ética relaciona a conduta de uma pessoa à sua relação com outra pessoa. Ou seja, existem limites para o nosso convívio, existem regras que impomos e que desejamos ver respeitadas. Muito embora as questões éticas estejam a todo instante presentes na mídia, em jornais, revistas, TV, rádio e internet, e em materiais produzidos pelas empresas, é bom lembrar que a ética foi introduzida ao corpo de conhecimento ocidental pelos trabalhos de Pitágoras no século VI a.C., ou seja, há mais de 2.600 anos. Também Aristóteles, no século IV a.C., há mais de 2.400 anos, discorreu sobre a ética na sua obra Ética a Nicômaco. Ética está presente na vontade e nas atitudes virtuosas de uma pessoa em relação a ela mesma e àqueles com quem convive. A virtude está presente nas relações em que se busca o bem comum. Assim sendo, a ética existe quando o indivíduo está na presença de outras pessoas, mas também, e principalmente, quando está sozinho. Ética e relações interpessoais Srour (2003, p. 15) ensina que o estudo da ética está vinculado “aos códigos e normas que regulam as relações e condutas entre os agentes sociais, os discursos normativos que identificam, em cada coletividade, o que é certo ou errado fazer”. Esse conceito apresenta alguns componentes importantes para a compreensãoda ética: as normas reguladoras; a distinção da ética segundo o grupo social e a escolha entre o certo e o errado. 38 Ao normatizar a convivência entre os indivíduos, o estudo da ética examina a moral. O senso comum ainda apresenta alguma confusão entre o que é ética e o que é moral, no entanto, trata-se de conceitos diferentes. Ética é “a ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes”, enquanto moral diz respeito ao indivíduo inserido no contexto social. Ética vem do grego ethos, que significa modo de ser, já moral tem origem no latim mores, que significa costumes. Padrões éticos estabelecem a norma a ser seguida pelas pessoas na busca pelo convívio para o bem. A ética diz respeito à sistematização por meio de regras a serem seguidas e que estabelecem o modo de ser que é bom para a coletividade. A moral direciona a prática cotidiana, por meio de um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, em uma determinada época. Tais normas são adquiridas pela educação, pela cultura e pelo cotidiano. Valores, profissão e ética Outro aspecto importante a ser tratado diz respeito aos valores: o seu conceito e os princípios presentes no exercício da profissão. Valores são princípios dos quais não abrimos mão. O ambiente em que vivemos – incluindo o convívio com outras pessoas na família, no nosso local de trabalho, na instituição de ensino, com os nossos amigos –, nos oferece oportunidades de prática dos nossos valores a partir do relacionamento interpessoal. Cabe a cada um exercer a prática dos valores para o bem próprio e o bem comum. Os valores evoluem com o passar do tempo. As empresas têm divulgado os seus valores, deixando claro para a sociedade as atitudes das quais não abre mão na busca pela efetivação dos objetivos do negócio. São os nossos valores que, quando em contato com o mundo exterior, proporcionam um julgamento interno que fazemos ao escolher entre o que é bom e mau, entre o que é justo e injusto, entre o que é honesto e desonesto. A nossa consciência ética funciona, dessa maneira, como um tribunal em que as decisões são tomadas levando-se em conta uma reflexão sobre a nossa própria realidade em contato com as práticas do cotidiano na nossa família, com os nossos amigos, no trabalho, onde estudamos etc. Por que, em processos de seleção, as empresas têm buscado profissionais que compartilham os seus valores? Porque os objetivos propostos por uma organização serão atingidos de forma legítima à medida que as iniciativas dos seus empregados refletirem aquilo que consta nas propostas e no modelo do negócio. A imagem da marca da empresa pode beneficiar-se ou prejudicar-se a partir da conduta ética de cada pessoa que contribui direta ou indiretamente para a fabricação dos seus produtos ou serviços. Por esse motivo, ética é um tema que compõe a base da formação profissional de qualquer indivíduo, e o seu reconhecimento se faz na mesma proporção em que é demonstrada por meio de palavras e atos. 39 Desempenhar uma atividade profissional de maneira ética significa seguir os princípios morais daquela sociedade, dentro do que prevê a lei e conforme o código de ética da profissão. O que aconteceria se a consciência ética definisse como apropriados os atos de roubo, o tráfico, entre outros? A ética, a reputação e a imagem do profissional A reputação é um ativo intangível e é também um processo provisório que pode sofrer alterações em face da imagem que se constrói a partir de: um reconhecimento que a sociedade atribui; traços marcantes percebidos pelas pessoas; “imaginário social” e percepção que se tem de alguém ou de uma organização tendo como base um julgamento da qualidade do relacionamento, dos seus serviços ou produtos. Observe que todas essas características indicam que a construção da reputação está relacionada ao julgamento que se faz de alguém, de alguma coisa ou de uma organização. Ou seja, trata-se de algo sobre o que se tem pouco controle. Por isso, é preciso prestar permanente atenção a isso. Reputação está associada à confiança e à credibilidade que se conquista. Portanto, a ética é elemento fundamental na construção da reputação de um indivíduo, de um profissional, de uma marca ou de uma organização. No caso das pessoas, o marketing pessoal é uma ferramenta que auxilia a percepção da postura ética profissional e contribui para a construção de uma reputação que inspire credibilidade no mercado. Plano de desenvolvimento profissional e pessoal Autoconhecimento e autogestão A carreira deve ser pensada como uma estrada em constante construção, que, se bem trilhada, poderá conduzir ao sucesso, à satisfação profissional e pessoal e a uma compensação financeira também satisfatória. Uma vez que somos constantemente confrontados com as mudanças no ambiente à nossa volta e com mudanças em nós mesmos, decidir sobre a carreira não se pode resumir a momentos episódicos na nossa vida nem a pegar “oportunidades” pontuais para as quais não estávamos preparados. A carreira relaciona o profissional com o seu meio ambiente no decorrer do tempo, desse modo, antes de iniciar um planejamento sobre as oportunidades de carreira que podemos alcançar, é importante refletir, questionar e identificar: quem eu sou, o que quero, quais são os meus interesses e as minhas aptidões? O que é importante para mim nesse momento? Quais são os meus valores? Quais são os meus objetivos no curto, médio e longo prazo? Todas essas perguntas precisam ser respondidas para você se posicionar diante da vida pessoal e profissional. 40 Se você não souber quais são as suas habilidades e os seus objetivos de carreira, poderá sentir- se atraído facilmente por incentivos como: um cargo maior, uma maior remuneração, carga horária menor, mudança de local do trabalho etc., o que não significará necessariamente maior satisfação. A partir do momento em que você tiver alguns aspectos relativamente delimitados, poderá fazer escolhas mais seguras. Esses aspectos são: Investir em autoconhecimento – fórmulas infalíveis para construir uma carreira de sucesso não existem, até porque o que é sucesso para um não é para outro. É preciso aprimorar a percepção sobre as próprias expectativas profissionais. Autoconhecimento é um caminho para a conscientização dos nossos pontos fortes e dos pontos que precisamos desenvolver para melhorar. Alinhar as atribuições profissionais atuais com os novos paradigmas empresariais exigidos – elaborar uma estratégia particular para competir no mercado. Tratamos aqui de intencionalidade: qualquer decisão tem de ser tomada com conhecimento de causa para que aumente a probabilidade de sucesso em decorrência das escolhas. Uma carreira levada ao acaso, sem rumo, por sorte, aumenta as chances de fracassar. Aprender com as próprias experiências no campo pessoal e profissional do nosso trabalho atual, visando a um potencial trabalho futuro, e maximizar as nossas habilidades utilizando ferramentas de treinamento e desenvolvimento são iniciativas essenciais. Se você não tem um foco, um objetivo, qualquer lugar serve. Portanto, um posicionamento firme é a identidade que você quer ter. É como você quer ser visto. Atingir os objetivos de vida, e não apenas os objetivos profissionais – a carreira precisa estar harmonizada com os anseios da vida, como família, comunidade, política, cultura, religião etc. A verdade é que nem sempre teremos apenas o que gostaríamos de fazer. Então, é importante não esquecer que a carreira não é uma estrada lisa, plana, sem curvas e obstáculos, pelo contrário, aborrecimentos momentâneos podem servir de lição para que, no futuro, desenvolvamos planos de contingências que nos auxiliem a conviver com os imprevistos e as contrariedades. Autoconhecimento No planejamento de carreira, o ponto de partida é o autoconhecimento,a partir do qual devem ser desenvolvidos os objetivos de carreira e o plano de ação para a consecução desses objetivos. Na área profissional, o autoconhecimento torna-se o mais nobre diferencial competitivo que podemos desenvolver. Entretanto, muitas vezes, os questionamentos sobre nós mesmos podem ocorrer em um período de dificuldades ou de insucesso profissional ou emocional, e, não raro, esses questionamentos vêm do sentimento de vazio, de que está faltando algo. 41 Esses questionamentos acabam abrindo as portas para o autoconhecimento. É nesse momento em que nos perguntamos como dominar esses sentimentos, pensamentos e atitudes, que devemos desfazer a imagem poética que temos de nós mesmos e do mundo e enfrentar os nossos medos e as reais causas de determinados comportamentos. A jornada do autoconhecimento só tem início. É como se estivéssemos subindo uma montanha sem topo. A cada parte mais alta a que chegamos, passamos a enxergar melhor o que ficou para trás. Dessa maneira, a cada avanço que fazemos no sentido do autoconhecimento, ampliaremos tanto a visão das nossas conquistas quanto a dimensão das nossas possibilidades. Para fazer esse percurso do autoconhecimento e alinhar as bases para um planejamento de carreira que nos proporcione qualidade de vida, é preciso investigar como funciona o mecanismo da satisfação, em relação à atividade profissional e às demais áreas da nossa vida, o que faremos a seguir. Satisfação e interesses conflitantes O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, fundador e codiretor do Quality of Life Research Center (QLRC), em pesquisa apresentada no seu livro A descoberta do fluxo – a psicologia do envolvimento na vida cotidiana, ensina que o uso do nosso tempo é dividido em três partes: atividades produtivas (trabalho, estudo etc.), atividades de manutenção (cuidados com a casa, alimentação, cuidados pessoais, transporte) e atividades de lazer (consumo de mídia, hobbies, conversas, repouso). Mihaly Csikszentmihalyi denominou de flow ou experiência máxima as experiências em que a energia psíquica é exigida ao máximo, levando à completa concentração. Em seus estudos, especificamente na parte em que explora a relação entre as pessoas e o trabalho, Csikszentmihalyi (1992) percebeu que, por um lado, as pessoas são capazes de relatar algumas das suas experiências mais positivas – experiências de fluxo – enquanto estavam trabalhando, e por outro, se pudessem escolher o que fazer em seu tempo livre, não apontariam o trabalho como uma opção. Essa contradição embasou dois pontos críticos na proposta do autor: i) o trabalho não precisa ser desagradável; ii) é pelo trabalho que podemos ter grande satisfação na vida e melhorar os nossos relacionamentos e a nossa experiência de vida. Os momentos de flow no trabalho são aqueles em que somos tomados por maior envolvimento, concentração e satisfação em torno do que estamos fazendo. Csikszentmihalyi (1992) explica que toda vez que atingimos o equilíbrio ideal entre desafio e habilidade favorecemos as experiências de flow. Dito de outra forma, o flow é vivenciado quando os desafios percebidos estão em equilíbrio com as habilidades praticadas (SNYDER, 2009). É no trabalho que, geralmente, encontram-se todos os elementos do fluxo: são as atividades que apresentam metas factíveis, exigem habilidades que estão no limiar do nosso controle e precisam do investimento ordenado de energia psíquica e concentração. Além disso, temos acesso a feedback imediato sobre o nosso desempenho. 42 Considerando que a qualidade de vida está diretamente relacionada ao grau de satisfação dos indivíduos em relação aos múltiplos aspectos das suas vidas, a energia psíquica que empregamos na execução das tarefas daqueles três grupos de atividades pode fazer toda a diferença. O que interessa é saber se as atividades profissionais proporcionam satisfação para, desse modo, prestar atenção ao que obtemos a partir do que realizamos todo dia, priorizando aquelas atividades, lugares e companhias que nos proporcionam maiores retornos em termos de satisfação. “A verdade é que, se encontramos o fluxo no trabalho e nas relações com outras pessoas, estamos no caminho certo para melhorar a qualidade de vida como um todo” (CSIKSZENTMIHALYI, 1992, p. 207). Experiências de satisfação e, até mesmo, de fluxo nas diferentes atividades que ocupam o cotidiano de uma pessoa, como as atividades produtivas, de manutenção e de lazer, dependem do nível de investimento de energia psíquica. Não é no lazer, por exemplo, que ocorre alto nível de investimento de energia psíquica, ao contrário, as pessoas tendem a optar por atividades de lazer que costumam ser passivas, em detrimento de atividades de lazer ativo, como hobbies, esportes, socialização, que são as atividades que mais tendem a produzir oportunidades de superação e de fluxo. Sim, o investimento contínuo de energia não é necessário só no ambiente profissional, a construção de relacionamentos – com a família, com os amigos, com a comunidade local – por exemplo, pode produzir experiências de fluxo, e, dessa forma, elevar os níveis de qualidade de vida das pessoas. Na Roda da Vida, baseada no livro Manual do sucesso total, do Presidente do Integrated Coaching Institute, Professor Rhandy di Stefano, estão representadas as 10 áreas essenciais da vida de uma pessoa: 1. espiritual (o seu legado); 2. emocional (equilíbrio emocional); 3. física; 4. relacionamento íntimo (cônjuge, namorado etc.); 5. relacionamento social (amigos); 6. relacionamento familiar (pais, filhos); 7. lazer; 8. financeira; 9. profissional e 10. intelectual. Como você emprega a sua energia psíquica em cada área? Como vai o seu grau de satisfação em cada área? 43 As experiências de satisfação e fluxo são menos ditadas por condições externas, e mais influenciadas pelo modo com que empregamos a nossa energia psíquica. Dessa forma, para identificarmos as atividades, em cada área da vida, que nos proporcionam maior nível de satisfação, é preciso conhecer o que nos energiza – os nossos valores – em cada área da vida. Esse processo de autoconhecimento nos ajuda também a lidar com interesses conflitantes na gestão da nossa trajetória profissional. Não é raro conhecermos experiências de pessoas que se viram diante de situações de conflito entre interesses de carreira e interesses pessoais, ou conflitos de interesses concorrentes na própria área profissional – novo emprego com melhor remuneração versus trabalho menos desafiante. À medida que conseguimos experimentar aquilo que nos energiza, aumentamos o nosso nível de satisfação e também melhoramos a nossa capacidade de selecionar os verdadeiros desafios, aqueles que nos levarão a experimentar novos valores e a ter novas experiências satisfação. Essa capacidade de selecionar os desafios que convergem com as nossas expectativas, com os nossos valores e com as nossas possibilidades só pode ser desenvolvida se investirmos em autoconhecimento. Intraempreeendedorismo O termo intraempreendedorismo foi cunhado na década de 1980 por Gifford Pinchot III, consultor de administração. Intraempreendedor é uma livre tradução da palavra intrapreneur, que designa os empregados com perfil empreendedor. A partir do trabalho de Pinchot (1989), vários outros pesquisadores contribuíram com as suas próprias visões e definições do intraempreendedor. Resumidamente, o intraempreendedor é um colaborador da empresa que: inova; identifica e cria oportunidade de negócios; consegue gerar novas ideias, apesar dos obstáculos organizacionais mais significativos; monta e coordena novas combinações ou arranjos de recursos para agregar valor; busca atender necessidades latentes; busca fazer, de forma mais eficaz, o que já existe; trabalha e retrabalha de forma contínua e insistente até alcançaro sucesso e tem, como motivação, o desafio de concretizar novos negócios dentro da organização, com o mesmo entusiasmo que empreenderia por conta própria fora da empresa. O termo intraempreendedorismo pode ser utilizado para designar as ações e políticas adotadas pelas empresas para incentivar o espírito empreendedor dos seus empregados. Para Pryor e Shays (1993), é preciso criar um ambiente no qual a inovação possa florescer de forma a transformar pessoas comuns, que nunca viram um cliente, em empreendedores de sucesso, que assumem responsabilidades e papéis dentro da empresa. 44 O objetivo do intraempreendedorismo é manter e aumentar o valor corporativo no longo prazo, otimizando os benefícios dos principais stakeholders, que são pessoas ou entidades cujos interesses podem ser afetados, positiva ou negativamente, pelas ações de uma determinada empresa. São exemplos de stakeholder: a sociedade, os governos, os acionistas ou os próprios funcionários da empresa. A confusão de empreendedorismo ou intraempreendedorismo com a inovação e a criação de produtos ou serviços inéditos é bastante comum. Contudo, uma ação empreendedora não se limita unicamente à criação e desenvolvimento de novidades. A ação empreendedora pode ser atribuída a qualquer forma de proposição de mudanças e melhorias na organização. O importante é que essa mudança ou melhoria se traduza em aumento de valor para o cliente ou para o acionista. Dessa forma, qualquer área na organização pode promover intraempreendedorismo. (HASHIMOTO, 2006). O plano de desenvolvimento individual Na atual complexidade dos ambientes globais, a previsibilidade e a estabilidade foram substituídas por incerteza e ambiguidade. Com isso, a adaptabilidade de carreira, o processo de equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o desenvolvimento constante de novas habilidades, tanto hard skills quanto power skills, tornam-se condições necessárias para o avanço saudável da nossa relação com o trabalho, seja ela vinculada ao ambiente organizacional ou não. Para orientar o processo de autoavaliação da trajetória profissional, além de ferramentas on- line, existem muitas ferramentas, que são manuais de autopreenchimento, como os elaborados por Savioli (1991) e por Kotter, Faux e McArthur (apud LONDON; STUMPF, 1982, cap. 3), apresentados de forma sintética a seguir. Proposta de Savioli (1991) 1. Registro: (i) do que você gosta de fazer, independentemente do que você é obrigado a fazer por dever profissional; (ii) do que você não gosta de fazer, esteja ou não sendo levado a praticar; (iii) do que sabe fazer bem, como forma de concretizar habilidades e atitudes; (iv) do que não sabe fazer bem. Esses registros devem ser efetuados em três campos: o individual e familiar, o social e o profissional. 2. Visualização do futuro: descrever como você projeta o seu futuro para daqui a cinco anos em termos de composição familiar, saúde, lazer, situação econômica, desenvolvimento cultural do cônjuge e dos filhos, autodesenvolvimento, comunidade e vida espiritual. 3. Realização de um balanço da situação atual em relação ao projetado e estabelecimento de mudanças desejadas. 4. Projeção de mudanças no cenário profissional para os próximos cinco anos e análise de como elas poderiam interferir na sua visualização do futuro, tais como: mudanças políticas, sociais, econômicas, culturais, tecnológicas etc. 45 Proposta de Kotter, Faux e McArthur (LONDON; STUMPH, 1982, cap. 3) 1. Descrição de um sumário autobiográfico, incluindo uma visão geral da sua vida e das pessoas ligadas a você. 2. Elaboração de uma análise dos pontos críticos na sua vida e dos pontos positivos e negativos de decisões que você tomou em relação à sua carreira. 3. Apresentação de um sentimento acerca de prováveis ocorrências no futuro que podem impactar a sua vida. 4. Exame do que você gosta de fazer, do que você faz bem e do que valoriza no seu comportamento. 5. Avaliação do que você faz atualmente em relação ao que você gosta de fazer, sabe fazer bem e valoriza. 6. Busca de uma avaliação de terceiros, família, amigos, conselheiros etc. acerca das reflexões efetuadas nos itens anteriores. Já estudamos que o autoconhecimento é a base para um planejamento consistente de carreira, mas será que é suficiente? Outro elemento que ajuda nos processos de autoavaliação e de planejamento de carreira está ligado à nossa autopercepção. Será que percebemos o impacto que causamos nas pessoas ao nosso redor? Será que percebemos o impacto que as nossas escolhas causam nas nossas vidas? E, mais importante, estamos nos responsabilizando por isso ou buscando culpados para aquilo que não acontece como planejamos ou esperamos? A autopercepção melhora à medida que nós nos abrimos para receber feedback. A inteligência emocional (IE) é uma competência central quando se trata de sucesso pessoal, acadêmico e profissional pois é parte integrante da formação e do desenvolvimento de relacionamentos humanos significativos. Um bom desempenho em IE está se tornando um pré- requisito em áreas como setor de serviços, enfermagem, serviço social e funções de gerenciamento. Ao longo de uma série de estudos, Schutte et al (2001) descobriram ligações significativas entre alto desempenho em IE e relações interpessoais mais bem-sucedidas. Embora a tendência seja focar nos benefícios sociais e psicológicos da inteligência emocional, é importante notar que a autoconsciência e a autorregulação – a capacidade de gerenciar emoções, estresse e de resolver problemas pessoais, bem como interpessoais – também estão significativamente relacionados à saúde física. O desenvolvimento da inteligência emocional viabiliza o desenvolvimento de outras capacidades, desde a resiliência até a comunicação, da motivação ao gerenciamento do stress, que podem ser vistas como propícias para alcançar efetivamente a saúde mental, física e ocupacional e, consequentemente, o sucesso. Nesse módulo, estudaremos os conceitos de inteligência emocional e inteligência social bem como a sua aplicabilidade, abordando as capacidades de autoconsciência, autorregulação, enfrentamento de adversidades e empatia. Um outro aspecto a ser tratado neste módulo diz respeito à aplicabilidade da inteligência social, especificamente o rapport, na construção de relacionamentos. Por fim, trataremos de alguns instrumentos que facilitam a construção do relacionamento comercial e das habilidades requeridas para a sua operacionalização de maneira eficaz. MÓDULO II – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E INTELIGÊNCIA SOCIAL 48 Inteligência emocional e inteligência social: definições Inteligência emocional Ao longo de mais de 100 anos, inúmeros trabalhos já foram produzidos com o intuito de definir e compreender a inteligência e as suas interfaces. Alguns desses trabalhos, que seguem uma tendência psicométrica, priorizam as diferenças individuais quanto à capacidade de o indivíduo chegar a respostas precisas e corretas em situações de solução de problemas; outros, seguindo uma linha desenvolvimentista, enfatizam a maneira como os processos cognitivos se organizam, se estruturam ou mudam durante o desenvolvimento do ser humano; e há, ainda, os que preferem um enfoque no processamento da informação (a seleção, a codificação, o armazenamento e a evocação da informação) para tentar compreender a inteligência humana em termos de processos mentais, além da forma como esses processos colaboram para o desempenho de tarefas cognitivas. Porém, esses modelos clássicos não dão conta da complexidade do funcionamento humano. Já sabemos que o funcionamento humano não se expressa apenas na solução de problemas acadêmicos e da seara do trabalho. É preciso levar em conta outras dimensões que envolvem os âmbitos social, emocional e do autoconhecimento. A referência ao temada inteligência emocional (IE) remonta a 1920 com o trabalho de Edward Thorndike. Desde então, várias conceitualizações sobre o tema têm surgido e, como ocorre em todo campo teórico, há uma evolução nos estudos relacionados a essa área. Foi na década de 1990 que o tema se popularizou, e surgiram os atuais modelos e os principais autores. No entanto, o percurso da IE começa já nos pressupostos teóricos trazidos nos anos 1980, período em que Reuven Bar-On, PhD, utilizou o termo quociente emocional (QE) e em que o neurocientista Howard Gardner (1994) definiu competência intelectual como um conjunto de habilidades que capacitam o indivíduo a resolver problemas ou dificuldades, a criar produtos eficazes e a gerar novos problemas. Segundo Gardner (1994), a inteligência não é uma competência simples, mas complexa e multideterminada, que pode ser descrita em termos de, pelo menos, sete dimensões, que ele denomina de inteligências múltiplas: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal, cinestésica e pessoal. A inteligência pessoal divide-se em dois subtipos: a interpessoal e a intrapessoal. A interpessoal baseia-se na capacidade de perceber distinções nos outros, particularmente diferenças em estados de ânimo, motivações, intenções e temperamentos. Já a intrapessoal seria a capacidade de conhecer a si mesmo, uma habilidade de discriminar emoções e sentimentos, utilizando esse conhecimento para orientar o próprio comportamento. Foi também nos anos 1990 que, pela primeira vez, o termo “inteligência emocional” foi apresentado à comunidade científica pelos professores Peter Salovey, PhD, e John Mayer, PhD, das universidades de Yale e New Hampshire. 49 Em 1995, o psicólogo Daniel Goleman, PhD, da Universidade de Harvard, popularizou o conceito no mundo todo. Para Goleman, a inteligência emocional é um diferencial para o sucesso profissional e pode ser definida como a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, de automotivar-se e de administrar as emoções nos âmbitos individual e interpessoal. O Fórum Econômico Mundial apontou a inteligência emocional como uma das dez competências para permanecer empregado em 2020 (WEF, 2016). Como podemos ver, chegamos ao final dessa década com a percepção de que a inteligência emocional é uma das principais competências para o trabalho, no presente e no futuro. Principais modelos A Encyclopedia of Applied Psychology (SPIELBERGER, 2004) sugeriu a existência de três principais modelos que definem o conceito de inteligência emocional, como descrito no quadro a seguir: Quadro 4 – Três modelos de IE Salovey-Mayer (MAYER et al, 2002) Goleman (1998) e Goleman, Boyatzis e Rhee (2002) Bar-On (2000) Capacidade de perceber, entender, gerir e usar as emoções para facilitar o pensamento. Capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, de automotivar-se e de administrar as emoções nos âmbitos individual e interpessoal, de modo a impulsionar o desempenho. Uma seção transversal interrelacional das competências emocionais e sociais, assim como habilidades e facilitadores que têm impacto na inteligência. O modelo de inteligência emocional e social de Goleman, Boyatzis e Rhee (2002), também conhecido como escola de Harvard de IE, considera duas dimensões de ação da IE: intrapessoal (autoconsciência e autogerenciamento), também conhecida como dimensão de competências emocionais e interpessoal (consciência social e gestão de relacionamentos), também conhecida como dimensão de competências sociais. Esse modelo destaca também cinco principais áreas de competências (1995, 1998, 2002), conforme descrito a seguir: 50 1. Autoconsciência ou autopercepção (self-awareness) – capacidade de reconhecer um sentimento no momento em que ele acontece, ou seja, ter um profundo conhecimento das suas próprias emoções, dos pontos fortes, das fraquezas, das necessidades e das motivações, além de saber a sua a influência no seu próprio rendimento cognitivo ou desempenho no trabalho. As pessoas que têm uma certeza maior a respeito dos seus sentimentos governam melhor as suas vidas, tendo uma noção mais segura daquilo que realmente sentem a respeito das decisões que são obrigadas a tomar. 2. Autorregulação, autogestão, autogerenciamento ou, ainda, autoadministração (self- management) – capacidade que nasce do autoconhecimento sobre como lidar com as sensações de modo apropriado, ou seja, a capacidade de afastar a ansiedade, a tristeza ou a irritabilidade e de manter a tranquilidade. Inclui também a capacidade de se desconectar de emoções negativas e a persistência em perceber o que é positivo, de forma a atingir melhores resultados. A autorregulação é o elemento da IE que nos impede de sermos prisioneiros dos nossos sentimentos. Ela funciona como uma conversa interior contínua. 3. Automotivação – capacidade de mobilizar as emoções em direção a um objetivo, o que é essencial não só para a automotivação mas também para a criatividade, além de contribuir para uma maior produtividade e eficácia. 4. Consciência social, percepção social ou empatia (social awareness) – capacidade que nasce da autoconsciência e é a mais fundamental das aptidões pessoais. Também denominada empatia, a consciência social é importante para o trabalho em equipe e para o exercício da liderança. Pessoas empáticas costumam ser mais sensíveis aos sinais sociais que indicam as necessidades e desejos dos outros. 5. Gestão de relacionamentos, habilidades sociais, administração de relacionamentos ou, ainda, aptidões sociais (relationship management) – capacidade de gerir as suas relações com os outros, de exercer influência positiva em outras pessoas e de resolver conflitos. Inclui o interesse por desenvolver outras pessoas e compartilhar tarefas e atividades em grupo. Pessoas eficazes na gestão dos relacionamentos são aquelas que conseguem compreender e controlar as suas próprias emoções e manifestar empatia pelos sentimentos dos outros. 51 No Brasil, Siqueira, Barbosa e Alves (1999) construíram e validaram uma escala de inteligência emocional com 59 itens que avaliam cinco habilidades da inteligência emocional, conforme foram descritas nos modelos de Salovey e Mayer (1990) e de Goleman (1995, 1999). O conceito inclui um conjunto de cinco capacidades: autoconsciência, autocontrole, automotivação, empatia e sociabilidade, como apresentamos a seguir: 1. Autoconsciência – facilidade de lidar com os próprios sentimentos no que se refere à identificação, nomeação, avaliação, reconhecimento e atenção a esses sentimentos. 2. Autocontrole – facilidade de administrar os próprios sentimentos, impulsos, pensamentos e comportamentos. 3. Automotivação – facilidade de elaborar planos para a própria vida, de modo a criar, acreditar, planejar, persistir e manter situações propícias para a concretização das metas futuras, com esperança e otimismo. 4. Empatia – facilidade de identificar sentimentos, desejos, intenções, problemas, motivos e interesses dos outros, por meio da leitura e da compreensão de comportamentos não verbais de comunicação, tais como expressões faciais, tom de voz e postura corporal. 5. Sociabilidade – facilidade de iniciar e preservar as amizades, ser aceito pelas pessoas, valorizar as relações sociais, adaptar-se a situações novas, liderar, coordenar e orientar as ações das outras pessoas. As três primeiras capacidades dizem respeito a reações do eu e àquilo que o indivíduo faz com seus próprios sentimentos. São as bases psicológicas responsáveis pelo fortalecimento das estruturas internas do indivíduo. As duas ̇últimas capacidades voltam-se para fora, direcionando-se aos sentimentos dos outros e às interações sociais. Constituem os componentes psicossociais que asseguram a competência do indivíduono mundo social. Inteligência social No tópico sobre inteligência emocional (IE), vimos que, para Goleman, Boyatzis e Rhee (2002), as competências de inteligência emocional englobam duas perspectivas: uma emocional (intrapessoal) e outra social (interpessoal). Neste tópico, vamos detalhar a dimensão interpessoal, por ser aquela relacionada à inteligência social. 52 A partir de descobertas da neurociência social2, Daniel Goleman (2006) utiliza o termo cérebro social, ao constatar que “o próprio design do cérebro o torna sociável, inexoravelmente atraído para uma íntima ligação cérebro a cérebro sempre que nos entrosamos com outra pessoa.” (GOLEMAN, 2006, p. 5). Goleman (2006) explica que o cérebro social não é formado por uma parte específica do cérebro. Todas as áreas participam de uma gama de funções, não existindo uma área exclusivamente social; na verdade, o termo corresponde às diversas partes ativas que orquestram as atividades quando as pessoas se relacionam entre si, abrangendo o cérebro como um todo. O estado cerebral de uma pessoa influencia o de outra(s) por meio daquilo que é expresso de modo verbal, não verbal ou comportamental, conforme explicam Cacioppo e Decety (2011), uns dos primeiros divulgadores da neurociência social. Essa explicação nos ajuda a compreender tanto a sensação de bem-estar quando se está junto de pessoas agradáveis, positivas e respeitosas, quanto os sentimentos de irritação e apatia em relação a pessoas que apresentam atitudes que fazem os outros sentirem-se desvalorizados, intimidados, enfurecidos, frustrados ou culpados. Goleman (2006, p. 260) explica que “a maneira como um relacionamento afeta a nossa saúde dependerá da soma total de sua toxidade ou positividade ao longo dos meses e dos anos”. Dito de outra forma, os sentimentos resultantes das interações sociais possuem consequências que se reproduzem no corpo humano, secretando hormônios que regulam os sistemas biológicos – do coração ao sistema imunológico. Daí a constatação de que, ao longo dos anos, os altos e baixos emocionais dos relacionamentos criam níveis de estresse que podem acelerar o surgimento de doenças ou agravar os sintomas daquelas já existentes. Diante do exposto cabe uma reflexão: qual é o impacto que você está causando? É um impacto positivo ou negativo? A boa notícia e uma possível resposta é que você pode utilizar esse conhecimento para ser inteligente socialmente. Sendo assim, é importante saber como funciona a inteligência social. Estudos e conceitos a respeito da inteligência social Karl Albrecht (2006), fazendo uma releitura dos conceitos apresentados por Gardner (1994), situa a inteligência social dentro da perspectiva das inteligências múltiplas. O que Gardner (1994) abordou como “inteligência interpessoal”, na visão de Albrecht passa a ser denominado de “inteligência social”. Para o autor, esse tipo de inteligência pode ser definido como a habilidade de se relacionar bem com as outras pessoas e de conseguir a cooperação delas. 2 A neurociência social é um campo de exploração recente que tem como objetos de estudo o cérebro humano e as relações humanas. As suas descobertas revelam as funções de partes já conhecidas do cérebro em relação aos momentos de interação social e mostram de que modo essas interações afetam biologicamente os envolvidos. 53 Já Tony Buzan (2005, p. 14) conceitua a inteligência social como “a capacidade de nos darmos bem e de nos relacionarmos com as pessoas ao nosso redor.” Para Buzan (2005), essa é uma das inteligências mais importantes e benéficas para o ser humano, pois as pessoas socialmente inteligentes são as que se destacam nos primeiros encontros, sendo lembradas pela sua simpatia e cordialidade, pela atitude positiva e pelo interesse que demonstra ter pelas demais pessoas. O autor destaca que a inteligência social pode ser desenvolvida. Além de ouvir realmente as pessoas, focando a atenção nelas, estar atento à linguagem corporal e ter consciência da “zona de conforto” de cada um, são algumas formas de ativar a inteligência social. Daniel Goleman (2006), afirma que o conceito de inteligência social amplia o foco, passando da visão de uma pessoa, como proposto na inteligência emocional, para a perspectiva de duas pessoas, considerando, especificamente, as habilidades que são desenvolvidas quando essas pessoas se envolvem em um relacionamento. O autor propõe um modelo de inteligência social, a partir do qual, o conceito poderá ser expandido, como apresentado a seguir: Quadro – O modelo de inteligência social de Daniel Goleman Inteligência social Consciência social A consciência social refere-se a um espectro que vai de sentir instantaneamente o estado interno do outro e compreender seus sentimentos e pensamentos a “entender” situações sociais complicadas. Inclui: Empatia primordial: sentir com os outros; sentir os sinais emocionais não verbais. Sintonia: ouvir com total receptividade; sintonizar-se com o outro. Precisão empática: entender os pensamentos, sentimentos e intenções do outro. Cognição social: saber como funciona o mundo social. Facilidade social Não basta sentir como os outros se sentem, ou saber o que pensam ou pretendem, para garantir interações produtivas. A facilidade social se baseia na consciência social para permitir interações fluentes e eficazes. O espectro da facilidade social inclui: Sincronia: interação fluente no nível não verbal. Apresentação pessoal: apresentar-se de maneira eficiente. Influência: moldar o resultado das interações sociais. Preocupação: importar-se com as necessidades dos outros e agir com base nelas. Fonte: Goleman (2006) 54 Esse quadro demonstra que a inteligência social pode ser organizada em duas categorias: a consciência social – os sentimentos em relação aos outros e a facilidade social – o que se faz da posse dessa consciência. Não basta a consciência, é preciso agir. O reconhecimento da inteligência social virá a partir da influência positiva que as pessoas sejam capazes de exercer nas interações sociais. Um conceito de inteligência social independente da inteligência emocional é proposto por Albrecht (2006), que faz uma crítica ao modelo de IE de Goleman. Para o autor, as três primeiras dimensões da IE (autoconsciência, autogerenciamento e consciência social) englobam 37 competências voltadas para as competências emocionais, o que tornaria a proposta focada em “competências internas”. Outra crítica ao modelo é em relação à dimensão de gestão de relacionamentos, que estaria voltada unicamente para o exercício de habilidades de liderança, tornando o modelo restrito a interações sociais com esse propósito. O modelo, proposto por Albrecht (2006) aponta cinco competências sociais, “orientadas para o externo” e direcionadas a uma melhor atuação na liderança e na vida em geral: consciência situacional, presença, autenticidade, clareza e empatia. Nelson e Low (2011), autores da avaliação Esap (Emotional Skills Assessment Process), propõem um terceiro modelo que considera as competências sociais como parte do construto de inteligência emocional, compondo a dimensão interpessoal. Nesse modelo, os autores ampliam as competências de liderança, considerando a empatia como parte dessa perspectiva, além de considerar em separado as competências interpessoais. O modelo destaca a regulação das emoções de raiva e medo e as habilidades de comunicação. Trata-se de capacidades que contribuem para relacionamentos positivos e saudáveis. A comunicação eficaz e apropriada tende a ser difícil em situações de conflito ou stress emocional. Por isso, Nelson e Low (2011) destacam como competência interpessoal a habilidade de assertividade. Na perspectiva de liderança pessoal, os autores trazem:conforto, empatia, tomada de decisão e liderança (influência). Em todos os modelos apresentados, existe um consenso em relação à empatia e o seu papel integrador entre o que sentimos e os sentimentos das outras pessoas. A empatia, quando se transforma em uma profunda conexão com as histórias e os entendimentos do outro, possibilita o sentimento de compaixão, associado a uma ampliação da consciência pessoal, o que leva a experiências genuínas de conexão interpessoal, dando- nos acesso a uma dimensão metafísica (espiritual). 55 Autoconsciência Como já vimos anteriormente, no tópico 1.1, a inteligência emocional pode ser definida como o conjunto de habilidades que nos permitem reconhecer e regular as emoções em nós mesmos e nos outros (GOLEMAN, 2001). De acordo Daniel Goleman, a autoconsciência é um dos cinco componentes da inteligência emocional, que, segundo o autor, é composta por: 1. autoconsciência; 2. autorregulação; 3. automotivação; 4. consciência social ou empatia e 5. gestão de relacionamentos ou habilidades sociais. A autoconsciência ou o autoconhecimento (conhecimento de si) é o pilar central da inteligência emocional, pois é sobre ela que os demais componentes são construídos. É preciso ter autoconsciência para se autorregular. Além disso, o seu desempenho na gestão dos relacionamentos será baixo se você não souber de que forma acessar e utilizar as suas habilidades sociais. Para desenvolver sua inteligência emocional, o autoconhecimento é a primeira parada. Na área profissional, o autoconhecimento torna-se o mais nobre diferencial competitivo que podemos desenvolver. Daniel Goleman (2012) descreve três competências envolvidas na autoconsciência, quais sejam: autoconsciência emocional – reconhecer as próprias emoções e os seus efeitos, autoavaliação precisa – conhecer os seus pontos fortes e limites, e autoconfiança – ter um forte senso de valor próprio e das suas capacidades. Teoria da autoconsciência A American Psychological Association (APA, n.d.) define a teoria da autoconsciência como "as consequências de focar a atenção em si mesmo." Grande parte da pesquisa e da literatura disponível hoje distingue entre dois tipos: autoconsciência subjetiva e autoconsciência objetiva. O primeiro tipo é a autoconsciência subjetiva. Nesse nível de autoconsciência, nós somos a fonte de todas as nossas percepções e comportamentos. O mundo gira em torno de nós com base em nossas observações e experiências. O segundo é a autoconsciência objetiva. Em 1972, dois pesquisadores, Duval e Wicklund, desenvolveram a ideia de autoconsciência objetiva. Eles afirmaram que, a qualquer momento, uma pessoa pode estar focada em si mesma ou nos outros. Além disso, eles acreditavam que o foco interior envolvia comparar o “eu” com padrões externos ou internos, ou seja, é a ideia de que nos comparamos aos outros e também a algum padrão de comportamento correto. Esses padrões surgem de interações com o ambiente externo. 56 A teoria da autoconsciência é baseada na ideia de que você não é os seus pensamentos, mas a entidade que observa os seus pensamentos; você é o pensador, separado e à parte dos seus pensamentos (DUVAL; WICKLUND, 1972). Podemos continuar o nosso dia sem dar ao nosso eu interior nenhuma atenção extra, apenas pensando, sentindo e agindo de forma automática; contudo, quando focamos a nossa atenção nesse eu interior, acionamos uma habilidade que Duval e Wicklund denominaram de "autoavaliação". Nós podemos acionar a autoavaliação para aumentar a autoconsciência das nossas ações e emoções em determinado momento, da nossa aparência, dos nossos conflitos internos (por exemplo, conflitos entre as nossas crenças e as nossas ações), das nossas crenças e dos nossos valores. Quando nos envolvemos na autoavaliação, podemos pensar um pouco se estamos pensando, sentindo e agindo como “deveríamos”, ou seja, seguindo os nossos padrões e valores. Esse processo é conhecido como comparação com padrões de correção. Diariamente, aplicamos esses padrões de correção como uma forma de julgar se os nossos pensamentos e comportamentos estão corretos. Essas comparações de comportamentos, atitudes e características contribuem para o nosso senso de autoconsciência (APA, n.d.) e também se constituem em um componente importante da prática do autocontrole, pois avaliamos e determinamos se estamos fazendo as escolhas certas para atingir os nossos objetivos. De acordo com a teoria, existem dois resultados principais em nos compararmos com os nossos padrões de correção: 1. nós “aprovamos” ou encontramos alinhamento entre nós e os nossos padrões e 2. nós “reprovamos” ou encontramos uma discrepância entre nós e os nossos padrões (SILVIA; DUVAL, 2001). Quando encontramos uma discrepância entre os dois, encontramo-nos com duas opções: trabalhar para reduzir a discrepância ou evitá-la totalmente de forma intencional. A teoria da autoconsciência (e as pesquisas subsequentes sobre ela) sugere que existem alguns fatores diferentes que influenciam o modo como escolhemos responder. Basicamente, tudo se resume ao seguinte: se acreditarmos que há pouca chance de realmente mudar essa discrepância, tendemos a evitá-la. Se acreditarmos que podemos melhorar o nosso alinhamento com os nossos padrões de correção, passamos a agir. Um outro fator que também determina se agiremos ou não está relacionado a quanto tempo e esforço acreditamos que o realinhamento exigirá; quanto mais a nossa expectativa for de um progresso lento, menor será a probabilidade de assumirmos os esforços de realinhamento – especialmente se a discrepância percebida entre nós e os nossos padrões for grande (SILVIA; DUVAL, 2001). Dito de outra forma, quando nos deparamos com uma discrepância significativa que exigirá muito trabalho, constante e focado, muitas vezes, simplesmente não nos importamos e evitamos essa discrepância específica. 57 A autorregulação, outro conceito-chave na IE, é mais difícil sem a autoconsciência objetiva. A autorregulação é a nossa capacidade de controlar as nossas emoções e os nossos impulsos. Pessoas que conseguem controlar as suas emoções e os seus impulsos têm mais probabilidade de atingir os seus objetivos. Mudança de modelos O processo do autoconhecimento ocorre quando nos damos a oportunidade de abrir as nossas mentes para o conhecimento, de quebrar os modelos estabelecidos no decorrer da vida que ficam armazenados na nossa mente. Modelos são as matrizes nas quais baseamos as nossas percepções, ou seja, é o padrão por meio do qual entendemos, analisamos e modificamos o mundo exterior. Em Psicologia, Neurociência e Ciências Cognitivas, percepção é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de um histórico de vivências passadas. Por meio da percepção, um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. A percepção consiste em adquirir, interpretar, selecionar e organizar as informações obtidas pelos sentidos. As percepções sofrem variações devido aos diferentes contextos socioeconômicos. Na realidade, a nossa mente está repleta de conceitos estabelecidos e sedimentados, que formam modelos. Talvez, a maneira mais forte de definir o conceito de modelo seja dizer que ele representa os conteúdos de uma visão de mundo que a pessoa assimila no decorrer da sua existência. Sem perceber, consideramos tais conteúdos como verdade absoluta e como pressuposto básico sobre a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos com as pessoas. Os modelos funcionam como hábitos e nos ajudam a resolver problemas do dia a dia, mas, por outro lado, também funcionam como filtros, impedindo-nos de ver novas oportunidades. Passamos a acreditar que a maneira habitual de realizar alguma tarefa, por exemplo, é a única maneira possível. Nessecaso, os modelos tornam-se barreiras à nossa capacidade de aceitar e compreender as novas ideias ou os novos produtos. Mudança de comportamento tem uma ligação direta com a mudança de modelos que, por sua vez, gera novas fórmulas, as quais demonstram que resultados diferentes são desenvolvidos. Quebrar modelos (ou paradigmas) tornou-se uma exigência no mundo das organizações e da sociedade. Porém, para que um modelo seja realmente quebrado, é necessário que algo seja superado, e o novo seja introduzido. É preciso questionar conceitos, regras, emoções, crenças etc., e tudo isso deve começar individualmente para depois alcançar o coletivo. Não existe outro caminho. Não importa a complexidade da mudança. O fato é que só podemos dizer que modelos ou paradigmas são verdadeiramente quebrados à medida que novas formas de atuação são desenvolvidas e mostram resultados diferentes a médio e longo prazos. Na realidade, o simples fato de tomarmos consciência das nossas próprias limitações já é uma quebra de modelo. Os passos seguintes, invariavelmente, conduzem-nos a caminhos que antes pareciam impossíveis. 58 Muitas vezes, os questionamentos sobre nós mesmos podem ocorrer em um período de dificuldades ou de insucesso profissional ou emocional, e, não raro, esses questionamentos vêm do sentimento de vazio, de que está faltando algo. Esses questionamentos acabam abrindo as portas para o autoconhecimento. Esse período em que nos questionamos sobre como dominar esses sentimentos, esses pensamentos e essas atitudes é o momento de desfazer a imagem poética que temos de nós mesmos e do mundo e enfrentar os nossos medos e as reais causas de determinados comportamentos. Vale a pena repetir: a jornada do autoconhecimento só tem início. É como se estivéssemos subindo uma montanha sem topo. A cada parte mais alta que chegamos, passamos a enxergar melhor o que ficou para trás. Dessa forma, a cada avanço que fazemos no sentido do autoconhecimento, estamos ampliando tanto a visão das nossas conquistas quanto a dimensão das nossas possibilidades. Autogerenciamento ou autorregulação Embora seja comumente aceito que as nossas emoções são movidas por impulsos sobre os quais temos pouco ou nenhum controle, temos a capacidade de autorregulação; a capacidade de gerenciar – se não controlar – as emoções resultantes e as nossas reações a elas. O termo “autorregulação” pode referir-se tanto à autorregulação comportamental quanto à autorregulação emocional. A autorregulação comportamental é “a capacidade de agir no seu melhor interesse a longo prazo, consistente com os seus valores mais profundos” (STOSNY, 2011). É a autorregulação comportamental que nos permite sentir de uma maneira, mas agir de outra. Uma demonstração de autorregulação comportamental ocorre naqueles dias em que você não quer levantar e ir para o trabalho pela manhã, mas se convence a fazê-lo de qualquer maneira depois de lembrar-se dos seus objetivos (por exemplo, um aumento, uma promoção) ou de que precisa atender às suas necessidades básicas (por exemplo, comida, abrigo). Por outro lado, a autorregulação emocional envolve controle – ou, pelo menos, influência – sobre as suas emoções. Se você alguma vez já se acalmou quando estava com raiva, demonstrou uma autorregulação emocional eficaz. É importante notar que controlar as emoções é bem diferente de sufocá-las, significa, na verdade, compreendê-las. Nesse processo de compreensão das emoções, é possível usá-las de maneira adequada e funcional, não permitindo que elas tenham o controle. Conforme um dado estado emocional do indivíduo influencie o seu humor – bom ou mau –, as possibilidades de ação poderão ser tanto amplas como reduzidas; dessa forma, a emoção pode até ajudar as pessoas a considerar perspectivas múltiplas. No mesmo sentido, Goleman (2001) aponta que o controle emocional não é sinônimo de suprimir as emoções, pois cada sentimento tem o seu valor e significado na vida emocional e subjetiva de cada indivíduo, mas é fundamental para gerar um equilíbrio: quando as emoções são sufocadas, geram embotamento e frieza, e quando escapam ao controle, são extremas e renitentes, podem tornar-se patológicas e prejudicar o bem-estar do indivíduo. Resumindo, Goleman (2001) ensina que é necessária uma proporcionalidade entre as emoções e as circunstâncias. 59 Essa forma de autorregulação é construída com base na autoconsciência e é parte integrante de nos tornarmos emocionalmente inteligentes, exercendo a capacidade de nos libertar da reação conduzida por impulsos (GOLEMAN, 1995). A autorregulação amplia ainda mais o controle de impulsos e permite que um indivíduo use o conhecimento sobre as suas emoções para melhor gerenciá-las, a fim de se automotivar e criar interações sociais positivas. Os líderes que investem na autorregulação têm muito menos probabilidade de adotarem comportamentos agressivos e de tomar decisões precipitadas. Não se quer dizer com isso que emoções negativas desapareçam com a autorregulação. Em casos de emoções negativas, como raiva, por exemplo, a inteligência emocional pode ajudar a identificar o que você está sentindo e determinar a causa da emoção por meio da reflexão e da autoanálise, permitindo que você responda de maneira racional. Conforme já explicamos, trata-se de permanecer no controle das suas emoções, e não permitir que as suas ações sejam impulsionadas pelas emoções. A autorregulação é crítica em relação a outras facetas da inteligência emocional e pode ser desenvolvida desde a primeira infância, durante a adolescência e durante a vida adulta. Dominar a autorregulação nos dá a oportunidade de abrir a porta para outros aspectos benéficos da inteligência emocional. Por outro lado, a ausência de autorregulação compromete o desempenho em outras competências importantes na vida profissional e na liderança, como comunicação eficaz e gestão de conflitos. Todo esse processo de monitorar os seus próprios pensamentos, sentimentos e comportamentos e comparar os resultados com os seus objetivos para decidir se manterá as suas atitudes e os seus comportamentos atuais ou se os ajustará para atingir os seus objetivos com mais eficácia contribui para o desenvolvimento de diversas competências relacionadas ao trabalho. IE e resiliência: hardiness A inteligência emocional é, sem dúvida, uma ferramenta valiosa para se utilizar em face da adversidade, pois influencia a capacidade de lidar com condições estressantes, diminuindo a propensão das pessoas de sucumbir aos impactos negativos de eventos estressores. A relação entre a inteligência emocional e o processo de estresse vem sendo estudada cada vez mais, e algumas descobertas fornecem “validade preditiva de que a inteligência emocional facilita a resiliência ao estresse" (SCHNEIDER; LYONS; KHAZON, 2013, p. 909). Outras pesquisas sugerem que a inteligência emocional está fortemente correlacionada com o desenvolvimento e desempenho individual, com evidências que sugerem uma ligação significativa entre a resiliência e a motivação para realizar (MAGNANO; CRAPARO; PAOLILLO, 2016). Em outras palavras, a inteligência emocional é um pré-requisito para a resiliência, e a resiliência pode levar a uma motivação maior. A resiliência tem um componente subjacente de perseverança que motiva a resistência diante de obstáculos (LUTHANS; AVEY; AVOLIO, 2010). 60 O enfrentamento de adversidades demanda o acionamento de uma série de capacidades. Em ambientes de alta incerteza e ambiguidade, a hardiness pode ser uma capacidade diferenciadora. A resistência cognitiva ou hardiness é o termo cunhado por Kobasa (1979) para descrever comportamentos adaptativos de indivíduos resilientes. Kobasa (1979) e Kobasa e Puccetti (1983) descrevem a hardiness como uma variável de personalidade que possui aspectos cognitivos e comportamentais. Para Kobasa, indivíduoscognitivamente resistentes: (1) acreditam que podem controlar ou influenciar eventos; (2) têm compromisso com as suas atividades e os seus relacionamentos interpessoais bem como consigo mesmos, na medida em que reconhecem os seus próprios valores, além dos objetivos e das prioridades que são os seus distintivos na vida, e (3) encaram a mudança como um desafio em vez de uma ameaça, ou seja, eles são predispostos a serem cognitivamente flexíveis. Automotivação A automotivação é um dos componentes da inteligência emocional. Daniel Goleman (1995) identificou quatro elementos que compõem a motivação: 1. o nosso impulso pessoal para melhorar; 2. o nosso compromisso com os objetivos que estabelecemos para nós mesmos; 3. a nossa prontidão para agir nas oportunidades que se apresentam a nós e 4. a nossa resiliência. Magnano et al (2016) afirmam que a motivação é o processo psicológico básico que usamos para nos estimular a agir para alcançar um resultado desejado. A motivação desperta, energiza, direciona e sustenta o comportamento e o desempenho. Ela é um processo psicológico resultante da interação entre o indivíduo e o ambiente (LATHAM; PINDER, 2005), que varia não só de pessoa para pessoa mas também varia em uma mesma pessoa ao longo do tempo, conforme as situações e circunstâncias. (RYAN; DECI, 2000). A motivação pode ser de origem extrínseca e/ou intrínseca. A motivação extrínseca “é uma construção que surge sempre que uma atividade é feita para alcançar algum resultado” (RYAN; DECI, 2000). Em contraste, a motivação intrínseca vem de dentro, empurra-nos para atingir o nosso potencial máximo, surge da capacidade do indivíduo e visa a satisfazer necessidades de autorrealização. Ela não tem a ver com qualquer tipo de reforço/recompensa material ou, até mesmo, afetiva, somente com o prazer pessoal ao se desenvolver uma determinada atividade. Contraria, pois, o conceito de “incentivo” (VEIGA-BRANCO, 2004). Em um estudo recente, os níveis de inteligência emocional dos alunos de graduação do primeiro ano de medicina foram considerados positivamente relacionados à automotivação para estudar medicina e à satisfação em escolher estudar medicina (EDUSSURIVA et al, 2018). 61 Um indivíduo emocionalmente inteligente não apenas possui as habilidades para a automotivação mas também as habilidades necessárias para motivar os outros, um talento útil para ter especialmente em cargos de gestão. Embora a automotivação seja fundamental para atingir os objetivos, os líderes emocionalmente inteligentes dentro de uma empresa também podem impactar a motivação dos empregados. Construção de relacionamentos Importância da confiança e da credibilidade A confiança tem um papel singular na construção das relações interpessoais. A confiança e a desconfiança já foram descritas por diversos psicólogos como a base do desenvolvimento humano. Barnes (1981) apontou que a confiança, além de ser uma premissa importante para gerar satisfação, é adquirida com base em experiências passadas e, da mesma forma que é construída, também pode ser rapidamente desfeita na relação entre as partes. Para o mundo dos negócios, confiança é um importante fundamento do relacionamento comercial, que leva ao comportamento cooperativo. Nas alianças estratégicas entre empresas, segundo Moorman, Zaltman e Deshpandé (1993, p. 82), “a confiança é definida como uma vontade de contar com um parceiro comercial em quem se acredita”. Especialmente em contextos que envolvem vulnerabilidade e incerteza, a confiança reflete a intenção em acreditar em um parceiro (COLEMAN, 1990), o que quer dizer que a confiança demanda também uma forte disposição pessoal dos envolvidos em entrar uma parceria, em depender do outro, em uma dada situação, com um sentimento de relativa segurança, mesmo que a consequência possa ser negativa (CASTELFRANCHI; FALCONE, 2001). A confiança é tão importante para a troca relacional que Spekman (1988, p. 79) postula que ela seja “a pedra angular da parceria estratégica”, estando associada também às ideias de alta integridade, competência, honestidade e responsabilidade. Castelfranchi e Falcone (2001) apontaram diferentes componentes da confiança: sinceridade, credibilidade, cooperação e vigilância. Embora se trate de componentes diferentes, é a combinação dos quatro, e não a presença isolada deles, que constrói um relacionamento consistente e de confiança. Confiança também é composta por duas dimensões. A dimensão interna está conectada com a boa fé do parceiro, o que quer dizer que a confiança na boa vontade da outra parte é o resultado cumulativo de interações entre as partes, que servem para que ambos os lados se conheçam e evoluam no entendimento dos compromissos mútuos. A dimensão externa diz respeito à influência do ambiente sobre os parceiros envolvidos e a expectativa que se tem das suas condutas, dentro de contextos específicos (CASTELFRANCHI; FALCONE, 2001). 62 De acordo com Lewicki e Bunker (1995), são três os diferentes tipos de confiança: 1. confiança baseada na dissuasão – parte da ideia da confiança pautada em uma normativa com validade jurídica (um contrato, por exemplo), com regras claras, na qual o agente é punido por qualquer violação dessas regras. Portanto, a fim de evitar a punição, o agente irá comportar-se de forma previsível, de acordo com as regras; 2. confiança baseada no conhecimento – pautada na competência e motivação do parceiro. Nesse caso, confia-se nele porque, devido ao seu conhecimento, sabe-se o que esperar e 3. confiança baseada na identidade – pautada na identificação com objetivos e interesses. Podemos observar que a confiança é baseada em uma percepção de previsibilidade da conduta das partes envolvidas. Essa percepção de previsibilidade funciona como uma premissa para os relacionamentos, que se sustentam a partir de experiências de troca positivas e consistentes, capazes de definir um padrão de atendimento e relacionamento desejado. Rapport: o que é e como gerar O rapport3 é um construto que ganhou alguma atenção no estudo das relações comerciais e refere- se à interação entre profissionais de vendas e clientes, à capacidade de criar uma ligação de empatia com outra pessoa, para que se comunique com menos resistência. (GREMLER; GWINNER, 2000). Do ponto de vista teórico, acredita-se que o rapport aumente (1) os sentimentos de controle percebidos em um relacionamento, levando a maiores níveis de satisfação do cliente com uma empresa e (2) o nível de comprometimento em relação a um relacionamento, levando a níveis mais altos de lealdade para a empresa (GREMLER; GWINNER, 2000). Os comportamentos de construção de rapport podem ser classificados em quatro grupos: comportamento atencioso, comportamento imitativo, comportamento cortês e comportamento de base de similaridade. Comportamento atencioso Alguns pesquisadores afirmam que simplesmente estar atento aos outros pode construir rapport. Dessa forma, o rapport é mais elevado quando uma interação contém um alto nível de atenção mútua entre os indivíduos. A esse respeito, Bernieri et al (1996) identificam três preditores de atenção: contato visual, proximidade física e respostas de retorno (por exemplo, acenos de cabeça e "um-humms"). 3 Rapport é uma palavra de origem francesa (rapporter), que significa “trazer de volta” ou “criar uma relação”. 63 O comportamento atencioso também pode ser exibido por meio de mimetismo motor – isto é, quando uma das partes exibe um comportamento comunicativo adequado à situação ou à pessoa com quem está interagindo. Hollman e Kleiner (1997) afirmam que o rapport pode ser desenvolvido por meio da escuta e da atenção a como a outra parte está se comunicando. Esse comportamento atencioso é particularmente relevanteem encontros no ambiente de transações comerciais. Comportamento imitativo O rapport também pode ser cultivado imitando o comportamento da outra parte em uma interação. Em geral, essa imitação envolve combinar os comportamentos ou padrões de voz da outra pessoa. Essas atividades de correspondência podem ocorrer em uma variedade de dimensões, incluindo postura, tom de voz, tipo de linguagem, ritmo da fala, gestos, padrões de respiração ou expressões faciais. Além disso, a literatura da Psicologia Social sugere que as emoções exibidas por dois indivíduos, muitas vezes, são combinadas por meio de imitação e feedback facial (HATFIELD; CACIOPPO; RAPSON, 1994). Em um contexto de vendas, uma abordagem utilizada é a da programação neurolinguística, que demanda que os vendedores observem dicas verbais e não verbais do cliente e reajam de acordo para desenvolver níveis mais elevados de relacionamento (NICKELS; EVERETT; KLEIN 1983). Esses comportamentos imitativos podem ser úteis nas interações com clientes de varejo, porque as pessoas tendem a gravitar em torno de pessoas semelhantes a elas e a ficar mais à vontade. Comportamento cortês Outros estudiosos sugerem que o comportamento cortês é um método eficaz para cultivar o relacionamento (FORD; ETIENNE, 1994; SUTTON; RAFAELI, 1988). Por exemplo, em um estudo com caixas de supermercado, Ford (1995, p. 66) observa que a cortesia ajuda um varejista "a formar um 'vínculo' rápido com o cliente e cria o relacionamento necessário para um encontro de serviço positivo." Comportamentos corteses, geralmente, incluem ações simples que tornam os encontros agradáveis para a outra pessoa. Para profissionais de vendas, essas ações podem envolver sorrir, usar saudações agradáveis, envolver-se em comportamento educado, mostrar preocupação com o bem-estar do cliente, lembrar o nome do cliente ou agradecer ao cliente pelo seu patrocínio (HUNT; PRICE, 2002). 64 Comportamento de base de similaridade As pessoas experimentam “interações significativas” quando têm origens, características, gostos e estilos de vida semelhantes. A base comum é construída quando uma pessoa tenta descobrir áreas de similaridade ou interesse mútuo com o outro (GOLEMAN, 1998). Por exemplo, a varredura do escritório, na qual os vendedores olham ao redor do escritório de um cliente em potencial em busca de tópicos de discussão comuns (por exemplo, evidências de hobbies mútuos ou interesses semelhantes), é uma estratégia que os vendedores costumam usar para tentar construir um terreno comum com os clientes (WEITZ; CASTLEBERRY; TANNER, 2007). Ambiente externo: empatia e escuta ativa As pessoas percebem o mundo ao seu redor de formas diferentes, de acordo com as suas histórias de vida e todas as experiências positivas e negativas nela inseridas, com a cultura, com as suas crenças, com os seus valores e com as suas necessidades. Todos esses fatores levarão os indivíduos, em um mesmo ambiente, a produzir diferentes interpretações do que vivenciam juntos e separadamente. Além disso, dependendo do estado fisiológico (pessoas drogadas ou alcoolizadas) e do estado psicológico (de tristeza e euforia a estados patológicos), a mesma pessoa pode ter diferentes percepções de um mesmo evento ou coisa. Por exemplo, a experiência vivida em uma interação entre duas pessoas tende a ser percebida por cada uma delas de formas diferentes e, por uma terceira pessoa que não participou, mas somente assistiu à interação quando ocorria, de uma terceira forma. A percepção é um processo que ocorre entre o indivíduo e o ambiente e que é mediado fisicamente pelos sentidos (visão, audição, olfato, paladar etc.) e cognitivamente pela linguagem. Nós formulamos uma interpretação e um julgamento do ambiente por meio do processo cognitivo, que utiliza a linguagem: para pensar, avaliar e, finalmente, agir (falando, escrevendo ou tomando atitudes em relação a um fato ou a alguém) nós utilizamos a linguagem, a verbal e a não verbal. Nesse processo, existe um movimento dialético: o ambiente provoca percepções em nós, e nós, por meio das nossas ações e expressões, provocamos percepções e ações nos demais atores do ambiente. Ou seja, o impacto que criamos no ambiente é responsabilidade nossa. À medida que desenvolvemos a nossa percepção a respeito de nós mesmos (autoconhecimento) e a respeito do outro, a nossa capacidade de dirigir o nosso comportamento (as nossas ações) aumenta. Quanto mais conhecemos a nós mesmos e aos outros com quem interagimos, maior o controle que temos sobre as escolhas dos nossos comportamentos. Dito de outra forma, melhoramos a nossa assertividade. 65 Escuta ativa e empatia A empatia refere-se à capacidade de perceber os sinais não verbais, relativos a estados emocionais de outras pessoas. Além de ser uma das cinco habilidades da inteligência emocional, explicam a facilidade para identificar sentimentos, desejos, intenções, problemas, motivos e interesses dos outros, por meio da leitura e da compreensão de comportamentos não verbais de comunicação, tais como expressões faciais, tom de voz e postura corporal. Mas como é que praticamos a empatia? Mais do que uma ferramenta de comunicação, a escuta ativa é um método que ajuda a desenvolver a empatia. Para começar a praticar a escuta ativa, fique atento a estes comportamentos: enquanto a outra pessoa fala, pare de pensar e concentre-se em ouvir o que a pessoa diz e o que ela não diz; deixe a outra pessoa continuar o seu discurso sem quebras ou oposição sistemática; quando a pessoa terminar de falar, espere alguns segundos, evitando quebrar o silêncio. Dessa maneira, você pode levá-la a dizer mais do que tinha a intenção de contar e sem emitir julgamentos, mostre ao outro que o que ele disse foi entendido. Isso se chama espelhamento (ROGERS, 1966). Praticando assim, você desenvolve também a sua capacidade de ir além das suas crenças e dos seus preconceitos, de ser paciente, entender o ponto de vista do outro, ficar focado no assunto, evitar as distrações e encontrar uma solução favorável para todos. As suas capacidades de gerenciar você mesmo e os outros e de adaptar-se em situações ambíguas e de incerteza são essenciais para melhorar as competências interpessoais. Instrumentos para facilitar a construção do relacionamento comercial Pesquisa/recolhimento de informação Construir relacionamentos depende de características tais como envolver positivamente outras pessoas, formar e participar de redes de relacionamento e ter empatia e escuta ativa. A construção de um relacionamento envolve também confiança e um desejo genuíno de ajudar outras pessoas. Essas características são usadas com frequência no trabalho de qualquer profissional de vendas e permitem que um vendedor cumpra as suas tarefas de maneira facilitada. 66 Igualmente, ter as informações precisas sobre os clientes, conhecer as tendências de mercado, as soluções de concorrentes e outras inteligências empresariais permite que um vendedor tenha um desempenho bem sucedido, gerando negociações de alto valor e encurtando o ciclo de vendas. Para isso, o investimento em pesquisa/recolhimento de informação é indispensável. O CRM (customer relationship management) é uma ferramenta de análise competitiva que auxilia em várias etapas dos processos de marketing e de vendas. Além dele, as redes sociais são fontes de pesquisa e de relacionamento bastante versáteis e dinâmicas. Contudo, um alto volume de dados dificilmente será o suficiente para se alcançar um resultado satisfatório. Será preciso processar a informação, analisar os dados diferentes e selecionar a informação que ajudará a decidir que ações tomar ou a formular soluções para os problemas que os seus prospects ou a sua equipe estejam passando. Para isso, será preciso uma combinação de hard skills e powerskills: adaptação às tecnologias avançadas da inteligência artificial, do Big Data, uso de redes sociais e outros recursos que as empresas e as suas marcas usam para envolver o público, além de competências comportamentais, como o foco, a empatia, a organização e o pensamento crítico. Uso de tecnologia (redes sociais) Cada estágio do ciclo de vendas, cada tática e cada plano estratégico pode ser, potencialmente, afetado pela adoção de uma presença ou estratégia de mídia social pela organização (AVLONITIS; PANAGOPOULUS, 2010, p. 1047). É evidente que a cada fase do trabalho de um vendedor ao longo do processo de vendas, será exigido um conjunto específico de habilidades. Vejamos a seguir algumas etapas do processo de vendas, nomeadamente prospecção e abordagem, e como as mídias sociais podem ser utilizadas, afetando as habilidades requeridas do profissional de vendas. Prospecção: entendendo o cliente Entender o cliente é a primeira etapa do processo de vendas, em que um vendedor pesquisará uma conta de rede social, antes de uma interação. As responsabilidades principais, nessa primeira etapa, são reunir conhecimento, gerar leads (por meio da prospecção), determinar estilos de comunicação e calcular o potencial de compra. É importante ter em mente que as mídias sociais oferecem uma via de mão dupla, o quer dizer que, ao ingressar e participar de redes sociais, os vendedores podem acessar e ver as informações de outras pessoas com a mesma facilidade com que um cliente em potencial pode ver as suas. 67 O sucesso nesse primeiro estágio, por exemplo, depende de o vendedor adquirir informações precisas e oportunas sobre as oportunidades de contatos no mercado (ÜSTÜNER; GODES, 2006). A coleta de informações de contato é apenas a primeira etapa de um processo de vendas eficaz. Talvez a inteligência mais valiosa a respeito do cliente esteja além dos dados de contato. Cabe ao profissional de vendas coletar notícias recentes e informações relevantes sobre clientes em potencial e empresas, observando as mídias sociais em busca da inteligência competitiva necessária para conduzir a conversa (PETERS et al, 2010). Essa etapa do processo de vendas remete diretamente à ligação entre mídia social e escuta. Entender o cliente leva diretamente à elaboração da próxima etapa do processo de vendas – a abordagem. Abordagem: construindo rapport A abordagem inicial ao cliente oferece uma oportunidade para os vendedores construírem rapport, ganharem a atenção total do cliente potencial, apresentarem-se, reforçarem a credibilidade, entre outras coisas. Para melhor demonstrar as maneiras pelas quais a mídia social pode influenciar a abordagem de um vendedor, considere o seguinte exemplo: para ajudar as equipes de vendas a integrar informações de mídia social no seu processo (e software) de CRM, Clara Shih, da Salesforce.com, criou um aplicativo chamado “Faceconnector”. Se os clientes em potencial ou potenciais parceiros de negócios aceitarem esses relacionamentos on-line, será mais fácil encontrar interesses em comum e manter o progresso dos relacionamentos. Por exemplo, se um vendedor comparece a um evento de networking de negócios e faz uma apresentação a alguém que poderia se tornar um potencial parceiro de negócios, o vendedor pode enviar um convite no LinkedIn ou Facebook. Agora, o vendedor terá acesso a informações sobre onde essa pessoa estudou, contatos compartilhados e, possivelmente, até mesmo sobre o seu aniversário, que serão transferidos para o software de CRM da empresa. Isso pode fazer com que o início de uma reunião ou conversa seja uma experiência muito mais familiar e positiva. Assim como existem maneiras quase infinitas de abordar o cliente e construir relacionamento pessoalmente, existem tantas, senão mais, maneiras de fazer a mesma coisa virtualmente por meio da mídia social. A vantagem é que o contato pode ser tão passivo ou ativo quanto o cliente ou a empresa julgarem apropriado. A mídia social permite que uma empresa construa confiança de uma forma não intrusiva, atendendo às pequenas necessidades que um cliente possa expressar em tempo hábil, sem gerar a percepção de uma venda. Compartilhar links, responder a comentários ou fomentar o debate por meio de enquetes on-line permite que o cliente opte por participar da discussão conforme necessário e permite que a empresa, essencialmente, reforce a sua reputação e marca. 68 Relacionamento pós-venda Muito embora muitas empresas já tenham percebido que a venda não termina, necessariamente, na compra, o pós-venda ainda é uma etapa do processo de vendas negligenciada por muitas organizações. O acompanhamento de vendas e os componentes de atendimento ao cliente que deveriam ser parte integrante da interação de vendas costumam ser as peças mais negligenciadas de um processo de vendas. Pode ser nessa etapa do processo de vendas que as mídias sociais podem ser incrivelmente úteis – especificamente a comunicação bidirecional oferecida pelos aplicativos de mídia social. Com relação ao acompanhamento, a habilidade que o profissional de vendas deverá enfatizar é a comunicação: obter referências para vendas futuras e descobrir outras oportunidades de vendas – incluindo vendas cruzadas e vendas complementares. A mídia social também pode ser usada para pedir referências, comunicar histórias de sucesso (via Twitter ou LinkedIn), rastrear a atividade do cliente e interagir ou compartilhar informações com os clientes para permanecer proativo nas necessidades de atendimento ao cliente. Na atual complexidade dos ambientes globais, a previsibilidade e a estabilidade foram substituídas por incerteza e ambiguidade. Dessa forma, o desenvolviemnto de novas habilidades, tanto técnicas (hard skills) quanto comportamentais (power skills), torna-se condição necessária para o avanço saudável da nossa carreira. Neste módulo, trataremos de duas competências-chave para a adaptação a esse contexto volátil, incerto, complexo e ambiguo: a liderança e a resiliência. A liderança e a resiliência formam um par de competências que tende a não se separar mais. A capacidade de construir uma visão de futuro e administrar as ações presentes que levem ao resultado desejado, conseguindo adaptar-se e aprender com os obstáculos, passa a ser um diferencial, tanto no patamar individual – um diferencial de profissionais –, quanto no patamar coletivo – um diferencial organizacional. Pessoas resolvedoras de problemas, solucionadoras e que tenham competências emocionais que resultem em tenacidade para lidar com frustrações, flexibilidade e empatia, a fim de tirar o melhor proveito das diferenças entre indivíduos (gerações, perfis, nacionalidades etc.) e gerar um ambiente de alta colaboração e grandes possibilidades de inovação, serão destaque. Nesse módulo, estudaremos os conceitos e as principais teorias de liderança, assim como aspectos importantes de liderança de equipes e de autoliderança. Um outro aspecto a ser tratado nesse módulo diz respeito à trajetória de um líder na organização, especificamente, buscaremos compreender os estágios de evolução dessa trajetória. Por fim, trataremos do conceito de resiliência e os seus principais elementos – adversidade, risco, stress, fatores de proteção e vulnerabilidade, além de estudarmos atributos de resiliência. MÓDULO III – LIDERANÇA E RESILIÊNCIA 70 Liderança Conceito e evolução histórica Afinal, o que vem a ser liderança? Diante de um contexto global fortemente marcado por mudanças, a necessidade de lideranças eficazes nunca foi expressa com tanta veemência como nas últimas décadas, o que a faz merecer uma crescente atenção no âmbito da teoria organizacional. No campo dos estudos organizacionais e do comportamento humano, a liderança é um dos fenômenos mais complexos e com mais facetas, sendoinvestigado por pesquisadores que, por séculos, tentam identificar os aspectos associados ao líder eficaz. Há quase 50 anos Stogdill (1974, p. 259), em um trabalho que focou na revisão das pesquisas sobre liderança, concluiu que existem "quase tantas definições de liderança como existem pessoas que têm tentado definir o conceito”. Os conceitos de liderança são muitos. Quando se tenta definir liderança, pelo menos, duas dificuldades fundamentais emergem: 1. Definições de liderança serão, fortemente, influenciadas pela posição teórica do indivíduo. Com isso, teremos aqueles que vêem a liderança como a consequência de um conjunto de traços ou características possuídas por "líderes" e outros que vêem a liderança como processo social que emerge dos relacionamentos em um dado grupo. 2. Assim como as noções de "amor", "liberdade" e "felicidade", a liderança é um construto ou conceito complexo, aberto, passível de interpretações subjetivas. Na verdade, todo o mundo tem a sua própria compreensão intuitiva de o que a liderança é, com base em uma mistura de experiência e aprendizagem, que é difícil de ser apreendido em uma definição sucinta. Warren Bennis (1996) diz que a liderança é como a beleza: difícil de definir, mas fácil de perceber. No ambiente organizacional ou social, ainda não existe uma elaboração teórica consistente sobre a repercussão do fenômeno da liderança. No entanto, é possível identificar um núcleo comum entre as várias definições: a capacidade de influenciar pessoas, grupos e coletividades. As distinções teóricas de liderança, quando tomadas de forma conjunta, podem ser segmentadas pelos focos de análise utilizados. Dessa forma, teremos teorias de liderança que se baseiam nos traços do líder, outras no seu comportamento, outras nos aspectos relacionados ao poder e à influência e, ainda, aquelas baseadas em fatores situacionais. O importante é levarmos em conta que os novos contextos organizacionais têm primado pela flexibilidade e pela cooperação, o que sinaliza a importância de se compreender de forma crítica a evolução das teorias e abordagens de liderança. 71 Evolução das teorias sobre liderança A liderança nas organizações foi, frequente e tradicionalmente, conceitualizada em termos de traços de personalidade, estilos de comportamento e fatores contingenciais. Vejamos o percurso cronológico da evolução dessas teorias. Até a década de 40 do século XX, predominou uma das teorias pioneiras – a teoria dos traços, que enfatiza as qualidades pessoais do líder. Logo em seguida, no início da década de 1950, os cientistas comportamentais passaram a se preocupar com os aspectos que caracterizam o estilo de comportamento do líder. Nessa linha, os pesquisadores se preocupam em estudar aquilo que o líder faz, mostrando-se, particularmente, interessados nos tipos de comportamento por ele adotados, os quais seriam responsáveis pelo aumento da sua eficácia ao dirigir os seus seguidores. Entre a década de 1960 e o início da década de 1980, surgem os enfoques situacionais ou contingenciais. Esses enfoques apontam o fato de que um líder emerge e se mantem, em uma atuação eficaz, na medida em que consegue lidar com os aspectos que fazem parte do ambiente dentro do qual está agindo. As teorias contingenciais ou situacionais exploram, então, as variáveis que cercam o processo de liderança, mas não deixam de lado os diferentes tipos de comportamento dos líderes. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, a esse corpo conceitual, vão-se acrescentando as questões culturais. Paralelamente a esses enfoques, surgem as teorias de processo; a primeira na década de 70, quando também surge a teoria transacional. Por fim, tendo como foco a relação líder- liderado, na década de 1990, emerge a abordagem transformacional. No seu conjunto, as pesquisas sobre traços, habilidades, motivos e estilos de liderança consolidam o campo teórico sobre liderança, enfatizando três aspectos (BRYMAN, 1996): 1. a influência ocorre por meio de um processo pelo qual o líder tem um impacto sobre os outros, induzindo-os a se comportarem de uma determinada maneira; 2. esse processo de influência está vinculado ao contexto de um grupo e 3. o líder influencia o comportamento dos membros de um grupo rumo aos objetivos que o grupo pretende alcançar. Traços de liderança Durante a primeira metade do século vinte, vigorou a premissa de que era possível identificar e isolar um conjunto limitado de traços que poderiam ser aplicados nos processos de seleção e promoção de pessoas às posições de liderança. Essa busca por traços partia da suposição de que um (seleto) grupo (de homens na sua maioria) alcançaram e mantiveram posições de influência, porque teriam nascido para liderar e seriam bem-sucedidos na liderança por obra e graça das suas personalidades apenas. Ralph Stogdill (1974) realizou um extenso trabalho de revisão dos estudos sobre traços de liderança e encontrou algumas qualidades que apareciam mais frequentemente do que outras. Contudo, outros estudos não identificaram os mesmos traços e a lista de traços de liderança não parou de crescer, o que demonstra que não é possível identificar um conjunto limitado de traços de liderança. Algumas generalizações sem maior consistência, no entanto, existem. 72 Na literatura organizacional sobre liderança, ocorrem inúmeras definições, incontáveis artigos e polêmicas, mas a maioria dos pesquisadores concorda que alguns traços comuns são importantes para os líderes: consciência, energia, inteligência, domínio, autocontrole, sociabilidade, abertura a experiências, conhecimento da relevância de tarefas e estabilidade emocional. Comportamentos e estilos de liderança No lugar de considerar traços do líder, uma abordagem alternativa foi considerar o que os líderes fazem. Doyglas MacGregor (1960), com a Teoria X e a Teoria Y, e Blake e Mouton (1964), com o Grid Gerencial (Managerial Grid) são exemplos de abordagens comportamentais que muito influenciaram a teoria sobre liderança. Grid Gerencial Os professores Blake e Mouton (1964) desenvolveram uma matriz para classificação do estilo de liderança. Com base em dois eixos distintos – a preocupação com pessoas e a preocupação com a produção – eles montaram uma grade gerencial, uma matriz que nos permite avaliar o tipo de liderança (a ser) exercido. Quadro – Matriz de Grid Gerencial preocupação com a produção p re o cu p a çã o c o m a s p e ss o a s gestão (1,9) gestão (9,9) gestão (5,5) gestão (1,1) gestão (9,1) Fonte: Blake e Mouton (1966) 73 Os eixos vão de 1 a 9, e cada intersecção retrata um estilo de liderança. Os termos escolhidos para nomear cada estilo se referem à preocupação central do líder. Na grade, na posição determinada pela intersecção (1,1), no canto inferior esquerdo, não existe preocupação do líder nem com os liderados nem com as tarefas (a produção) a serem realizadas. Na verdade, o líder empenha o mínimo de esforço possível, apenas para conseguir que o trabalho seja realizado e a sua participação na empresa seja sustentada. Dessa maneira, essa posição é denominada gerência empobrecida e revela a ausência de liderança no interior de uma empresa. No extremo vertical oposto, no canto superior esquerdo da grade, está a posição (1,9), denominada country clube ou líderes de clube. O comportamento do líder, nesta posição, indica grande preocupação com as necessidades do seus subordinados e prioriza proporcionar um ambiente de trabalho agradável e não estressante (equivalente a um ambiente existente em um clube). Sem dúvida, o resultado é uma atmosfera organizacional agradável e um ritmo de trabalho confortável. Porém, essa postura compromete a realização das tarefas (produção).No centro da grade, encontra-se a posição (5,5), denominada de meio termo. Trata-se de um ponto intermediário, no qual a preocupação do líder com os subordinados se equilibra com a preocupação de realização das tarefas. No canto superior direito da grade, podemos ver a posição (9,9), que indica um estilo de liderança por equipe. Essa situação revela uma gerência bem-sucedida, na qual as tarefas são cumpridas com eficiência, dedicação e envolvimento dos subordinados, em um ambiente de confiança e respeito. Teoricamente, essa é a melhor situação possível! Por último, no canto inferior direito, encontramos o estilo de liderança (9,1), caracterizado pelo foco na eficiência das operações, mas com o mínimo de atenção dedicada aos elementos humanos. Liderança contingencial/situacional Se, por um lado, as teorias comportamentais apresentaram a noção de estilos de liderança diferentes, por outro, elas forneceram poucas pistas em relação a que comportamento de liderança é efetivo em situações diferentes. Na verdade, não existe um estilo de liderança que seja o correto ou apropriado para toda e qualquer circunstância. Ao contrário, as teorias situacionais foram desenvolvidas para indicar que o estilo a ser usado depende de fatores como a situação em si, as pessoas, a tarefa, a organização em questão, entre outras variáveis ambientais/contextuais. Fiedler (1964, 1967), Hersey e Blanchard (1969, 1977, 1988), Tannenbaum e Schmidt (1958) e John Adair (1973) são alguns importantes pesquisadores na abordagem situacional. Como cada povo tem a sua cultura, cada organização também tem a sua, que se reflete em códigos de conduta, na estrutura organizacional e, até mesmo, no arranjo físico dos escritórios. 74 Essas diferenças entre países, organizações e níveis hierárquicos, também refletem na gestão de pessoas e nos estilos de liderança. Modelo de Fiedler O modelo de Fiedler e dos seus associados baseia-se na distinção entre a orientação para as pessoas e para a tarefa. Nesse modelo, a eficácia de um líder pode ser aferida por meio do modo pelo qual ele interage com os seus empregados, em função de três variáveis situacionais: as relações entre o líder e os membros da equipe, a estrutura da tarefa e o poder posicional do líder. No que diz respeito ao relacionamento do líder com a equipe, o seu grau de aceitação pelo grupo é o que lhe confere legitimidade. Quanto à estrutura da tarefa, o líder deverá agir de acordo com o grau de complexidade de uma tarefa e de como ela deve ser realizada. Por último, há o poder posicional do líder, o qual descreve o poder organizacional que decorre da posição que ele ocupa. De acordo modelo de Fiedler, quanto maior o grau de imprevisibilidade e de incerteza das situações, maior deve ser a estrutura e o controle do líder, para que sejam eliminadas a ambiguidade indesejada e a ansiedade que dela decorre. Teorias de processo As teorias adicionais de liderança com foco em processos incluem a liderança servidora, a teoria LMX (leader-member exchange), as organizações que aprendem, entre outras que vão surgindo a cada ano. Foi Greenleaf quem introduziu a liderança servidora no início dos anos 1970, mas a discussão sobre ela só foi retomada no início dos anos 1990. Sob essa perspectiva, líderes servidores são aqueles que focam nas necessidades do liderado e ajudam-no a se tornar mais autônomo, livre e conhecedor. Os líderes devem ser os condutores e disseminadores da visão da organização, e não um servidor das pessoas dentro da organização. Nas organizações que aprendem, os líderes esclarecem e nutrem a visão, alinhando-se a ela e promovendo o alinhamento dos demais. Teoria da troca líder-membro (LMX) Outra teoria que aborda um aspecto específico do processo de liderança é a teoria da troca líder-membro (LMX), que evoluiu de uma teoria anterior chamada modelo de ligação díade vertical (VDL). 75 Ambos os modelos enfocam a interação entre líderes e liderados individuais. Semelhante à abordagem transacional, essa interação é vista como uma troca justa em que o líder fornece certos benefícios, como orientação de tarefa, conselho, suporte ou recompensas significativas, e os liderados retribuem, dando ao líder respeito, cooperação e compromisso com a tarefa e, claro, um bom desempenho. No entanto, a teoria LMX reconhece que os líderes e liderados individuais variam no tipo de troca que se desenvolve entre eles. De acordo com a teoria LMX, o tipo de troca entre o líder e os liderados específicos pode levar à criação de grupos internos e externos. Diz-se que os membros do grupo interno têm trocas de alta qualidade com o líder, enquanto os membros do grupo externo têm, com ele, trocas de baixa qualidade. Os membros do grupo interno são percebidos pelo líder como sendo mais experientes, competentes e dispostos a assumir responsabilidades do que outros liderados. O líder começa a contar com esses indivíduos para ajudar em tarefas especialmente desafiadoras. Se o liderado responde bem, o líder lhe recompensa com treinamento extra, atribuições de trabalho desafiadoras e experiências de desenvolvimento. Se o liderado mostrar alto comprometimento e esforço, e esses forem seguidos de recompensas adicionais, ambas as partes desenvolverão confiança, influência e apoio mútuos. Membros do grupo interno, geralmente, recebem avaliações de desempenho mais altas do líder e promoções mais rápidas do que os membros do grupo externo. Os membros do grupo interno também podem construir laços mais fortes com os seus líderes, compartilhando as mesmas origens sociais e interesses. Por outro lado, os membros do grupo externo, geralmente, recebem menos tempo e trocas mais distantes do que os seus colegas do grupo interno. Em relação aos membros do grupo externo, os líderes não esperam mais do que um desempenho adequado no trabalho, bom comparecimento, respeito razoável e adesão à descrição do trabalho, em troca de um salário justo e benefícios padrão. O líder passa menos tempo com membros do grupo externo e, por isso, eles têm menos experiências de desenvolvimento. Junto ao grupo externo, o líder tende a enfatizar a sua autoridade formal para obter conformidade com as solicitações que faz. Os membros do grupo externo tendem a demonstrar menos satisfação com o seu trabalho e com a organização, recebem avaliações de desempenho inferiores do líder, veem o seu líder como menos justo e são mais propensos a registrar queixas ou deixar a organização. Teoria transacional e teoria transformacional As teorias de liderança, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, tenderam a divergir sobre as perspectivas relacionadas, especificamente, ao líder, ao contexto de liderança e ao liderado, concentrando-se ainda mais nas trocas entre líderes e liderados. Bernard Bass e os seus colegas desenvolveram a ideia de dois tipos diferentes de liderança: a transacional, que envolve troca de trabalho por recompensas, e a transformacional, que se baseia na preocupação com o desenvolvimento dos empregados, estimulação intelectual e fortalecimento de uma visão de grupo e de uma percepção de pertencimento. 76 A liderança transacional foi descrita como aquela em que as associações líder-liderado eram baseadas em uma série de acordos entre líderes e liderados. O líder transacional recebe poder para realizar certas tarefas e recompensar ou punir pelo desempenho da equipe. Ao líder, é dado poder para avaliar, corrigir e treinar subordinados quando a produtividade não atinge o nível desejado e recompensar a eficácia quando o resultado esperado é alcançado. A liderança transformacional se distingue das teorias anteriores e contemporâneas, em função do seu alinhamento ser baseado em um bem maior. Os líderes transformacionais aumentam a motivação e a moral tanto do liderado quanto dos demais líderes, envolvendo-seem interações com os liderados com base em valores, crenças e objetivos comuns. Isso impacta o desempenho levando ao cumprimento da meta. Os líderes transformacionais são considerados pela sua capacidade de identificar a necessidade de mudança, de obter a concordância e o compromisso de outros, de criar uma visão que oriente a mudança e de levar todos a incorporarem a mudança. Esses tipos de líderes tratam os subordinados individualmente e buscam desenvolver sua consciência, sua moral e suas habilidades, dando significado ao seu trabalho e proporcionando experiências de desafio. Esses líderes produzem uma visão convincente e encorajadora do futuro. Eles são “líderes visionários que buscam apelar para a natureza melhor dos seus seguidores bem como movê-los em direção a necessidades e propósitos mais elevados e mais universais” (MACGREGOR, 2003). Emoções A liderança pode ser percebida como um processo em que as emoções estão entrelaçadas com o processo de influência social. Em uma organização, o humor do líder tem alguns efeitos no seu grupo. Esses efeitos podem ser descritos em três níveis: 1. No humor de cada membro do grupo. Os membros de grupos com líderes de humor positivo experimentam um humor mais positivo do que os membros de grupos com líderes com humor negativo. Os líderes transmitem os seus estados de espírito a outros membros do grupo por meio do mecanismo de contágio emocional. O contágio do humor pode ser um dos mecanismos psicológicos pelos quais os líderes carismáticos influenciam os liderados. 2. No tom afetivo do grupo. O tom afetivo do grupo representa as reações afetivas consistentes ou homogêneas dentro de um grupo. O tom afetivo do grupo é um cluster dos estados de espírito dos membros individuais do grupo e refere-se ao humor no nível de análise coletivo. Grupos com líderes com um humor positivo têm um tom afetivo mais positivo do que grupos com líderes com um humor negativo. 77 3. Nos processos de grupo como coordenação, esforço e foco na tarefa. Expressões públicas de humor influenciam o modo como os membros do grupo pensam e agem. Quando as pessoas experimentam e expressam um determinado estado de humor, elas enviam sinais aos outros. Os líderes sinalizam os seus objetivos, as suas intenções e atitudes por meio das suas expressões de humor. Por exemplo, expressões de humor positivo por parte dos líderes sinalizam que eles consideram bom o progresso em direção às metas. Os membros do grupo respondem a esses sinais de maneiras que se refletem nos processos do grupo, tanto do ponto de vista cognitivo quanto do comportamental. Além do humor do líder, o seu comportamento é uma fonte de emoções positivas e negativas para os liderados, no trabalho. Cotidianamente, o líder cria situações e eventos que levam a uma resposta emocional do grupo, por exemplo, ao dar feedback, distribuir tarefas ou alocar de recursos. Considerando-se que o comportamento e a produtividade dos empregados são diretamente afetados pelos seus estados emocionais, é imperativo considerar as suas respostas emocionais aos líderes organizacionais. A inteligência emocional, a capacidade de compreender e gerenciar humores e emoções em si mesmo e nos outros, contribui para a liderança eficaz dentro das organizações. Liderança de equipes e autoliderança A liderança de equipes pode ser exercida: i) a partir de uma designação formal, ou seja, por alguém que ocupa uma posição gerencial; ii) por lideranças que emergem nas equipes e iii) pelo compartilhamento da liderança. A liderança emergente descreve um fenômeno de liderança individual por meio do qual um indivíduo surge como líder de equipe informalmente, sem que a essa pessoa tenha sido atribuída a responsabilidade formal de liderança. Os líderes emergentes são indivíduos que exercem influência significativa sobre outros membros do grupo, mesmo que não possuam autoridade formal. A liderança compartilhada é definida como um processo de liderança coletiva, em que vários membros da equipe assumem a liderança ou participam das funções de liderança da equipe. Trata- se de um processo de influência mútua, realizado por membros de uma equipe, na qual eles lideram uns aos outros em direção ao cumprimento de metas. O foco da liderança de equipes tende a ser cada vez mais orientado para a satisfação das necessidades da equipe (com o objetivo final de promover a eficácia da equipe). Quem quer que (dentro ou fora da equipe) assuma a responsabilidade de satisfazer as necessidades de uma equipe pode ser visto como assumindo um papel de liderança de equipe. Essa visão de liderança de equipe é consistente com a teoria de liderança funcional (MCGRATH, 1962), que sugere que o papel da liderança é “fazer, ou conseguir, tudo o que não está sendo adequadamente tratado para satisfazer às necessidades do grupo” (MCGRATH, 1962, 78 p. 5). Dito de outra forma, a função de liderança em equipes é a de “líder como completador [...] o melhor que um líder pode fazer é observar quais funções não estão sendo desempenhadas por um segmento do grupo e permitir que esta parte as cumpra” (SCHUTZ, 1961, p. 61). Desse modo, a liderança de equipe é, fundamentalmente, orientada para a satisfação das necessidades críticas da equipe. Embora uma atenção considerável seja, frequentemente, dada aos líderes de equipe formais, é importante reconhecer que a visão funcional da liderança de equipe deve convergir com as demandas direcionadas às organizações nos dias de hoje. Dessa forma, mais do que estudarmos o líder de equipe, a nossa atenção deve concentrar-se no processo de liderança ocorrendo na dinâmica de uma equipe. Autoliderança A autoliderança é um processo de autoinfluência por meio do qual as pessoas alcançam a autodireção e a automotivação necessárias para desempenhar, de maneira satisfatória, diferentes papéis sociais, por meio da adoção de estratégias comportamentais e cognitivas específicas. As estratégias de autoliderança são, geralmente, agrupadas em três categorias principais: estratégias focadas no comportamento; estratégias de recompensa psicológica ou natural e estratégias de padrão de pensamento construtivo. Estratégias focadas no comportamento As estratégias com foco no comportamento partem da autoconsciência e facilitam a gestão dos comportamentos, por exemplo, os relacionados à execução de tarefas necessárias, mas desagradáveis. Estratégias focadas no comportamento incluem: Auto-observação – envolve aumentar a consciência de quando e porque um indivíduo adota comportamentos específicos. O processo da auto-observação é um primeiro passo necessário para mudar ou eliminar comportamentos ineficazes e improdutivos. Vejamos, como exemplo, o estabelecimento de metas pessoais. Uma vez que tenham uma análise mais precisa sobre os comportamentos que adotam e os níveis de desempenho gerados por esses comportamentos, os indivíduos podem definir metas de alteração de comportamento para si mesmos, com a finalidade de melhorar o seu desempenho na consecução de metas pessoais (financeiras, de carreira, de relacionamentos), de forma mais realista, mais específica e mais eficaz. Autorrecompensa – juntamente com metas autoestabelecidas, a autorrecompensa pode ajudar significativamente a impulsionar o esforço necessário para cumprir as metas. A autorrecompensa pode variar desde algo simples e tangível até algo intangível, como férias especiais após a conclusão de um projeto difícil ou o ato de felicitar-se mentalmente por uma realização importante. 79 Autopunição – também pode ser chamada de feedback de autocorreção. A autopunição acontece a partir de um exame introspectivo e estruturado de falhas e comportamentos indesejáveis, levando à reformulação de tais comportamentos: a autocrítica. É importante notar que o uso excessivo de autopuniçãodecorrente de autocrítica excessiva e culpa pode acabar sendo prejudicial ao desempenho. Autossugestão – alguns mecanismos externos podem servir como um meio eficaz de encorajar comportamentos construtivos e reduzir ou eliminar os destrutivos. Por exemplo, listas, anotações em post-it, protetores de tela e até cartazes motivacionais são apenas alguns mecanismos externos que podem ajudar a manter a atenção e o foco no alcance de um objetivo. Ensaio – praticar comportamentos mais desafiadores antes do desempenho real pode promover a melhoria e a oportunidade de efetuar ajustes corretivos, aumentando as chances de eficácia e minimizando a chance de erros (MANZ, 1992). Em suma, as estratégias de autoliderança focadas no comportamento são projetadas para encorajar e reforçar comportamentos positivos e desejáveis, que levam a resultados bem-sucedidos, e também para ajudar a suprimir comportamentos negativos e indesejáveis, que levam a resultados malsucedidos. Estratégias de recompensa psicológica ou natural As estratégias de recompensa psicológica têm o objetivo de criar situações nas quais uma pessoa é motivada ou psicologicamente recompensada por aspectos inerentemente agradáveis da tarefa ou atividade (NECK; MANZ, 2010). Existem dois mecanismos primários de recompensa psicológica quando se trata de autoliderança. O primeiro envolve a introdução de recursos mais agradáveis e divertidos em uma determinada atividade, de modo que a tarefa em si se torne naturalmente gratificante (NECK; MANZ, 2010). O segundo consiste em moldar as percepções, focalizando a atenção nos aspectos inerentemente recompensadores da tarefa, afastando, com isso, os seus aspectos desagradáveis. Ambas as estratégias podem criar sensações de competência e de autodeterminação, que são dois mecanismos primários de motivação intrínseca (DECI; RYAN, 1985). Dessa forma, as estratégias de recompensa psicológica ajudam a criar e a aumentar sensações de competência e de autodeterminação, que, por sua vez, impulsionam os comportamentos que melhoram o desempenho. 80 Estratégias de padrão de pensamento construtivo As estratégias de padrões de pensamento construtivos são projetadas para facilitar hábitos de pensamento que podem impactar o desempenho positivamente e incluem: i) a identificação e substituição de crenças e suposições disfuncionais, ii) o diálogo interno positivo e iii) as imagens mentais. Primeiramente, é preciso examinar os seus padrões de pensamento, confrontando e substituindo crenças e suposições irracionais disfuncionais por processos de pensamento mais construtivos (ELLIS, 2006; NECK; MANZ, 2010). Além disso, a conversa interna negativa e destrutiva deve ser identificada e substituída por diálogos internos mais positivos. A conversa interna é definida como o que as pessoas dizem secretamente a si mesmas e envolve autoavaliações e reações mentais (ELLIS, 2006). Ao analisar, cuidadosamente, os padrões de conversa interna, a conversa interna negativa ou pessimista pode ser suprimida ou eliminada e substituída por diálogos internos mais otimistas (SELIGMAN e SCHULMAN, 1986). Por fim, as imagens mentais são uma criação cognitiva simbólica de uma experiência que é produzida antes da vivência física da experiência em questão. Indivíduos que imaginam o bom desempenho de uma atividade antes da execução real são mais propensos a ter um desempenho bem-sucedido quando confrontados com a tarefa real (NECK; MANZ, 2010). Em apoio a essa afirmação, Driskell et al (1994) realizaram uma meta-análise de 35 estudos empíricos e encontraram um efeito positivo significativo para as imagens mentais no desempenho individual. Desenvolvimento de líderes e pipeline de liderança (estágios de liderança em uma organização) Ainda que existam indivíduos com propensão a se tornarem líderes, a importância do desenvolvimento de habilidades de liderança pode ser comprovada a partir de diferentes estudos que evidenciaram as transformações comportamentais e de habilidades exigidas de um líder no decorrer da sua evolução na carreira. Vamos examinar os estudos dos seguintes pesquisadores: Brousseau et al (2006), Hersey e Blanchard (1986) e Charan, Drotter e Noel (2018). Interessantes são os estudos de Brousseau et al (2006) sobre os estilos de tomada de decisão de executivos experientes, por exemplo. Os autores propuseram a existência de quatro diferentes estilos, conforme apresentado no quadro a seguir. Eles verificaram que o estilo decisivo predomina no nível mais baixo de gestão e o estilo flexível é o menos usado. Por outro lado, em gestores que ocupam posições de níveis mais altos, o estilo flexível de tomada de decisão é o que predomina. Será que esses estilos de tomada de decisão dependem do desenvolvimento de habilidades específicas? Quais seriam? Quanto tempo seria necessário para desenvolvê-las? 81 Quadro 5 – Estilos de tomada de decisão decisivo Quando há apenas uma opção e poucas informações, o executivo adota um estilo direto, rápido, firme e eficiente. flexível Quando há muitas opções e poucas informações, as decisões tendem a ser rápidas. hierárquico Quando há uma única opção e muitas informações a serem analisadas, o executivo adota um estilo bem analítico. integrado Quando o executivo se vê diante de muitas opções e informações, envolvendo múltiplos cursos de ações que podem evoluir no decorrer do tempo, ele tende a integrar todos os aspectos antes de decidir. Fonte: adaptado de Brousseau et al (2006). Vejamos, agora, a segmentação das habilidades de um gestor, conforme proposto por Hersey e Blanchard (1986, p. 6), no quadro seguinte: Quadro 6 – Habilidades gerenciais técnica Capacidade adquirida mediante a experiência, a educação e o treinamento. Inclui conhecimentos, técnicas, métodos e domínio da operação de equipamentos necessários à execução de tarefas específicas. humana Capacidade e discernimento para trabalhar com pessoas, incluindo conhecimentos sobre motivação e liderança. conceitual Capacidade de compreender a complexidade da organização como um todo, o que permite agir de acordo com os objetivos globais da organização, e não em função de metas e necessidades imediatas do próprio grupo. Fonte: adaptado de Hersey e Blanchard (1986). A combinação dessas habilidades varia à medida que o líder ascende na empresa. Diante disso, os autores dividem as habilidades necessárias aos níveis administrativos como se pode ver na figura apresentada a seguir. 82 Figura 2 – Habilidades gerenciais necessárias nos vários níveis hierárquicos da organização Fonte: Hersey e Blanchard (1986, p. 7). Novas posições requerem o aprimoramento e até a transformação das habilidades de liderança. É preciso procurar novos conhecimentos, desenvolver novas habilidades e abandonar algumas práticas. Pontos fortes que costumavam funcionar em determinadas circunstâncias, podem tornarem-se fraquezas quando aplicados onde não deveriam mais. O livro Pipeline de Liderança, publicado no Brasil em 2009, apresenta o conceito de pipeline, elaborado por Ram Charan, Stephen Drotter e James Noel para contribuir com o planejamento de sucessão, ajudando as empresas a terem um fluxo de desenvolvimento de lideranças que garante a evolução da empresa. Esse conceito não apenas destacou as habilidades, os valores e a dedicação de tempo que o líder deve ter mas também as transformações necessárias no decorrer da sua ascensão profissional. Pipeline significa tubulação. Os autores utilizaram essa metáfora para representar o caminho das transições na carreira de um profissional que tenha interesse em evoluir na trilha de gestão da empresa. A premissa principal é de que existem diferentes níveis de liderança, que exigem requisitos diversos dos profissionais para cada nível. Para cada novo nível de liderançaalcançado é preciso realizar mudanças em três tipos de requisitos: 1. habilidades necessárias – refere-se ao conjunto de novas capacidades requeridas para executar as responsabilidades diferentes a cada nível; 2. aplicação do tempo – refere-se às novas formas de organizar o tempo, determinando o modo como alguém trabalha e 3. valores – refere-se àquilo que as pessoas acreditam ser importante, tornando-se o foco dos seus esforços. 83 Cada curva da “tubulação” se refere a uma transição de liderança. Se a transição não for realizada corretamente, bloqueará todo o fluxo do pipeline. As transições mais significativas em uma organização são: 1. de gerenciar a si mesmo a gerenciar outros; 2. de gerenciar outros a gerenciar gestores; 3. de gerenciar gestores a gerente funcional; 4. de gerente funcional a gerente de negócios; 5. de gerente de negócios a gerente de grupo e 6. de gerente de grupo a gestor corporativo. Figura 3 – Seis passagens de liderança Fonte: Charan, Drotter e Noel (2018). Apesar de parecer simples, a transição da passagem 1, de gerenciar a si mesmo a gerenciar outros, é a que exige transformações mais significativas quanto aos três requisitos identificados pelos autores: habilidades, aplicação do tempo e valores. No quadro seguinte, é possível analisar, comparativamente, as diferentes características exigidas para um empregado que ainda atua de forma individual e para um empregado que ocupa uma posição de primeira gestão. passagem 1 passagem 2 passagem 3 passagem 4 passagem 5 passagem 6 gerenciar a si mesmo gerenciar gestores gerente de negócios gestor corporativo gerenciar outros gerente funcional gerente de grupo 84 Quadro 7 – Passagem 1: gerência de primeira viagem colaborador individual gerente de primeiro nível h a b il id a d e s domínio técnico ou especializado; trabalho em equipe; desenvolvimento de relacionamento visando a benefícios e resultados pessoais* e utilização de ferramentas, processos e procedimentos da empresa. planejamento – projetos, orçamentos e mão de obra; definição do cargo; seleção (de pessoal); delegação de tarefas; monitoramentos de desempenho; coaching e feedback; avaliação de desempenho; gratificações e motivação; comunicação e ambientação; desenvolvimento de relacionamentos acima, abaixo e lateralmente na hierarquia para benefício do departamento e aquisição de recursos. ge re n ci a m e n to d e t e m p o disciplina diária – chegada, saída e cumprimento de prazos pessoais para os projetos – normalmente de curto prazo por meio da administração do próprio tempo. planejamento anual – orçamento, projetos; disponibilização de tempo para os subordinados a pedido seu ou deles; definição de prioridades para o departamento e para a equipe e tempo de comunicação com outros departamentos, clientes e fornecedores. va lo re s obtenção de resultados por meio da proficiência profissional*; trabalho de alta qualidade – técnico ou especializado e incorporação dos valores da empresa. obtenção de resultados por meio dos outros; sucesso dos subordinados diretos; trabalho e métodos gerenciais; sucesso do departamento; visualização de si mesmo como um gestor e integridade visível. Fonte: Charan, Drotter e Noel (2018, p. 51). Os autores destacam que os itens assinalados com asterisco (*) devem ser “drasticamente reduzidos ou abandonados quando uma pessoa se torna gerente de primeiro nível” (CHARAN et al 2018, p. 51). 85 Quando tomamos os modelos apresentados de forma conjunta, podemos verificar que o líder deve trabalhar e desenvolver-se em quatro dimensões, simultaneamente, quis sejam: estratégica – abrange os efeitos das suas ações na finalidade do projeto/negócio e nos stakeholders; interpessoal – abrange aspectos de atenção aos relacionamentos, na equipe e fora dela; tarefas – abrange aspectos de gestão do tempo, organização, planejamento e priorização, e autoliderança – abrange autocontrole e outras competências emocionais, impacta todas as demais dimensões. A autoliderança afeta todas as demais dimensões, uma vez que inclui fontes da eficácia do líder. Essa dimensão é o ponto de partida e a mais influente das quatro, porque uma mudança positiva na autoliderança tem efeitos positivos nas demais dimensões. SKILLS de autoliderança A autoliderança é um processo de autoinfluência por meio do qual as pessoas alcançam a autodireção e a automotivação necessárias para desempenhar, de maneira satisfatória, os papéis sociais que desempenham, por meio da adoção de estratégias comportamentais e cognitivas específicas. As estratégias de autoliderança são, geralmente, agrupadas em três categorias principais: estratégias focadas no comportamento, que incluem auto-observação, autorrecompensa, autopunição, autossugestão e ensaio; estratégias de recompensa psicológica ou natural e estratégias de padrão de pensamento construtivo. As estratégias com foco no comportamento têm, como ponto de partida, a autoconsciência e facilitam a gestão dos comportamentos, por exemplo, os relacionados à execução de tarefas necessárias, mas desagradáveis. Para que a adoção dessas estratégias seja eficiente e eficaz, levando à efetiva adoção de comportamentos que gerem um efeito positivo no desempenho do líder, estudaremos a seguir alguns fatores intervenientes no desempenho (power skills) da autoliderança. LÓCUS de controle O conceito de locus de controle foi introduzido por Julian Rotter, na década de 1960, a partir da Teoria da Aprendizagem Social. Locus de controle é um construto que se refere às crenças dos indivíduos sobre a fonte de controle dos seus comportamentos e sobre os eventos cotidianos que ocorrem consigo mesmo ou no ambiente em que estão inseridos (ROTTER, 1990). 86 Dito de outra forma, trata-se da crença que uma pessoa possui de poder ou não controlar os eventos da sua vida, gerando, desse modo, uma expectativa generalizada de controle ou de falta de controle acerca de uma situação ou ação, bem como dos seus resultados. De acordo com Rotter (1990), o construto locus de controle (LC) é unidimensional, consistindo, geralmente, na escolha entre dois polos: um interno (LCI) e outro externo ao indivíduo (LCE). O LCI se refere à crença de que os êxitos ou fracassos da vida de uma pessoa devem-se aos seus próprios comportamentos e esforços. Por outro lado, o LCE se refere à crença de que esses êxitos e fracassos são devido a Deus, ao acaso, a outras pessoas e a outros fatores externos. De acordo com essa abordagem teórica, o indivíduo apresenta uma maior propensão para uma única dimensão – interna ou externa, o que não quer dizer que estas não se apresentem simultaneamente. Na verdade, ambas estão sempre presentes, porém uma predomina sobre a outra. Outras investigações constataram que esse construto é multidimensional, ou seja, a dimensão do LC, adotada pelo indivíduo, não é estática. Ela tende a variar de acordo com a situação e a apresentar outros fatores. Essa perspectiva multidimensional postula que, em certo momento, pode-se utilizar o LCI e, em outro, o LCE. Os efeitos positivos de um lócus interno se associam à maior ambição, à motivação, ao sucesso na carreira profissional, à aprendizagem no trabalho e ao desempenho organizacional. Indivíduos com um lócus interno de controle apresentam tendências a: 1. estarem atentos às oportunidades no ambiente para aumentar a possibilidade de atingir os seus objetivos; 2. se engajarem em ações de desenvolvimento no seu ambiente; 3. colocarem maior esforço para o alcance dos objetivos; 4. serem mais inclinados ao desenvolvimento das suas próprias habilidades; 5. fazerem maisperguntas e 6. lembrarem-se de mais informações em comparação às pessoas com um lócus externo de controle. Em contrapartida, o lócus de controle externo tem sido associado a uma maior efetividade de líderes, pois indivíduos que sustentam a crença de que o seu sucesso depende mais de fatores externos do que internos tendem a apresentar maior consideração para com os seus liderados. A capacidade de lidar com eventos inesperados é um outro resultado positivo associado ao lócus de controle externo. Gestão do tempo Gestão do tempo pode ser definida como o processo de organização que envolve planejar, priorizar e executar tarefas, visando à maior produtividade e eficiência. 87 No ambiente organizacional, a gestão do tempo envolve um conjunto de tarefas, processos e decisões que são executados por meio da aplicação de diversas técnicas, visando à coordenação dos objetivos organizacionais dentro de limitações de tempo preestabelecidas. No que diz respeito à autoliderança, além da produtividade no ambiente de trabalho, a gestão do tempo impactará na saúde, nos relacionamentos, na carreira e em outras áreas da vida. Além de ter mais tempo livre para dedicar às atividades de lazer, gerir o tempo pode resultar em: diminuição do estresse – ao construir e implementar um cronograma de tarefas, você potencializa a sua capacidade de controle, o que faz com que você se sinta menos estressado e menos ansioso; maior produtividade e eficiência – você cria “espaço mental” para estar atento a mais oportunidades e investe menos tempo em atividades triviais; melhor reputação profissional – a gestão do tempo é uma qualidade valorizada pelos empregadores, visto que a capacidade de planejar, priorizar e executar tarefas é extremamente desejável para qualquer profissional e aumento das possibilidades de realizar objetivos – atingir metas e objetivos pessoais ou profissionais depende de uma gestão inteligente do tempo. Antes de estudarmos alguns passos importantes para gerir o tempo, vamos examinar alguns fatores que atrapalham a administração do tempo, quais sejam: 1. desperdício de tempo com tarefas inúteis, triviais ou até prejudiciais, como fofocas, redes sociais etc.; 2. pausas excessivas para procrastinar, como aquelas dezenas de cafezinhos durante a execução de tarefas “chatas”. Note que momentos de lazer ou descanso não são desperdício de tempo; 3. desorganização; ambientes (virtuais, digitais e presenciais) desorganizados contribuem para perdemos o foco. É importante manter a organização do ambiente para evitar gastar tempo com buscas desnecessárias de documentos e recursos, e 4. não saber dizer não; ser uma pessoa colaborativa e engajada é uma qualidade, mas é preciso ter foco nas suas prioridades, o que significa dizer “não” quando algum pedido atrapalhar os seus planos. Para fazer uma gestão do tempo eficiente, algumas etapas são importantes: planejamento, definição de metas e objetivos, prazos e priorização de tarefas. O planejamento é um passo inicial. Um planejamento seguido de revisões semanais é a chave para que você conclua as tarefas menores que levarão ao alcance de objetivos de maior vulto ou de prazo de execução mais dilatado. Portanto, faça uma agenda! 88 Crie uma lista de tarefas para todas as coisas que você precisa realizar durante a semana. Dessa forma você define metas para cada dia. Rever o seu dia ou a sua semana é o passo seguinte. Anote todas as tarefas que realizou e as que não foram concluídas devido à falta de tempo ou qualquer outro motivo. Esse hábito leva à tomada de decisões mais realistas e assertivas e facilita a priorização. Resiliência – conceito e elementos Conceito Na verdade, a resiliência é um constructo importado da engenharia de materiais. Na Engenharia e na Física, a resiliência está relacionada à capacidade que a zona elástica de um material tem de voltar ao normal depois de cessada a fonte de energia que causa a deformação. Sendo assim, a noção de resiliência para físicos e engenheiros está relacionada ao limite de elasticidade que um material apresenta. Do ponto de vista histórico, existem dois grandes discursos sobre a resiliência humana: fisiológico – seres humanos dispõem de mecanismos homeostáticos para promover a resiliência em caso de adversidade, como hemorragias ou estresse (TUSAIE; DYER, 2004). psicológico: remete ao fenômeno de as pessoas permanecerem saudáveis apesar de expostas a severas adversidades (RUTTER, 2007). A resiliência psicológica é um conceito amplo que se refere a processos ou padrões de adaptação positiva e desenvolvimento; em um contexto de risco e adversidade, é também definida como a capacidade de seguir em frente de maneira positiva, a partir de experiências adversas, negativas ou positivas, traumáticas ou estressantes (GOLDSCHMIDT, 2015). Há duas condições críticas implícitas na noção de resiliência: 1. exposição à adversidade (ameaça/risco ou evento positivo) e 2. alcance de adaptação positiva. Dito de outra forma, para demonstrar resiliência, é preciso primeiro encontrar adversidade ou desafio e, por fim, demonstrar adaptação positiva (GOLDSCHMIDT, 2015). A resiliência é um processo dinâmico cujo resultado é a adaptação positiva ou bem-sucedida e a transformação do indivíduo, em face de adversidades (MASTEN, 2001). Ela é ativada por indivíduos e sistemas em face de adversidades, para a geração de uma resposta que permita a recuperação do equilíbrio e a realização de uma adaptação positiva, mediante o acionamento de elementos ou ativos nos planos subjetivo ou interno e objetivo ou externo, que poderão ser reforçados ou renovados durante o processo, garantindo a sustentabilidade do resultado resiliente ou a expansão da capacidade de resiliência. (GOLDSCHMIDT, 2015). 89 Apesar de a resiliência humana, especificamente, compreender diferenças individuais em face de experiências adversas, ela não deve ser conceitualizada como um traço ou característica estática de um indivíduo, pois é o resultado de vários processos e interações que vão além do corpo humano, e incluem relacionamentos interpessoais e o contexto social para o alcance de adaptação positiva. A resiliência é uma capacidade processual, dinâmica e ecossistêmica. No processo da resiliência, teremos duas perspectivas fundamentais: i) resiliência, como um retorno ao nível de funcionamento anterior, ou seja, recuperação ou bouncing back, e ii) thriving (superação), resiliência como uma movimentação para um nível superior de funcionamento após um evento estressante. Alguns elementos são chave para que se possa compreender o conceito de resiliência e a sua evolução. Risco, adversidade e STRESS Risco, adversidade e stress são termos mencionados frequentemente nas conceituações de resiliência. A definição base da resiliência traz a questão da adaptação do indivíduo diante de situações de adversidade ou de stress, que podem ser desencadeadas pela exposição a fatores de risco. A distinção entre risco, adversidade e stress não é fácil, uma vez que os três se referem a experiências negativas. Experiências de vida negativas são inevitáveis para qualquer indivíduo, e um evento pode ser enfrentado como perigoso por um indivíduo, mas para outro, ser apenas um desafio. Isso quer dizer que a visão subjetiva de um indivíduo a determinada situação, ou seja, a sua percepção, a interpretação e o sentido atribuído ao evento estressor é que o classificará ou não como adversidade e determinará a condição e a intensidade do stress percebido. Fatores de risco Fatores de risco são, de forma genérica, denominados, por diversos autores, “experiências estressantes” ou “condições adversas” ou, ainda, “adversidades”. Esses fatores são aqueles presentes no ambiente econômico, psicológico e familiar que possuem grande probabilidadede causar danos sociais evidentes; esse termo é ainda aplicado para agrupar eventos que englobam ameaças, sofrimentos, perigos e rupturas externas, entre outros. (GOLDSCHMIDT, 2015). Fatores de risco podem ser crônicos ou agudos: condições de pobreza, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiências de doença no próprio indivíduo ou na família e perdas importantes são alguns exemplos. Eventos considerados como risco são obstáculos indivi- duais ou ambientais que aumentariam a vulnerabilidade dos indivíduos. 90 Adversidade Adversidade é o termo associado a um estado de angústia ou sofrimento associado com o infortúnio, o trauma, a dificuldade, a mudança, um acontecimento trágico ou com um evento positivo (DENHARDT; DENHARDT, 2010). Stress Stress pode ser entendido como um conjunto de alterações ocorridas em um organismo em resposta a um determinado estímulo que o coloque sob tensão. Diante da tensão, uma série de respostas psicofisiológicas, que tem por função atuar no evento causador de stress e restabelecer o equilíbrio dinâmico do organismo, é gerada pelo indivíduo, o que coloca o stress na condição de uma resposta adaptativa, pois motiva o indivíduo para a ação. Stress pode ser abordado como processo e como estado. Quando há uma tensão diante de uma situação de desafio ocorre o stress como um processo; quando essa situação é resolvida pela pessoa de forma positiva, ela experimenta um estado de stress denominado eutress e quando a experiência final é negativa, ela é denominada distress. Não há como prever a resposta que um indivíduo produzirá diante do stress. A reação ao stress dependerá diretamente do indivíduo, do modo como ele lida e significa o mundo em que vive, bem como das variáveis do ambiente e do contexto. Uma das premissas da resiliência é que pessoas e sistemas possuem recursos ou ativos que os ajudam a sobreviver a adversidades e a lidar com o stress causado por elas. Fatores de proteção e vulnerabilidade Fatores de proteção Aguns pesquisadores nas áreas de Psicologia e Psiquiatria estudaram, de forma sistemática, a identificação de fatores que agiam para viabilizar uma resposta de adptação saudável de indivíduos expostos a múltiplas condições adversas, como desvantagem socioeconômica e os riscos a ela associados, doenças mentais de pais, maus tratos, pobreza e violência urbana, doenças crônicas e eventos catastróficos. O que esses pesquisadores pretendiam era identificar os fatores de proteção. Fatores de proteção são o conjunto de influências que modificam e melhoram a resposta de um indivíduo quando este está exposto a algum perigo, risco ou ameaça que o predispõe a um resultado de não adaptação. São fatores que são capazes de proteger os indivíduos dos efeitos negativos de uma situação de risco: “... as interações entre risco e fatores de proteção num nível intrapessoal e ambiental são integradas para a definição de resiliência” (TUSAIE; DYER, 2004, p. 4) 91 Respostas de adaptação à adversidade e ao stress podem ser promovidas por meio do reforço de fatores de proteção. Embora inúmeros estudos já tenham demonstrado que existe uma correlação entre a presença da resiliência e de fatores de proteção, não está claro como os fatores de proteção interagem com a pessoa que demonstra resiliência: eis que um mesmo indivíduo pode apresentar resiliência diante de determinadas adversidades e ter maior probabilidade de resultados negativos diante de outras, ou seja, pode apresentar vulnerabilidades. Vulnerabilidade A vulnerabilidade se apresenta na literatura de Psicologia como um conceito que se refere às predisposições a desordens ou à susceptibilidade ao stress ou, ainda, ao aumento da probabilidade de resultados negativos diante da exposição ao risco (GOLDSCHMIDT, 2015). Da mesma forma que os fatores de proteção, a vulnerabilidade está também relacionada com as adversidades (ou situações de risco). Identificar se um indivíduo se apresenta vulnerável ou não é sempre uma avaliação situacional, que implica conhecer as suas características pessoais, as do ambiente em que está inserido e, principalmente, as características dos fatores de risco e de proteção envolvidos (TABOADA et al, 2006). Adaptação positiva A resiliência é um processo dinâmico cujo resultado é a adaptação positiva ou bem-sucedida e a transformação do indivíduo, em face de adversidades (MASTEN, 2001). Como uma capacidade processual, dinâmica e ecossistêmica, a resiliência é acionada em resposta a eventos cuja qualificação como adversidade é dependente de uma apreciação que varia individualmente. A forma como essa capacidade se manifesta determinará um resultado de adaptação positiva, que pode ser saudável ou não (GOLDSCHMIDT, 2015). A adaptação é um indicador da resiliência, indica o resultado de um processo resiliente de enfrentamento da adversidade. Contudo, a adaptação suscita discussões sobre os limites do indivíduo para se adaptar, a partir da noção de positivo, qualificando a adaptação que é entendida como resiliente. As discussões sobre adaptação positiva como demonstração de resiliência apontam para os limites aos quais a manifestação de comportamentos sociais conformes está sujeita. Dessa forma, a resolução para adversidades que termina em uma adaptação positiva pode também não ser construtiva, visto que adaptar-se pode gerar resultados destrutivos para os indivíduos (RICHARDSON, 2002). 92 Adaptação positiva: conformidade versus superação As concepções de adaptação relacionadas à resiliência são variadas. A adaptação positiva pode variar de acordo com fatores culturais e sociais, dado um determinado período de tempo, e pode não exigir a exposição a uma experiência de adversidade. Essa adaptação pode ser identificada como conformidade, no momento em que o indivíduo consegue alcançar expectativas sociais, vencendo a adversidade e desenvolvendo-se a partir dela, ou, também, quando não há sinais de desajuste. No sentido de superação, a resiliência é um processo em que existe a recuperação da homeostase (equilíbrio), e essa recuperação pode levar a um resultado de superação do indivíduo em relação à adversidade enfrentada, quando o indivíduo aprende com a experiência adversa e se fortalece. Existe ainda a “resiliência performativa”, um conceito construído por Martineau (1999) que explica que a resiliência pode ocorrer como uma manifestação de “conformidade às normas sociais, sucesso acadêmico e empatia pelos outros, porém manifestos apenas com o objetivo de agradar ou enganar” (YUNES; SZYMANSKI, 2001, p. 35). Manifestações de conformidade, às vezes, ocorrem em troca de um “preço” demasiado alto para a saúde mental de um indivíduo, que pode aparentar estar muito bem em relação a algo que teve que enfrentar na sua vida ou já enfrentou, mas, por trás, na verdade, existe uma superação que é apenas aparente. Esse sentido de “ajustamento social” pode produzir pessoas “adaptadas”, vivendo em um silencioso desespero ou, ainda, pessoas adaptadas, mas “não adaptáveis”, porque implica uma conformidade a certas condições e a certos valores da sociedade, mas não implica, necessariamente, saúde psicológica (GOLDSCHMIDT, 2015). Atributos de resiliência COPING e gestão de estresse Coping e resiliência Coping é o “conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas ou estressantes” (ANTONIAZZI et al, 1998, p. 273). Portanto, as estratégias de coping podem mudar de momento para momento, durante os estágios de uma situação estressante, bem como durante os estágios de desenvolvimento do indivíduo. Coping envolve uma ação intencional, embasada nas “constantes mudanças cognitivas e comportamentais na tentativa de administrar demandas específicas, internas e/ou externas, que são avaliadas pelo sujeito como excedendoou sobrecarregando os recursos pessoais” (LAZARUS; FOLKMAN, 1984, p. 141). Lazarus e Folkman (1984) indicam que os estilos de coping podem afetar a forma como um evento estressante é percebido e como é gerenciado. 93 A rigor, coping e resiliência são processos relacionados, condicionados a situações de adversidade/stress, já que o primeiro é um mecanismo que gera um resultado imediato ou de curto prazo como uma resposta a um estressor, enquanto a outra requer tempo para ser desenvolvida. Enquanto o coping foca a forma, a estratégia utilizada para lidar com a situação, independentemente do resultado obtido, a resiliência concentra a sua atenção no resultado da estratégia utilizada. O resultado resiliente seria a adaptação positiva, no sentido de bem-sucedida, do indivíduo diante da adversidade. Estratégias de coping e gestão de stress Uma das distinções entre os diferentes tipos de estratégias de coping é baseada no seu foco principal durante o processo de enfrentamento. Existem duas áreas de foco que caracterizarão as estratégias de coping: foco no problema – estratégia focada no problema. Aqueles que usam uma estratégia de enfrentamento focada no problema se concentrarão no próprio problema, tentando atacar a causa raiz do sofrimento. Os exemplos incluem analisar a situação, trabalhar mais, aplicar o que você já aprendeu na sua vida diária e conversar com alguém que tenha um impacto direto na situação e foco na emoção – estratégia focada em emoção. Aqueles que usam uma estratégia de enfrentamento focada na emoção concentrarão a sua energia em lidar com os seus sentimentos, e não no problema em si. Nesse caso, você pode usar mecanismos como meditar, buscar apoio social, ou imaginar, adotar o “pensamento mágico”, bem como evitar, negar ou culpar a si ou a terceiros. Pode parecer que a estratégia focada na emoção é simplesmente ignorar o problema, mas essa estratégia pode ser importante. Especialmente quando não somos capazes de mudar a nossa situação ou influenciar a situação que estamos enfrentando. Nesses casos, é essencial nos concentrarmos no que podemos controlar – nós mesmos. Outra distinção importante entre as abordagens de coping é o objetivo que está sendo trabalhado. Conforme o objetivo a ser trabalhado, as estratégias de coping podem ser classificadas como: ativa, ou abordagem ativa – quando o objetivo é resolver o problema. Esse tipo de estratégia de coping envolve a consciência do problema ou da situação que está causando stress e as tentativas conscientes de reduzir esse stress e ou de eliminar a sua fonte. de evitação – quando o objetivo é ignorar o problema. A estratégia de evitação pode ou não ser acompanhada por uma consciência do problema, mas não há tentativas ativas de reduzir o stress ou de eliminar o problema. Em vez disso, aqueles que se engajam em estratégias de evitação irão ignorar ou evitar o problema completamente. Eles podem estar cientes de que há um problema ou podem estar em negação sobre o problema. 94 Podemos notar que a estratégia de coping ativa é, claramente, a melhor estratégia. No entanto, pode haver situações em que a estratégia de evitação ou evasiva seja útil; por exemplo, pode ajudar a pessoa a lidar com o seu stress a curto prazo e ser uma boa escolha se a pessoa correr o risco de ficar completamente sobrecarregada, ao tentar uma abordagem ativa. A longo prazo, a estratégia de evitação nunca será a melhor estratégia para lidar, eficazmente, com o stress. Essa estratégia pode funcionar por um tempo, mas, no fim, ela se tornará contraproducente ou produzirá consequências indesejadas. As estratégias de coping adotadas pressupõem a opção por certos mecanismos, que podem ser categorizados em tipos variados: a) mecanismos adaptativos – são mecanismos positivos que ajudam as pessoas a lidarem, efetivamente, com o estresse; b) mecanismos comportamentais – são tentativas de mudar o que a pessoa faz para lidar de forma mais eficaz com o seu estresse; c) mecanismos cognitivos – são empregados quando uma pessoa tenta mudar a maneira como pensa para lidar com o estresse; d) mecanismos de conversão – são as tentativas de mudar o problema ou transformá-lo em outra coisa (por exemplo, focar no positivo para torná-lo uma situação positiva em vez de estressante); e) mecanismos de ataque – tentam deslocar o estresse ou desconforto que uma pessoa está sentindo para outra pessoa ou pessoas; f) mecanismos de evitação – envolvem evitar os problemas que estão causando estresse e g) mecanismos de autoagressão – são os menos eficazes, pois resultam em danos a nós mesmos. Finalmente, a distinção mais importante entre os mecanismos de coping é, simplesmente, identificar se eles são saudáveis ou não. É importante notar que mecanismos de coping não são a mesma coisa que mecanismos de defesa. Os mecanismos de coping são usados para gerenciar ou lidar com o stress, enquanto os mecanismos de defesa são, geralmente, processos inconscientes que as pessoas não sabem que estão usando. Por exemplo, a projeção é um mecanismo de defesa que envolve ver aspectos desagradáveis de você mesmo nos outros. Outras características de resiliência Características de resiliência vêm sendo referidas como fatores de proteção ou ativos de desenvolvimento (RICHARDSON, 2002). Na literatura sobre resiliência, podemos encontrar um conjunto de características ou atributos inerentes às pessoas resilientes. Embora todos nós tenhamos essas características, o que importa não é possuir o conjunto de características, mas se você as manifesta no momento adequado. Vejamos algumas características apontadas por pesquisadores do tema. 95 Carmello (2008) elenca as seguintes características, que são ativadas nos enfrentamentos e situações adversas, possibilitando melhores resultados: a) protagonismo – é quando o indivíduo se posiciona como corresponsável e peça-chave para o alcance dos resultados; b) criatividade – é a capacidade de construção de ideias inovadoras, buscando novos padrões de solução e crescimento; c) gosto por mudanças – é a abertura a reflexões e experiências diversas; d) autoestima elevada – é a capacidade de respeitar, valorizar e amar a si próprio; e) autoeficácia elevada – é a capacidade de organizar e realizar uma sequência de ações para produzir um resultado desejado; f) senso de humor – é a capacidade de expressar, verbal e corporalmente, elementos incongruentes e hilariantes que geram um efeito tranquilizador e prazeroso para si mesmo e para os outros, sem jocosidade ou desprezo e g) equilíbrio emocional – é a capacidade acionada para sentir, entender e aplicar eficazmente o poder e a perspicácia das emoções como fonte de energia, informação, conexão e influência humana (CARMELLO, 2008, p.76). Reivich e Shatté (2003) relatam que sete fatores centrais constituem a resiliência, entre eles a regulação das emoções, fator que é caracterizado por esses pesquisadores como a capacidade de manter- se calmo diante das adversidades. Entendem os autores que a autorregulação é fundamental não só para que vínculos mais positivos, tanto na vida pessoal como no trabalho, sejam estabelecidos como também para manter a saúde física. Fortemente relacionado ao controle das emoções, está o controle de impulsos, que associado ao comportamento de agir impulsivamente compromete o ajuste das emoções. Além do fator já mencionado, Reivich e Shatté (2003) enumeram: a) otimismo – as pessoas otimistas acreditam que as coisas podem mudar para melhor, o que implica a crença de que temos a capacidade de lidar com as adversidades presentes e aquelas que poderão surgir adiante. Têm esperança no futuro e acreditam que têm o controle e a direção da própria vida; b) autoeficácia – representa o senso de ser eficaz na resolução dos problemas de forma competente e a confiançade ser bem-sucedido. No trabalho, as pessoas que demonstram autoeficácia emergem como líderes. O otimismo e a autoeficácia, geralmente, estão associados, gerando a motivação necessária para que o indivíduo busque soluções e continue se empenhando para melhorar a situação adversa; c) análise causal – trata-se da capacidade de identificar e avaliar com precisão as causas dos problemas, por meio de uma flexibilidade cognitiva que permite ao indivíduo significar todas as causas de adversidades que enfrenta, sem cair na armadilha de lançar mão de um estilo de explicação específico. Essas pessoas são realistas e não culpam reflexivamente outras pessoas pelos seus erros. Não gastam o tempo se preocupando ou ruminando sobre eventos ou circunstâncias que estão fora do seu controle; 96 d) empatia – refere-se à capacidade de perceber os sinais não verbais, relativos aos estados emocionais de outras pessoas e e) exposição – trata da capacidade de um indivíduo de se expor, buscando a atenção e o investimento de outras pessoas, de forma a explorar os seus verdadeiros limites. Baseado em observações realizadas com amigos e pacientes, Flach (1997) afirma que a resiliência pode ser desenvolvida pela maioria das pessoas e, com base nisso, elaborou um conjunto de características que pessoas resilientes (FLACH, 1997 apud GOLDSCHMIDT, 2015) costumam ter: a) forte e flexível senso de autoestima; b) independência de pensamento e ação – não ter medo ou relutância de depender dos outros; c) habilidade para dar e receber, nas relações interpessoais; d) amizades pessoais estáveis; e) alto nível de disciplina pessoal e de responsabilidade; f) reconhecimento e desenvolvimento dos próprios talentos; g) abertura e receptividade a novas ideias; h) disposição para sonhar; i) grande variedade de interesses; j) apurado senso de humor; k) percepção dos próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros, bem como a capacidade de comunicá-los de forma adequada; l) capacidade de tolerar o sofrimento e m) concentração e forte compromisso com a vida, de modo que as experiências pessoais possam ser interpretadas com significado e esperança, até mesmo nos momentos mais obscuros da existência. Além dos resultados apontados por esses pesquisadores, no quadro seguinte podemos verificar outros atributos ou características de pessoas resilientes: 97 Quadro 8 – Atributos das pessoas resilientes segundo Giordano (1997) e Conner (1995) Giordano (1997) desenvoltura; autoconfiança; curiosidade; autodisciplina; acuidade mental e flexibilidade; resistência emocional e capacidade de resolução de problemas. Conner (1995) Cinco atributos básicos: positivas – demonstram uma sensação de segurança e convicção que se baseia na sua visão da vida como complexa, desafiadora, mas cheia de oportunidade; focadas – têm uma visão clara do que querem realizar; flexíveis – demonstram uma elasticidade especial ao responderem à incerteza; organizadas – desenvolvem abordagens estruturadas para gerenciar a ambiguidade e proativas – induzem mudanças ao invés de se defenderem delas. Fonte: Goldschmidt (2015). As formas de produzir e de distribuir bens materiais e imateriais se transformaram de forma substancial nas últimas décadas, sobretudo a partir do desenvolvimento de um conjunto de tecnologias e inovações, em especial as tecnologias da informação e comunicação (TICs), que contribuíram para tornar a informação e o conhecimento fatores de competitividade, de desenvolvimento socioeconômico e até de hegemonia geopolítica. Autores de diferentes formações desenvolveram um arcabouço teórico-conceitual para melhor compreender o significado e a extensão dessas transformações, propondo denominações para essa dinâmica que envolve a passagem de uma economia de base industrial para uma economia baseada em informação e conhecimento, a economia informacional. Entre as denominações propostas, emerge a sociedade da informação e do conhecimento. Nessa socidade da informação e do conhecimento, a nova economia informacional impõe, paulatinamente, diversas mudanças. Entre elas, a aplicação de uma inteligência colaborativa, por organizações e indivíduos. Nesse ocontexto, estudaremos a importância da capacidade de colaboração, daí derivando a capacidade de alinhar-se aos fluxos de trabalho e ao planejamento com os outros como uma habilidade essencial para profissionais de vendas. A dinâmica das equipes de alto desempenho e as características de profissionais de alto desempenho serão também abordadas neste módulo. Ainda alinhados com o contexto contemporâneo, trataremos de compreender a importância da diversidade e da inclusão no atual ambiente organizacional e de negócios, e estudaremos também os vieses inconscientes que podem afetar a nossa capacidade de conviver em ambientes diversos. Por fim, também trataremos outros tópicos importantes no contexto da diversidade, que são a inteligência cultural e os ambientes multigeracionais. MÓDULO IV – ALTO DESEMPENHO, COLABORAÇÃO E DIVERSIDADE 100 Importância da colaboração Sociedade da informação e do conhecimento e a inteligência colaborativa De acordo com Manuel Castells (1999), o termo sociedade da informação foi cunhado pelos pesquisadores Simon Nora e Alain Minc, em 1980. A partir dos anos 1990, no contexto do desenvolvimento da internet e das tecnologias da informação e comunicação (TICs), sociedade da informação torna-se um termo fortemente propagado, junto com o termo "knowledge society ", empregado particularmente pelos meios acadêmicos. Em 1994, Peter Drucker previu que a sociedade do futuro não seria nem capitalista nem socialista, e sim uma sociedade pós-capitalista, na qual o conhecimento, comunicado por meio das TICs, seria um fator gerador de riqueza. Nesse contexto, Peter Drucker anteviu o surgimento do trabalhador do conhecimento. Manuel Castells (1999), no seu livro A sociedade em rede, explica que "a geração, o processamento e a transmissão da informação tornam-se fontes fundamentais de produtividade e poder, estando a informação no cerne das discussões”, e destaca que o conhecimento se transformou no principal fator de produção no mundo contemporâneo. Manuel Castells explica que o processo produtivo, tenha ele um fator de produção agrícola ou industrial, sempre se baseou em algum nível de conhecimento e em informação processada, então, conhecimentos e informações sempre foram cruciais em todos os modos de desenvolvimento. Porém, a lógica da informação detém grande poder sobre os demais setores das sociedades, pois depende da ação do conhecimento sobre o próprio conhecimento, enquanto fonte de produtividade principal. O que Castells denomina de ação do conhecimento sobre o próprio conhecimento é nada mais nada menos que a disseminação de conhecimentos e informações para a geração de novos conhecimentos A informação, o conhecimento e as tecnologias de informação e comunicação (TICs) tornaram-se a mola propulsora do desenvolvimento da sociedade do conhecimento, que se caracteriza pela possibilidade de interações livres de restrições de espaço e de tempo, pelo uso compartilhado de recursos para se construir, coletivamente, conhecimento e pela valorização do direito à informação, às TICs e à educação, como um bem comum. 101 Inteligência colaborativa Na economia informacional, a informação permeia todas as esferas das atividades econômicas, sociais, políticas e ambientais, alcançando até os hábitos da vida cotidiana. Essa economia está organizada em torno de redes globais de informações que viabilizam a capacidade de ‘conhecimentos e informações’ agirem sobre ‘conhecimentos e informações’, constituindo uma rede recorrente de intercâmbios e realimentação.Fica evidente que a presença da tecnologia é um fator de facilitação para a ordenação no compartilhamento do conhecimento. Já em 1994, Pierre Lévy, diante do desenvolvimento da tecnologia e da crescente conectividade, imaginou uma sociedade marcada pela inteligência coletiva que aproveitaria o conhecimento de cada indivíduo, compartilhado por meio da tecnologia digital. Segundo Lévy (2003, p. 28), a inteligência coletiva é “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. A inteligência coletiva, para Lévy (2003), não está restrita a poucos privilegiados; o autor parte da premissa de que todos os indivíduos podem oferecer conhecimento, pois não há ninguém que seja nulo nesse contexto. Na verdade, a inteligência coletiva visa ao reconhecimento das habilidades que se distribuem nos indivíduos, a fim de coordená-las para serem usadas em prol da coletividade. Portanto, para Lévy (2003), deve-se procurar encontrar o contexto em que o saber do indivíduo pode ser considerado valioso e importante para o desenvolvimento de um determinado grupo. Em 2006, o MIT, Center for Collective Intelligence, foi fundado por Thomas Malone, com os objetivos de analisar e medir a inteligência resultante da interação homem-máquina e de refinar uma dinâmica de trabalho que agregue valor na resolução de desafios globais e grandes questões de negócios. A capacidade de gerar conhecimento e, a partir desse conhecimento gerado, tomar decisões de impacto com maior probabilidade de sucesso configura a inteligência de uma organização ou sociedade. Essa inteligência não depende tanto da inteligência individual dos seus membros, mas sim da dinâmica de interação gerada entre eles. Quantas organizações e sociedades contam com pessoas extraordinariamente inteligentes, mas que não são capazes de se adaptar ao meio ambiente? Por outro lado, em quantos outros espaços sociais percebemos pessoas que não se destacam especialmente, mas que conseguem agir coletivamente com um desempenho muito alto? Essa capacidade de ação coletiva eficaz depende da inteligência colaborativa. De acordo com o Innovation Center for Collaborative Intelligence (ICXCI, 2017; BACA et al, 2016), a inteligência colaborativa (IC) pressupõe uma deliberação ordenada, facilitada pelas tecnologias sociais, que permite a um grupo de pessoas criar um conhecimento mais compartilhado e tomar decisões, com maiores possibilidades de superar os desafios e as dificuldades impostos pelas diferentes atividades humanas em um ambiente cada vez mais complexo e mutável. 102 Baca et al (2016) explicam que a inteligência social não pode ser entendida como: qualquer forma de diálogo, troca de impressões ou recolha de ideias, seja virtual ou on-line; uma contagem de votos a favor ou contra algo, determinando as decisões; a sobreposição ou sucessão de conteúdo, mesmo que pareça uma conversa, e a mobilização social por slogans ou frases feitas. Para os autores, os pressupostos da inteligência social são os seguintes: a expressão clara de ideias e contribuições entre várias pessoas que se ouvem e se entendem sobre um problema ou tópico específico; uma troca em que as ideias dos outros são avaliadas e analisadas, seja concordando, discordando, reformulando etc.; o enriquecimento do diálogo com argumentos ou propostas criativas e a mobilização de competências para a resolução de problemas, tomada de decisões e ação. (BACA et al, 2016). No ambiente organizacional, a inteligência colaborativa começa por medidas, aparentemente, óbvias, mas de implementação não tão simples: a integração de todas as áreas ou de todos os departamentos da empresa e a consequente integração das pessoas em torno dos processos e entre si. Colaboração no processo de vendas No caso do setor de vendas, a falta de integração com as demais áreas leva a retrabalho e queda de produtividade. Mais do que monitorar a performance do segmento e o grau de satisfação do cliente, ao estabelecer metas e objetivos, é essencial cuidar da colaboração de vendas. Apesar da responsabilidade que o setor de vendas tem sobre o resultado, sobre a rentabilidade de qualquer empresa que comercialize produtos e serviços, ele não pode, isoladamente, cuidar da eficiência do processo de vendas e do acompanhamento do cliente. A integração com as demais áreas da empresa deve partir da premissa de que todos são responsáveis pelo “o que”, “como” e “quanto” precisa ser vendido. Dessa forma, o engajamento aumenta, e todos passam a estar focados. Os reflexos poderão ser percebidos desde a conversão das ações de marketing em vendas até a experiência de compra agradável do cliente. Para que a colaboração ocorra, é preciso: 1. investir em comunicação transparente em todos os níveis da organização; 2. fomentar uma cultura organizacional que sustente a abertura para as ideias que são sugeridas pelos empregados, especialmente por quem está “na ponta”, que tende a conhecer melhor as necessidades do cliente/consumidor; 3. definir objetivos claros e alcançáveis; 103 4. reforçar os valores organizacionais; 5. construir e aplicar um sistema de gestão de competências suportado por processos consistentes de desenvolvimento e reconhecimento, e 6. investir em ferramentas de sistematização de processos (sistemas). A integração entre as áreas da organização é importante, mas e quanto ao time de vendas? Será que agir sozinho e competir com os pares ainda são comportamentos eficazes na dinâmica de uma equipe de vendas? Para minimizar ou até mesmo eliminar esses comportamentos, as organizações já começam a adotar algumas práticas que trazem resultados mais competitivos: 1. compartilhamento de informações – acesso às informações antes “retidas” por gerentes e supervisores; 2. identificação do perfil de habilidades técnicas e comportamentais de cada profissional de vendas para alocá-lo de forma mais adequada – alguns se sairão melhor em vendas técnicas, outros com pessoas mais jovens, outros, ainda, com os clientes mais velhos etc.; 3. mudança do sistema de recompensas – aplicação de critérios que premiem a colaboração; 4. investimento em ferramentas que facilitam a colaboração, a comunicação e a otimização das tarefas cotidianas e 5. aperfeiçoamento do processo de recrutamento e seleção de profissionais de vendas – identificar aqueles que demonstram habilidades compatíveis com o trabalho em equipe. Trabalho em equipes de alto desempenho Equipes de alta performance: conceito e características Atualmente, as organizações buscam organizar as pessoas em grupos capazes de alcançar resultados de forma eficaz e ágil; são as equipes de alto desempenho. Dyer et al (2011, p. 23) explicam que As equipes de alto desempenho são aquelas compostas de membros cujas habilidades, atitudes e competências lhes permitem atingir as metas da equipe. Em equipes de alto desempenho, os membros definem as metas, tomam decisões, comunicam-se, administram os conflitos e solucionam problemas em uma atmosfera de incentivo e confiança para atingir seus próprios objetivos. Além disso, os membros desta equipe estão cientes de suas próprias forças e fraquezas e tem a capacidade de mudar quando necessário para melhorar o desempenho do grupo. 104 A principal característica das equipes de alto desempenho é a presença de autonomia. Os integrantes desse tipo de equipe desenvolvem uma competência coletiva que permite a tomada de decisões sem a interferência ou sem dependência direta e ostensiva do líder. Além disso, a busca por autodesenvolvimento é constante. Integrantes de equipes de alto desempenho buscam padrões de desempenho extremamente altos, o que os leva a ter que desenvolverem competências técnicas e comportamentaisque sustentem esse padrão e que correspondam aos propósitos da equipe; o que se reflete no desempenho do time. Essa busca por um padrão de desempenho elevado funciona também como um fator motivacional: a aprendizagem e a superação são indicadores tão relevantes quanto o resultado de vendas. Ao contrário de equipes para as quais as condições ambientais e a ausência de muitos recursos podem afetar o desempenho, nas equipes de alta performance o que se vê é a superação de todas as dificuldades ambientais. Katzenbach e Smith (1994 p. 91-92) apresentam, por meio da curva de performance da equipe, cinco estágios que as equipes atravessam até alcançarem o nível de uma equipe de alta performance: a) grupo de trabalho – conhecido pela falta de necessidade de performance e propósito comum, ocorrendo, entre os seus membros, apenas interações como troca de informações, práticas melhores e decisões que possam melhorar o desempenho de cada indivíduo na organização; b) pseudoequipe – não está voltada para interações coletivas, tem foco unicamente na performance individual dos seus integrantes; c) equipe potencial – procura um propósito comum, um porquê de trabalhar em conjunto, bem como metas e objetivos traçados coletivamente; d) equipe real – tem compromisso com propósito, metas e trabalho comuns, sendo que os seus integrantes compartilham a responsabilidade e o desempenho da equipe, e e) equipe de alta performance – compromisso profundo com o crescimento e sucesso uns dos outros. Nesse nível, a equipe supera as demais etapas e contribui significativamente com os resultados da organização. Esse processo pode ser longo e demanda compromisso das lideranças, das organizações e dos membros dos grupos, para que os profissionais consigam: deixar os interesses próprios para contribuir uns com os outros; dividir as responsabilidades e ser comprometidos com os objetivos estabelecidos pelo grupo. 105 Além disso, é importante uma liderança eficaz, que satisfaça as necessidades da equipe e avalie o seu progresso. As equipes de alto desempenho, conforme apresentadas por Blanchard, Carew e Carew (2011 p. 25), são reconhecidas por sete características, quais sejam: a) propósito e definição de metas – são definidos pelos próprios membros da equipe, gerando compromisso com a realização das atividades; b) empoderamento – diz respeito à liberdade que é dada à equipe para decidir sobre as suas ações, desde metas até decisões mais complexas, investindo os membros de autoridade e autogestão; c) relacionamentos e comunicação – equipes de alto desempenho fortalecem e intensificam os relacionamentos e a comunicação entre os seus membros, por isso alcançam níveis de produtividade extraordinários; d) flexibilidade – é evidenciada tanto pelos seus membros como pelos seus líderes; e) ótimo desempenho – resultado das competências, da motivação, da satisfação e do forte relacionamento entre os seus integrantes, que buscam objetivos cada vez mais elevados, que possam contribuir com o desenvolvimento da equipe e dos seus membros; f) reconhecimento e apreço – são fatores essenciais para valorizar o trabalho de cada integrante na equipe e g) moral (estado de ânimo) – motivar, comemorando e parabenizando cada meta alcançada, e atender as necessidades da equipe elevam o moral da equipe. Algumas das habilidades comportamentais requeridas dos profissionais membros de equipes de alto desempenho são: entender os conflitos e solucioná-los; saber comunicar-se, estabelecendo elos de confiança; conhecer os valores e princípios da organização; dar e receber feedback; gerir os conhecimentos e utilizá-los da melhor forma possível, e compreender que o seu comportamento e a sua personalidade influenciam nas relações, sendo necessário que cada indivíduo se autogerencie. Características do profissional de alto desempenho em vendas Profissionais de vendas que almejam o alto desempenho ou que almejam estar em equipes de alto desempenho devem estar atentos ao desenvolvimento de algumas power skills, tais como: a) comunicação – mais do que clareza e objetividade, essa habilidade requer a prática da empatia, da escuta ativa e do rapport; b) foco por meio da automotivação – não se abater diante de rejeições, retornando à meta original ou construindo soluções adaptativas para restabelecer o equilíbrio da solução; 106 c) colaboração; d) coachability (capacidade de receber coaching) – cada vez mais comum em equipes de vendas B2B (business to business), trata-se da abertura para receber feedback, especialmente críticas e sugestões de mudança de comportamento, e estar apto a implementar o que for preciso e e) capacidade analítica – cada vez mais, as áreas dependem de conhecimentos relacionados à ciência de dados. Com vendas não é diferente. Essa capacidade se refere a saber interpretar os dados e relacionar essa interpretação às suas ações e às da equipe, para verificar se o que precisa ser feito para “fechar negócio” está sendo feito. A capacidade analítica é essencial para que o profissional de vendas entenda o que está acontecendo no processo de vendas e realize as mudanças necessárias, mesmo antes de o gestor apresentar alguma análise do seu desempenho. Diversidade e inclusão Diversidade nas organizações É de se esperar que, em um país de dimensões territoriais amplas como as do Brasil, exista uma clara heterogeneidade na sociedade. No caso do ambiente organizacional, qual é o impacto que você imagina que tem diferenças demográficas relacionadas a gênero, raça, habilidade física, orientação sexual, idade, etnia, história cultural, entre outros? Além de ser tomada como sinônimo para outros conceitos, tais como cota, ação afirmativa, inclusão, dentre outros, a diversidade tem sido definida de diferentes formas. Diversidade no sentido estrito é, simplesmente, um outro ponto de vista, é como falar de variabilidade, de pluralidade. Contudo, a diversidade também pode ser entendida como a representação de pessoas com diferentes identidades grupais em um sistema social (COX, 1994). Para Nkomo e Cox (1999, p. 335), “está mais ou menos claro que os acadêmicos estão se referindo à diversidade de identidades com base na filiação a grupos sociais e demográficos e como as diferenças de identidades afetam as relações sociais nas organizações”. Nesse contexto, é possível entender a diversidade e a identidade como conceitos complementares, uma vez que a identidade se faz no reconhecimento do outro, daquele que é diferente, que é diverso, enquanto a diversidade exprime as diferentes identidades. O conceito de identidade grupal é central para a compreensão da diversidade e inclusão bem como para o estudo da gestão da diversidade nas organizações. Nesse contexto, a teoria da identidade social (TIS) (TAJFEL, 1982; TAJFEL; TURNER, 1979) apresenta uma contribuição significativa para a compreensão da diversidade e da inclusão nas organizações, ao descrever o processo de formação de identidade dos seus membros. 107 Identidade grupal consiste na identificação física e cultural com um grupo, o que ocorre no contato com o grupo em oposição ou contraste. As pessoas se identificam e se classificam em várias categorias sociais e por diferentes fatores situacionais, de modo que o reconhecimento das semelhanças pressupõe o reconhecimento das diferenças (GALINKIN, 2003). Algumas dessas categorias sociais se tornam mais salientes que outras em determinados momentos. Para a diversidade nas organizações, as “categorias, rótulos e identidades também importam, em si e por si” (FERDMAN; SAGIV, 2012, p. 325). Nesse ambiente, as três grandes formas de discriminação são o sexismo, racismo e etarismo. Mas a classe social também discrimina, e, quando a referência é o modelo socioeconômico dominante, o preconceito contraos mais pobres, os “perdedores”, está vigente em várias culturas. Portanto, não há como falar em diversidade sem abordar esses diferentes preconceitos. Além de estarem presentes de forma estruturante na sociedade, paradoxos, preconceitos, estereótipos e discriminação permeiam também as organizações em questões de gênero, raça, idade e classe social. Para melhor compreensão da definição de diversidade e das suas implicações, é necessário esclarecer estes três conceitos básicos da Psicologia Social, que estão mais ligados aos temas da diversidade e da inclusão: estereótipo, preconceito e discriminação. Estereótipo é a caracterização de pessoas, mas sem julgamento; é um elemento cognitivo. Trata-se de uma construção cognitiva a partir de características atribuídas a um grupo social e generalizadas de forma a classificar, rotular e pré-definir todos os elementos pertencentes àquele grupo. Já o preconceito apresenta o julgamento e a avaliação sobre essa caracterização. Dito de outra forma, a partir do estereótipo, eu julgo se gosto ou não gosto daquela classe social, daquela raça, daquele gênero, daquela orientação sexual etc. A discriminação, por sua vez, é o ato ou o comportamento ligado ao preconceito, que se caracteriza pelo fato de o indivíduo estar em contexto em que essa demonstração seja possível, aceita ou viável. Inclusão A gestão da diversidade da força de trabalho pode não significar a inclusão dessa força de trabalho diversa. Inclusão significa que os membros de todos os grupos são tratados de forma justa, têm igualdade de oportunidades e são representados em todas as funções e níveis organizacionais e, sobretudo, sentem-se incluídos. O foco da inclusão é a pertença ou o sentimento de pertencimento. Inclusão se refere ao julgamento ou à percepção de aceitação das pessoas, sendo o sentimento de ser bem-vindo e valorizado como membro daquela organização nos diversos níveis. Trata-se de como o indivíduo percebe que está sendo tratado, em função de características que o ligam aos grupos aos quais pertence ou com os quais se identifica, como raça, gênero, religião etc. (FERDMAN et al, 2010). 108 Dessa maneira, a concretização da inclusão vai muito além de fazer gestão da diversidade. Ela depende da criação de um ambiente organizacional que possibilite a todos o pleno desenvolvimento do seu potencial na realização dos objetivos da empresa. É importante ressaltar que o que importa é o efeito do tratamento na pessoa, e não o que o outro gostaria de ter feito. A percepção de inclusão inclui a participação do indivíduo nos processos formais e informais da organização, por exemplo, a hora do cafezinho, momento quem que informações e decisões fluem informalmente. A prática institucionalizada de exclusão e discriminação pode ter resultados desastrosos para fatores como comprometimento organizacional, satisfação e significado do trabalho etc. Apesar dos esforços acrescidos para recrutar e reter talentos diversos, os membros de grupos minoritários continuam a enfrentar discriminação, isolamento social e problemas de rotatividade (HOM; ROBERSON; ELLIS, 2008), o que sugere que a diversidade não é garantia de inclusão. Gestão da diversidade O gerenciamento da diversidade começa pelo desenvolvimento e estabelecimento de normas organizacionais que valorizem as diferenças entre os grupos com o objetivo de melhorar a efetividade organizacional. No processo de gestão da diversidade, as normas e os valores devem prover um conjunto de expectativas claras de como os empregados devem ser tratados e do tipo de comportamento esperado dos gestores. Elas podem não refletir o estado atual da organização, mas devem refletir de forma inequívoca aonde a organização quer chegar. Habilidades para colaborar em ambientes heterogêneos Reconhecer vieses inconscientes Ao considerarmos as discussões sobre diversidade no ambiente organizacional, os vieses se tornaram tópico recorrente. O viés pode partir de um indivíduo, de um grupo ou de uma instituição. Trata-se de um preconceito em favor ou contra uma coisa, uma pessoa ou um grupo, comparado com outro, geralmente de uma maneira que é considerada injusta. Esse preconceito tem origem em um conjunto de estereótipos que mantemos nas nossas mentes sobre diferentes grupos de pessoas. Ao longo da vida, vamos internalizando conhecimentos sobre os diferentes grupos sociais, a partir de situações e experiências, que incluem memórias de infância, conversas com amigos e, até mesmo, aquilo que assistimos na televisão. Os vieses influenciam diretamente as nossas crenças e os nossos comportamentos na relação com os outros e operam como pontos cegos, adquiridos socialmente e dos quais nem sempre temos 109 consciência. Em vista disso, os vieses são divididos em conscientes (explícitos) e inconscientes (implícitos) e podem ter consequências negativas ou positivas. Eles influenciam o comportamento humano, demonstrando que pessoas diferentes agem de acordo com preferências baseadas em aspectos da sua identidade. Geralmente, a influência do viés não é percebida, justamente por ele ser inconsciente. Daí, um indivíduo poder agir até contra as suas convicções conscientes. O viés pode se basear em estereótipos, que são um conjunto de crenças formadas a partir de características generalizadas sobre um determinado grupo que acabamos por atribuir a todos aqueles que identificamos como pertencentes àquele grupo, pré-definindo e rotulando as pessoas e os seus comportamentos. Por exemplo, o estereótipo da mulher inclui características como delicadeza, cuidado etc., sendo comum esperarmos (crença) que todas as mulheres tenham comportamentos delicados e cuidadosos; já o estereótipo da pessoa idosa inclui alguém que apresente as características de fragilidade e lentidão, o que nos leva, de forma inconsciente, a esperar que todos os idosos sejam lentos e frágeis. Esse é o viés de percepção, que se baseia nos estereótipos construídos por influência da sociedade e da cultura a que estamos expostos, sem que haja nenhum embasamento em fatos. Por exemplo, propagandas representando as mulheres em lugar inferior ao do homem. Não há nenhuma mensagem escrita ou dita de que ela é inferior, mas a mensagem implícita sugere que sim, e pode resultar em um estereótipo bastante nocivo e inconsciente, pela facilidade de se julgar rapidamente com os exemplos que vêm à mente. O viés de afinidade determina uma tendência em aceitar mais facilmente as crenças compartilhadas pelo grupo no qual estamos inseridos, para evitar retaliação social, ainda que ela seja inconsciente. Já o favoritismo dentro do próprio grupo social sugere um preconceito em favor dos iguais e pode decorrer do viés de afinidade. Por exemplo, em uma avaliação de desempenho, um homem que avalie melhor outros homens do que mulheres pode não só ter um viés inconsciente em desfavor do gênero oposto mas também um viés em favor do gênero masculino, mesmo que não o perceba. Dessa maneira, muitas atitudes preconceituosas e discriminatórias acabam sendo realizadas por pessoas que, conscientemente, dizem-se a favor da igualdade. Isso demonstra que a manifestação do viés inconsciente não necessita de deliberação, de vontade. Ela é involuntária e automática, e todos os seres humanos estão sujeitos a ela. Por definição, o preconceito implícito ou o viés inconsciente não é intencional, isto é, somente pode ser demonstrado por vias indiretas e em um determinado contexto. Apesar de, na maioria das vezes, ele não ser intencional, o fato é que o viés implícito acaba favorecendo determinados grupos em detrimento de outros. O racismo, o sexismo, e a ‘LGBTfobia’ são alguns exemplos. 110 Bellack (2015) explica que, diferentemente do preconceito explícito, o viés inconsciente se manifesta pelas chamadas “microagressões”. As microagressões são resultantesde preconceitos inconscientes que levam uma pessoa a intencionalmente discriminar outra, já socialmente marginalizada, por qualquer característica. As microagressões tornam a identificação do viés inconsciente mais difícil. As mulheres são um dos grupos que sofrem com essas ‘microagressões’, em diferentes aspectos das suas vidas. Em relação à carreira, um fenômeno que tem sido discutido nos últimos anos é o “teto de vidro” (glass ceiling), que remete a uma barreira invisível, formada por comportamentos preconceituosos e diversas microagressões, que impediria esse grupo de chegar aos cargos mais altos nas empresas. Isso porque o estereótipo que prevalecia, tanto na literatura quanto na prática, era o de que homens seriam mais adequados para posições de liderança. O estereótipo atribuído à mulher, que inclui características tais como ser gentil, carinhosa, humilde, orientada para as relações ou cuidadora, não combinaria com o estereótipo do líder, cujas características esperadas incluem ser decisivo, assumir riscos, ter autonomia e ser assertivo. Diante do que foi discutido até aqui, é possível supor que as mulheres seriam mais mal avaliadas que os homens, por estarem sujeitas a algum tipo de estereótipo de gênero ou ao viés inconsciente de um avaliador ou grupo de avaliadores. Nesse caso, a avaliação de desempenho pode não ser justa, mesmo que o avaliador acredite estar livre de quaisquer preconceitos. Além dos vieses já mencionados, existem também os relacionados a seguir: viés confirmatório, que leva uma pessoa a só considerar as informações nas quais acredita, ainda que lhe sejam apresentadas provas irrefutáveis do contrário; efeito halo (auréola), que, ao contrário dos demais, leva a pessoa a ter uma visão positiva de um evento ou de outras pessoas, mesmo antes de ter uma experiência concreta e efeito de grupo, que ocorre quando é criada uma pressão para que todos sigam uma mesma tendência, não havendo espaço para opiniões diferentes. Inteligência cultural Ambientes multiculturais Uma das principais características do mundo contemporâneo é a facilidade de mobilidade profissional. No Brasil, que é um país de dimensões continentais, é ainda mais comum perceber os traços da multiplicidade cultural. Somado a isso, as tecnologias de comunicação e a ampliação dos contatos profissionais entre países tornam a presença de pessoas de diferentes origens cada vez mais comum nos ambientes corporativos. Profissionais de diferentes regiões trazem consigo distintos comportamentos e expressões característicos dos seus locais de origem. Contudo, por falarmos a mesma língua e compartilharmos de uma identidade nacional, os choques culturais tendem a ser menos intensos do que quando a mistura se dá com a presença de pessoas de diferentes países. 111 Já sabemos que os ambientes de trabalho marcados pela diversidade cultural têm potencial para se tornarem altamente criativos, dinâmicos e estimulantes; então, o multiculturalismo pode ser uma vantagem estratégica. Contudo, para isso, é importante que a organização seja capaz de entender as singularidades de cada indivíduo bem como as suas tendências culturais. Os gestores precisam atuar sobre as diferenças culturais primando pela valorização das percepções que, mesmo inusitadas, podem ajudar a enxergar as situações de formas originais, oferecendo soluções até então não imaginadas, e podem auxiliar os profissionais no seu processo de integração. A cultura engloba um conjunto de valores, crenças, comportamentos, hábitos e atitudes que diferem de sociedade para sociedade e têm um forte impacto nas organizações. Ela influencia a comunicação, a liderança, a gestão de equipes, a seleção e formação e, inevitavelmente, a própria cultura organizacional. Diante do desafio que é trabalhar com pessoas de diferentes culturas, a capacidade de interagir eficazmente em múltiplas culturas torna-se uma competência cada vez mais importante no atual mundo empresarial e do trabalho. Cultura e inteligência são conceitos que estão intrinsecamente interligados, já que o próprio conceito, a avaliação e o desenvolvimento da inteligência não podem ser compreendidos fora do seu contexto cultural. A capacidade de adaptação a outras pessoas integra diversas abordagens sobre tipos de inteligência (GARDNER, 1983), como a inteligência emocional (GOLEMAN, 1996), ou a inteligência social (GOLEMAN, 2006). A inteligência cultural se foca, especificamente, nas interações caracterizadas pela diversidade cultural (VAN DYNE; ANG; KOH, 2008). Para explicar o porquê de alguns indivíduos apresentarem um desempenho mais eficaz que outros em situações multiculturais, Earley e Ang (2003) desenvolveram o seguinte conceito: a inteligência cultural é motivada pela realidade prática da globalização no local de trabalho e é definida como a capacidade de adaptação eficaz em diferentes ambientes culturais, a capacidade de se adaptar a outros e a diversas situações. Trata-se de um conjunto de capacidades e competências que permite: interpretar comportamentos e situações que não são familiares; identificar comportamentos que são universais a toda a humanidade; identificar comportamentos que são culturais e identificar comportamentos que são peculiares a um determinado indivíduo em uma situação especifica (VAN DYNE; ANG; LIVERMORE, 2010). 112 Ambientes multigeracionais e ageísmo Ambientes multigeracionais Os conflitos entre as diversas gerações já fazem parte do cenário atual das organizações, e saber como extrair as oportunidades desse contexto e conduzi-lo de modo a gerar resultados positivos às empresas, preferencialmente alinhados aos objetivos de toda a equipe, é um diferencial que deve fazer parte do cotidiano empresarial. Existe uma grande massa de pessoas entre 60 e 80 anos que precisará se manter ativa, ou seja, manter as principais atividades da vida em pleno funcionamento, especialmente as atividades laborais e econômicas, o que quer dizer que cada vez será mais comum encontrarmos diferentes gerações no mesmo espaço laboral. Portanto, os gestores e líderes devem procurar mesclar as habilidades e competências de cada geração ou mesmo de cada indivíduo. Por exemplo, mesclar a experiência das gerações X e baby boomers com a inovação, criatividade e domínio das tecnologias presentes nas gerações Y e Z, ou seja, promover a complementaridade, como uma fonte de aprendizagem mútua e vantagem competitiva para as organizações. A chave do sucesso para o futuro da gestão de pessoas está suportada na aprendizagem contínua, negociação, autonomia, ética e autodesenvolvimento. Independentemente da geração, as empresas e os gestores devem continuar investindo em autodesenvolvimento com o intuito de liderar e acompanhar as mudanças no mundo. Espaço de negociação e diálogo, bem como ferramentas de aprendizagem organizacional, conduzidas pelos gestores serão fundamentais para facilitar a integração entre as gerações. Ageism ou idadismo e a gerontofobia: o peso da idade O idadismo é o terceiro grande “ismo”, depois do racismo e do sexismo, sendo visto como o tipo de rejeição mais cruel. Ao contrário dos outros tipos de discriminação, no idadismo, qualquer pessoa pode ser alvo de preconceito, pois todos passam pela velhice. O idadismo (ageism) é uma forma de preconceito baseado na idade que resulta na discriminação contra as pessoas vistas como idosas, contribuindo para a sua marginalização e eventual exclusão social. Esse preconceito tem relação também com a generalização de todos os idosos, sem ter em conta características individuais. O idadismo pode manifestar-se em três níveis, como relacionado a seguir: 1. individual, quando se evita o contato com pessoas idosas, quando se fazem “piadas” sobre o envelhecimento ou sob a forma de atitudes e estereótipos negativos sobre os idosos;2. instrumental, envolvendo a discriminação no emprego, nas políticas públicas e, até mesmo, nas instituições para idosos e 3. nível social, por meio da não equidade, da linguagem idadista e da segregação pela idade. 113 As manifestações do idadismo podem ocorrer sob a forma de estereótipos, mitos, práticas discriminatórias no local trabalho, nos serviços de saúde ou na educação. Vários autores defendem que o idadismo é construído na infância, em que são criadas imagens do idoso como sendo dependente, só e frágil. Alguns acontecimentos, como a institucionalização do idoso e a aposentadoria, contribuem para que as crenças iniciadas na infância, sejam reforçadas quando adultos (DOBBS et al 2008). Uma outra forma de manifestação do idadismo é o uso de linguagem infantilizada para com os idosos, especificamente o discurso simplificado, uso de diminutivos ou fala vagarosa (SCHROOTS, 2003). O idadismo pode trazer várias consequências para o idoso, tais como: isolamento, institucionalização, diminuição do sentimento de autoeficácia, diminuição da atividade e aumento dos maus-tratos. Um outro tipo de atitude discriminatória em relação às pessoas idosas é a “gerontofobia”, descrita por Berger e Mailloux-Poirier (1995) como um medo irracional relativo a tudo o que diz respeito à velhice e ao idoso, que afeta o comportamento das pessoas mais jovens em relação aos mais velhos, conduzindo à resistência ao processo de envelhecimento, i.e., pessoas que não admitem que estão ou que irão envelhecer, uma vez que o envelhecimento está ligado a representações de doença, de limitações físicas, de depressão e incapacidades. A gerontofobia manifesta-se, geralmente, por meio de comportamentos desfavoráveis e negativos, pela recusa, apatia e indiferença ante os idosos. Não se trata de odiar ou temer diretamente as pessoas idosas nem, necessariamente, o seu envelhecimento cronológico, mas sim de temer as dificuldades crescentes da senilidade e da aproximação da morte. Idosos também podem revelar esse tipo de atitude, especialmente as mulheres quando descontentes com o seu envelhecimento. Assim como ocorre em outros grupos minorizados (mulheres, LGBTQIA, negros), os idosos também se autodiscriminam em função da idade, por meio de autoestereótipos. A imagem predominantemente negativa que a sociedade tem do idoso pode influenciar a percepção que as pessoas idosas têm delas próprias, levando o idoso a acreditar nestas crenças como sendo verdadeiras e tornando a sua percepção do envelhecimento negativa. Pode dizer-se que os idosos são influenciados pela imagem social que a sociedade tem sobre o envelhecimento, isto é, a forma como ela percebe o envelhecimento. 114 BIBLIOGRAFIA ALBRECHT, Karl. Inteligência social: a nova ciência do sucesso. São Paulo: M. Books, 2020. ANTONIAZZI A.S.; BANDEIRA D.R; DELL´AGLIO D. D. O conceito de coping: uma revisão teórica. Estud Psicol (Natal). 1998;3(2):273-94. ARTHUR, Michael B.; CLAMAN, Priscilla H.; DEFILLIPPI, Robert J. Intelligent enterprise, intelligent careers. Academy of Management Perspectives, v. 9, n. 4, p. 7-20, 1995. AVLONITIS, George J.; PANAGOPOULOS, Nikolaos G. Selling and sales management: An introduction to the special section and recommendations on advancing the sales research agenda. Industrial Marketing Management, v. 39, n. 7, p. 1045-1048, 2010. BACA, E. et al. Inteligência colaborativa: a chave para superar os desafios crescentes de nosso tempo. BAKER, W. 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Atualmente, exerce atividades como consultora, professora e pesquisadora. À frente de uma empresa de consultoria em desenvolvimento organizacional, exerce atividades tais como: consultora, nas áreas de desenvolvimento organizacional, de capital humano e gestão estratégica; e coach, em programas de Executive e Life Coaching. Além disso, também atua desenhando e ministrando treinamentos para profissionais e executivos de segmentos como o de serviços, óleo e gás, RH, seguros, engenharia, telecomunicações, segurança patrimonial e energia. Na sua atuação associativista, foi membro dos Conselhos Diretor e Empresarial de Educação da ACRJ – Associação Comercial do Rio de Janeiro, de 2013 a 2017, e membro-fundador do Capítulo Rio da ICF – International Coach Federation, onde ocupou a posição de Diretora de Relações com o Mercado, na Diretoria Executiva, de agosto de 2013 a março de 2016.