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Maria Beatriz Machado PEDIATRIA – AULA 16 – HEMOGLOBINOPATIAS E ANEMIA FALCIFORME 1. INTRODUÇÃO A hemoglobina é uma proteína constituída por QUATRO monômeros (um grupo globina e um grupo heme). Na molécula de hemoglobina, sempre teremos duas globinas: Duas alfa e duas não alfa O que diferencia um tipo de hemoglobina da outra, seriam as cadeias não-alfa. Temos diferentes tipos de hemoglobina, sendo eles: Hemoglobina A1: (alfa 2 – beta 2) > 95% Hemoglobina A2: (alfa 2 – delta 2) ≤ 3,5% Hemoglobina F (alfa 2 – gama 2) < 1,5% Quando o bebê nasce, ele tem predomínio de hemoglobina fetal, que por volta do 6º mês de vida tem a 1ª queda, se transformando na hemoglobina A1. No adulto teremos o predomínio da hemoglobina A1 e A2, com uma porcentagem muito pequena da hemoglobina fetal. Por isso quando o bebê nasce, não devemos fazer uma eletroforese de hemoglobina, porque nesse período ele terá um predomínio da hemoglobina fetal, e a eletroforese só se torna “fidedigna” após a 1ª queda da hemoglobina fetal. 2. HEMOGLOBINOPATIAS São as doenças genéticas mais comuns Acometem cerca de 270 milhões de pessoas no mundo Temos cerca de 3000 casos por ano de pacientes com a forma homozigota (SS) Os demais são a forma heterozigota. As hemoglobinopatias se dividem em: Alterações qualitativas: Mutações genéticas pontuais que levam a produção de hemoglobinas anormais (S, C, D..) Alterações quantitativas: Ocorre diminuição da síntese de hemoglobina, devido a produção de um tipo de hemoglobina (talassemias – aumento da produção da cadeia alfa ou cadeia beta) 2.1. TRIAGEM NEONATAL – TESTE DO PEZINHO Em 2001 foi incluída a pesquisa das hemoglobinopatias no teste do pezinho. Detecta doenças metabólicas, genéticas e infecciosas 1ª coleta do teste do pezinho: Indicada a partir do 3º dia de vida e de preferência antes de completar 30 dias. Devemos repetir o teste do pezinho com 120 dias de vida: Nos prematuros Nos bebês que receberam transfusão de sangue Resultados do teste do pezinho: Resultado normal: FA Traço falciforme: FAS Anemia falciforme: FS O teste do pezinho não nos dá diagnóstico de certeza quanto a hemoglobinopatias, ele é somente um RASTREIO, o único exame que DÁ DIAGNÓSTICO é a ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA Maria Beatriz Machado Quando o teste do pezinho vem alterado: Convocamos os pais e irmãos para que seja feita a coleta de exames (eletroforese), e eles sejam encaminhados para o centro de referência de hemoglobinopatias. Em Presidente Prudente: Encaminhamos para o ambulatório da Dra Elza, e ela faz uma triagem do que é doença e do que não é. O que não for doença fica no ambulatório, porque vamos fazer a eletroforese de hemoglobina desse bebê com 6 meses de vida. O que for doença, ela encaminha para o ambulatório da Dra Danielle para dar seguimento ao paciente 3. DOENÇAS FALCIFORMES Precisamos entender que: Doença falciforme NÃO É anemia falciforme, elas são duas patologias diferentes Doença falciforme ENGLOBA um GRUPO de doenças que apresentam alterações na hemoglobina. Anemia falciforme é um TIPO DE DOENÇA FALCIFORME, ou seja, está englobada nesse grupo. Lembrar da frase: Toda anemia falciforme é uma doença falciforme, mas nem toda doença falciforme é uma anemia falciforme. Como caracterizamos a doença falciforme? Ela é QUALQUER apresentação clínica SINTOMÁTICA, consequente a presença do gene da hemoglobina S em homozigose, ou combinado com outras alterações da hemoglobina (SC, SD, associação S-beta-talassemia) Podemos ter as seguintes apresentações da doença falciforme: Hemoglobinopatia SS (homozigota) ANEMIA FALCIFORME Hemoglobinopatia com outras alterações: SC, SD, associação S-beta-talassemia (heterozigotas) 4. ANEMIA FALCIFORME A anemia falciforme ocorre quando temos uma alteração genética pontual, ou seja, temos a troca do ácido glutâmico pela valina na posição 6 da cadeia beta da hemoglobina, levando a alterações físico-quimicas da hemoglobina. Algumas situações de estresse (hipóxia, desidratação, infecção) fazem com que a hemácia sofra uma polimerização, e consequentemente teremos uma alteração do formato da hemácia (antes era bicôncava, e passa a ser de foice), e esse novo formato causa maior obstrução vascular, levando a fenômenos isquêmicos. Quando a hemácia tem formato bicôncavo, isso facilita sua passagem na microvasculatura, mas a hemácia em formato de foice tem muita dificuldade em passar por esses vasos. 4.1. FISIOPATOLOGIA DA ANEMIA FALCIFORME Na anemia falciforme temos uma anemia hemolítica crônica com fenômenos de vaso-oclusão. A hemoglobina S possui características peculiares, sendo que em situações com queda da pressão de O2 (como as situações de estresse ditas anteriormente), ocorre a formação de polímeros de hemoglobina, sendo que esse fenômeno progride com a redução da saturação de O2, até que ocorra a mudança da forma da hemácia (falcização) Exames que pedimos para verificar anemia hemolítica: Hemograma (hemoglobina): Diminuição (anemia) Reticulócitos: Aumentados Como teremos destruição da hemácia e consequentemente da hemoglobina nas periferias, a medula entende que precisa produzir e liberar mais células sanguíneas, e como não há tempo para que elas células se tornem maduras, a medula as libera como reticulócitos (células jovens) Bilirrubina indireta: Aumentada Devido à hemólise Desidrogenase lática Haptoglobina Maria Beatriz Machado 4.2. TESTE DO PEZINHO NA ANEMIA FALCIFORME Resultado: F > S Não temos hemoglobina A1 Hemoglobina A2 normal Hemoglobina F normal ou aumentada Quanto mais hemoglobina fetal temos, melhor é Hemoglobina S > 50% Quanto mais hemoglobina S temos, pior é 4.3. COMO PODE NASCER UMA CRIANÇA COM ANEMIA FALCIFORME? Caso o pai e mãe tenham traço falciforme (AS): 25% normal 50% com traço falciforme 25% com anemia falciforme Caso o pai tenha anemia falciforme (SS) e a mãe tenha traço falciforme (AS): 50% com traço falciforme 50% com anemia falciforme Caso o pai tenha anemia falciforme (SS) e a mãe seja normal (AA): 100% com traço falciforme 4.4. MANIFESTAÇÕES DA ANEMIA FALCIFORME Dividimos as manifestações em dois grupos: Manifestações agudas: Infecções Sequestro esplênico Crise álgica Priapismo AVC Crise aplástica Síndrome torácica aguda Manifestações crônicas: Úlceras em membros inferiores Necrose asséptica da cabeça do fêmur Retinopatia e glaucoma Insuficiência renal e proteinúria Colecistopatia crônica calculosa Hepatopatia Cardiopatia 4.4.1. QUADRO CLÍNICO Os primeiros sintomas começam geralmente após o 6º mês de vida, sendo a síndrome mão-pé o primeiro deles (falaremos dela abaixo). A gravidade das manifestações é diretamente proporcional às concentrações de hemoglobina S, ou seja, QUANTO MAIOR A QUANTIDADE DE HEMOGLOBINA S, MAIOR A GRAVIDADE DAS MANIFESTAÕES Maria Beatriz Machado 4.4.2. MANIFESTAÇÕES AGUDAS 4.4.2.1. SÍNDROME MÃO-PÉ É o 1º sintoma, e aparece por volta do 6º mês de vida. Ela ocorre porque no 6º mês temos a 1ª queda da hemoglobina fetal, e por isso a hemoglobina S aumenta, então consequentemente começamos a ter os fenômenos de vaso-oclusão. É caracterizada por uma dactilia isquêmica, causada pela vaso-oclusão. Podemos ter: Edema e dor em extremidades (mão e/ou pé) Com ou sem febre Teremos ainda hiperemia nas extremidades Ex: A mãe relata que o bebê ficou mais choroso, começou a apresentar edema de mão e/ou pé associado a febre. Geralmente essa criança é trazida ao pronto-socorro Tratamento: Medidas locais: Compressas quentes Analgesia do paciente Se o paciente estiver pálido ou com esplenomegalia: Devemos colher hemograma e verificarnecessidade de transfusão de acordo com a anemia. Geralmente as medidas locais e analgesia controlam a síndrome mão-pé. OBS: Como podemos medir a dor na criança? Nos bebês podemos ver através da fácies Nas crianças maiores conseguimos mostrar tabelas com emoções faciais e podemos pedir para que ela aponte para como está se sentindo Nos escolares que conseguem contar, podemos pedir para que falem qual o nível de sua dor de 0 a 10 (explicando que 10 é muito forte, e 0 não é nada) 4.4.2.2. INFECÇÕES São a principal causa de mortalidade na infância Precisamos lembrar que os pacientes com anemia falciforme terão uma esplenia funcional, ou seja, o baço não funciona corretamente. Além disso, esses pacientes possuem um déficit na opsonização bacteriana e alteração do sistema complemento, e portanto não conseguem fazer a defesa adequada do organismo Funcionam como os pacientes imunodeprimidos. Maria Beatriz Machado Esses pacientes podem evoluir muito rápido para choque séptico e morte. O paciente deve ser orientado a procurar atendimento médico SEMPRE que apresentar febre Quando examinarmos a criança com anemia falciforme que estiver com febre, e não encontrarmos nenhum foco de infecção, devemos pedir PELO MENOS um hemograma para verificar. Se ela tiver sintomas respiratórios, vamos pedir hemograma e raio-x de tórax, se ela tiver sintomas urinários, devemos pedir hemograma, urina 1 e urocultura. Principal agente causador de infecção nas crianças (tanto saudáveis quanto com anemia falciforme): Streptococcus pneumoniae (pneumococo) Principal agente causador de osteomielite na criança com anemia falciforme: Salmonella Principal agente causador de osteomielite na criança saudável: Staphylococcus aureus Todos os pacientes com anemia falciforme recebem profilaxia contra pneumococo até os 5 anos de vida: Penicilina V oral 12/12h todos os dias até os 5 anos de vida Qual tipo de antibiótico vamos utilizar para essas crianças em caso de infecção? Depende do tipo de infecção que a criança estiver apresentando. 4.4.2.3. CRISE ÁLGICA É a manifestação mais comum Causada por lesão tecidual isquêmica Hemácia em formato de foice obstrui o vaso causando lesão tecidual. Pode ser simétrica ou assimétrica, migratória ou fixa É MUITO importante saber disso porque muitas vezes esses pacientes chegam ao PS com dor no ombro, e depois de poucos minutos ela migra, por exemplo, para o joelho, quadril, etc. Pode estar associada a edema e calor no local, e febre (sem que haja infecção) Locais de acometimento: Nas crianças menores: Acomete extremidades (membros) Nos adolescentes: Axial (esterno, costelas, vértebras) Fatores desencadeantes: Infecção, desidratação, hipóxia, variação de temperatura Lembrar dos fatores de estresse para o organismo que a Dra explicou no início da aula. Na crise álgica o paciente pode iniciar com a dor, e ela pode demorar até 96h para atingir um pico, e de 48 – 72h para diminuir a dor. NÃO adianta dispensar o paciente e manda-lo para casa, porque ele vai voltar. Devemos fazer a escala da dor no paciente Tratamento: Devemos perguntar para a mãe quais medicamentos para dor ela já deu em casa (porque não vai adiantar fazermos as mesmas medicações por via oral no hospital). NÃO é necessário realizar expansão de volume no paciente: Só devemos dar soro caso a causa da crise álgica seja desidratação. Temos diversos esquemas de analgesia, e podemos utilizar: Morfina, codeína.. (depende do que ele já usou e da sua resposta aos analgésicos). Evitamos utilizar anti-inflamatórios porque a longo prazo essas crianças terão alteração renal secundária à anemia falciforme Maria Beatriz Machado 4.4.2.4. SEQUESTRO ESPLÊNICO É a segunda causa de morte, e tem maior incidência entre os 6 meses e 3 anos de vida Caracteriza-se pela retenção de uma parte da volemia no baço, e como isso ocorre, o paciente chega ao hospital com sinais de choque hipovolêmico. Quadro clínico: Palidez súbita Sinais de hipovolemia Esplenomegalia (bem acentuada) Queda da Hb Reticulocitose. Pode estar com taquicardia, taquipneia, má perfusão, hipotensão Tratamento na sala de emergência: Monitorização do paciente: Oxímetro de pulso, monitor cardíaco, acessos venosos calibrosos Precisamos dar volume para esse paciente, porque até pedirmos exames de tipagem sanguínea vai demorar muito, e o paciente pode ir a óbito. Então damos volume, e algumas vezes se faz necessário o uso de drogas vasoativas. Após a primeira crise de sequestro esplênico, há reincidência em 50% No momento da emergência NÃO TEMOS indicação de realizar esplenectomia A esplenectomia é indicada após duas crises de sequestro esplênico EX: Mãe traz criança ao pronto-socorro dizendo que ela estava bem, e de repente começou a ficar pálida, cansada e que houve aumento do baço (por isso a importância de ensinar os responsáveis pela criança a palpar o baço). 4.4.2.5. PRIAPISMO Consiste na ereção peniana persistente, dolorosa e involuntária, podendo evoluir para disfunção erétil Ocorre devido à congestão dos corpos cavernosos e/ou corpo esponjoso do pênis Pode ser aguda com duração de horas, ou crônica com ereções repetitivas Tratamento: Analgesia Colher hemograma para ver o valor da hemoglobina Se a hemoglobina estiver baixa: Transfusão de concentrado de hemácias Se estamos dando hemácias sem alteração, estaremos diminuindo a hemoglobina S do paciente Se a hemoglobina estiver normal: Podemos ainda fazer “sangria” Retiramos sangue do paciente, e damos soro no lugar, para assim diminuir a hemoglobina S Podemos fazer punção dos corpos cavernosos e/ou esponjoso (pode melhorar a ereção). 4.4.2.6. ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO É uma das complicações mais graves Porém é algo que não acontece com frequência. Acomete grandes vasos (artéria carótida interna, artéria cerebral média e artéria cerebral anterior), e não apenas a microvasculatura Maria Beatriz Machado Em crianças: Principalmente isquêmico Em adolescentes: Principalmente hemorrágico Manifestações: Hemiparesia, hemianestesia, déficits visuais, afasia, alteração de pares cranianos, coma e convulsões A cefaleia é um achado comum nos pacientes falciformes e isoladamente não é preditiva de AVC. O Ministério da Saúde orienta que seja feito em TODAS as crianças dos 2 aos 16 anos o exame DOPPLER TRANSCRANIANO: Através desse exame é possível ver a velocidade dentro do vaso Essa velocidade demonstra se há risco de evolução com AVE Dependendo do resultado do exame, precisamos colocar o paciente em esquema de transfusão sanguínea mensal, para tentar diminuir a hemoglobina S. O problema da transfusão mensal é que vai haver acúmulo de ferro no organismo, e por isso muitas vezes precisamos utilizar em conjunto um medicamento quelante de ferro (deferasirox). Recorrem em até 67% dos pacientes cerca de 1 ou 2 anos se não tratados com programa de transfusões Podemos ter alta prevalência de sequela motora e cognitiva. Tratamento: Transfusão dependendo do valor da hemoglobina Sangria: Para tentar diminuir a hemoglobina S Depois da alta hospitalar do paciente que sofreu AVC, ele também será encaminhado para realizar esquema de transfusão mensal. 4.4.2.7. CRISE APLÁSTICA Consiste em aplasia da série vermelha por parada de maturação dos precursores eritróides É associada com infecção pelo Parvovírus B19 Quadro clínico: Pródromo de febre Cefaleia Exantema Além de sintomas como: Anemia, palidez, fraqueza e até sinais de cor anêmico O hemograma mostra: Anemia variada Discreta redução dos leucócitos e plaquetas Reticulocitopenia Na maioria das vezes é autolimitada, com duração de 5 a 10 dias Geralmenteesperamos para ver como o paciente vai evoluir. 4.4.2.8. NECROSE AVASCULAR Sinônimos: Osteonecrose ou necrose isquêmica Acomete cabeça do fêmur, úmero e corpos vertebrais Esses locais são os mais acometidos porque possuem uma nutrição sanguínea arterial limitada, e também uma escassa circulação colateral, sendo maior a chance de ocorrer vaso-oclusão. Maria Beatriz Machado Tratamento: Colher hemograma e verificar o valor de hemoglobina: Se a hemoglobina estiver baixa: Transfundir o paciente Se a hemoglobina estiver normal: Fazer sangria OBS: É importante lembrar disso porque caso chegue um paciente com anemia falciforme no PS alegando dor no quadril, precisamos pensar na possibilidade de necrose avascular, e pedir avaliação da ortopedia. 4.4.2.9. SÍNDROME TORÁCICA AGUDA Para ser considerado síndrome torácica aguda: O paciente precisa obrigatoriamente ter doença falciforme ou anemia falciforme, com quadro de dor torácica, sintomas respiratórios, febre, e nova imagem no raio-x de tórax. É difícil diferenciar esse quadro de síndrome torácica aguda do quadro de pneumonia, porque além do quadro clínico ser muito semelhante, o quadro radiológico também é. SE o paciente chegar com DOR TORÁCICA + SINTOMA RESPIRATÓRIO = Tratar como síndrome torácica aguda É uma manifestação GRAVE e precisamos intervir o mais rápido possível. Pode ser causada por: Infecção, infarto pulmonar ou embolia gordurosa Manifestações clínicas: Dispneia Tosse Taquipneia Cianose Dor torácica aguda Febre Hipoxemia Tratamento: Colher hemograma Colher exames para verificar hemólise (DHL, bilirrubina) Colher hemocultura Encaminhar para UTI Fazer raio-x de tórax Entrar com: Antibiótico de amplo espectro (Ceftriaxone + Oxacilina + Claritromicina) Com essa combinação conseguimos cobrir Streptococcus, Staphylococcus e germes atípicos Transfusão sanguínea o mais rápido possível (ou fazer a sangria terapêutica dependendo do valor de hemoglobina) Para diminuir a quantidade de hemoglobina S. OBS: Alguns estudos demonstram que mesmo que esse paciente não esteja em broncoespasmo, o uso de broncodilatadores ajuda a melhorar a saturação de oxigênio. 4.4.3. MANIFESTAÇÕES CRÔNICAS – São vistas a longo prazo (no adulto) 4.4.3.1. COMPLICAÇÕES RENAIS Ocorrem alterações anatômicas e fisiológicas, levando a proteinúria, hematúria e insuficiência renal Mais comum em adultos Maria Beatriz Machado Quadro clínico: Nictúria e enurese noturna Uma vez por ano devemos colher a proteinúria de 24 horas das crianças com doença falciforme e fazer acompanhamento para verificar como está a parte renal. 4.4.3.2. COMPLICAÇÕES OSTEOARTICULARES A principal complicação é a osteomielite. Nas crianças com doença/anemia falciforme, a osteomielite é causada principalmente por SALMONELLA Nas crianças saudáveis, a osteomielite é causada principalmente por Staphylococcus Também pode ser ocasionada por staphylococcus e pneumococos Quando desconfiar de osteomielite: Paciente falciforme com febre persistente sem encontrarmos foco Diagnóstico: Raio-x Deformidades nos corpos vertebrais são encontrados Podemos fazer também cintilografia 4.4.3.3. COLECISTOPATIA CRÔNICA CALCULOSA A litíase biliar ocorre em 14% das crianças menores de 10 anos e em 30% dos adolescentes Os cálculos são múltiplos e em 60% radiopacos Podem ser assintomáticos por muito tempo A cada 6 meses ou 1x no ano, devemos fazer US de abdome nas crianças com doença falciforme para triar se há colecistopatia. É preferencial a retirada eletiva Precisamos transfundir, depois anestesiar e depois retirar. 4.4.3.4. COMPLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS Os fenômenos vasoclusivos causam alterações na retina: Oclusões arteriolares periféricas Hemorragias vítreas Descolamento de retina Tratamento: É específico e deve ser imediato Se estivermos em um serviço onde há oftalmologia, devemos pedir avaliação urgente, porque o paciente pode ficar cego. Colher hemograma e verificar valor da hemoglobina: Se a hemoglobina for baixa: Transfusão Se a hemoglobina for normal: Exsanguíneo 5. RESULTADO DO TESTE DO PEZINHO E ELETROFORESE DOS OUTROS TIPOS DE HEMOGLOBINOPATIA 5.1. HEMOGLOBINOPATIA SC Doença falciforme: Heterozigoto Gravidade intermediária: Esplenomegalia, crises vaso-oclusivas raras, dor óssea/abdominal Teste do pezinho: F > S > C Eletroforese: A1 não tem S > 50% C 39% A2 normal (< 3,5%) F discretamente aumentada (2,7%) Maria Beatriz Machado 5.2. HEMOGLOBINOPATIA SB (S-beta-talassemia) Gene S associado ao gene da beta-talassemia Ausência de cadeia beta normal Quadro clínico: Semelhante ao da anemia falciforme Teste do pezinho: F > S Eletroforese: A1 não tem S > 50% A2 aumentada (> 3,5%) F aumentada (> 1,5%) 6. OBSERVAÇÕES FINAIS Traço falciforme traz sintomas para o paciente? NÃO, porém precisamos fazer orientação genética desse paciente, explicando que quando ele for ter filhos, ele precisa colher e fazer eletroforese de hemoglobina do parceiro (a). Precisamos sempre orientar esses pacientes que a cada nova gestação, caso seja do mesmo parceiro(a), existe a MESMA porcentagem de chance de ter filhos com traço/anemia, porque esses pacientes tem tendência de achar que caso eles tenham um filho com anemia falciforme, na próxima gestação a chance diminui. Precisamos SEMPRE encaminhar os pacientes com teste do pezinho alterado para o ambulatório de hematologia para o tratamento seja iniciado o mais precoce possível. Rotina de acompanhamento das crianças com teste do pezinho alterado: Realizar em todas as crianças até os 5 anos: Penicilina V oral Vacinação especial Até 1 ano de vida: Passar mensalmente no ambulatório Colher eletroforese de hemoglobina: Aos 6 meses, e repetir depois de 1 ano
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