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Habilidades Médicas | 2023 Protocolo de Asma → Abordagem da crise aguda na emergência • Definição - Asma é uma doença inflamatória crônica que cursa com hiper-reatividade brônquica e obstrução reversível das vias aéreas, caracterizada por exacerbações de dispneia, tosse, opressão torácica e sibilos. - A crise aguda de asma ocorre quando há uma piora significativa dos sintomas basais do paciente que usualmente requer mudança no tratamento habitual. Geralmente é desencadeada por infecções virais, exposição ocupacional ou a alérgenos ambientais. - O fator precipitante mais comum de exacerbação aguda de asma é a infecção viral, responsável por cerca de 80% dos casos. As infecções virais podem causar reação inflamatória prolongada nas vias aéreas com necessidade de uso de corticosteróide por período maior que 1 semana. • Quadro clínico - - Asma é caracterizada pela tríade clínica composta por dispneia, opressão torácica e sibilância, sendo pelo menos um desses sintomas relatado em 90% dos pacientes - Durante a avaliação do paciente com exacerbação aguda de asma deve-se realizar anamnese e exame físico direcionados. A história deve focar em gravidade dos sintomas, velocidade de aparecimento, possíveis fatores precipitantes, história de anafilaxia e especial atenção aos fatores associados com risco de evolução desfavorável (Tabela 2). - - - O exame físico na exacerbação é importante não só para o diagnóstico (Tabela 3), mas também para avaliação da gravidade do episódio (Tabela 4). - - Nos casos leves, o exame físico pode estar praticamente normal, à exceção dos sibilos expiratórios, que são frequentes. Nos casos graves, o paciente pode apresentar agitação, fala entrecortada, uso de musculatura acessória, retrações e silêncio pulmonar à ausculta. Gabriela de Oliveira | T3 | 8º período 1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786555765977/epub/OEBPS/xhtml/chapter045.xhtml?favre=brett#tab45-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786555765977/epub/OEBPS/xhtml/chapter045.xhtml?favre=brett#tab45-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786555765977/epub/OEBPS/xhtml/chapter045.xhtml?favre=brett#tab45-4 Habilidades Médicas | 2023 Resumidamente devemos na avaliação de todos os pacientes com exacerbação aguda de asma: ■ Realizar história e exame físico dirigidos e rápidos. ■ Tentar estimar gravidade dos sintomas, limitação em atividades. ■ Avaliar se existem sintomas de anafilaxia. ■ Verificar se existe a presença de fatores preditores de exacerbação aguda grave (Tabela 2). ■ Verificar medicações em uso. ■ Avaliar sinais vitais, nível de consciência, presença de cianose, capacidade de falar, esforço respiratório. ■ Verificar se existe a presença de condições complicadoras como pneumonia, atelectasia e pneumotórax, entre outras. • Exames complementares - Poucos exames complementares são necessários, ajudammais na classificação da gravidade. O diagnóstico de exacerbação aguda de asma é clínico. - Gasometria arterial: indicada se saturação de oxigênio < 93% ou sinais de insuficiência respiratória. - Prova de função pulmonar ou aferição do pico de fluxo (peak-flow): indicada para todos os pacientes com exacerbação aguda de asma no DE. Os pacientes são reavaliados constantemente com peak-flow (idealmente a cada hora) para verificar necessidade de modificação no plano terapêutico ou possibilidade de alta hospitalar. - Radiografia de tórax: deve ser solicitado quando o quadro clínico sugerir processo infeccioso, insuficiência cardíaca ou pneumotórax, em pacientes com necessidade de internação e pacientes sem melhora esperada com o tratamento. Na crise de asma, pode evidenciar sinais de hiperinsuflação pulmonar, retificação de cúpulas diafragmáticas, aumento dos espaços intercostais e do diâmetro ântero-posterior do tórax. Gabriela de Oliveira | T3 | 8º período 2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786555765977/epub/OEBPS/xhtml/chapter045.xhtml?favre=brett#tab45-2 Habilidades Médicas | 2023 - Hemograma: costuma ser normal na crise de asma, a menos que seja desencadeada por pneumonia. O uso de corticóides pode elevar a contagem de leucócitos; indicado para pacientes febris com expectoração purulenta - Eletrólitos: indicados para pacientes com necessidade de internação. • Tratamento → OXIGÊNIO: - Manter a saturação de oxigênio > 92%. - Em crianças e em gestantes o objetivo é saturação arterial periférica de oxigênio acima de 95% - Não é necessário oxigênio em pacientes com saturação de oxigênio adequada e sem desconforto respiratório. → ANTIBIÓTICO: - Não são indicados de rotina. - Avaliar individualmente nos pacientes com febre, tosse produtiva e dor pleurítica, após realização de radiografia de tórax. → CORTICÓIDE: - Via oral e via endovenosa com eficácia semelhante. - Início de ação a partir de 4-6 horas. - Prednisona 1mg/kg até 40-60mg por 5-7 dias. - Metilprednisolona 40mg 2-3x/dia se VO indisponível. - Considerar desmame gradual nos casos mais grave (p. ex. IOT/VM). - Todos os pacientes na alta hospitalar devem receber corticosteroide por via oral por 5 a 7 dias, pois o processo inflamatório que causa a exacerbação aguda de asma têm geralmente essa duração, e a retirada do corticoide é associada com piora dos sintomas. Não é necessário desmame de glicocorticóide em pacientes que o utilizaram por períodos menores do que 3 semanas. - Os corticosteroides inalatórios têm pouca evidência de benefício na emergência. No momento da alta, a prescrição de corticoides inalatórios para uso a longo prazo é benéfica, pois os corticoides inalatórios estão indicados para todos os pacientes com asma ambulatorialmente independente da gravidade. Corticosteróides intramusculares de longa duração como a betametasona podem ser considerados em pacientes com histórico de má-aderência. → BRONCODILATADOR: via preferencial SEMPRE é a inalatória! - B2 adrenergico (fenoterol ou salbutamol 5mg/mL) 10 a 20 gotas em 3- 5mL SF 0,9% + 40 gotas de brometo de ipratrópio (anticolinérgico). - Iniciar com 1 inalação a cada 20 minutos, por 3 doses (a administração pode ser repetida até três vezes dentro da primeira hora após a apresentação, eu faço 3x não importa se o paciente já melhorou ou não) ; posteriormente, as doses devem ser espaçadas com um período mínimo entre inalações de 1 hora.) - Dose de manutenção depende da gravidade. Se for em aerossol / puff: - Quatro a oito puffs de salbutamol podem ser administrados a cada 20 minutos e depois a cada 1 a 4 horas, conforme necessário. - Em aerossol, a dose usual de ipratrópio é de 2 a 3 puffs (400 a 600 µg) com intervalo de 3 a 8 horas. - B2 adrenérgico pode ser realizado até de forma contínua, observando-se efeitos colaterais: tremores, palpitações, taquicardia, hipocalemia. Intervalo usual em casos leves: 6/6 horas. Em casos graves, de 3/3 horas ou até de 1/1 hora. Aumentar intervalo à medida em que o paciente melhore do broncoespasmo. - Deve-se pontuar que a combinação de anticolinérgicos com beta-agonistas adrenérgicos é recomendada em todas as inalações e em pacientes com exacerbação aguda grave de asma, definida por VEF1 < 60%, e está associada à diminuição de internação hospitalar. → Anticolinérgico: no máximo de 6/6 horas (sem benefício adicional acima disso). - Pode ser utilizado spray dosimetrado, com ou sem espaçador. São utilizados 4 jatos por dose. Gabriela de Oliveira | T3 | 8º período 3 Habilidades Médicas | 2023 - Terbutalina ½ (meia) a 1 ampola (0,25-0,5mg) SC no máximo a cada 6 horas. Utilizada em casos críticos ou quando a biodisponibilidade via inalatória não é adequada (p. ex. silêncio pulmonar). Preferir via IM se instabilidade hemodinâmica (má absorção SC). Usa mais em paciente que chega em silêncio, sem MV, sem sibilo. - Adrenalina: uso desencorajado devido aos efeitos colaterais indesejáveis, particularmente arritmias e isquemia miocárdica, especialmente se aplicado via endovenosa. Pode ser útil nas crises de asma associadas a anafilaxia ou angioedema. Via IM ou SC, a dose recomendada é 0,3 a 0,5mg → SULFATO DE MAGNÉSIO- Reservado para casos graves, sem resposta às medidas iniciais. - Antagoniza o cálcio no músculo liso, promovendo broncodilatação. - MgSO4 1 a 2g dose única. MgSO4 10% – 10 a 20ml + SF 0,9% 100ml, correr em 30 minutos - Não é recomendado uso no tratamento de manutenção. Os pacientes que se beneficiam de sulfato de magnésio são aqueles com: ■ VEF1 < 30%. ■ Falha em responder à terapêutica inicial. ■ VEF1 < 60% semmelhora após 1ª hora de tratamento. → METILXANTINAS (aminofilina ou teofilina): - Não têm indicação do seu uso no tratamento da crise aguda de asma Ventilação não invasiva (VNI). - Sem evidência de redução de mortalidade Indicações: - Acidose respiratória (pH ≤ 7,35 e/ou pCO2 ≥ 45mmHg). - Dispneia severa com sinais de fadiga muscular, uso de musculatura acessória, movimento abdominal paradoxal ou retração intercostal. Contra indicações: - Instabilidade hemodinâmica. - Secreção excessiva. - Vômitos. - Rebaixamento do nível de consciência. * Paciente deve ser reavaliado entre 30-120min. Se não houver melhora de parâmetros como FR, tiragem, uso de musculatura acessória, hipoxemia, não se deve postergar a intubação orotraqueal. → VENTILAÇÃO MECÂNICA: - Indicada na falha de VNI. - Promove repouso da musculatura respiratória, melhora da troca gasosa, redução da hiperinsuflação pulmonar e redução do consumo de oxigênio. - Nos casos refratários, pode-se tentar quetamina ou propofol como sedativos pelo seu efeito broncodilatador. - Parâmetros ventilatórios - vide protocolo específico. CASOS GRAVES DEVEM RECEBER ALTA COM PRESCRIÇÃO DO TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO, PELO MENOS CORTICÓIDE INALATÓRIO Gabriela de Oliveira | T3 | 8º período 4 Habilidades Médicas | 2023 Exacerbação aguda de asma. FC: frequência cardíaca; IOT: intubação orotraqueal Gabriela de Oliveira | T3 | 8º período 5
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