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AULA 4 GESTÃO DEMOCRÁTICA Profª Cristhyane Ramos Haddad 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, aprofundaremos nossos estudos sobre a participação da comunidade na gestão democrática da escola. Essa gestão ocorre de forma colegiada, envolvendo a participação de professores, funcionários, pais, estudantes e equipe diretiva da escola. Fazem parte dos órgãos colegiados da escola pública os Conselhos Escolares, o órgão máximo de gestão da escola; as Associações de Pais e Professores e os Grêmios Estudantis. Cada um desses órgãos tem suas funções definidas e um estatuto próprio, que regulamenta seu funcionamento e suas atividades. Veremos também o quanto é importante a postura adotada pelo diretor da escola para que esses órgãos colegiados tenham papel ativo na gestão e possam efetivamente participar das tomadas de decisões. Além disso, estudaremos sobre o papel do pedagogo na articulação da gestão democrática da escola. TEMA 1 – CONCEITUANDO A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA De acordo com Paro (2006), não pode haver democracia plena sem pessoas democráticas para exercê-las. O trabalho realizado na escola é fundamentalmente coletivo e exige a abertura de todos ao diálogo. As decisões precisam ser discutidas coletivamente e devem envolver a participação de toda a comunidade escolar. Dessa forma, a gestão democrática é o processo que envolve a discussão, o planejamento e a busca coletiva de soluções; também envolve o acompanhamento e a avaliação do trabalho realizado. Segundo Souza (2006), esse processo precisa ser sustentado no diálogo e na alteridade, e tem como base a participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito às normas construídas coletivamente para os processos de decisão e o acesso às informações. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB), ou Lei n. 9. 394/96, a gestão democrática do ensino seguirá os seguintes princípios: I- participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II- participação das comunidades escolares e local em conselhos escolares ou equivalentes. 3 Seguindo os preceitos legais, a construção da proposta pedagógica da escola precisa ser coletiva, contando com a participação de todos os profissionais, e deve promover a participação da comunidade nas decisões importantes da escola por meio dos conselhos escolares. A gestão precisa ser um instrumento que venha a colaborar para a melhoria da qualidade do ensino, mas também é uma ação político-pedagógica balizada por alguns princípios, como democracia, igualdade, universalidade e laicidade. A gestão da escola precisa ser democratizada, pois a educação pública é um direito de todos os cidadãos. Ela deve ser universalizada de forma a atingir a todos, ou seja, é preciso que todos tenham assegurado seu direito de poder frequentar a escola. Por isso essa escola deve ser obrigatória e gratuita. A Constituição Federal assegura em seu art. 205 que a educação visará ao desenvolvimento da cidadania, o que garante que todos podem manifestar suas opiniões e participar da vida em comunidade. A LDB corrobora com a Constituição à medida que prevê que os sistemas de ensino deverão assegurar progressivos graus de autonomia às escolas. Essa autonomia se dará pela ampliação do diálogo e a participação das pessoas na gestão da escola e da educação pública. O diálogo é o princípio balizador da gestão democrática, e para que essa cultura democrática se estabeleça é necessário a clareza de que a educação é um direito de todos, e que, portanto, torna-se necessário superar a ideologia do mérito. É necessário também que a escola estatal seja compreendida como um serviço público. E tudo o que é público exige transparência em ações e procedimentos. É preciso prestar contas à comunidade sobre o trabalho realizado na escola, seja da esfera pedagógica, da qual é um direito dos pais conhecer a proposta pedagógica, o sistema de avaliação etc., seja na esfera administrativa e financeira, realizando prestação de contas de gastos e aplicação de verbas. Além do diálogo, outra questão que precisa ser exercitada dentro da escola é a alteridade, ou seja, o reconhecimento do outro como alguém que tem um ponto de vista diferente do seu, mas que precisa ser respeitado. Precisamos ensinar na escola para além dos conteúdos escolares o respeito às opiniões diferentes das nossas. Dessa forma, o diálogo e o respeito às opiniões diferentes das minhas constituem a base para qualquer processo democrático. O diálogo implica a busca do consenso, pois com certeza haverá sempre posicionamentos e ideias diferentes, mas é necessário ouvir todas elas e ao final da exposição o coletivo precisará buscar o caminho do consenso. As decisões precisam ser construídas 4 coletivamente. Isso implica aceitar a decisão do coletivo, mesmo que o que tenha sido decidido não faça parte dos meus desejos e ideias. Para se construir essa cultura democrática na escola será necessário superar a cultura autoritária muitas vezes enraizada nas relações do âmbito escolar. Para superação dessa cultura autoritária é preciso promover um diálogo em torno das relações de poder que estão estabelecidas. Tais relações de poder precisam ser superadas no cotidiano da escola e isso pressupõe uma nova perspectiva de trabalho, não mais centralizadora e autoritária, mas aberta ao diálogo e ao diferente. Isso pressupõe colocar o processo pedagógico como centro de todo o trabalho; pressupõe a superação do trabalho burocratizado e alienado, que não compreende o porquê das coisas e não questiona se o caminho adotado é o melhor caminho a seguir. O trabalho da educação numa perspectiva democrática é a autoemancipação, ou seja, promover o desenvolvimento de todas as capacidades e potencialidades humanas. Para saber pensar, observar, analisar, tirar suas próprias conclusões sobre as questões da vida, do trabalho, enfim do que se apresentar. É uma educação para a promoção humana em todas as suas potencialidades. Saber falar, saber ouvir, saber se posicionar, saber questionar, mas também saber colaborar, participar, dialogar, se colocar na posição do outro e compreender posições contrárias, buscar formas de resolver os problemas, isto é, saber viver em comunidade e respeitar a coletividade. TEMA 2 – O TRABALHO DO DIRIGENTE ESCOLAR E DO PEDAGOGO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA O trabalho do dirigente escolar é uma função essencialmente política. Ele é o responsável pela articulação pedagógica, administrativa e institucional do trabalho realizado na escola; é o coordenador do trabalho que está sendo realizado na escola, mas também representa o poder público à medida e que articula orientações e coordenadas recebidas das secretarias de educação com interesses e necessidades da escola que representa. A autonomia da escola é, portanto, algo a ser construído. Não existe autonomia decretada, que se conquiste por decreto ou lei. Existe, sim, uma autonomia que é conquistada e construída diariamente no contexto escolar e que é adquirida nas relações de respeito e compromisso com a educação e com o 5 trabalho público. O que envolve a discussão coletiva e o estabelecimento de metas e estratégias para se alcançar os fins desejados. Essas metas, objetivos e estratégias constituem o plano de ação da escola, que faz parte e integra o projeto político-pedagógico no que se costuma denominar como marco operacional e está ligado às ações que serão realizadas pela comunidade escolar naquele ano letivo. Esse plano não pode ser elaborado exclusivamente pelo diretor da escola em sua sala; ele precisa ser debatido e construído coletivamente. O que dará autenticidade a esse plano é justamente o fato de ele ter sido construído pelo coletivo escolar sob a coordenação do diretor da escola. A equipe dirigente, formadapelo diretor e por pedagogos, tem a tarefa de assumir a articulação do trabalho coletivo para atingir determinados objetivos educacionais. Essa articulação do trabalho coletivo envolve construção e efetivação do projeto político-pedagógico, reflexão, acompanhamento ao trabalho pedagógico realizado e avaliação das ações executadas. O planejamento é peça fundamental na articulação do trabalho pedagógico e a publicização das intenções da equipe dirigente. Essas intenções de trabalho precisam ser debatidas com o coletivo escolar. Portanto é preciso compreender o papel político do dirigente escolar, ao passo que ele requer sempre uma tomada de posição. O trabalho da equipe dirigente precisa ser publicizado, ou seja, todos precisam ter conhecimento das ações que serão tomadas, o que envolve o planejamento participativo do trabalho. Cabe à equipe dirigente organizar o trabalho de todos os profissionais da escola e articular esse trabalho com os pais e alunos. Essa ação política de coordenação do trabalho da escola numa perspectiva de gestão democrática envolve o gerenciamento de conflitos e o encaminhamento de ações para a resolução dos problemas, sempre tendo como foco o trabalho pedagógico. Além da dimensão política, também há uma dimensão técnica do trabalho, a qual exige conhecimentos técnicos para o exercício da sua função de diretor. Há, inclusive, a discussão de qual seria o processo mais adequado para ocupar a função de diretor da escola: por eleições diretas, concurso público ou mediante prova de conhecimentos sobre a função. Sobre essa questão, Souza (2006) explicita que a escolha do diretor é um processo que interessa a toda a comunidade, por isso todas as pessoas ligadas à escola precisam participar: pais, alunos, professores, funcionários, pedagogos. O autor explicita também que ela 6 não deve exceder o período de dois mandatos, para que outras pessoas também tenham a oportunidade de experienciar a função da direção da escola e construir uma nova experiência na educação. É fundamental destacar que a centralidade do trabalho do diretor da escola deve ser no âmbito pedagógico, no acompanhamento à função educativa que é a razão de ser da escola. As funções administrativas de seu trabalho que envolvem preenchimentos de relatórios e planilhas e as funções financeiras que envolvem a administração de recursos financeiros que têm sido destinados à escola por meio de programas de descentralização financeira não podem tomar o foco principal, que como dissemos precisa ser em cima do trabalho pedagógico. O pedagogo é o articulador do trabalho pedagógico realizado com o professor em sala de aula, e isso envolve o processo de ensino-aprendizagem e o trabalho com o conhecimento. Envolve também a articulação com os alunos, seus pais e familiares. A função social da escola é garantir a apropriação do conhecimento ao aluno. Dessa forma está essencialmente ligada ao processo de ensino-aprendizagem. O trabalho do pedagogo é realizar o planejamento dessas ações e articulá-las juntos a professores, alunos e famílias. Portanto, seu trabalho está essencialmente ligado ao tripé professor/aluno/conhecimento. TEMA 3 – OS CONSELHOS ESCOLARES E A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA Os conselhos escolares foram implantados por meio do inciso VI, do art. 206 da Constituição Federal de 1988, que garante a organização democrática do ensino público e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n. 9.394/96, a qual estabelece os princípios da gestão democrática do ensino público. Os conselhos escolares são formados por representantes de cada segmento escolar (professores, funcionários, equipe pedagógica e pais). Eles são órgãos colegiados que representam a comunidade escolar, o local definindo na coletividade e as ações que serão tomadas pela escola no campo administrativo, financeiro e pedagógico. Os conselhos escolares, grêmios estudantis e associações de pais e mestres sãos órgãos colegiados na escola e constituem instrumentos da gestão democrática dentro da escola. A gestão colegiada implica saber escutar todos os envolvidos no processo pedagógico; implica colocar em pauta todos os assuntos importantes para serem discutidos coletivamente. O conselho escolar é um órgão 7 consultivo, deliberativo, avaliativo e fiscalizador no processo de gestão democrática. É consultivo pois tem função emitir pareceres apresentando sugestões ou soluções; deliberativo pois refere-se ao processo de tomada de decisões sobre o funcionamento da escola e da organização do trabalho pedagógico; avaliativo pois refere-se ao acompanhamento do trabalho pedagógico e à melhoria do ensino-aprendizagem; fiscalizador pois refere-se ao acompanhamento e à fiscalização das ações pedagógicas, administrativas e financeiras. A principal participação do conselho escolar está ligada à essência do trabalho escolar, ou seja, acompanhar o processo pedagógico e a prática educativa que envolve o ensino-aprendizagem. Como responsável pelo acompanhamento ao processo pedagógico ele participa da elaboração do projeto político-pedagógico da escola e acompanha o desenvolvimento do trabalho. Nesse trabalho de participação, a primeira coisa a se fazer é definir que tipo de escola se quer e que tipo de trabalho educativo a escola deve realizar. Uma escola que irá colaborar para a manutenção do sistema que está posto ou uma escola que irá colaborar para a transformação, com ensino crítico que promova reflexão, discussão, análise e debate. A função do conselho escolar é, portanto, político-pedagógica e tem por função conhecer a realidade e indicar os caminhos. O trabalho na escola envolve aprender a trabalhar com as diferenças, sejam elas de quaisquer naturezas. O importante é instituir na escola uma cultura de respeito às diferenças, isso significa considerar que nem todos pensam ou aprendem da mesma forma, ou precisam ter a mesma cor de pele ou tipo de cabelo. Significa considerar que é necessário incluir a todos, porque todos são importantes para a coletividade. O trabalho do conselho escolar se fundamenta nos seguintes pressupostos: educação como direito de todo o cidadão; direito ao acesso e à permanência de todos os estudantes no ensino público; universalização e gratuidade da educação básica como dever do estado; construção da qualidade da educação pública; qualidade do ensino num projeto democrático de escola pública; trabalho pedagógico numa perspectiva emancipadora e organizado numa dimensão coletiva; democratização da gestão escolar; gestão democrática como ação que privilegia transparência, cooperação, responsabilidade, respeito, diálogo da organização do trabalho escolar (Paraná, 2008, p. 11). 8 De acordo com o documento Subsídios para a Elaboração do Estatuto do Conselho Escolar, da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, o diretor do estabelecimento de ensino será membro nato do conselho escolar. Poderão participar do conselho escolar profissionais da escola: professores, equipe pedagógica e funcionários; comunidade: grêmio e ou alunos, pais de alunos, Associação de Pais, Mestre e Funcionários (APMF). E como são organizadas as reuniões do conselho escolar? As reuniões podem ser ordinárias ou extraordinárias, mas sempre contando com pauta previamente divulgada a toda a comunidade escolar. São presididas pelo diretor da escola e os assuntos da pauta são colocados em discussão para votação. O conteúdo de toda a reunião é registrado em ata própria e assinado pelos representantes dos diferentes segmentos. É muito importante o diretor da escola estimular a participação da comunidade/pais nas reuniões do conselho escolar e atuar na formação dos representantes para que compreendam o sentido da representatividade. Para as reuniões não se deve levar opiniões particulares e individuas de cada um, mas a síntesedas discussões realizadas com o segmento que representa. TEMA 4 – GESTÃO FINANCEIRA DESCENTRALIZADA: NOVAS DEMANDAS PARA A ESCOLA PÚBLICA A LDBEN n. 9.394/96 estabelece a organização do sistema de ensino no país e as competências de cada ente federado. Segundo o art. 21 da referida lei, a educação escolar é composta pela educação básica (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio) e pela educação superior. A referida lei define competências e responsabilidades de cada ente federado (União, estados, Distrito Federal e municípios), e destaca ainda que os entes federados deverão se organizar em regime de colaboração e organizar seus respectivos sistemas de ensino. A União financiará as instituições públicas federais; os estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio; os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. Essa política tem sido denominada de descentralização, pois transfere responsabilidades para os diferentes entes federados e sistemas de ensino. Segundo Souza (2006), a política de descentralização apresenta deferentes facetas: a primeira diz respeito à transferência de responsabilidade 9 entre os diferentes níveis do governo, a segunda pela transferência de responsabilidade para a escola. Essa política de descentralização também impactou o trabalho da escola, que passou a assumir uma série de responsabilidades que até então não eram de sua competência. Por outro lado, o autor argumenta que a gestão democrática a partir da descentralização do Estado e da autonomia da escola veio fortalecer os conselhos escolares e o planejamento participativo. Estudaremos como essa política está organizada nos próximos itens. Como explicado anteriormente, o sistema educacional brasileiro está organizado pela divisão de competências e responsabilidades entre União, estados, Distrito Federal e municípios – isso no que diz respeito tanto ao financiamento da educação como à manutenção dos estabelecimentos de ensino. A Lei Orçamentária estipula que todas as receitas destinadas à educação e todas as despesas que serão realizadas devem estar previstas no orçamento da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. É muito importante que haja integração entre as secretarias estaduais e municipais no planejamento desse orçamento para a educação. A Constituição Federal de 1988 estipula que se deve destinar determinado percentual de recursos financeiros para aplicar na Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE). A União deve destinar 18% dos recursos resultantes de impostos e os estados, o Distrito Federal e os municípios nunca menos de 25% da receita dos impostos. De acordo com a LDBEN n. 9.394/96: Art. 68.Serão recursos públicos destinados à educação os originários de: I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - receita de transferências constitucionais e outras transferências; III - receita do salário-educação e de outras contribuições sociais; IV - receita de incentivos fiscais; V - outros recursos previstos em lei. A receita para Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE) pode ser utilizada da seguinte forma: remuneração e aperfeiçoamento dos profissionais da educação; aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino; uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino; aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar; levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino; concessão de bolsas de estudos a alunos de escolas públicas e privadas. 10 Em 2007, em substituição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), ampliando o atendimento não apenas para o ensino fundamental, mas para toda a educação básica. O Fundef foi criado pela Emenda Constitucional n. 14, de 24 de dezembro de 1996, e foi implantado em 1998. Tinha por objetivo a universalização do ensino fundamental e a remuneração condigna ao magistério. Os recursos eram destinados ao ensino fundamental público e a distribuição dos recursos era realizada automaticamente, de acordo com o número de alunos matriculados em cada rede do ensino fundamental, de forma que a responsabilidade pelo financiamento fosse partilhada entre o governo estadual e os governos municipais. Com o Fundeb, discussões foram desencadeadas tendo em vista a formulação de propostas de implantação de uma política de financiamento que atendesse a educação básica em todas as suas etapas e modalidades, e não apenas o ensino fundamental. Recentemente, a Emenda Constitucional n. 108, de 26 de agosto de 2020, tornou permanente o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. A LDBEN estabelece que o custo mínimo por aluno deve ser capaz de assegurar ensino de qualidade. Ocorre que a demanda pelo ensino escolar nos diversos níveis e modalidades é crescente, e a qualidade pretendida requer ampliação dos recursos a serem destinados à educação, considerando sobretudo a especificidade de cada nível ou modalidade. O debate sobre esse tema tem avançado com a discussão do Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) para cada nível e modalidade de educação, levando em conta a necessária ampliação da jornada escolar (Libâneo, 2012). A democratização do ensino exige o financiamento adequado para atender às necessidades da escola. Além do que é indispensável, a participação da comunidade no acompanhamento e na fiscalização da aplicação dos recursos públicos destinados à educação. O conselho escolar é o órgão responsável por aprovar o plano de aplicação de verbas da escola e acompanhar o uso desses recursos. 11 A escola precisa coletivamente planejar suas ações, em que irá aplicar os recursos financeiros, seja no gasto com materiais de consumo, seja em pequenas obras, reformas, aquisição de materiais didáticos, livros para a biblioteca, ou mesmo reformas maiores ou ampliação física do espaço escolar. Tudo isso precisa ser debatido e aprovado pelo conselho escolar, que conta com a representação de diferentes segmentos (professores, funcionários, pais, equipe pedagógica). Esse planejamento participativo em que será previsto o plano de aplicação de verbas é responsabilidade do diretor da escola e do conselho escolar. Além do plano de aplicação de recursos, ambos são responsáveis por realizar a prestação de contas e encaminhar toda a documentação comprobatória para a Secretaria de Educação. O plano de aplicação de recursos e a prestação de contas deve ficar disponível para que todos possam consultar, garantindo a transparência das ações. O coletivo escolar deve participar desse processo desde o início, definindo prioridades da escola e fazendo um planejamento de como esses objetivos serão atingidos. Observe agora quais são os principais programas federais que direcionam recursos para a escola e integram o Programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE): Programa Nacional de Transporte Escolar, Programa Nacional de Saúde do Escolar, Programa Nacional de Alimentação Escolar, Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), Programa Nacional Biblioteca da Escola, Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). As verbas do PDDE são transferidas para as contas bancárias das escolas pelo FNDE. Os Conselhos escolares definem a partir das prioridades da escola onde o dinheiro será gasto por meio do plano de aplicação dos recursos. A prestação de contas e as notas fiscais que comprovam os gastos dos recursos deverão ser encaminhadas após a aprovação do conselho escolarpara a Secretaria de Educação do estado ou município. As secretarias de educação analisam as prestações de conta, prestam contas ao FNDE e emitem parecer conclusivo sobre a prestação de contas. TEMA 5 – AS ASSOCIAÇÕES DE PAIS E OS GRÊMIOS ESTUDANTIS COMO INSTÂNCIAS DE GESTÃO COLEGIADA NA ESCOLA Segundo Paro (2016), a participação da comunidade na gestão da escola pública encontra uma série de obstáculos. Um ponto que chama a atenção é que 12 a democracia só se efetiva por atos e relações que se dão no âmbito da realidade concreta. Embora esteja muito presente no discurso a defesa da gestão democrática, o que de fato se verifica são práticas perpassadas pelo autoritarismo. Para Souza (2006), a associação de pais é uma instituição que objetiva servir de ponto básico de organização para o segmento das famílias dos alunos na realidade escolar. Essa instituição representa interesses de um segmento, no caso, o dos pais. O grêmio estudantil é a entidade do segmento estudantil. Muitas vezes, pedagogos e diretores se dispõem a ajudar os estudantes a organizar os grêmios nas escolas, no entanto, é necessário dar o suporte para os estudantes, mas é preciso garantir a autonomia e liberdade para que eles se organizarem – essa organização se constituirá em processo de aprendizado. A associação de pais e o grêmio estudantil são instituições que corroboram com os processos de gestão democrática dentro da escola. A seguir, vamos aprofundar nossos estudos sobre cada um deles. Historicamente, a origem das associações de pais no Brasil está ligada aos caixas escolares que tinham por objetivo arrecadar recursos financeiros para utilizá-los na assistência escolar. Essas práticas se caracterizavam por seu caráter assistencialista e acabavam por secundarizar o papel do Estado com relação ao seu dever de subsidiar a educação pública. Em 1933, os caixas escolares foram extintos no Brasil e a partir de 1945 foram criadas as cooperativas escolares. Tais instituições minimizavam o papel do Estado e delegavam a para si e para as comunidades a responsabilidade pela captação de recursos. Com a LDB n. 4.024/61 preconizou-se a formação da associação de pais e professores. A partir daí houve uma modificação na nomenclatura das associações no Paraná, adotando o termo associação de pais e mestres. Tais instituições assumiram caráter institucional, constituindo-se como pessoa jurídica de direito privado. No entanto, continuavam voltadas para captação e aplicação de recursos mantendo seu papel assistencialista. A partir de 2003 cria-se a nomenclatura atualmente utilizada no Paraná, associação de pais, mestres e funcionários. Mantém suas características: pessoa jurídica de direito privado, órgão de representação de pais e profissionais da escola, sem caráter partidário, sem fins lucrativos. No entanto as discussões avançam no sentido de que seus representantes passem a compreender seu 13 papel como instância colegiada, que visa a acompanhar e a participar da implementação do projeto político-pedagógico da escola. Assim como o conselho escolar, a associação de pais nessa nova perspectiva passa a ter como foco de seu trabalho o acompanhamento ao processo pedagógico por meio do acompanhamento ao projeto político- pedagógico. A partir da década de 1990, com os programas de descentralização de recursos a escola passou a receber do governo federal pelo FNDE verbas destinadas à educação por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) – recurso esse repassado anualmente às associações de pais, mestres e funcionários para atender às necessidades da escola. Por meio de reuniões, conselho escolar e APMF definem o plano de aplicação tendo em vista prioridades definidas pela escola para a aplicação dos recursos financeiros. Sobre os grêmios estudantis, é preciso destacar que a história do movimento estudantil no Brasil remonta ao século XVIII. Na primeira metade do século XX é criada a União Nacional dos Estudantes (UNE). Essas organizações estudantis foram impedidas de atuar, quando em 1964 foi imposta no Brasil a ditadura militar. Mesmo com todas as perseguições, as organizações continuaram sua atuação na clandestinidade. Na campanha Diretas Já, movimento pela redemocratização do país, na década de 1980, os estudantes tiveram participação muito significativa, o que contribuiu para o fim da ditadura militar. Em 1985, o funcionamento dos grêmios estudantis ficou assegurado por meio da Lei n. 7.398/85. A representação estudantil é fundamental para os processos de gestão democrática nas escolas, garantindo a participação dos estudantes nos órgãos colegiados e nas decisões sobre o processo pedagógico. 5.1 A articulação do trabalho pedagógico entre seus diferentes segmentos de representação O trabalho pedagógico possui natureza coletiva, tendo sempre como foco a formação integral do aluno. Para a concretização desse objetivo, é necessário um planejamento coletivo do trabalho; é preciso considerar que os sujeitos da escola realizaram diferentes percursos e diferentes trajetórias em seu processo de formação. Portanto, o coletivo da escola não é um todo homogêneo e consensual. 14 Esse é um desafio que se coloca para a concretização da gestão democrática nas escolas, ou seja, como articular um projeto comum com tantas diferenças. A resposta para essa questão se encontra na realização de um planejamento educacional de forma participativa. Essa ação atribui significado e sentido ao trabalho pedagógico, produzindo um sentimento de pertencimento e um compromisso com as opções feitas. Planejar o trabalho pedagógico representa a possibilidade de repensar a própria prática pedagógica em torno da construção de um projeto educativo produzido de forma coletiva. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Brasília: MEC, 1996. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. DOURADO, L. F. et. al. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho Escolar e o Financiamento da Educação no Brasil. Brasília, 2006. LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2012. NAVARRO, I. P. et. al.; Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho Escolar e a Aprendizagem na Escola. Brasília, 2004. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Subsídios para elaboração do estatuto do Conselho Escolar. Curitiba: Seed-PR, 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Subsídios para elaboração do estatuto da Associação de Pais, Mestres e Funcionários. Curitiba: Seed-PR, 2009. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Subsídios para elaboração do estatuto do Grêmio Estudantil. Curitiba: Seed-PR, 2009. PARO, V. H. Gestão Democrática da Escola Pública. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2016. SOARES, K. C. D.; SOARES, M. A. S. Sistemas de ensino: legislação e política educacional para a educação básica. Curitiba: InterSaberes, 2017. SOUZA, Â. R. de S. et. al. Universidade Federal do Paraná. Pró-reitoria de Graduação e Ensino Profissionalizante. Centro Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Gestão Democrática da Escola Pública. Curitiba : Ed. da UFPR, 2006. SOUZA, Â. R. de S. et. al. Universidade Federal do Paraná. Pró-reitoria de Graduação e Ensino Profissionalizante. Centro Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Planejamento e Trabalho Coletivo. Curitiba : Ed. da UFPR, 2006.