Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 6ª FASE Demências – Tut 2 - Segundo o MS: é uma síndrome clínica caracterizada por declínio cognitivo e/ou por alterações comportamentais (neuropsiquiátricas) em relação a um nível prévio de desempenho, importantes o suficiente para interferir nas atividades de vida diária (capacidade funcional) e na independência, e que não são explicáveis por delirium (estado confusional agudo) ou doença psiquiátrica maior. - Dx de sd demencial é clínico, com avaliação do desempenho cognitivo e funcional: labs, neuroimagem estrutural e funcional, EEG, LCR, avaliação cognitiva-MNM. - Testes de fluência verbal, memória de figuras ou lista de palavras CREAD, desenho do relógio aumentam a acurácia do dx de demência. - Nota de corte para dx de demência: • Lista de palavras CERAD (evocação tardia): <3 • Memória de figuras (evocação tardia): <6 • Fluência verbal (animais/min): <9 (analfabeto); <12 (1-7a de escolaridade); <13 (escolaridade >7a) - Análise do LCR auxilia no dx precoce da DA (mesmo com comprometimento cognitivo leve), quando se utiliza a dosagem de proteínas tau, tau fosforilada e beta-amilóide. - Demência primária: degenerativa, sd demencial é a manifestação clínica principal. Causa mais frequente é DA, outras como frontotemporal, corpos de Lewy. - 4 perfis principais são descritos: síndrome amnéstica progressiva (DA), disfunção viso-espacial progressiva (demência com corpos de Lewy ou DA), alteração progressiva de linguagem (afasia progressiva primária ou, eventualmente, DA, sobretudo nos casos de início pré-senil) e transtorno progressivo de comportamento (demência frontotemporal). - Demência sem comprometimento do SNC são decorrentes de transtornos de origem tóxica ou metabólica, secundária a doenças sistêmicas ou fármacos sobre SNC. Dx específico depende de labs ou de exames de neuroimagem estrutural. Demências potencialmente reversíveis: ~10% são subdivididas em 3 grupos: demência com comprometimento estrutural do SNC (hidrocefalia, tumores, doenças infecciosas); medicamentos, carência nutricional, dist. Hidroeletrolítico; transtornos psiquiátricos, como a depressão maior. - Demência rapidamente progressiva caracterizadas por intervalo menor que 2 anos entre a instalação dos sintomas e o dx de demência ou morte. Doença de Alzheimer – cap. 22 - Doença neurodegenerativa progressiva e heterogênea nos seus aspectos etiológico, clínico e neuropatológico. - Provoca declínio funcional progressivo e perda gradual da autonomia, que leva a dependência total. Há deterioração das funções cognitivas, do comprometimento para desempenhar atividades de vida diária e ocorrência de uma variedade de distúrbios de comportamento e sintomas neuropsiquiátricos. EPIDEMIOLOGIA: forma mais frequente de demência. Subdiagnosticada pois muitos acham ser normal do envelhecimento. ETIOLOGIA multifatorial: fatores genéticos e ambientai, agindo por meio de interações, modulando o risco de desenvolver a doença. Fat. De risco NÃO modificáveis: idade, feminino (>80a), Sd Down, hist. Familiar + e gene suscetível (Apoliproteína E). Fat de risco potencialmente modificáveis: baixo nível educacional (menor capacidade de compensação para qualquer déficit cognitivo), HAS (adição de colesterol em cels nervosas aumenta a concentração de b-amiloide), déficit auditivo, obesidade, tabagismo, depressão, inatividade física, baixo contato social/isolamento social e diabetes, +3 novos em 2020: consumo excessivo de álcool, TCE e poluição do ar. Fatores protetores: masc, nível educacional elevado, vida ativa e estimulação cognitiva constante, engajamento em atividades sociais e lazer, suporte e redes sociais, atividade física regular, dieta mediterrânea, dieta rica em antioxidante e vit E, uso de estatina, anti-hip, TRH, AINE, consumo moderado de álcool, uso de prótese auditiva se indicado, ausência de TCE, alelo E2, baixos níveis de colesterol. NEUROPATOLOGIA - Os principais achados neuropatológicos são a perda neuronal e degenerações sinápticas intensas, com acúmulo e deposição no córtex cerebral de duas lesões principais: placas senis e emaranhados neurofibrilares. PLACAS SENIS: lesões extracelulares formadas de debris e restos celulares com um núcleo central proteico solido constituído pelo peptídeo beta amiloide (originado da clivagem de proteína precursora APP pela enzima B secretase e gama secretase, sendo que no fisiológico é pela alfa secretase). EMARANHADOS NEUROFIBRILARES: inclusões intraneurais compostas de bandas de elementos citoesqueléticos anormais medindo 20nm de diâmetro com constrições regulares a cada 80nm. Principal componente é a proteína tau na forma hiperfosforilada: fisiologicamente ela fornece estabilidade ao sistema de microtúbulos no interior dos neurônios, na DA tem fosforilação anormal dessa proteína, que faz instabilidade das tubulinas, fazendo edema e distrofia dos microtúbulos e por fim morte neuronal. - Consenso cumulativo de que a produção e o acúmulo do peptídeo beta amiloide tenham papel central na patogênese da DA: cascata amiloide - Fenômenos secundários como consequência da geração e deposição de beta amiloide: formação de emaranhados neurofibrilares, processo oxidativo e peroxidação lipídica, excitotoxicidade glutamatérgica, inflamação e ativação da cascata da morte celular por apoptose e déficit colinérgico. - Perna neuronal faz depleção progressiva de norepinefrina, serotonina e acetilcolina: perdas neuronais particularmente expressivas nas vias colinérgicas que partem de grupos nucleares subcorticais dos núcleos prosencefalicos basais em direção a formação hipocampal QUADRO CLÍNICO - Idosos ou familiares se queixam se piora no desempenho cognitivo com envelhecimento. - DA inicia frequentemente após os 60 anos, raro em pessoas com até 30 anos. Fatores que afeta sobrevida: idade, gênero e gravidade da demência. DUAS FASES QUE ANTECEDEM A DEMÊNCIA NA DA: fase pré clínica (com um longo período assintomático de até 20 anos que ocorre entre o aparecimento das primeiras lesões neuropatológicas e o aparecimento dos primeiros sintomas) e fase prodrômica (transtorno neurocognitivo leve). - Piora progressiva dos sintomas de modo gradual e contínuo, em geral de 8-12 anos: mas varia podendo ser 2 ou 25 anos depende a pessoa. FASE INICIAL DA DEMÊNCIA NA DA: dura média 2-3a, sintomas vagos e difusos, comprometimento da memória é o sintoma mais proeminente e precoce, principalmente de memória declarativa episódica. Os déficits de memória de evocação inicialmente são mais em dificuldade de recordar datas, compromissos, nomes familiares e fatos recentes, podem ser acompanhados de anosognosia (pessoa não tem consciência da própria doença). - Pode perder objetos pessoais, desorientação progressiva tempo/espaço, dificuldade para reconhecer faces. Podem também apresentar: perda da concentração, perda de iniciativa, retraimento social, abandono dos passatempos, mudanças de humor (depressão), apatia, alterações de comportamento, ideias delirantes (mais raro). FASE INTERMEDIÁRIA: dura 2-10a, deterioração mais acentuada dos déficits de memória, aparecimento de sintomas focais (afasia, apraxia ideatória e ideomotora, agnosia, alterações visuais-espaciais e visuais-construtivas). Memória remota comprometida, julgamento fica alterado. Se considera apto para realizar tarefas além das suas capacidades (cuidar do dinheiro) e subestima riscos envolvidos (dirigir). - Capacidade para realizar cálculos, fazer abstrações, resolver problemas, organizar, traçar objetivos, planejar ações e realizar tarefas em etapas seriamente afetada: perda das habilidades para realizar tarefas da vida diária, tendo então declínio cognitivo e funcional (hierárquica, primeiro dificuldade em executar atividades instrumentais como cozinhare pegar ônibus, depois para tarefas básicas como se vestir, alimentar e tomar banho). - Pode ter sintomas motores extrapiramidais com alteração da postura e marcha, aumento do tônus muscular... Sintomas neuropsiquiátricos não cognitivos como agitação, perambulação, agressividade, questionamento repetidos, reações catastróficas, transtornos do sono e síndrome do entardecer. Depressão na DA, psicose na DA e apatia na DA, ideias paranoides persecutórias (acreditar que foi roubado). FASE AVANÇADA: duração de 8-12 anos, todas as funções cognitivas estão gravemente comprometidas, dificuldade para reconhecer faces e espaços familiares. Perda total da capacidade para realizar AVD: totalmente dependentes. Alterações de linguagem + evidentes. Ficam acamados com incontinência urinaria e fecal. - Morte sobrevém como complicação da síndrome de imobilismo em decorrência de septicemia causada por pneumonia, infecção urinaria e lesões por pressão. FAST – Página 433 DIAGNÓSTICO - Demência traz comprometimento múltiplo, com déficit cognitivo da memória pensamento, orientação, compreensão, linguagem, cálculo, capacidade de aprendizagem, pensamento abstrato e julgamento. Para dx, os déficits precisam causar comprometimento de atividades profissionais, ocupacionais e sociais do indivíduo. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 6ª FASE - Depois do dx, achar déficits cognitivos e não cognitivos presentes e correlacionar com a clínica, avaliação dos testes, labs e neuroimagem. NICDS-ADRDA - cid 10 - DX com testes que definem os fenótipos clínicos e a incorporação de biomarcadores no processo do dx. - Sistema AT(N): A de beta-amiloide; T de proteína Tau e N de neurodegeneração. ABAIXO: critérios do IWG-2 para DA típica ABAIXO: critérios do IWG-2 para DA atípica ACIMA: Critério DSM-5 - DX de demência de corpos de Lewy deve ser excluído antes do dx de DA. INVESTIGAÇÃO - Qto menor duração dos sintomas e gravidade dos déficits, melhor as condições de planejamento do tto de DA e chance de detecção de fatores agravantes, intervenções precoces e prevenção de complicações. - História: medicamentos (prescritos ou ñ), comorbidades, hábitos de vida, alcoolismo, doenças prévias. História familiar para demência e FR para doenças cerebrovasculares. Pedir informações sobre a personalidade prévia, para auxílio no dx e estimar o impacto da doença sobre o pcte. - EF/neurológico: frequentemente insuficientes para diagnostico de DA, precisando correlacionar com dados clínicos e exames complementares - AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL: - Mini-mental é um dos métodos de triagem + usados no mundo, fazendo avaliação das orientações temporal e espacial, memória, atenção, calculo, linguagem e habilidades visuais construtivas (escore pela escolaridade ta lá no começo do tut) - Teste de fluência verbal semântica, teste do relogio, teste de memória de figuras e o teste de lista de palavras. ▪ MoCA só usa para pctes com queixas leves e alta escolaridade. - Teste do relógio reflete funcionamento frontal e temporoparietal e avalia funções executivas, memoria, habilidades visuais espaciais, visuais construtivas, abstração e compreensão verbal. - No DA a fluência semântica (áreas temporais mesiais) mais precocemente afetadas do que a fluência fonêmica (áreas frontais). EXAMES COMPLEMENTARES: - Neuroimagem estrutural: TC ou RM são recomendadas de rotina para avaliação e diagnostico iniciais de demência, pelo menos 1 vez em todos os casos. RM é mais sensível do que TC para avaliar grau de atrofia cerebral. Hiperintensidade de substancia branca é fator preditor independente para o declínio cognitivo da DA. - Neuroimagem funcional e molecular PET: analisam metabolismo cerebral: aumenta confiabilidade do diagnostico de DA e auxilia no diagnostico diferencial com outras formas de demência. Deficits metabólicos e perfusionais em córtex de associação bilateral, incluindo cíngulo posterior e pre cuneo, aumentam precisão diagnostica da DA - Marcadores em fluidos biológicos LCR e sangue: diminuição da concentração da proteína beta amiloide, aumento da concentração das proteínas tau total e tau fosforilada pela lesão neuronal associada ao acumulo intracelular de ENF e neurodegeneração. TRATAMENTO - Ainda não existe medicamento que interrompam ou modificam o curso da DA, mas tem melhora nos desempenhos cognitivo ou funcional, e redução da ocorrência dos distúrbios de comportamento e dos sintomas neuropsiquiátricos. É incurável, mas tratável. - Enfoque principal do tratamento é direcionado para medidas de intervenção sobre as alterações cognitivas, do humor e dos sintomas psicológicos e do comportamento na tentativa de reduzir o ritmo de progressão da doença, reduzir ou estabilizar os principais sintomas, melhorando impacto sobre o cuidador, reduzir dependência funcional e a necessidade de institucionalização. - TTO FARMACOLÓGICO SINTOMÁTICO: efeitos benéficos nos aspectos cognitivos, comportamental e funcional, melhora subjetiva global e no desempenho das AVD: melhora qualidade de vida. - Únicas classes farmacológicas aprovadas para tratamento das demências: anticolinesterasicos ou inibidores da colinesterase (donepezila, rivastigmina e galantamina: ação dose dependente), juntamente com a memantina (antagonista não competitivo de afinidade moderada do receptor NMDA, pela estimulação excessiva e ativação inadequada dos receptores de NMDA pelo glutamato são atribuídas como causa de neurotoxicidade). Demências degenerativas ñ Alzheimer – cap. 23 DEMÊNCIAS FRONTOTEMPORAIS (DFT) - Demência frontal variante comportamental (DFTvc), afasia progressiva primária variante semântica ou demência semântica EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 6ª FASE (APPvs), afasia progressiva primária não fluente ou agramática (APPnf). - Atrofia dos lobos frontais e das porções anteriores dos lobos temporais: perda neuronal cortical, mais intensa nos lobos frontais e nas porções anteriores dos lobos temporais. Os casos de DFTvc apresentam patologia tau ou TDP-43; nos de APPnf, o predomínio é de proteína tau, enquanto nos casos de APPvs há predomínio de patologia TDP-43. - Início insidioso, progressão lenta de mudança de personalidade, conduta social, comportamento, alterações e linguagem, exibindo um QC sugestivo de desordem do lobo frontal e de disfunção executiva. - DFTvc: Pode ter alteração pronunciada e precoce do comportamento. Memória episódica, particularmente em relação à recordação de eventos autobiográficos recentes, encontra-se preservada nas fases iniciais. Com avançar da doença a memória tende a piorar. - Achado característico na neuroimagem estrutural é o de atrofia frontal e/ou temporal anterior mais acentuada em relação ao restante. - Desinibição precoce, apatia/inercia precoce, perda precoce da empatia, comportamentos perseverativos, estereotipatos e compulsivos precoces, hiperoralidade e alterações do habito alumentar, perfil neuropsicológico (déficit em funções executivas, relativa preservação da memória episódica, relativa preservação da habilidade visuespacial) - Atrofia frontal ou temporal anterior na ressonância magnética ou na tomografia computadorizada de crânio - Hipoperfusão frontal ou temporal anterior na tomografia por emissão de fóton único (SPECT cerebral) ou hipo-metabolismo frontal ou temporal anterior na tomografia por emissão de pósitrons (PET-FDG). APP tem mais relação com afasia progressiva primária - APPvs: anomia (dificuldade para nomeação), dificuldade de compreensão de palavras isoladas. Atrofia de predomínio em regiões temporais anteriores, muitas vezes assimétrica. Hipoperfusão ou hipometabolismo nessas mesmas regiões. - APPnf: agramatismo, redução de fluência verbal e esforço de produção oral e apraxia de fala.Perfil neuropsicológico consiste em bom desempenho nas provas de memória semântica (exceto naquelas que requerem fluência verbal), percepção e habilidades visuoespaciais. Sinais de atrofia em regioes perisylvianas esquerdas (córtex frontal inferior e insula), hipoperfusão e hipometabolismo nessas áreas. TRATAMENTO - Não há tratamento que retarde a progressão das formas clínicas de DFT. - DFTvc por déficit serotoninérgico a nível pós-sináptico: antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina, trazadona, psicoestimulantes, inibidores da colinesterase e memantina. - APP nenhum fármaco teve eficácia nos estudos clínicos DEMÊNCIA COM CORPOS DE LEWY (DCL) - Declínio cognitivo progressivo, associado a déficit de atenção, habilidades frontossubcorticais e visuoepaciais e disfunção executiva proeminentes. É mais comum em homens. - Agregação anormal de uma proteína sináptica denominada sinucleina (sinucleinopatias: junto com doença de Parkinson idiopática, atrofia de múltiplos sistêmicas, distrofia neuroaxonal...) FISIOPATOLOGIA: placas neuríticas em áreas neoccorticais (densidade as vezes suficiente para diagnostico AP de DA), emaranhados neurofibrilares menos frequentes e menos intensos, aspecto patológico mais marcante é presença de corpos de Lewy. - Corpos de Lewy em núcleos subcorticais (clássicos: morfologia clássica: presença de inclusões neuronais intracitoplasmáticas únicas ou múltiplas, de formato esférico) e em regioes corticais (corpos de Lewy menores e com diferentes formatos, + nos lobos temporais). - Principais componentes dos corpos de lewy: proteínas neurofilamentares, ubiquitina e sinucleína (proteína sináptica normal implicada na produção de vesículas sinápticas e que se agrega para formar os corpos de lewy: principal marcador de DCL e demência associada a doença de Parkinson). QC: flutuações cognitivas com pronunciadas variações no estado de alerta e atenção, alucinações visuais recorrentes, tipicamente bem-formadas e detalhadas, e sinais de parkinsonismo espontâneo, transtorno do sono REM, bradicinesia (lentidão de movimentos), tremores de repouso ou rigidez. DIAGNÓSTICO se dá por critérios Critério obrigatório: declínio cognitivo progressivo suficiente para interferir nas atividades sociais e ocupacionais: déficit proeminente em testes de atenção, habilidades visuoespaciais e funções frontais subcorticais, comprometimento da memória pode não ocorrer nos estágios iniciais, mas é evidente com a progressão. Critérios centrais: 2 para provável e 1 para possível: flutuação da cognição com variação na atenção e alerta, alucinações visuais recorrentes que são tipicamente bem formadas e detalhadas, quadro de parkinsonismo espontâneo. Critérios sugestivos: se 1 central + 1 desse chama de provável: transtorno comportamental do sono REM, hipersensibilidade aos neurolépticos, SPECT ou PET demonstrando captação reduzida de dopamina pelos núcleos da base. Elementos de apoio ao dx: quedas repetidas, perda transitória e inexplicável da consciência, disfunção autonômica grave (hipo ortostática, incontinência urinária), alucinações de outras modalidades, delírios sistematizados e depressão. Além disso, atividade lento no ECG, cintilografia de miocárdio anormal, sensibilidade grave aos antipsicóticos. 3 BIOMARCADORES INDICATIVOS: redução da captação e transporte de dopamina nos núcleos da base demonstrados por TC por emissão de fóton único e PETCT, captação anormal (baixa) de metaiodobenzilguanidina por cintilografia miocárdica e confirmação de polissonografia de sono REM sem atonia. - Diagnóstico de DCL deve ser excluído antes de se fazer diagnostico da DA. Deficit de memória ao contrário da DA, não necessariamente acontece nos estados iniciais. DX imporovável: doença cerebrovascular com sinal neurológico ou achados na neuroimagem; na presença de outra doença sistêmica que possa justificar o quadro clínico; se quadro de parkinsonismo aparecer pela 1ª vez somente no estágio avançado da doença. TRATAMENTO - TTO com o uso inibidores da colinesterase (déficit colinérgico intenso na doença: rivastigmina), memantina, agentes dopaminérgicos e, dependendo do caso, neurolépticos, antidepressivos e estabilizadores do humor. É importante ressaltar que nenhum dos agentes foi aprovado pelas agências reguladoras para o tratamento da DCL até o momento. Demências vasculares – cap. 24 - 2ª causa mais frequente de demência no nosso país. Compreendem várias síndromes associadas a doenças cerebrovasculares. Demência vascular substitui por comprometimento cognitivo vascular, quando pcte tem impacto na QV e AVD com origem cerebrovascular, mas sem preencher critério tradicional para demência. - Síndromes típicas em que comprometimento cognitivo está associado a doenças cerebrovasculares: início abrupto, declínio por etapas, disfunção executiva, distúrbios de marcha e labilidade emocional, com evidências clínicas e neuroimagem de doença cerebrovascular. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS - Doença com comprometimento cognitivo resultante de DCV e lesão cerebral isquêmica ou hemorrágica, tendo etiologias múltiplas (infarto em vasos múltiplos de grande calibre, infartos lacunares múltiplos, hipodensidade subcortical e demencia do tipo Binswanger, infarto único em localização estratégica, sequela de hemorragia subaracnoidiana e hematomas subdurais, vasculites inflamatórias, infecciosas e tóxicas...) e apresentação clínica heterogêneas. PERFIL DO DEMENTE VASCULAR - FR: HAS, DM, hiperlipidemia, tabagismo, fibrilação atrial. - Cardiopatia isquêmica ou ateromatose periférica, antecedentes de AIT ou AVE, evolução da demencia em graus, distúrbios urinários e distúrbios de marcha precoces, dificuldade mecânica da fala (disartria), disfagia, labilidade emocional com riso e choro espasmódicos, sindrome depressiva, sinais piramidais e extrapiramidais. Critério de demência vascular proposto pelo NINDS-AIREN: DEMÊNCIA VASCULAR PROVÁVEL: - 2 critérios precedentes: início da demência nos 3 meses que se seguem ao AVE, início abrupto ou progressão em degraus do declínio intelectual. - Distúrbios de marcha precoce, histórico de quedas frequentes, incontinência urinaria precoce sem causa urológica, paralisia pseudobulbar, mudanças de personalidade e/ou humor, abulia, labilidade emocional, lentidão psicomotora ou outros déficits subcorticais. - Elementos que põem em dúvida o dx: comprometimento inicial da memória e agravação progressiva deste e de outros déficits intelectuais, na ausência de lesões vasculares focais; Ausência de sinais neurológicos focais além do comprometimento cognitivo; Ausência de lesão vascular à neuroimagem. DEMÊNCIA VASCULAR POSSÍVEL: dx clínico mantido se houver presença de demência tal como definido acima com sinais neurológicos focais em indivíduos sem realização de estudos por neuroimagem OU Se não houver relação temporal clara entre a demência e o AVE OU Indivíduo com evolução mais linear do comprometimento cognitivo, mas tendo evidências clínicas de uma doença vascular cerebral significativa. DEMÊCIA VASCULAR DEFINITIVA: todos os critérios clínicos de demência vascular; evidências histopatológicas de doença vascular cerebral; ausência de critérios histológicos da DA; ausência de outras entidades clínicas ou patológicas capazes de causar demência. CID-10 estabelece 6 subtipos de DVa: de início súbito; multi- infarto; subcortical; mista cortical e subcortical; outras e demências não especificadas Segundo escalada de Hachinski, escore ≤ 4 sugere DA; um escore ≥ 7, um diagnóstico de DVa; enquanto escores intermediários de 5 a 6 referemse às demências mistas Essa escala de Hashinski foi modificada por Loeb, para incluir os achados neurorradiológicos: suspeita-se de: DVa, se o escore for igual ou superior a 5; e de DA, quandoo índice for igual ou menor que 2; escores de 3 ou 4 são inconclusivos. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 6ª FASE CRITÉRIOS DO STATE OF CALIFORNIA ALZHEIMER’S DISEASE DIAGNOSTIC AND TREATMENT CENTERS - DVa provável: requer de dois ou mais AVE isquêmicos (pelo menos um deles fora do cerebelo) a partir da história, dos sinais neurológicos e/ou de estudos de neuroimagem. É quando tem relação entre começo da demência e DCV, com confirmação de neuroimagem. - Infarto cerebral único, situação em que uma relação temporal entre o infarto e o começo da demência deve estar claramente documentada, ainda que o intervalo de tempo entre os dois eventos não esteja especificado. - DVa possível, quando não há uma relação temporal clara entre o infarto cerebral único e o começo da demência ou nos indivíduos com evidência clínica e de neuroimagem da doença de Binswanger. - DVa definitiva, quando é necessário um exame histopatológico cerebral com a confirmação dos múltiplos infartos, com pelo menos um não cerebelar. Deve ter ausência de outros marcadores neuropatológicos como emaranhados neurofibrilares ou placas neuríticas ou corpos de Lewy. - Diagnóstico de demência mista: quando uma ou mais doença(s) sistêmica(s) ou cerebral(is) que possa(m) estar relacionada(s) à demência está(ão) presente(s), por exemplo, quando coexistem DVa e DA. CLASSIFICAÇÃO NEUROPATOLÓGICA Demência De Grandes Vasos: - Demência por múltiplos infartos (DMI): infartos múltiplos e grandes, corticais e subcorticais, em geral com infartos incompletos perifocais, especialmente na substância branca. - Demência por infarto estratégico (DIE): restrita, poucos infartos em regiões cerebrais subcorticais funcionalmente importantes (tálamo, gânglios basais, territórios das artérias cerebrais anterior e média, giro angular). Demência De Pequenos Vasos: - Demência por infarto subcortical: doença de Binswanger; estado lacunar – múltiplos pequenos infartos lacunares com infartos perifocais incompletos, especialmente na substância branca - Demência por infarto cortical e subcortical: angiopatia arteriosclerótica e hipertensiva, angiopatia amiloide, algumas vezes com hemorragia; doença vascular do colágeno; formas hereditárias; oclusão venosa. Demência hipóxico-isquemica/hipoperfusiva: encefalopatia hipoxico isquêmica difusa ou restrita devido a vulnerabilidade seletiva regional, infartos de substância branca incompleta, infartos em zona cinzenta. Demência Hemorrágica: hemorragia subdural, hemorragia subaracnóidea, hemorragia cerebral FISIOPATOLOGIA - Doenças relacionadas com pequenas artérias cerebrais subjacentes a infartos lacunares e isquemias subcorticais, atribuídas a lipo-hialinose ou microateroma de artérias penetrantes, são particularmente prevalentes em idosos, hipertensos e diabéticos. Lesões vasculares em geral são silenciosas, degenerativas e pequenas, mas concorrem como fator predisponente à demência em razão da redução da capacidade cerebral de reserva, trazendo o indivíduo para mais próximo do nível de insuficiência, no qual lesões menores podem resultar em demência. Quanto mais se avança em idade, menores são as lesões necessárias para causar demência. Dito de outra maneira, um AVE pequeno que ocasiona demência em uma pessoa idosa pode não ser suficiente para fazê-lo em um indivíduo jovem, cuja reserva cerebral é maior. FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEIS: os dois fatores não modificáveis mais importantes são o sexo (homens + acometido e tem incidência maior de DVa em idades mais jovens que as mulheres) e a idade (risco aumenta com a idade), seguidos por predisposição genética, etnia (Russia e Japão) e história prévia de AVE. MODIFICÁVEIS: aqueles que reduzam a DCV: hipertensão arterial, diabetes melito, doença coronariana, doença vascular periférica, lesões de substância branca, tabagismo e hiperlipidemia. Comorbidades: HAS, fibrilação atrial, doença cerebrovascular, sd de resistência insulínica e diabetes, obesidade. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA - Sintomas clínicos relacionados com demência vascular: EVOLUÇÃO: início relativamente abrupto (dias ou semanas) da alteração cognitiva; Deterioração frequentemente em degraus (alguma recuperação depois piora) e flutuação do déficit cognitivo (diferença de 1 dia para o outro, dias de melhor e pior desempenho); Em alguns casos (20 a 40%) a deterioração é mais progressiva e insidiosa SINAIS NEUROLÓGICOS E PSIQUIATRICOS: Achados neurológicos ao exame clínico que denotam lesões cerebrais focais nos casos recentes: déficits sensoriais ou motores discretos, coordenação reduzida, reflexos tendíneos vivos, sinal de Babinski (dedos estendem e abrem). - Sinais bulbares incluindo disfagia e disartria - Distúrbio de marcha: hemiplégica, apráxico-atáxica, de pequenos passos - Desequilíbrio e quedas não provocadas - Urgência urinária; Lentidão psicomotora, funcionamento executivo anormal, Labilidade emocional (choro patológico); Personalidade preservada e insight nos casos leves a moderados. - Doenças afetivas: depressão, ansiedade, labilidade afetiva COMORBIDADES: história de doenças cardiovasculares (nem sempre presente): HAS, cardiopatia isquêmica, arritmias cardíacas. ACHADOS RADIOLÓGICOS: alterações de substância branca (leucoaraiose): hipodensidade subcortical à TC. - TC ou RM: infartos focais (70-90%), especialmente nas áreas límbicas e paralímbicas, áreas corticais de associação e territórios limítrofes. Lesões de substância branca difusas ou irregulares (70-100%), especialmente lesões mais extensas envolvendo mais de 25% da área total da substância branca. - SPECT ou PET: redução irregular do fluxo sanguíneo regional. - EEG: comparado com a DA, mas frequentemente normal. Se anormal, mais achados focais. As anormalidades aumentam estando o declínio intelectual mais grave. - LABS: nenhum teste específico, achados frequentemente relacionados com as doenças concomitantes como hiperlipidemias, DM, anormalidades ao ECG. TRATAMENTO TTO SINTOMÁTICO - Nootrópico e vasodilatadores (piracetam/Gingko biloba EGb761): sem evidência. - Colinérgicos sintéticos: sem evidência; - Anticolinesterásicos: evidência para donepezila, galantamina e rivastigmina. Inibem quebra da acetilcolina. - Glutamatérgico (memantina). - Outros fitoterápicos e terapia hormonal, sem evidências. Práticas alimentares e reabilitação cognitiva. Outras demências – cap. 25 - Uso de determinadas substancias, depressão, anormalidades metabólicas (doenças tireoidianas), deficiência de B12, distúrbios do metabolismo do cálcio (hiperparatireoidismo), insuficiência hepática, hidrocefalia de pressão normal, hematoma subdural e neoplasias. - Diversos autores postulam que muitas das causas descritas sejam menos comumente reversíveis do que se acredita: baixa prevalência de causas totalmente reversíveis: constituem doenças associadas (comorbidades), com melhora cognitiva parcial (parcialmente reversíveis), ou melhora somente de outros sintomas clínicos relacionados com o transtorno, após o tratamento específico. - As causas mais frequentes em idosos: medicamentos, depressão, hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, HPN, HSDC e os tumores. CLASSIFICAÇÃO DAS DPR DOENÇAS INTRACEREBRAIS NÃO DEGENERATIVAS OU ENCEFALOPATIAS EXTRÍNSECAS: hidrocefalia de pressão normal, trauma, hidrocefalia pós traumática, lesões expansivas, tumores primários, hematoma subdural, metástases intracranianas, empiemas e abscessos intracranianos, lesões meníngeas. ENCEFALOPATIAS INFECCIOSAS: meningites crônicas (fúngica, tuberculose, encefalites, toxoplasmose, cisticercose, herpes, leucoencefalopatia multifocal progressiva), AIDS, neurossifilis, doença de Whipple, neuroborreliose (Lyme) ENCEFALOPATIAS RELACIONADAS COM O ÁLCOOL: síndrome de Wernicke-Korsakoff,demencia por alcoolismo cronico ENCEFALOPATIAS TÓXICAS: medicamentos (uso cronico de medicamentos com ação no SNC desencadeiam alterações cognitivas: medicamentos capazes de induzir o declínio cognitivo: os fármacos hipnótico-sedativos, os anticonvulsivantes, os anticolinérgicos, os antipsicóticos, os antidepressivos tricíclicos e os corticosteroides), metais pesados. ENCEFALOPATIAS METABÓLICAS, IMUNOLÓGICAS: distúrbios eletrolíticos (hiper/hiponatremia, hiper/hipocalcemia), doenças sistêmicas (doença de Wilson, encefalopatia renal, encefalopatia hepática, encefalopatia cardiorrespiratória), distúrbios endócrinos (doenças tireoidianas, paratireoidianas, adrenais, pituitárias, DM/hipogliemia), estados carenciais (deficiência de B12, folato, tiamina, niacina-pelagra), doenças do tecido conjuntivo, vasculites e imunomediadas (LES, vasculite reumatoide, poliartrite nodosa, sarcoidose, PTT...) DEMÊNCIA NA DEPRESSÃO: pseudodemencia depressiva OUTROS: apneia do sono, epilepsia, demencia induzida por radiação, encefalite límbica, encefalopatia por dialise DIAGNÓSTICO ROTINA NA INVESTIGAÇÃO DAS SÍNDROMES DEMENCIAIS (último consenso academia americana de neuro): hemograma, eletrólitos, glicose, ureia, creatinina, função hepática, dosagem de hormônios tireoidianos e nível sérico de vitamina B12. Antes pedia também VHS, exame de urina, sorologia para sífilis (FTA- ABS: se + pede VDRL no LCR), sorologia para HIV (<60a e indivíduos no risco), exame de neuroimagem estrutural. QUANDO INDICADO LCR NO DX DE DEMÊNCIA: início pré senil (<65 anos), curso rapidamente progressivo, apresentação ou curso clinico atípicos, hidrocefalia comunicante, evidência ou suspeita de doença inflamatória, infecciosa (incluindo neurossífilis) ou neoplasias do SNC. CID-10: • F02.4: demência na doença causada pelo HIV: critérios clínicos de diagnóstico para demência, na ausência de uma doença ou condição concomitante, outra que não infecções pelo HIV, que pudesse explicar os achados. Inclui: complexo AIDS-demência encefalopatia ou encefalite subaguda pelo HIV • F02.8: demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais: demencia pode ocorrer como manifestação ou consequencia de uma variedade de condições cerebrais e somáticas, para especificar etiologia o código da CID-10 da condição subjacente deve ser adicionado. Inclui demência em: Envenenamento por monóxido de carbono(T58); Epilepsia (G 40.–); Degeneração hepato lenticular (doença de Wilson) (E83.0); Hipercalcemia (E83.5); Hipotireoidismo adquirido (E00. –, E02); Intoxicações (T36 – T65); Esclerose múltipla (G 35); Neurossífilis (A52.1); Deficiência de niacina (pelagra) (E52); Poliarterite nodosa (M30.0) • F10-F19: transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substancias psicoativas: álcool, EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 6ª FASE opioides, canabinoide, sedativos, hipnóticos, uso de múltiplas substancias e uso de outras substancias psicoativas. • F1x.6: síndrome amnésica: psicose ou síndrome de Korsakoff induzida pelo álcool • F1x.7: transtorno psicótico residual e de inicio tardio: transtorno no qual alterações de cognição, afeto, personalidade ou comportamento induzidas por álcool ou outra substância psicoativa persistem além do período durante o qual um efeito direto da substância psicoativa pode ser razoavelmente considerado como operante. Critérios DSM5 para transtorno neurocognitivo maior ou leve induzido por substâcia/medicamento: prejuízos neurocognitivo não ocorrem durante delirium e duram mais que o tempo de intoxicação habitual; substância envolvida é capaz de causar o prejuízo; o período dos déficits coincidem com o período do uso e abstinência; o transtorno ñ é atribuído a outra condição médica. Critérios DSM5 para transtorno neurocognitivo maior ou leve induzido por lesão cerebral traumática: perda de consciência, amnésia pós-traumática, desorientação e confusão, sinais neurológicos (neuroimagem com lesão, corte no campo visual, hemiparesia); o transtorno aparece logo após ocorrer a lesão traumática ou após a recuperação de consciência, persistindo após o período agudo pós-lesão. Diagnóstico diferencial de demência – cap. 27 - Delirium é uma spindrome adquirida com redução do estado de alerta, percepção, habilidade de mander ou desviar a atenção de maneira correta. Porém, seu início é súbito, com curso flutuante, alterna estado de consciência, cognição, atenção e alteração do sono. Alucinações e ideias delirantes são comuns. - Depressão pode haver déficit de memória, perda de concentração e atenção, redução na capacidade intelectual, fadiga, perde de energia, alterações psicomotoras, sono e apetite. Fonte: Tratado de Geriatria e Gerontologia
Compartilhar