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Anemia Falciforme Anemia falciforme decorre de uma hemoglobinopatia. As hemácias geralmente duram de 110 a 120 dias, mas na falciforme cursam com hemólise precoce. Temos então anemia associada a reticulocitose. A hemoglobina é constituída por 2 pares de cadeias de globina (2 betas e 2 alfas), em seu interior temos o grupo heme. Em adultos prevalece HbA>95% (α2β2), podemos ter ainda HbA2: 2 a 3% (α2δ2) e HbF <2 %(α2ϒ2). a partir dos 6 meses de idade a Hb fetal é substituída pela HbA. Nos pacientes com anemia falciforme, ao invés da HbA, temos HbS em que a glutamina substituída pela valina na 6ª posição da molécula de β‐globina. • Hemoglobina S: resultado da mutação no cromossomo 11, posição 6 com mudança de um único par de bases. Timina → Adenina. • Homozigoto SS (anemia falciforme) • 2 cadeias β‐globina têm a alteração HbS = 90% do total • A letra S vem do inglês “sickle”, que significa afoiçamento O conceito de doença falciforme engloba não só a anemia falciforme, mas também os heterozigotos com mutação falciforme associada a outras mutações, como Hb C, Hb β- talassemia, Hb D. Heterozigotos (SC, S β‐talasemia...) HbS >50%da Hbtotal Traço falcêmico: HbAS (HbA > 50%). • Doença hereditária monogênica mais comum no Brasil, nascem 3.500 crianças/ano com DF e 200.000 com traço falciforme • Elevada incidência em afrodescendentes Surgiu a partir da malária, com essa mutação as pessoas passaram a produzir hemoglobina S, em vez da hemoglobina tipo A. O que se sabe é que o “ traço falcêmico” traz um fator de proteção contra as formas letais da malária, determinando um mecanismo de seleção natural. As hemácias parasitadas pelo plasmódio são mais propensas a se afoiçarem, sendo logo eliminadas pelo sistema retículo endotelial. Isso reduz a parasitemia e, portanto, a gravidade da doença. Quando a hemácia com HbS é exposta a hipóxia, desidratação ou acidose, ela muda sua configuração para formato de foice (falcização), podendo gerar vaso-oclusão por ter esse formato (infarto nos diversos tecidos e órgãos). Hemólise crônica pois as células falciforme tem sobreida de 16 a 20 dias, quando comparadas aos 120 dos eritrócitos normais. 1. Crises de dor vaso-oclusivas: ocorre uma interrupção do fluxo sanguíneo na microvasculatura devido ao formato das células em foice, cursando com isquemia tecidual (dor). Principal causa de hospitalização. Analgésicos** paracetamol/ AINES. Pode associar com codeína. Ou opiáceos VO (morfina IV em hospitalizados). Fatores precipitantes para crise álgica: stress físico, infecção, desidratação, hipóxia, acidose, frio, nadar em piscina não aquecida. 2. Dactilite (síndrome mão-pé): edema nas mãos e pés, pode ter dor ou não. Mais comum no lactente. 3. Sequestro esplênico agudo: aumento súbito do tamanho do baço, hipovolemia, redução de hemoglobina em 2g/dL ou mais, reticulocitose. Extremidades frias, cianose, pulso fino, taquipnéico/taquicardia. Reposição volêmica e transfusão sanguínea. Sequestro esplênico recorrente (> 3 episódios/ ano): indicação de esplenectomia. 4. Priapismo: ereção peniana involuntária durando pelo menos 30 minutos. Associa dor. Inicialmente, banho de assento e analgesia. Dura mais que 4h? avaliação pela urologia, aspiração do sangue retido no corpo cavernoso + irrigação com adrenalina diluída. Suporte de medicina transfusional com exsanguineotransfusão parcial (sangue “normal”) ou transfusão simples de concentrado de hemácias. 5. Complicação neurológicas: 20% tem AVCi até os 18 anos. ⎯ Oxigênio (manter saturação >96%) ⎯ Transfusão de sangue imediata na 1ºhora ⎯ Alvo Hg 10‐11g/dL (acima disso temos risco de hiperviscosidade) ⎯ Avaliar exsanguinotransfusão: HgbS <50% (melhor seria <30%) Prevenção primáriado AVCi: acompanhamento com doppler transcraniano. Alteração? Transfusão. 2 a 16 anos (anualmente). 6. Síndrome torácica aguda: febre, dispneia e dor torácica. Alteração radiológica. Principal causa de mortalidade em pacientes com anemia falciforme. Tratamento: O2 + transfusão, hidratação basal. Ceftriaxona (cefalosporina de 3ºgeração) + macrolídeo, para cobrir os principais agentes pneumococo, mycoplasma. 7. Função imune anormal: asplenia funcional aos 5 anos, risco de infecções bacterianas graves Infecções com organismos encapsulados (pneumococo, hemófilos tipo B) Os falcemicos devem penicilina profilática de 2 meses a 5 anos de idade. Após 5 anos (inidicada em casos de infecção pneumocócica prévia). Febre é uma emergência, principalmente em pacientes de risco, como em menores de 5 anos com febre maior que 38,5°C, esplenectomizados com qualquer idade e toxêmicos. CD: internação, exames e ATB (ampicilina, ceftriaxona..); independente do tempo de evolução da febre. 8. Infecção por salmonela ou estafilococos investiga osteomielite (cintigrafia óssea) 9. Infecções: risco de complicações (aplasia/ crise aplásica) quando infectados por parvovírusB19 (eritema infeccioso). Pode cursar com outro quadro. Parvovírus tem tropismo com a medula, medula fica não funcionante. Suspeitar se reticulocitopenia. Hb Reticulocitos. CD: transfusão. Triagem neonatal: teste do pezinho; Cuidado: HbF x HbS, prematuridade extrema, transfusão anterior ao exame. Após 6 meses Substituição da Hb→ REAVALIAÇÃO Eletroforese ou pesquisa de drepanócitos Não fez triagem neonatal? História Clínica + Eletroforese/ Pesquisa de Drepanócitos + Hemograma Completo • Profilaxia contra o pneumococo: reduz de forma significativa a morbimortalidade da anemia falciforme. Vacinação: vacina 13-valente. 3 doses com intervalos de 6-8 semanas, iniciando a partir do 2° mês de vida. Reforço aos 12 meses. Aos 2 anos: vacina 23-valente. • Antibioticoprofilaxia: Penicilina V oral: iniciada no 2° mês de vida. 125 mg 2X/dia até os 2 anos, passando para 250 mg 2X/dia posteriormente. Pacientes sem história de sepse pneumocócica ou esplenectomia cirúrgica: interromper aos 5 anos. História positiva: considerar manutenção. • Ácido fólico 0,5 a 1 mg ao dia. Supre a demanda aumentada desse nutriente devido a hiperplasia medular (medula muito funcionante). • USG: a partir dos 5 anos (anualmente) risco aumentado de colestase e colecistite • Hidroxiuréia: reativa a síntese da HbF, pois a HbF evita a polimerização da HbS. Dose inicial: 15mg/kg/dia. STA: dor torácica aguda com infiltrado pulmonar novo, febre de 37,5°C ou superior, taquipneia, sibilos pulmonares ou tosse CRITÉRIOS PARA USO DE HIDROXIURÉIA: ✓ Eletroforese de hemoglobina compatível com o diagnóstico de DF: Hb SS, SC, SD ou SBetaTal. Ou seja, independente da forma o paciente deve possuir o diagnóstico; ✓ Idade igual ou maior que 2 anos (ou a partir de 9 meses, em casos especiais); ✓ Possibilidade de comparecer às revisões periódicas; ✓ Beta HCG sérico negativo para mulheres em idade reprodutiva; e uso de ACO durante o uso, a hidroxiuréia é teratogênica. ✓ Ter apresentado pelo menos uma das complicações abaixo nos últimos 12 meses: *três ou mais episódios de crises vasoclusivas com necessidade de atendimento médico; *dois episódios de STA *um episódio de priapismo grave ou priapismo recorrente; *necrose isquêmica óssea; *insuficiência renal; *proteinúria de 24h > ou = 1g; *anemia grave e persistente (Hb < 6 g/dL em três dosagens no período de 3 meses); *DHL elevada 2x nas crianças ou adolescentes e acima de 3x do normal no adulto; *alterações no eco-Doppler transcraniano >160 e até 200 cm/s; *retinopatia proliferativa ou outras situações em que haja comprovação de lesão crônica de órgão; INDICAÇÕES PARA O USO DA HIDROXIURÉIA ✓ Duas ou mais crises álgicas/ano, com necessidade de internação hospitalar ✓ Presença de alguma disfunção orgânica crônica relacionada à AF ✓ Anemia profunda,desde que reticulócitos > 250.000 ✓ Hemotransfusão crônica com alomunização importante ✓ Prevenção secundária da síndrome torácica aguda (STA) Critérios de inclusão para transplante alogênico aparentado mieloblativo de células-tronco hematopoéticas (sangue de cordão umbilical, sangue periférico ou medula óssea): Paciente de até 16 anos com Doença Falciforme tipo S homozigoto ou tipo S beta talassemia (Sbeta) em uso de hidroxiureia que apresente pelo menos uma das seguintes condições: 1. Alteração neurológica devido à AVE, com alteração neurológica que persista por mais de 24h ou alteração de exame de imagem; 2. Doença cerebrovascular associada a doença falciforme; 3. Mais de duas crises vasooclusivas (inclusive STA) graves no último ano; 4. Mais de um episódio de priapismo; 5. Presença de mais de dois anticorpos em pacientes sob hipertransfusão ou um anticorpo de alta frequência; 6. Osteonecrose em mais de uma articulação. INDICAÇÕES PARA TRANSFUSÃO SIMPLES ✓ Hb <5g/dl ✓ Crise aplásica ✓ Crise de sequestro esplênico ✓ Queda de Hb> 20% em relação ao basal ✓ Pré-operatório ✓ STA ou priapismo
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