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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 Trauma crânioencefálico (TCE) Três principais mecanismos podem causar o TCE: traumas fechados, perfurante e por explosão. E a principal causa de TCE são as quedas, seguidas dos acidentes automobilísticos. O trauma fechado pode ocorrer por impacto direto do crânio e do cérebro com o objeto contuso. Já o trauma inercial ocorre por forte aceleração e desaceleração do cérebro dentro da calota craniana, seja por movimentos horizontais, seja por rotação. CLASSIFICAÇÃO E GRAVIDADE DO TCE O primeiro passo da avaliação neurológica da vítima de TCE é graduar o nível de consciência. TCE leve: 13-15 TCE moderado: 9-12 TCE grave: <8 É comum que, imediatamente após o evento traumático, o paciente tenha perda de consciência. Duração do rebaixamento de consciência menor do que 30 minutos classifica o TCE como leve; entre 30 minutos e 24 horas, como moderado; acima de 24 horas, o rebaixamento de consciência é classificado como grave. Caso o TCE seja moderado ou grave, é necessário que o paciente seja investigado urgentemente com tomografia de crânio e mantido internado para suporte, pois há uma alta chance de complicações; TCE LEVE E CONCUSSÃO Caracteriza-se por uma disfunção cerebral aguda causada por um TCE, que não causa um rebaixamento significativo de consciência (ECG<13). Concussão: disfunção cerebral aguda no TCE leve Contusão: lesão cerebral estrutural causada pelo TCE (confirmada por exame de imagem) NOTE QUE CONCUSSÃO É UM DIAGNÓSTICO CLÍNICO E CONTUSÃO É UM DIAGNÓSTICO POR IMAGEM! Os dois principais sintomas na síndrome de concussão são confusão mental e amnésia lacunar, que podem ou não estar associados a perda transitória de consciência. A amnésia lacunar é uma perda de memória que habitualmente envolve o evento traumático e pode abarcar momentos antes e/ou depois do evento. Outros sintomas neurológicos também podem ocorrer na síndrome concussional, como: cefaleia, tontura, desequilíbrio, náuseas/ vômitos e alterações de atenção e linguagem (lentificação e empobrecimento da fala); SINAIS DE ALARME: Perda de consciência > 30m ou ECG <15 após 2 horas do trauma. Amnésia pós-traumática > 30m Cefaleia grave ou com curso progressivo; Sinais neurológicos focais. Crise epilética. 2 ou mais episódios de vomito. 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 Rigidez de nuca ou limitação dos movimentos do pescoço. Idade > 65 anos; Sinais de fratura de crânio com desnivelamento. Mecanismo grave do trauma (alta energia). TODOS os pacientes com TCE leve com sinais de alarme devem ser submetidos a TC de crânio e mantidos em observação. TCE MODERADO E GRAVE Lesão intracraniana primária: causada pelo próprio mecanismo do trauma. Não pode ser evitada. Lesão intracraniana secundária: consequência de complicações das lesões primárias. Pode ser evitada por meio de tratamento médico adequado. LESÕES EXTRA-AXIAIS São aquelas sem relação direta com o parênquima encefálico. Geralmente por extravasamento de sangue nos espaços entre as meninges ou nos ventrículos cerebrais. São elas: hematoma epidural (HED), hematoma subdural (HSD), hemorragia subaracnóidea (HSA) e hemorragia intraventricular. 1. HEMATOMA EPIDURAL OU EXTRADURAL É mais raro (1-4% dos TCE); O local mais comum do trauma é a região temporoparietal e o mecanismo é a ruptura da artéria meníngea média, com sangramento no espaço entre a dura mater e a calota craniana. O sangramento é arterial, com alto fluxo para dentro do espaço virtual, causando rápida expansão do hematoma e síndrome de hipertensão intracraniana em poucas horas. O paciente pode ter ou não uma perda transitória da consciência, ficando estável por algumas horas e logo depois evolui com deteriorização neurológica, redução da ECG, síndrome de hipertensão intracraniana e surgimento de sinais neurológicos focais. Tríade da HIC: cefaleia, vômitos e papiledema. OBS: Casos de TCE com piora cognitiva ou de nível de consciência após intervalo lúcido: marcar hematoma epidural! A TC de crânio mostra uma lesão extra-axial hiperatenuante com formato de lente (biconvexa). Em casos mais avançados, o parênquima desvia para o lado oposto, cruzando a linha média; Conduta: acionar a equipe de neurocirugia para evacuar o hematoma. Caso não seja feito em tempo hábil, a síndrome de HIC pode ocorrer. 2. HEMATOMA SUBDURAL É o tipo de lesão extra axial mais comum. Diferentemente do HED, o HSD também ocorre em eventos traumáticos de baixa energia, como na queda do mesmo nível. O hematoma é formado por ruptura de veias- pontes, que drenam o sangue de estruturas corticais para os seios venosos. Essas veias se situam no espaço entre o encéfalo e a dura-máter. Note que o sangue que extravasa é venoso, tem menor pressão e corre por um espaço mais amplo, evoluindo mais lentamente. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 Pessoas de idade avançada tem maior risco de HSD, pois o parênquima cerebral atrófico aumento o trajeto livre das veias-pontes no espaço subdural, facilitando a ruptura em casos de aceleração-desaceleração. Em sua manifestação aguda (até 2 dias do evento): há rápida expansão do sangue venoso causando sintomas como cefaleia, náuseas, sonolência. As manifestações subagudas (3-14 dias do evento) e crônicas (>14 dias do evento) são mais frequentes. Obs: o quadro típico é um idoso que cai, sofre um TCE leve e vai ao PS semanas após com sintomas inespecíficos como sonolência, cefaleia, tontura ou com déficit neurológicos focais e crises epilépticas. No HSD agudo, a TC de crânio mostra uma imagem extra-axial hiperdensa, em formato de crescente (côncavo-convexa). A atenuação muda à medida que o hematoma cronifica e, no HSD crônico, o hematoma é hipodenso. Habitualmente, o hematoma margeia o cérebro por toda a circunferência e ultrapassa os limites das sínfises cranianas. Nos casos mais graves, pode ocorrer desvio do parênquima cerebral para além da linha média; Conduta: O tratamento imediato do HSD agudo é craniotomia e drenagem cirúrgica precoce para evitar complicações. 3. HEMORRAGIA SUBARACNÓIDE TRAUMÁTICA A HSA ocorre por ruptura de vasos que correm pelo espaço subaracnóideo. Pode ser classificada em espontânea e traumática. Normalmente, a HSA traumática ocorre em associação a outros tipos de lesão focal. O sangue pode atingir o espaço subaracnóideo em casos de hemorragia intraparenquimatosa (quando o sangramento avança até as áreas corticais superficiais) e de hemorragia intraventricular (quando o sangue que está nos ventrículos é drenado pelas vias de saída do quarto ventrículo até o espaço subaracnóideo). A tomografia de crânio do paciente com HSA mostra hiperdensidade na região de sulcos corticais e/ou na região da cisterna 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 perimesencefálica: o espaço dos sulcos e das cisternas afetados ficam tingidos de branco ao invés do preto (visto em exames normais). Além disso, é comum observar linhas de fratura no crânio ou contusão cerebral adjacentes às áreas de sangramento. Conduta: O tratamento, diferentemente da HSD e do HED, é suporte e monitoração intensiva, assim como uso de nimodipino para minimizar o vasoespasmo. 4. HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR A hemorragia intraventricular ocorre no trauma por dois mecanismos. O primeiro é a rotura de veias subependimárias, presentes no interior dos ventrículos. O segundo é o extravasamento do sangue de uma hemorragia intraparenquimatosa, que ocorre próximo aos ventrículos. A TC de crânio do paciente com hemorragia intraventricular mostra os ventrículos cerebrais, especialmente os ventrículos laterais,preenchidos por material hiperatenuante. Pode haver aumento do volume dos ventrículos, indicando hidrocefalia não comunicante. LESÕES INTRA-AXIAIS Ocorrem no interior do parênquima encefálico e não necessariamente estão associadas a eventos hemorrágicos. Suas representantes são: contusão e laceração encefálica e lesão axonal difusa (LAD). 1. CONTUSÃO E LACERAÇÃO ENCEFÁLICA Contusões cerebrais são lesões no tecido encefálico causadas pelo impacto do trauma, quando o encéfalo se choca contra porções internas do crânio. Os sintomas podem ir de uma síndrome confusional sem sinais de alarme até um TCE grave com sinais neurológicos focais e coma. As localizações mais frequentes são as regiões frontal e temporal anteriores. Os principais achados na TC de crânio são imagens hipodensas (que denotam morte tecidual e edema) nas áreas de golpe e contragolpe e focos hemorrágicos (imagens hiperdensas) de tamanho variável, indo de pequenos focos de sangramento até hemorragia intraparenquimatosa volumosa. 2. LESÃO AXONAL DIFUSA (LAD) A lesão axonal difusa é um tipo particular de lesão traumática inercial, causada por movimentos de rápida aceleração, desaceleração e rotação da cabeça; Em casos mais leves, a lesão pode ser mais sutil, acarretando alterações cognitivas e 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 comportamentais que só serão descobertas após a alta, com a volta do paciente à rotina. Em casos mais graves, o sistema ativador reticular ascendente, que é responsável pela manutenção da vigília, pode ser danificado, o que resulta em rebaixamento do nível de consciência OBS: Os examinadores gostam de cobrar a LAD a partir de casos de trauma com rebaixamento de nível de consciência e tomografia de crânio sem alterações importantes; O ponto crucial é a ausência de intervalo lúcido após o trauma. O paciente vítima da LAD não apresenta recuperação de consciência após o trauma inicial e assim permanece nas horas e nos dias subsequentes. TC de crânio do paciente com LAD é marcada pela ausência de lesões que justifiquem a alteração do nível de consciência (dissociação clinicorradiológica).
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